segunda-feira, 16 de setembro de 2019

PARA QUE SERVEM OS TEMPLOS E O RITUAL

Extraído do blog "O ponto dentro do Círculo



RITO – cerimônia ou conjunto de regras cerimoniais de uma religião; culto; seita; quaisquer cerimônias; procedimentos; transmitem instrumentos e ensinamentos esotéricos, toques, palavras para perfeita identificação e cultura maçônica fechados e de uso individual para cada grau.

RITUAL – relativo a ritos; cerimonial; livro que indica os ritos ou consigna as formas que se devem observar na prática de uma religião; formalismo previamente estabelecido.

RITUALISMO – conjunto de ritos; apego a cerimônias ou formalidades.

O que pretende um Ritual? Qual sua finalidade? O que é um Ritual?

Embora sempre demos uma conotação mágica a qualquer Ritual, na realidade sua função é permitir a compreensão de certas Leis Naturais utilizando procedimentos dinâmicos que por sua constante repetição acabam estimulando potencialidades latentes em nossa psiquê, despertando em nosso interior energias latentes, mas adormecidas.

Se retrocedermos historicamente nossas atenções a todos que se empenharam na criação de Rituais que pudessem preservar ideais e princípios que elevassem a humanidade a um grau de fraternidade e convívio superiores ao simples existir e a sobrevivência a qualquer custo, vemos que essa criação de sistemas, essa observância ritualística (artificial), está sempre subordinada à vida interior tendo como parâmetro a natureza e seus ciclos evolutivos. Portanto, a simbologia e os rituais foram organizados para chamar a atenção do homem para o ritmo cíclico de toda manifestação de vida no planeta, levando-o a compreender que há uma criação ordenada que se impõe, direcionando-o a um aspecto interior, espiritual da vida.

No passado, mentes brilhantes preocupadas em manter aceso o conhecimento que transcendia o comum das pessoas, e da própria época em que viviam, operacionalizaram essas verdades de uma forma que fixasse padrões de comportamento, expressões e atitudes, que pudessem ser transmitidos, revelados e fixados. Utilizaram-se de lendas, símbolos, sinais e palavras que pela sua força natural, não perderiam seu significado através do tempo e seriam compreendidos e assimilados interiormente.

Essa preservação das verdades maiores, da Tradição[1] expressa pela simbologia e rituais dependeu do grau de declínio de uma determinada época e pelas condições de vida dos grupos que constituíam seus ambientes.

O ritual e toda simbologia foram de tal forma elaborada e trabalhada, com tal arte e primor que seja qual for à dinâmica de ação, do Rito, em qualquer aspecto que se considere, traduz e procura representar ideais humanos a serem alcançados e espargidos para toda a humanidade. As Instituições exotéricas (constituídas) são “sinais” de realidades internas (esotéricas, íntimas). Toda Tradição é apenas o testemunho de verdades anteriores a livros e organizações. Se agruparmos as mais variadas Tradições, elas mostram (ou anunciam) uma analogia e constatam a existência de um tronco comum.

Historicamente, o que tem gerado a constituição e formação de modelos voltados à preservação de ideais nobres e comportamentos adequados ao convívio familiar e social, procurando manter um grau de fraternidade é: 
lembrar aos homens que existe uma Fraternidade de Almas[2];
compreender que há sempre um fluxo evolutivo / involutivo de manifestação e uma permanência fixa e inalterável que gera esses ciclos; manter um respeito para com aqueles que zelam, divulgam e preservam ideais e comportamentos nobres e elevados; levar os homens a abandonar sua pretensão orgulhosa de querer transformar o Universo segundo sua comodidade pessoal e convencê-los a transformar sua própria personalidade voltando-se ao Todo, à noção de que há um Criador[3] e uma Humanidade a ser preservada.

A simbologia expressada em nossos Templos[4] tem sido modificada periodicamente. Isso se constitui um afastamento do que no passado nossos antecessores queriam representar, mostrando que as mudanças operadas refletem um grau de desconhecimento de história e dos símbolos. Presenciamos e praticamos os rituais, mas não o estudamos.

Toda a simbologia maçônica tem se constituído um meio de preservar nossos ideais, nossa filosofia, nossos princípios para as futuras gerações (hoje, nós!). Os símbolos indicam uma ordem, uma harmonia, a unidade do homem, do Universo, da Criação, a similaridade do macro e microcosmo. Essa herança esotérica-cultural tem sido transmitida pelas épocas e de uma região para outra, conseguindo carregar toda a carga cultural dos diversos períodos históricos sem perder sua identidade e filosofia. Sua filosofia não se adapta, é permanente, pois baseia-­se em princípios que constituem e mantém o homem em convívio permanente procurando elevar e dignificar a humanidade.

Todo Rito é carregado de sentido. A modernização – quando vem a ocorrer de um Rito, é um contrassenso: o “arcaísmo”, ao invés de ser um defeito, representa a garantia de um longo passado.

O ritual, a ordem, a disciplina, decorrem de atitudes internas e acabam emergindo no cotidiano. Como e.g., uma empresa, uma fábrica, um pequeno grupo de trabalho, que mantém um ritmo adequado de funcionamento (rotina), poderá gerar uma maior integração e rendimento que outro carente dessa sintonia. Para que tal aconteça, todos os integrantes ou participantes devem necessariamente engajar-­se no procedimento ritualístico.

Toda natureza nos mostra disciplina e ordem que podemos traduzir como “rituais”, pois são repetitivos. O percurso do Sol, as modificações estelares[5], as estações do ano, as migrações de pássaros e animais… nos mostra uma expressão da natureza, uma ordem universal, uma ritualística. Toda natureza segue um ritmo cósmico, apenas o homem –o único com livre arbítrio pode opor-­se a essa ordem. Quando segue esse ritmo, alimenta a disciplina espontaneamente convergindo sua existência a um equilíbrio maior, seguro e mais duradouro.

Toda instrução intrínseca nos Rituais e sua disciplina, em todas as etapas, são direcionadas (ou deveriam ser) à formação de um tipo de caráter[6] ou comportamento definido. Não importa quais sejam as diferenças ou variações na qualidade ou quantidade cultural de um aspirante à Maçonaria, o tipo de caráter ou comportamento que se deseja é sempre o mesmo em qualquer Rito. Isso tem marcado de maneira visível e impressiona pelo fato de que todos os detalhes ritualísticos são direcionados de uma forma inteligente e firme para uma mudança, e se assim não for, para uma profunda reflexão sobre nossa existência e o que estamos fazendo como seres temporários deste Planeta.

