terça-feira, 12 de setembro de 2017



TEMPLÁRIOS E MAÇONS

Pelo Ir.´. Dr. Carlos Raitizin (Revista Hiram Abif nº 111 – Junho de 2009)
Tradução: Pedreiro de Cantaria


Muitas vezes foi perguntado se existe algum ritual esotérico original e oficial da antiga Ordem do Templo. É óbvio que tal ritual não pode existir, já que o Templo não era nem uma ordem esotérica nem funcionava oficialmente como tal.

Existe, sim, uma Regra monástica bem conhecida que sofreu alguma alteração aqui e ali no tempo e não ocorrer outrra coisa. Os templários eram originalmente monges cavaleiros. Agora, no meio do Templo, no século XIII, surgiu uma corrente esotérica limitada a um círculo restrito de dignitários da Ordem. 

Os rituais (se cabe tal nome) que podem ter tido este círculo não vieram diretamente, mas há fragmentos muito significativos que deslizaram dentro dos Segredos de Estatutos que eu publiquei no Boletim de Templespaña e que pode ser visto neste site.

Pessoalmente, recebi todos os Graus da Ordem do Templo de uma filiação alemã, a Ordo Militiae Crucis Templi que deriva do Barão von Hund e da Estrita Observância Templária. Recebi em conjunto a Carta de Patentes para a República Argentina com todos os poderes.

Por um longo tempo, se sustentou erroneamente que von Hund foi iniciado em Paris em 1743 por um dos Stuarts. Verificou-se que isso não poderia acontecer, já que nenhum dos Stuarts estava em Paris até essa data.

Mas foi estabelecido que seu iniciador era outro Templário escocês, Alexander Montgomery, conde de Eglinton, que era o famoso Cavaleiro da Pluma Vermelha (Fonte: Baigent e Leigh "The Temple and the Lodge", Cap. 14, de acordo com os arquivos do grupo Stella Templum). Isso contribui muito para esclarecer um ponto sombrio sobre o qual grandes especialistas (incluindo René Guénon) estavam equivocados.

Karl Gotthelf, Barão von Hund, foi iniciado em 1742 em Frankfurt e recebeu os altos graus em 1743 no Capítulo de Clermont em Paris. Mais tarde, ele afirmou ter sido recebido em um capítulo dos Templários na Inglaterra, na presença de Lord Kilmarcock, por um cavaleiro anônimo coberto com um tocado de pena vermelha. Isso já foi definitivamente estabelecido e esclarecido, como indicado acima.

Mas na Maçonaria (apesar das muitas pretensões nesse sentido), há pouco templário hoje, exceto as alusões no Gr. 30º e algo muito característico no Gr. 33º do meu Rito e eu não sei se figura também no REAA. Claro que não podem ser fornecidos detalhes.

Na verdade, os únicos Rites maçônicos. que têm uma conexão real e direta com o Templo como uma filiação são o Rito Escocês Retificado (originado na estrita observação templária que deriva de von Hund) e o Rito Sueco (fundado pelos templários no exílio e cujo grande mestre é o rei da Suécia).

Quanto ao Templo, digamos que a cerimônia de conferir graus na minha afiliação templária é estritamente tradicional. É um ritual muito simples que vem documentado de antanho e ao qual em outras correntes do Templarismo lhe atribuiu infinitas fantasias e condimentos de tipo religioso que estão fora de lugar, porque o iniciador está muito acima de qualquer forma de religiosidade exotérica .
E a Cavalaria é realmente iniciática (veja os trabalhos no meu site). A Maçonaria é, também, iniciática (quando se trata de uma filiação válida), mas de um nível inferior, corresponde como é sabido às denominadas iniciações artesanais

Desejo referir-me agora ao assunto das relações entre a Ordem do Templo e a Maçonaria Operativa medieval. Não se pode encontrar um vínculo entre o Templo e a Maçonaria especulativa nascida no século XVIII com a Grande Loja Unida da Inglaterra. O último foi um desvio da linha reta (como o Barão von Sebottendorf aponta com razão em seu célebre trabalho) e provocou uma mudança quase imediata nas relações entre a Igreja e a Maçonaria

Até então, a Igreja havia protegido os maçons que construíram suas catedrais. Mas depois disso, as excomunicações conhecidas continuaram e não é o caso para se listar ou discutir aqui.

Retomando nosso assunto é sabido que existem vários trabalhos que tendem a provar a estreita relação entre Templo e Maçons. Alguns deles são bonitos e bem escritos como "Nascido em Sangue" de John J. Robinson, mas a solidez da evidência e o aparelho crítico estão ausentes. Não é um tema fácil e devemos recorrer em parte às tradições orais e, felizmente, à existência evidências sólidas que são muitas.

