sábado, 30 de julho de 2016



NÃO É COM ASAS QUE SE VAI PARA O CÉU


Autor: João Anatalino


Quando se considera o universo e a vida que nele habita somente como um acidente cósmico sem sentido nem finalidade, perde-se o rumo da própria existência. Para que, então se preocupar com o futuro do planeta e com o nosso próprio destino individual se, façamos o que façamos, nada disso tem uma finalidade? Se tudo se perde, irremediavelmente, na voragem do tempo? 

Será a vida apenas um fenômeno físico-químico que um acidente cósmico um dia fez surgir? Ou terá ela sido produzida como parte de algum projeto que envolve, não somente o seu próprio desenvolvimento, mas um plano bem maior, de escala cósmica? E se cada vida fosse o elo de uma corrente que transmite, no tempo e no espaço, a energia criadora que faz do universo um ser vivo e convergente, que por dentro e por fora se metamorfoseia e vai adquirindo contornos e qualidades que no fim, servem á uma finalidade definida por uma Mente Universal?

São exatamente essas as perguntas e as elucubrações feitas pelo ritual maçônico, quando se interroga pelo sentido da vida. 

Os ensinamentos maçônicos enfrentam exatamente essa questão quando pergunta: “De onde viemos? O que somos? O que a morte fará de nós? Que é o homem? É apenas um átomo, gestado no corpo da mulher e que progressivamente se organiza, se harmoniza em suas inúmeras partes? Que cresce, pensa, cai, transforma-se e volta á causa primária, deixando apenas reminiscência de sua última forma ou conservando uma partícula essencial, mutável e mortal?”

Nesse questionamento a Maçonaria enfrenta a questão metafísica que tem desafiado a mente humana através de toda a sua história de vida. Afinal, somos apenas uma sombra que passa, um fenômeno despregado de qualquer sentido, que um dia aconteceu no universo como resultado de causas exclusivamente naturais, ou ele é o desvelar de uma Vontade que se manifesta e percorre um longo processo evolutivo que começou, um dia, num átomo que rompeu, por um processo ainda desconhecido, os limites da matéria inanimada?

Um maçom não pode acreditar na hipótese materialista, advogada na tese que sustenta ter a matéria as condições suficientes para explicar todos os fenômenos existentes no universo, inclusive a vida. Porque, se adotar essa crença, estará negando qualquer virtude á prática que adotou. Se o fenômeno da vida e principalmente a do ser humano, fosse um acaso perpetrado por leis exclusivamente naturais, “um vírus” inoculado na corrente sanguínea do universo, como o definiu uma vez um romancista, então ele não teria um espírito, e não se poderia falar na existência de um Criador, e nem haveria qualquer mo tivo para se tentar uma comunicação com Ele. Tudo que fazemos nesse sentido seria apenas uma simulação fantasiosa. É nesse sentido que Anderson, em suas Constituições, diz: “um maçom é obrigado a obedecer à lei moral; e se ele bem entender da arte, jamais será um estúpido ateu nem um libertino irreligioso.” (1)

Um processo dirigido 

Se os materialistas estivessem certos, toda religião, bem como toda prática iniciática não passaria de uma distração infantil, que mentes incapazes de conviver com a realidade desenvolvem para mitigar a incômoda impressão de que a nossa existência não tem qualquer finalidade além daquela que os nossos sentidos nos indicam. Mas, felizmente, temos razões para pensar que as coisas não são assim; que nós não somos apenas matéria desprovida de espírito, seres organizados por leis naturais que só obedecem ao determinismo dos grandes números. O surgimento da vida em meio á matéria universal, como está a indicar a metáfora bíblica da Criação, é fruto de um processo dirigido e bem elaborado por quem o projetou e o controla, ou seja, O Grande Arquiteto do Universo. 

Mais uma vez é o grande Teilhard de Chardin que nos socorre nessa visão, mostrando como o surgimento da vida resulta de uma síntese que a união dos átomos transforma em moléculas, e estas, também por um processo de sínteses cada vez mais elaboradas, dão origem ao fenômeno humano. Em páginas de extraordinária lucidez e envolvente poesia, esse grande pensador escreve: “Aqui reaparece, á escala do coletivo, o limiar erguido entre os dois mundos da Física e da Biologia. Enquanto se tratava apenas de um processo de mesclar as moléculas e os átomos, podíamos, para explicar os comportamentos da Matéria, recorrer ás leis numéricas da probabilidade, e contentarmo-nos com elas. A partir do momento em que a mônada, adquirindo as dimensões e a espontaneidade superior da célula, tende a se individualizar no seio da plêiade, desenha-se um arranjo mais complicado no Estofo do Universo. Por duas razões, ao menos, seria insuficiente e falso imaginar a Vida, mesmo tomada em seu estágio granular, como uma espécie de fervilhar fortuito e amorfo.” (2)

Quer dizer: a vida não surgiu no universo como surgem as bactérias em um processo de fermentação. Ela é, sim, o resultado de um processo, mas ele está longe de ser regido apenas pelas leis da natureza. Ela surge como consequência de um trabalho dirigido como se fosse alguém, em uma cozinha, ou um laboratório, trabalhando para fazer um bolo, ou para destilar uma bebida. Nesse trabalho as bactérias surgem como resultado do processo empregado e não como obra do acaso, ou da evolução natural da obra. Por isso a notável argúcia do nosso jesuíta complementa o seu pensamento dizendo: “(...) os inumeráveis componentes que compunham, nos seus inícios, a película viva da Terra, não parecem ter sido tomados ou juntados exaustivamente ou ao acaso. Mas a sua admissão nesse invólucro primordial dá antes a impressão de ter sido orientada por uma misteriosa seleção ou dicotomia prévias (...).” (3) 