A Filosofia Maçônica é uma testemunha muito antiga de organizações (instituídas ou não) culturais, morais, filosóficas e espirituais, cujas raízes remontam a civilizações de um passado longínquo, sendo um acervo das descobertas e experiências humanas reconhecidas pelo intelecto em suas diferentes épocas. É importante observar que o assunto primordial não é a Ordem Maçônica, este ou aquele Rito, ou aquele grupo de estudos, mas a verdade que ela representa, e a capacidade do estudante em distinguir entre a Verdade, a verdade parcial e a falsidade.

As deficiências da sociedade refletem o estado de consciência das pessoas que a constituem. Os problemas não estão nas dificuldades materiais que o mundo externo nos impõe, mas nas limitações de nossa mente. Ao profano que ingressa na Ordem é esperado uma mudança no nível da consciência, no seu modo de encarar a vida, na moral, que será o resultado da vivência do Ritual levando-o a uma interiorização e não simplesmente da aceitação plena e tácita do sistema ou doutrina conceitual.

Compreendemos que os Rituais tem se perpetuado não por inércia, mas porque correspondem a uma exigência lógica e regulamentada ditada pela experiência. Vemos uma Maçonaria realmente construtora, pois, sua função é fundamentar os princípios morais para uma humanidade esclarecida, harmonizada com o Universo e suas Leis – pois somos o Todo e cada uma de suas partes. Esses princípios são baseados em Leis maiores[7], superiores que se tem manifestado aos homens, de formas diferentes através das épocas, e nos parece, apreendida conforme o grau de consciência vigente em seu período histórico.

Todo esse conhecimento e sabedoria, foi inserido com extrema habilidade pelos “artesãos da mente” no interior dos nossos Templos, através de toda simbologia expressa nos “ornamentos” do Templo e em nossos rituais. Como exemplo temos a Iniciação, que deriva do latim “initium” significando “começo”, um meio ou processo de compreensão. O candidato recebe uma perspectiva de novos conhecimentos e orientação de vida; pode se libertar de certas concepções e crenças falsas. Simbolicamente é guiado das trevas da ignorância e introduzido na luz maior da compreensão. É proporcionado um caminho pela introdução de um simbolismo tradicional que incorpora verdades universais, mostrando uma nova possibilidade de compreensão. É uma experiência íntima! A experiência por que passa e os pensamentos que teve durante a cerimônia, provocam uma expansão da consciência, uma profunda compreensão (nem sempre consciente) sobre a vida e os homens.

O símbolo fala ao interior e assim deve se compreendido. O uso da razão, por vezes, dificulta e restringe a compreensão de seu significado. Ela – a razão – é necessária no estudo simbólico, mas a interiorização, o conhecimento com consciência de seu significado é interior, aparece como um lampejo, é a certeza do saber.

Nos diversos Ritos prega-se um pragmatismo[8] – por vezes exagerado – da busca pessoal não levando em consideração as diferenças individuais das personalidades, da cultura pessoal, da formação familiar ou profissional, do ambiente em que vive e se relaciona, forçando o estudo e pesquisa pela própria conta do Irmão, deixando de lado todo um acervo de conhecimento e orientação, objetivos e simbólicos, acumulados no tempo pelos “artesãos da mente”, pois, se esse acervo fosse organizado e compilado em forma didática, seriam elementos auxiliadores que facilitariam a compreensão da verdade e sua utilidade prática como queremos em todos os Ritos.

Todo momento resume o passado com todo seu conteúdo e contém a linha do futuro com todos os desdobramentos decorrentes. Manter o equilíbrio alcançado é continuar a evolução do indivíduo, da qual ele é a primeira e a mais sólida base para a evolução da coletividade.

Todos os Ritos dão plena liberdade de pensamento e expressão, liberdade esta que citando Teócrito de Corinto, filósofo grego do século II da era vulgar, “que podem privar um homem de seus sentidos, mas o direito de pensar está acima das violências e das repressões“. Não há abuso mais abominável do que o desejo de controle sobre o pensamento, já que não se caracteriza como um crime contra a pessoa, mas sim contra uma espécie, uma vez que o pensamento é o atributo distintivo da espécie humana. É um crime que ficou sempre no terreno das tentativas e pelo fato de não se consumar, não quer dizer que não se caracterize a criminalidade. Só na hipótese de se tentar sufocar o pensamento de um semelhante, o autor comete um crime contra todos e contra si mesmo, porque em primeiro lugar, tolhe uma oportunidade de expressão e em segundo, pode bloquear uma verdade pelo motivo de que talvez não venha a lhe agradar.

Encerramos este ensaio com um conto de Chuang­ Tzu, escritor taoista cuja existência se deu por volta de 350 a.C., “O Duque de Hwan e o Fabricante de Rodas”:

“O mundo valoriza os livros, e acha que, assim fazendo, está valorizando o Tao. Mas os livros apenas contem palavras. Apesar disso, algo mais existe que valoriza os livros. Não apenas as palavras, nem o pensamento das palavras, mas sim algo dentro do pensamento, balançando-o numa certa direção que as palavras não podem apreender. Mas são as próprias palavras que o mundo valoriza quando as transmite aos livros: e, embora o mundo as valorize, estas palavras são inúteis enquanto aquilo que lhes der valor não é honrado.

O que o homem apreende pela observação é apenas forma e cor externas, nome e som; e ele crê que isto o colocará de posse do Tao. A forma e a cor, o nome e o som não atingem a realidade. Daí a explicação de que: “Aquele que sabe não diz, aquele que diz não sabe”. Como irá o mundo, então, conhecer o Tao por meio de palavras?”

O Duque Hwan, de Khi, o primeiro da dinastia, sentou-se sob o pálio lendo filosofia;

E Phien, o carpinteiro de rodas, estava fora, no pátio fabricando uma roda. Phien pôs de lado o martelo e a entalhadeira, subiu os degraus, e disse ao Duque Hwan:

– Permiti-­me perguntar-vos, Senhor, o que estais lendo?

Disse-­lhe o Duque: 

– Os peritos. As autoridades.

E Phien perguntou-­lhe:

– Vivos ou mortos?

– Mortos há muito tempo.

– Então, estais lendo apenas o pó que deixaram atrás.

Respondeu o Duque: 

– O que sabes a seu respeito? És apenas um fabricante de rodas. Seria melhor que me desses uma boa explicação, senão morrerás.

Disse o fabricante: 

– Vamos olhar o assunto do meu ponto de vista. Quando fabrico rodas, se vou com calma, elas caem, se vou com muita violência, elas não se ajustam. Se não vou nem com muita calma, nem com muita violência elas se adaptam bem. O trabalho é aquilo que eu quero que ele seja. Isto não podeis transpor em palavras: tendes apenas de saber como se faz. Nem mesmo posso dizer a meu filho exatamente como é feito, e o meu filho não pode aprender de mim. Então, aqui estou, com setenta anos, fabricando rodas, ainda! Os homens antigos levaram tudo o que sabiam para o túmulo. E assim, Senhor, o que ledes é apenas o pó que deixaram atrás de si.” 