No que diz respeito às tradições orais, sabemos sobre a morte do traidor e delator Squin de Floyran, esfaqueado por membros das guildas de construtores imediatamente após a prisão do grande mestre Jacques de Molay e dos cavaleiros a serem submetidos à infame parodia de julgamento.

Mas isso não é suficiente, e alguns escritores buscaram evidências mais sólidas.

Particularmente notável neste sentido é o Ir.´. francês. Paul Naudon, já no Or. Et. O seu trabalho "Les origines religieuses et corporatives de la Franc-Maçonnerie" 4ª. Edição, Paris, 1979, contém um material muito valioso sobre este assunto, e é claro, este autor aniquila as pretensões daqueles que argumentam ousadamente que as relações entre as duas Ordens eram inexistentes. Toda a primeira parte deste livro que cito, em particular os Capítulos VI e VII, se dedica a provar, com documentos em mãos, a estreita relação entre Templo e Pedreiros Operativos. E também os detalhes do interesse abundam quanto à continuidade do Templo ao longo dos séculos.

Toda a primeira parte deste livro que cito, em particular os Capítulos VI e VII, se dedica a provar, com documentos em mãos, a estreita relação entre Templo e Pedreiros Operativos. E também os detalhes do interesse abundam quanto à continuidade do Templo ao longo dos séculos.

Há trabalhos preciosos elaborados com paciência e zelo, que ao longo do tempo nos permitem divulgar conhecimentos fundamentais para apreciar a situação, dentro da qual podemos localizar e entender muitas coisas geralmente apreciadas erroneamente. Este assunto, sem se tornar crucial, pelo menos transcende por sua interferência na esfera maçônica. Estudos realizados pelo mesmo Ir.´.. Raitzin, a quem nós tratamos e apreciamos em vida, é significativo e transcendente e o tempo nos permite provar isso através da sua circulação nas Listas Maçônicas na Web, dando-nos, ao Iir.´. maçons os benefícios do talento, estudo e clareza de seus conceitos. Consideramos este trabalho transcendente, erudito e apropriado nestes dias de várias confusões. N. de D.

Isto é particularmente importante para todos nós que somos membros de uma família templária. Mas há mil outras coisas para enfatizar, como o direito de franquia e a relação do Templo com os artesãos franceses, o que permitiu que os negócios (em particular os da construção) funcionassem dentro dos domínios templários (por exemplo, impostos estabelecidos pelo rei, o senhor do lugar ou dos municípios.

Estas isenções justificaram (além do fato de serem homens livres e não servos) o qualificador de franco. Mas uma coisa era essa, e outra os simplesmente livres por não serem servos (como o próprio Naudon aponta e analisa).

De particular interesse para os templários atuais é que não resisto à tentação de citar fatos devido ao meu prolongado interesse no simbolismo iniciático do meu site na web.

Eu traduzi fielmente Naudon, l.c. p.113-14 "Vamos finalmente citar o caso de Metz, onde os Templários instalaram um comando a partir de 1133. Ele cresceu rapidamente e já estava profundamente enraizado quando o próprio São Bernardo chegou à diocese para pregar a Segunda Cruzada em 1147." É interessante notar que, no final do século XIII, uma fraternidade de pedreiros se reuniu no oratório dos Templários em Metz.

Em 1285, se encontra o nome de "Jennas Clowanges, li maires de la frairie des massons dou Temple" (Jennas Clowanges, prefeito da Fraternidade dos Maçons do Templo). Uma lápide, descoberta em 1861 em frente à capela, recorda a memória de um certo "Freires Chapelens Ki fut Maistres des Mazons dou Temple de Lorene" (Capelão Freire - ou Capelão do Templo - C + T +) - que foi mestre dos pedreiros do templo da Lorena durante vinte e três anos e morreu. ("a Vigília de la Chandelour lan M.CC.IIII.- XX.VII (1287)" A Vigília da Candelária em 1287).

Seria imperdoável para mim tentar resumir esse trabalho de erudição como o que estamos lidando em um breve artigo. Só podemos recomendar calorosamente sua leitura para obter uma avaliação confiável dos fatos.

Nos últimos tempos, apareceu outra alegada filiação. Esta é a OSTI (Ordem Soberana do Templo Iniciatório) com sede em Paris. A filiação repousa sobre a "Carta de Larmenius".