Recordando Plotino 

É a mesma intuição que inspirou o filósofo Plotino há quase dois milênios atrás: “Imagine uma enorme fogueira crepitando no meio da noite. Do meio do fogo saltam centelhas em todas as direções. Num amplo círculo ao redor do fogo a noite é iluminada, e a alguns quilômetros de distância ainda é possível ver o leve brilho desta fogueira. À medida que nos afastamos, a fogueira vai se transformando num minúsculo ponto de luz, como uma lanterna fraca na noite. E se nos afastarmos mais ainda, chegaremos a um ponto em que a luz do fogo não mais consegue nos alcançar. Em algum lugar os raios luminosos se perdem na noite e se estiver muito escuro não vamos enxergar nada. Nesse momento, contornos e sombras deixam de existir".

"Agora imagine a realidade como sendo esta enorme fogueira. O que arde é Deus - e as trevas que estão lá fora são a matéria fria, onde a luz está fraca, da qual são feitos homens e animais. Junto a Deus estão as ideias eternas, as causas de todas as criaturas. Sobretudo, a alma humana é uma centelha do fogo. Mas por toda a parte na natureza aparece um pouco desta luz divina. Podemos vê-la em todos os seres vivos; sim, até mesmo uma rosa ou uma campânula possuem um brilho divino. No ponto mais distante do Deus vivo está a matéria inanimada.” (4)

Plotino (205-270 e. C) é considerado o fundador da escola neoplatônica. O Gnosticismo deve a ele algumas de suas concepções mais originais, especialmente a ideia de que o verdadeiro conhecimento não pode ficar apenas no terreno intelectual, mas exige uma experiência direta dos sentidos com aquilo que se propõe a conhecer. É nesse sentido que se pode colocá-lo como precursor das chamadas escolas iniciáticas, ou seja, grupos que desenvolviam rituais com a finalidade de ”sentir” as próprias realidades que idealizavam. Plotino é um dos inspiradores de famosos mestres do misticismo como Mestre Eckhart, Papus, MacGregor Mathers e outros. Os autores maçons lhe votam um grande respeito e os modernos gnósticos vêem nele um precursor das teses cientificas que descrevem o universo como um organismo único que se constrói através de uma rede de relações. Suas palavras são por demais eloquentes e não necessitam de comentários explicativos. Se o universo existe é porque tem uma causa de existir: essa causa é Deus. 


Os rituais maçônicos 


Por isso a Maçonaria nos leva a fazer especulações sobre o sentido da vida e o papel que nós exercemos na construção da Obra do Criador. Essas especulações concluem com a ideia de que nós não somos meras relações estatísticas derivadas de interações ocasionais ocorridas na matéria física, sem qualquer conteúdo finalístico, como pensam os adeptos do nihilismo, mas sim, unidades conscientes do todo amorfo, que só ganha forma e consistência na medida em que nós mesmos vamos encontrando o nosso lugar no desenho estrutural do universo. (5)

E com isso a Maçonaria canta um dueto bem afinado com a doutrina da Cabala. Para os cabalistas, nosso corpo é como uma lâmpada que se acende em meio a um quarto escuro. Brilhamos por um tempo iluminando o espaço que nos cabe como jurisdição. E quando o combustível, que é a energia encerrada em nossas células se esgota, apagamos. O corpo é o filamento que canaliza a energia e quando ele se deixa de ter condição para hospedá-la, ela o abandona. Mas a energia, como mostra a lei de Lavoiser, não se perde nem se extingue. Ela só se transforma. Ela continua a existir mesmo depois que a lâmpada que a refletia se extingue.

Essa energia acenderá outras lâmpadas que também brilharão por algum tempo e depois se apagarão. Cada uma a seu tempo, preenchendo o vácuo e realizando a missão que lhe cabe. Assim a vida nos aparece como uma estrada cheia de luzes que se apagam e se acendem á medida que o tempo passa por elas e avança para o futuro. Por isso, enc ontraremos em nossos rituais, especulações como esta: (...) Sois uma parcela da vida universal, um germe que apareceu em um ponto do espaço infinito. Vosso ser sofreu inconscientes transformações. Tivestes sensações, depois ideias incoerentes, que mais tarde, foram se tornando precisas. Por fim vos considerastes capaz de perceber a verdade. Esta é a luz que vistes. A humanidade levou séculos incontáveis antes de percebê-la. Nós consideramos o estado atual da nossa espécie sem que saibamos se ela está em seu começo, ou se prestes a alcançar o seu fim, e sem conhecermos seu destino, nada compreendemos do mundo a qual ela pertence (...).

Dessa forma Cabala e Maçonaria nos informam que o sentido de cada vida que vivemos é fornecer o seu “quanta” de luz para a construção da Obra de Deus. E por essa razão poderemos viver várias vidas. Nasceremos e morreremos tantas vezes quantas forem necessárias para a complementação dessa obra. Por isso Jesus disse: “Assim deixai a vossa luz resplandecer diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.” (6)

Pois não é com asas que se sobe aos céus, mas com as mãos. Pela simples e singela razão contida nessa metáfora, os maçons adotaram a profissão do pedreiro como símbolo da sua Arte.


