domingo, 28 de abril de 2013

A REAL SOCIEDADE INGLESA E A MAÇONARIA




A REAL SOCIEDADE (ROYAL SOCIETY) E A MAÇONARIA 


Se discute muito entre os historiadores a participação que teve no nascimento da Maçonaria Moderna a tolerância e a amplitude intelectural que, no século XVII, ostentava uma sociedade inglesa denominada Royal Society (Real Sociedade), que congreva entre seus membros o mais seleto do intelecto inglês, entre eles o matemático e físico Sir Isaac Newton e o cavaleiro André de Ramsay que haveria de ser na França um dos fundadores distantes e indiretos do Rito Escocês Antiguo e Aceito. 

Tamanha foi a polêmica, que se encontra sob revisão a própria evolução linear da Francomaçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa. 

A Real Sociedade é uma instituição que sediada no Reino Unido e é um dos maiores centros científicos do mundo. Hoje são seus membros vários homens e mulheres de ciência que ganharam o Prêmio Nobel, tais como Paul Nurse (por suas investigações sobre o cancer) e Peter Mansfiel (que trabalha sobre o desenvolvimento das imagens de resonância magnética). Igualmente, são membros da Real Sociedade o matemático Stephen Hawking e Tim Berners Lee, inventor da Internet (world wide web). 

Hoje em dia a Real Sociedade é uma associação completamente independente da Maçonaria e sua missão é claramente científica. A Sociedade apoia economicamente a muitos dos melhores cientistas do Reino Unido como parte de sua missão de promover a ciência e atualmente financia 1.600 deles a cada ano com salários, bolsas de estudos e viagens. Igualmente concede 10 medalhas, 5 prêmios e 8 pergaminhos em honra a excelência em vários campos da ciência, engenharia e tecnologia. 

A Real Sociedade a cada ano elege seus novos membros provenientes do Reino Unido e suas nações associadas (Commowealth), escolhidos entre aqueles que contem com sólido prestígio internacional no mundo da ciência, engenharia e medicina. Essa escolha e a nomeação ao grau de cavaleiro é considerada a maior honraria que um cientista pode receber, superado somente pelo Prêmio Nobel. Também são eleitos alguns poucos membros estrangeiros. 

A história da Real Sociedade está intimamente entrelaçada com a história da ciência na Inglaterra e Escócia desde o ano de 1660. E pelo mesmo caminho com a história da maçonaria no reinado do século XVII em seu interesse de apoiar as ciências experimentais. Suas origens parecem estar em uma instituição conhecida como Colégio Invisível integrada por filósofos maçons que começaram a se reunir por volta dos anos 1640 para discutir as idéias de Francis Bacon. 

Porém sua data de fundação foi 28 de novembreo de 1660, quando 12 homens, todos eles membros da Maçonaria, se reuniram no Gresham College, depois de uma conferência de Christopher Wren, professor de astronomia nessa instituição educativa, com o fim de fundar um colégio para promover o ensino experimental da física e da matemática. 

Este grupo era composto de Wren, Robert Boyle, Juan Wilkins, Sir Robert Moray, e William, Visconde de Brouncker. A Sociedade acordou reuinir-se semanalmente para apresentar os avanços dos esperimentos adiantados e discutir assuntos científicos. O primeiro curador de Experimentos foi Robert Hooke e Moray foi o encarregado de apresentar ao Rei Charlos II esta empresa e obter sua aprovação e patrocínio. Este monarca de acordo com a tradição dos Stuars, durante o século XVII, havia sido iniciado na Maçonaria. 

O nome de Real Sociedade apareceu pela primeira vez em uma publicação de 1661, porém foi numa Carta Real de 1663 que aparece nominada como Real Society for Improving Natural Knowledge (Real Sociedade para Promoção do Conhecimento Natural) e sua primeira sede foi o Gresham Colege, em Londres, onde se monto rapidamente uma biblioteca e um depósito ou museu de espécimes de interesse científico. 

A Real Sociedade é desde o princípio uma associação destinada a agrupar intelectuais e homens de ciência sem levar em conta seu pensamento religioso, político, filosófico, sua raça ou caráter liberal fica definido pelas palavras de Thomas Sprat, um de seus fundadores e seu primeiro historiador, em sua obra The History of the Royal Society of London, aparecida em 1667, em favor de uma união entre manuais e intelectuais, na qual sustentatava: “Teremos assim uma visão excepcional da nação inglesa, ao saber que homens de pensamentos e de modos de vida antagônicos esquecem seus ódios e se reunem para o progresso da ciência. Pois, o soldado, o comerciante, o negociante de arte, o erudito, o cavalheiro, o cortesão, o presbiteriano, o papismo, o livre pensador e os adeptos da religião oficial terão abandonado sua ação específica e trabalharão com serenidade na prática e no espírito...”. 