Autor: José Eduardo Stamato
ARLS Fraternidade Universitária de Santo André nº 3417 (Rito Moderno) – GOSP – GOB


Notas

[1] – Tradição – …transferência; ato de conferir; recordação; memória; rotina; notícia de fatos puramente históricos de acontecimentos de qualquer natureza transmitidos através do tempo e que, por vezes, sem alguma prova autêntica se tem conservado. Do latim “traditio” : ação de entregar. Fenômeno pelo qual os grupos humanos transmitem de geração em geração seu patrimônio cultural. Pode ser um obstáculo ao progresso; o apego a formas tradicionais que se tornaram obsoletas pela própria evolução da vida, esteriliza a capacidade criadora e o espírito de renovação, que são também fatores decisivos de progresso. Da mesma forma rejeitar alguma coisa unicamente porque é tradicional, também é uma atitude irracional. Muitas coisas se perpetuam não apenas por uma simples inércia social, mas porque correspondem a exigências permanentes do grupo.

[2] – Fraternidade de Almas – consideramos o termo Alma como sendo aquela essência (ou partícula) que vivifica todo ser humano tornando-­se parte inseparável dele e devido a essa unidade, todos os seres humanos são essencialmente idênticos entre si apesar da imensa diversidade de sua condição exterior. Disso deriva a necessidade do altruísmo, amor, tolerância, concórdia que deverá reinar em todos os membros da grande família humana, formando uma Fraternidade de Almas.

[3] – Criador – essência única que possibilita a formação, o aparecimento das partículas primárias que dão origem a todas manifestações objetivas que conhecemos.

[4] – Templo – maçonicamente é o edifício onde se reúnem as Lojas ou trabalham os irmãos em Loja. Local onde a interiorização e a harmonização são facilitadas e onde a “verdade” é buscada. Constitui um elemento quase permanente dos grupos humanos surgindo através da história com as características de cada cultura. Acabam sendo uma fonte primordial para o conhecimento dos respectivos povos que o erigiram como os egípcios, assírios, babilônios, fenícios, judeus, persas, gregos, etruscos e tantos quantos existiram. Sua arquitetura acompanhou o progresso da cultura em geral. Loja – em suas origens a palavra designava o local onde os maçons operativos se reuniam fora do canteiro de obras, formando um agrupamento de maçons de um determinado canteiro. Oficina – termo genérico designando qualquer agrupamento maçônico: loja, capítulo, conselho filosófico… Na linguagem corrente, todavia, a palavra tornou-­se sinônimo da palavra Loja.

[5] – Tendo-­se como parâmetro nossa observação feita da superfície do planeta.

[6] – do grego “character” de charássein significando gravar. Etimologicamente quer dizer “coisa gravada”. Pode ter dois sentidos diversos: 1º – como conjunto de disposições psicológicas e comportamentos habituais de uma pessoa, isto é, a personalidade concreta. 2º – relacionada à vontade, e nesse caso conota as idéias de energia, honestidade e coerência; é nessa acepção que falamos em homem de caráter. Os elementos do caráter são passíveis de variação, evoluindo. O caráter pode ser alterado mediante o poder que o indivíduo tem sobre seus hábitos: o meio e a profissão podem ser modificados, e o próprio regime da imaginação pode sofrer mudanças através de novas experiências. O homem de vontade é, precisamente, aquele que sabe criar para si um caráter e que, por esse caráter, orienta sua própria conduta. (Peq. Encicl. Moral e Civismo – MEC)

[7] – Uma dinâmica revelada através de nossa percepção consciente.

[8] – Pragmatismo – doutrina filosófica que adota como critério da verdade a utilidade prática, identificando o verdadeiro com o útil.

Bibliografia

A Gnose de Jung – Stephan A. Hoeller – Ed. Cultrix

A Teia da Vida – Fritjof Capra – Ed. Cultrix A Via de Chuang Tzu – Thomas Merton – Ed. Vozes

Dicionário da Franco-­Maçonaria e dos Franco­-Maçons – Alec Mellor – Ed. Martins Fontes

Dicionário de Maçonaria – Joaquim Gervásio de Figueiredo – Ed. Pensamento

Glossário Esotérico – Trigueirinho – Ed. Pensamento

Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo – MEC
Ritual do Grau de Aprendiz – Rito Moderno

MUSICA E MAÇONARIA - A HARMONIA EM LOJA ÀS RESSONÂNCIAS SECRETAS DA MAÇONARIA



Tradução J. Filardo
Por Jean-Moïse Braitberg
Extraído do Blog bibliot3ca




Embora sejam tão antigas quanto a Arte Real, as relações entre música e maçonaria permanecem misteriosas, quase indescritíveis. Existe uma música maçônica? Os compositores e músicos maçons cujos retratos tratamos aqui expressaram sua arte de uma maneira maçônica? Como nossos rituais, a música fala ao coração e nos convida, a cada um, com nossa própria sensibilidade, a ouvir profundamente dentro de nós mesmos o murmúrio secreto da alma humana.

A Harmonia é uma palavra chave na Maçonaria. Como em uma orquestra sinfônica, o tempo da loja é, na verdade, o momento em que cada um, carregando sua diferença de tom, deve se esforçar para servir um ideal maior do que ele. Agucem bem seus ouvidos! Na antessala, ainda impregnada dos rumores do mundo profano, irmãos e irmãs produzem os sons dissonantes de uma formação embaralhada que se procura pelas gamas e acordos nem sempre muito harmoniosos. E então, uma vez que cada um em seu lugar e em seu ofício, é necessário concentrar e ficar atento para não apenas ouvir, mas também compartilhar esta partitura comum, este solfejo obrigatório que é o ritual, sem o qual as dissonâncias do mundo profano fariam ranger entre si as pedras do Templo.

Uma vez que a harmonia reina em ambas as colunas, por que então precisar de música?

Por que essa “coluna” da harmonia? Para dar mais brilho às nossas cerimônias? Para tornar mais explícito, por frases sonoras, o que o verbo não consegue expressar completamente, ou mesmo se esforçar para esconder?

