sexta-feira, 5 de abril de 2019

A FORMAÇÃO DA PRIMEIRA GRANDE LOJA DE MAÇONS NA ALEMANHA





Irmão Henning A. Klövekorn


Com a difusão do cristianismo por toda a Alemanha e a exigência de que bispos romanos erguessem catedrais, os colégios maçônicos na Alemanha prosperaram. Geralmente designado como Steinmetzen ou Canteiros, estas fraternidades maçônicas levantaram igrejas e catedrais por toda a Europa continental. A sociedade de canteiros tinha dentro de si uma grande variedade de classes e ocupações. Estas incluíam Steinmaurer ou assentadores de pedras, Steinhauer ou cortadores de pedra, bem como Steinmetzen, uma palavra derivada de Stein ou pedra e Metzen, um derivado da palavra Metzel ou entalhador, uma arte mais detalhada e refinada que os cortadores de pedras. A construção de Bauhütten ou Lojas, situadas junto às igrejas em construção, serviu como estúdio de projeto, local de trabalho e quarto de dormir.

Um dos mais antigos registros de Lojas maçônicas se encontra na cidade alemã de Hirschau (agora Hirsau), no atual estado de Baden-Württenberg. As Lojas Maçônicas instituídas na cidade de Hirschau, no final do século 11, trabalhavam sob a ordem beneditina da Alemanha e foram as primeiras a estabelecer o estilo gótico de arquitetura.

Já em 1149, as primeiras Zünftes alemãs ou sindicatos de pedreiros se desenvolveram em Magdeburg, Würzburg, Speyer e Straßburg. Em 1250, a primeira Grande Loja dos Maçons formou-se na cidade de Colônia (Köln), Alemanha. A Grande Loja foi formada como parte do imenso empreendimento para erguer a catedral de Colônia.

O primeiro congresso maçônico ocorreu na cidade de Straßburg, na Alemanha no ano de 1275. Ela foi fundada pelo Grão-Mestre Erwin von Steinbach. Este também foi o primeiro uso registrado do símbolo dos Maçons, o compasso e o esquadro. Embora Straßburg fosse considerada a primeira Grande Loja de seu tempo, outras Grandes Lojas maçônicas já haviam sido fundadas em Viena, Berna e a acima mencionada de Colônia; estas foram chamadas Oberhütten ou Grandes Lojas. Diversos congressos maçônicos foram realizados na cidade de Straßburg, incluindo os anos 1498 e 1563. Nesta época, as primeiras Armas de Maçons, registradas na Alemanha, foram registradas representando quatro compassos, posicionados em torno de um símbolo do sol pagão, e dispostos em forma de suástica ou roda solar ariana. As Armas Maçônicas da Alemanha também exibiam o nome de São João Evangelista, santo padroeiro dos Maçons alemães.

A Oberhütte (Grande Loja) de Colônia, e seu Grão-Mestre, era considerada a cabeça das Lojas maçônicas de toda a Alemanha do norte. O Grão-Mestre da Straßburg, na época uma cidade alemã, era chefe de Lojas Maçônicas de todo sul da Alemanha, Francônia, Baviera, Hesse e as principais áreas da França.

As Grandes Lojas de Maçons na Alemanha recebiam o apoio da Igreja e da Monarquia. O Imperador Maximiliano revisou o congresso maçônico de 1275, em Straßburg e proclamou a sua proteção ao ofício. Entre 1276 e 1281, Rudolf I de Habsburgo, um rei alemão, tornou-se membro da Bauhütte ou Loja de St. Stephan. O Rei Rudolf foi um dos primeiros não-operativos, também chamados membros livres ou especulativos de uma Loja maçônica.