1. As Constituições, citado, pg 12.
2. O Fenômeno Humano, citado, pg. 94.
3. Idem, pg. 95-Na foto o filósofo Teilhard de Chardin
4.Jostein Garner. O Mundo de Sofia, Companhia das Letras, São Paulo, 1995.
5. Nihilismo é a doutrina filosófica que coloca o questionamento do sentido da vida perante um universo que parece ser indiferente á tudo que nos acontece. É uma atitude de pessimismo e ceticismo perante a possibilidade de que a vida tenha aparecido no mundo para cumprir algum propósito. Nega todos os princípios religiosos, políticos e sociais, definindo-os apenas como atitudes dos sentidos, dirigidos para a necessidade de preencher o vazio da existência. Este conceito teve origem na palavra latina nihil, que significa "nada". O principal arauto dessa doutrina foi o filosofo alemão Nietszche. Sartre retomou esse tema nas suas obras “ O Ser e o Nada” e “a Náusea”.
6. Mateus, 5:16.
João Anatalino

quarta-feira, 27 de julho de 2016

 APERFEIÇOAMENTO MAÇÔNICO - SERÁ NECESSÁRIO?


Autor: Pedro Neves

A maçonaria atual, não possui uma Proposta Pedagógica de Ensino, e os seus administradores em sua ampla maioria, não mostram preocupação com tal aprendizado. Afinal, a falta de preparo para exercerem cargos advém de seu total desconhecimento de maçonaria, desde a época em que foram iniciados como aprendizes, e não obtiveram em suas lojas simbólicas, a mínima instrução dos “mestres” que deveriam passar algum conhecimento ao novo membro, quem não sabe, não pode ensinar. 

Na maçonaria, a mudança de graus está sendo feita por antiguidade e, em algumas lojas que exigem um trabalho, a mesmo geralmente é feito de cópias de outros e da internet. Se atinge os graus de companheiro e mestre, sem nenhum conhecimento e, em breve, um novo Venerável é Instalado, sem que tenha obtido qualquer conhecimento de maçonaria.

A maçonaria vive das glorias de um passado glorioso, e só impõe certo respeito, porque as pessoas que não são maçons desconhecem o que seja a maçonaria, não sabem quão fracos estamos. A Sublime Instituição teve os seus dias de esplendor atuando na libertação de povos, na política, no desenvolvimento espiritual e na prática da moral.

As administrações maçônicas do alto escalão, não todas, são constituídas por obreiros despreparados, que só pensam nos cargos que vão ocupar, sem conhecerem, as origens, a filosofia, a ritualística, o simbolismo, o esoterismo e as práticas maçônicas. Eles não conseguem, nem mesmo, extraírem o espírito da letra que mata, aliás, são raros os que conseguem, eles são os verdadeiros praticantes da arte real e os que mantêm sob sua guarda criteriosa os verdadeiros mistérios que não devem ser revelados ao vulgo.

A vaidade, e a briga pelo poder é a causa da maléfica divisão da instituição em dezenas de outras, todas mal formadas e com objetivos não maçônicos dos mais variados. 

Quando uma instituição começa a propalar que pessoas famosas da antiguidade foram maçons, e não se pode mencionar o mesmo das pessoas de nosso tempo, quando deixamos de praticar a espiritualidade, quando transformamos a nossa filosofia em puro materialismo, quando passamos a viver de discursos oficiais, que jamais são colocados em prática, nós podemos sentir que a Sublime Instituição, já não está conseguindo cativar tantas mentes nobres, tantos vultos da humanidade, tantos espiritualistas. 

A fonte está secando, a água da vida está rareando, o conhecimento ficará restrito a bem poucos, os sábios, os que conseguem manter a sua luz acessa, portanto, necessário se faz brilhar a nossa luz, para que não venham os maus dias, e digas, não tenho neles contentamento.

São chegados os tempos, em que um cego está a guiar outros cegos, quando isso acontece, todos podem despencar no precipício. 

Necessário se faz, então, o aperfeiçoamento, para que a Ordem maçônica volte a ser forte e altiva, e em suas oficinas se possa desbastar a pedra bruta, até que, com o passar das eras ela se torne um dia em pedra de esquina.

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Pedro Neves .’. M.’. I.’. 33.’. KTJ
Membro Efetivo da Academia Maçônica de Letras do Brasil – Arcádia Belo Horizonte
Cadeira 001 – Patrono: Arlindo dos Santos
Preceptor da Suprema Ordem Civil e Militar dos Cavaleiros Templários

terça-feira, 26 de julho de 2016


O Vaticano e a Maçonaria, a crônica de um mal-entendido


Por Jean François Maury - Tradução de José Filardo


Podemos falar de guerra, quando perguntamos sobre as relações conflitantes entre o Papado e a Maçonaria? Neste caso, nem armas nem sangue, apenas idéias e concepções do homem e do mundo diferem. A Igreja condenou. As razões têm variado ao longo dos séculos. Às vezes políticas, às vezes morais, às vezes doutrinais, elas se adaptaram ao contexto do tempo.

Isso não começou ontem, nem no século XVIII. Na verdade, tudo começa com o nascimento do companheirismo. Sabemos que na Idade Média, as primeiras irmandades eram de natureza religiosa. As guildas ou gildas formavam-se em torno de um “patrono”, ou seja, um santo padroeiro que, segundo a tradição, tinha praticado o ofício.