Bernard de Besson, um músico que foi durante muito tempo o diretor de uma grande editora de música, era Grão-Mestre da Grande Loja Tradicional e Simbólica Opera (GLTSO) cujo principal rito, o Rito Escocês Retificado, não prevê música alguma. Uma tradição que ele justifica nestes termos: “Estou bem consciente de que, enquanto músico, minhas palavras podem parecer paradoxais, mas acredito que nossa verdadeira música é o ritual. E o ritual nossa partitura. Se você der às palavras toda a vibração que elas merecem, já é música. Eu compreendo perfeitamente que, em certos ritos, a música pode dar uma respiração ao desenvolvimento dos trabalhos, marcar certas transições, servir como uma espécie de pausa. Ela pode até acentuar a dimensão sagrada dos trabalhos. Mas na minha opinião ela não é essencial e, pode em alguns casos, ser usado como um tampão ou folha de figo…

Aqui, sem dúvida, é necessário introduzir uma nuance. Lembrar-se que até a invenção do gramofone, a coluna de harmonia era realizada por músicos e cantores “ao vivo”. O que tinha um olhar totalmente diferente das ilustrações sonoras da época escolhidas ao gosto de suas fantasias por alguns mestres da harmonia, às vezes assumindo o papel de disc jockeys ou “ambientadores” …

Da harmonia à orquestra 

Originalmente, a coluna de harmonia designava precisamente uma harmonia no sentido musical do termo: um conjunto de instrumentos de sopro cujo papel se queria simbólico, conforme evidenciado por um ritual de 1737:

“O que você ouviu?

– Uma trombeta que fazia ressoar os ares … 

– Como falava esta trombeta?

– Por três bocas …”

Muito rapidamente, conforme mostram algumas gravuras da primeira metade do século XVIII, instrumentos de corda foram introduzidos no templo para acompanhar canções e cânticos maçônicos com o reforço de trombetas, tímpanos e cornetas de caça.

Um texto de 1745 evoca uma cerimônia solenizada “por um concerto de cornetas de caça e outros instrumentos, cujos acordes harmoniosos ecoava ao longe os símbolos respeitáveis”. ”

Foi somente no final do Século das Luzes que se formaliza o conjunto que presidia a coluna da harmonia, com uma composição semelhante à de pequenas formações militares compostas de duas clarinetas, duas cornetas, dois fagotes aos quais às vezes se adicionava um tímpano. Este tipo de conjunto se generalizará na Europa, passando por várias modificações de acordo com as composições, os gostos da época e a disponibilidade dos irmãos músicos. De fato, nem todas as lojas tinham músicos, ou mesmo o número suficiente. No caso de falta, era frequente “emprestar” músicos das melhores lojas militares que eram as mais equipadas de instrumentistas. Essa qualidade profana era, portanto, um motivo de recrutamento, embora de natureza muito particular. Por muito tempo os músicos eram submetidos ao mesmo regime de exclusão que os irmãos servos. Confinados aos dois primeiros graus, ou mesmo ao único grau de aprendiz, eles certamente não pagavam capitação, mas deviam a pedido da loja, para emprestar sua ajuda gratuitamente, exceto para ir tocar em outra loja.

Algumas lojas tornaram-se verdadeiros conjuntos orquestrais, trazendo sua ajuda contra pagamento às cerimônias de lojas amigas. Este era particularmente o caso da Loja Olímpica da Perfeita Estima em Paris na década de 1780, que acabou se tornando uma verdadeira companhia de concertos interpretando todos os tipos de música.

Música maçônica ou música iniciática?

Desde a origem da maçonaria, a música aí existiu quando se vê que ocupa um lugar importante no desenrolar dos trabalhos. Isso significa que a música escrita pelos maçons ou composta para os propósitos do ritual maçônico seria pela única virtude de seus autores e suas intenções, mais maçônica que certas músicas “profanas”? O poder evocativo dos Noturnos de Claude Debussy, que, embora descrito por Victor Segalen como músico “órfico”, não era maçom, é menos iniciática do que os sábios ritornellos da Flauta Mágica do Irmão Mozart? As Gnossiennes de Erik Satie, adepto da rosa cruz de ouro que encontrava sua inspiração no pensamento gnóstico, não são propensos a apelar à interioridade que sugere o ritual em loja? O que têm em comum, musicalmente, Sibelius, Mozart, Haydn, Duke Ellington, Liszt e Josephine Baker? Senão ter pertencido à Maçonaria?



“Nossa verdadeira música é o ritual.

E o ritual nossa partitura.” 

Bernard de Bosson



Se existe um vínculo entre a música e a Maçonaria, é sem dúvida a maneira como alguns músicos se comportaram em relação à música, tentando traduzir em som os seus próprios sentimentos pessoais. A ligação com a essência da abordagem maçônica é acima de tudo individual, pessoal. E músicos não são exceção. O resto é uma questão de ouvir, de sentir. De compartilhamento. Se propormos aqui retratos de músicos e compositores cuja afiliação maçônica é provada – existe neste domínio como em outros, supostos maçons que não o eram, entre outros Gershwin, Armstrong e Beethoven – é, em primeiro lugar, para os descobrir, ou para os redescobrir com um novo ouvido, ligando-nos ao que vibra nossa corda particular sensível, em ressonância com nossa sensibilidade pessoal?


Wolfgang Amadeus Mozart

(1756-1791)
O triunfo da luz

Foi em Mannheim, na Alemanha, que Mozart, um jovem prodígio itinerante, conheceu a Maçonaria pela primeira vez em 1772, na pessoa do barão von Gemingen. Foi apenas em 1784, no entanto, que aquele que estava no auge de sua glória, foi recebido maçom pela Loja A Beneficência, no oriente de Viena, que tomou logo após o título distintivo da Esperança recém coroada.

Como mostra sua correspondência, Mozart era um espírito livre. Mas para ele a liberdade não era dada. Ela deveria ser conquistada por uma luta incessante das forças do bem contra as do mal, da luz contra as trevas. Essa dicotomia se reflete plenamente em suas principais óperas. Em Don Juan, acima de tudo, no final de um verdadeiro desafio contra Deus, o herói mostra que a liberdade só pode ser adquirida à custa de riscos inauditos: os da condenação e do inferno. Mas é em Flauta Mágica que a luta entre a escuridão e a luz é mais explícita. Seu libretista Schikaneder era maçom. Foi ele quem propôs a Mozart que escrevesse uma espécie de comédia musical destinada a tornar populares os temas maçônicos em uma época em que o imperador Leopoldo II acabara de fechar as lojas austríacas. A temática é, por assim dizer, destacada ao final. Os raios do sol empurram a Rainha da noite para fora do templo e os dois impetrantes, Sarastro e Tamina, podem acessar a luz.

Mas se com a Flauta Mágica ainda estamos em uma alegoria tingida de simbolismo, Mozart também compôs explicitamente obras maçônicas destinadas a acompanhar o desenrolar dos rituais em loja da maneira que a música sacra acompanha as cerimônias da igreja. A mais famosa destas obras são conhecidas sob o nome de Maurerische Trauermusik – Música Funerária Maçônica K. 477. Interpretado erroneamente como destinado a acompanhar as sessões fúnebres, trata-se mais uma música que dá pleno significado ao ritual de exaltação do mestre.

