OS MONGES MALDITOS
CAPÍTULO I
SEXTA FEIRA TREZE
João Anatalino Rodrigues.
Naquela sexta-feira, dia 13 de outubro de 1307, o outono em Paris tinha alcançado o seu momento mais deslumbrante. Os belos matizes dos seus lindos parques e florestas, que no verão combinavam uma profusão de cores vivas e brilhantes, haviam se transformado num amarelo pálido e opaco. E à medida que o sol tímido e distante deixava as ruas, e as sombras da tarde ocupavam os lugares que sua luz abandonava, eles iam adquirindo tons de cinza, como se o pintor daquela aquarela estivesse procurando as melhores combinações de tintas para casar a natureza da paisagem com a melancolia que a estação outonal naturalmente inspira nas pessoas. As folhas secas, caídas dos plátanos enfileirados ao longo das ruas do vetusto burgo, como se fossem sentinelas silenciosas a guardá-las, formavam um tapete quebradiço que durante o dia se desmanchava com um crack, crack irritante quando as pessoas pisavam sobre elas. E á tarde, quando o vento do outono soprava os restos das folhas esmigalhadas, elas rolavam como se fosse um exército de insetos em movimento pelas ruas empoeiradas e silenciosas da romântica e misteriosa capital francesa.
Mas naquela insólita hora da madrugada tudo era silêncio na velha Cité e nenhuma alma viva se aventurava a enfrentar as sombrias vielas da cidade, que ainda dormia a sono solto. O frio já chegara à Paris naquela época e seus habitantes, concentrados em uma compacta mancha urbana espalhada ao longo das duas margens do Sena, que fazia o burgo parisiense se parecer com uma gigantesca aranha com pernas feitas de ruas escuras e mal cheirosas, não teriam deixado, por motivo algum, o calor de suas camas para ver o pelotão de soldados armados, que naquele momento saia pelo grande portão do Hotel de Ville, sede da prefeitura de Paris, em marcha forçada, tomando o rumo do Castelo do Templo.
O castelo do Templo ocupava um quarteirão inteiro na margem esquerda do famoso rio, para quem olhasse Paris, posicionado em frente ao grande portal da catedral de Notre Dame. Cerca de um quilômetro e meio de uma boa caminhada por ruas estreitas e um tanto soturnas, separava os dois grandes prédios, o Hotel de Ville e o Castelo do Templo; no meio deles a imponente Catedral de Notre Dame, que juntamente com o Palácio do Louvre, residência do rei e sede do governo, eram os quatro maiores edifícios da capital francesa.
O bairro do Templo constituía um emaranhado de casas e lojas, algumas delas com até quatro andares, dispostas ao longo de um conjunto de vielas, distribuídas em torno de um grande e soturno edifício que se plantava bem no meio daquela compacta e cinzenta massa de construções, construídas, em sua maioria, com paredes-meias, como se tivessem sido erguidas, umas para amparar as outras. Ali viviam cerca de duas mil pessoas ─ os chamados “Homens dos Templários” ─, como eram conhecidas as pessoas que trabalhavam para o Templo de Paris. Assim era chamada a multidão de pedreiros, carpinteiros, estucadores, palafreneiros, ferreiros, tanoeiros e outros trabalhadores que prestavam serviço á formidável organização multinacional que se tornara a Ordem do Templo.
O gigantesco edifício plantado bem do meio daquele confuso conjunto de construções era o castelo do Templo de Paris, sede da poderosa Ordo Pauperum Commilitonum Christi Templique Salominic, nome latino da maior e mais famosa Ordem de Cavalaria do mundo cristão. Nele habitavam os Cavaleiros Templários propriamente ditos, os homens dos “blanc mantoux”, integrantes da milícia de monges guerreiros que durante os dois últimos séculos haviam construído uma história de lendas, mistério e grandeza jamais vista antes.
