quinta-feira, 1 de junho de 2017


O PAINEL DE APRENDIZ


Publicado no excelente blogue: A PARTIR PEDRA

Tal como está no nosso ritual, vamos abordar o Painel do Aprendiz de baixo para cima e da esquerda para a direita
Piso branco e preto

O pavimento, alternadamente em preto e branco, simboliza, os Princípios de Bem e do Mal, simboliza a guerra entre Miguel e Satanás, dos Deuses e Titãs, entre a luz e a sombra, dia e noite, da Liberdade e Despotismo;

O que é bom para mim pode ser mau para ti.

Neste Grau de Aprendiz, o pavimento mosaico representa o piso térreo do Templo do Rei Salomão.
As Colunas, os 3 degraus e as Romãs

O local de reunião de uma Loja maçónica tem por entrada um espaço delimitado por duas colunas. Estas evocam as duas colunas que existiam no átrio do Templo de Salomão, descritas na Bíblia no 1.º Livro dos Reis, capítulo 7, versículos 15-22:

As Colunas “B” e “J”, estão presentes em todos os templos maçônicos e sua posição varia conforme o Rito.

Nos Ritos: Escocês, York, Schroeder, a Coluna “B” fica à esquerda e a “J” à direita. Nos Ritos: Francês e Adonhiramita as posições são invertidas.

Os Três Degraus antes do Pórtico, representam a idade do Aprendiz, correspondente ao tempo que os Maçons Operativos necessitavam para serem elevados ao Grau de Companheiro.

Somente após vencer os Três Degraus, isto é, o tempo de permanência no 1º Grau, é que o Aprendiz atingia o pórtico e entrava na obra que se estava construindo.

As romãs semiabertas nos capitéis das colunas, divididas internamente por compartimentos cheios de considerável número de sementes, sistematicamente dispostas e intimamente unidas, lembram a fraternidade que deve haver entre todos os homens e, sobretudo entre os Maçons.

As romãs representam assim, a família maçónica universal, cujos membros estão ligados harmonicamente pelo espírito da ordem e da fraternidade.
O Nível

Sob o ponto de vista operativo, com o Nível é possível verificar, se uma superfície está livre de arestas, pois, a planificação do alicerce de uma obra é fundamental para sua correta sustentação

É a joia simbólica do 1º Vigilante, sendo aquele que em Loja, promove o igual tratamento, não se reconhecendo as distinções existentes no mundo profano. O Nível é o símbolo da igualdade, da igualdade fraterna, com que todos os maçons se reconhecem.
Régua 24 polegadas

A régua, por excelência, é um instrumento de medida. Através dela é possível obter a informação sobre a longitude de uma dimensão espacial.

O número 24, associado à régua, é primeiramente referido às horas do dia. Em número de 24, divididas em três períodos iguais de oito horas, sugere que o homem deve ocupar com equilíbrio o seu dia em descanso, trabalho, e a serviço do seu Deus ou de um irmão necessitado.

A lição que o Aprendiz deve obter da régua de 24 polegadas é da proporcionalidade e retidão com que deve ocupar o seu tempo
Maço e Cinzel

O Maço é a energia, a contundência, a força e a decisão necessárias para que o Aprendiz progrida no seu trabalho, não esmorecendo ao primeiro revés.

Quando utilizado de forma desordenada, o maço pode-se transformar numa poderosa ferramenta de destruição, porém, o seu uso disciplinado torna-o num instrumento indispensável.

O Cinzel simboliza a inteligência que o Maçom deve empreender para desbastar a Pedra Bruta.

É um instrumento utilizado para trabalhos que exijam apuro e precisão, formado por uma haste de metal em que um de seus lados é perfuro-cortante e o outro apresenta uma cabeça chata onde recebe o impacto do Maço, dirigindo a força daquele de forma útil.

A associação do Maço com o Cinzel mostra-nos que a vontade e a inteligência, a força e o talento, a ciência e a arte, a força física e a força intelectual, quando aplicadas em doses certas, permitem que a Pedra Bruta se transforme em Pedra Cúbica
Pedra Bruta / Pedra Cúbica Piramidal

A Pedra Bruta simboliza o Aprendiz, que nela vai trabalhar, desbastando e marcando-a, até que seja julgada polida pelo Venerável Mestre.

Ela representa o homem na sua infância ou estado primitivo, sem instrução, áspero e despolido, com as paixões a dominarem a razão e o que nesse estado se conserva até que, pela instrução maçónica, pelo estudo adquira instrução superior.
A Lua, o Sol e as estrelas

Decoram o templo simbolizando o universo e os atros que iluminam a abóbada celeste.

O Sol, e a Lua representam o antagonismo da natureza, o dia e noite, a afirmação e a negação, o claro e o escuro, que, contraditoriamente, gera o equilíbrio, pela conciliação dos contrários.

As diversas Estrelas distribuídas irregularmente no Painel do 1º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite simbolizam a universalidade da Maçonaria e lembra que os Maçons, espalhados por todos os continentes, devem, como construtores sociais, distribuir a luz dos seus conhecimentos a todos os que ainda estão cegos e privados do conhecimento da verdade.
Olho que tudo vê

Os cristãos chamam-no de Olho da Providência e o representam-no dentro do triângulo que representa a Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo. Para os cristãos esse símbolo representa a onisciência e a onipresença de Deus.

Este símbolo para nós maçons, alude ao “Grande Arquiteto” que observa e acompanha as ações dos membros da Ordem, com o intuito de que todos ajam de forma correta
Esquadro e compasso

O Esquadro como joia do Venerável Mestre, indica que ele deve ser o Maçom mais reto e mais justo da loja, servindo como paradigma para todos os obreiros.

É símbolo da retidão, da moralidade, pois que conjuga, por sua forma, o Nível e o Prumo.

Enquanto a linha horizontal do Esquadro representa a trajetória a ser percorrida na terra, o determinismo, o destino, a vertical indica o caminho para cima, dirigindo-se ao cosmo, ao Grande Arquiteto do Universo

O compasso simboliza a vida correta, pautada pelos limites da Ética e da Moral. Ou ainda o equilíbrio. Ou a também a Justiça. Porque o compasso serve para traçar circunferência, delimitando um espaço interior de tudo o que fica do exterior dela, assim se transpõe para a noção de que a vida correta é a que se processa dentro do limite fixado pela Ética e pela Moral

A conjugação destes dois símbolos constitui provavelmente o símbolo mais conhecido da Maçonaria através de um esquadro, com as pontas viradas para cima, e um compasso, com as pontas viradas para baixo.
3 Janelas

Representam as 3 portas do reino de Salomão
Pedra Cúbica

A Pedra Cúbica representa o Companheiro. É o material perfeitamente trabalhado, de linhas e ângulos retos.

Simboliza o homem desbastado e polido de suas asperezas, educado e instruído, pronto para ocupar seu lugar na construção de um mundo melhor.
O Prumo

O Prumo permite aferir a retidão de uma parede quando está a ser construída, de forma a garantir sua estabilidade

Simbolicamente, o Prumo possibilita a verificação correta e fundamenta o correto crescimento intelectual do maçon, trazendo o conhecimento necessário que possibilitará a aplicação precisa da força através da razão.

É simbolicamente a joia do 2º Vigilante e deve ser usada para verificar qualquer inclinação, qualquer saída do Prumo, que possa acontecer durante a aprendizagem, corrigindo-a a tempo.
Corda de 81 nós

Tradicionalmente, na Maçonaria, os operativos empregavam cordas com nós amarrados a distâncias iguais, para efetuar medições das distâncias no canteiro de obras e esquadrejar grandes ângulos. Isso permitia-lhes traçar os planos de construção das obras que realizavam.


Este método é utilizado ainda hoje por mestres de obra, quando precisam achar o esquadro da fundação de uma obra.



As catedrais antigas eram orientadas de modo que seus eixos ficassem no sentido Oriente-Ocidente e os mestres de obras dominavam as regras da astronomia que lhes permitiam determinar com exatidão a orientação deste eixo. Uma estaca era fincada no terreno, sobre este eixo, no ponto indicado pela seta da figura em baixo

Considerando o Teorema de Pitágoras, onde o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos temos:

Hipotenusa = 5 segmentos ou 5×5=25

Cateto menor = 3 segmentos ou 3×3=9

Cateto maior = 4 segmentos ou 4×4=16

Considerando a fórmula de Pitágoras, o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos, temos:

25 = 9+16 e isso assegura que o ângulo tenha exatamente 90º.

Imaginemos que fossem construir uma grande catedral. Precisavam de algo mais que um metro para medir as grandes distâncias e assim utilizavam as cordas com nós atados a distâncias regulares e estacas, de acordo com a escala utilizada.

OS MISTÉRIOS DO ARCO REAL


Tradução José Filardo



Nos últimos anos, os historiadores maçônicos descobriram que, longe de ser uma adição tardia e um tanto artificial, como tinha sido muitas vezes sugerido, os primeiros altos graus – ou “graus complementares” – remontam provavelmente às origens da Maçonaria especulativa. Entre eles, o mais antigo e mais importante é certamente o “Arco Real” (tradução melhor do que “Real Arco”). Na maçonaria anglo-saxã, ainda é hoje o grau adicional por excelência e um dos destaques da vida maçônica.

O que caracteriza em primeiro lugar o grau do Arco Real é a força de seu tema simbólico. Juntamente com o trabalho em torno do Templo de Jerusalém, três trabalhadores revelam acidentalmente um alçapão que dá acesso a uma cripta, um cofre secreto. Eles exploram esta cripta e descobrem gravada em uma pedra assentada no centro, a antiga palavra de Mestre, a de Hiram e Salomão, antes da mudança ocorrida na cerimônia do grau de Mestre. Trata-se de um dos nomes sagrados de Deus. A lenda do Arco Real, portanto, mantém laços estreitos com duas figuras importantes do esoterismo ocidental: a busca do segredo perdido, a dimensão quase teúrgica atribuída ao verdadeiro conhecimento dos nomes divinos. A origem dessa lenda maçônica é provavelmente o episódio semelhante relatado por Philostorgius, um escritor grego da Antiguidade tardia, e retomada por alguns escritores religiosos do século XVII. Então, o abade Fleurylhe dedica três páginas em sua monumental e famosa História Eclesiástica (1691). O tema inicial conhece variações – por vezes, a cena se passa durante a construção do Primeiro Templo, às vezes é quando de sua reconstrução por Zorobabel – e muitas adições, muitas vezes de grande riqueza simbólica. Assim, o “verdadeiro nome de Deus” encontrado pelos três trabalhadores só pode ser pronunciado quando os três estão reunidos e em um procedimento particularmente impressionante. O Capítulo do Arco Real é dirigido por três dignitarios, os três “Diretores” Zorobabel, o profeta Ageu e o Sumo Sacerdote Josué simbolizando as funções real, profética e sacerdotal. Se nós sempre lhe damos um lugar de destaque, o Arco Real nem sempre é praticado da mesma forma na Inglaterra, na Escócia, na Irlanda ou nos Estados Unidos.