Essas irmandades rivalizavam-se financiando dentro da igreja ou da catedral, capelas finamente decoradas, mas o seu verdadeiro papel era fraternal, auxílio para viúvas, ajuda para os órfãos e apoo aos feridos no canteiro de obras. A Igreja condenou rapidamente estas confrarias, vendo nelas rival de sua onipotência.


As razões políticas para a excomunhão

No início do século XVIII, quando o iluminismo faz nascer ideias de liberdade que sacodem o jugo de uma religião de Estado, a Maçonaria especulativa que se espalha preocupa a Igreja: para os Bispos é uma heresia, mas para o papado, ela é uma conspiração.

Na verdade este tem, desde 756, um estado que lhe entregou Pepino, rei dos francos, quando de sua vitória sobre os Lombardos. Trata-se do “Patrimônio de São Pedro”. Ao longo dos séculos, ele cresceu e no século XVIII, os Estados Pontifícios são vastos: são limitado a norte pelos pequenos ducados de Parma e Modena, a oeste pelo Grão-Ducado do Toscana, ambos sob influência austríaca, enquanto que ao sul o reino das duas Sicílias fica mais próximo da coroa espanhola. O poder dos Papas sendo tanto temporal quanto espiritual, eles tentam aumentar a sua influência e subjugar os movimentos clandestinos que possa comprometer seu domínio.

Também Clemente XII não hesita em fulminar em 28 de abril de 1738, a Bula In eminenti condenando uma organização que ele não conhece, mas que lhe parece sediciosa. E a Bula declara perfidamente: “Se suas ações eram irrepreensíveis, eles não se desnudariam com tanto zelo à luz. ”



Como o demonstra o Padre Ferrer Benimeli desnudando os arquivos secretos do Vaticano, as verdadeiras razões para essa excomunhão são políticas. Trata-se menos de evitar “os grandes males que surgem em geral essas associações sempre prejudiciais à tranquilidade do Estado e à salvação das almas” que de devolver ao Grande Inquisidor de Florença, Paolo Ambrogio Ambrogi, a vantagem sobre os tribunais civis.

Para ocultar estas razões vergonhosas, a Bula se reveste de argumentos morais: acusações de “perversão” em relação aos maçons (não especificadas), sub-entendios sobre seu segredo, sem contar o juramento feito sobre a Bíblia que não poderia ser senão herético.

No entanto, conhecemos o destino desta Bula de excomunhão. Não registrada pelo Parlamento de Paris, como era o direito para todos ato pontificiais até a Concordata de 1801, ela nunca teve força de lei e tornou-se letra morta na França.

E será o mesmo para a bula de Bento XIV, Providas, promulgada em 15 de abril de 1751, que repete a condenação de seu antecessor. A novidade é o recurso à “assistência e [o] socorro de todos os príncipes e todos os poderes seculares católicos” para executar a sentença. Trata-se bem de organizar uma perseguição.


O argumento moderno

A hostilidade da Igreja não impediu, no entanto, que os maçons se desenvolvessem rapidamente: entre 1860 e 1869, há 182 lojas a mais (ou seja, um aumento de 160%), enquanto os papas sucessivos se empenham em condená-la sem procurar conhecê-la. E, no entanto, não faltam padres maçons no século XVIII!

E será Leão XIII, em sua longa “carta encíclica sobre a Maçonaria”, Humanum Genus (20 de abril 1884), quem desenvolverá o argumento moderno. A Humanum Genus começa por rejeitar, mais uma vez, “a sociedade dos maçons” no “Reino de Satanás”.

Seguem-se dois tipos de acusação: as novas políticas sobre a concepção que “os maçons se dedicam a vulgarizar e pela qual eles não param de lutar, a saber, que é essencial separar a Igreja do Estado ” (é preciso lembrar aqui a França radical do início da Terceira República), mas também uma defesa doutrinária.

Segundo a Humanum Genus, os maçons têm como missão “destruir de cima para baixo toda a disciplina religiosa e social que nasceu das instituições cristãs, e substitui-las por uma nova, adaptada às suas idéias, e cujos princípios e leis fundamentais são emprestados do naturalismo “(ver Auguste Comte). Ou “o primeiro princípio dos naturalistas é que em todas as coisas, a natureza ou a razão humana deve ser mestre ou soberana. Fora do que pode compreender a razão humana, não há nenhum dogma religioso ou verdade ou mestre na palavra de quem, em nome de seu mandato de ensino oficial, devamos ter fé. ” Essa crítica é constante a partir daí.


A Igreja sempre condena

Em 23 de Janeiro de 1983, a publicação do novo Código de Direito Canônico, promulgado por João Paulo II (Constituição Apostólica Sacrae disciplinae legis) levantou muitas esperanças. Finalmente, a Maçonaria já não era mais expressamente condenada! Mas a instituição que, em 1965, assume a continuação da Inquisição: a Congregação para a Doutrina da Fé, com, como prefeito, o cardeal Joseph Ratzinger, agora Bento XVI, fez uma última declaração oficial em 26 de novembro 1983: “O julgamento negativo da Igreja sobre as associações maçônicas permanece inalterado porque seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja”. 