“Glória a vós, iniciados

Sarastro: Os raios do sol repelem a noite, aniquilando o poder dos demônios.

O coro: Glória a vós, iniciados Vós conquistastes a noite. Nós vos rendemos graças, Osiris e Isis! A Força triunfou e coroou a Beleza e a Sabedoria por toda a eternidade.”

Na flauta mágica, Mozart também produziu nove obras maçônicas para o canto coral, a maioria das quais são adaptações de textos de poetas maçons. Um dos mais famosos é Die ihr Unermesslichen Weltalls Schöpfer ehrt – Cantata Maçônica K 619 – Você que do Universo incomensurável – honra o Criador. Esta cantata para tenor ou soprano, com acompanhamento de piano ou orquestra, foi composta no final da vida de Mozart em julho de 1791. O texto é do poeta maçom Franz Heinrich Ziegenhagen (1753-1806).

Além de temas explicitamente maçônicos, Mozart às vezes aplicava a algumas de suas melodias uma dimensão inspirada em sua própria experiência maçônica. Este é particularmente o caso do quarteto Dissonances K. 465, sexto dos quartetos dedicados ao seu irmão Haydn. Composta em 14 de janeiro de 1785, um mês após sua iniciação, esta peça é considerada como a tradução musical das impressões da iniciação de Mozart. Em seu prólogo, considerado na época, como dissonante, podemos ouvir a imagem de tentativa e erro precedendo a contemplação da Luz traduzida então por um alegre allegro.

Joseph Haydn
(1732-1809)

O músico de toda uma época

É possível que a iniciação de Joseph Haydn na loja A Verdadeira Concórdia, no oriente de Viena, em 14 de março de 1785 tenha sido motivada pela frequência de Mozart, que ingressara na maçonaria dois meses antes.

Vinte e quatro anos mais velho que o autor da Flauta Mágica, Joseph Haydn manteve uma bela proximidade com este último. Amizade sincera que viu Mozart dedicar seis de seus quartetos ao mais velho. Uma amizade ainda mais notável é que ela estava livre daquela rivalidade que frequentemente prejudica as relações entre artistas. À liberdade de humor, de tom e de vida de Mozart se opõe a existência forçada e necessitada de Haydn, que passou a maior parte de sua vida produzindo obras encomendadas pelo príncipe Esterhazy, do qual ele era e compositor e músico titular. Não foi senão ao se aproximarem os 60 anos que Haydn foi capaz de dar livre curso ao seu próprio gênio e compor uma música original que, a começar pelas adoráveis figuras do barroco, abriu caminho entre as tempestuosas sobreposições do romantismo. Sua de uma riqueza excepcional inclui mais de cem sinfonias, óperas e os dois famosos oratórios: “A criação” e “As Estações”.

Ao contrário de Mozart, Haydn nada escreveu de específico para a Maçonaria. Além disso, existem dúvidas de que ele frequentasse muito pouco a sua loja após a sua iniciação. No entanto, os laços de Haydn com a Maçonaria são atestados pelos concertos que ele conduziu em Londres, no Freemasons’ Hall, e pela importante encomenda que lhe foi feita por membros da Sociedade Olímpica de Paris para a composição de seis sinfonias, chamadas “Sinfonias parisienses”.


Franz Liszt
(1811-1886)

O Idealismo atormentado

Ferenc Liszt, cujo primeiro nome foi germanizado como Franz, era súdito austro-húngaro de nascimento, alemão pela cultura familiar e europeu, se não francês, de coração. Uma criança talentosa para a música e o piano, ele foi, como Mozart, destinado a ser “exibido” na boa sociedade por seu pai Adam Liszt para lucrar com isso. Foi em Paris, na década de 1820, que o jovem Liszt conseguiu aperfeiçoar sua educação musical. Foi também em Paris que ele descobriu o mundo borbulhante de ideias de progresso que então agitavam a Europa. Seduzido pelo catolicismo social de Lamennais, mas também pela generosa utopia Saint-Simoniana, o jovem adquiriu a reputação de músico “humanitário” ao expor suas ideias em um curto ensaio sobre a situação dos artistas e sua condição na sociedade, publicado em Paris em 1835, uma espécie de profissão de fé contra o “aviltamento” da música pelo dinheiro … que foi soberbamente ignorado.

Foi na Alemanha, durante uma turnê em 1841-1842, que Liszt encontrou o sucesso não somente por sua música, mas também por suas qualidades intelectuais. Tanto que em 1842 a Universidade de Kijnigsberg lhe concedeu o título de doutor honoris causa em filosofia. Nessa época, Liszt já era maçom há um ano, admitido pela loja Der Einigkeit – A Unidade – em Frankfurt-am-Main. Iniciado em setembro de 1841, ele foi recebido companheiro em fevereiro de 1842 na loja Royal York de Berlim, na presença do príncipe Wilhelm, o futuro imperador Wilhelm I. Então, é em Frankfurt, na loja que o havia iniciado, que ele acedeu ao mestrado no mesmo ano. No entanto, a carreira maçônica de Liszt foi curta, mesmo que lhe desse a oportunidade de se apresentar em várias lojas, incluindo um concerto dado em 3 de dezembro de 1845 diante da loja A Sinceridade, no Oriente de Reims.

A partir de 1848, Liszt deixou de frequentar as lojas. Nessa época, ele já era assombrado por um violento misticismo católico, mas sem dúvida também, quando a condenação da Maçonaria pela Igreja se tornou mais virulenta. ele via em sua pertença à Maçonaria um obstáculo ao seu projeto de renovação da música religiosa. E foi em Roma, onde ele se estabeleceu em 1861, que Liszt recebeu o hábito e a tonsura, tornando-se abade na ordem franciscana. No entanto, o homem que se tornaria o sogro de Richard Wagner pelo casamento de sua filha Cosima com o enfant terrible de Bayreuth não rompeu completamente com a maçonaria. Em 1870 ele se encontra em Budapeste, visitando uma loja, e depois, em 1881, quatro anos antes de sua morte, ele deu um concerto para a loja Zur Verschiefenheit – A Discrição – em Preflburg – Bratislava. Assim, este grande compositor romântico cuja vida sentimental foi tão atormentada quanto sua carreira filosófica, comportou-se com respeito à Maçonaria assim como as mulheres, demonstrando para uma e outra uma fidelidade não exclusiva.


Duke Ellington
(1899 – 1974)

O espírito do jazz em seu reino

O planeta jazz é um reino cujo rei foi o “Rei” Louis Armstrong, o “conde” Count Basie, o “barão” Earl Hines e o “Duque” Ellington. Como muitos músicos de jazz negros, mas também alguns brancos, Duke Ellington era maçom, iniciado na obediência afro-americana de Prince Hall na Loja Social N ° 1 de Washington.

