sexta-feira, 3 de julho de 2015



EXPLICAÇÃO HISTÓRICA SOBRE O SALMO 133

Autor:  Jesuel Rosa de Oliveira

Monte Hermon

“Oh ! Quão bom e agradável vivermos unidos os irmãos ! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Aarão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião. Ali ordena o senhor a sua benção e a vida para sempre”.

Israel assim como seu povo é abençoado por Deus, dizem em histórias populares, que é o povo escolhido, situado entre a cadeia de montes de Sião, de onde se destaca majestosamente o monte Hermon, um verdadeiro oásis, contrastando com os países vizinhos; Cortado por diversos e importantes rios, dentre eles o mais famoso, o rio Jordão, às suas margens estende-se verdejantes videiras e oliveiras assim com produz tudo o que se planta.

Como Jerusalém está situada na meseta central da Palestina, para chegar à cidade santa de qualquer parte da terra, é preciso “subir”, o que explica bem a razão de ser da expressão “das subidas”, circundada pelos montes de Sião, onde o senhor escolheu para morar, de onde se destaca majestosamente o monte Hermon.

O monte Hermon por sua vez, destaca-se por sua magnitude, de tão alto, há neve em seu cume o tempo todo, e é de lá, que após que vem o orvalho santo junto com as bênçãos; A neve derretida, forma os rios e os lençóis de água, e por sua importância é que no salmo 133, destaca de forma tão bela.

Quando Davi falava “O quão bom e agradável vivermos unidos os irmãos! ” importância que dava aos povos de diversas aldeias que iam aos templos de Jerusalém para rezar, e Jerusalém por sua vez, tratava à todos dessa forma, acolhia quem quer que fosse, viesse de qualquer lugar.

E o óleo citado “...é como o óleo precioso...” era um perfume raríssimo à base de mirra e oliva, usado para ungir os reis e sacerdotes, e ou aqueles neófitos que aspiravam a alguma iniciação; Importante à ponto de comparar com os irmãos unidos e sua grandiosidade.

Agora quando fala “...é como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião...” refere-se ao monte em sua pujança, sua importância para a existência de Israel, dos montes vem o orvalho e o orvalho é a água, a vida, a natureza, o bem mais precioso.

Para situarmos melhor na história, falo agora do significado de cada citação, de onde podemos refletir e só assim, entendermos o que Davi dizia:

OS IRMÃOS:

Quando o Salmo 133, sugere “...que os irmãos vivam em união...” estamos traçando um programa de convivência amena e construtiva, e se voltarmos no tempo, veremos que a palavra “irmão” se revela uma necessidade entre os homens e ela mesma. Com toques divinos, não menor necessidade que temos dela hoje, basta que encaremos o panorama humano dos nossos dias atormentados pelas divergências e alimentados pelo ódio mais profundo.

O ÓLEO

“ Os óleos vegetais são produtos de secreção das plantas, que se obtém das sementes ou frutos dos vegetais, são substâncias gordurosas das quais muitas comíveis líquida e de temperatura ordinária” Bem, podemos ver que não se trata de nova tecnologia O óleo citado, usado para unção sagrada, era uma das espécies porém muito especial.

AARÃO

O membro destacado da tribo de Levi, irmão mais velho de Moisés e seu principal colaborador, possui um peso próprio na tradição bíblica, devido ao seu caráter de patriarca e fundador da classe sacerdotal dos judeus.

A BARBA

Pelos espalhados pelo rosto, adorna a face do homem desde os mais remotos tempos, a barba mereceu dos mais variados, novos semitas e não semitas da antiguidade, um trato especial, destinaram-lhe grandes cuidados. Não apenas um símbolo de masculinidade e podemos exemplificá-la com os varões que engrandeceram o império Brasileiro, figuras imponentes pela conduta e em particular, símbolo de austeridade moral.

Os Israelitas a que pertencia Aarão, evidenciaram especial estima pela barba, a ela conferiam forte merecimento, apreciável atributo do varão, que externava pela sua aparência, sua própria dignidade. Os Israelitas por si mesmo, pelo que ela representava, raspá-la e eliminá-la do rosto, demonstrava sinal de dor profunda.

AS VESTES

De especial significa litúrgico e ritualístico, eram as vestes daqueles que tinham por missão exercitar atos religiosos, como a unção, o sacrifício, o culto e variava de conformidade com os diversos ofícios religiosos para invocação da divindade.

Havia especial referência pela cor branca nas vestes sacerdotais, nas representações egípcias contemporâneas ou posteriores ao médio império, os sacerdotes usavam um avental grosseiro e curto, já o sacerdote leitor, usava uma faixa que lhe cobria o peito como distintivo de sua categoria, enquanto que o sacerdote vinculado ao ritual de coroação, exibia uma pele de pantera.

No velho testamento presume-se o uso de um avental quadrado, quando se fala na proibição de aproximar-se do altar através das grades, talvez um precursor do avental maçônico.

Então o óleo sagrado era jorrado sob a cabeça da pessoa a ser ungida, desça pela barba e escorria à orla de suas vestes.

O ORVALHO

O esplendor da natureza oferece a magia do orvalho, que desce das alturas para florir de viço as plantas, nada mais belo e nada mais sedutor do que o frescor das manhãs, ver como as folhas cobrem-se de uma colcha unida, onde vão refletir os raios avermelhados do sol que traz luz.


No capim deposita-se o orvalho cama verde e amiga, em gotículas que, juntando-se umas às outras, vão nutrir a terra ávida de alimento, parecem espadas de aço ao calor do dia, nas pétalas florias, formando-se perolas do líquido cristalino, espelho da vida que exulta ao redor.

O MONTE HERMON

Trata-se de um maciço rochoso situado ao sul-sudeste do antilíbano do qual se separa um vale profundo e extenso, apresenta-se de forma de um circulo, que vai de nordeste à sudeste. Explicando um pouco mais, para entender a geografia dessa região que viram nascer a história do mundo bíblico: O Antilíbano é a cordilheira que se estende paralelamente ao Líbano, separando das planícies de Bekaa. De todas as cadeias montanhosas, é a que se posta mais ao oriente, pois desenvolve-se no nordeste ao sul-sudeste, por quase 163 quilômetros, suas extensões e alturas são visíveis à partir do mediterrâneo; Seu ponto culminante é o monte Hermon, com mais de 2.800 metros de altitude, possui neve em seu cume e de lá o vento traz o orvalho.

O MONTE SIÃO

Também chamado de monte de Deus, o monte Sião não que seja santo por si mesmo, más porque o Senhor o escolhera para ser sua morada, para todos, o monte será um refúgio seguro e inabalável.

O orvalho que escorre de Hermon para os montes de Sião, como o senhor ali mora, é dele que escorre o orvalho abençoado, todas as suas complacências.

Em Salmos 2:6 vemos que Deus mesmo instalou seu rei sobre o monte santo, “ Eu, porém constituí meu rei sobre o monte Sião ” O mesmo lugar em que Abraão ia sacrificar o filho conforme ( 2 Cr 3:1 e Gen. 22:2).

A BENÇÃO

Tudo que é bom e lhe é agraciado; Em Hebraico, seu significado é “berakak” palavra que deriva de “Berek” que por sua vez significa joelho. Nota-se a relação entre uma e outra palavra, porque, sendo a benção a invocação das graças de Deus sobre a pessoa que a recebe, deve ser colhida com humildade e unção, portanto, de joelhos em terra, reverenciado e respeitosamente.

Para os Semitas, benção possui força própria, e por isso, é capaz despertada a sua potencialidade energética de produzir a saúde, palavra que se acha envolvida por vibração, carregada de energia dinâmica e magia.

“O onipotente te abençoará com a benção do céu, com as bênçãos do abismo, que jaz embaixo, com as bênçãos dos seios maternos e dos úteros”.

(Gênesis 49:25)

Assim “ ...Porque ali o senhor ordena a benção e a vida para sempre.


Ir.`. M.`. M.`. Jesuel Rosa de Oliveira
A.`.R.`.L.`.S.`. Estreta da Fraternidade nº. 15
Or.`. de Jaru/RO

O mito da Fênix

                                                                                                          Autor: João Anatalino

O mito da Fênix é um dos arquétipos mais compartilhados pelo inconsciente humano em todos os tempos. Iremos encontrá-lo em quase todas as tradições antigas, geralmente conectado com o anseio humano de imortalidade, ou de um renascimento em outra forma ou condição de vida.

Diz a lenda que a fênix (em grego ϕοῖνιξ) é um pássaro que, quando morre, seu corpo entra em combustão espontânea, e depois de algum tempo, de suas cinzas nasce outro pássaro. A tradição sustenta que ela é uma ave muito forte, que é capaz de transportar cargas muito pesadas, e se atacada pode se transformar numa bola de fogo.

A lenda descreve a fênix como sendo um pássaro de porte superior a uma águia, com lindas penas brilhantes, da cor de ouro, com matizes vermelho-lilás. Teria uma vida bastante longa, podendo chegar a quinhentos anos. Mas houve quem dissesse que ela poderia viver até 97.200 anos, sendo por isso, o pássaro símbolo da imortalidade.

O mito da fênix ficou famoso na mitologia grega, mas provavelmente é bem mais antigo do que a própria civilização grega. Há registros milenários no Antigo Egito que falam de um pássaro chamado Bennu, que tinha exatamente essas características da fênix grega. Ele era o pássaro de Rá, portador da chama do sol. Diziam que ele era o mensageiro desse deus, e seu ciclo de vida representava exatamente a duração dos ciclos de vida da natureza, ou seja, quando grandes mudanças ocorriam na terra. Assim, quando um ciclo estava para terminar, esses pássaros voavam ao Santuário de Heliópolis, pousavam na pira do deus Rá e se imolavam na fogueira. Depois de algum tempo, de suas cinzas nasciam novos pássaros, indicando o renascimento da terra. 

Os historiadores, de uma forma geral, tendem a reconhecer nesse mito um comportamento natural de certo tipo de garças (hoje extintas) que viviam no antigo Egito. Quando o ciclo natural das enchentes do Nilo, que ocorriam invariavelmente de sete em sete anos, diminuía, esse tipo de aves se retirava para o deserto e botavam seus ovos na areia. Depois morriam em função do sol sufocante. Os ovos eram chocados pelo calor da areia e dai nasciam os filhotes. 