Depois do grande incêndio de Londres em 1666, a Sociedade se mudou e durante alguns anos ficou estabelecida na Arundel House, lugar em Londres dos Duques de Norfolk. Em 1710, sob a Presidência de Sir Isaac Newton a Sociedade adquiriu sede própria em Crone Court. A partir de 1662 a Philosophical Transaction (Memórias Filosóficas) começou a publicar livros de forma tão exitosa que se tornou a editora com publicação científica mais antiga e contínua do mundo. 

De forma idêntica a da Maçonaria, desde o início, os membros da Sociedade escolhem por cooptação seus novos companheiros, porém, no começo, esta escolha não estava muito bem definida e a maioria deles eram cientistas profissionais. 

Em 1731 uma nova regulamentação estabeleceu que cada candidato devia ser proposto por escrito e apradinhado pelos membros ativos que o apoiava. Estes documentos todavia sobrevivem e permitem dar uma olhada nas razões pelas quais se fazia a eleição e os critérios de seleção. 

Em 1780, sob a presidência de Sir Joseph Banks (1778-1820) que a exerceu até a morte, a Sociedade variou sua orientação com base numa combinação que favorecia tanto os trabalhos profissionais científicos como os dos aficionados. Esta visão decresceu em popularidade durante a primeira metade do século XIX, até que, finalmente, em 1847, se decidiu que a partir daquela data os novos membros seriam eleitos com base em seus trabalhos científicos. 

Esta virada pelo profissionalismo contribuiu significativamente para que a Sociedade, pouco a pouco, se convetesse inteiramente numa academia de cientistas. O governo reconheceu isto em 1850 outorgando uma doação a Real Sociedade de 1.000 libras esterlinas para assistí-los em suas investigações e comprar equipamentos. Daí em diante começou uma relação muito próxima com o governo que não implicou, em nenhum momento, que a Sociedade diminuísse sua essencial autonomia. 

Em 1857 a Sociedade se mudou mais uma vez para a Bulington House, em Piccadilly, e durante o século seguinte seu corpo de pessoal cresceu rapidamente obrigando-a a mudar-se de lugar. Portanto, em 1967, se mudou para a sua atual sede em Carlton House Terrace, também em Londres, com 120 membros, todos trabalhando pelo futuro da Real Sociedade na qualidade de Academia científica independente. 

Voltando aos séculos XVII e XVIII, encontraremos o relato do Dr. John Campbell (1708-1775), que em seu artigo sobre o antiquário e membro da Real Sociedade Elias Ashmole, que apareceu em 1747, na Biographica Britannica, sustenta que numerosos manuscritos reunidos por este, com a intenção de escrever uma história sobre a maçonaria entre os séculos XIV e XVII, desapareceram em 26 de janeiro de 1679, quando do incêndio que destruiu o Middle Temple da Real Sociedade, onde tinha o seu gabinete. 

No que concerne a história antiga dos Francomaçons, a respeito da qual estamos desejosos de saber o que se conhece com certeza, posso dizer somente que se nosso digno irmão Elias Ashmole houvesse levado a bom termo seu projeto nossa fraternidade seria a ele tão devedora como os membros da muito nobre Ordem da Jarretera. 

Em 1714, em paralelo a chegada dos Hannover ao trono britânico, cerca de sete senhores que não eram maçons, reunidos com outros que o eram, porém, ao que parece, todos sócios da Real Sociedade decidiram, na taberna Goose and Gridiron Ale House, em St. Paul´s Churchyard, constituir En 1714, por si e ante si mesmos, uma Loja Maçôncia com o nome da taberna em que se reunião. 

É difícil precisar qual era a intenção inicial da iniciativa. Haviam descoberto algo atrativo no método de ensino que se dava no interior das Lojas a partir das ferramentas de pedreiros? Não. Lhes parecia que os debates deveriam ter dois níveis, dependendo do nível intelectual dos sócisos? Nâo. Era uma simples travessura intelectual, sugrida no calor de uns bons copos? Tampouco. Então??? 

O ponto essencial a se levar em conta é que alguns maçons impulsionaram e criaram em 1660 a Real Sociedade e que por sua vez, quando ocupava a Presidência Sir Isaac Neston (1703-1727), alguns de seus membros, no marco da disputa surgida pela chegada de Jorge I ao trono da Inglaterra, em 1714, pertencentes à disnastia estrangeira alemã dos Hannover, enfrentariam a oposição aguerrida dos escoceses, não poucos ingleses e irlandeses, além dos maçons e católicos, que queria ver no governo James, último descendente dos Stuart, conhecido como o Velho Pretendente. 