O grau do Arco Real é atestado pela primeira vez na Irlanda em 1744 em uma prancha, um pouco controversa, intitulada Investigação séria e imparcial sobre a causa do declínio da Maçonaria no Reino da Irlanda! O Dr. Dassigny nos revela ali a existência de uma controvérsia entre os Irmãos sobre a introdução, “há alguns anos atrás”, de um novo grau do Arco Real que seu propagador afirmava ter recebido na loja de York, na Inglaterra, e outros afirmando que o verdadeiro Arco Real era aquele proveniente de Londres. A partir dos anos 1750, alguns depoimentos atestam a prática do grau nas Maçonarias britânica e americana, que se multiplicam nos anos de 1770-1780. O Arco Real foi particularmente apreciado pelos “Antigos” – de quem conhecemos, aliás, a forte ligação com a Irlanda – enquanto que os “Modernos”, mesmo trabalhando nele queriam manter a proeminência do grau de Mestre. Dessas divergências, a União 1813 fez em seu artigo 2º esta citação mal escrita célebre e emblemática do pragmatismo Inglês: “a pura e antiga Maçonaria consiste de três graus e nada mais, ou seja: Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo a Suprema Ordem do Santo Arco Real”. A Maçonaria francesa não o ignora. O “Cavaleiro do Arco Real” – um nome, ao mesmo tempo enigmático e transparente – bem como o “Grande Escocês da Abóbada Sagrada”, que é encontrado como a segunda ordem do Rito Francês ou graus 13 e 14 do REAA são provavelmente testemunhos emocionantes das versões mais antigas do Arco Real britânico que chegaram à França na década de 1760.


OS "QUATRO ELEMENTOS"...E SE ELES ERAM APENAS DOIS?


Tradução José Filardo

Publicado 17 de maio de 2017 – por Ronan Loaëc



Os quatro elementos, fogo, ar, terra e água na ordem em que os nomeou Aristóteles partindo do mais sutil remontam à Grécia antiga: Empédocles os havia postulado como componentes básicos de todos os corpos cujas características dependiam da respectiva mistura de seus componentes. Aristóteles acrescentou a eles um quinto, o éter (a “quintessência”), que supostamente banhava o universo como um vapor tão sutil que ele permanece invisível e impalpável, e do qual não nos livramos realmente a não ser no século XX, com a relatividade de Einstein. Os outros quatro “elementos” perderão seu status como componentes básicos na segunda metade do século XVIII, com o trabalho de Lavoisier que conseguiu separar, identificar e pesar os dois principais constituintes do ar, o oxigênio e o nitrogênio ou azoto (assim nomeado a partir do grego porque não permitia a vida).

Com Lavoisier, que mostra, ao mesmo tempo que a combustão é devida ao oxigênio e não um hipotético “flogisto”, a alquimia vai rapidamente perder seu status em benefício da química moderna. Mas não se interrompe tão facilmente um sonho baseado em sentimentos profundamente enterrados no inconsciente, gerados pelas experiências experimentos da criança descobrindo o mundo à sua volta, como tão bem demonstrou Bachelar em seu estudo dos elementos … (1)

Amante de ópera diante do eterno, eu conhecia de cor a Flauta mágica de Mozart bem antes de ser iniciado. E seu caráter maçônico, sistematicamente enfatizado em todos os programas de todas as casas de ópera do mundo, obviamente, não me escapou. Eu não tinha lido voluntariamente nada específico sobre a iniciação maçônica para preservar o frescor da descoberta e não correr o risco de sucumbir às ideias preconcebidas, mas de toda forma cheguei à grande noite com a sensação de ser nada a menos que Tamino. Então esperava ser “purificado” pela água e pelo fogo como meu modelo.
Qual não foi minha surpresa ao sentir também uma corrente de ar (obviamente alimentada por um efeito chaminé) e descobrir através do texto um tanto moralizador que era lido à medida de meu deslocamento para explicar-me os passos que eu também havia sido submetido à prova da terra. É preciso dizer que, sem meu pleno conhecimento, visto que eu pensava apenas meditar na câmara de reflexão diante de um memento mori, uma clássica “vaidade” que apaixonava os séculos XVII e XVIII, ao redigir meu testamento filosófico diante de um crânio que me contemplava com suas órbitas vazias destacadas pela luz bruxuleante de uma vela.


Uma chave de compreensão, a alquimia

A presença de uma pegada alquímica através do “vitriol” (que eu viria a descobrir mais tarde que se trata de um acrônimo) e o enxofre deveria ter colocado uma pulga atrás da orelha: a iniciação por que eu passara não era a mesma da Flauta. De fato, eu descobriria mais tarde, graças a meus mestres que me deram a curiosidade histórica e me preservaram das besteiras da “história sagrada maçônica” que somente as provas da água e do fogo eram realizadas no século XVIII, como fizeram Tamino e Pamina. Querer fazer de “crianças” em sua máquina voadora o símbolo do ar e dos subterrâneo o teste da Terra, a exemplo da câmara de reflexão, constitui um flagrante contrassenso histórico de que Chailley foi o principal propagandista, equivocado que era por uma visão histórica baseada em trabalhos cujo rigor não é a principal qualidade (e eu penso aqui principalmente em Boucher que constituía, para sua infelicidade, a única fonte de informação de nome entre os muitos musicólogos em matéria maçônica (2)). Eu viria a descobrir na mesma ocasião que a câmara de reflexão era originalmente uma simples câmara de preparação, pouco ou nada decorada, onde se deixava o candidato antes de vir buscá-lo para as provas. De fato, o componente alquímico da câmara moderna apareceu tardiamente, e segundo o mesmo processo que levou para completar as provas com aquelas do ar e da terra (mais precisamente, adicionar à câmara de reflexão uma dimensão simbólica de ” prova da terra “, que originalmente lhe era completamente estranha, e isso tem apenas a finalidade de completar a tabela dos elementos tradicionais da alquimia). A chave é, claro, sobre alquimia. Como ela se instalou, como se desenvolveu nas lojas?

O século XVIII – Século das Luzes – é também o do mistério e da escuridão. À figura do já mencionado Lavoisier, protótipo do cientista “moderno” adepto de uma metodologia rigorosa, podemos opor o de uma personagem controversa, Mesmer, que usa a moda da eletricidade e do magnetismo para enganar os ingênuos. Mesmer era vienense, amigo do pai de Mozart; o compositor e seu libretista Da Ponte o evocou na figura de Cosi fan tutte através da empregada Despina que traz os dois galanteadores à vida após seu falso suicídio, usando um… ímã. A maçonaria original na Inglaterra tem pouca influência sobre o esoterismo. O conceito de iniciação está ausente ali: “faz-se” um maçom. É diferente no continente: o século XVIII, particularmente na França, verá nascer muitos altos graus com títulos floridos baseados em diferentes mitologias, incluindo a cavalaria (Pierre Mollier vê ali um ressurgimento dos mitos da Távola Redonda no imaginário da burguesia), bem como a alquimia. A separação administrativa, hoje corrente entre as lojas simbólicas e as oficinas de altos graus era desconhecida e os detentores desses títulos atraiam simultaneamente inveja e ciúme: é muito fácil imaginar como, ao longo dos anos, conceitos surgidos nos altos graus se transmitissem às Lojas. A decoração da câmara de reflexão constitui assim um bom marcador desta evolução.


Origens do sincretismo contemporâneo…

Os elementos alquímicos, assim, apareceram “em azul” desde a segunda metade do século (o enxofre e o vitriol …). Subsequentemente, no século XIX, é o grau frequentemente considerado o máximo, o da Rosa Cruz, que por sua vez será a força motriz para uma mistura através de um mecanismo semelhante: o novo rito, a Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), finalizado em 1806, vai gradualmente levar à extinção de fato do Rito Francês (RF) nos altos graus, oferecendo acesso direto ao grau 18, o da Rosa Cruz, ou seja, equivalente a Quarta Ordem do RF. Os hábitos de REAA adquiridos nos capítulos rosa-cruzes pelos irmãos mais tapados da loja, por sua vez, vão se introduzir gradualmente nas lojas que continuam esmagadoramente a praticar o RF. Inventa-se, particularmente, um acendimento de velas que era desconhecido no RF, nascido em um momento em que as velas serviam para… iluminar, na falta de gás ou de eletricidade. E se começa a “esquadrejar”, para marcar os cantos ao redor do tapete da loja. Ao mesmo tempo, sob a influência de mitologia ambiente favorável a uma sobrecarga simbólica, esforça-se para “completar” os rituais originais e é assim que os “quatro elementos” gradualmente substituem os dois originais, os únicos usados no tempo de Mozart: não, a Flauta Mágica não propunha em sua cena final uma iniciação figurada, mas uma descrição realista desta parte da cerimônia, as “purificações” pela água e pelo fogo.

O grande ordenador da implantação do hermetismo e da alquimia como princípio subjacente à Maçonaria é, certamente, Oswald Wirth: seu livro O Simbolismo Hermético em suas relações com a alquimia e a Maçonaria (1909) merece uma leitura ainda hoje. Todas essas evoluções muito sensíveis na segunda metade do século XIX, serão formalizadas através dos rituais de Groussier que se esforçou no período entre guerras, para trazer rigor ritualístico e dimensão simbólica a uma maçonaria que tinha perdido muito o interesse nas lutas políticas (para não mencionar o papel da vitória intelectual do racionalismo na virada do século).

No rito francês do século XVIII, do qual o Regulateur de 1801 dá uma ideia bastante precisa, substitui assim gradualmente no século XIX e depois no XX, um rito composto: os fundamentos do Rito Francês estão bem presentes (pé de partida na marcha, posição das colunas e vigilantes, bateria …), mas a muitos empréstimos do Rito Escocês Antigo e Aceito são adicionadas inovações muitas vezes felizes (aparição do espelho, posição respectiva do esquadro e do compasso segundo o grau, instalação do fio do prumo no templo) e, infelizmente, o abandono de elementos-chave do Rito (particularmente o tapete de loja que oficinas do Rito Francês recuperam cada vez mais frequentemente). Enquanto algumas inovações são mais interessantes e enriquecem o simbolismo das cerimônias , outros são mais questionáveis. Assim, o acendimento de velas acrescenta uma dimensão de mistério e beleza à abertura e ao fechamento dos trabalhos, independentemente dos fundamentos do Rito praticado. Além disso, se esta prática é ausente do RF original, é simplesmente que essa fase era tecnicamente impossível de implementar no século XVIII. É bastante diferente do habitual marcar os cantos: no RF, as grandes luzes não são força, sabedoria e beleza concentradas sobre as três colunas arquitetônicas que cercam o tapete da loja no REAA (e por um bom motivo: no RF, há apenas as luzes de iluminação e as três grandes luzes, o sol, a lua e o mestre da loja estão no Oriente). Não há, portanto, nenhuma razão para “saudar” uma virtude ausente marcando os cantos, mas sim seguir um orbe que lembra o movimento dos planetas …

O sincretismo é um processo natural de evolução de rituais. A busca obsessiva de uma “pureza original perdida” revela apenas a neurose de seus adeptos cujas abordagens geralmente conduzem a impasses fundamentalistas. As evoluções, os empréstimos, as invenções que enriquecem o significado e revelam a beleza são sempre positivas e devem ser considerado com simpatia … Nossas roupas, nossos rituais atuais já não têm mais muito a ver com os da origem, mas eles permitem alcançar os mesmos objetivos: a união de corações e mentes na fraternidade. No entanto, se ele é sincretismo feliz, outros contribuem apenas para obscurecer o significado mais profundo das fontes. Apenas o estudo histórico nos permite reencontrar o sentido original, encontrar a pedra escondida, a “occultam lapidem” do vitriol!

Notas:
1: Veja Revista Maçonaria No. 55
2: Jacques Chailley: A Flauta Mágica, ópera maçônica (Detrad). Para saber mais, leia as Crônicas da História Maçônica No. 64 de 2009, na qual dediquei um longo artigo aos erros de musicólogos relacionados com a sua ignorância da história real da Maçonaria no século XVIII (Conforme Editions).