A lenda egípcia dizia que a ave, sentindo a proximidade da morte, fazia um ninho com ramos de canela, sálvia e mirra, a qual sendo aceso pelos raios do sol se transformava numa pira onde ela se imolava. Era um sacrifício natural oferecido ao Deus Sol (Rá), para garantir o renascimento natural da vida na terra. E das suas cinzas erguia-se então uma nova fénix, que recolhia os restos mortais da sua antecessora e os levava até o Santuário de Heliópolis, onde os colocava no Altar de Rá.

Os sacerdotes egípcios diziam que as cinzas da fênix tinham o poder de ressuscitar um morto. Esse mito era tão divulgado entre os povos antigos que o próprio imperador romano Heliogábalo (204-222 d. C.) quis comer a carne desse pássaro com o objetivo de conseguir a imortalidade. Mas sendo uma ave mítica, cuja existência era duvidosa, as pessoas encarregadas de providenciar o bizarro repasto não conseguiram encontrar um desses pássaros e lhe enviaram uma ave-do-paraíso, que tinha uma aparência bem próxima da mítica ave. O doido imperador comeu a ave, mas foi assassinado dois anos depois.

Provavelmente, a lenda da fênix é uma alegoria adaptada das crenças egípcias a respeito da morte e renascimento diários do sol. Na religião de Heliópolis, o sol era visto como um astro-deus que morria e renascia todos os dias. Como ele era sempre o mesmo, renascido de si mesmo, a analogia com o mítico pássaro ficou estabelecida e ganhou status de lenda.

Em algumas tradições ela era identificada com a estrela Sótis. Na Grécia ela era também reconhecida como o pássaro de Hermes. Na China e no Japão era o símbolo da felicidade, virtude, força e inteligência. Na tradição cristã, a fénix tornou-se o símbolo da ressurreição de Cristo. E para os alquimistas era o símbolo da regeneração da natureza, momento sublime em que a matéria da Obra começava a sua regeneração para se transformar na Pedra Filosofal. 

A fênix na Maçonaria

No moderno ritual do Rito Escocês Antigo e Aceito, o mito da Fênix é uma alegoria que aparece no grau dezoito, consagrado ao Cavaleiro da Rosa-Cruz. Por se tratar de uma alegoria essencialmente alquímica, ela integra a tradição hermética da morte ritual e do renascimento em outro nível de consciência, como acreditavam os alquimistas poder fazer com o material trabalhado em seus laboratórios e com os seus próprios espíritos.


Aqui, o recipiendário “perdido nas trevas, na encruzilhada dos caminhos, perto do total abatimento e da morte, ouve uma voz misteriosa saída do fundo da sua alma”. (palavras do ritual do grau). É nesse momento que ele reencontra a Palavra Perdida, oculta sobre as asas da fênix, no instante em que ela renasce das cinzas. E ele se sente como se “um sopro o penetrasse, no momento em que murmura, afastando-se, a Palavra que para ele é a revelação de uma nova Luz.” E dali ele sai reanimado, renovado, porque agora sabe que a Palavra Perdida significa “ Igne Natura Renovatur Integra”, ou seja, que a natureza inteira se renova pelo fogo, e que essas palavras são justamente as iniciais colocadas sobre a cruz de Cristo (INRI). É nesse instante que ele tem a revelação final e fundamental do mistério contido na Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, ou seja, o verdadeiro significado desse mistério magno da cristandade.

Na Maçonaria o mito da fênix é invocado em toda sua grandeza iniciática para mostrar a natureza que se renova em toda sua integridade, pela ação fogo, que aqui significa tanto o trabalho do alquimista no seu forno, cozendo e recozendo o material da Obra, quanto o batismo cristão, conforme preconizado por João Batista. Ambos são analogias que simbolizam a prática da doutrina renovadora da Maçonaria.

E rosa mística, centralizada no ponto de encontro dos braços da cruz é esse ponto crucial do universo, ou da alma humana, onde a Palavra Perdida é recuperada e faz nascer, da própria morte, a vida renovada. A mística do ensinamento iniciático se alia à poesia para dizer ao espirito humano que existe uma esperança, mesmo na mais sombria e aterradora das situações, que é a própria morte.

Na tradição Rosa-Cruz, a luz do mundo morre e renasce no centro de uma cruz. Por isso essa morte e renascimento eram comemorados pelos cavaleiros Rosa-Cruzes nas vésperas das sextas-feiras santas, em cerimônias que evocavam a última ceia de Cristo com seus apóstolos, ocasião em que dividiam um carneiro. Nesse significativo ritual se promove, não só uma evocação á Páscoa hebraica, mas também o retorno do sol no equinócio da primavera, ocasião em que a natureza morta pela ação do inverno, recomeça um novo ciclo. Aí está, em toda a sua grandeza simbólica e beleza poética, o mito da fênix.
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Da Obra “Conhecendo a Arte Real”, Ed. Madras, São Paulo, 2007. 

João Anatalino

Enviado por João Anatalino em 11/01/2011Reeditado em 12/01/2011Código do texto: T2723333




A ORIGEM DO MONOTEÍSMO

                                                                                                              Autor: João Anatalino

Depois de ter declarado Aton o ùnico e verdadeiro Deus a ser adorado nas Duas Terras do Egito, e proibido qualquer menção ou adoração a outros deuses em todo o país, o faraó Akhenaton retirou dos Irmãos de Heliópolis todos os seus privilégios, confiscando-lhes terras e bens, declarando fora da lei seus ritos e cerimônias; e colocando-os sobre a sujeição de Moisés, ele atraiu o ódio dos membros daquela poderosa Fraternidade.

Os sacerdotes não aceitaram Moisés como seu superior e logo conclamaram aos principais chefes dos estados egípcios que reunissem os seus exércitos e fizessem guerra contra Akhenaton, a quem chamavam de herege e cultor de deuses estrangeiros, pois o deus de Moisés era o deus de Israel, e Aton, o deus que ele adotara, era o mesmo deus dos hebreus.

Dizendo ao povo egípcio que se o Deus de Israel reinasse sobre os corações e mentes do povo do Egito, logo os filhos de Israel estariam dominando o país, pois eram grandes em número e muito fortes em corpo e espírito. Assim era, pois muitas pessoas influentes no Egito pertenciam ao povo de Israel. Com isso, os sacerdotes colocaram grande parte do país em revolta contra aquele faraó.

E naqueles dias houve uma grande guerra por toda a terra do Egito. Ela durou mais de dez anos, e muitos foram os que morreram porque o povo se dividiu; e em todas as cidades, as pessoas lutavam com fúria e coragem pelos deuses que adoravam, pois os homens combatem com mais ardor pelas coisas em que acreditam do que por suas famílias ou bens.

Perdida a guerra, porque foram muitos os que se levantaram contra aquele faraó e seu vizir Moisés, (ou Osarseth) logo foi morto aquele Akhenaton e no seu lugar subiu ao trono seu filho Tut-Ank-Amon, um menino de dez anos de idade, cujo governo procurou restabelecer a paz no país revivendo a religião nacional de muitos deuses. Mas ele não conseguiu fazer as pazes com os Irmãos de Heliópolis, e estes, (porque Tut-Ank-Amon se recusou a perseguir e prender os seguidores de Aton e condenar Moisés á morte) envenenaram o jovem rei no nono ano do seu reinado.

Este Tutankamon é aquele que foi sepultado em uma suntuosa tumba no Vale dos Reis, com um enorme tesouro e todos os seus serviçais.

E depois disso aconteceu que os egípcios fizeram rei a um general de nome Horemheb, que logo começou a perseguir e massacrar os seguidores da antiga religião, devolvendo os privilégios da Irmandade de Heliópolis, a qual se fez novamente muito poderosa e voltou-se contra Moisés. Este, para salvar sua vida fugiu para o deserto da Judéia, onde se refugiou no oásis de Madian, que fica nos pés do Monte Horeb, cujo cume nunca se vê, porque está sempre coberto de nuvens. 

E isso ocorreu no ano de 1325 antes do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo; e foi nesse ano que o faraó Horemheb baixou decreto tornando escravos os filhos de Israel, mandando-os trabalhar nas pedreiras, olarias e construções do país, fabricando tijolos, desbastando e polindo pedras para erguer os grandes templos e edifícios, cujas ruínas ainda hoje se podem ver no país do grande rio Nilo.

Essa é a razão pela qual, desse tempo em diante, os filhos de Israel se tornaram os legítimos representantes da Arte Real. 

Foi nas pedreiras de Gósen onde primeiro se adotou a prática de dividir os obreiros em graus, pois ali os trabalhadores eram agrupados em três especialidades, sendo a primeira referente aos que retiravam as pedras das pedreiras, os segundos os que as lavravam e os terceiros aqueles que comandavam os grupos e faziam a administração.

Essa formulação foi trazida depois para a Fraternidade dos Filhos de Aton, organização fundada pelo faraó Akhenaton para disseminar a nova religião e treinar a elite que deveria governar o reino egípcio.

Nessa organização, os estudantes eram escolhidos no seio da sociedade pelos méritos que mostravam em seus estudos e nas atitudes da vida, ou prática da Maat, como se chamava o viver de forma virtuosa no antigo Egito.

No grande Templo de Aton em Khut-Aton, o Sumo Sacerdote Moisés (Osarseph) oficiava os ritos que iniciavam os neófitos nos Mistérios de Aton. Esses ritos, que eram semelhantes aos que foram adotados pelos antigos maçons operativos, foram modificados ao longo dos séculos, mas ainda hoje, na Ordem maçônica, se conservam muitos atos litúrgicos que foram inspirados naqueles rituais, especialmente no que diz respeito à iniciação e aos ensinamentos que são guardados nos símbolos e nas alegorias adotadas pela Maçonaria especulativa.

Por esse motivo há quem defenda a origem egípcia da maçonaria. Por isso, também, é que os Irmãos encontram, nos Templos maçõnicos, muitos símbolos egípcios, e na doutrina da Ordem, muitas referências à antiga religião solar daquele povo.