Eram as primeiras horas da madrugada da sexta-feira, 13 de outubro de 1307 e nem os passos dos soldados, com suas botas de grossas solas de couro, reforçadas com chapinhas de aço nos calcanhares, ressoando no piso irregular das ruas, ou o som do trotar dos cavalos, golpeando as pedras do calçamento com seus cascos ferrados, como se estivessem tirando fagulhas de pederneiras para acender uma fogueira, teria feito o bom povo parisiense perder o sono e abrir os postigos das suas janelas para ver o que estava acontecendo. Se o fizesse veria uma tropa de cerca de cem arqueiros a pé, comandados em grupos de dez a dez por um sargento à cavalo; e à frente desse vistoso batalhão de soldados, alguns deles portando balestras, outros carregando piques, dois garbosos capitães a cavalo, vestidos com suas cotas de malha e armaduras de combate. E na cabeça os vistosos elmos de cavaleiro, abaixados para o combate. No meio dos dois, um garboso senhor vestido com calça e casaco de veludo preto, com uma túnica longa por cima, trotava altaneiro em um vistoso cavalo branco, como se fosse um rei saindo para uma caçada. Os capitães se chamavam Alan Perreilles e Reinaldo de Roies. O primeiro era o chefe de polícia da prefeitura de Paris e o segundo respondia pelo cargo de capitão comandante dos arqueiros do rei. O importante cavaleiro que se apresentava, imponente, no meio dos dois, era Messire Guilherme de Nogaret, o poderoso chanceler do reino, Guardião do Selo Real de França.
Aonde iria aquele apressado contingente de soldados àquela insólita hora? A neblina que subia do Sena cobria toda a Cité com uma nuvem espessa e úmida. Em contato com as armaduras dos capitães da tropa, o esbranquiçado vapor que impregnava o ar liquidificava e se transformava em espessas gotas de água que escorriam pelas juntas metálicas das armaduras dos cavaleiros, dando-lhes um brilho escamoso e frio, que fazia parecer ainda mais assustador aquele cortejo de soldados armados, perturbando o silêncio da madrugada com o barulho da sola de suas botas e dos cascos dos seus cavalos ferrados.
O que estaria acontecendo? Paris estaria sendo invadida por um exército inimigo?
Não foi senão ali pelas seis horas da manhã, quando os vendedores ambulantes começavam a montar suas barracas no Les Champeaux e os comerciantes do Halles de Paris, o seu mercado municipal, estavam abrindo suas portas, que as notícias começaram a correr. Primeiro à boca pequena, nos círculos mais próximos à Corte, depois apregoadas pelas praças, tavernas e casas de comércio e de tolerância, alcançando logo as sedes das guildas, os edifícios públicos e os espantados cidadãos das ruas, que não conseguiam acreditar no que ouviam.
A cidade foi tomada por um verdadeiro frenesi, que somente as guerras, as grandes tragédias, ou os acontecimentos marcantes, como a morte de um rei ou a eleição de um novo papa, conseguiam eliciar.
A notícia que convulsionava os habitantes de Paris era simplesmente a seguinte: O Castelo de Paris, sede da poderosa Ordem do Templo, havia sido ocupado pela polícia do rei e um grande número de Cavaleiros Templários encontrava-se, agora, na prisão. O próprio Grão-Mestre da poderosa Irmandade, o monge-cavaleiro Jacques de Molay, juntamente com mais três grandes dignatários da Ordem, o Preceptor da Normandia, Geoffroy de Charney, o Preceptor da Aquitânia, Geoffroy de Gonneville e o Inspetor-Visitador da Ordem, Hugues de Peyrald e mais cento e quarenta Irmãos do Templo, entre cavaleiros, sargentos, monges e outros serviçais, haviam sido detidos e estavam agora sob a guarda dos senescais do rei.
Essa era uma notícia difícil de acreditar. A Ordem do Templo, Irmandade de monges-guerreiros existente há mais de dois séculos, havia se tornado um poder paralelo dentro do reino da França e seu oficial comandante, uma das figuras mais respeitadas do mundo cristão. Além disso, era considerado amigo do rei francês, protegido do papa e mantinha sob o seu comando um exército de combatentes, mais numeroso e melhor preparado do que as próprias forças armadas do reino de França.
De fato, a Ordem do Templo era mais rica e melhor organizada administrativamente do que o próprio estado francês. Boa parte da estrutura burocrática do reino era exercida pelos “Homens dos Templários”. A Ordem prestava serviços públicos importantes a população. Dava esmolas aos pobres e mantinha asilos e hospitais. Geria uma boa parte da economia do reino. Eram os principais banqueiros do rei e dos nobres franceses. O que teria levado o rei Filipe, o Belo, a desencadear uma tão ousada e temerária ação contra uma organização que exercia um papel tão importante na vida pública do país?