O RITUAL SCHRODER, UMA HERANÇA DOS "MODERNOS"

Tradução: José Filardo

Por Victor Guerra -  V Ordem e Grau 9 do Rito Moderno



Temos muito na cabeça que os Irmãos maçons da Inglaterra, (stuartistas e huguenotes [1] ) que passaram de “armas e bagagem” pelo Canal da Mancha a caminho da França em busca de refúgio e uma nova vida trouxeram consigo aquelas velhas práticas maçônicas dos “Modernos” constituíram o grande núcleo do Rito Francês, cuja grande referência tem sido e é o Grande Oriente de França que o implementou na França e o irradiou, digamos que timidamente, a outros confins.

Tanto é verdade que o desenvolvimento do que hoje conhecemos como Rito Francês, não deixa de responder às necessidades de uma Obediência na fase de estruturação que produziu, em consequência, o Régulateur du Maçon, para em seguida, se adaptar aos tempos e às exigências sociopolíticas. Ela foi derivando seus rituais em função dessas questões e das pressões das elites do poder. Assim, temos como resultado os rituais Murat, os de Amiable, os múltiplos de Groussier e atualmente os de Referência, todos eles responderam às necessidades de cada momento.

Mas a ideia que temos deve deixar de ser tão reducionista porque o Rito dos “Modernos” teve outras fugas ou vias de escape, como já nos contou o historiador Pierre-Yves Beaurepaire, e estas se realizaram em parte através das elites intelectuais e políticas daqueles momentos que logo se sentiram atraídas pela Maçonaria e o misticismo que a cercava.

Rotterdam foi um desses centros onde primeiro se cria uma loja em 1720 -1721, geralmente de nacionalidade Inglesa e escocesa, logo havia também uma implantação descontínua em Portugal, Hamburgo e Alemanha e que os irmãos, como disse PY Beaurepaire; a plasticidade da sociabilidade maçônica é o que faz com que as lojas fossem o receptáculo das aspirações em relação às frustrações profanas. [2]

E, portanto, fruto dessa peregrinação localizada na Alemanha uma personagem “genuína” como Friedrich-Ludwig Schröder iria acabaria desenvolvendo o chamado Ritual Schröder

Os oito oficiais [3] da oficina em seus lugares, os Mestres se situam no topo das respectivas colunas, depois os Companheiros e, finalmente, os Aprendizes.

O silêncio reina nas colunas, e a penumbra é evidente na oficina[4] e apenas três luzes dão claridade suficiente para iniciar os trabalhos

O Mestre da loja e os dois Vigilantes trocam o sinal do Aprendiz e, em seguida, um após o outro eles batem com os seus malhetes, após o que o Mestre da Loja desce do Oriente e se dirige para tomar sua própria luz no Ocidente e iluminar com ela a coluna da Sabedoria, enquanto declama: Que a Sabedoria presida a construção deste edifício!

Enquanto isso, os Vigilantes, desde suas mesas, recolhem suas luzes correspondentes e as colocam em suas respectivas colunas: o Primeiro Vigilante declama: Que a força o dirija! E o Segundo Vigilante, quando deposita sua luz, diz: Que a beleza o adorne!

Depois que o experto revela o Painel da Loja , e depois do habitual golpe de malhete do Venerável, repetido pelos Vigilantes em seus lugares – que coloca à ordem os membros da oficina vez que se declaram abertos os trabalhos sob esta fórmula: Sendo eleito pela livre vontade de meus irmãos, Abro esta loja no grau de Aprendiz em nome do GADU e de acordo com os costumes antigos dos maçons, e depois de recitar uma oração, declara aberta a loja com esta proclamação: “A loja está aberta, que cada oficial cumpra seu ofícios, e que essas horas sejam abençoadas”

Dessa forma bem conhecida, mas também tão peculiar e ao mesmo tempo tão simples, abrem-se os trabalhos do Ritual Schröder, cujas origens envolvem ir até o começo da prática da Maçonaria na Alemanha.

Schröder, em contato permanente com Lessing, Herder, Bode e Bötticher vai ajudar no esforço que mantém a pesquisa histórica dessas origens que, no caso alemão podemos rastrear até 1737, que é quando chega a estas terras procedente da Inglaterra, formatado com base em três graus chamados de São João: Aprendiz, Companheiro e Mestre, que representa o clássico sistema de três graus.

Esta primitiva Maçonaria não tem um grande desenvolvimento, embora se constate a criação de várias lojas: em 1741, uma loja escocesa se constitui em Berlim, e em 1744 outra em Hamburgo pela mão de von Schmetten que trabalharia no Rito Francês, ou seja, que temos como pontos de origem o porto internacional de Hamburgo, tendo em seguida, ponto de origem na Prússia com o erguimento de outra loja.

Este nascimento será muito marcado pela Estrita Observância Templária (SOT), cujo período é cheio de sombras históricas e cujo sistema causou muita confusão, não só no aspecto histórico, mas na própria evolução da Maçonaria [5] . Quem quiser se aprofundar sobre o assunto eu recomendo o livro de Le Forestier: “A Franco-Maçonaria Templária e Ocultista“. (Uma verdadeira bíblia sobre a questão da SOT)

Mas, partindo da atração da SOT, que de alguma forma se inseria na linha de projetos utópicos no espaço que vão para a constituição de um estado aristocrático, e será a SOT que trocaria a Carta Europeia do Iluminismo pela ideia da Europa Templária em se unem a Maçonaria e aqueles monges guerreiros que se refugiam na Escócia e na Irlanda e de cuja organização encontraremos coincidências suspeitas quanto à teurgia que logo se desenvolverá em torno do “superiores desconhecidos“, tudo isso envolto em uma atmosfera carregada de sinergias teúrgicas, cabalistas e teosóficas, sem deixar de fora, é claro, o hermetismo ocultista, que finalmente se estabeleceria como uma atração poderosa que atraiu muitas maçonarias e maçons, [até hoje, graças às redes sociais e informações da Internet, podemos ver muito disso emaranhado nas pernas da Maçonaria do século XXI.] e cujo principal objetivo era nada mais do que “romênia” cristã.

Não há dúvida de que todo este conglomerado atraiu fortemente o sentimento romântico germânico, e cujo paroxismo terá seu pico alguns anos mais tarde com o aparecimento durante o nazismo de Ordens iniciáticas com a Thule ou outras de origens neo-templaristas neo-Teutônicas incertas.

No meio deste turbilhão das paixões, aparece a figura de Friedrich-Ludwig Schröder [6] homem de personalidade forte e vocação autodidata inata que o leva a adquirir a sua paixão uma vasta cultura. Nascido em 2 de novembro em 1744 em Schwerin, seus pais eram atores de teatro de origem luterana. E ele mesmo foi diretor de teatro, dramaturgo e ator.

Foi iniciado na Maçonaria através do apadrinhamento de seu amigo Bode [7] Venerável durante uma boa parte dos anos de uma das lojas mais antigas da Alemanha: Absalão zu den drei Nesseln“ [8] fundada em 1735 em Hamburgo, (existente até hoje[9] ). Schröder é recebido na loja de Hamburgo Enmanuel zur Maienblume [10] fundada em 1774, embora tivesse pedido para entrar na loja Jonathan, em maio de 1769, mas sua condição de ator não tinha boa reputação entre a maçonaria da época e, portanto, foi rejeitado.

Uma vez iniciado e dado seu ímpeto, Schröder mesmo tendo a abeta levantada, como Aprendiz que era, e sem que houvessem passado apenas dois meses, ele decide levantar uma loja: Elisa zum warmen Herzen que será considerada irregular porque, além disso, admitia somente pessoas de teatro de seu próprio círculo. A loja terminaria abatendo suas colunas em 1775.

Nesse mesmo ano, Schröder é elevado a Mestre na loja de Rensburg: Josua zum Korallenbaum. Um ano depois, em 28 de junho, é eleito Venerável, e recebe o grau 4, Mestre Escocês.

Schröder terá uma longa vida maçônica enquanto Venerável, já que é encontrado nesse cargo até 1799, ano em que é eleito Grão-Mestre Adjunto da Grande Loja Provincial, que em 1811 se tornará a Grande Loja de Hamburgo, sendo nosso amigo Schröder eleito Grão-Mestre em 1814, com 70 anos de idade. Este rejeita o cargo argumentando que era demasiado velho desempenhar suas funções.

A Originalidade de Schröder.

Com esse ímpeto e paixão típicos, aliás, do autodidata, uma das coisas que desenvolve é criar uma loja de instrução reservada apenas para a Mestres, cuja missão era fundamentalmente conhecer outros sistemas rituais, e sobre esta loja Schröder escreve: Dentro dele se exercerá a verdadeira fraternidade, ao contrário do que acontece em outras lojas. Todas as perguntas podem ser feitas dentro de um diálogo totalmente aberto“.

Este espaço de reflexão e de instrução que tomou o nome de Engbund, cuja fundação data de1802 se perderá ao longo do ano de 1861.

Mas, como tal oficina deixará toda uma marca, e não menos, como era a de reformar a maçonaria alemã, retornando os rituais à pureza original, fugindo da desordem e instabilidade da Maçonaria alemã da época, enquanto lutavam contra o caráter fabulista e fantasioso de “superiores desconhecidos”, etc.

Schröder não só vai preconizar com tal avanço, uma ação sem precedentes, porque só trabalhará os três graus simbólicos, e ele fugirá como gato da água dos Altos Graus, que além disso, não vão estar presentes no chamado sistema ritual Schröder, cujo desenvolvimento encerrará com o grau de Mestre Maçom, que deve trabalhar e perseverar para ter o mais alto nível de formação.
Ele tem isso tão claro que opina que: “A Maçonaria não é uma ordem… mas uma corporação, uma guilda, uma fraternidade” e, portanto, faz todo o sentido usar o termo Irmão e foge de todas as magias, alquimias e teosofias que se misturam com o trabalho ritual maçônico e o confundem. Tudo isso será recorrente em alguém que viveu no meio da Estrita Observância Templaria e cujos reflexos recolherá nos quatro volumes que escreveu “Materiais sobre uma história da Maçonaria“, ainda que contra toda a sua ação houvesse duas questões que lhe afetadas diretamente: por um lado o visionarismo gnóstico, e por outro os reformistas radicais que tentavam erradicar o ritual e o simbolismo da loja.

Nesse ambiente, Schröder realizará o desenvolvimento do que vai acabar se denominando Schrödersche System um sistema baseado em três graus que representam uma adaptação da reunião de rituais ingleses antigos baseados no desenvolvimento dos “Modernos”.

Um trabalho de reelaboração de língua difícil cheia de dúvidas, uma vez que seu esforço era ficar o mais próximo possível das fontes para criar assim um ritual que “forçará os homens à meditação e tornará explícitas as noções fundamentais como a tolerância, a fidelidade, a plena consciência da responsabilidade de cada um” essa fidelidade ele queria alcançar com base no trabalho de tradução para o alemão e que realizava graças à complacência e cumplicidade de um Delegado das lojas germânicas em Londres.

Voltar à simplicidade original de um ritual supõe superar toda uma série considerável de obstáculos, e Schröder não se conformará com os rituais alemães em uso, então ele embarca nessa busca original, para isso recorre às fontes inglesas, o que não era fácil, e menos se se leve em conta que os rituais das lojas inglesas não estavam, em sua maioria, transcritos para o papel, e, claro, não estavam impressos, vez que eram memorizados ao longo do tempo de aprendizagem para aqueles que seriam então os oficiais da loja.

Graças ao empenho e paixão de Schröder e a este contato na Grande Loja da Inglaterra cuja personagem era o irmão August von Graefe [11] este será alcançado através de um “estranho” compromisso com Graefe que foi ditando de memória ao Grande Secretário Backmann os rituais Ingleses praticados na época.

