sábado, 8 de abril de 2017


A ACÁCIA E O MESTRADO
(Parte I)



Autor: Raymundo Della Júnior 
Do livro: Maçonaria – 30 Instruções de Mestre Maçom – Editora Madras


Nesta transcrição, sem qualquer finalidade lucrativa, iremos transcrever apenas a parte I do livro acima referido, vez que não diz respeito aos segredos do grau.

Aqueles que se interessarem pela obra, procurem nas melhores livrarias e a encontrarão com as 30 instruções já referidas.


“A palavra Acácia em hebraico antigo é grafada no singular como Shittah, sendo seu plural Shittin”.

“Além disso, o termo Acácia deriva do grego Ake significando ponta; porém, essa expressão é mais apropriada a um instrumento de metal, como por exemplo, a ponta de uma lança”.

“Contudo, no texto original grego do Novo Testamento, o termo usado é Akanqwn - Akanthon, traduzida para o português como Acácia, e em complemento, como Acanto que também pode significar: espinho – espinhoso – etc”.

“Ademais, essa palavra grega aparece em várias passagens da Bíblia mencionando a coroa de espinhos, e também a Árvore Shittah”.

“Além disso, o grego Akakia é também usado como Moral = Inocência – Pureza de vida – Ingenuidade – e Simplicidade; e há variáveis desse termo: Akakia – Kassia – Kasia – Akantha”.

“ Todas as religiões Místicas da Antiguidade contavam com uma árvore simbólica para sua veneração, tais como: lótus no Egito – mirto na Grécia – e carvalho em Celta”.

“A Acácia é uma árvore ou planta da família das Leguminosas – Mimosas – Acácia Dialbata, um arbusto de madeira dura, espinhosa, pontas penetrantes, folhas leves e elegantes, de região tropical ou subtropical, e flores miúdas brancas ou amarelas, perfumadas e agrupadas, e muito utilizadas como adorno; até porque essa flor imita o Disco do Sol – ou solar”.

“Enquanto há dentre suas espécies as que produzem goma-arábica, outras fornecem caucho – guaxe (fruta comestível) – tanino – e madeiras de grande valor”.

“Para os antigos a Acácia representava um Emblema Solar, como as folhas de lótus e de heliotrópio, pois, como já foi dito, suas folhas acompanham a Evolução do sol, e param esse movimento ao descer no ocaso; por isso, essa flor imita o Disco radioso do Sol, por meio de sua plumagem”.

“A Acácia tem aproximadamente 400 (quatrocentas) variedades, e existe em quase todo o Mundo nos Cinco Continentes, como nos: Estados Unidos – Índia – Egito – Israel – China – Austrália – etc; sendo assim universal”.

“No Brasil há cerca de 300 (trezentas) espécies de Acácia; e somente em região próxima à Monte Negro – Rio Grande do Sul há a Acácia Negra, que de sua casca é extraído o melhor tanino, sendo então a mais promissora riqueza dessa região”

“Essa extração é comparada somente a uma espécie existente na África; entretanto, a Acácia Oriental, produtora da goma-arábica, não vinga nesse Continente”.

“Caso haja interesse em subsídios para estudo mais aprofundados sobre a Acácia, em Israel há enorme variedade dessa árvore; assim, em Jerusalém, Belém, Jericó e todo país, em kibutz, parques e jardins, além de oásis entre desertos e montanhas, existe uma infinidade de Acácias”.

“No Vale do Jordão junto ao Mar da Galiléia, há resquícios de matas naturais onde, é provável, a Acácia foi uma árvore nativa, mas na atualidade, é difícil encontrar exemplares que indiquem ter essas árvores idade avançada, e muito menos parecerem centenárias”.

“Comparado às oliveiras do Sinai e Jericó, por mais antiga que seja a árvore perde o interesse científico, e há no trajeto entre Jerusalém e a Galiléia centenas de velhas oliveiras ainda frutificando, com troncos retorcidos, única sombra que as ovelhas usufruem nesses locais áridos”.

“Nos dias bíblicos no Vale do Jordão, havia um bosque que abrigava feras descrito nos Livros de Jeremias (12:15; 19; 49; 50:44) e II Reis (6:2), quando Jeremias com Eliseu foi ao bosque cortar madeira para construção de uma casa; mas atualmente não existe mais mata densa, apenas algumas Tamareiras, Acácias e outras espécies, não caracterizando esse bosque como mata”.

“No Egito e Acácia tem como peculiaridade possuir espinhos duros, por isso certos autores maçônicos especulam que a coroa de espinhos colocada na cabeça de Jesus era desse tipo de Acácia, como consta na Recueil Précieux de La Maçonarie Adonhiramita, de 1787; tanto que o estudioso maçônico O. Almeida diz que essa “Coroa de Acácia espinhosa em Jesus” é um Símbolo de Sabedoria; e, para os antigos egípcios, a Acácia era sua única Planta Sagrada”.

“Então cabe a pergunta: Como interpretar os soldados romanos ter coroado Jesus com espinhos?; Pode-se depreender ser crueldade com sentido somente pejorativo, ou será que, caso conhecessem a simbologia do Ramo de Acácia, procede indagar se: alguém induziu os soldados a usar este tipo de coroa”?

“Os árabes adoravam a Acácia que chamavam Al-uzza, contudo, Maomé baniu esse mito por considera-la um ídolo; tanto que a aclamação do REAA (Huzzé) pode ter raízes nesse vocábulo; mas, era venerada pelas tribos de Ghaftanm, Koreisch e Kemanah a chamando de “Pinheiro-do-Egito”.

“Ainda, na antiga Numídia os árabes denominavam a Acácia de Houza, que também se acredita poder ser a origem da mesma aclamação do REAA (Huzze); e também é chamada de Hoshea, palavra sagada usada num dos Graus Elevados do Filosofismo, mais precisamente no Capítulo do mesmo REAA”.

“A literatura hebraica evoca muitas vezes a Acácia, entretanto, se na Antiguidade Moisés recomendou que na construção dos elementos sacros: Tabernáculo – Arca da Aliança – Mesa dos Pães da Propiciação – e demais Adornos Sagrados utilizassem a madeira de Acácia, principalmente por suas características de muita resistência a putrefação”.