No dia anterior, 12 de outubro, o próprio Grão-Mestre geral do Templo, o monge-cavaleiro Jacques de Molay, posara junto ao rei no funeral de Catherine de Courtenay, esposa de seu irmão, o cavaleiro Charles de Valois. Até segurara um dos cordões da mortalha da defunta, durante o cortejo fúnebre da distinta dama. Esse era um direito seu, devido à alta posição que mantinha entre os pares de França. Destarte, nada prenunciava, na atitude do rei, a arrojada ação que ele viria a desencadear no dia seguinte contra a poderosa Irmandade.
No entanto, o já idoso monge-cavaleiro pressentira alguma coisa na atitude do monarca. Notara que ele evitara dirigir-lhe a palavra e até de se aproximar dele. Permanecera frio e distante, como se fizesse por evitá-lo. Essa era uma atitude inusitada, porquanto, até aquele momento, os dois sempre tinham mantido boas relações, pessoais e diplomáticas. Jacques de Molay gozava inclusive do compadrio do rei, pois tinha sido padrinho de batismo de sua filha Isabel, agora rainha da Inglaterra. A jovem rainha inglesa amava e respeitava o velho monge-guerreiro e sempre o visitava quando vinha a Paris. O mesmo fazia o Grão-Mestre do Templo toda vez que ia a Londres. Assim, os laços de família entre Filipe, o Belo, e o comandante templário pareciam bastante estreitos e afetivos até aquele momento.
Mas tudo era enganoso, como de Molay logo iria perceber. A mesma frieza ele havia sentido na postura dos dois ministros mais poderosos do reino, Messires Guilherme de Nogaret e Enguerrand de Marigny. Esses dois ministros eram os mais importantes conselheiros de Filipe, o Belo, e segundo se dizia, representavam o verdadeiro poder por trás do trono. Eles eram os dois braços do rei. Exerciam tanta influência sobre o monarca, que chegava a provocar violentos ciúmes em Carlos de Valóis, o irmão caçula do rei.
Jacques de Molay estava bem informado das manobras desses ministros contra a organização que ele comandava. Era coisa que já vinha de algum tempo. Uma suja campanha de calúnias e difamações tinha sido desencadeada por esses dois ministros com a finalidade de prejudicar a Irmandade. Com esses perigosos indivíduos ele sabia que teria que pisar em ovos. Falar o menos possível, não dar quaisquer declarações que pudessem fornecer munição a eles, evitar até mesmo aproximação com os dois traiçoeiros cortesãos. Assim, de Molay ficou satisfeito pelo fato de nenhum deles ter se aproximado dele naquela ocasião e até evitado puxar conversa com ele.
O mesmo não acontecia com Carlos de Valois, o irmão mais novo do rei Filipe, o Belo. Este era um cavaleiro valente e audaz, que sempre demonstrara muito respeito pelos Templários. Jacques de Molay tinha afeto e amizade por ele. Os dois eram cavaleiros, antes de tudo. Comungavam dos mesmos ideais. A Cavalaria era, para ambos, uma instituição santificada, depositária das melhores virtudes e praticante das ações mais meritórias. Representava uma tradição reconhecida e amada pelo povo, o núcleo de onde saiam seus heróis. “A Cavalaria”, dizia Valóis, “era a moldura mais perfeita da nobreza”. Todos os nobres eram cavaleiros, embora nem todos os cavaleiros fossem oriundos da nobreza. Mas a própria condição de cavaleiro já dava ao seu possuidor, ainda que não tivesse sangue azul, uma aura de nobreza.
Não era o que pensavam os ministros Guilherme de Nogaret e Enguerrand de Marigny. Para os dois burocratas ─ ambos nascidos no seio da burguesia ─ a Cavalaria não passava de uma instituição superada. Era o resquício de uma nobreza envilecida e corrompida, que perdera a sua importância para a cristandade após o fracasso das cruzadas. Aferrada ás suas tradições, essa nobreza perdulária e inútil defendia com unhas e dentes antigos privilégios que os novos tempos, em que os reinos europeus começavam a se organizar em estados nacionais, não mais podiam suportar.