Em 1792, Schröder conseguiu sua primeira compilação, com a qual trabalharão cerca de cinco lojas de Hamburgo, sendo o ritual adotado como tal em 1816 pela Grande Loja de Hamburgo, embora Schröder não poderá ver culminada sua criação, pois virá a falecer em breve, em setembro de 1816, sendo enterrado no Cemitério paroquial luterano de São Pedro de Hamburgo.

O trabalho ritualístico de Schröder impressiona pois são vinte e seis volumes nos quais recolheu uma série impressionante de rituais muito antigos, muitos deles descobertos no sul da Alemanha. Em parte, seu trabalho será recompensado pela recuperação da loja Amalia zu Drei Rosen de Weimar [12] , na qual foi iniciado Goethe, naqueles primeiros tempos a oficina tinha trabalhado no ritual da Estrita Observância Templaria, e em seguida, no Rito Zinnendorf [13] , a referida lojas terminará por adotar o Ritual Schröder, em junho de 1808.

Começamos este artigo abrindo os trabalhos, agora toca a encerrá-los sob o sistema Schröder.

Uma vez concluídos os trabalhos, o Venerável Mestre diz: Que brilhe sobre nós a luz da Sabedoria! O Primeiro Vigilante: Que o fogo da força continue a agir! ” O Segundo Vigilante”: Que em nós brilhe a Beleza!

Por ordem do Venerável Mestre, o Primeiro Vigilante manda os irmãos ficarem à ordem enquanto fecha a loja em nome do Grande Arquiteto do Universo: Assim como o sol se oculta no Ocidente, o Primeiro Vigilante se situa no Ocidente para fechar a loja e dar aos obreiros seus salários e liberá-los de seu trabalho.”

Os três malhetes da loja repicam sucessivamente cada um golpe, até uma segunda ronda, enquanto o experto fecha o Painel da Loja e o Venerável e os Vigilantes apagam suas luzes. A Cadeia de União se forma e o Venerável Mestre recita: A loja está fechada! Die Loge ist geschlossen!

Nota: Artigo baseado no trabalho de Didier Le Masson *: Um rito alemão inspirado pelos “Modernos” o Sistema Schröder’.
* Membro da Grande Loja da França, e membro de um Capítulo do Rito Sueco de Hagen da Grande Loja da Alemanha.

Notas

[1] Note-se que houve lojas “francesas” compostas por refugiados huguenotes na Inglaterra, por exemplo, a mais antiga é Au Temple de Salomão de 1725.

[2] Pierre-Yves Beaurepaire. L’Europe des Franc-Macons. XVIII – XXI Siecles. Edições Belin 2002.

[3] Mestre de Loja, Experto, Mestre de Cerimônias; Tesoureiro; Secretário, Guarda do Templo; e 1º e 2º Vigilante.

[4] Schröder declarava que em seu ritual o epíteto que alguns maçons dão à oficina de “Templo” estava proscrito e ele preferia chamá-la de “sala da loja”

[5] Tanto os antecedentes quanto o Capítulo Templário de Unwuerden, ou a chamada Reforma de Dresden de 1755 diz-se que era hipotética, e também se escreveu que a instalação de Hund em 1749 ou 1751 em um Capítulo Templária de Kittliz não está provada, e o Convento de Kohlo marca o apogeu da SOT que a seguir assumirá o nome de Regime do Rito Escocês Retificado, sendo assim, o fim do mito dos Superiores Desconhecidos.


[7] Johann Christoph Bode (1730-1793) conselheiro do tribunal de Weimar, filho de um trabalhador; autodidata nos “coros” do Duque de Brunswick, compositor e tradutor de romances humorísticos, e depois de um importante casamento se torna editor Goethem Lessing, e se acha na loja Absalon em 1764 pertencente à SOT onde rapidamente ascende à posição de Venerável, e em fevereiro de 1738 foi admitido na Ordem do “Illuminati” da Baviera, onde era conhecido pelo nome simbólico de “Amelius”. Uma fonte interessante:http://modernhistoryproject.org/mhp?Article=FinalWarning&C = 02.01Também se pode consultar o trabalho de Charles Porset: Les Philalethes et les Convents de Paris. A politique de la Folie. Edições Honore Champion. 1996. Página 532-533.

[8] Absalão das Três Urtigas


[10] Loja que ainda hoje existe: http://www.ezm-hamburg.de/.


[12] Lodge que ainda existe:http://www.anna-amalia.de/


Víctor Guerra. Vº Ordem, e 9o. Grau do Rito Moderno.

quarta-feira, 31 de maio de 2017



A PEDRA DA FUNDAÇÃO[1]


Albert G. Mackey

A Pedra de Fundação constitui um dos símbolos mais importantes e complexos de todos os símbolos da Maçonaria. Ela é citada em várias lendas e tradições, não apenas dos maçons, mas também dos rabinos judeus, dos escritores talmúdicos, e até mesmo dos doutores muçulmanos. Muitas delas, deve-se confessar, são aparentemente pueris e absurdas; mas algumas delas, especialmente as maçônicas, possuem um significado alegórico muito interessante.

A Pedra de Fundação é um símbolo dos graus superiores. Ele faz sua primeira aparição no Arco Real, e constitui, na verdade, o símbolo mais importante daquele grau. Ela está intimamente relacionada, em sua história lendária, à construção do Templo de Salomão, e deve ser considerada parte da Antiga Maçonaria, embora restrinja o âmbito de suas investigações aos primeiros três graus, não conseguirá dentro daquele limite estreito, apreciar adequadamente o simbolismo da Pedra de fundação.

Como preliminar a esta investigação que está para ser instituída, é necessário distinguir a Pedra de Fundação, tanto cm seu simbolismo como em sua história lendária, de outras pedras que desempenham um papel importante no ritual maçônico, mas que são inteiramente distintas dela. Como a pedra angular, que sempre foi colocada no extremo nordeste da construção sobre a qual seria erguida, e a qual tão bela referência é feita nas cerimônias do primeiro grau: ou a pedra fundamental, que constitui uma parte interessante do grau de Mestre de Marca; ou, por fim, a cumeeira, sobre a qual todo o ritual do Mais Excelente grau de Mestre se encontra. Elas são todas, em seus locais adequados, símbolos altamente interessantes e instrutivos, mas não tem qualquer ligação com a Pedra de Fundação, ou seu simbolismo. Embora se diga que a Pedra de Fundação, por razões peculiares, tinha uma forma cúbica, ela não deve ser confundida com a pedra chamada pelos maçons continentais de pedra cúbica – a pierre cubique dos franceses, a cubik Stein dos alemães, mas que no sistema inglês é conhecida como o ashlar perfeito.

A Pedra de fundação tem uma história lendária e um significado simbólico que lhe são peculiares, e que diferem da história e do significado pertence às outras pedras.

Permita-nos definir a Pedra de Fundação maçônica, então edificar as lendas que se referem a ela, e depois investigar o seu significado como símbolo. Ao maçom que tem prazer em um estudo dos mistérios de sua instituição, a investigação não pode ser interessante, se for conduzida sem habilidade.

Bem no princípio, como uma preliminar necessária a qualquer investigação deste tipo, deve ser bem entendido que tudo o que é dito da Pedra de Fundação na Maçonaria deve ser estritamente considerado em um sentido mítico ou alegórico. Dr. Oliver, o mais sábio dos escritores maçônicos, mesmo sabendo que se tratava apenas de um símbolo, escreveu livremente sobre isso, como se fosse uma realidade substancial; dessa forma, se as passagens em Ladmarks Históricos, e em suas outras obras que mencionaram a celebrada pedra, forem entendidas pelos leitores com um sentido literal, elas apresentarão os absurdos e puerilidades que não devem ocorrer se a Pedra de Fundação for recebida, como ela realmente é, como um mito filosófico, transmitindo um simbolismo mais belo e profundo. Leia com este espírito, como todas as lendas da Maçonaria devem ser lidas, a história mítica da Pedra de Fundação que se torna uma das mais importantes e interessantes de todos os símbolos maçônicos.

A teoria que estabelece supõe que, certa vez, a Pedra de Fundação foi colocada dentro dos alicerces do Templo de Salomão e, depois disso, durante a construção do segundo Templo, transportada ao Santo dos Santos. A pedra tinha o formado de um cubo perfeito e estava inscrito sobre a sua face superior, com um delta em um triângulo, o tetragramaton sagrado, ou o Nome Inefável de Deus. Oliver, falando com a solenidade de um historiador, diz que Salomão acreditou ter tornado sua casa digna de Deus, assim como um adorno humano poderia fazer pela morada de Deus, “quando depositou a celebrada Pedra de fundação, sobre a qual o nome sagrado foi misticamente gravado com cerimônias solenes, nos depositários sagrados sobre o Monte Moriá, junto com as fundações de Dan e Asher, o centro do Mais Sagrado Local, onde a arca foi ofuscada pela shekinah de Deus”.[2] Os talmudistas hebreus, que pensaram tanto sobre esta pedra, e que têm tantas lendas sobre ela quanto os talmudistas maçônicos, chamou-a de eben Shatijah[3] ou Pedra de Fundação”, porque, como eles disseram, ela foi depositada por Jeová como a fundação do mundo; e dessa forma o livro apócrifo de Enoque fala da “pedra que sustenta os extremos da terra”.

A ideia de pedra fundamental do mundo foi mais provavelmente derivada da esplêndida passagem do Livro de Jó, na qual o Todo Poderoso exige do patriarca aflito:

“Onde estavas tu, quando eu depositei a fundação da terra?
Declarai, pois vós tendes este conhecimento!
Quem fixou essas dimensões, que vós conheceis?
Ou quem as delimitou?
Sobre quais fundações ela foi fixada?
E quem depositou sua pedra angular,
Quando as estrelas da manhã despontaram juntas,
E todos os filhos de Deus gritaram de alegria”?[4]

Noyes, cuja bela tradução eu adotei não diferindo substancialmente da versão comum, mas que é mais poética e mais tendenciosa que o original, explica as alusões da pedra de fundação: “Era costume celebrar a colocação da pedra angular de uma construção importante com música, canções, gritaria etc. Assim as estrelas da manhã são representadas celebrando a colocação da pedra angular da Terra”.[5]

Sobre esta rara declaração se acumularam mais tradições que pertencem a outros símbolos maçônicos. Os rabinos, como já havia sido declarado, dividem a glória dessas histórias apócrifas com os maçons; na verdade, há boa razão para uma suspeita de que quase todas as lendas maçônicas devem sua existência ao gênio imaginativo dos escritores do Talmude judaico. Contudo há esta diferença entre as tradições hebraicas e a maçônica de que o acadêmico Talmúdico as recitou como histórias verdadeiras, e aceitou em um ato de fé todas as suas impossibilidades e anacronismos, enquanto o estudo maçônico as recebeu como alegorias, cujo valor não está nos fatos, mas nos sentimentos transmitidos.

A partir do entendimento de seu significado, prosseguiremos com uma comparação dessas lendas.

No “Toldoth Jeshu” ou “Vida de Jesus”, obra blasfemadora escrita no século XII ou XIV supõe-se que haja o seguinte relato desta pedra maravilhosa:

“No momento em que (na época de Jesus) havia na Casa do Santuário (ou seja, o templo) uma Pedra de Fundação, que é a verdadeira pedra ungida com óleo por nome Pai Jacó, como foi descrito no capítulo XXVIII do livro de Gênesis. Sobre aquela pedra as letras do tetragramaton foram inscritas, e qualquer um dos israelenses que aprendesse o nome seria capaz de dominar o mundo. Para impedir, portanto, qualquer um de aprender essas letras, dois cães de ferro foram colocados sobre as duas colunas em frente ao Santuário. Se qualquer pessoa, tendo adquirido o conhecimento dessas letras, desejasse partir do Santuário, o latido dos cães, pelo poder mágico, inspiraria tanto medo, que a pessoa repentinamente esqueceria o que havia aprendido”. 