“Contudo, não significa que o uso proviesse desde aquela época, pois, nos Mistérios Egípcios, sua utilização já era conhecida, e, por Moisés ter estado no cativeiro, deve ter adotado dos egípcios o uso da Acácia Sagrada; assim, a relação entre os israelitas e a Acácia teve início por Moisés”.

“Como foi dito, nas Sagradas Escrituras o termo Acácia aparece como Shittah e Shittuin, traduzido por Setim; contudo, apesar de todo o exposto, até poderia ser que a árvore Setim referida na construção do Grande Templo de Salomão não fosse a Acácia dessa época moderna”.

“O responsável pela ornamentação do Templo de Salomão solicitou esculpirem grandes querubins (anjos) para separa o Santo-dos-Santos do restante; e mais, que ainda esculpissem os demais ornamentos, tudo em madeira de Acácia, para depois recobrirem com laminado de outro”.

“Os povos antigos costumavam simbolizar a Virtude, e outros atributos da alma, adotando árvores e/ou plantas; e mais, extremavam respeito pela Acácia, até considerando-a um Emblema ou Símbolo Solar, porque, como também já foi dito, suas folhas se abrem com a Luz do Sol no amanhecer e se fecham no ocaso, sendo que a flor imita o Disco do Sol”.

“Então, tanto egípcios quanto árabes consideravam a Acácia sua Árvore Sagrada, e a consagrando ao Deus do Dia, e ambos a usaram em seus sacrifícios oferecidos à Divindade”.

“A Acácia é ainda dedicada a Hermes – ou Mercúrio, e seus ramos floridos relembram o célebre Ramo Dourado dos Antigos Mistérios; trata-se efetivamente da Acácia Mimosa, cujas flores se parecem com pequenas bolotas de ouro”.

“A Acácia é a árvore da Fábula de Osíris, que florescida em seu túmulo, ou do Iniciado, assassinado por Tifão, que ali plantara para reconhecer o local do sepultamento”.

“E Giuseppe Garibaldi, conhecido como herói de dois Mundos, descreveu como gostaria que transcorresse seu funeral, porque desejava ser cremado, então elaborou uma relação das espécies de madeira que comporiam a fogueira, e foi incluída a Acácia; entretanto, por ironia, não foi cremado”.

“Para o Maçom a Acácia também traz nostalgia, pois logo vem à lembrança o sacrifício do Mestre encarregado pela obra do Templo de Salomão, pela Lenda do terceiro Grau”.

Na Idade Média os mártires eram sacrificados em fogueiras, como ocorreu com Jacques de Molay, último Grão-Mestre dos Templários, e para transportar suas cinzas, cobriram-nas com Ramos de Acácia; evidentemente reconhecendo e agindo segundo o paralelismo significativo com o Grande Mestre do Templo”.

“No Cerimonial de Pompas Fúnebres da Maçonaria recomenda que os presentes depositem um Ramo de Acácia por sobre o esquife, significando que a morte é provisória, quando referida à imortalidade da alma”

“Uma obra maçônica antiga diz que a Acácia é invocada nas Cerimônias do Grau, em memória à Cruz do Salvador construída num bosque da Palestina onde era abundante a Acácia”.

“Já o significado místico da Acácia é de ser: imortal – indestrutível – e imperecível – não apodrece, devido às suas resinas componentes, mas, é preciso maior conhecimento da Acácia, para afirmar se sua madeira tem qualidades semelhantes da Acácia Vera e Mimosa Nilótica, originais da Península arábica”.

“Os primeiros Maçons organizados adotaram dos hebreus antigos seus principais Conceitos; assim, a Acácia, simbolizando a imortalidade da alma, e como foi dito, considerada pelos hebreus como a Árvore Sagrada, foi logo convertida em Símbolo Maçônico”.

“Por excelência, a Acácia é a “arvore ou planta símbolo” da Maçonaria, representando: segurança – clareza – inocência – ou pureza, e o Símbolo da Iniciação para a nova vida, ou a ressurreição para vida futura: além disso, ainda cabe a indagação: Por que a Acácia é a árvore representativa da Maçonaria?; Pois, como Símbolo da Instituição, porque a Maçonaria como essa árvore, deve florescer por toda a Terra”.

“Quando um Ramo de Acácia é posto nas mãos do Neófito, simboliza substituir o mirto ou myrtus, tipo de erva da família das Mirtáceas com flores de muitos óvulos, que era conduzida pelos iniciados de Mênfis e Heliópolis, assim como o Ramo de Ouro que Virgílio colocou nas mãos de Enéias, constante da obra Eneida – no seu Cântico 6.0”.

“E ainda, no Cerimonial de Iniciação a Acácia é a árvore que simboliza a presença da Natureza, que difere muito do ser humano por pertencer a outro Reino – o Vegetal”.

“Senão muito rica a interpretação simbólica e filosófica da Árvore ou Planta Sagrada, que lembra a espiritualidade de cada ser, que tal qual uma Emanação divina jamais pode morrer; e mais, simplesmente a Acácia é a representação da alma, dirigindo assim, com muita seriedade, aos estudos dos: Espírito – Eu Interior – e Parte Imaterial da Personalidade”.

“O estudioso Maçônico Albert G. Mackey (1807/81) expôs outra importante significação simbólica da Acácia como expressão de inocência; cabendo ressaltar que, como já foi dito, o grego Akakia é ainda usado para definição de: Moral – Inocência – e Pureza de Vida.

“Finalmente, pelo exposto, por já conhecer o simbolismo da Acácia, sempre se espera do Integrante da Sublime Instituição uma conduta exemplar, a mais pura possível que o ser humano possa desempenhar, e absolutamente sem mácula”.

Referência Bibliográfica:
“Junior, Raymundo Ella – Maçonaria 30 Instruções de Mestres – Editora Madras.




HIRAM: O Irmão Exaltado de Salomão

Absalão lhe dizia: Olha, a tua causa é boa e reta...
- 2 Sm 15:3

Extraído do blog: A pedra oculta
Autor:  Tiago Roblêdo M\ M\

A Morte de Absalão

APRESENTAÇÃO

Por que Hiram Abiff foi tão importante a ponto de seu nome, e não o de um rei ilustre como Salomão, ser reverenciado no mundo maçônico por quase 3.000 anos? Uma tentativa de resposta pode ser dada a essa pergunta e, embora essa explicação seja baseada mais em evidências circunstanciais do que em fatos, é um enredo que daria certa lógica a respeito da história dessa época.