O fato político real consistia em que nas palavras do ilustrado maçom socorrano[1] Gabriel D´Avila Mejía, o problema que enfrentaram os Hannover com a Maçonaria é que o grêmio se desenvolveu como uma organização Jacobita (relativa a Jacobo ou James Stuart), então consideravam as tradições maçônicas como uma ameaça para a estabilidade de sua linhagem. 

Por efeito dominó, nesta disputa se encontravam em perigo os membros da Real Sociedade em virtude da dupla militância que a maioria possuia. 

É nesse contexto que a decisão politica dos maçons ingleses e dos membros da Real Sociedade consistiu em criar distância com respeito a seus irmãos que se apoiavam na Casa dos Stuart - circunstância que frequentemente se pagava com a vida – fundando uma Grande Loja em Londres no dia 24 de junho de 1717 partidária do Rei da Casa dos Hannover, que confrontava com a maçonaria tradicional que contava com ramificação na França, Holanda, Irlanda, Escócia e nas colônicas britânicas da América do Norte e por reflexo incentivar a boa aceitação a Real Sociedade na versão real. 

Os historiadores se referem a estas duas linhas evolutivas da Ordem como Maçonaria Hannoverianoa e Maçonaria Jacobita. A primeira se tornaria na Maçonaria da Grâ Bretanha, ao tempo em que se eliminaria a segunda. Por sua vez, a Jacobita, já sem este apelido ao largo do século dezessete, se estenderia primeiramente para França, Holanda e Espanha, e dali se contagiando do liberalismo francês, se estenderia por todo o mundo até chegar a América Latina em princípio do século XIX no lombo de cavalo dos movimentos independentistas. Porém, esta versão de jacobinas em jacobinos, é outra história. 

De todo modo a que se reconhecer que esta nova decisão de Londres possibilitou o nascimento de uma Maçonaria que reuniria antigos inimigos poíticos e acadêmicos com o fim de estudar e cultivar as ciências experimentais da química, medicina e filosofia sob a premissa de proibir em seu seio as discussões sobre assuntos de Estado e da Teologia. 

Por outro lado, à título de ilustração, a partir do ano de 1371, catorze Stuars dirigiram a Escócia consecutivamente e os últimos seis reinaram simultaneamente na Inglaterra até quando a coroa passou para a Casa de Hannover. O fato de que os Stuarts foram protetores da Maçonaria na Escócia e que tivesse iniciado nelas seus últimos reis, desde James I (1601), demonstrou que a Ordem foi inconcicions com essa linhagem quando perdeu o reino em 1714. 

Por esta vía, desde 1714, na liguagem Maçônica, os termos Escocês e Antigo ressaltam o passado escocês da Maçonaria em contraste com o relato oficial inglês que sustenta que a Maçonaria moderna nasceu em Londres em 1717, da união de quatro Lojas. Esta versão tem sido muito difundida, como lembra Robert Lomas em seu livro “O Colégio Invisível”, sobre o papel da Maçonaria no nascimento da Ciência Moderna (Impresiones Gráficas de Arte Mexicano, S. A. de C. V., México D. F. 2003). Na verdade a história é escrita pelos vencedores. 

Este não é um detalhe de pouca monta uma vez que a procedência espúria é a base que assinala a irregularidade de origem que é registrada na Grande Loja de Londres uma das duas Obediências que em 1813 fundaram a Grande Loja Unida da Inglaterra (United Grand Lodge of England UGLE) e que hoje pretendem dispersar regularidade através do reconhecimento unilateral a outras grandes Lojas do mundo. 

Esta anedota, que noutro contexto poderia ser visto como uma piada de mal gosto, foi na realidade o evento que deu o pontapé inicial a Maçonaria Moderna e da qual se quer fazer emanar a Regularidade. 

Os inovadores iniciais convocaram outros cinco grupos de leigos em Maçonaria que se definiam como homens livres e de bons costumes, para estudar a possibilidade de criar uma associação que combinasse a estrutura organizacional e a linguagem arquitetônica das Grandes Lojas Maçônicas que já existiam na Escócia, Irlanda e na mesma Inglaterra, na cidade de York, com a característica adicional de ser um ponto de encontro neutro de pessoas de diferentes ideologias, a semelhança do que então praticava a Real Sociedade naquela cidade. 