Esta passagem é cidadã por Buxtorf, em seu Lexicon Talmudicum mas na cópia do aldoth Jeshu que eu tive a sorte de possuir (pois está entre os mais raros livros), eu achei outra passagem que dá mais detalhes:

“Naquela época havia no templo o nome inefável de Deus, inscrito sobre a Pedra de Fundação. Pois quando o Rei Davi foi escavar a fundação do templo, ele encontrou nas profundezas das escavações uma determinada pedra, sobre a qual o nome de Deus foi inscrito. Ele a removeu e depositou no Santo dos Santos”.[6]

A mesma história pueril dos cães ladrantes é repetida, ainda, mais demoradamente. A declaração seguinte não é pertinente a esta investigação, mas por fins de curiosidade, pode-se dizer que o livro escandaloso, que é por toda parte uma difamação blasfemadora de nosso Salvador, afirma que ele obteve com perspicácia um conhecimento do tetragramaton a partir da Pedra de Fundação, e por essa influência mística foi capaz de realizar os milagres.

As lendas maçônicas da Pedra de Fundação, baseadas nesses e em outros pensamentos rabínicos, são do mais extraordinário caráter se consideradas como histórias, mas prontamente reconciliáveis com um sentido seguro se olhadas apenas à luz de alegorias. Elas apresentam uma sucessão ininterrupta de eventos, na qual a Pedra de fundação é responsável por uma parte proeminente, de Adão a Salomão, e de Salomão a Zerubabel.

Então, a primeira dessas lendas, em ordem cronológica, relata que a Pedra de fundação foi possuída por Adão enquanto no Jardim do Éden. E que ele a usou como um altar e a reverenciou e, ao ser expulso do Paraíso, ele a carregou consigo para o mundo no qual ele e seus descendentes fossem posteriormente ganhar o pão com seu próprio suor.

Outra lenda informa-nos que de Adão a Pedra de Fundação descendeu a set. De Set ela passou por sucessão regular até Noé, que a levou consigo na arca, e depois da subsistência ao dilúvio, fez dela a primeira oferenda de graças. Noé deixou-a sobre o Monte Ararat, onde ela foi encontrada por Abraão, que a removeu e usou-a como um altar de sacrifício. Seu neto Jacó levou-a consigo quando fugiu para a casa de seu tio Labão na Mesopotâmia, e usou-a como um travesseiro quando, próximo à Luz, ele teve sua célebre visão.

Aqui há uma repentina interrupção na história lendária da pedra e não temos meios de conjecturar como isso passou da posse de Jacó à Salomão. Acredita-se que Moisés, isso é verdade, teria levando-a consigo para fora do Egito por ocasião do êxodo, e pode ter sido assim que ela finalmente chegou a Jerusalém. Dr. Adam Clarke[7] repete o que ele adequadamente chama de “tradição tola”, a pedra sobre a qual Jacó descansou sua cabeça havia depois sido trazida para Jerusalém, e após um grande espaço de tempo foi levada à Espanha, de lá para a Irlanda, daí para a Escócia, onde ela foi usada como um assento sobre o qual reis se sentavam para ser coroados. Edward I, nós sabemos, trouxe uma pedra, a qual essa lenda está ligada, da Escócia à Abadia de Westminster, onde, sob o nome de Travesseiro de Jacó, ela ainda permanece, sendo sempre colocada sobre a cadeira em que os soberanos britânicos sentam para ser coroados, porque há um velho dístico que declara que, enquanto essa pedra seja encontrada, os reis escoceses reinarão.[8]

Mas essa tradição escocesa afastaria a Pedra de Fundação de todas as suas ligações maçônicas sendo rejeitada como uma lenda maçônica.

As lendas recém relatadas são, em muitos aspectos, contraditórias e insatisfatórias, e outras séries, iguais às antigas, são agora muito geralmente adotadas pelos estudiosos maçônicos por serem mais bem adaptadas ao simbolismo que explica essas lendas.

A série de lendas começa com o patriarca Enoque, que se diz ter sido o primeiro consagrador da Pedra de Fundação. A lenda de Enoque é tão interessante e importante na ciência maçônica para justificar algo mais que uma breve referência aos incidentes que ela detalha.

A lenda toda é a seguinte: Enoque, sob a inspiração do Altíssimo, e em obediência às instruções que ele havia recebido em uma visão construiu um templo sob o solo do Monte Moriá, e dedicou-o a Deus. Seu filho, Matusalém, construiu o prédio, embora não fosse familiarizado com os motivos de seu pai para a construção. O templo consistia de nove abóbadas, situadas perpendicularmente uma abaixo da outra, e comunicadas pelas aberturas deixadas em cada uma delas.

Enoque então ordenou a construção de uma tábua triangular de ouro com cada lado na forma de um longo cúbito; ele enriqueceu-a com as mais preciosas pedras, e incrustou a tábua sobre uma pedra de ágata do mesmo formato. Sobre a tábua ele entalhou o verdadeiro nome de Deus, ou o tetragramaton, e colocou-o sobre uma pedra cúbica, conhecida posteriormente como a Pedra da Fundação, depositando-a dentro do arco menor.

Quando esta construção subterrânea foi completada, ele fez uma porta de pedra e prendeu-a com um anel de ferro, por meio do qual ela poderia ser erguida. Ele colocou sobre ela a abertura do arco superior e depois a cobriu para que a abertura não fosse descoberta. O próprio Enoque não podia adentrá-la mais de uma vez ao ano, e depois dele, o mesmo aconteceu com Matusalém e Lameque, e até a destruição do mundo pelo dilúvio, todo conhecimento da catacumba ou do templo subterrâneo, e da Pedra de Fundação, com o nome sagrado e inefável inscrito sobre ela, ficou perdida durante eras no mundo.

Na construção do primeiro templo de Jerusalém, a Pedra de Fundação novamente surgiu. Referência já foi feita à tradição judaica de Davi que, ao escavar as fundações do templo, encontrou uma determina pedra, sobre a qual o nome inefável de Deus estava inscrito, e cuja pedra ele disse ter sido removida e depositada no Santo dos Santos. Lá, o Rei Davi deixou as fundações do templo sobre o qual a superestrutura foi subsequentemente erguida por Salomão, é a teoria favorita dos comerciantes de lendas do Talmude.

A tradição maçônica é substancialmente a mesma que a dos judeus, mas ela substitui Salomão por Davi, dando um grande ar de probabilidade à narrativa ao fazer isso; ela supõe que a pedra então descoberta por Salomão era idêntica àquela que havia sido depositada em sua catacumba a secreta por Enoque. A Pedra de Fundação, declara a tradição, foi posteriormente removida pelo Rei Salomão e depositada em um local secreto e seguro.

A tradição maçônica novamente concorda com a judaica, pois nós encontramos no terceiro capitulo do “Tratado sobre o Templo”, escrito pelo celebrado Maimônides, a seguinte narrativa:

“Havia uma pedra no Santo dos Santos, de seu lado oeste, sobre a qual foi colocada a arca da aliança, e diante disso o pote de maná e o cajado de Aarão. Mas quando Salomão construiu o templo e previu que seria em algum tempo futuro, destruído, ele construiu um aprofunda e arejada catacumba sob o solo, com o propósito de esconder a arca, onde Josias posteriormente, como podemos ler no Segundo Livro de Crônicas, XXXV, 3, depositou-a junto com o pote de maná, o cajado de Aarão, e o óleo de unção”.

O livro talmúdico Yoma cita a mesma tradição e diz que “a arca da aliança foi colocada no centro do Santo dos Santos, sobre uma pedra levantando três dedos de largura acima do chão a ser, como era, um pedestal para ela”. “Esta pedra”, diz Prideaux[9], “os rabinos chamam de Pedra de Fundação, e nos dão uma grande quantidade de besteira a respeito disso”.

Há muita controvérsia sobre a questão da existência de qualquer arca no segundo templo. Alguns dos escritores judaicos afirmam que uma nova foi feita; outros que a antiga foi encontrada onde Salomão a escondeu; e outros novamente afirmam que não havia arca nenhuma no templo de Zerubabel, mais que o lugar fora ocupado com a Pedra de Fundação sobre a qual ele originalmente descansou.

Os maçons do Arco Real sabem bem com todas essas traduções tentam se conciliar com a lenda maçônica, na qual a arca substituta e a Pedra de Fundação desempenham um papel importante.

No 21º grau do Rito Antigo e Aceito, a Pedra de Fundação é evidente como o local de descanso do delta sagrado.

Na Arca Real e nos graus dos Mestres Selecionados do americanizado Rito de York, a Pedra de Fundação constitui a parte mais importante do ritual. Em ambos ela é o receptáculo da arca, sobre a qual o nome inefável está inscrito.

Lee, em seu Templo de Salomão, dedicou um capítulo à Pedra de Fundação, recapitulando as tradições talmúdicas e rabínicas sobre o assunto:

“Vãos e fúteis são os sonhos exaltados dos antigos rabinos concernente à Pedra Filosofal do templo. Alguns declaram que Deus colocou esta pedra no centro do mundo, para uma base futura e consiste ser estabelecida na terra. Outros consideraram esta pedra como a primeira matéria, da qual todos os belos seres visíveis do mundo se originaram e vieram à luz. Outros relatam que esta foi a mesma pedra usada como travesseiro por Jacó, na noite em que ele teve uma visão angelical de Betel, e depois a ungiu e consagrou-a a Deus. Quando Salomão a encontrou (certamente por meio de revelação forjada, ou alguma de busca tediosa, como o Rabbi Selemoh), ele não se atreveu apenas a deixa-la segura, como a principal Pedra de Fundação do Templo. Ao contrário, eles dizem também, ter ordenado que fosse gravado sobre ela o tetragramatum, ou o Nome Inefável de Jeová”.[10]

Será visto que a tradição maçônica sobre o assunto da Pedra de Fundação não difere muito materialmente das rabínicas, embora elas deem poucas circunstâncias adicionais.

Na lenda maçônica, a Pedra de Fundação faz a sua primeira aparição, como eu já disse, no templo de Enoque, que a colocou nas entranhas do Monte Moriá. Lá subsequentemente ela foi descoberta pelo Rei Salomão, que a depositou em uma cripta do primeiro templo, onde permaneceu escondida até que as fundações do segundo templo fossem depositadas, quando ela foi descoberta e removida para o Santo dos Santos. Mas o ponto mais importante da lenda da Pedra de Fundação está em sua ligação íntima e constante com o tetragramaton ou o nome inefável. É este nome, inscrito sobre ela, dentro do delta sagrado e simbólico, que dá à pedra todo o seu valor e significado maçônico. Todo seu simbolismo dependente desse fato.

Olhando para as tradições em qualquer uma dessas narrativas históricas, nós somos compelidos a considera-las e usá-las sob as palavras de Lee, “mas tantos conceitos tão inúteis e absurdos”. Nós devemos ir além da lenda, vendo-a apenas como uma alegoria, e estuar seu simbolismo. 

O simbolismo da Pedra de Fundação da Maçonaria é o próximo tema de investigação.

Ao abordar isso, o mais obscuro, e um dos mais importantes símbolos da Ordem, nós ficamos imediatamente impressionados com sua aparente ligação com a antiga doutrina de adoração à pedra. Algumas breves considerações do tipo dessa cultura religiosa são necessárias para um entendimento apropriado do real simbolismo da Pedra de Fundação.