A seguir a história maçônica de Hiram Abiff: Hiram não era simplesmente um arquiteto secular (exotérico), era também um arquiteto de alto escalão maçônico (esotérico), supostamente, uma das três pessoas do mundo que guardavam os verdadeiros segredos da Maçonaria. No entanto, enquanto trabalhava na construção do Templo de Salomão, três rufiões tentaram forçá-lo a contar tais segredos. Por alguma razão não explícita pela Tradição Maçônica, todos esses homens tinham em seus nomes o prefixo “Jubel”. Durante a peleja que se seguiu com essas pessoas, Hiram Abiff foi morto com três golpes na cabeça, tendo seu corpo sido ocultado. Alguns de seus companheiros maçons mais tarde encontraram seu corpo e voltaram imediatamente para contar tudo ao Rei Salomão, o rei ordenou que o corpo de Hiram fosse sepultado com todos os direitos que seu cargo lhe conferia.

Essa história é centrada na época do reinado de Salomão, e, no entanto, parece ter certa correlação com a morte do Príncipe Absalão, irmão mais velho de Salomão. O Príncipe Absalão era filho do Rei Davi, e empreendeu uma rebelião contra o governo de seu pai. Após uma batalha intensa, Absalão foi morto por Joabe com três lanças cravadas no peito. Seu corpo foi então atirado em um precipício e coberto com pedras. Dois mensageiros foram imediatamente enviados ao Rei Davi pra informá-lo do ocorrido, posteriormente um grande mausoléu foi, ou teria sido, construído para Absalão pelo rei.

PRÍNCIPE E ARQUITETO


Templo de Salomão


Embora haja inúmeras diferenças entre essas duas histórias, há também semelhanças, portanto, vale a pena verificar se haveria alguma explicação plausível para essas diferenças. Eis os pontos de discrepância:


a. A Tradição Maçônica refere-se ao Rei Salomão, enquanto a versão bíblica refere-se ao Rei Davi. De fato, essa talvez seja mais uma explicação do que um problema. Apesar da construção do Templo de Jerusalém ser atribuída ao Rei Salomão, a iniciativa da compra dos materiais e da construção foi do Rei Davi. Além disso, os textos bíblicos indicam que houveram dois indivíduos chamadosHiram (e que eram correlacionados). Como havia dois Hirans (talvez parentes) contemporâneos a dois reis diferentes, não é de se estranhar que possa ter havido alguma confusão. Embora os textos bíblicos indiquem que o Hiram Abiffpudesse ser o mais novo dos dois Hirans, a ligação com o Príncipe Absalãodenuncia a probabilidade de o herói maçônico ser, na verdade, Hiram, o Ancião, dito “Rei de Tiro”.

b. O Kebra Nagast ("O livro da Glória dos Reis") registra claramente que o Rei Salomão (ao menos conjuntamente) supervisionava as obras do Templo e, como era um príncipe substituto devido ao assassínio do Príncipe Absalão, é muito provável que Absalão também fosse um construtor. Naturalmente, a profissão aludida aqui era tanto construtor no sentido exotérico como no esotérico, portanto, tanto Salomão quanto Absalão teriam sido maçons.

c. Os três assassinos de Hiram Abiff chamados de “os três Jubes”, eram Jubela,Jubelo e Jubelum, três nomes idênticos que foram diferenciados pelo uso de sufixos de caráter distinto. São conhecidos de forma coletiva na Tradição Maçônica como os "Jewes", palavra possivelmente derivada de Jubes. A partir disso, surge a seguinte pergunta: por que esses três rufiões teriam o mesmo nome? Uma resposta plausível é que não seriam nomes, mas sim títulos! O que se procuraria, portanto, é uma posição ou cargo antigo conferido a essas três pessoas e que levavam o título de “Jube”. É esse indício bíblico que narra a história notavelmente semelhante da execução do Príncipe Absalão por um comandante do exército chamado Joabe (Juabe). Mas o nome “Joabe” seria, na verdade, um título militar que significa “Comandante de Cem Mil”. E como oRei Davi tinha três comandantes militares no campo de batalha quando oPríncipe Absalão foi morto, poder-se-ia argumentar que Absalão e seu exército foram assassinados pelos “três Joabes” (ou três Juabes) os três comandantes doRei Davi[1]. Há certa sinergia nesse ponto entre a Tradição Maçônica dos três “Jubes” que mataram um grande mestre e a consideração bíblica dos três “Juabes”[2] que impediram uma insurreição contra o rei e mataram um príncipe.

d. Tanto Hiram Abiff quanto o príncipe Absalão foram mortos por três golpes dados pelos três Jubes (três Joabes). A Tradição Maçônica indica que esses três golpes foram dados na cabeça de Hiram Abiff enquanto a Bíblia afirma que foram no coração de Absalão. Embora essa possa ser uma diferença genuína entre esses textos, é possível que tenha sido apenas uma pequena confusão de significados. A palavra hebraica usada aqui, lebab, reflete essa confusão, pois, além de “coração”, pode ser também “intelecto”, “conhecimento”, “memória” e “pensamento”, dando espaço a diversas interpretações em sua tradução.