Aliás, as Ordens de Cavalaria ainda existentes nos reinos europeus constituíam um poderoso obstáculo à organização de um estado nacional. Especialmente as duas mais poderosas Irmandades constituídas pelos cruzados na Terra Santa: a Ordem do Templo e a Ordem do Hospital de São João. Juntas, essas duas instituições possuíam um quarto das terras no reino de França e geriam uma substancial parte da economia do reino. Nogaret e Marigny pensavam que a Cavalaria poderia subsistir como força militar, desde que controlada pelo Estado, mas nunca como uma organização de poder econômico e político paralelo, como sempre fora desde que Carlos Magno a instituíra e lhe conferira um status de instituição quase religiosa, com leis e fundamentos próprios, que muitas vezes se sobrepunham às próprias autoridades seculares.
Fora o próprio Carlos de Valois que advertira de Molay sobre as acusações que Guilherme de Nogaret havia feito contra a Irmandade e o aconselhara a procurar o papa Clemente V para pedir a abertura de um inquérito, antes que o próprio Pontífice Supremo tomasse a decisão de fazê-lo, a pedido do rei Filipe.
Valois não acreditava, segundo ele mesmo dissera ao Grão-Mestre do Templo, nas torpes imputações que estavam sendo feitas aos Templários.
– Tenho certeza de que são calúnias e difamações, feitas por pessoas que odeiam os Templários e desejam destruí-los – disse ele a de Molay. – Mas, de qualquer modo, eu vos aconselho a tomar muito cuidado, especialmente com Messires Nogaret e Marigny. Eles estão tramando alguma coisa contra o Templo.
─ Agradeço o vosso conselho ─ respondeu o Grão-Mestre. ─ Eu já conversei com o Santo Padre a respeito e estou a par dessas insídias.
─ Assim mesmo, ficai de olho aberto, pois algo está para acontecer ─ aconselhou Valois.
─ Se estais a par de alguma ação contra nós, agradeceria se pudesse nos informar ─ pediu de Molay.
─ Não sei bem o que seja ─ respondeu Valóis. ─ Mas, a cerca de um mês atrás o rei despachou ordens cifradas para todas as senescalias do reino. Só ele, Nogaret e Marigny sabem o conteúdo dessas ordens.
Destarte, Jacques de Molay tinha muitos motivos para se preocupar naquele dia, quinta-feira, 12 de outubro de 1307, quando caminhava junto ao esquife de Catarina de Courtenay, segurando um dos cordões da mortalha da esposa de Carlos de Valois, cunhada do rei Filipe, o Belo.
Não saia da sua cabeça os acontecimentos dos últimos meses. Sentia que alguma coisa estava no ar. Primeiro, a maneira evasiva com que o papa andava respondendo ás suas cartas.
Depois havia aquele comportamento frio e distante que Filipe o Belo, havia adotado com ele nos últimos tempos. Afinal, ele era o padrinho da filha do rei. Tinha mantido, até então, uma amistosa relação de amizade com ele e uma proveitosa aliança política, militar e econômica, que aproveitava mais ao rei do que a própria Ordem do Templo. Não era segredo para ninguém que o Templo era o principal credor do estado francês e do monarca, pessoalmente. O próprio tesouro pessoal de Filipe estava, nesse momento, sob a guarda do tesoureiro do Templo de Paris, empenhado por conta de dívidas que ele contraíra com a Irmandade.
Essa era outra questão que preocupava o atormentado Grão-Mestre. A Ordem do Templo, da qual ele era o comandante supremo, se tornara uma organização multinacional, apátrida e independente, que tinha interesses em todos os reinos europeus. Sua política era manter-se acima dos conflitos dinásticos, evitando se envolver diretamente neles. Isso lhe proporcionara, até então, gordos dividendos, pois tendo se tornado o principal banqueiro dos reinos europeus, ela aumentara de tal maneira sua fortuna e a influência política, que a muitos soberanos e também a vários setores da própria Igreja, causava uma ácida inveja.