Os estatutos dos Maçons na Europa foram revisados em 1459 pela Assembleia de Ratisbonne (Regensburg), a sede da Dieta Alemã, cuja revisão preliminar tinha ocorrido em Straßburg sete anos antes. As revisões descreviam a exigência de testar Irmãos estrangeiros, antes de sua aceitação nas Lojas, através de um método de saudação estabelecido (aparentemente internacional ou europeu).
A primeira assembleia geral de Maçons na Europa ocorreu no ano de 1535, na cidade de Colônia, na Alemanha. Ali, o bispo de Colônia, Hermann V, reuniu 19 Lojas maçônicas para estabelecer a Carta de Colônia, escrita em latim. As primeiras Grandes Lojas dos Maçons estiveram presentes, o que era costume na época, e incluíam a Grande Loja de Colônia, Straßburg, Viena, Zurique e Magdeburg. A Grande Loja Mãe de Colônia, com o seu grande mestre, era considerada a principal Grande Loja da Europa.

Após a invenção da imprensa, os Maçons (Steinmetzen) da Alemanha, reuniram-se em Ratisbona, em 1464 e imprimiram as primeiras Regras e Estatutos da Fraternidade de Cortadores de Pedra de Straßburg (Ordnung der Steinmetzen). Estes regulamentos foram aprovados e sancionados pelos Imperadores sucessivos, tais como Carlos V e Ferdinando.

O monge alemão Martinho Lutero e seu protesto contra as injustiças e hipocrisias da Igreja Católica, em 1517, deram origem ao protestantismo. Isto liberalizou algumas das Lojas maçônicas da época. A Catedral de Straßburg tornou-se Luterana, em 1525 e muitas outras a seguiram.

Em 1563, os Decretos e Artigos da Fraternidade de Canteiros foram renovados na Loja Mãe, em Straßburg, no dia de S. Miguel. Estes regulamentos demonstram três elos importantes com a Maçonaria moderna. Em primeiro lugar, os Aprendizes eram chamados de “livres”, na conclusão do serviço a seu Mestre, o que, sem dúvida, é a origem da palavra Freemason ou “Franco-Maçom”. Em segundo lugar, a natureza fraternal da Loja era retratada em uma série de regulamentações, tais como o atendimento aos doentes, ou a prática de ensinar um Irmão sem cobrar, nos termos do artigo 14. Em terceiro lugar, os Maçons utilizavam um aperto de mão secreto como meio de identificação.

Dois artigos do regulamento indicando estes pontos são:

“Nenhum Mestre ensinará um Companheiro por dinheiro.

XIV. E nenhum artesão ou Mestre aceitará dinheiro de um colega para mostrar ou ensinar-lhe qualquer coisa relacionada com Maçonaria. Da mesma forma, nenhum Vigilante ou Companheiro mostrará ou instruirá qualquer um por dinheiro a talhar, conforme dito acima. Se, no entanto, alguém desejar instruir ou ensinar outro, ele pode muito bem fazê-lo, uma mão lavando a outra, ou por companheirismo, ou para assim servir ao seu Mestre.

LIV. Em primeiro lugar, cada Aprendiz, quando tiver servido o seu tempo, e for declarado livre, prometerá à Ordem, pela verdade e sua honra, ao invés de juramento, sob pena de perder o seu direito à prática da Maçonaria, que ele não divulgará ou comunicará o aperto de mão e a saudação de pedreiro a ninguém, exceto àquele a quem ele pode justamente comunicá-las, e também que ele não escreverá coisa alguma sobre isso”.

As regras de Straßburg estipulavam que a entrada na Fraternidade era por livre vontade e indicava claramente os três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, na Fraternidade Maçônica alemã. Elas exigiram que se fizesse um juramento e que os pedreiros se reunissem em grupos chamados ‘Kappitel’ (Capítulo). As regras instruíam os Maçons não ensinar Maçonaria a não-Maçons.

Está claro que as Lojas ou Grandes Lojas Maçônicas alemãs existiam antes da formação da Grande Loja de Inglaterra, em 1717. Assim como o uso de apertos de mão secretos, o uso do termo “livre” e sua aceitação de não-operativos. O uso de alegoria e simbolismo em camadas, que torna exclusivo o sistema maçônico fraternal, também era evidente nas Lojas alemãs da época, conforme mostrado nas esculturas de pedra e estilos arquitetônicos das igrejas e mosteiros que eles construíram.
Tradução: Mestre Instalado José Antonio de Souza Filardo