E muitas coisas que hoje são ensinadas em nossas Lojas têm raiz nessas antigas tradições que o povo do Nilo legou á Arte Real.

A Fraternidade dos filhos de Aton tinha sede no Templo daquele Deus, em Carnac. Ali, os iniciados na nova religião monoteísta, além dos mistérios mais profundos da daquela fé, aprendiam também os segredos da construção dos grandes edifícios e a prática da medicina e as artes da agricultura e da metalurgia. 

Segundo a tradição egípcia, essas ciências foram ensinadas aos egípcios pelo deus Thot, o Enviado de Aton, onze mil anos antes da unificação política do Egito, promovida pelo primeiro faraó, de nome Menés, que viveu cerca de três mil anos antes do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Esses iniciados eram aqueles que, naqueles tempos, eram chamados de Mestres nas chamadas profissões sagradas, como tais eram consideradas as ocupações dos médicos, engenheiros, sacerdotes, astrônomos e homens de ciência, capazes de interpretar a Vontade dos deuses e interferir no curso da natureza, provocando chuvas, mudando o a direção dos ventos, transformando metais comuns em ouro, etc. 

E aqueles que se notabilizavam na arte da construção, que se faziam principalmente com pedras, ficaram conhecidos como Pedreiros, e mantinham entre si uma sólida Irmandade que preservava os segredos da profissão, os quais eram repassados somente aos aprendizes que eles escolhiam, razão pela qual era comum falar-se em uma Confraria dos Irmãos Pedreiros, (porque ainda não existia a palavra maçom).

A Irmandade dos Filhos de Aton, da qual o próprio faraó era o Grão Mestre e Moisés o seu Sumo Sacerdote, tornou-se a mais importante instituição do Egito. Ali era formada a elite intelectual, social e política do país, através de um sistema de aprendizado que compreendia diversos graus de sabedoria profana e sagrada, ministrados conforme a necessidade do estado. Artes profanas em um primeiro estágio, artes sagradas em um segundo estágio, e os segredos mais profundos da natureza e da religião em um terceiro estágio, superior, o qual era também dividido em diversos graus, que comunicavam diferentes tipos de sabedoria.

Dessa forma, os iniciados que passavam para os graus superiores aprendiam também a arte de fabricar ouro, (que os seguidores de Maomé, mais tarde, chamaram de Alquimia), e a sabedoria que os capacitava a interpretar a Vontade do G A D U através do movimento das estrelas e das estações do ano, ( Astronomia, Astrologia) e depois, em graus mais avançados, aprendiam também a arte de guiar os homens em seus pensamentos e ações e a governá-los com retidão e justiça, que era a aplicação religiosa, política e social do conceito da Maat.

A estes que atingiam os graus mais altos na sabedoria se chamavam Mestres e eram eles que ocupavam os cargos mais altos no governo da nação, dirigindo a Política e a Religião, que na prática eram uma coisa só.

Notas

A cidade de Kuth-Aton, construída por Akhenaton é hoje conhecida como El Amarna. As inferências aqui são nossas e foram inspiradas nos trabalhos de Maneto e Apion. Todavia, muitos escritores modernos já aventaram a hipótese de que a revolução monoteísta de Akhenaton se identifica ( se é que não foi literalmente) com o êxodo hebreu descrito na Bíblia. Sigmund Freud, em seu livro “Moisés e o Monoteísmo”, identifica o líder hebreu com o próprio Akhenaton, sugerindo que o Êxodo, na verdade, é uma memória da revolução religiosa promovida por aquele faraó.(1)

A revolução monoteísta de Akhenaton é um dos episódios mais marcantes da história antiga. 

Baseados nas recentes descobertas feitas no sítio de El Amarna, alguns estudiosos têm aventado a possibilidade de o Êxodo israelita para o Egito na época de Jacó (Israel) e sua posterior volta para a Palestina, sob o comando de Moisés, constituir, na verdade, memórias de acontecimentos relatados na história egípcia. Levantou-se, inclusive, as possibilidade de que José, o filho de Jacó, que a Bíblia diz ter sido vendido por seus irmãos como escravo para o Egito, e depois tornou-se um poderoso vizir, graças aos seus dotes de adivinho e talentoso administrador, ser na verdade, o personagem conhecido pelo nome de Yuya, que foi ministro de dois faraós, Tutmósis IV e Amenhotep III, este último, pai de Akhenaton. 

Nesse caso, Akhenaton também teria sangue hebreu e Moisés, na verdade, seria talvez o próprio faraó que promoveu a famosa revolução moneteísta no Egito. Em qualquer caso, porém, Moisés teria, pelo menos, um parentesco muito próximo com esse rei. Dessa forma, a religião monoteísta dos hebreus seria resultante da revolução religiosa provocada por aquele rei. Destarte, o nome Adonai, pelo qual os hebreus chamavam ao seu deus, constituiria apenas a forma hebraica do deus egípcio Aton,( ou o contrário), que Akhenaton sustentava ser o único deus do universo.

A tumba do vizir Yuya foi encontrada em 1905 no Vale dos Reis. A possibilidade de que esse poderoso ministro dos reis de Amarma ter sido, realmente, o José bíblico, foi levantada por Ah-med Osman em seu livro ”A Stranger in The Valley of Kings” e se aceita, poderia explicar as raízes do monoteismo hebreu.

Gósen é identificada como a antiga Avaris, capital dos hicsos, povo semita que dominou o Egito entre os séculos XVIII a XV a C. Seus reis eram conhecidos como ”os reis pastores”, e não poucos historiadores acreditam que hicsos e hebreus sejam exatamente o mesmo povo, ou que pelo menos, exista uma relação de parentesco muito próxima entre eles. Assim, a escravidão a que foram submetidos os filhos de Israel no Egito e a sua conseqüente saída ( ou expulsão) das terras do Nilo coincide com o término do domínio hicso sobre os egípcios.

Quanto á organização dos pedreiros, acima citada, o relato dessa experiência foi feito por Maneto, historiador egípcio que viveu no terceiro século a C. Essa informação é referida também por Apion, historiador judeu-egípcio que viveu no primeiro século da era cristã. No entanto, Maneto se refere a essa organização de pedreiros como sendo composta por hebreus e egípcios expulsos das cidades pelo fato de serem leprosos, (o que justifica o fato de Moisés se preocupar tanto com a lepra entre os hebreus e até ter prescrito muitas regras a respeito do tratamento dessa doença). Apion diz que esses leprosos tinham sido postos a trabalhar nas pedreiras para que não contaminassem a população sadia. Lá eles teriam se organizado e escolhido como seu líder um sacerdote de Heliópolis chamado Osarseth, o qual lhes deu uma organização de sociedade exclusiva e secreta, que repudiou os deuses do Egito e adotou costumes completamente diferentes dos vigentes entre os egípcios. Esses costumes eram muito semelhantes aos que Moisés prescreveu para os hebreus, O trabalho dos israelitas na construção de grandes edifícios mostra que sua tradição como Irmãos Operativos é anterior à construção do grande Templo de Jerusalém, o Templo de Salomão, que a maioria dos autores maçon identifica como origem da Arte Real.(2) 

O faraó Amemhotep IV (Akhenaton ) reinou 17 anos, de 1367 a 1350 a C. Seu período é identificado como um dos mais agitados da historia egípcia, por causa da prosperidade econômica e pelas profundas mudanças políticas, sociais e religiosas que ocor-reram no pais durante seu governo. A guerra que ele provocou com sua tentativa de impor uma religião monoteísta aos egípcios foi bem retratada no romance de Mika Waltari, “ Sinouê, O Egípcio”, mas também é um dos mais bem documentados episódios da história daquele povo, graças aos documentos recuperados nas escavações feitas em El Amarna.

O próprio Vizir Yuya,( cuja tumba foi encontrada no Vale dos Reis em 1905), que alguns autores identificam com José, o filho do patriarca Jacó, que foi vendido como escravo por seus irmãos e se tornou primeiro ministro de dois faraós, é um exemplo do poder que os hebreus tinham no Egito. A Bíblia também se refere a esse fato dizendo. “Entretanto, se levantou no Egito um novo rei que não conhecia (aceitava) José e que disse ao seu povo “ Vós bem vedes que os filhos de Israel estão muito numerosos e mais fortes do que nós. Oprimamo-lo pois, com manha, para não suceda que, sobrevindo alguma guerra, ele se una com os nossos inimigos, e vencendo-nos, saiam depois do Egito.” (Êxodo “1: 8,9,10). Por isso a nossa crença de que a imigração dos hebreus para o Egito, 

No Antigo Egito, a idéia de um estado de perfeita ordem e harmonia estava embutida no culto à deusa Maat, a deusa da justiça e da retidão de caráter. Acreditava-se que essa divindade era a mediadora entre as potências do céu e da terra. Ela regulava as relações entre os deuses, estabelecendo a harmonia entre eles e deles com a espécie humana, fazendo com que estes pudessem viver em paz e em união. Por isso, todos os homens de responsabilidade na sociedade egípcia deviam viver de acordo com a Maat, ou seja, agir de acordo com rigorosos princípios religiosos morais, vivendo uma vida justa e perfeita, em todos os sentidos. Falhar em viver segundo esses princípios implicava em ser julgado com muita severidade no chamado Salão de Maat ( o Tribunal de Osíris, onde as almas dos mortos eram julgados), ao passo que aqueles que viviam suas vidas de acordo com essas regras eram conduzidos pelo deus Osíris através da Tuat, ( a terra da escuridão) até o outro lado, onde recebiam a Luz de Rá, ( O sol radiante) e se integravam à luz que emanava daquele deus.