A adoração das pedras é um tipo de fetichismo que prevaleceu no início da religião, talvez mais abrangentemente do que qualquer outra forma de cultura religiosa. Lord Kames explica o fato supondo que as pedras erguidas como monumentos para os mortos se tornaram o local onde posteriormente se prestava veneração à memória deles e, finalmente o povo, perdendo de vista a significação emblemática, não entendia prontamente essas pedras monumentais que se tornariam objetos de adoração.

Outros tentaram encontrar a origem da adoração à pedra a uma similar que foi colocada e ungida por Jacó em Betel, e cuja tradição se estendeu às nações pagãs e se tornou corrompida. É certo que os fenícios adoravam pedras sagradas sob o nome de Baetylia, cuja palavra é evidentemente derivada da hebraica Betel; e isso sem dúvida concede uma aparência plausível a esta teoria.

Mas uma terceira teoria supõe que a adoração às p3edras derivou da falta de habilidade dos escultores primitivos, que, incapazes de dar forma, em consequência de seu pouco conhecimento de artes plásticas, a uma verdadeira imagem de Deus que eles adoravam, contentavam-se em substituí-la por uma pedra rude ou pouco lapidada. Então os gregos, segundo Pausânias, originalmente usaram pedras brutas para apresentar as suas divindades, 30 das quais o historiador diz ter visto na cidade de Pharas. Essas pedras tinham a forma cúbica e por um grande número delas ser dedicado ao deus Hermes, ou Mercúrio, receberam o nome genérico de Hermaa. Subsequentemente, com o aprimoramento das artes plásticas, a cabeça foi acrescentada.[11]

Algumas dessas pedras consagradas foram colocadas diante das portas de quase todas as casas em Atenas. Eles também as colocaram em frente aos templos, o ginásio das escolas, nas bibliotecas, nas esquinas das ruas e dos cruzamentos das estradas. Quando dedicado ao deus Término elas eram usadas como landmarks, e colocadas como se estivessem sobre as linhas limítrofes das propriedades vizinhas.

Os tebanos adoravam Baco sob a forma de uma pedra bruta e quadrada.

Arnóbio[12] diz que Cibele foi representada pela pequena pedra de cor negra. Eusébio cita Porfírio dizendo que os antigos representavam a divindade por uma pedra preta, porque sua natureza é obscura e incrustável. O leitor aqui ser á lembrando da pedra preta Hadsjar el Awad, colocada no canto sudoeste da Kaaba em Meca, que foi adorada pelos antigos árabes, e ainda é tratada com veneração religiosa pelos muçulmanos modernos. Os sacerdotes muçulmanos, no entanto, dizem que ela era originalmente branca e que tal esplendor surpreendente poderia ser visto a uma distância de quatro dias de caminhada, mas ela havia escurecido por causa das lágrimas dos peregrinos.

Os druidas, isso é bem conhecido, não tinham outra imagem de seus deuses além de pedras cúbicas, às vezes na forma de colunas, das quais Toland dá vários exemplos.

Os caldeus possuíam uma pedra sagrada, a qual eles tinham grande veneração, sob o nome de Minizuris, e que sacrificaram com o propósito de evocar o daimon bom.

A adoração à pedra existiu entre as primeiras raças americanas. Squier cita Sinner afirmando que os peruanos costumavam depositar pedras brutas em seus campos e plantações, que eram adoradas como protetores de suas colheitas. Gam diz que no México o deus presidente da primavera geralmente era representado sem um corpo humano, e no lugar dele uma pilastra ou uma coluna quadrada, cujo pedestal estava coberto com várias esculturas.

Na verdade, tão universal foi a adoração das pedras, que Higgins, em seu “Druida Celtas”, diz que “por todo mundo o primeiro objetivo da idolatria parece ter sido uma pedra plana, bruta. Colocada no solo como um emblema dos poderes geradores e procriadores da natureza”. Bryant, em seu “Análise da Mitologia Antiga”, declara que “há em todos os templos oraculares alguma lenda sobre a pedra”.

Sem demais citações de exemplos dos usos religiosos de outros países, admite-se que a pedra cúbica é uma parte importante da adoração religiosa das nações primitivas. Mas Cudworth, Bryant, Faber e todos os outros distintos escritores que trataram do assunto, desde então estabeleceram a teoria de que as religiões pagãs eram eminentemente simbólicas. Então, para o uso da linguagem de Dudley, a coluna ou a pedra “foram adotados como símbolo de força e firmeza – um símbolo, também de poder divino, e, por uma inferência imediata, um símbolo ou ídolo da própria Divindade”.[13] Este simbolismo é confirmado por Cornuto, que diz que o deus Hermes foi representado sem mãos ou pés, como uma pedra cúbica, porque a figura cúbica sinalizava uma solidez e estabilidade.[14]

Os fatos seguintes foram assim estabelecidos, mas não precisamente nesta ordem: primeiro, houve uma prevalência muito geral entre as nações da antiguidade da adoração de pedras como representantes de Divindade; em segundo lugar, em quase todos os antigos templos houve uma lenda de uma pedra sagrada ou mística; em terceiro, esta lenda é encontrada no sistema maçônico; e por fim, a pedra mística tinha recebido o nome de “Pedra de Fundação”.

Em todos os outros sistemas a pedra foi admitida como simbólica e a tradição ligada à sua mística, então nós somos compelidos a assumir os mesmos preceitos da pedra maçônica. Ela é, também, simbólica e a sua lenda é um mito ou uma alegoria.

Da fábula, mito ou alegoria, Bailly havia dito: “subordinada à história e a filosofia, ela apenas simula o que pode ser melhor para nos instruir. Fiel em preservar as realidades que encerra, ela cobre com seu véu sedutor as lições de uma e as verdades da outra”.[15] É desse ponto de vista que nós vemos a alegoria da Pedra de Fundação, constituindo um dos símbolos mais interessantes e importantes da Maçonaria.

O fato de a pedra mística em todas as antigas religiões ter sido um símbolo da Divindade levou-nos necessariamente à conclusão de que a Pedra de Fundação também foi um símbolo de Divindade. A mesma ideia simbólica é fornecida pelo tetragramaton, ou o nome sagrado de Deus, que foi inscrito sobre ela. O nome inefável santifica a pedra sobre a qual está inscrito como o símbolo do Grande Arquiteto. Tira dela seu significado pagão como um ídolo, e a consagra à adoração do verdadeiro Deus.

A ideia predominante da Divindade, no sistema maçônico, conecta-se com seu poder criativo e formador. Deus é, para o maçom, Al Gabil, como os árabes o chamam, ou seja, O Construtor; ou como expressado em seu título maçônico, o Grande Arquiteto do Universo, abreviado pelo senso comum na fórmula G.A.D.U. Agora, é evidente que nenhum símbolo poderia ser tão apropriado a ele em seu caráter como a Pedra de Fundação, sobre a qual ele supostamente erigiu seu mundo. Como um símbolo intimamente ligado à obra criativa de Deus, como um padrão e um exemplo, como a construção temporal feita pelo operário sobre uma pedra de fundação semelhante.

Mas essa ideia maçônica ainda deve ser mais abrangente. O grande objeto de todo trabalho maçônico é a verdade divina. A busca pela palavra perdida é a busca pela verdade. Mas a verdade divina é um termo sinônimo de Deus. O nome inefável é um símbolo da verdade, porque Deus, e apenas Deus é verdade. É propriamente uma ideia escritural. O Livro dos Salmos abunda desse sentimento. Diz-se que a verdade do Senhor “alcançou as nuvens”, e que “sua verdade perdurou por todas as gerações”. Se, então, Deus é verdade, e a Pedra de Fundação é o símbolo maçônico de Deus, logo ele também deve ser símbolo da verdade divina.

Quando chegamos a este ponto em nossas especulações, nós já estamos prontos para demonstrar como todos os mitos e lendas da Pedra de Fundação podem ser racionalmente explicados enquanto partes dessa bela “ciência moral, velada em alegoria e ilustrada por símbolos”, que é a definição reconhecida da Maçonaria.

No sistema maçônico há dois templos: o primeiro templo, no qual os degraus da Antiga Maçonaria estão relacionados; e o segundo templo, com o qual os graus superiores e, especialmente do Arco Real, se ligam. O primeiro templo é símbolo desta vida, o segundo, da vida futura. O primeiro, a vida presente; deve ser destruído, sobre as suas fundações; o segundo, a vida eterna, deve ser construído.

Mas a pedra mística foi colocada pelo Rei Salomão nas fundações do primeiro templo. O que quer dizer que o primeiro templo de nossa vida presente deve ser construído sobre a fundação segura da verdade divina, “pois outra fundação nenhum homem pode depositar”.

Embora a vida presente seja necessariamente construída sobre a fundação da verdade, nós nunca atingimos perfeitamente esta esfera sublunar. A Pedra de Fundação é escondida no primeiro templo, e o Mestre Maçom não sabe disso. Ele não tem a palavra verdadeira. Ele recebe apenas uma substituta.

Em um segundo templo da vida futura, nós deixamos a sepultura, que tem sido o fim de nossos trabalhos do primeiro templo. Nós removemos a sujeira e descobrimos que a Pedra de Fundação que ficou escondida de nossos olhos até então. Deixando de lado a substituta para recuperar a verdade que havia nos satisfeito no templo anterior, o esplendor brilhante do tetragramaton e a Pedra de Fundação são descobertos, e a partir de então nós nos tornamos os possuidores do mundo verdadeiro – da verdade divina. Dessa forma, a Pedra de Fundação, ou a verdade divina, escondida no primeiro templo, foi descoberta e trouxe luz ao segundo, explicando a passagem do apóstolo: Pois agora nós vemos por meio de um vidro escurecido, mas face a face: agora eu conheço em parte; mas saberei também como eu sou conhecido”.

O resultado dessa investigação é que a Pedra de Fundação maçônica simboliza a verdade divina, sobre o qual toda Maçonaria Especulativa se constrói, e as lendas e as tradições que se referem a ela pretendem descrever, de uma forma alegórica, o progresso da verdade na alma, cuja busca é o trabalho do maçom, e cuja descoberta será sua recompensa.