Geralmente era ao Templo que os nobres, os soberanos, o clero e o próprio papa recorriam para afiançar os acordos e as tréguas resultantes dos conchavos que se faziam nos bastidores políticos da época. Lugar comum era o Templo figurar como fiador e avalista de resgates e pagamentos das indenizações firmadas nessas ocasiões. Também concedia vultosos empréstimos a nobres, reis, bispos e até aos papas, para financiar projetos de construção civil, saneamento básico, aquedutos, igrejas e outras obras de interesse das autoridades seculares e eclesiásticas. E principalmente para custear as intermináveis campanhas militares, nas quais a nobreza feudal estava sempre envolvida.
Assim, como maior banqueiro da Europa cristã, a Ordem praticava uma política de neutralidade, evitando se envolver diretamente nos conflitos dinásticos, embora isso nem sempre fosse possível. Seu objetivo visível era e devia continuar sendo a manutenção da luta contra os inimigos da fé cristã, ou seja, no caso, os sarracenos. Em função desse objetivo ela acumulara a imensa fortuna que possuía, constituída principalmente pelas rendas das terras e bens doados por nobres que haviam ingressado nos quadros da Irmandade no passado.
Uma milícia de monges guerreiros, cuja função era defender o reino de Cristo na terra, eis a razão de existir da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão. Para isso fora fundada e dotada pela nobreza de toda a cristandade e referendada pela Igreja. Não obstante, nos últimos cem anos, desde que os reinos cristãos na Terra Santa haviam sido destruídos pelos mamelucos comandados pelo Sultão Saladino, ela se notabilizara por uma atuação mais política e econômica do que militar e religiosa. Militarmente, não participava de nenhuma campanha importante desde 1302, quando o próprio Jacques de Molay tentara, com o apoio inclusive de Filipe, o Belo, costurar uma aliança com os mongóis para recuperar Jerusalém. E quanto á religião, muita coisa, na sua liturgia e nas próprias crenças professadas internamente, havia mudado desde a sua fundação.
Com sua sede militar na ilha de Chipre e a administrativa em Paris, o Templo havia se tornado uma organização multinacional, que em reinos como Portugal, Aragão e Castela, por exemplo, fazia o papel de exército regular e em países como a Inglaterra e França desempenhavam funções estatais de grande relevância. Eles controlavam uma boa parte do aparelho burocrático desses reinos. Arquivos notariais, registros públicos, policiamento de estradas, arrecadação de impostos, comércio exterior e atividade bancária, eram algumas das atividades que os reis dessas nações delegavam ao Templo. Afora isso, os Templários possuíam seus portos particulares, administravam feiras e mercados de sua propriedade, mantinham seus próprios tribunais e possuóa, também, vilas inteiras, com suas aldeias e fazendas. Destarte, o Templo tinha interesses em todos os reinos da Europa e necessitava, por força dessa estrutura multinacional, manter boas relações com os poderes reinantes nesses países. Na estrutura feudal dos reinos europeus, o Templo, juntamente com a Igreja, era um dos maiores suzeranos, e essa relação de suzerania e vassalagem que as duas estruturas mantinham com o poder secular, não raro, era causa de sérios conflitos políticos. Dessa forma, para qualquer monarca que estivesse tentando fazer do seu reino um estado nacional, centrado na autoridade de um soberano, a primeira coisa a fazer seria enfraquecer a autoridade da Igreja; e em segundo, liquidar com a instituição do feudalismo. E por fim, destruir as Ordens militares ─ em especial a Ordem do Templo ─ enquanto organização secular, pois esta, além de representar um braço armado da Igreja ─ e muito bem armado ─ era também a lídima representante da mais importante tradição feudal: a Cavalaria.
A primeira, Filipe já havia conseguido com a eleição do papa Clemente V. A segunda, representada pela sujeição dos barões e a liquidação dos poderes da nobreza feudal era um processo que já estava praticamente concluído. A terceira etapa começava agora, com o assalto á fortaleza do Templo. Aquela sexta-feira, dia 13 de outubro de 1307, ficaria conhecida no imaginário popular como sendo um dia aziago, um dia em que as potências ocultas foram liberadas para desencadear um processo que o mundo nunca mais esqueceria.
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