Nascido em uma família modesta, o futuro gigante do jazz frequentou pouco a escola, preferindo os campos de beisebol, e deixou os estudos de arte gráfica para se dedicar à música, escrevendo suas primeiras composições enquanto não tinha ainda quinze anos. Muito rapidamente, mostrou grande desenvoltura ao piano e formou um primeiro grupo com alguns amigos que conheceu rapidamente o sucesso. Originários de Washington, era natural que a banda assumisse o nome de Washingtonians para a gravação de suas primeiras músicas em meados da década de 1920.

As composições de Ellington se caracterizam por um senso agudo de ritmo combinado com uma grande suavidade de execução e uma aptidão da parte do pianista, de não se impor, deixando toda a latitude para se expressar a de grandes virtuosos como o saxofonista Johnny Hodges e o clarinetista Barney Bigard. No final de várias turnês triunfais em todos os Estados Unidos, a banda foi contratada em 1927 pelo Cotton Club, o mais famoso clube de jazz de Nova York, onde Ellington se apresentará ao lado dos maiores, como Louis Armstrong e até o cantor francês Maurice Chevalier. Apesar de uma ligeira queda durante a Grande Depressão, o sucesso de Ellington e sua formação não se desmentirá ao longo das décadas seguintes. Demonstrando grande ecletismo, Ellington atravessou épocas e estilos, tocando ao lado de grandes nomes do jazz tão diferentes quanto Count Basie, Ben Webster ou John Coltrane.

No plano maçônico, é difícil saber se seu percurso iniciático influenciou a música de Ellington, a não ser dando-lhe uma grande cobertura de espírito e uma incrível capacidade de adaptação. O que não é nada. Alguns queriam ver na peça intitulada Estou começando a ver a luz uma alusão explícita à sua iniciação. O que desmente em seu livro, o saxofonista e historiador de jazz Raphaël Imbert, para quem “esta peça é escandalosamente apresentada como suas impressões de iniciação por muitos maçons pouco escrupulosos em termos de credibilidade histórica e musical”. Sem dúvida Ellington não foi privado de preocupações espirituais e metafísicas, mas ao invés de traduzi-las em uma expressão puramente maçônica, ele se esforçou para explicar isso com sua própria sensibilidade, que era essencialmente religiosa, na série de concertos sagrados que ele deu de 1965 até seu desaparecimento em 1974.


Jean Sibelius
(1865 – 1957)

Um patriota apaixonado e austero

Sem dúvida, pode-se falar pela Finlândia do “Século de Sibelius”, já que a vida desse compositor, que morreu aos 92 anos, se confunde com a atormentada história de seu país. Quando nasceu em 1865, Sibelius e sua família eram então súditos do império russo falando a língua sueca, a língua da pequena burguesia finlandesa. Órfão muito cedo de seu pai, o jovem Jean será criado por sua mãe, mas descobre a música graças a um tio violinista. Dedicado aos estudos de direito, ele mostra mais interesse pela música, compõe e é conhecido por círculos musicais na Finlândia, mas também na Alemanha e na Áustria que ele percorre para aperfeiçoar sua arte. Foi em 1898, quando o czar Nicolau II restringiu ainda mais os direitos da Finlândia, que Sibelius decidiu colocar sua música a serviço do ideal patriótico finlandês. Ele comporá várias obras exaltando a alma de seu país, a mais famosa das quais é Finlandia, um poema sinfônico interpretado pela primeira vez em 1900 como parte de uma obra mais longa originalmente escrita para celebrar a liberdade de imprensa, reprimida pelo regime russo. Sibelius, cuja fama está crescendo na Europa, encarnará a luta do seu país pela liberdade, uma luta que só terá êxito após a revolução russa e da guerra civil que se seguiu. É – portanto, em uma Finlândia agora independente que o compositor é iniciado em 1922 pela loja Suomi N ° 1 de Helsinque no mesmo dia em que ela tinha sido instalada por maçons americanos.

Ele realiza a escrita de oito hinos maçônicos sobre os textos de autores finlandeses, mas também de Goethe, Schiller e Confúcio.

Personalidade severa e um pouco atormentada, Sibelius encontrou na maçonaria, matéria para fazer jorrar com sinceridade uma música profundamente espiritual e grave na qual transparecia a austera cultura luterana do compositor, empreende a escrita de oito hinos maçônicos sobre textos de autores finlandeses, mas também de Goethe, Schiller e Confúcio. Entre 1946 e 1948, ele completará estas composições por um Hino de Louvor, uma Ode à fraternidade e um Hino de abertura. Mason particularmente apegado à discrição, Sibelius que havia doado suas partituras à sua loja proibindo a interpretação diante um público profano. Além de uma obra ter “vazado”, que foi interpretada em Nova York em 1938, o essencial de suas peças maçônicas, só esteve disponível para o público em geral nos anos 2000.




J
Josephine Baker
(1906 – 1975)

Fantasista e idealista

Freda Joséphine Mac Donald nasceu em um distrito pobre de St. Louis, Missouri. Sua infância foi difícil, forçada às vezes a limpar casas, às vezes dançar em estabelecimentos mal-frequentados para ajudar sua família. Aos 13 anos, ela deixou a casa da família para contrair um primeiro casamento e fazer sua estreia no palco de uma trupe itinerante. Um ano depois, ela se casa novamente com Willie Baker, que lhe dará seu nome. Mas ela o deixa pouco depois para ir para a Broadway e se engajar em diferentes trupes antes de ser notada pela esposa do adido comercial da embaixada francesa em Paris. Esta última a convence a segui-la para a França, prometendo-lhe ser contratada na “Revista Negra”. O sucesso é imediato. No palco do Théâtre des Champs Élysées, a jovem afro-americana desperta uma paixão com toques de escândalo ao dançar freneticamente o charleston, vestindo uma simples tanga feita de bananas falsas. Ao fazê-lo, Josephine junta-se à atiradora senegalesa da publicidade Banania, no imaginário colonial colorida da benevolente condescendência dos franceses da época.

Durante dos anos vinte, Josephine Baker ainda é a queridinha de toda Paris, atuando no palco do Cassino de Paris e no Folies Bergere. A canção Rai deux amours que lhe escreve Vincent Scotto lhe assegura um enorme sucesso. Ela então proclama seu amor pela França, mas somente em 1936 ela adquirirá a nacionalidade francesa casando-se com o francês Jean Lion, rico herdeiro de uma família de comerciantes de açúcar. Este terceiro casamento, que não durará mais do que os anteriores, a leva a converter-se ao judaísmo.