e. Hiram Abiff é notoriamente conhecido na Tradição Maçônica como o “Filho da Viúva”, mas o príncipe Absalão ainda tinha um pai (o Rei Davi), fato que parece invalidar essa comparação entre Absalão e Hiram Abiff. De fato, isso não é possível. A mãe de Absalão era Maaca, cujo papel como primeira esposa foi posteriormente assumido por outras (e novas) consortes do Rei Davi. É provável que, após a perda de seu status como primeira esposa, Maaca tenha ficado conhecida como “A Viúva”, devido ao fato de não ser mais íntima ou ter a predileção do rei. Os textos bíblicos parecem confirmar que essa era a terminologia usada na época, quando mencionam as concubinas do Rei Davi. Dez delas tornaram-se guardiãs da casa (harém), e como esse novo cargo não lhes permitia mais o contato sexual com o rei, ficavam então conhecidas comoViúvas[3]. Essa explicação é sustentada posteriormente pela história contada ao Rei Davi acerca da luta entre dois irmãos e a morte subsequente de um e o exílio do outro. Essa história foi na verdade um conto alegórico que diz respeito à luta de Absalão com seu irmão Amom e seu exílio em Gesur. O interessante, no entanto, era a questão de que a mãe desses dois irmãos era viúva, se tal viúva seria uma alusão a Maaca tirada do posto de primeira esposa, consequentemente faria por alusão o próprio Absalão “Filho de uma Viúva”[4].
f. A Tradição Maçônica indica que Hiram Abiff foi um herói, enquanto os bíblicos indicam o príncipe Absalão como insurrecto do reino. O que seria menos uma questão de contenda e mais de perspectiva, aquele que empreende ataque contra um homem é inevitavelmente o que defende outro. A Bíblia seria puramente um livro escrito pelos escribas da corte do Rei Davi (que de fato havia cometido uma série de graves equívocos), vencedores dessa batalha singular, enquanto os textos maçônicos poderiam ter sido escritos pelos apoiadores de Absalão, possivelmente construtores que ainda rendiam fidelidade a seu antigo mestre.
g. O historiador Josefo disse que o pai[5] de Hiram Abiff foi chamado de Ur[6], um nome pode ser ligado a Absalão, que se rebelou contra o seu pai, matou seu meio irmão Amom e tentou tomar o reino de Davi. Tais ocorridos teriam acontecido em cumprimento da profecia de Natã em virtude do pecado de Davi por se rebelar contra seu combatente Urias ou Ur-iah, conspirando contra ele e assassinando-o para tomar a sua mulher, Absalão seria o vindicador do pecado de Davi contra Ur-iah[7], seu filho simbólico.

h. Se o Hiram maçônico era na verdade Hiram, o Ancião, o “Rei de Tiro”, possivelmente deve ter sido um familiar de Absalão que concretizou a construção do Templo de Jerusalém durante o reinado de Salomão. Como foiSalomão quem herdou o posto de Absalão de príncipe regente e, como o Kebra Nagast afirma que o Rei Salomão supervisionava a construção doTemplo, não seria tão absurdo conjecturar que Hiram, o Jovem, fosse na verdade o próprio Rei Salomão. Da mesma forma, tanto Josefo quanto o livro de Crônicas afirmam que foi o Rei Salomão quem fez os artefatos de metal para o Templo, incluindo o célebre “Mar de Bronze”. A primeira vista é presumível queSalomão tivesse comissionado esses materiais e que Hiram os tivesse fabricado, mas os textos ressaltam as várias ocasiões que o Rei Salomão o fez. Sendo o Rei Salomão o Arquiteto Maçônico Chefe (Grão-Mestre), é possível que tenha recebido todo o crédito pela construção do Templo, e tivesse sido considerado ainda, como o seu único arquiteto.


Por alguma razão, quando da construção do Templo, parece que esses dois arquitetos,Absalão e Salomão, foram denominados de Hiram. Deste modo, Hiram (Absalão) foi conhecido desde o nascimento, já que era o príncipe mais velho e herdeiro legítimo do Rei Davi. Após um desentendimento com seu pai e a consequente morte de seu irmão, Amom,Hiram (Absalão) ficou exilado em Gesur. Sendo príncipe, ele teria (aprendido e) conquistado muitos dos altos cargos, inclusive os sacerdotais, incluindo ai, possivelmente o título (e ofício) de Arquiteto Chefe.

Apesar de Absalão ter sido o príncipe regente e sucessor do trono quando da morte doRei Davi, decidiu organizar uma rebelião contra seu pai e há suspeita de que ele possuía apoio político e militar. Os exércitos opositores encontraram-se no campo de batalha e, durante ao combate subsequente, Absalão foi morto por três golpes na cabeça, dados pelos três comandantes militares do Rei Davi, os chamados “Joabe”. O corpo de Absalão foi jogado em um precipício e acobertado por pedras não sendo descoberto por algum tempo.

Os segredos da astronomia, da alquimia, da geometria e da matemática não eram dominados somente pelos artífices e juízes eclesiásticos, mas faziam parte também das práticas reais da época. Conhecimento é poder e, assim como cita o verso do Kebra Nagast, o Rei Salomão em particular vangloriava-se de seu grande conhecimento, Salomão estava simplesmente seguindo os passos de seu irmão assassinado Absalão?

O IRMÃO EXALTADO


Joabe e Absalão


A palavra “Abiff” que normalmente compõe o nome de Hiram quer dizer “Seu Pai”, no entanto, é preciso lembrar que este termo possui um significado mais amplo na língua hebraica, poderia dar a noção de mestre[8], instrutor, conselheiro e talvez até patrono[9]. Sugerindo que Hiram pudesse ser o instrutor de Salomão no ofício e/ou patrono (e principiador) dos trabalhos no Templo, papel segundo esta abordagem bem plausível para Absalão.

Apesar da palavra “Abiff” componente do nome “Hiram Abiff” ser constantemente investigada, relativamente pouco se aborda quanto o próprio nome “Hiram”. Sabe-se que há mais de um indivíduo na Bíblia portando este nome, que o mesmo figura sob outras formas como Airam e Adoniram e que sua grafia correta seria CHIYRAM.

Alguns etimólogos afirmam que CHIYRAM procede de CHIYRA “Família Nobre”, outros que seria uma forma contraída de ACHIYRAM "Meu Irmão é Exaltado" ou "Irmão (o) Altivo". De toda maneira, a Bíblia faz uso constante de adjetivismo[10] nos nomes de seus personagens (históricos ou não), assim Hiram alude à família, seja como nobre ou exaltado, seriam os Hirans, familiares a Davi e Salomão? Talvez a recorrência bíblica do termo “Hiram” como no caso dos “Joabes/Jubes” indicasse um título, portado inclusive por Absalão?

Assim como ainda hoje é praticado, a forma de tratamento entre os membros da maçonaria é “Irmão”, o maçom que atinge o Grau de Mestre no qual é encenada a Lenda de Hiram passa por uma cerimônia chamada “Exaltação”, logo todo Mestre Maçom é um “Irmão Exaltado". Quem seria o familiar qual Salomão poderia se referir como “Irmão Exaltado" ou “Hiram” no hebraico (que estava ou estivesse num posto superior)? A resposta mais lógica seria Absalão, o último príncipe sucessor e possível primeiro arquiteto do Templo.