Na iconografia egípcia, a deusa Maat aparece como sendo a esposa, ou a parte feminina do deus Thoth, que com ele veio ao mundo quando as águas do abismo primitivo se abriram pela pri-meira vez. Seu símbolo era uma pena, que representava a leveza de alma que devia caracterizar todo aquele que ambicionava atingir a iluminação. Nos tempos mais antigos do Egito, o nome dessa deusa estava conectado também com os artesãos, sendo considerada a sua protetora e guia. Uma obra com qualidade Maat significava uma obra perfeita. (3) 

Maat era a deusa da moral e da Justiça. Ela representava também o conjunto de pensamentos e ações que o homem, na terra, devia cultivar para merecer a salvação final. Na tradição religiosa egípcia, Maat era a deusa que “pesava” a alma do defunto, verificando se ela era leve o suficiente para ascender ao território luminoso de Rá. Na simbologia religiosa, Maat significava uma relação de reciprocidade entre os deuses e os homens, no sentido de que os deuses deviam servir aos homens e os homens honrar aos deuses. Assim, na terra como no céu, as virtudes deviam ser cultivadas para que os reinos do profano e do sagrado se mantivessem em perfeito equilíbrio. Por isso se dizia que os homens de responsabilidade, principalmente, tinham que viver de acordo com Maat. Ao maçom atento, que estudou e entendeu realmente o que a Arte Real tentou lhe ensinar, essa doutrina não passará despercebida. (4)
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(1) Ahmed Osman- Moisés e Akhenaton- Madras, 2008
(2) Flavio Josefo- Antiguidades dos Judeus- Kleger Publications-NY-1985
(3) E. Wallis Budge- Os Deuses Egipcios- II Vol. Londres, 1968
(4) João anatalino- Conhecendo a Arte Real, Madras, São Paulo, 2007


DIA 19 DE NOVEMBRO- LANÇAMENTO NACIONAL DO LIVRO " O FILHO DO HOMEM", ROMANCE HISTÓRICO SOBRE A VIDA DO JOVEM JESUS QUE OS EVANGELHOS NÃO RELATAM. ESSE LIVRO JÁ PODE SER ADQUIRIDO ATRAVÉS DESTE SITE.




João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 18/10/2009
Reeditado em 23/01/2012
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O sacrifício dos bodes

História

No dia da consagração do Tabernáculo, Aarão imolou um bode pelos pecados do povo, por que essa era uma tradição antiga que dizia que esse animal possuía características especiais que o faziam ser capaz de catalisar os influxos espirituais do povo. E desde então o bode passou a ser considerado um animal sagrado.(1)

Em muitas culturas ele é o confessor dos pecados do povo e o seu redentor. 
Para os antigos povos, a figura do bode sempre esteve conectado com questões místicas. Os gregos, por exemplo, o utilizavam na representação dos Mistérios Dionísicos. Nas cerimônias egípcias de iniciação nos Mistérios de Isis e Osíris, costumava-se também lançar ao Nilo um bode, com os seguintes votos: “se algum mal paira sobre a cabeça desses que estão sendo iniciados, ou sobre a terra do Egito, que ele desapareça com essa oferta.” (2)

A cerimônia dos hebreus, sacrificando um bode pelo povo, ou levando-o para o deserto e abandonando-o lá, tinha o mesmo sentido de sacrifício que levava os gregos e os egípcios a essas práticas. Pensava-se que o animal podia ser um catalisador de forças malignas e com a sua destruição, o mal seria também destruído. Com base nessa tradição, alguns povos desenvolveram o costume de “confessar para o bode” os seus pecados, por que, segundo se dizia, ele era um animal confiável, ou seja, não divulgava para ninguém os segredos do confessor.

A Tradição 

A ideia de identificar o bode com temas luciferinos é uma inspiração da Igreja Católica, que assim fez para desacreditar e estigmatizar as antigas tradições que viam nesse animal um símbolo benéfico. Essas tradições eram oriundas especialmente da cultura grega, onde se conectava esse animal com o Deus Pã, a deidade protetora dos pastores, que era representada por uma figura semelhante a um bode

O Bode na Maçonaria

O Bode, na Maçonaria está conectado justamente com as virtudes iniciáticas que o animal inspira. A Maçonaria é, em sua origem e significados, uma derivação dos Antigos Mistérios Gregos, os quais eram expressos através das sagas dos heróis. 

Já vimos que nas antigas tradições, o bode é purificador das faltas da comunidade. Em grego ele era o Pharmakóy (o purificador), muitas vezes confundido com o herói da pólis (a comunidade). Por carregar as faltas da comunidade ele se tornava intocável e "sagrado". Dessa forma, quando ele superava todos os obstáculos, como no caso do herói grego, ele se tornava um ser altamente benéfico. Assim eram os heróis gregos que estavam sempre dispostos a se sacrificar pela comunidade. 

Dessa forma, a alegoria do bode está estreitamente ligada à tradição iniciática. O Herói "Bode" é sempre um iniciado. Assim foi Hércules, Teseu, Perseu, Jasão, Belerofonte e outros. A mesma analogia se pode fazer em relação aos "heróis bodes" dos outros povos, como Rômulo e Remo para os romanos, o babilônio Gilgamés, o egípcio Osíris, o troiano Páris, o hebreu Moisés e por ai adiante. Todos, de alguma maneira, são representados como "bodes" do sacrifício para seus povos.
Dessa forma, na tradição iniciática, "Bode", é o que foi iniciado, passou por imensas provações, venceu e afinal foi glorificado como herói. 

Para a Maçonaria o termo “bode” pode assumir vários sentidos. Ao sacrificar, na iniciação, os vícios da vida profana e assumir o seu compromisso de maçom, o Irmão assume a condição de “bode” do sacrifício. (3) 
Por outro lado, o segredo é um dos princípios da boa Maçonaria. Daí o termo se referir, principalmente, ao indivíduo que sabe guardar segredo, isto é, àquele que mesmo torturado não fala. Essa tradição vem dos tempos da Inquisição, quando a Igreja mandava prender e torturar os praticantes das chamadas heresias. Diziam os torturadores que tais indivíduos eram como “bodes”. Berravam mas não falavam. (4)


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Notas

1- Levítico: 16: 20 a 28. 
2- Cf. E. Wallis Budge, op citado, Vol I. Para os antigos egípcios, o bode também representava o signo zodíaco de Capricórnio e era o guardião do portão por onde o iniciado entrava para receber os Divinos Mistérios. 
3- Os maçons são chamados de “bodes” por diversas razões. Uma delas é o caráter sagrado que esse animal assumia nos antigos rituais iniciáticos.
4- Diz-se que Napoleão Bonaparte fechou várias Lojas maçônicas em seus domínios e mandou torturar muitos irmãos para que eles denunciassem pretensos conspiradores. Segundo a tradição, os torturadores, ao reportar ao Imperador o resultado de suas torturas, disseram a ele a mesma coisa que os carrascos do Santo Ofício: “Majestade, esses maçons berram como bodes, mas não dizem um único nome”.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 30/03/2010
Reeditado em 14/12/2010
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AS COLUNAS BOOZ E JAKIN


Autor: João Anatalino

As colunas Booz e Jackin

A Maçonaria especulativa, da mesma forma que a antiga Maçonaria operativa, inicia muitos obreiros. E assim como entre aqueles antigos mestres da Arte Real, também os modernos obreiros dessa Augusta Arte não são todos eleitos, embora todos sejam iniciados. O obreiro da Arte Real hoje, inicia-se como aprendiz e continua a ser eternamente um aprendiz. É no decorrer do desenvolvimento da cadeia iniciática que o iniciado poderá obter ou não a sua iluminação. Essa iluminação pode ser definida como uma Gnose, ou uma sensibilidade da verdadeira razão de ser ele um maçom. Então terá conquistado o status conferido aqueles que se abrigaram junto ás duas colunas sagradas do Templo de Salomão, e se abeberaram na fonte dos conhecimentos que delas brotam e que se expressam nos nomes sagrados que Salomão deu á aquelas colunas: Booz e Jackin. 

Booz e Jackin eram os nomes das duas colunas de bronze que Salomão mandou fundir para servir de pórtico para o templo. Booz deriva de Boaz, nome do patriarca hebreu que fundou a dinastia do rei Davi. Casado com a moabita Rute, Boaz foi pai de Obed, que por sua vez gerou a Isaí, ou Jessé , que foi pai do rei Davi. Na tradição hebraica, portanto, Boaz foi aquele que fundou a família que iria, mais tarde, estabelecer o reino de Israel. Quanto a Jackin, trata-se, provavelmente de um nome derivado do antigo alfabeto semítico, significando cofre, esconderijo, receptáculo. Sabe-se que os antigos povos do vale do Jordão e do Eufrates costumavam construir em seus templos e edifícios públicos certas colunas ocas para guardar documentos importantes. A essas colunas eles chamavam Jackin. Essa tradição está de acordo com as informações encontradas nas crônicas do profeta Jeremias, que dizem que as colunas do templo de Jerusalém eram ocas. Com base nessa tradição, certos autores maçônicos inventaram a lenda de que Salomão teria construído colunas ocas para servir de arquivos para guardar documentos maçônicos.

O certo, entretanto, é que essas duas palavras, constantemente invocadas nos trabalhos das lojas simbólicas, significam “ Estabilidade com Força”. As colunasJackin e Booz tinham dezoito côvados de altura (cerca de 9 metros), e eram encimadas por capitéis de cinco côvados cada (2,5 metros), com romãs e medalhas por ornamento. A romã, como se sabe, entre os povos orientais era uma fruta que tinha um alto valor simbólico. Representava o amor, a fertilidade, o sexo. Os poemas do Cântico dos Cânticos, atribuídos a Salomão, muito se vale do simbolismo da romã para representar a sensualidade da união entre os sexos.[1]

O templo maçônico procura reproduzir, no que é possível, o Templo de Salomão. O costume de se colocar os Aprendizes do lado da coluna B e osCompanheiros na coluna J consta de uma tradição que diz que Adoniram, para pagar os trabalhadores do canteiro de obras, que eram milhares, costumava separá-los por colunas. Os mestres (pedreiros, talhadores, escultores, carpinteiros) eram pagos dentro do templo, daí o termo “ coluna do centro”, onde os mestres maçons se colocam para assistir aos trabalhos em Loja. Os demais trabalhadores, por serem muitos, tinham que ficar do lado de fora. Para facilitar o pagamento, que consistia na distribuição de alimentos, roupas, utensílios de trabalho (luvas, aventais, ferramentas etc), eles eram separados em grupos. Conforme os graus de profissionalização eram perfilados do lado direito ou esquerdo do templo, o que correspondia ás colunas Jackin ou Booz, conforme o caso.
Daí o porque dos aprendizes, que no caso do canteiro de obras do rei Salomão eram os cavouqueiros, os carregadores, os serventes de pedreiro, ficarem no lado correspondente á coluna B (Booz) e os companheiros (ajudantes, talhadores, assentadores de pedras etc), sentarem-se no lado da coluna J ( Jackin).
Flávio Josefo, em suas crônicas sobre as Antiguidades dos Judeus, capitulo III, item 6, também se refere a essas duas colunas e seu significado. Diz aquele historiador que Deus estabelecera o reino de Israel com estabilidade e força, e que tal composição duraria enquanto os israelitas mantivessem o Pacto da Aliança com Ele. A força provinha do seu fundador Davi, que estabelecera com sua competência militar o reino hebreu, e a estabilidade lhe tinha sido dada por Salomão. Dessa forma, as colunas Booz e Jackin não tinham apenas um significado religioso, mas também celebrava motivos políticos e heróicos, homenageando, de um lado Davi, a força, de outro lado Salomão, a estabilidade, a sabedoria.