Dois grupos não concordaram e se afastaram desde o princípio daquela iniciativa e os outros quatro declararam a si mesmos como Lojas Maçônicas e fundaram a Grande Loja de Londres em 1717. Essas quatro Lojas fundadoras , saídas do nada, se denominaram: O Ganso e a Grelha; a Coroa, A maçã e o Cálice e as Uvas, tomando como nome o das tabernas onde se reuniam para comer e beber. 

Em princípio a Grande Loja de Londres não tinha um objetivo transcendental. Seus fundadores não aspiravam nada mais que eleger um Grão Mestre que servisse de líder e reunir-se duas vezes ao ano, nos dias dos solstícios de verão e de inverno. Mas o principal objetivo era o de se distanciar dos jacobitas. 

No final do século XVI, na Escócia, um pouco mais tarde na Inglaterra, as Lojas haviam apresentado um novo elemento. Com efeito, estas se abriram a indivíduos que não tinham a menor relação com a arte da construção. Esses membros honorários, também chamados especulativos, teóricos e geománticos, por oposição aos pedreiros profissionais, práticos e dogmáticos, foram em princípio donos de terras, clérigos, funcinários, grandes senhores, cujo patronato podia servir aos interesses da Corporação. A partir do segundo terço do século XVII se agregaram, cada vez em maior número, letrados, naturalistas, médicos, professores, arqueólogos, etc. 

A partir de 1646, como sabemos, pela autobiografia de Elías Ashmole, os “cavaleiros” eram maioria na Loja de Warrington. Nos cargos, redigidos em 1663, está a regra segundo a qual ninguém pode ser recebido como Maçom, salvo em uma Loja que contivesse ao menos cinco maçons, um dos quais tinha que ser forçosamente “homem do ofício” (workman of the trade of Freemasonry). Em 1670, a Loja de Aberdeen só tinha entre quarenta membros, oito ou dez profissionais; seu Mestre na cátedra era umprofessor (tutor). No começo do século seguinte, a Loja de York era composta exclusivamente de especulativos. Durante todo este período, a Maçonaria parece ter exercido um grau atrativo sobre os intelectuais: “A Moda da Francomaçonaria – escrevia em 1686, o doutor Plot em sua obra Natural History of Staffordshire - se acha mais ou menos extendida por toda a nação. Personalidades da mais alta linhagem não desdenham entrar nesta Fraternidade”. 

Está claro que a essa nova categoria de recrutas não se poderia impor os sete anos de aprendizado ordinário. De início receberam o nome de Fellows, ficando reservado para os profissionais os termos Aprendiz, Companheiro e Mestre. A partir de então ficaram estabelecidas para a iniciação do Companheiro todas as formalidades e discrição, a comunicação dos Estatutos e as lendas, a revelação dos vocábulos e dos sinais... Haviam três cerimônias de iniciação e destas, apenas uma para os especulativos. 

Disto resulta, segundo a evidência do relato, que o célebre arqueólogo Elias Ashmole deixou suas relações com a Maçonaria. Em sua autobiografia, de fato, conta que “havendo sido feito maçon” na Loja de Warrigton, em 1646, visitou trinta e seis anos mais tarde, em 1682, a Loja de Mason´s Hall, em Londres, onde presenciou a admissão de seis personagens na Companhia dos Maçons (Fellowship of Free Masons), cujos nomes cita, depois de ter nomeado aos demais personagens presentes, acrescenta: 

“Eu me contava entre os Companheiros como o mais antigo (The Senior Fellow among then)... Logo, comemos na taberna da Lua Crescente.. uma comida nobre preparada e paga pelos maçons recém admitidos (at the carge of the new accepted Masons)” 