Alias o próprio nome de ambos os filhos de Davi compartilham a mesma raiz assim como os Hirans, o Ancião e o Jovem compartilham CHIYRAM. Salomão vem de SHALOMOH enquanto Absalão de ABSHALOM[11], ambos oriundos da palavra hebraica SHALOM “Paz”[12], tal similaridade se repetiria no possível título “Hiram” (CHIYRAM)?

Um elemento discrepante seria que Hiram, o Ancião era intitulado como o “Rei de Tiro” e não como príncipe da corte e Davi, entretanto, o nome hebraico para Tiro é “TSOR”, que também significa “rocha” ou “pedra”, “MELEK CHIYRAM” é traduzido como “Rei Hiram”, mas MELEK também pode denotar príncipe. Ou seja, ao invés de “Rei de Tiro”, seu título poderia muito bem ser “Príncipe da Pedra” em alusão a sua posição de arquiteto[13], o regente dos trabalhadores em pedra, também notando que o termo “Príncipe”[14] ainda hoje é o título de diversos Graus da Maçonaria Filosófica.

Mesmo na morte, Hiram pelo mistério de sua vida compele aos maçons a um mistério, a busca da Palavra Perdida, mas na investigação de sua história se trilha por com uma miríade interminável de fontes, autores, obras, fatos e suposições... Talvez este seja justamente o objetivo d’A Lenda de Hiram. Compelir o Maçom a tanto conhecimento quanto seja necessário para a busca da Verdade!

Em vida Absalão e Hiram seriam o mesmo indivíduo? Certamente sua morte nunca responderá tal questão... Em vida, Hiram forjara Colunas de Bronze para a sustentação doTemplo Salomônico, com sua morte, forjou Colunas de Mistério para a sustentação da Tradição Maçônica.

Curiosamente o local no qual a tradição israelita afirma que o corpo do filho mais velho de Davi jaz é chamado de “Coluna de Absalão”[15]. Na Tradição Maçônica as Colunas do Templo eram cavas[16] a fim de no seu interior serem guardados os mais valiosos mistérios, e na Coluna de Absalão haveria para os maçons algum Mistério Perdido a ser encontrado?


A Cerimônia de Exaltação


Autoria de Tiago Roblêdo M\ M\
Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem


REFERÊNCIAS

As Chaves de Salomão: O Falcão de Sabá, Ralph Ellis
A Chave de Hiram, Christopher Knight e Robert Lomas
Mística Judaica, Walter I. Rehfeld

[1] Originalmente Joabe, Abisai e Itai.
[2] Os “Joabes” ou “Juabes” poderiam ainda ser os subordinados do comandante Joabe que o acompanharam na perseguição a Absalão, e que após ser este três vezes ferido, também o golpearam.
[3] Bíblia, 2 SM 20,3.
[4] Bíblia, 2 SM 14,5.
[5] Notadamente o sentido de “pai” no âmbito teológico da época possuía um sentido muito mais amplo que o de “genitor”. Poderia indicar a noção de mestre, instrutor, conselheiro e até patrono.
[6] Josefo, Ant. 8,76.
[7] Além desse “laço profético” entre Absalão e Urias (ou Ur-iah), em As Chaves de Salomão: O Falcão de Sabá, Ralph Ellis defende que Urias e Absalão seriam na realidade o mesmo indivíduo, havendo na Bíblia uma repetição da mesma história só que em 2 diferentes versões.
[8] E ainda como “Mestre Apoiador” ou “Padrinho” que na maçonaria moderna quer dizer o maçom que escolhe e inicia um profano e consequentemente fica incumbido de instruí-lo já como (Irmão) Aprendiz Maçom.
[9] Padroeiro; Defensor de causa ou ideia; Pessoa já falecida, de reconhecido valor no campo das Artes, das Letras ou da Ciência; Figura militar ou civil de grande vulto, já falecida, escolhida como protetora de cada uma das forças armadas, unidade militar etc.
[10] Recurso literário onde o nome de determinado elemento ou personagem de uma narrativa alude a sua natureza ou principal característica.
[11] Além disso, Absalão e Abiff também partilham de uma raiz, “AB”, que significa pai.
[12] Nos Templos Maçônicos (tidos como uma representação do universo pelos Maçons) encontramos 02 colunas possivelmente descendentes das colunas dos reinos unificados do Alto e Baixo Egito (também tido como uma representação do universo pelos Egípcios) quais haviam derivado alegoricamente até aos israelitas como as legendárias Boaz e Jaquim. Estas colunas haviam adornado o portão do Templo de Salomão. Para esses israelitas ancestrais, as colunas representavam tanto o poder real "Mishpat" quanto poder sacerdotal "Tzedek", e quando unidas suportavam o grande arco do Céu, cuja pedra-chave era a terceira grande palavra de seu anseio, "Shalom" que significa “Paz” e de onde advém o nome do Rei Salomão (Shalomoh).
[13] Arquiteto vem do grego “Architekton” que significa “mestre construtor”.
[14] 16º Príncipe de Jerusalém, 20º Soberano Príncipe da Maçonaria, 22º Príncipe do Líbano, 24º Príncipe do Tabernáculo, 26º Príncipe da Mercê, 28º Príncipe Adepto e 32º Soberano Príncipe da Maçonaria.
[15] Ou “Pilar de Absalão”. "Ora, Absalão, quando ainda vivia, tinha tomado e levantado para si uma coluna, que está no vale do rei, porque dizia: Filho nenhum tenho para conservar a memória do meu nome. E chamou aquela coluna pelo seu próprio nome; por isso até ao dia de hoje se chama o Pilar de Absalão." - 2 SM 18:18. Sua construção foi posteriormente re-datada por alguns arqueólogos para os primeiros séculos depois de Cristo, mas isso não impediria que o sítio já tivesse sido explorado previamente como o objetivo de sepulcro.
[16] A preservação do conhecimento em colunas dentro da Tradição Maçônica (e na israelita) é farta. Tal costume seria iniciado por Seth (filhos de Adão) e perpetuado pelos filhos da Lameque (Jubal, Jabal, Tubalcaim e Naamá) e Enoque.