Muita tinta já rolou acêrca das colunas Booz e Jackin. Alguns autores desenvolveram inclusive a tese de que as colunas ocas do templo de Salomão representavam símbolos fálicos, tradição essa muito em voga entre as civilizações antigas. Elas seriam, segundo Curtis e Madsem, uma projeção da Mazeboth,momumentos de pedra, que entre os fenícios simbolizavam o órgão viril, pelo qual a fertilização da terra se processava. Com base nessa interpretação “histórica”, esses autores concluem que as “duas colunas ocas, com seus globos em cima, e os capitéis enfeitados com romãs, (fruta que simbolizava a fertilidade), nada mais eram que símbolos fálicos disfarçados. Daí a razão de serem ocas, pois representavam o órgão sexual masculino, também oco e encimado por globos”....[2]

Mais que os significados simbólicos que essas colunas possam ter, entretanto, talvez uma interpretação pragmática possa nos dar uma explicação melhor. Booz,no alfabeto hebraico significa firmeza e Jackin força. Talvez, com esses nomes, Salomão quisesse, na verdade, indicar apenas disposições arquitetônicas. Significava que a estrutura do templo estava apoiada sobre essas duas colunas com solidez e resistência. A conexão com os significados dos simbolos fez o resto. Salomão, como todos os israelitas, acreditava nas promessas que Deus teria feito ao seu povo através dos profetas. Deus dissera que “habitaria” no meio daquele povo. Construindo um templo para Ele, estava, na verdade, selando essa promessa. Com isso Israel teria estabilidade como reino porque a força do Senhor estaria com eles. As duas colunas celebravam, dessa forma, uma crença firmemente estabelecida.

A tradição maçônica associou as duas colunas á sua própria liturgia ritual. Jackin e Booz( ou Boaz) passaram a ser dois Mestres (Vigilantes), que imediatamente abaixo do Mestre Arquiteto Hiram (Venerável), administravam os dois substratos de trabalhadores que serviam no canteiro de obras do templo.Boaz tornou-se o Primeiro Vigilante e Jackin o Segundo. Daí a ritualística segundo a qual o que o Venerável decide, o Primeiro Vigilante estabelece e o Segundo confirma.[3]

Uma outra interpretação das duas colunas gêmeas é a de que elas simbolizam as duas colunas de fogo e água que Jeová ergueu em frente das tropas do faraó, quando ele encurralou os hebreus junto ao Mar Vermelho. Diz a Bíblia que o Senhor ergueu colunas de fogo que impediam que os egípcios atacassem os hebreus enquanto eles cruzavam o mar. Depois, quando eles já haviam saído do outro lado em segurança, o Senhor afogou as tropas do faraó lançando sobre eles colunas de água. Salomão teria celebrado essa intervenção divina pela edificação das duas colunas. Por isso, inclusive, é que nos antigos rituais de iniciação, as cerimônias de purificação pelo fogo e pela água eram realizadas em frente aos respectivos altares onde se postam os dois Vigilantes, símbolos das respectivas colunas. Esse simbolismo é ainda hoje repetido, embora de forma sensivelmente modificada. Essa interpretação é a que consta dos Primeiros Catecismos Maçônicosde 1725.[4] 


[1] “Os teus lábios são como fita de escarlate: e o teu falar, doce. Assim é o vermelho da romã partida, assim é o nácar de tuas faces, sem falar no que está encondido dentro.” Cântico dos Cânticos, 4;3
[2] Alex Horne: O Templo do Rei Salomão na tradição maçônica, pg. 125
[3] Através das pancadas ritualísticas
[4] Alex Horne-op citado pg. 184

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DO LIVRO CONHECENDO A ARTE REAL- MADRAS, 2007

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/10/2011
Reeditado em 10/10/2011
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quinta-feira, 2 de julho de 2015


TEMPLÁRIOS E A MAÇONARIA

Autor: João Anatalino

Tiago de Molay voltou para sua cela, muito preocupado. Primeiro porque, até aquele momento, o papa não havia se pronunciado acerca da prisão dos membros da Ordem e nem da sua própria detenção. Talvez não tivesse ainda sido informado disso. Afinal, Poitier, onde ele agora estava enclausurado, ficava a mais de trezentos quilômetros de Paris. 

Tinha certeza que Clemente V não concordaria com aquela violência praticada por Filipe, mas sabia também que o Pontífice era politicamente fraco e o rei tinha muita ascendência sobre ele. 

Pelas perguntas de Nogaret e pela amostra que dera no interrogatório, ele sabia o que o esperava. Tortura. Tortura moral e física. Horas sendo esticado no cavalete, fatiado na roda de esviceramento, humilhado e martirizado no “berço de Judas”, no suplício da forquilha ou do garrote, com os pés untados com gordura de porco e assados em fogo brando. Ele imaginava o que estava por vir e já antecipava as dores que sentiria. Ele estava velho, mas era ainda um soldado rijo e valente. Não cederia aos desejos de Nogaret, não diria para onde mandara o tesouro do Templo, nem confessaria os crimes que estavam sendo imputados aos seus membros. Ele estava pronto a morrer pelos segredos da Irmandade e pelos seus objetivos. Jurara isso quando fora elevado a grão-mestre geral e se fizera guardião desses segredos.

Mas esse, agora, se revelava ser um grande problema. Tiago de Molay sempre se ocupara dos assuntos militares, políticos e administrativos do Templo, porém jamais se preocupara com questões doutrinárias. A Ordem, desde que se tornara uma grande potência econômica, multiplicara suas atividades, se tornando, ela mesma, uma igreja dentro da Igreja e um estado dentro dos estados onde se instalara.

Ele sabia que dentro da complexa organização que comandava, existiam outras organizações, cada qual se ocupando de um rol de interesses, nos quais a Ordem havia se envolvido nos últimos dois séculos. O Templo mantinha uma organização militar que cuidava das campanhas nas quais a Irmandade estava envolvida; essa organização estava agora desmobilizada, com o fim das cruzadas, e isso o preocupava, pois soldados sem atividade, confinados, estão mais afeitos a influências ruins; havia um organismo burocrático que cuidava dos interesses econômicos da Ordem, que eram muitos; isso, pensava De Molay, também era um perigo, pois a riqueza, tanto quanto o poder, era um poderoso elemento corruptor. Havia um corpo eclesiástico, que cuidava da parte espiritual. Era o canal por onde as ideias estranhas á ortodoxia da Igreja havia penetrado na Ordem, e ali estava a maior de suas preocupações, pois ele pouco entendia sobre o cerne daquelas doutrinas, embora as repetisse para os seus Irmãos e até nela acreditasse, pois as recebera de seus antecessores e nunca lhe passara pela cabeça contestá-las. Tiago de Molay era um bravo soldado e um exímio administrador, mas em política e principalmente doutrina, era tão despreparado quanto era iletrado.

Havia inclusive, dentro da Ordem uma forte confraria de artesãos e construtores civis, que cuidava das construções templárias, atividade essa que era uma das mais importantes dentro da organização que ele comandava. Desde os primórdios de sua origem, os templários haviam aprendido a construir seus próprios edifícios, arquitetonicamente projetados e erguidos de acordo com os seus propósitos, fossem eles militares ou religiosos. Dessa forma, espalharam pela Europa toda um sem número de capelas, preceptorias, fortalezas e castelos, que causavam inveja nos nobres senhores feudais e no próprio clero. Pierre de Montreil, o famoso arquiteto, mestre dos maçons franceses, era um afiliado da Ordem. Nesse mesmo instante, seu primo, Jean de Longwy, o mestre eleito da compagnonnage, estava comandando uma associação de compagnons, trabalhadores em construção civil, na construção de mais um transepto na Catedral de Notre Dame de Paris. 

Molay tinha conhecimento de que a confraria dos pedreiros tinha a sua própria liturgia e cultivava uma estranha simbologia que ele não entendia nem fizera muita questão de entender. Eram símbolos ligados á geometria, á astrologia e á estranha ciência cultivada pelos judeus, que eles chamavam de Cabala. Ele sabia que tudo isso revelava um universo místico e transcendental, feito de conhecimentos muito profundos que a simplicidade do seu espírito não lograva alcançar. 

Algumas vezes conversara com seu sobrinho, Jean de Longwy, sobre esses assuntos, tentando entender um pouco da complicada ciência que os maçons aplicavam em suas obras. Longwy lhe dissera, por exemplo, que a arte dos compagnons mantinha profundas ligações com conhecimentos do passado, conhecimentos esses que remontavam ás antigas civilizações como os egípcios, os caldeus, os gregos e os romanos. E que essa arte era uma forma de transcendência do espírito através do trabalho das mãos.

─ Como nosso mestre Vitrúvio ensinou ─ disse-lhe Longwy ─ a arte de construir edifícios, arquitetura, como a chamamos, possui duas faces. Uma profana, que consiste na aplicação da ciência para a obtenção da obra, e outra, sagrada, que consiste no desenvolvimento do próprio espírito do construtor através da obra que ele fabrica.