A partir de 1939, Josephine Baker foi recrutada pela contraespionagem francesa e se colocou ao serviço da França livre a partir de 1941. Sua atividade artística permitia que ela viajasse. Ela empreendeu uma série de turnês no norte da África e no Oriente Médio, que lhe dava a oportunidade de colher informações valiosas para os aliados junto às autoridades que ela frequentava. Uma patriota incansável, ela se juntou à Força Aérea e desembarcou em Marselha em 1944. Por sua ação corajosa, ela recebeu a Legião de Honra, a Medalha da Resistência e a Croix de Guerre de 1939 a 1945 com palma. Apesar de uma saúde frágil, Josephine prossegue depois da guerra seu compromisso humanista ao adoptar, com seu novo companheiro Jo Bouillon, doze crianças de diferentes origens e cores de pele que ela cria em sua propriedade de Milandes, na Dordogne. Depois de se envolver na defesa dos direitos dos afro-americanos desfilando ao lado de Martin Luther King, ela foi a Cuba com Fidel Castro em 1965 para a conferência anti-imperialista da tricontinental. Alguns afirmam que ela teria levado uma mensagem discreta de apoio da parte do General de Gaulle. Conduzida pelo “líder máximo” ao local da Baía dos Porcos, lugar do desastroso desembarque anti-castrista americano de 1961, ela declara “Estou feliz por ter testemunhado o primeiro grande fracasso do imperialismo americano.”

No entanto, sua atividade transbordante não lhe dá um centavo e não lhe permite, após sua separação de Jo Bouillon, manter sua propriedade de Milandes. Apesar do apoio que goza no meio do showbiz, os Milandes serão vendidos em leilão em 1969. Em 1975, sustentada por amigos, ela é incentivada a voltar ao palco para uma retrospectiva em Bobina. Mas ela sucumbe à exaustão e morre em abril do mesmo ano.

Josephine Baker fora iniciada pela loja Nova Jerusalém da Grande Loja Feminina da França em 1960. Embora ela pareça ter tido pouco envolvimento na vida de sua loja, sua passagem pela maçonaria mostra que ela soube encontrar o caminho certo para aperfeiçoar os ideais de justiça e igualdade que iluminaram sua vida.

Publicado na revista FM Franc-Maçonnerie Edição Julho/Agosto no. 69

O MÍSTICO SETE NA SIMBOLOGIA MAÇÔNICA


Blog Bibliot3ca

Tradução J. Filardo


Autor Desconhecido


Como em todas as tradições místicas, antigas e modernas, os números desempenham um papel fundamental para nos ajudar a alcançar uma compreensão mais profunda e os números mantêm as chaves do pensamento esotérico. E não é diferente na Maçonaria Especulativa. Desde o início dos tempos, os adeptos dos mistérios ocultos descobriram verdades místicas através da compreensão dos números e sua importância para o desenvolvimento do universo. De fato, pode-se dizer que a ciência dos números é a própria fórmula com a qual Deus criou o universo visível. Dentro do catecismo da Maçonaria Especulativa, há uma variedade de números que possuem um valor espiritual mais profundo. Este trabalho se concentrará em um número específico, o número sete. Conforme afirmado na Enciclopédia de Maçonaria de Albert Mackey:

“Em todo sistema de antiguidade há uma referência frequente a esse número, mostrando que a veneração por ele procedeu de alguma causa comum. Ele é, igualmente, um número sagrado entre os gentios e na religião cristã. O doutor Oliver diz que isso dificilmente pode ser atribuído a qualquer evento, excetuando a instituição do sábado. Godfrey Higgins acha que a circunstância peculiar, talvez acidental, do número de dias da semana coincide exatamente com o número de corpos planetários que provavelmente adquiriram para ele seu caráter de santidade. Os Pitagóricos o chamavam de número perfeito, porque era composto por três e quatro, o triângulo e o quadrado, que são as duas figuras perfeitas. Eles também o chamavam número virgem, e sem mãe, comparando-o a Minerva, que era virgem sem mãe, porque não pode, por multiplicação, produzir nenhum número dentro de dez, como duas vezes dois, quatro e três vezes três, nove; nem dois números, por sua multiplicação, podem produzi-lo.”

O número Sete era considerado sagrado não apenas por todas as nações da antiguidade do Oriente, mas também era tido em grande reverência pelas nações posteriores do Ocidente. Consistindo em uma união entre o número três (o símbolo da Trindade Divina e dos três elementos que compõem a matéria) e de quatro (o símbolo das forças ou elementos cósmicos), o número Sete aponta simbolicamente para a união da Deidade com o universo. Este número, que também representa o triunfo do Espírito sobre a Matéria e a plenitude dos Mistérios Divinos, corresponde à letra hebraica Zain. O número sete é universal, como Zain, que é considerada a Letra do Universo.

Os Pitagóricos consideravam o algarismo Sete como a imagem e modelo da ordem divina e harmonia na natureza. A partir deles, a origem astronômica desse número é estabelecida além de qualquer dúvida. O homem, sentindo-se dependente dos poderes celestiais, olhava para os céus em busca de compreensão e clareza espiritual. Ao estudar o firmamento, os astrólogos antigos entendiam que os Sete planetas permaneciam a uma distância igual um do outro e giravam na mesma trajetória. Daí a ideia sugerida por este movimento é a da harmonia eterna do universo.

A maior e mais brilhante das luminárias tornou-se assim o símbolo da mais importante e mais alta dos poderes; incorporada aos planetas toda a antiguidade numerada como Sete. Nesta conexão, o número Sete tornou-se especialmente sagrado com eles, e sempre preservou sua importância com os astrólogos. Com o tempo, estes foram transformados em Sete divindades. Os egípcios tinham Sete deuses originais e superiores; os fenícios Sete kabiris; os persas, Sete cavalos sagrados de Mitra; os Parsees, Sete anjos opostos por Sete demônios e Sete moradas celestes paralelamente a Sete regiões inferiores. Para representar mais claramente essa ideia em sua forma concreta, o sete deuses foram frequentemente representados como uma divindade de sete cabeças. Todo o céu estava submetido aos Sete planetas; portanto, em quase todos os sistemas religiosos nós encontramos Sete céus. Alguns filósofos disseram que nossas almas têm 7 focos no corpo material; os cinco sentidos, a voz e o poder gerador.

O corpo tem sete partes óbvias: cabeça, peito, abdômen, duas pernas e dois braços. Existem sete órgãos internos, estômago, fígado, coração, pulmões, baço e dois rins. A parte dominante, a cabeça, tem sete partes para uso externo, dois olhos, duas orelhas, duas narinas e uma boca. Existem sete coisas vistas, corpo, intervalo, magnitude, cor, movimento e permanência. Existem sete inflexões da voz, os sons agudos, graves, circunflexos, ásperos, suaves, longos e curtos. A mão faz sete movimentos; para cima e para baixo, para a direita e esquerda, à frente e atrás e circular. Existem sete evacuações; lágrimas dos olhos, muco das narinas, saliva, sêmen, duas excreções e transpiração. O conhecimento médico moderno corrobora o ditado antigo de que, no sétimo mês, a prole humana se torna viável. A menstruação tende a ocorrer em séries de quatro vezes sete dias, e certamente está relacionada a Luna de maneira oculta.