O CAVALEIRO DO PELICANO

A lenda do pelicano

Conta uma lenda medieval que um pelicano saiu de seu ninho em busca de comida para os seus recém-nascidos filhotes. Não notou que por perto se escondia um predador, só esperando a sua ausência para atacar o ninho. 

Mal o pelicano desapareceu no horizonte, o danado atacou os coitadinhos, que ainda não tinham aprendido a voar e nem a se defender. 

O predador devorou a todos, só deixando como sobra as pequeninas ossadas com as penas que mal começavam a despontar. Quando o pelicano voltou ao ninho viu a tragédia que ocorrera. Atirando-se sobre os restos dos corpos dos filhos, chorou horas e horas, até que suas lágrimas secaram. 

Sem mais lágrimas para chorar pelos filhos mortos, começou a bicar o próprio peito, fazendo verter sobre o corpo dos pequeninos o sangue que jorrava dos ferimentos que ele mesmo provocara com aquela mutilação. 

No seu desespero não percebeu que as gotas do seu sangue, pouco a pouco iam reconstituindo a vida dos seus filhos mortos. E assim, com o sangue do seu sacrifício e as provas do seu amor, a sua família ressuscitara. 

Provavelmente foi a partir dessa lenda que o pelicano se tornou um símbolo de amor e sacrifício. Durante a Idade Média eram vários os contos e tradições em que esse pássaro aparecia como representação da piedade, do sacrifício e da dedicação á família e ao grupo ao qual se pertencia. Essa terá sido também, a razão de os cátaros, os rosa-cruzes, os alquimistas e outros grupos de orientação mística terem adotado esse pássaro em suas simbologias. 

Para os alquimistas o pelicano era um símbolo da regeneração. Alguns operadores alquímicos chegaram inclusive a fabricar seus atanores ― vasos em que concentravam a matéria prima da Obra ― com capitéis que imitavam um pelicano com suas asas abertas. Tratava-se de captar, pela imitação iconográfica, a mesma mágica operatória que a ave possuía, ou seja, aquela capaz de regenerar, com seu próprio sangue, os filhotes mortos. 

Os rosa-cruzes, em sua origem, na maioria, eram alquimistas. Daí o fato de terem adotado o pelicano como símbolo da capacidade de regeneração química da matéria da Obra não é estranho. E é compreensível também que em suas imaginosas alegorias eles tenham associado essa simbologia com aquela referente ao sacrifício de Cristo, cujo sangue derramado sobre a cruz era tido como instrumento de regeneração dos espíritos, medida essa, necessária para a salvação da humanidade. Daí o pelicano tornar-se também um símbolo cristão, representativo das virtudes regeneradoras do cristianismo, da mesma forma que a rosa mística e a fênix que renasce das cinzas.

Os popelicans

Porém, o grupo que mais contribuiu para que o pelicano se tornasse um símbolo místico por excelência foram os cátaros. Os sacerdotes dessa seita, que entre os séculos XI e XII se tornaram os principais opositores da Igreja Católica na Europa, chamavam a si mesmos de “popelicans”, termo de gíria francesa formado pela contração da palavra pope (papa) com pelican (pelicano). Significa, literalmente, “pais pelicanos”, numa contra facção com os sacerdotes da Igreja Católica que eram considerados os predadores da lenda (no caso uma serpente, como conta Leonardo da Vinci em sua versão da lenda.[1]

De certa forma, os cátaros, com suas tradições místicas e iniciáticas, se tornaram irmãos espirituais dos cvaleiros templários e antecessores dos rosa-cruzes e dos maçons. Condenados pela Igreja Romana por suas idéias e práticas heréticas, eles foram exterminados numa violenta cruzada contra eles movida pela Igreja em meados do século XIII.

Os cátaros chamavam a si mesmos de filhos nascidos do sacrifício de Jesus. Eles diziam possuir o verdadeiro segredo da vida, paixão e morte de Jesus, que para eles não havia ocorrido da forma como os Evangelhos canônicos divulgavam. Na verdade, eles não acreditavam na divindade de Jesus nem na sua ressurreição, mas tomavam tudo como uma grande alegoria na qual a prática do exemplo de Cristo era a verdadeira medicina da ressurreição. E dessa forma eles a praticavam, sacrificando a si mesmos em prol da coletividade a qual serviam. Dai serem eles mesmos "popelicans.”[2]

O Cavaleiro do Pelicano

A Maçonaria adotou a lenda do pelicano por influência das tradições rosa-cruzes que o seu ritual incorporou. Por isso é que encontraremos, no grau 18, grau rosa-cruz por excelência, o pelicano como um dos seus símbolos fundamentais. O próprio título designativo desse grau é o de Cavaleiro do Pelicano ou Cavaleiro Rosa-Cruz. 

O Simbolismo do pelicano é uma alegoria que integra, ao mesmo tempo, a beleza poética da lenda, o apelo emocional do mistério alquímico e o romantismo do sacrifício feito em nome do amor. Tanto o Cristo quanto a natureza amorosa vertem seu sangue para que seus filhos possam sobreviver. José de Alencar, grande expressão da literatura romântica brasileira utilizou esse tema em um de seus mais conhecidos trabalhos, o poema épico Iracema. Nesse singelo poema a índia Iracema, sem leite em seus seios para alimentar Moacir, o filho dos seus amores com o português Martim, rasga o próprio seio e o alimenta com seu sangue. Assim, o filho da aborígene com o colonizador torna-se o protótipo do homem que iria povoar o novo mundo, a “nova utopia”, a civilização renascida, fruto da interação da velha com a nova civilização. Seriam esses “filhos renascidos” do sacrifício da sua mãe que iriam, na visão do escritor cearense, mostrar ao mundo uma nova forma de viver. 


O mito da Fênix 

Por isso é que no grau 18 iremos encontrar toda uma tradição inspirada em temas alquímicos e cavalheirescos, tais como a alegoria da procura pela Palavra Perdida, que é claramente um tema hermético-cabalístico, da mesma forma que o mito da Fênix, o mítico pássaro que renasce das próprias cinzas, que na verdade, é uma alegoria que se refere ao processo de obtenção da pedra filosofal, o objetivo último de todo trabalho alquímico.