Tiago de Molay, que não tinha a chave intelectual para entrar nesse estranho mundo da simbologia usada pelos maçons, pediu uma explicação mais simples.
─ Deus é o Grande Arquiteto do Universo ─ disse Longwy. Ele constroi o mundo com energias que Ele transforma em elementos sólidos, segundo os princípios da Geometria. 


─ Ainda não dissestes nada que me seja inteligível ─ queixou-se De Molay.
─ Pensai no seguinte ─ disse Longwy. Um artesão pega uma pedra e esculpe nela uma forma. Ao fazer isso ele está imitando o gesto criador. Ele está colocando sobre a matéria bruta a energia do seu espírito. Quanto mais perfeita a obra obtida, mais se revela a perfeição do espírito criador. No trabalho na pedra o espírito do artesão se realiza. É a mesma coisa quando construímos um edifício. Nele se revela o espírito do seu idealizador. Prestando cultos aos seus deuses ou perpetuando as virtudes da pessoa ou do povo que os construiu, os edifícios revelam o verdadeiro espírito do homem e do tempo em que ele viveu. É o espírito humano que flui, pela habilidade de suas mãos. Por isso a arte do maçom é sagrada e precisa ser tratada como se fosse uma verdadeira religião.

─ É por isso então que vossas reuniões são secretas e vossos conhecimentos não podem ser transmitidos a não ser aos vossos próprios Irmãos? ─ perguntou de Molay.

─ Exatamente ─ respondeu Longwy. Nossa ciência se assemelha aos segredos que nos são transmitidos nos Capitulos Gerais da nossa Ordem eclesiástica. Da mesma forma que eles só podem ser compartilhados pelos Irmãos que detém o mesmo grau, na nossa confraria dos pedreiros livres essa estratégia também é usada. 

─ No nosso caso eu posso entender a razão ─ disse De Molay. ─ Imaginai se os noviços, os capelães, os sargentos e todos os membros da Ordem viessem saber dos nossos mais altos segredos. O que aconteceria se todo o conhecimento acumulado pela nossa Irmandade viesse a público e fosse compartilhado por pessoas sem caráter, ambiciosas, maldosas? Que mal isso não faria ao mundo?

─ Tocastes no ponto sensível da questão ─ disse Longwy. ─ Pois o segredo dos maçons também exige o mesmo cuidado. Porque só nós sabemos que o movimento giratório da terra emite forças que seguem uma trajetória horizontal. Essas forças são as correntes que fazem movimentar os mares, os ventos, os assentamentos da crosta terrestre, a direção dos vapores que se formam no interior do planeta, enfim, tudo que constitui a força telúrica que dá vida á terra. Essas correntes percorrem o interior do planeta numa trajetória sinuosa que parece uma serpente no seu movimento. Por sua vez, os astros no firmamento despejam sobre a terra forças que se projetam nela numa trajetória vertical. No cruzamento dessas linhas energéticas, horizontais e verticais, se situam os pontos telúricos do planeta, que os orientais chamam de “chacras” da terra. É nesses pontos que devem ser construídos os edifícios que estão destinados a se tornar símbolos da passagem do homem sobre a terra. Edifícios que ligam o espírito humano com a divindade. A ciência para fazer esses cálculos e determinar o local e a estrutura do edifício a ser construído, só um verdadeiro mestre maçom possui. E esse é um segredo que só pode ser compartilhado com um iniciado.

─ Estais a dizer que alguns edifícios realizam um propósito divino só conhecido pelos maçons? ─ perguntou, incrédulo, De Molay.

─ Isso mesmo ─ respondeu Longwy. ─ Os antigos mestres sabiam identificar esses pontos de cruzamento das forças cósmicas. A Bíblia está cheia desses exemplos. A Escada de Jacó é um deles. As pirâmides do Egito, os menires de Stonehenge, o templo de Minerva, que vós conheceis como Partenon, também. E o próprio Templo de Salomão, que como sabeis, foi construído sobre a Rocha do Domo e por mais que seja destruído, sempre é reconstruído no mesmo lugar.

Várias catedrais e outros templos, em todo o mundo, também são construídos segundo essa ciência. Aqui mesmo em Paris, temos a nossa Notre Dame, que como sabeis, foi construída no local onde havia um Templo dedicado á Isis, nossa mãe viúva.

Tiago de Molay nem estava ouvindo mais a estranha arenga do seu sobrinho. Pensava na estranha coincidência de os templários terem sido alojados exatamente nas ruínas do antigo Templo de Jerusalém, que fora erguido por Herodes, sobre as ruínas do Templo de Salomão. 

─ E nós, Irmão grão-mestre ─ disse Longwy, sem se dar conta de que pensamento do grão-mestre havia se evadido para longe ─ somos o Templo do Senhor. Ele nos constroi com a mesma fórmula com que faz o universo. Cada um de nós é uma composição numérica e geométrica que resulta numa forma específica. O grande Vitrúvio nos ensinou também isso. “Estudai a estrutura do corpo humano e encontrareis a fórmula pelo qual Deus constrói o universo”, disse ele.

Tiago de Molay não respondeu. Limitou-se a olhar para Longwy com olhos de quem estava finalmente entendendo a razão de alguma coisa que o preocupava. A terra e o homem. Forças que se cruzam em movimentos ondulatórios que parecem a trajetória de uma serpente. O ritual de iniciação templário. O beijo no umbigo, o beijo na boca, o beijo na base da espinha dorsal. Aquilo que sempre lhe pareceu uma perversão do ritual começava a fazer agora algum sentido.

O grão-mestre templário entendeu então a razão de os maçons manterem aquela estranha tradição que os remetia aos construtores do Templo de Salomão, a quem se diziam ligados por laços de conhecimento e transmissão iniciática, que eram compartilhados entre eles através de sinais, símbolos e palavras de passe. 

Não via nada de estranho nisso, porquanto a própria Ordem que ele comandava também tinha seus segredos ritualísticos, seus sinais de reconhecimento e suas palavras de passe, que foram desenvolvidos na Terra Santa para que os Irmãos se reconhecessem e conservassem as regras da Irmandade dentro dos círculos restritos a que cada Capítulo se circunscrevia. Toda Irmandade, fosse ela religiosa ou laica, tinha suas próprias usanças. Palavras como Montjoie, Beauséant, Shibbolet, Huzah, eram palavras de passe usadas pelos templários na Terra Santa para se reconherem em um ambiente recheado de inimigos.

A Irmandade dos pedreiros livres, a compagnonnage, formada pelos profissionais da construção civil era uma confraria laica, mas se comportava como se fosse uma seita religiosa. E como tal já havia chamado a atenção da Igreja, por causa dos seus “segredos iniciáticos.” Esses segredos incorporavam uma simbologia e uma linguagem própria, que lhes permitia comunicar entre si os conhecimentos da profissão, de uma forma que quem fosse estranho ao metier não os pudesse entender. Era um conhecimento que passava de mestre para companheiro e deste para aprendiz, numa cadeia iniciática feita de símbolos, diagramas, lendas, palavras de passe e ritos de passagem, que se assemelhavam ás antigas práticas dos hierofantes egípcios e gregos. Destarte, a mística dos Irmãos pedreiros incorporava antigas tradições egípcias, fenícias, persas, gregas e principalmente judaicas, sempre relacionadas com o mistério da construção do Templo de Salomão. Nisso estava a sua ligação simbólica com a Ordem do Templo, pois os compangnons, também chamados de “pedreiros do bom Deus”, eram, como os cavaleiros do Templo, construtores do Templo do Rei Salomão ─ símbolo da construção da humanidade autêntica ─ guiada pelo Deus verdadeiro e único.

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Notas históricas

1. Apesar do termo compagnonnage só aparecer na língua francesa no início do século XVIII, há registros de companhias desses profissionais atuando na França desde o inicio do século XII. O Livro dos Ofícios, que Luis IX mandou escrever para regular o ofício dos pedreiros em 1209, é uma prova da existência dessa organização já nessa época. Na época da construção das catedrais medievais já existia um forte movimento de organização desse tipo de profissional em guildas corporativas, que transmitiam seus conhecimentos através de um sistema iniciático que compreendia mestres e aprendizes unidos por um compromisso sagrado de segredos compartilhados. Esses profissionais da construção civil eram conhecidos como “os operários do bom Deus”. 

2. O nome de Jean de Longwy aparece na história da França como sendo primo de Tiago de Molay e chefe da Liga Baronal, organização cavaleiresca que se formou após a morte de Filipe, o Belo, para defender os direitos feudais, que esse rei e depois seus filhos Luis X e Filipe V, tanto fizeram para suprimir. A sua ligação com oscompagnons, maçons operativos que trabalhavam para o Templo é uma inferência nossa tendo em vista as Regras escritas por São Bernardo que já previa a presença desses profissionais na estrutura da Ordem do Templo.

3. A preocupação de Tiago de Molay com as confrarias dos pedreiros livres não era gratuita. Elas já haviam sido condenadas pela Igreja em 1189 no Concílio de Troyes e foram novamente indiciadas por seus “segredos iniciáticos” no Concilio de Avignon, em 1326. 

4. Os templários tiveram uma grande participação na história da arquitetura medieval. Os arquitetos do Templo desenvolveram um tipo de arquitetura muito peculiar que ainda hoje interessa aos construtores modernos. Foram os precursores da arquitetura gótica, aplicada nas grandes catedrais da Europa, que ainda hoje estão em pé. Essas técnicas foram desenvolvidas a partir de fontes islâmicas e egípcias, incorporadas á tradição greco-romana. Daí o grande apelo á forma geométrica, que constitui uma parte importante da mística ligada aos maçons medievais e subsiste, ainda hoje, na maçonaria moderna. A propósito, convém assinalar que foi entre 1140 e 1277 ─ época em que os templários estavam exercendo grande poder na Europa─ que foram construídos, ou reformados, os maiores edifícios religiosos e laicos da alta Idade Média. 