Entre os Companheiros recentemente recebidos dos que cita Ashmole estavam um baronete, Sir William Wilson e um oficial, o capitão Richar Borthwick. É pois, evidente, que os não profissionais, como o próprio Ashmole, eram recebidos como Fellows[2] de entrada e que para eles não havia, na realidade, nenhum grau anterior. Há mais, todavia: os outros quatro membros recebidos na presença de Ashmole eram pessoas do ofício que já figuravam na qualidade de Mestres nos registros da Companhia dos Maçons. Que significa isto? Aqui estão alguns Mestres que são promovidos depois a companheiros! Um verdadeiro descobrimento efetuado nos antigos relatos da Mason´s Company pelo Ir.´. Conder, estabelece que essa aparente inversão da hierarquia não tem, não obstante, nada de anormal. Na Loja de Mason´s Hall, a Acception (aceitação), como chamavam, não era idêntica a da Companhia. Não continha mais que profissionais, a Loja, Cujos membros só levavam o nome de Maçons Aceitos (Accepted Masons), compreendia, como as antigas Bruderschaften, proffisionais e especulativos. Ademais, nem todos os membros da Companhia eram obrigatoriamente membros da Acception. Assim, o mestre pedreiro do rei Nicolas Stone, que presidiu a Companhia de 1633 a 1644, só foi recebido como Fellow (Companheiro) da Loja em 1639. Só as finanças de ambas as organizações eram comuns, no sentido de que os direitos de entrada na Loja eram acumulados com o tesouro da Companhia, enquanto que esta suportava o excedente dos gastos ocasionados pelos banquetes e as cerimônias de Aceitação (Anderson da a entender que a Companhia dos Maçons teria saido de uma Loja: “nos tempos antigos, escreve (Anderson's Constitutions, de 1723, edición Woodford, Londres. 1878, p. 82), ninguém obtinha a franquia da Companhia (was made free of the Company) antes de haver sido instalado em alguma Loja de Maçons Livres e Aceitos. O ilustre autor do Livro das Constituições, em que pese toda sua sabedoria maçônica, colocou aqui, a carreta na frente dois bois. 

É possível comprovar a existência da Acception de 1620 a 1678. Nisto temos um espetáculo sugestivo de uma Loja que, não só admitia especulativos ao lado dos profissionais, mas também outorgava o título de Companheiro a Mestres Pedreiros do ofício, estando em vias de constituir-se o lado de fora da maçonaria prática. 

Enquanto na companhia era preciso servir sete anos para ser um Freeman (homem livre), na Loja se era Fellow (companheiro) na admissão e ao que parece esse indivíduo não conhecia outras categorias. 

A admissão do Aprendiz na Companhia era realizada conforme os usos habituais do ofício. (O chamado Manuscrito de Sloane, ao qual se atribui uma data que varia de 1640 a 1720), contém um catecismo que dá uma boa idéia do que devia ser o interrogatório do Aprendiz nas Lojas puramente profissionais). Ignoramos o detalhe da parte relativa ao banquete que desempenhava uma parte importante na cerimônia de recepção de um Fellow (companheiro), mas que fazia parte de um dos primeiros rituais fraudulentamente publicados depois da fundação da Grande Loja de Londres, com o objetivo de entrgar ao público os segredos maçônicos. 

"A Mason's Examination", que apareceu em abril de 1723, no diário The Flying contem uma descrição que poderia ser aproximadamente exata, das formalidades em uso para a iniciação nas Lojas Mistas (Ese documento se da como Apéndice no último volume da grande edição da History of Free Masonry , de R F. Gould, p. 487). 

O profano, ao ser introduzido na Loja, escutava como o Mestre na cadeira fazia aleitura das normas habituais. Ato contínuo, um vigilante o conduzia até o Mestre e os Companheiros. A cada um deles ele repetia esta fórmula rimada: 

I fan would a Fellow Mason be. 
As all your Worships may plainly see. 
Eu queria ser um Companheiro Maçon 
Como Vossas Reverências bem podem ver. 

Após o qual jurava não revelar jamais os segredos da reverenda Fraternidade sob pena de ter sua garganta cortada, mais “o dobro da condenação ao inferno” no outro mundo. Então, seus olhos eram vendados e procediam a uma cerimônia sobre a qual o exame nada encontrou. Depois, o faziam contemplar um “milhar de posturas e caretas diferentes” , que deveria imitar de forma exata, sob pena de receber a disciplina (castigo ou punição) - (or undergo discipline) se não obedecesse e executassem bem. A palavra Maughbin era murmurada pelo jovem maçon no ouvido do seu vizinho (irmão próximo) e assim, sucessivamente, até chegar ao Mestre, que devia se colar na postura adequadra para recebê-la (his face in due order – com o rosto na devida posição). 

An Entered Mason I have been 

Eu sou um Maçom recebido (iniciado) 

B*** and J**** I have been. 

Eu vi a letra B e a letra J 

A Fellow I was sworn most rare. 

Eu fui empossado como um raro companheiro 

And know the Ashler. Diamond and Square. 

Eu conheço a pedra, o diamente e o esquadro 

I Know the Master's part full well. As honest Maughbin will you tell. 

Conheço perfeitamente o trabalho do Mestre, como pode dizer qualquer honrado Maughbin. 

A publicação se deve a um adversário da Francomaçonaria, embora seja evidente que, se não pasosu por etas formalidades, teve ao menos conhecimento indireto do Ritual, como o testemunha ainda melhor o questionário cujo texto segue a descrição da iniiação propriamente dita. 