O Castiçal de Ouro dos Sete Ramos foi um notável ornamento emblemático do Tabernáculo de Moisés, Êxodo 25:31.

Observem-se os sete anos para o arrependimento; sete igrejas da Ásia, sete anjos com trombetas, sete castiçais dos Lugares Santos, sete selos, sete trombetas, sete reis, sete mil mortos, sete frascos de ira a serem derramados acompanham o Apocalipse. Existem inúmeros casos em que o número sete detém um valor significativo ao longo da história do pensamento e da introspecção humanos. Esse número, em particular, tinha um valor especial, por estar diretamente relacionado ao entendimento de nossa natureza divina e à harmonia com a divindade. Essa ideia numérica foi aplicada pelos cristãos – (especialmente durante a Idade Média) – usando amplamente o número Sete no simbolismo de sua arquitetura sagrada. Assim, por exemplo, a famosa Catedral de Colônia e a Igreja Dominicana em Regensburg exibem esse número nos menores detalhes arquitetônicos. Também podemos fazer analogia entre muitas referências bíblicas do número sete à Maçonaria. Por exemplo, tA história de Salomão construindo o templo em que O rei Salomão completou o templo em sete anos. (1 Reis 5:13; 2 Crônicas 2:2). De acordo com 1 Reis 6:38, a obra do templo levou sete anos dizendo:

“E no décimo primeiro ano, no mês de Bul, que é o oitavo mês, a casa foi concluída em todas as suas partes e de acordo com todas as suas especificações. Foram sete anos na sua construção.”

O número sete também possui um valor místico significativo na Maçonaria. Mais uma vez citando Mackey:

“Sete é um número sagrado no simbolismo maçônico. Tem sido sempre assim. Nas instruções mais antigas do século XVIII, dizia-se que uma Loja exigia sete para torná-la perfeita; mas a única explicação a ser encontrada em qualquer uma dessas cerimônias da sacralidade do número são as sete artes e ciências liberais, que, de acordo com a antiga lenda do ofício, eram o fundamento da Maçonaria. No ritualismo moderno, o simbolismo dos sete foi transferido do Primeiro para o Segundo Grau, e ali é feito para se referir apenas aos sete degraus das Escadas Sinuosas; mas o sete simbólico pode ser encontrado difundido de várias maneiras em todo o sistema maçônico.”

São necessários sete irmãos para abrir uma loja perfeita: O Venerável Mestre, dois Vigilantes, dois Diáconos, o Tesoureiro e o Secretário (para trabalhar são necessários apenas cinco). Os sete oficiais representam como a consciência humana funciona como expressões da Fonte sempre prevalecente de todo ser. Eles representam as partes coordenadas que conectam a natureza externa do homem com seu princípio divino mais íntimo. Eles fornecem os canais necessários para os diferentes níveis espirituais e materiais para manter perfeita harmonia. Como afirma o ritual, “a harmonia é o apoio de todas as instituições, especialmente a nossa”.

Diz-se que o número sete é um número “perfeito” porque contém os números três e quatro. Na geometria, a base da maçonaria, o triângulo e o quadrado são as “figuras perfeitas”, e é ele mesmo indivisível e não pode ser criado por multiplicação. Esse entendimento é melhor exibido no emblema de um Maçom: O Avental.

O avental é composto de três partes: uma aba triangular, número três, e uma base quadrada, número quatro. A soma deles é o número sete. Conforme mencionado anteriormente, o quadrado simboliza os 4 elementos: terra (minerais do esqueleto, ossos, consciência física), agua (fluidos físicos, consciência emocional), ar (mente, pensamento abstrato), fogo (energia, consciência espiritual) O triângulo simboliza a trindade do ser, os três aspectos de Deus ou três luzes maiores e as três fases da existência humana (corpo, mente, espírito, conforme expressas atravessando os três graus da maçonaria de loja azul) ou as três luzes menores, exemplificado pelos três principais oficiais de uma loja. Representando simbolicamente também os três pilares cabalísticos dos quais emanam as sephirot. Juntos, o quadrado base e o triângulo da abeta representam os sete níveis de consciência que podem ser acessados pelas sete artes e ciências liberais: gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música. O avental ou o “distintivo de inocência” do maçom torna-se, assim, um símbolo do trabalho sincero do homem em direção à perfeição dos elementos materiais ao temperamento, sob a orientação das qualidades divinas. Nesse estado aperfeiçoado, ele pode encontrar seu criador, tornando-se conscientemente um com o TODO.

É óbvio que na superfície há uma referência mínima ao número sete no sentido particular, mas seu simbolismo está profundamente enraizado em toda a estrutura emblemática maçônica. Há muita informação que deve ser procurada pelo maçom enquanto atravessa a jornada de graduação. Supõe-se que poucos teriam estudado essas verdades esotéricas antes de entrar na maçonaria, e menos ainda as decorado. Acredito que era o plano que o Maçom procurasse os mistérios ocultos além da explicação de seus graus para se educar e se iluminar até uma compreensão mais profunda e um pouco mística.

As lições em três graus são uma oferta das chaves para destrancar as portas que conduzem à iluminação cósmica, com a qual é o objetivo e o dever de todo Maçom “guardar, ocultar e nunca revelar”. Valorizar, preservar e exemplificar o universo por nossos pensamentos, palavras e ações.

O Grau de Companheiro é o grau mais envolvido em estudos, desde a sugestão das Três Grandes Luzes e três oficiais principais da loja como influenciando o Maçom até o estudo da Cabala e da escada de Jacob, até a compreensão dos pilares, nossos sentidos e seu significado físico e espiritual, e para o estudo da alquimia e o significado astrológico dos sete planetas e como somos afetados por eles fisicamente, à medida que sua posição nos céus nos influencia espiritualmente. Aqui, “Assim como acima, é abaixo”, não tem significado maior. Ao nos aprofundarmos honestamente, adquirimos uma compreensão mais profunda do universo exterior e unimos as naturezas carnal e divina dentro dele, tornando-nos assim o número sete. A perfeição do homem encarnada em uma vida divina.



Referências:

Albert G. Mackey’s Enciclopédia da Maçonaria foi publicado originalmente como dois volumes; Volume I (1873) & Vol. II (1878)

Obras e Palestras Padrão da Maçonaria Antiga – Na jurisdição da Grande Loja de Pedreiros Livres e Aceitos do Estado de Nova York, 2014
Bíblia King James. Copyright 2015