5.A geometria, na tradição maçônica, é uma síntese da “alma do universo”. É a fórmula segundo a qual Deus, o Grande Arquiteto do Universo, constrói o mundo. A analogia, pela qual Deus é comparado a um arquiteto é uma ideia de Platão, que no seu diálogo com Timeu, chama Deus de Tecton (arquiteto). Assim, Arch-Tecton, o Grande Arquiteto, seria o Mestre-Construtor do Universo, aquele que constrói o mundo usando a geometria. A geometria, como a pedra filosofal, é uma fórmula sintética da “alma da natureza”. Da mesma forma que a pedra filosofal é a síntese química dessa alma, a geometria sintetiza a multiplicidade de formas, números e valores que Deus espalhou no universo. Destarte, o estudo da geometria é o estudo das leis fundamentais que regem o universo em todos os seus planos e estudá-la é estudar como o universo é construído e como ele se compõe. Esse é o supremo conhecimento que a tradição maçônica consagra. De acordo com essa tradição, o mundo nasceu caótico, informe e desorganizado. Por isso Deus criou a geometria, a ciência das formas, para que a ordem pudesse ser posta nesse caos (ordoab chaos). Assim, a geometria é a ferramenta com a qual Deus organizou e pôs ordem no caos inicial do mundo. Por isso ela é a arte sagrada.

6. Vitrúvio pode ser considerado um dos pais da maçonaria. No século I da era cristã todos os templos que ele desenhava tinham seus altares orientados para o Oriente, onde o sol nasce. Ele dizia que o arquiteto, mais que um mero desenhista de edifícios, devia ser um matemático, ou geômetra, com conhecimentos de música, filosofia, matemática e astrologia. Na opinião dele ninguém poderia ser arquiteto se não conhecesse a fundo a geometria. Essa mística seria reproduzida na construção das igrejas medievais, onde a aplicação das regras da geometria deveria combinar com todas essas tradições para fins de se obter um edifício que transcendesse as necessidades do culto e refletisse a própria espiritualidade que se pretendia refletir nele. Na imagem, o “homem vitruviano”, desenho de Leonardo da Vinci, inspirado nas ideias de Vitrúvio, segundo as quais o corpo humano é construído segundo proporções geométricas e matemáticas que seguem um padrão que podem ser identificados também na geometria do próprio universo físico.

7. Sobre a mística da arquitetura templária, ver Viollet-Le-Duc-Dictionary of Medieval Archicteture, no qual esse medievalista discorrre sobre o esoterismo da geometria usada pelos arquitetos do Templo para construir os seus edifícios. 

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excerto do capítulo 12 do livro "Os Filhos da Viúva", no prelo. 

João Anatalino

Enviado por João Anatalino em 20/12/2014
Reeditado em 22/12/2014
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A ESTIRPE DE CAIM


A origem do conhecimento


Autor: João Anatalino.

Antigas tradições, constantes principalmente de ensinamentos teosóficos e cabalistas, sustentam que ciência entrou na terra de uma forma um tanto clandestina. Ela não teria sido resultado da Providência divina, nem um presente da natureza, como resultado de uma longa evolução. A Bíblia no episódio da Criação, diz que Deus fez o homem já absolutamente homo sapiens. Isso quer dizer que ele já nasceu inteligente, sem precisar se submeter ao longo processo evolutivo que os teóricos evolucionistas o sujeitam. Essa tese, que é conhecida como criacionista, é ainda hoje sustentada pela maioria das religiões, embora os teólogos, à medida que a ciência progride e vai invadindo domínios antes restritos á especulação filosófica, encontrem cada vez mais dificuldades para justificar suas posições. 


Não é de hoje que as teses criacionistas colocam seus defensores em dificuldades. E as interpretações alternativas para o fenômeno da consciência não são manifestações tão modernas como geralmente se pensa. O evolucionismo foi iniciado por Charles Darwin, mas as tradições que sustentam que o casal Adão e Eva não foi absolutamente o começo da espécie humana são mais antigas que os próprios cronistas que popularizaram esse mito.[1]


Mitos que sugerem que a civilização humana foi iniciada por emissários celestes são comuns entre todos os povos antigos e é uma das principais teses agasalhadas pelas doutrinas esotéricas, pela teosofia, e encontra eco também na Cabala. Essa interpretação evoca uma origem luciferina para o conhecimento humano. Assim, o chamado conhecimento do bem e do mal, citado na Bíblia, como resultado do ato de desobediência do casal humano, seria na verdade, uma ação de magistério com eles praticada pelos anjos rebeldes, chefiados pelo Arcanjo Lúcifer. Esses arcanjos, na tradição da Cabala, teriam se desavindo com Deus e armaram uma rebelião nos céus, exigindo postos maiores na hierarquia celeste, uma vez que eram eles os “Construtores do Universo”, a quem o Grande Arquiteto concedera autoridade sobre os “quatro mundos”.[2] 


Arrojados na terra como pena pela sua rebelião, os anjos rebeldes se inteiraram com os humanos e deram início a nossa atual civilização. Assim, a descrição bíblica da criação de Adão, segundo esse mito, não se refere à criação do homem a partir do barro da terra e do sopro divino, mas sim ao momento em que os anjos rebeldes “entram em contato”, com ele e moldam-no à “sua imagem e semelhança”, ou seja, dão-lhe uma consciência. Depois, com o mito da serpente e da sedução de Eva e a consequente desobediência de Adão, “comendo o fruto proibido”, o que a Bíblia na verdade descreve é a transmissão do conhecimento, ali descrita como “ciência do bem e do mal”.


Dessa maneira, Adão não foi o primeiro homem criado sobre a terra. Ele foi o resultado de uma mutação neurológica e biológica, operada pelos Elohins rebeldes. De mero hominídeo que era, criatura embora humana, porém pouco mais que animal, pois não possuía ainda inteligência reflexiva e dedutiva, o homem passou a ser um ser inteligente, possuidor da ciência capaz de modificar a natureza e de realizar ato criador.[3] E ele, que antes dessa mutação era hermafrodita, pois continha em si mesmo os dois sexos, com essa mutação teve também separado de si a parte feminina do sexo. Essa é a interpretação da criação da mulher, a partir de uma costela do homem.[4]


Assim, as civilizações que foram consumidas no grande dilúvio são aquelas que existiram antes de Adão. A própria Biblia, quando fala dos heróis antediluvianos, se refere a esses seres: “ (...) vendo os Filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram por mulheres as que dentre elas escolheram (...).” “Ora, naquele tempo havia gigantes sobre a terra. Porque como os filhos de Deus tivessem tido comércio com as filhas dos homens, pariram aqueles possantes homens, que tão famosas são na antiguidade.”[5]


Esses “homens possantes” são chamados de nefilins pelo cronista bíblico. Essa é uma classe de semideuses, filhos dos amaldiçoados Arcanjos com as filhas dos homens. Em todas as tradições dos povos antigos iremos encontrar eco dessa informação. Na Mesopotâmea o gigante Gilgamés, na Índia os míticos heróis da Guita e os senhores de Dzian, no Egito o rei Osiris, o atlante, e Thoth, que teria trazido aos povos do Nilo as ciências e as artes, na Grécia o deus Hermes e os míticos heróis das lendas, tal como Hércules, Teseu, Perseu, Prometeu, os terríveis titãs e outros, todos seriam da família desses anjos rebeldes, ou descendentes desse conúbio entre seres humanos e deuses.[6]



E dessa interação entre homens e deuses o conhecimento entrou na terra. A Bíblia descreve esse fato: ” E vendo Deus que era grande malícia dos homens sobre a terra, e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente aplicados para o mal, arrependeu-se de ter feito o homem (...). Exterminarei da terra o homem que criei, pois me pesa o ter criado.”[7]


Por que pesaria a Deus, o Ser Perfeito, ter criado o homem? Pode Deus cometer enganos? Essa, certamente seria uma cruel contradição entre o que os cronistas bíblicos queriam ensinar ao mundo acerca de Deus e o que eles efetivamente ensinavam. Mas deixa de ser contraditório quando olhamos a informação por esse prisma. Os homens se desviaram de Deus ao adquirir a capacidade de refletir. Os “pensamentos de seu coração passaram a ser para o mal”, isto é, eles começaram a modificar a natureza, por conta dos próprios conhecimentos. As leis naturais começaram a ser subvertidas, a antiga estrutura de paz, harmonia e equilíbrio entre o homem e o ambiente deixou de existir. E então sobreveio a grande catástrofe, na forma do dilúvio universal.
Assim, desapareceram as antigas civilizações. Mas a chave do conhecimento arcano, que havia sido transmitido aos homens por aqueles Arcanjos rebeldes, foi preservada por Enoc, o filho de Cain.



A Lenda de Enoc



A Lenda de Enoc é claramente uma metáfora desenvolvida
pelos hierofantes das antigas religiões para explicar aos iniciados a origem do conhecimento humano e a forma como ele começou a ser codificado.
Praticamente, todos os povos antigos usavam variantes desse mito para explicar o surgimento das bases de sua civilização. Entre os sumérios, povo pré-histórico que habitou a Mesopotâmea, esses conhecimentos lhes teriam sido transmitidos por Utnapishtim, sobrevivente de um grande dilúvio que acabou com toda a humanidade. Para os hindus esse trabalho foi realizado pelo deus Purusha, o homem cósmico, a partir do qual foram feitas todas as coisas. Para os egípcios, as ciências e o conhecimento lhes foram transmitidos por Thoth, o deus das ciências, e os gregos trabalhavam com o mito de Prometeu, o herói que roubou o fogo sagrado dos deuses e o entregou aos homens. Os hebreus são o único povo cuja civilização teria origem a partir de um personagem histórico, o seu legislador Moisés, que no entanto, teria recebido do próprio Deus os fundamentos da sua sociedade. [8]



A Lenda de Enoc, filho de Cain, conta como esse personagem bíblico salvou para a civilização os conhecimentos das antigas civilizações que foram extintas pelo dilúvio. Esses conhecimentos, que teriam sido passados de geração a geração pelos diversos patriarcas hebreus, acabaram chegando às mãos do Rei Salomão, que os guardou em uma das colunas ocas do Templo de Jerusalém.
Através desses documentos (que foram queimados quando o Templo foi destruído pelos caldeus), o mundo ficou sabendo que Jubal, Jabel e Tubal – Cain, netos de Enoc, haviam inscrito em duas colunas, uma de pedra, outra de tijolos queimados, todas as antigas ciências que os Irmãos da Fraternidade da Luz (os Elohins rebeldes, chefiados por Lúcifer), haviam ensinado aos primeiros homens, e que seu avô Enoc havia preservado e repassado a eles.[9]


Provavelmente essa lenda foi inspirada em Flávio Josefo, historiador judeu que viveu no primeiro século da era cristã e escreveu um volumoso trabalho sobre a história de Israel. Em um de seus trabalhos ele informa que Enoch copiou essas informações e as transformou em um livro, o qual escondeu em duas colunas de um templo, chamadas Colunas de Seth.[10]



A versão maçônica da lenda



Essa metáfora foi desenvolvida no catecismo da maçonaria do Arco Real e depois aproveitada nos graus filosóficos do Rito Escocês. Segundo a versão maçônica dessa lenda, essa ciência foi perdida por ocasião do grande dilúvio que afogou a antiga civilização, mas foi recuperada por um grande sábio egípcio chamado Thoth, o qual a ensinou aos sacerdotes daquele país, razão pela qual os egípcios eram tão sábios nas antigas ciências.