Foi em 1656, quando a Companhia dos Francomaçons se converteu na Companhia dos Maçons. A respeito da aceitação, esta deixa de ser mencionada nos registros da Companhia em 1678. Desta maneira se conseguiu a separação das duas Maçonarias uns vinte anos antes da fundação da Grande Loja de Londres. Se ignora que tenha sido depois deste acontecimento, da Loja de Francomaçons aceitos. Já a encontramos no ségulo seguinte em que pese uma das Lojas especulativas mais antiguas de Londres, a “Lodge of Antiquity”, pretendesse proceder dessa origem. 

O seguro é que nosporimeiros anos do século XVIII havia em Londres várias Lojas em que dominava o elemento especulativo, porém que parece terem estado situadas no mesmo plano de antanho a Aceitação, como o indica a denominação tomada por seus membros de “Free and Accepted Masons”. (Resultaría dos documentos publicados pelo Irmão Conder, que na Loja de Free Mason´s Hall, o título de aceito estava reservado aos especulativos, e tanto é assim que o termo “livre” servia preferencialmente para designar aos profissionais) 

Em 1717, quatro dessas Lojas “julgando oportuno associar-se sob o comando de um Grão Mestre, a fim de ter um centro comum de união e harmonia”, constituiram entre si uma Grande Loja, tendo sido colocado em sua presidência o Irmão Antoine Sayer, que era um “gentleman”. É inútil lembrar que, se for deixado de lado as Lojas da Escócia e talvez as da Irlanda, onde a transformação da Francomaçonaria seguiu uma vida independente e paralela, foi dessa Loja constituída em 1717, na Taberna do Ganso e a Grelha, para Londres e seus arredores, que sairam por filiação direta ou indireta, quase todas as Lojas azuis atualmente extendidas por toda a superfície da terra (digo quase por que todavia existem, inclusive fora das Ilhas Britânicas, Lojas fundadas diretamente pela Grande Loja da Escócia, na Bélgica, a Bnne Amuié, em Namur) – (Goblet de Albiela, Los Origenes del Grado de Maestro en la Francmasonería, Edición Digitalizada por Rolod. Pag 20 al 23). 

Os primeiros Grandes Mestres da Grande Loja de Londres foram: 

a) Anthony Sayer, eleito em 1717, por um ano, no qual logrou jurisdicionar as novas Lojas; 

b) George Payne, eleito por um ano em 1718 e 1720, era um antiquário que reuniu uma importante coleção de documentos antigos das Lojas Opoerativas e proferiu, com base neles, trinta e nove(39) Ordenanças Gerais. Em 1721, encomendou a James Anderson, pastor presbiteriano e membro da Real Sociedade e guia religioso de um dos grupos fundadores, que procedessem a revisão dessas ordenanças a fim de equipar a Grande Loja de um corpo normativo que regulasse seu trabalho. Compromisso que se cumpriu em três meses e seus resultados foram submeticos a uma Comissão de Estudo, para que fossem finalmente aprovados e publicados em 1723, sob o título de “A Constituição dos Francomaçons” durante o Grão Mestrado de Felipe, Duque de Wharton. 

c) Theofilo Desaguliers, eleito em 1719, participou ativamente do estudo das trinta e nove (39) Ordenanças Gerais. Era en 1719, participó activamente en el estudió de las 39 Ordenanzas Generales. Era filho de James Anderson, membro de Real Sociedade, cientista destacado e pastor anglicano. 

d) Juan, Duque de Montagú, eleito em 1721 e reeleito em 1721. De seu trabalho se destaca a intenção de converter a nova Grande Loja em umcorpo regulador, atraindo de imediato a Lojas situadas fora de Londres. 

e) Felipe Wharton, eleito em 1722. No momento de sua ascensão ao Grão Mestrado contava 23 anos de idade e gozava de um péssimo prestígio social e a monarquia britâncica protestante havia acabado de lhe outorgar o título de Duque por sua campanha exitosa no extermínio de católicos na Irlanda. Lhe coube a sorte da aprovação definitiva e a publicação da Constituição dos Francomaçons, conhecida desde então como “As Constituições de Anderson”. Felipe de Wharton morreu na indigência no Convento de Bernardine, na Catalunha, Espanha, no dia 31 de maio de 1731, logo após ter ajudado a difundir a Maçonaria Hannoveriana na França e Espanha, país de onde também foi seu primeiro Grão Mestre. Seus restos ainda repousam ali, embora hoje do lado exterior dos muros do Convento por quanto o General Francisco Franco em sua obsessão antimaçônica nos mandou desenterrar da terra santa. 