É verdade que nos ritos maçônicos as referências ao processo alquímico foram transformadas em alegorias de fundo espiritual para dar um caráter de esoterismo e transcendência á liturgia ritualística que ali se representa. De outra forma, cristianizaram-se diversas alegorias de inspiração hermética, para dar aos iniciados nesse grau uma aparência de doutrina alinhada com o pensamento cristão. Dessa forma, a Palavra Perdida, que na origem se soletrava IHVH, (o Tetragramaton dos gregos), passou a ser soletrada INRI, iniciais colocadas na cruz de Cristo.[3]

Dessa forma, o catecismo do grau 18 do Rito Escocês, nada mais é do que o pensamento rosa-cruz cristianizado. Por isso é que, no painel do grau são representadas algumas das mais interessantes alegorias alquímicas. Ali encontraremos a pedra que transpira sangue e água, posta sobre um triângulo que representa o Gólgota. E sobre o vértice desse triângulo uma rosa, simbolizando o sangue que o Filho do Homem verte sobre a cruz para a remissão dos pecados da humanidade. No meio da rosa, a letra G, símbolo da Maçonaria, que representa a iluminação final, obtida pelo iniciado. No meio do painel o mítico pássaro Fênix, renascendo das próprias cinzas, está a denunciar o caráter hermético do grau, pois esta alegoria representa a própria essência da obra alquímica, ou seja, a ressurreição do metal impuro que foi destruído pela ação do fogo, e renasce das suas próprias cinzas, em outro estado, mas agora como metal puro, nobre, ou seja, o ouro.


O banquete místico

Outra indicação de que o grau 18 foi inteiramente cristianizado é a obrigatoriedade do seu ritual ter que ser realizado nas quintas-feiras santas, no horário em que Jesus teria feito a sua última ceia com seus discípulos. Essa tradição denota a inspiração crística do grau, no sentido de que essa simbologia evoca um rito de passagem muito caro aos cristãos, que é a Santa Ceia. A Santa Ceia, como se sabe, foi a “iniciação de fato” a que Jesus submeteu seus discípulos para definitivo ingresso na sua Fraternidade. Essa iniciação se consumou com o simbólico ágape, no qual ele concitou seus discípulos a “beberem seu sangue e comerem sua carne”, para que eles, com esse ato, pudessem estabelecer uma eterna comunhão com ele. Essa tradição era comum em todas as antigas iniciações, pois o simbolismo de “comer o deus e partilhar do seu sangue”, constitui um dos mais antigos costumes da humanidade, como informa James Fraser em seu estudo clássico sobre mitos e tradições dos povos antigos. [4]

Daí, também o enceramento do grau ser feito com um banquete ritual onde os irmãos dividem um carneiro, evocação ao simbolismo do “cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”, simbolizando que os iniciados nesse grau, doravante chamados de “Cavaleiros Rosa-Cruzes” são os “novos homens”, renascidos como a fênix, responsáveis pela “transformação do mundo” preconizada pelos Manifestos Rosa-Cruzes.


Se lembrarmos que na mística cristã, Jesus é o “Cordeiro de Deus”, esse simbolismo alcança o seu significado místico completo, pois a partir daquele momento, os Cavaleiros da Rosa-Cruz são como os apóstolos de Cristo, porque “compartilharam da sua carne e do seu sangue.”

O grau 18 é um grau inteiramente crístico, como se pode ver. Toda sua simbologia e liturgia é evocativa de motivos cristãos. Entre os símbolos do ofício do maçom, o compasso, o esquadro e o tríplice triângulo, uma rosa mística dentro de uma cruz de ébano reina absoluta em sua imponente beleza. Três colunas resplandecentes, com a trilogia virtuosa nela inscrita (fé, esperança e caridade) embelezam o ambiente. As palavras de passe e saudação do grau são inspiradas no episódio da Anunciação. [5]

Com essa incursão nos mistérios mais profundos da alma humana e sua conexão com os segredos da natureza, que presume-se, eram do conhecimentos dos rosa-cruzes, é encerrado o ensinamento dos graus capitulares. A próxima escalada será pelos graus filosóficos das Lojas Aeropagitas, Kadosh e Administrativa, ocasião em que o iniciado maçom entrará em contato com temas de profunda espiritualidade, completando, dessa forma, sua escalada pela Escada de Jacó. [6]


[1] Leonardo da Vinci também reconta essa estória, que segundo alguns autores, seria uma fábula de Esopo. Na imagem, o avental do grau 18, tendo como símbolo o pelicano.
[2]Veja-se no romance O Pêndulo de Foucault” de Humberto Ecco, um interessante jogo de palavras com esse termo e o segredo dos templários.
[3] Esta também é uma clara inspiração alquímica, pois as iniciais INRI, é um acróstico que revela uma divisa muito utilizada pelos alquimistas Ela significa “Ignea Natura Renovatur Integra”, que pode ser interpretada como “A natureza inteira se renova pelo fogo” alegoria que os alquimistas usavam para representar o processo pelo qual se obtinha a pedra filosofal. 
[4] James George Fraser- O Ramo de Ouro- Ibrasa, 1986.
[5] Mateus, 1:23- Lucas, 1:28. Na imagem o símbolo da Rosa-Cruz.
[6] A análise das influências históricas e filosóficas dos graus filosóficos e Kadosh foi feita no nosso livro “Mestres do Universo”, publicado pela Ed. Biblioteca 24x7- 2010 em 2010.