Thoth era um deus egípcio, mas também era identificado com o deus Osíris, que antes de sua morte tinha sido um grande rei, a quem o Egito devia os princípios de sua civilização. Na Grécia esse personagem ficou conhecido como Hermes Trismegistus, o deus das artes e das ciências, que teria nascido três vezes no Egito, legando àquele povo, em cada uma de suas reencarnacões, um ciclo de civilização.


A tradição refere-se também a Pitágoras, o grande matemático e filósofo grego, que teria aprendido a sua ciência diretamente dessa fonte.


A lenda das duas colunas antediluvianas está descrita no livro apócrifo de Enoc. Foi desse livro que os gnósticos cristãos adaptaram as suas noções sobre os chamados “anjos decaídos”.[11]




[1] Ou seja, os israelitas. Os historiadores, de modo geral, concordam que a narração bíblica da criação é uma adaptação de mitos mais antigos, feita pelos cronistas israelitas.

[2] Os quatro mundos da Cabala, já referidos. Attziloth(o mundo dos arquétipos), Briah (o mundo da criação), Ytzirah(o mundo da formação) e Asiah( o mundo da matéria)..

[3] Por isso a serpente diz a Eva: “(...) Deus sabe que se comerdes desse fruto, se abrirão os vossos olhos; e vós sereis como uns deuses, conhecendo o bem e o mal.” Gênesis, 3:5,

[4] Essa tese também é agasalhada por algumas vertentes teosóficas, segundo a qual a raça adâmica é apenas uma das raças que se desenvolveram sobre a terra. A esse respeito ver os trabalhos de Helena P. Blavastky, Síntese da Doutrina Secreta, op. citado.

[5] Gênesis, 6/ 2;4

[6] Essas lendas também aparecem entre os incas e os astecas.

[7] Gênesis, 6:5

[8] Para os astecas o deus civilizador se chamava Huitzilopochtli; e para os incas Viracocha. Os mórmons também criaram uma interessante variante dessa lenda para explicar a origem do conhecimento humano e mostrar que sua seita tem origens antediluvianas.

[9] Por isso a Bíblia diz que Jubal foi o mestre da música, Jubal, mestre da agricultura e pastoreio, e Tubal-Cain, mestre da metalurgia. Cf.Gênesis, 4;31

[10] Flávio Josefo- Antiguidades dos Judeus-Ed.

[11] O Livro de Enoch é hoje um dos apócrifos da Bíblia.


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DO LIVRO O REINO DE ENTELÉQUIA- A MAÇONARIA SIMBÓLICA E 

INICIÁTICA
NO PRELO

João Anatalino

Enviado por João Anatalino em 10/11/2011

Reeditado em 11/11/2011

Código do texto: T3328712 

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A tradição hermética

Autor: João Anatalino

A partir de certo momento na História, a Maçonaria pas-sou do plano operativo para o especulativo. 

Esse momento parece ter ocorrido a partir das Cruzadas, quando os exércitos cristãos marcharam em direção á Terra Santa para libertá-la do domínio dos sarracenos. Essa, pelo menos foi a justificativa oficial, embora a verdade seja bem outra. A verdade é que Europa, depois da queda do Império Romano, entrou em profundo declínio político, econômico e social. A gloriosa civilização dos dias dos Césares desapareceu. Restou uma população mergulhada na pobreza, na ignorância e submetida à tirania dos nobres e à arrogância intelectual de um clero corrupto e supersticioso. Por isso, tanto a Igreja, quanto os potentados europeus viram com bons olhos uma expedição ao Oriente, onde a riqueza e a civilização do velho mundo havia sido preservada pelo desenvolvimento da cultura islâmica e pela organização do Império Bizantino. Assim, na verdadeira motivação dos prelados da Igreja e dos nobres cavaleiros que se deslocaram para a Terra Santa estava muito mais a cúpida vontade de enriquecer do que a piedosa intenção de libertar os lugares das mãos dos selvagens seguidores de Maomé. Até porque, a Terra Santa, quando sob controle dos muçulmanos, era muito mais livre e aberta aos cristãos do que depois, quando caiu sobre o controle dos cruzados. 

Na multidão que se deslocou para a Palestina, que constituía um verdadeiro povo em marcha, não havia só combaten-tes, mas também profissionais de todas as espécies: para lá foram seleiros, carpinteiros, forjadores, armeiros, e principal-mente pedreiros. A própria Ordem dos Templários empregava uma multidão desses profissionais, que eram chamados “os homens dos templários”. Era uma imigração natural, que se fazia exclusivamente por motivos econômicos e profissionais, já que o que se procurava era sempre um meio melhor de ganhar a vida, como hoje se faz com a transumância de profissionais de um país para outro, na busca de melhores mercados para os seus serviços. 

A interação entre os templários e os pedreiros-livres é hoje mais que provada, e nenhum espanto nos causaria se des-sa interação não tivesse nascido realmente a Maçonaria espe-culativa, como nos quis fazer crer o Cavaleiro De Ransay. 

Uma interação desse tipo e um desenvolvimento pos-terior de “Lojas” especulativas ao lado de “Lojas” operativas justificariam o desenrolar dos acontecimentos que desembo-caram na Maçonaria moderna. Por isso é que percebemos, a partir do início do século XVI, uma revalorização de idéias que se acreditavam sepultas no Ocidente pelo triunfo do Cris-tianismo oficial. Filósofos como Giordano Bruno, Giambatista Dela Porta, Marcilio Ficcino, e outros pensadores renascentistas ressuscitam Jâmblico, Plotino e outros pregadores de religiões solares, da mesma forma que renasceram as “utopias” através de trabalhos como o de Tomás Mórus, Roger Bacon, Jonh Milton, etc. 

Nessa mesma vertente, os hermetistas, os cabalistas e todos os cultores do pensamento mágico fazem nascer a genial farsa da Rosa-Cruz. E o pensamento rosa-cruciano impres-siona a imaginação dos intelectuais, dos cientistas, de toda a elite pensante e formadora de opinião na Europa, que nesse exato momento, procurava uma alternativa espiritual para o atavismo dos católicos e o reacionarismo dos protestantes. 

Dessa forma, como herança intelectual das Cruzadas, o ambiente intelectual das civilizações orientais viria trazer para a Europa um renascimento cultural, fundamentado num sis-tema de pensamento que a Igreja Católica havia banido do Ocidente em favor de um conjunto de lendas e superstições, sustentadas mais pela necessidade política de dominação, como era o sistema feudal, do que por motivos doutrinários mesmo. 

Um sistema de pensamento que fosse tolerante o sufici-ente para agasalhar todas as vertentes do pensamento religioso e secular não podia se filiar a nenhum credo, nem podia propagar suas idéias pela forma acadêmica regular. Em algum momento, provavelmente, no inicio do século XVII, a tradi-ção hermética entrou nos ritos praticados nas Lojas especulativas. Como isso se deu não é matéria pacífica, mas de forma geral se admite que esse fato aconteceu pela admissão, nessas Lojas, de membros não pertencentes á categoria dos profis-sionais da construção. 

Esses eram os chamados “maçons aceitos”. Entre eles se encontravam militares, filósofos, intelectuais, professores, Membros do clero, comerciantes etc., pessoas que de alguma forma procuravam um meio seguro de expressar seus pensa-mentos sem precisar renunciar a suas crenças. 
Geralmente se costuma atribuir a Elias Ashmole a introdução do hermetismo na Maçonaria. Esse intelectual inglês, que entrou para a Ordem em 1641, conforme suas próprias anotações, era um notável hermetista especializado em alquimia e estudioso das tradições da cavalaria. É impossível não pensar que um indivíduo com esse perfil não tivesse prestado qualquer contribuição de vulto nesse sentido. Todavia, em 1641, as Lojas maçônicas já praticavam ritos enxertados com a tradição hermética e “aceitavam” pessoas não ligadas ao oficio de construtor. E essa prática já vinha de longa data, a se acreditar nas pesquisas de Jean Palou e Robert Ambelain. 

Assim, o que se pode presumir é que Ashmole e seu grupo de hermetistas entraram para a Maçonaria como conseqüência dessa prática, mas não se constituíram, de forma al-guma, na sua causa. É possível que Ashmole tenha, de algum modo, executado um trabalho de organização, desenvolvi-mento e propagação dos ritos maçônicos na nova formulação que as Lojas especulativas estavam praticando, desde que nelas se introduziram os cultores da tradição hermética, mas disso, como de resto, não temos provas autorizadas.

Mas foi assim que a tradição hermética entrou na Maçonaria das antigas corporações de obreiros, especialmente às dos pedreiros livres, e dessa interação resultou a entrada das tradições herméticas nos rituais e no ensinamento da Sublime Ordem.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 04/05/2011
Código do texto: T2949931 
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