(Texto extraído do livro “O Simbolismo da Maçonaria – Mackey, Albert G. – Editora Universo dos Livros)

[1] Uma parte deste ensaio, mas de uma forma bastante abreviada, foi usada pelo autor em sua obra sobre “Maçonaria Crítica”. 
[2] Landmarks Históricos, li. 459, nota 52 
[3] (ver a Gemara e Busxtorf Lex). Talm., p. 2.541 
[4] Jó XXXVIII. 4-7 
[5] Uma nova tradução do Livro de Jó, notas. P. 196. 
[6] Shefer Toldoth Jeshu, p.6. O caráter vergonhoso desta obra surgiu da indignação dos cristãos, que no século XV, não se distinguiam pelo espírito de tolerância, e os judeus, ficando alarmados, esforçaram-se bastante para superar isso. Mas, em 1681, foi republicado por Wangenselius em seu Tela Ignea Satanae, com uma tradução latina 
[7] Coment. Sobre a Gen. XXXVII 18. 
[8] 224. “Ni fallit fetum, Senti quocunque lecatum Inveninent Lapidem, regnare tenetur ibidem” 
[9] Velho e Novo Testamento relacionados, vol. 1 p. 148. 
[10] O Templo de Salomão, retratado pela Luz das Escrituras, cap. IX. P. 194. “Dos Mistérios confinados na Fundação do Templo”. 
[11] Ver Pausânias, lib. IV. 
[12] As “discputationes adversus Gentes” de Arnóbio, fornece-nos um fundo de informação sobre o simbolismo da mitologia clássica. 
[13] Naologia, cap. III. P. 119.. 
[14] Cornut. De Nat. Deor. Cap. 16. 
[15] Essais sur les Fables, t. I. let. 2. -.9.

domingo, 28 de maio de 2017



A TEORIA DA TRANSMISSÃO TEMPLÁRIA
ALVERGNE – MULL


O GRÃO-MESTRE DE AUVERGNE

Ward conta uma lenda maçônica em que o Grão-Mestre Templário de Auvergne, Pierre d´Aumont, fugiu para a Escócia em 1307. Ele estava acompanhado por dois Comandantes e cinco Cavaleiros, e aportou na ilha de Mull, onde eles se disfarçaram como maçons operativos. No Dia de São João[1], no verão de 1313, eles formalmente restabeleceram sua Ordem e elegeram d´Aumont como seu Grão-Mestre. Desde que seu disfarce local dependia de onde os maçons estavam sendo levados, eles se autodenominaram maçons e adaptaram seus rituais Templários para fazer uso das ferramentas de um profissional da Maçonaria. Eles se mudaram para Aberdeen em 1361, e de lá a Maçonaria se espalhou por toda a Europa. Ward achou essa história nos rituais do Rito Maçônico da Estrita Observância.

Ele diz que, se um contingente de nove Cavaleiros Templários fugiu da França para a Escócia, eles certamente teriam fortalecido os Templários locais, e isso poderia explicar por que Larmenius se alertou contra eles na Carta. Naturalmente que ele ficaria mais chateado pelos Cavaleiros franceses que desertaram de seus Companheiros do que pelos Templários escoceses que o golpearam por conta própria em um momento difícil.

Mas Ward está mais preocupado com todas as teorias de transmissão e lendas, para falar apenas sobre os Cavaleiro. E sobre os Sacerdotes Templários? Certamente iriam tentar preservar alguns mistérios templários secretos e seria mais fácil para eles escapar do que foi para os Cavaleiros. Os Sacerdotes da Ordem dos Templários estavam acostumados a trabalhar com os maçons operativos. Quando as igrejas dos Templários estavam sendo construídas ou alteradas, teriam sido os Sacerdotes Templários que supervisionariam o trabalho. E teria sido um passo perfeitamente natural para falar com os maçons responsáveis pela escultura sobre o profundo significado dos símbolos que estavam sendo definidos em pedra. Os Sacerdotes Templários teriam sido bem equipados para discutir o simbolismo maçônico com os operativos, e esse interesse comum poderia ter levado a uma melhor compreensão. Quando a Ordem foi dissolvida, em 1313, alguns Sacerdotes Templários poderiam muito bem ter visto uma forma de salvar seu ritual e misticismo. Se tal movimento havia começado entre os maçons, ele teria crescido e uma Loja ambulante de maçons operativos estaria agora conhecendo os segredos e sinais para testar outros Sacerdotes Templários sobreviventes. Como mais dispostos Templários que foram descobertos, eles poderiam ser tomados para a nova Sociedade de maçons.

Havia muitos tipos de sociedades secretas e místicas na Idade Média, e nesse ambiente o início de uma Loja de maçons especulativos, trabalhando alguns dos Ritos Templários, poderia florescer. Mas Ward pergunta: quanto de nosso presente ritual maçônico pode ser mostrado por ter sido originado com esses antigos Sacerdotes Templários?

SIMBOLISMO TEMPLÁRIO

Mantas maçônicas, cintos de espada e túnicas são como aqueles usados na Idade Média, mas eles foram adotados em tempos relativamente recentes. Talvez eles pareçam corretos, porque o indivíduo que os concebeu se baseou em conhecimento histórico dos Templários.

Quando Ward olhou, em seu início, para os paramentos maçônicos templários, ele encontrou os Irmãos vestindo aventais e faixas. A cruz da Ordem dos Templários mudou várias vezes. As bandeiras que tremulavam em preceptórios modernos são iguais às antigas, mas quando elas foram revividas? Elas poderiam ter sido transmitidas ao longo dos séculos, mas nunca foram secretas. Se alguém queria reviver a Ordem do Templo, não seria difícil conseguir as bandeiras corretas. Certamente o estandarte preto e branco tem um significado esotérico. E Ward acrescenta que seu estudo do simbolismo estelar mostra que ele tem um significado cósmico. O simbolismo da luz e escuridão, dia e noite, sugere o alcance do sistema solar, que é delimitado em seu limite mais externo pela esfera de Saturno, ao qual é atribuída a cor preta. A esfera interna é a da Lua, cuja cor é o branco. Assim, a bandeira preta e branca significa a ligação do Céu e da Terra, ou a unificação do homem e do Universo. Uma cruz vermelha em um campo branco era a outra bandeira dos Templários, e esse simbolismo da cruz cósmica, Walrd diz, mostra o mundo material envolvido dentro do mundo espiritual.

O Selo Templário mostra dois Cavaleiros montando um cavalo. Ward diz que seu significado exotérico é que os Cavaleiros eram tão pobres e humildes que poderiam pagar apenas um cavalo entre si, mas ele oferece outra interpretação. A história menos inocente diz que dois Templários estavam montados em um cavalo de batalha, e um na frente elogiou-se à Cristo, ao passo que o cavaleiro atrás se elogiou àquele que melhor poderia ajudar. O primeiro cavaleiro foi ferido, enquanto o outro escapou ileso. O último era um demônio, e disse ao seu companheiro humano que, se os Cavaleiros só acreditassem nos poderes do mal, a Ordem iria florescer. Ward acredita que essa história é uma invenção dos inimigos dos Templários. Ele sente que o Selo pode ter sido uma referência para os gêmeos que realmente representam a dualidade da alma humana; os personagens estelares Castor e Pólux.

Este Selo foi mais tarde substituído pelo do cavalo alado, que é um símbolo da iluminação. O agnus Dei (Cordeiro de Deus) foi outro emblema usado pelos Templários. Ao mesmo tempo, este tinha sido um símbolo de Mitra – o carneiro e a espada, ou cruz -, mas o fato de que ele foi adotado pelos cristãos facilmente responde por seu uso por uma Ordem declaradamente cristã.

VESTÍGIOS DE CERIMÔNIAS TEMPLÁRIAS EM RITUAIS MAÇÔNICOS TEMPLÁRIOS?

Warld pensa que algumas partes dos paramentos maçônicos e do ritual foram criados a partir dos fatos comumente conhecidos sobre os Templários. Ele cita o Selo, os estandartes e os uniformes, e diz que qualquer arqueólogo inteligente poderia ter recriado a antiga cerimônia templária dos Regulamentos e das Confissões. Muito mais interessante para ele, entretanto, era o Ritual Maçônico Templários. Ward comenta sobre como ele é cheio de anacronismos[2] curiosos, que misturam o antigo com ideias modernas. O ritual é dividido em três seções para combinar os três estágios na carreira de um Cavaleiro: Noviço, Escudeiro e Cavaleiro.

O beijo posteriormente é similar em intenção ao ritual usado no Grau de Cavaleiro Prussiano do Rito escocês Antigo e Aceito, quando o punho da espada do superior é beijado. A meditação de que o Grau tem a sensação do ritual antigo, mas o Anátema (beber de um copo não feito por mãos humanas), continua a ser um ritual desagradável peculiar, que só recentemente foi alterado. Antes disso, em algumas versões, o ex-dono do crânio era convidado para assombrar qualquer um que quebrasse o juramento selado por beber e partilhar dele. Esse sabor de necromancia medieval não parece ser obra do século XVIII. (Ward, no entanto, critica o fato de que o Ritual Inglês tenha passado por uma revisão por pelo menos cinco vezes, e as mudanças podem muito bem ter destruído muitas pistas valiosas para uma possível origem dos ritos templários.)

Ward expande o brinde ritualístico “para todos aqueles valentes” que já tenham bebido em um crânio, qualquer candidato ao Templarismo que hesitou beber foi ameaçado com as espadas dos Cavaleiros ao redor. Ele diz que isso ainda é feito nos Estados Unidos. Mas, ele pergunta, a quem esse crânio representa? Alguns rituais referem-se a Simão, o traidor. Quem era esse traidor? Refere-se ao Simão que carregou a cruz de Jesus, ou ao Simão que os gnósticos dizem que morreu na cruz no lugar de Cristo? O crânio aparece pela terceira vez no altar, com os fêmures cruzados que compõe os emblemas da mortalidade. Por que isso? É para nos lembrar que há um sentido exotérico dentro da história do Calvário, ou está insinuando uma lenda medieval templária mencionada aos autos do julgamento dos Templários?

Ward conta a história da seguinte forma:

“Uma grande dama de Maraclea foi amada por um Templário, um lorde de Sidon, mas ela morreu em sua juventude, e, na noite de seu enterro, esse amante ímpio rastejou para a sepultura, desenterrou o corpo dela e a violou. Então uma voz a partir do vazio ordenou-lhe voltar daí a nove meses, pois ele iria encontrar um filho. Ele obedeceu a essa injunção e na hora marcada, abriu a tumba novamente e encontrou uma cabeça nos ossos da perna do esqueleto (crânio e ossos cruzados). Então, a mesma voz ordenou-lhe para que “o guardasse bem, pois isso seria o doador de todas as coisas boas”, e então ele os levou embora com ele. Isso se tornou seu gênio protetor, e ele foi capaz de derrotar seus inimigos apenas mostrando-lhes a cabeça mágica. No devido tempo, ela passou para a posse da Ordem dos Templários”.

Ward diz que esse como lembra as acusações que foram feitas contra os Templários de eles adorarem uma cabeça. Muitos Cavaleiros disseram que algum tipo de cabeça existia, e alguns comentaram que eles pensavam que era na forma de um crânio. Os comissários papais em Paris encontraram um crânio quando revistaram o Templo em Paris.

Mas o que essas lendas de um crânio mágico significam? Ward pensa que podem ter sido adulterados os relatos de algumas cerimônias de iniciação, as quais foram, repetidas por curiosos ignorantes, e que mentes vulgares as fizeram horríveis. Ele explica como a lenda do mistério egípcio de Osiris conta como Ísis encontrou o corpo morto de Osíris e teve relações sexuais com o cadáver. Dessa união, Hórus o vingador de Osíris, nasceu. Para evitar que algo assim o ameaçasse novamente, Set, o assassino de Osíris, cortou o corpo em pedaços e o espalhou por todo o Egito.

Ward sugere que uma cerimônia de Templários poderia representar um casamento místico, usando-o como um símbolo de se chegar a um estado de união divina. Ela engloba a morte e o túmulo, com o renascimento após a tumba. O corpo, que é do sexo feminino, morre, mas o espírito, que é masculino, rejuvenesce e começa uma nova vida. Exibidos na sala onde é promulgada essa jornada mística estão os antigos emblemas da morte, uma caveira e ossos cruzados. Mas, em todas as tradições de mistério do mundo, esses emblemas da morte levam a um novo nascimento, e por isso eles também são emblemas da vida. Ward pergunta: é o moderno ritual maçônico templário a última relíquia de uma antiga cerimônia? É o nome Simão apenas uma corruptela do título do lendário lorde Templário Sidon?

Ele ressalta que o sinal penal do Grau Maçônico dos Templários tem um duplo significado, e se refere à pena de Ordem. Os raios escaldantes são o fogo que não se apaga, o que implica que a alma não terá descanso até o dia do Juízo Final, enquanto a segunda parte da pena fixa a cabeça entre a Terra e o Céu, alugado como um espírito infeliz, que na lenda medieval vagueia no vazio, incapaz de entrar no inferno ou no céu.