(excerto do capítulo XXIV da nossa obra "Conhecendo a Arte Real- 2º Edição) Ed. Madras, S. Paulo).
João Anatalino



O simbolismo maçônico

Autor: João Anatalino

Na Maçonaria tudo é expresso através de símbolos, lendas e alegorias evocativas de tradições históricas ligadas á experiências religiosas e culturais de antigos povos, como os egípcios, os hebreus,os persas, os gregos,etc. São dessa classe os símbolos religiosos e míticos, como a serpente cósmica (uraeus), o Selo de Salomão, o Escudo de Davi, o Seped (delta sagrado), as Colunas Sagradas etc. Nela também entram os temas inspirados pela filosofia gnóstica e pelo hermetismo alquímico, que são representados através de figuras como o pelicano, o thau (a cruz com uma serpente enrolada), o atanor, o caduceu, o barrete frígio, etc. Mais comuns ainda são os símbolos ligados á profissão do construtor, tais como esquadros, compassos, alavancas, réguas, trolha, cinzel etc. bem como símbolos relativos á geometria e á astronomia, ciências que, na antiguidade, estavam estreitamente ligadas á arquitetura. [1]

De acordo com a sensibilidade de cada um, esses símbolos podem assumir um significado esotérico ou moral. Um esquadro tanto pode inspirar uma idéia de retidão de caráter (significado moral), quanto de coordenadas espaço-tempo, que são as duas direções que o espírito humano deve percorrer no caminho da iluminação. Um triângulo de três pontos tanto pode ser indicativo do lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade, que constitui a divisa da Maçonaria latina, como também pode indicar a idéia da Trindade Divina, reverenciada na iconografia maçônica através das luzes presentes no oriente, (Osíris, Isis e Hórus) e na estrutura administrativa da Loja, (O Venerável Mestre e seus dois Vigilantes). 

Todas essas tradições são ricas em ensinamentos que precisam ser adequadamente interpretados, sob pena do iniciado jamais compreender o que é realmente, a Arte Real. Por isso não basta ao maçom cumprir a escalada gradual que o conduz até o ultimo degrau da Escada de Jacó. Ele precisa, em cada grau em que é elevado, descobrir o sentido de cada símbolo, o significado de cada alegoria, e a partir de sua própria visão semiótica, elaborar sua síntese pessoal. É, como diz Osvald Wirth no prefácio do livro de J.M.Ragon, a Maçonaria Oculta: “ O Franco-Maçom”, escreve aquele autor, “deve buscar sua iniciação em si mesmo , por meio de um aprofundamento que, no fim de uma carreira laboriosa, o conduzirá á Câmara do Meio, santuário da desilusão definitiva, onde sorvemos a pura sabedoria construtiva, que personifica Hiram, o Mestre chamado a reviver em todo perfeito iniciado”.[2]
É preciso sempre lembrar, outrossim, que a palavra mata, mas o espírito vivifica. E nesse magistério, como em todo ensinamento iniciático, é forçoso ver em cada símbolo, cada alegoria, uma mensagem que contém um ensinamento da mais alta relevância. Por isso é que a Maçonaria se nos afigura como uma espécie de alquimia espiritual e social, onde o iniciado busca, pela transmutação da própria personalidade, construir uma vida mais feliz para si mesmo e para a sociedade, da mesma forma que o alquimista, na sua insana labuta para penetrar no segredo da matéria, procurava realizar a sua ascese espiritual. 

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Pedra bruta, pedra talhada e pedra angular

Uma pedra bruta simboliza o neófito que ingressa na Maçonaria como aprendiz e uma pedra talhada, ou cúbica, é o companheiro que já aparou as arestas da sua personalidade e está pronto para o mestrado. Esses são os símbolos adotados para representar a evolução do iniciado pelos graus das Lojas simbólicas. São símbolos emprestados á tradição dos antigos artesãos das pedreiras. No simbolismo do trabalho de construção, o mestre é a pedra angular do edifício maçônico. Nele se realiza a expressão do Evangelho de São João, segundo a qual “A pedra que os construtores tinham rejeitado tornou-se a pedra angular do edifício.”. Essa pedra angular é uma pedra cúbica que foi convenientemente lavrada para esse fim. Como um aprendiz que se tornou companheiro e foi, finalmente, elevado á condição de mestre, ele é essa pedra angular, que nas igrejas antigas era a pedra colocada na coroa da abóbada, chave da abóbada, como se dizia antigamente, pedra de cumeeira, designada em inglês como capstone, ou seja, a pedra da cabeça, ou a cabeça do ângulo. E assim como a capstone, nas antigas catedrais, era a pedra principal do edifício, essa é razão pela qual ela foi tomada como símbolo do maçom completo, receptáculo final da iniciação nas Lojas simbólicas.


O companheiro que é elevado a mestre simboliza que o edifício moral que a Maçonaria pretende construir no espírito do iniciado está realizado. 

Evocando a simbologia do artesão das pedreiras, a pedra angular é símbolo da perfeição exata de formas, cujas arestas foram todas dirimidas. Numa interpretação esotérica desse simbolismo, diríamos que o mestre maçom é aquele que renasceu como um ser capaz de iniciar uma escalada em busca da perfeição maçônica, qualidade que fará dele o Homem da Terra, formado a partir do arquétipo do Homem do Céu.[3]Numa interpretação exotérica, todavia, poderíamos dizer que o mestre é o corolário da evolução que um ser humano poderia atingir no final de uma escalada filosófica pela senda dos ensinamentos maçônicos, na qual ele aprenderá os segredos do bem viver, que se resume em ser feliz e fazer os outros felizes.

Em ambos os casos, porém, pode-se invocar os símbolos relativos á construção para representar essa escalada. Seja na construção pura e simples das obras da arte arquitetônica, seja a obra de escultura na pedra, diríamos que o mestre é a pedra cúbica que sustenta a construção moral e psicológica do edifício social. A analogia pode ser feita também com o trabalho de lapidação de pedras preciosas. Em principio, a pedra bruta que surge da ganga impura pouco reflete da luz que tem dentro dela. É somente depois de convenientemente lapidada que ela se revela em toda sua resplandecente beleza. Assim deve ser o homem, e para isso existe a prática maçônica. Ela é uma forma de lapidar o caráter, para que de dentro dele brote um espírito radiante de luz. Essa luz é o maçom que realmente entendeu o sentido do Drama de Hiram, e conseguiu, por si mesmo, promover o seu renascimento espiritual a partir da prática da pura Maçonaria.


[1] Na imagem, o delta sagrado (Seped).
[2] Jean Palou- A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática, pg. 78
[3] Simbolismo emprestado da tradição cabalística. Sobre esse assunto ver a nossas obras Mestres do Universo, publicada pela Ed. 24X7. Na imagem o aprendiz maçom. Fonte: ritual do Aprendiz. 
João Anatalino