O ponto central da incompatibilidade é a acusação de relativismo principalmente sobre o conceito de religião: uma “religião ‘com que todos os homens concordam’ implica uma concepção relativista da religião que não é compatível com a crença fundamental do cristianismo”. Assim, para os maçons, “todas as religiões são tentativas concorrentes de expressar a verdade sobre Deus, que em última análise, permanece inacessível”.

Quanto ao nome Grande Arquiteto do Universo, que é, no entanto, um dos “atributos” de Deus reconhecidos pela Igreja, a Congregação para a Doutrina da Fé “rejeita as relações com Deus em uma posição anterior ao deísmo”, enquanto que a idéia de tolerância, não seria, como parra os católicos,” a aceitação paciente que é devida aos outros homens”, mas “a tolerância em relação a ideias, por mais opostas que elas possam ser entre si ” o que “abala a atitude do católico na fidelidade à fé e no reconhecimento dos ensinamentos da Igreja. ”

Em relação ao conceito de verdade: todo o conhecimento objetivo seria negado pelos maçons. Finalmente, se os rituais são, obviamente, estigmatizados, o que é também, surpreendentemente, é a preocupação dos maçons com o desenvolvimento ético e espiritual, descrito como “absoluto e separado da graça”. Quanto à formação da consciência e do caráter fornecida pela Maçonaria, a Igreja não pode “aceitar que uma formação deste tipo seja levada em conta por uma instituição que lhe é estranha. ” Tudo está claramente dito. Trata-se de justificar a exclusão, não de se reaproximar e, por enquanto, nenhuma reconciliação está à vista.

Padre e Maçom

A proibição está ainda em vigor. Nada foi feito ali, para alterar este julgamento sem apelação: nem a intercessão dos sacerdotes proeminentes como Padre Riquet, jesuíta de prestígio e grande resistente; nem a defesa de maçons alemães que defendiam a perseguição sofrida dos nazistas e fielmente entregaram às autoridades eclesiásticas os seus rituais e seus chamados “segredos”, pensando erradamente em conseguir convencer; nem a coragem de alguns bispos que desafiaram seus superiores para aceitar o diálogo; nem o fato de que alguns religiosos são eminentes pesquisadores no domínio maçônico, como o dominicano Jérôme Rousse-Lacordaire, ou na Espanha, o jesuíta José Antonio Ferrer Benimeli.

O Vaticano permanece fechado.


Blasfêmia e conspiração entre os companheiros

A Igreja, a partir de 832 manifesta sua hostilidade contra as sociedades de companheirismo. O Arcebispo Hincmar de Rheims condena os banquetes organizados pelas irmandades profissionais acusando-os de ser apenas bebedeiras onde a ligação fraternal seria mais pagã que cristã!

A criação do Companheirismo será uma reação contra esse sistema em torno da ideia de um Tour de France: a liberdade de contratação, liberdade de aprendizagem e liberdade de passagem. A partir daí, as autoridades religiosas e civis farão de tudo para submeter esses insurgentes. Elas denunciam as cerimônias secretas praticadas nas Lojas, rituais variados, sinais e palavras de reconhecimento, todos se escondendo atrás de um segredo inaceitável tanto pelas autoridades católicas quanto civis. Para o Estado é uma conspiração; para os religiosos uma paródia blasfema da missa. Investigações são conduzidas que resultam em anúncios em púlpito em todo o reino da França, proscrevendo, sob as penas mais graves, o ingresso em sociedades de companheirismo. Foi dado, assim, o sinal para a perseguição. Em 1641 o bispo de Toulouse excomungou todos os companheiros.

Publicado 25 de junho de 2011


http://www.fm-mag.fr/article/90/le-vatican-et-la-franc-ma%C3%A7onnerie-chronique-dune-m%C3%A9connaissance

segunda-feira, 25 de julho de 2016

A ARQUITETURA DO UNIVERSO

Autor: João Anatalino

O santuário da tradição

Sabemos que a Cabala vê no desenho do universo uma forma projetada pela mente de Deus. Nesse sentido ele é como se fosse um plano de arquitetura pré-concebido e estruturado com extrema precisão. Esse plano é demonstrado admiravelmente na extraordinária simbologia dos Quatro Mundos e no desenho da Árvore da Vida. Nessas duas concepções simbólicas, onde a intuição dos mestres cabalistas superou seus próprios conhecimentos positivos á respeito do mundo, encontramos um projeto extremamente sugestivo da evolução do todo universal, com suas visões passadas, presentes e futuras, com todas as suas especificações e finalidades.

Nessa visão estrutural do plano cósmico fica mais simples encontrar um lugar para o complexo das intuições humanas, que a nossa mente, por falta de uma linguagem apropriada, não consegue explicar. Os pressupostos da metafísica, que tanta perplexidade causa aos estudiosos quando são comprovadas em testes de laboratório, assumem contornos mais visíveis, mais inteligíveis e mais belos até, porque nesse caso eles vêm vestidos de uma simbologia que nos enche os olhos e uma poesia que nos alegra a alma.

Não é, pois, sem razão, que a Maçonaria ─ aos nossos olhos uma experiência social e espiritual com um pé firmemente apoiado na tradição cabalística ─ chama Deus de Grande Arquiteto do Universo. E o porquê de o Templo onde se reúnem os maçons ter sido concebido como um simulacro do Cosmo, adotando uma estrutura semelhante ao desenho da Árvore da Vida.