Ward também se refere a uma história interessante que ele ouviu em uma cidade na Hungria. Nessa cidade existe uma antiga construção que pertenceu aos Templários. Os camponeses contam uma história estranha de um fantasma de um Templário que costumava aparecer no salão de vez em quando, e que ele tinha sido visto por alguns deles. O fantasma sempre aparecia em uma posição peculiar. Os camponeses descreveram a posição e Ward diz que, quando foi instalado Templário Maçônico, ele percebeu que a posição tomada pelo fantasma era a mesma que a mostrada a ele pelo Preceptor como o Grande sinal da Ordem

Agora ele pergunta, quais as possíveis explicações existentes para essa lenda? (O Grau Maçônico Templário Inglês não existe na Hungria. Ward sugere duas:

“- era um fantasma que aparecia, apenas como relatado. Se assim for, o antigo Templário usou o sinal maçônico dos Templários e atribuiu grande importância a ele.

- A tradição templária perdura nessa parte do mundo, e lembranças sombrias do ritual e o sinal sobrevivem entre os camponeses, alguns dos quais podem ser descendentes de Irmãos Serventes Templários. ”

De qualquer forma, o resultado é o mesmo. Isso implica que esse sinal é derivado do Templarismo medieval, e o mesmo seria considerado uma heresia, se não uma blasfêmia, pelos Inquisidores. Eles teriam usado como prova da acusação de zombar da cruz. Seu significado esotérico entre os Cavaleiros é que todos os homens devem sofrer como Ele fez, na cruz eterna da raça humana. Mas tal postura teria sido classificada como uma heresia aos olhos do papado medieval. Simbolicamente, ele implica que é pelo sofrimento que a humanidade alcançará a perfeição, em vez de um sacrifício vicário. Isso é uma condenável heresia para a cúria papal.

Ward explica que, como durante a iniciação dos Cavaleiros medievais, eles eram privados de tudo, exceto de suas roupas íntimas. Ele relata como Thomas Wafsingham, em sua vida de Edward II, disse: “Na recepção de Hugo de Burns, ele removeu todas as roupas que usava, exceto suas roupas íntimas”, mas Geraldus de Pasagio disse: “que ele tirou as roupas coloridas que ele estava usando por trás do altar, exceto a camisa, calção, meias e botas... e vestiu uma peça de vestuário de pelo de camelo”. Johannis de Turno e Willian de Raynbur, falando durante seus julgamentos, também disseram que esse era o procedimento comum para se iniciar um Cavaleiro Templário. Durante a cerimônia, o Preceptor iria vestir o candidato com o manto da Ordem e colocar um barrete, um tipo de boné, sobre sua cabeça. Após esse investimento com os paramentos, as cerimônias secretas eram realizadas.

Essa cerimônia aconteceu um pouco antes do amanhecer, e o Templo era iluminado por duas velas. Estava vigiado por dois guardas armados com espadas na porta, e um terceiro colocado no telhado pelo lado de fora. Os templos eram redondos e, nos edifícios a partir do telhado, o guarda sentinela tinha uma visão de todo o exterior, e assim impedia todos os curiosos. Ward acredita que o nome de “Tyler”, utilizado para o Cobridor Externo Maçônico, deriva dessa sentinela dos Templários. E ele diz que o número três desempenha um papel importante nas cerimônias dos Templários. Um novo cavaleiro fazia um voto tríplice de caridade, obediência e pobreza, e o ritual do beijo e a negação simbólica, cada um tinha três partes. Um cavaleiro era autorizado a manter três cavalos e jurava não ceder terreno para até três inimigos. Ele comia carne e dava esmolas três vezes por semana quando assistia à missa, e três vezes por ano todos os Cavaleiros se reuniam para uma cerimônia da Adoração da Cruz.

O ritual Maçônico Templário tem uma ênfase semelhante no número três, e Ward detecta muitos outros pequenos pontos de semelhança com a cerimônia medieval original, de forma que é possível recriá-lo O Grau Continental dos Templários do Rito Escocês Antigo e Aceito tradicionalmente comemora Jacques de Molay e os outros mártires ao beber a Taça da vingança. Ward suspeita que isso foi retirado do ritual inglês em tempos recentes.

Muitos cruzados trouxeram com eles costumes orientais, e os Templários não foram uma exceção. Os antigos Templários eram a única Ordem que usava barbas em uma época em que todos os outros Cavaleiros leigos europeus as evitavam. Ward pensa que eles tomaram o costume do Oriente Médio e também assumiram a ideia de que tirar suas próprias barbas era uma forma de mostrar aflição. (Isso também lhes dava a oportunidade de arrancar punhados de barba de outro homem quando estavam com raiva dele.) A Ordem Real da Escócia usa uma determinada palavra que faz alusão a essa prática, e também isso ocorre no ritual inglês dos Templários – ainda que não pareça haver nenhuma razão especial para isso, então por que é incluído? Ward diz que, se a tradição da Ordem real é certa, e seus Graus foram reorganizados por Bruce e os templários, então este uso faz sentido.

Ward diz-nos que na Inglaterra a Maçônica Ordem dos Templários é conhecida como a Ordem Unida do Templo e dos Hospitalários. É duvidoso que qualquer um dos atuais rituais do Grau de São João se origine dos reais Cavaleiros. Eles existiram até os últimos anos do século XVIII, e um corpo honorário ainda existe em Roma; e seus membros são estritamente limitados aos católicos romanos de linhagem nobre, e um de seus últimos Grandes Mestres era um Habsburgo. A Ordem dos Hospitalários era estritamente ortodoxa. De 1300 a 1800, ela travou uma ação insistente de retaguarda para apoiar sua fé e, ano após ano, eles lutaram contra a conquista turca, inicialmente a partir de Rodes. Com a queda de Rodes, Charles V concedeu Malta a eles, no início do século XVI.

Entre os modernos oficiais maçônicos existe um cujo nome é um enigma: o Turcopolier (Depositário). Ward diz que esse título foi dado ao líder do Turcopoles, uma classe eurasiática que cresceu no Oriente Médio, descendente de comerciantes europeus de mulheres asiáticas. Ward diz que todo mundo conhece a lenda de Gilvert e a princesa sarracena que o seguiu para Londres, e cujo filho era Thomas Beckett, o Feroz, martirizado como arcebispo. Ele diz que, embora os historiadores modernos sejam críticos em relação a essa bonita lenda, não há dúvida de que os Turcopoles ordinários existiam.

Os Hospitalários estavam preocupados com essas crianças mestiças e comprometeram-se a cuidar de todos os meninos não desejados, os quais trouxeram como cristãos e os treinaram para ser homens – de armas e Cavalaria ligeira. Eles usavam turbantes para ser distinguidos dos verdadeiros Cavaleiros da Ordem, porque não eram de ascendência nobre, e por isso não poderiam se tornar completos Cavaleiros. Eles eram comandados por um oficial chamado Turcopolier, e esse cargo sempre foi dado a um inglês Turcopoles lutaram muitas batalhas sangrentas e destacaram-se durante o cerco de Rodes.

Após a retirada de Malta, os Cavaleiros Hospitalários reorganizaram-se e lutaram contra os turcos em alto-mar. Isso culminou em uma luta tremenda para Malta, durante a qual os turcos sitiaram a ilha por três anos. Ward diz que sempre se entristece quando lê o relato do cerco, no que, quando se pressionou, nenhum dos Cavaleiros Ingleses tomou posição ao lado de outras nações. Ele diz que isso aconteceu porque, entre a queda de Rodes e do cerco de Malta, ocorreu a Reforma na Inglaterra, e Henry VIII dissolveu a Ordem. Henry não fez graves acusações contra a Ordem, e deu ao seu Prior uma pensão generosa, embora esse cavaleiro nunca tenha tocado em um centavo. Ele morreu no dia seguinte, quando recebeu a notícia de que a Ordem foi suprimida.

Não havia Cavaleiros ingleses no cerco de Malta, mas, quando Don Juan derrotou a frota turca e aliviou os Cavaleiros, a rainha Elizabeth ordenou um solene Te Deum para ser cantado na antiga Sr. Paul para a vitória da cristandade sobre o infiel. (A cripta e a capela-mor dos Hospitalários e grande Igreja do Priorado de São João de Jerusalém, em Clerknwell, ainda continuam de pé. Uma rua estreita em seus arredores é conhecida pelo nome de Jerusalém.)

Depois de garantir Malta, os Cavaleiros Hospitalários não ficaram ociosos. Eles iniciaram o policiamento do Mediterrâneo. Suas galeras patrulhava os mares em torno de Malta em uma batalha sem fim contra os corsários argelinos, um grupo de piratas que pilhou e, às vezes invadiu as costas do sul da Europa. Quando os últimos Cavaleiros Hospitalários faleceram, os franceses foram forçados a invadir Argel para impedir esses ataques.

Ao longo dos séculos XVII e XVIII, os Cavaleiros Hospitalários adotaram diferentes métodos para se adaptar às novas condições. Em seguida, os navios de Napoleão apareceram diante das muralhas de Valetta. A ilha não poderia ter ficado sob um longo cerco, e a frota britânica estava correndo para o resgate, mas o Grão-Mestre da Ordem se rendeu. Quando os ingleses chegaram, expulsaram os franceses, seus militares assumiram as fortalezas dos Cavaleiros, e o policiamento dos mares foi tomado pela frota britânica. Os descendentes desses Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém sobreviveram em Roma, mas, Ward diz, haviam perdido sua finalidade e sua glória.

Em 1825, um renascimento da Ordem teve lugar na Inglaterra, e George IV tornou-se seu chefe. Os Cavaleiros se reuniram na cripta de São João de Jerusalém, Clerknwell. Eles estabeleceram um trabalho de ajudar os feridos. Ward afirma que a Cruz Vermelha (isso parece improvável) e o St. John Ambulance são desdobramentos dessa Ordem. O St. John Ambulance correu as primeiras ambulâncias nas ruas de Londres, e, durante a Grande Guerra, uma dúzia de grandes moto-ambulâncias podiam ser vistas em qualquer dia perto do portão do Priorado de Sião João de Jerusalém. Mas essa Ordem não tem nenhuma ligação com a Ordem Maçônica dos Cavaleiros de Malta.

O ritual dos maçons Cavaleiros de Malta revela um desenho mais interessante em uma mesa octogonal. Enquanto partes da cerimônia podem ser baseadas em tradições da Ordem, parece a Ward que o próprio Grau é no final do século XVIII. Os Hospitalários foram ortodoxos por toda a sua história, e não usavam cerimônia de iniciação secreta. O ritual oficial dos antigos Cavaleiros ainda é usado pela Ordem em Roma, e a cerimônia da Ordem de São João, em Clerknwell, segue de perto o antigo ritual e não se assemelha a um maçônico.

Mas, diz Ward, os Templários eram diferentes. Eles tiveram uma cerimônia secreta, e, se eles a levaram para dento da Ordem de São João após sua supressão, ou de forma independente, como os maçons, eles poderiam facilmente ter sobrevivido à dissolução dos Hospitalários por causa de seu significado esotérico e simbólico.

(Texto extraído do livro “Os Segredos da Maçonaria – Robert Lomas – Editora Madras).




[1] Existem dois por ano. Dia de São João Batista, em 24 de junho, perto do solstício de verão; e outro Dia de São João, o Divno (o Evangelista), em 27 de dezembro, perto do solstício de inverno.


[2] Que está em desacordo com os usos e costumes de uma época.