Desta história resultou que os artigos 1º e 2º das Célebres Constituições de Anderson, de 1723, que definem a Maçonaria Moderna, são uma cópia fiel a seus pares da Constituição da Real Sociedade. Posteriormente, em 1738, estas Constituições de Anderson foram reformadas. 

(*) Texto extraído da Obra "Maçonaria - Origem e Desenvolvimento" de Herbert Ore Belsuzarri.


Ir.´. José Roberto Cardoso
Loja Estrela D´Alva nº 16 - GLMDF



[1] Socorrano – natural da provícia espanhola de Socorro. 
[2] Fellows = Companheiros.

A MAÇONARIA E O ILUMINISMO



A MAÇONARIA E O ILUMINISMO


As idéias prevalentes e obsoletas da Idade Média, conhecida como “A Noite dos Dez Séculos”, levaram no início do Século XVII o surgimento na Europa de um movimento renovador de toda cultura da época, como reação ao considerado atraso de quase todo conhecimento então existente. 

Essa plêiade de novos pensadores espalhada por quase todo continente europeu, voltava-se contra o tradicionalismo que viera da então Era Medieval e grilhões do absolutismo da realeza, como também os benefícios que eram outorgados aos membros do clero e nobreza. 

Os freios para evolução da inteligência precisavam ser arredados, por que o Homem deveria pensar e governar-se pela Razão; livrar-se das restrições impostas pela Inquisição e buscar seu próprio destino livre de opressão. 

Poderia acreditar naquilo que sua inteligência explicasse independentemente de religiosidade ou mesmo fé. Teria liberdade de desacreditar naquilo que lhe foi imposto outrora, ou, simplesmente, questioná-lo. 

A Razão seria a bússola de sua vida, substituindo toda crença religiosa para abrir caminho a uma Nova Era de intelectualidade, gerando progresso material e moral, em oposição aos mesquinhos tempos da Idade Média. 

Toda essa evolução filosófica, científica, artística, moral e religiosa, tomou o nome de Iluminismo, ou, “Século das Luzes”, como contestação “A Noite dos Dez Séculos” (476-1476), face a pobreza cultural daqueles tristonhos tempos. 

Iluminismo, porque concedia luz à escuridão, marca do atraso de mentalidade da Idade Média. A doutrina iluminista preconizava que o Homem nasce puro, com bondade, e é a própria sociedade que o corrompe. 

Se houver Justiça Social, pouca desigualdade na comunidade, econômica, moral e de costumes, a paz virá, como consequência, e a felicidade aflorará para o bem de todos. 

A liberdade seria exercida com responsabilidade para o bem comum. Eram, em linhas gerais, os postulados do Iluminismo. Filósofos, políticos e cientistas, integravam esse cenário, surgindo, daí, várias correntes ou vertentes dessa política social que se instalou, em última análise, em nome da liberdade de pensar, com o propósito de progresso cultural e de espírito. Aliás, esses ideais de avanço cultural já vinham sendo desenvolvidos desde a Renascença que mais tarde também contribuiu para deflagrar a Revolução Francesa de 1789. 

O filósofo René Descartes prestou significativa contribuição a esse empreendimento intelectual, com seu adágio – cogito ergo sum – (penso, logo existo), pensamento puramente racionalista. 

Outras importantes figuras intelectuais do Século XVII foram iluministas, como Galileu Galilei, Francis Bacon, Thomas Hobbes, René Descartes, Baruch Spinoza, John Locke, Isaac Newton, Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Kant, Adam Smith e tantos outros do mesmo quilate. 

Esse movimento, entretanto, começou a perder força, mais ou menos, no começo do Século XIX, com o advento de novas doutrinas e ao tempo das guerras napoleônicas 1804-1815. 

Embora uma parte dos iluministas pregasse o ateísmo, a maioria acreditava na existência de um Ser Supremo do Universo, princípio admitido pela Maçonaria que foi muito influenciada por essa elite erudita. 

A religião poderia ser cultivada por cada um, sendo mera faculdade, e, sendo aceita, como efeito, a vida espiritual continuaria após a morte do corpo físico. 

Era o que a maioria entendia do aspecto divino. E foi nesse ambiente de sabedoria que começou a surgir a Franco-Maçonaria no começo do Século XVII, cujos maçons vieram das fileiras do Iluminismo trazendo doutrinas daquele momento histórico para oxigenar a Maçonaria Tradicional ou Simbólica, as chamadas Lojas Azuis. 