Isso ocorre porque nessa visão mística do processo de construção do edifício universal, a Divindade é comparada a um arquiteto que projeta o edifício e depois os seus mestres de obras, os arcanjos (arcontes), e os seus pedreiros, os homens, o constroem. É nesse mesmo sentido que a planta do Templo maçônico é desenhada como se fosse uma espécie de mandala mágica, e construído de forma a captar a energia criadora, para que o psiquismo dos Irmãos ali reunidos seja carregado com as melhores virtudes, e os vícios porventura existentes sejam dissolvidos. Essa é a ciência maçônica por excelência, que é sintetizada na chamada “egrégora”, palavra que designa a energia cósmica captada pela mente das pessoas reunidas no Templo, em estreita união, e convergentes para a consecução de um mesmo objetivo.

Esse também, diga-se de passagem, é o elo simbólico que justifica a tradição maçônica de considerar o templo onde os Irmãos se reúnem uma cópia do Templo de Jerusalém, na forma como ele foi projetado pelo arquiteto Hiram Abbif e construído pelos arquitetos do rei Salomão.(1)
Todo iniciado na tradição maçônica sabe que o Templo de Jerusalém foi erigido segundo instruções místicas, que visavam reproduzir nesse edifício o próprio desenho do Cosmo, e que, segundo acreditavam os israelitas, era a “morada de Deus ”. (2)

Essa visão se justifica plenamente, pois na construção de um edifício, quanto mais sofisticado ele for, mais encontraremos noções de ciência aplicada. Nele se aplicam conhecimentos de física, química, geologia, sociologia, matemática, astronomia e muitas outras disciplinas, necessárias á perfeita construção e adequação do logradouro às necessidades que ele visa atender. É o que dizia Fulcanelli, por exemplo, quando se referia á catedral gótica, que no seu entender, era um verdadeiro santuário de tradição e aplicação das ciências físicas e sociais. (3)

O segredo do Tabernáculo

A Cabala chama de Sod aos enigmas que estão ligados ao desenho estrutural do universo, os quais foram reproduzidos na planta do primeiro Templo de Jerusalém. Por isso ele era originalmente chamado de Santuário da Solidão, pois ali reinava o Ùnico, o Santo dos Santos, que não tinha par entre todas as potestades do universo.

Como se sabe, o Templo de Jerusalém foi desenhado a partir das instruções que Deus deu a Moisés para a construção do Tabernáculo. Todos os utensílios, os adereços, as vestes dos sacerdotes e as próprias medidas do Templo tinham uma função específica e um significado arcano de grande importância.

O Tabernáculo tinha três divisões representando o céu (o altar onde ficava o Santo dos Santos), o mar (onde ficava o Lavatório, a grande bacia de bronze) e a terra (o Átrio, onde ficava o povo e altar do holocausto). Os quatro tipos de tecido usados na confecção do Tabernáculo simbolizavam os quatro elementos; a sobrepeliz do Sacerdote Supremo (Cohen gadol) com suas variações cromáticas era a imagem do universo nascente, que em sua origem apresentava uma profusão fantástica de cores.(4)

As campainhas significavam a harmonia do som, já que um dos elementos com os quais Deus faz o universo é o som; as doze pedras preciosas no peitoral do sacerdote e os doze pães da preposição simbolizavam, no plano cósmico, os doze signos do zodíaco e no sociológico as doze tribos de Israel, maquete da Humanidade Autêntica. As duas esmeraldas nas ombreiras do sacerdote eram o sol e a lua. Na mitra do sacerdote as quatro letras do Nome de Deus (IHVH), diziam que todo o universo era construído a partir das letras do Nome Sagrado. O candelabro de sete braços (menorah) significava os sete planetas conhecidos na época. A mesa arrumada na direção norte, com os pães da preposição e o sal, todos arranjados na forma de uma mandala mágica, homenageavam a chuva e o vento, forças necessárias á produção da terra. A grande bacia de bronze que os sacerdotes usavam para lavar os pés e as mãos simbolizavam a limpeza de caráter que o homem devia mostrar frente á divindade.

Assim, na simbologia do Templo de Jerusalém e de seus utensílios estava descrita toda a estrutura de constituição física do universo e, além disso, um vigoroso código de moral para guiar os seus construtores. Essa também seria a formulação simbólica que viria a inspirar, na Idade Média, os maçons operativos na mística da sua arte. Por isso é que eles mostravam, na execução do trabalho puramente operativo, o desvelo próprio de um artista que sente estar copiando a própria obra de Deus; e na alma que assim se consagra a esse trabalho havia um sentimento de ascese que transcendia o plano físico para levá-lo ao arrebatamento próprio daqueles que se dedicam á uma prática de natureza sagrada. Estava, assim, nascida a mística operativa que deu origem á Maçonaria.(5) 

O templo e o homem

Por outro lado, são muitas as tradições que sustentam ser o organismo humano, integrado á sua parte espiritual, um desenho do próprio universo, do qual reflete sua formulação mecânica e suas leis de formação e desenvolvimento. Essa analogia entre o homem e o universo se revela no postulado, tão caro aos hermetistas e já bem aceito por cientistas de renome, de que no microcosmo (o homem) se repetem as mesmas leis que formatam o macrocosmo (o universo).(6)

Se tudo isso é verdade provada ou mera especulação, só Deus poderia dizer. Nós só podemos deduzir e acreditar ou não. Mas há algumas coisas que não podem ser ignoradas. Uma delas é o que diz a teoria da evolução. Segundo essa teoria, todas as espécies vivas são "fabricadas" pela natureza com um "programa" específico que as submete a um processo evolutivo inexorável. Esse “programa” é necessário tendo em vista as constantes mudanças ambientais a que o universo está sujeito. A espécie que não consegue adaptar-se a essas mudanças acaba sendo substituída por outras mais competentes.
Essa é uma lei existente na natureza, chamada pelos antropólogos, de lei dos revezamentos. (7)

Ela existe para promover uma necessária evolução nas espécies por ela produzidas por meio do aperfeiçoamento das suas habilidades e capacidades. Não se aplica somente ás espécies vivas, mas á toda a realidade universal, inclusive aos elementos químicos e a matéria bruta em geral. Pois todos os elementos químicos também são obtidos por interação de seus componentes, da mesma forma que os organismos moleculares. Quer dizer, repetem-se na matéria bruta os mesmos processos que formatam a matéria orgânica e tanto uma quanto a outra estão sujeitas ás mesmas leis de nascimento, formação, desenvolvimento e desaparecimento, o qual se dá pelo fenômeno da transformação seletiva.

Por isso, a teoria da evolução encontra mais paralelos na doutrina da Cabala do que nas outras tradições religiosas. Aqui ela é figurada através de um desenho mágico ─ filosófico, chamado Árvore Sefirótica, ou Árvore da Vida, esquema místico que representa as manifestações da divindade no mundo das realidades sensíveis. Nesse desenho, cada sefirá é uma fase de construção do universo e reflete um processo de evolução perene, constante e ordenado, que serve tanto para explicar o processo de construção das realidades do mundo material, como das realidades do mundo espiritual.

A Árvore da Vida mostra o mundo (e o homem) sendo construído como se ele fosse um lago que transborda e vaza para outro lago, até formar o grande mar universal, onde todas as formas de existência, físicas e espirituais, podem ser encontradas. Essa visão não deve ser considerada uma alucinação mística nem apenas uma especulação metafísica. Sabemos que quando dois elementos químicos se juntam eles formam um composto. Conservam suas características particulares, mas também formam um terceiro elemento com diferentes propriedades. O composto, que é o filho nascido dessa união, possui as propriedades dos elementos que o formaram e agrega aquelas que são desenvolvidas por ele próprio. Nessa fórmula está o segredo da teoria da evolução. Dois átomos de hidrogênio combinados com um de oxigênio formam uma molécula de água. A água é um composto, "filho de H²0," que tem H (hidrogênio) e O (oxigênio) na sua composição, mas também tem outras propriedades que seus "pais", individualmente, não possuem. Ela tem a propriedade de incubar a vida. A água é necessária à vida. É o leito onde ela nasce. É nesse sentido que Teilhard de Chardin vê o homem como sendo um “complexo-consciência”, ou seja, um composto feito por elementos orgânicos, obtidos por sínteses naturais (seleção natural) e elementos psíquicos, produzidos por sínteses mentais cada vez mais elaboradas, que resultam em um espírito individual, e estes, em um ser pluralístico, que no final comporão um ser espiritual coletivo que ele chama de Ponto Ômega.(8)
Assim também acontece com o restante do universo. Cada fase da evolução é uma combinação de elementos. Cada nova fase desenvolve suas próprias particularidades, que são as propriedades com as quais ela contribui para o desenvolvimento do universo como um todo. Por isso cada fase constitui um passo a mais no processo de evolução porque o composto que nasce da união dos elementos é sempre um resultado mais complexo dos que os elementos que o formam. Nada se perde do que já foi conquistado, apenas se transforma em algo novo, com diferentes propriedades, sempre em um estágio mais avançado de evolução. 

Por isso o novo é sempre maior que a soma das suas partes. Novas propriedades são adicionadas ao universo a partir de cada interação praticada por seus elementos. E assim ele se supera em cada momento da sua constituição.

Criacionismo e evolucionismo

Um plano de evolução do mundo físico e da vida em seus aspectos material e espiritual é o que nos proporciona a doutrina da Cabala. Ela oferece uma explicação de como o universo se forma, como se desenvolve e à que finalidade se presta. Da mesma forma, a vida que se cria e evolui dentro dele. É uma evolução que se desenha em um processo iniciado no mais ínfimo grão de matéria (um quanta de energia) tornando-se matéria que se complexifica, evolui tornando-se vida, em vida que se espiritualiza, em espírito que se diviniza, sempre num sentido ascendente, através de sínteses químicas e mentais cada vez mais complexas, seguindo o mesmo rumo: a flecha da evolução. Nossa missão, nesse esquema, torna-se clara e insofismável, pois sendo uma presença indispensável nesse processo, o homem torna-se o centro da perspectiva universal, já que é a partir da sua mente que o universo se organiza e adquire uma identidade.

Assim, não podemos compartilhar dos receios daqueles que temem pelo futuro da humanidade. A humanidade jamais perecerá: ela apenas se transformará. Os adeptos da teoria da evolução dizem que o ser humano evoluiu de uma matriz animal até a configuração que temos agora. Já aqueles que acreditam no criacionismo dizem que nós nascemos perfeitos, mas nos tornamos imperfeitos por força de uma série de quedas e ascensões em nosso processo evolutivo.(9)

São duas teorias diametralmente opostas. Uns dizendo que já fomos piores do que somos hoje e outros sustentando que já fomos melhores. Mas no fundo elas se completam, pois ambas sustentam que a vida está submetida á um processo de evolução que é inexorável. Se nascemos rastejantes como répteis e através de um processo de evolução nos alçamos até a altura do céu, ou se nascemos no céu e por um motivo qualquer descemos á terra e agora estamos nos esforçando para voltar ao céu, são apenas formas diferentes de ler o mesmo processo. Uma vai do pé para a cabeça, outra da cabeça para o pé. Acreditar em uma ou outra depende da sensibilidade de cada um.