Registra a História que as dificuldades da Ordem Operativa em meados do Século XVII, em especial na Inglaterra, ensejaram sérias consequências para as guildas, chegando à decadência ou mesmo à extinção. 

Como medida de sobrevivência, o sistema maçônico daqueles tempos passou a recrutar membros da intelectualidade, nobreza e de posses econômicas, sem que antes tivessem integrado o artesanato, ou seja, a maçonaria primitiva. 

Consolidou-se, assim, no Século XVIII (1717-1724), a Franco-Maçonaria composta por cérebros que não faziam parte da Instituição do Artesanato, porém eram dotados de requisitos morais, intelectuais e econômicos, sendo aceitos pelos IIr. operativos que simbolizavam o passado maçônico. 

E sses IIr. foram chamados de “aceitos”, que mais tarde o REAA acolheu essa nomenclatura. Estabeleceu-se, entretanto, que seria a mesma maçonaria, apenas com departamentos próprios, mas com a mesma substância, como sendo frente e verso de uma mesma moeda. 

Estava, pois, implantado o departamento especulativo ao lado do outro operativo. Mas a unidade da Ordem foi preservada em todos os sentidos. 

Pois bem, com o ingresso desse IIr.’. “aceitos”, oriundos em grande parte do Iluminismo, a influência era mesmo de se esperar na Instituição, especialmente no âmbito especulativo, geomântico ou ainda teórico. 

Não demorou muito e nasceram os Altos Graus, de 4 a 33 no REAA, sendo que para alguns especialistas o Grau 3 (Mestre-Maçonaria Azul ) foi criado em 1725, pouco depois da Constituição do Bispo Anglicano James Anderson de 17 de janeiro de 1723. 

Os Landmarks, por sua vez, foram estudados, classificados e ordenados por diversos estudiosos maçônicos, até que em meados do Século XIX, Albert Galletin Mackey – 1807-1881, compilou-os, formando uma Super-Constituição Maçônica Universal, no nosso modesto entendimento. É, sem dúvida, a codificação mais aceita pelas diversas Obediências com os 25 princípios imutáveis e inalteráveis. 

A influência do Iluminismo na Maçonaria é evidente, principalmente, quando examinamos os artigos 6′ ao 8′, que versam sobre as prerrogativas do Grão-Mestrado. 

Trata-se de matéria atinente a Administração da Entidade que, em caso excepcional, pode o Grão-Mestrado autorizar a proposta e recepção do candidato ali mencionado. Essa prerrogativa emana da experiência dos políticos de Iluminismo que ingressaram na Ordem, objetivando, em tempos conturbados, que a direção tenha instrumentos eficazes para debelar, ou pelo menos, minimizar as dificuldades momentâneas. 

A faculdade de representação (art. 12) é outro avanço da época iluminista, conferindo ao obreiro esse direito quando necessitar de auxílio técnico ou para outros fins de seu interesse. O direito recursal (art. 13) foi inspirado no modelo profano e visa eventual correção da decisão impugnada a ser reexaminada pelo órgão superior. 

Em última análise, é resquício da doutrina contra o despotismo de que tratamos no início desta dissertação e a igualdade de todos os maçons no interior da Loja (art.22) origina-se do sentimento democrático, defendido pelo movimento iluminista de combater a descriminação. 

O princípio da Separação dos Poderes na Instituição Maçônica é cópia do modelo de Montesquieu, renomado iluminista. – “Esprit des Lois”. Criou esse sistema de Poderes do Estado, em Legislativo, Executivo e Judiciário – arts. 35, 70 e 97 – da Constituição do Grande Oriente do Brasil, dentre outros diplomas das várias Potências, cada um com atribuições previstas em lei. 

Mas de todas as influências iluministas na Ordem Maçônica, a que mais se destaca é seu Departamento Especulativo. Introduziu-se o estudo profundo filosófico, simbólico, esotérico, metafísico, espiritual e histórico, além de outros ramos do conhecimento humano. 

A maçonaria tradicional ou clássica ficou limitada ao simbolismo básico e o início de alegoria da lenda de Hiran Abiff. Esses são apenas alguns enfoques iluministas adotados pela Instituição. O certo é que o Iluminismo trouxe grande contribuição para o progresso maçônico, intelectual, espiritual material. É o que se conclui do exame do tema em foco! 

(*) Texto do Ir.´. José Geraldo de Lucena Soares – ARLS Fraternidade Judiciária nº 3614 



Ir.´. José Roberto Cardoso 
Loja Estrela D´Alva nº 16 - GLMDF