Só se Deus não existisse

Para nós não importa saber quem tem razão. Na verdade, o que nos parece tão assustador com os rumos que a humanidade vem tomando é resultado apenas da nossa ignorância. Não temos como saber o que poderá acontecer a cada nova experiência interativa que os elementos do universo promovem. Isso porque o Criador colocou nesse processo uma lei chamada “principio da incerteza” (deduzido pelo físico alemão Werner Heisenberg). Segundo esse princípio é impossível prever o que acontecerá no futuro porque não temos como saber qual a posição e a velocidade que as partículas de energia que formam a massa física do universo assumirão no momento seguinte da sua aceleração. Só podemos estudar as tendências que ele tem de acontecer de certo modo, mas nunca uma certeza de que será exatamente assim. Isso porque a tendência de uma partícula se comportar desta ou daquela maneira só pode ser deduzida a partir dos seus comportamentos no momento em que são observadas. Mas a própria observação do movimento da partícula já concorre para modificar esse movimento. Portanto, ao aplicar aos elementos do universo o nosso pensamento nós já o estamos modificando. Assim, é impossível saber como ele será no futuro porque o mundo sempre poderá será diferente em função da própria observação que dele fazemos.(10) 

Isso é válido para o mundo da física quântica e também para a nossa vida em geral. Essa é uma boa sabedoria que a moderna observação científica nos dá, e a Cabala também. 

O que se deduz disso tudo é que, se o universo futuro será bom ou ruim para nós, isso só depende do nosso comportamento no presente. Mas isso não nos será dado saber á nível de consciência individual. E depois, bem e mal são conceitos puramente humanos. Quando não formos mais o que somos hoje, talvez não precisemos mais desses conceitos para justificar os nossos sentimentos a respeito. Dessa forma, o que podemos dizer com certeza é que o mundo só não teria futuro se Deus não existisse. Mas Ele simplesmente (e felizmente) existe.

1.Esse pressuposto é colocado tendo em vista a tradição maçônica e não a história propriamente dita, pois historicamente, conforme relata a Bíblia e também o historiador Flavio Josefo, Hiram não era arquiteto, mais sim um metalúrgico que fundiu as colunas de bronze do Templo e os utensílios de culto neles usados. Segundo algumas tradições maçônicas o verdadeiro arquiteto do Templo de Jerusalém foi Adonhiram (Hiram, filho de Adon). Essa tradição é cultivada no Rito Adonhiramita, cuja organização é atribuída ao Barão Theódore Tschoudy (1727- 1769), nobre francês, reformador da Maçonaria francesa. Ver, a esse respeito, Jean Palou- Maçonaria Simbólica e Iniciática- Ed. Pensamento, 1986.
2. Alex Horne- O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. São Paulo. Ed. Pensamento, 1998.
3.Fulcanelli. O Mistério das Catedrais. Lisboa, Ed. Esfinge, 1964.
4. Ver, nesse sentido, a imagem apresentada por Stephen Hawking sobre a coloração inicial do universo saído do Big-Bang. O Universo em Uma Casca de Nóz- citado. Sobre esse assunto ver ainda a concepção de Gershon Scholem sobre a experiência mística, onde ele diz que “quase todos os místicos do nosso conhecimento retratam essas estruturas como configurações de luzes e cores”. Não seria essa uma indicação de que o nosso inconsciente tem, de fato, uma ligação mística com o início de todas as coisas?A
5. lusão á crença dos antigos maçons que construíam os templos religiosos na Idade Média, de que eles eram os “operários do Bom Deus”, pois estavam construindo na terra as moradas da divindade. Por isso o caráter sacro da sua arte. Na Imagem, reconstituição do Templo de Jerusalém: Fonte: Alex Horne: O Templo de Salomão na Tradição Maçônica.
6. Em linguagem hermética, “o que está em cima é igual ao que está em baixo.”.
7.Lei dos revezamentos, em antropologia, é a lei segundo a qual os organismos que não desenvolvem uma estrutura capaz de sobreviver em ambientes desfavoráveis e diferentes daqueles nos quais vivem, fatalmente serão substituídos por outros mais competentes. Com isso a natureza mantém o processo da vida sempre ativo e com claro sentido evolutivo. Ver, nesse sentido, Teilhard de Chardin - O Fenômeno Humano, citado.
8. Teilhard de Chardin- O Fenômeno Humano, Ed. Cultrix, 1990.
9.Evolucionistas são aqueles que acreditam que as espécies vivas, e por consequência, os seres humanos, são produto de uma seleção natural (teoria de Charles Darwin). Os criacionistas são aqueles que acreditam que a espécie humana já nasceu do jeito que ela é hoje: a fórmula bíblica literal.
10. O princípio da incerteza é um enunciado da mecânica quântica, feito em 1927 pelo físico Werner Heisenberg, que diz ser impossível medir com precisão a velocidade de deslocamento de partículas atômicas, porque a própria interação entre o movimento delas e o ato de medir sua velocidade interfere nessa medida. 
João Anatalino