Com relação a esta "Carta", que tem sido muito discutida (já que é um documento claramente sólido, real), é altamente recomendável ver a "História pitoresca da Maçonaria" de F.T.B. Clavell (há uma versão mexicana com o título "A História Secreta da Maçonaria", Editora y Distribuidora Mexicana, 1975) e também o livro de Valentin Erigene "Napoleon et les Societés Secretes", Chanteloup, Paris, 1986. As mesmas considerações são estritamente aplicadas a todos os grupos neotemplários que baseiam sua "legitimidade" na Carta de Larmenius

Esta Carta constitui uma das fraudes mais escandalosas registradas na história do neotemplarismo. É uma questão de justificar as atuais afiliações da Ordem do Templo, todas de origem muito recente, sem a menor legitimidade e sem a menor raiz do passado. Tão pronto uma Ordem Neotemplária invoca tal cartal Carta, mostra que nada, de fato, o liga à Ordem primitiva do Templo. Vamos fazer um pouco de história seguindo Clavel.

Em 1715, Felipe de Orleans reviveu uma sociedade fundada em 1682 por vários grandes senhores da corte de Luís XV. Este era um grupo machista em seus objetivos, segreto em seus procedimentos e cujo objetivo final era ... a dominação total do homem sobre as mulheres. É necessário dizer que tampouco teve a ver com o Templo como com as viagens espaciais.

Se lê na "História Amorosa dos Gauleses" de BussyRabuttin que pertenciam à Manicamp[1], o Cavaleiro de Tilladet, o Duque de Grammont, o Marquês de Biran e o Conde de Tallard. Cada um dos associados usava um emblema que representava um homem pisoteando uma mulher, algo como os selos onde vemos o Arcanjol São Gabriel pisoteando o diabo ...

Rapidamente ingressou no grupo um grande número de jovens libertinos. Haviam provas e trotes para os que ingressavam às quais deveriam se submeter inclusive o duque de Vermandois. Inclusive o Delphin terminou ingressando, mas por respeito a sua classe social foi dispensado dos testes. Com Felipe de Orleans se escreveram novos estatutos e se colocou como Grão Mestre o Cavaleiro Francisco tomás Teobaldo de Alexandria. Este, em conivência com Felipe de Orleans, adotou para o grupo o nome da Ordem do Templo e lhe foi concedida a faculdade de designar o sucessor.

Então apareceu um jesuíta, o padre Bonnani, grande antiquário e erudito e também excelente desenhista. Ele forjou a Carta de Larmenius, acrescentou nela a aceitação e assinaturas de personagens notáveis ​​pertencentes a diferentes épocas e atribuindo-lhes altas funções fictícias no Templo de Jean Marc L'Armenius (armênio) ou Larmenius, sucessor designado por Jacques de Molay antes de morrer na fogueira. Claro que tudo era uma fantasia e uma fraude estritas, criando uma linhagem de falsas sucessões de Jacques de Molay até essa data.

Mas a história pitoresca desta suposta mistura de templários não terminou aqui. Eles chegaram para enviar delegados para negociar com a Ordem do Cristo de Portugal (sucessora legítima do Templo, mas onde a continuidade da filiação já havia sido perdida no mesmo século XVIII). O rei Juan V de Portugal (que também era o Grão Mestre da Ordem) descobriu, através de seu embaixador em Paris, Luis de Cunha, os antecedentes destes sujeitos e do grupo francês.

O rei indignado ordenou aprisioná-los. Um deles conseguiu escapar, encontrando asilo em Gibraltar. O outro, não tão afortunado, foi deportado após dois anos de prisão em Angola, onde morreu.

A sociedade, no entanto, continuou a existir na França e, para sobreviver, nos anos anteriores à Revolução Francesa, adotou o nome vulgar de "Sociedade do Lombo da Vaca". Seus membros foram dispersos por volta de 1792. Naquela época, o "Grão Mestre" era o Duque de Cossé-Brissac, que foi assassinado em Versalhes durante aqueles anos agitados.

Mas a história não terminou aí. O Ir.´. Ledru, filho do médico do duque de Cossé-Brissac, comprou em um leilão um mobiliário do duque. E lá encontrou oculta a "Carta de Larmenius", os Estatutos de 1705 e o livro de atas. Por volta de 1804, ele ensinou o conteúdo desses documentos ao Iir.´.. MM. ·. de Saintot e Raymond Bernard Fabre-Pralaprat.

Este último era um ex-seminarista e médico. E aí surgiu a ideia de ressuscitar a Ordem do Templo. Foi proposto ao Ir. ·. Ledru ser o Grão-Mestre, mas este não aceitou. Por fim, foi designado o Ir.´. Radix de Chevillon que não queria aceitar senão o cargo de Regente e, com essa classe social, inscreveu o seu nome na carta de Larmenius abaixo da assinatura do Duque de Cossé- Brissac (a quem ele nunca viu em sua vida). E daí nascem diversas filiações neotemplárias que citam orgulhosamente a Carta de Larmenius como “prova” de sua autenticidade.

A OSTI é uma delas e também esconde o nome completo de Fabre-Pralaprat: é designado apenas como Raymond Bernard para assemelhar-se ao homônimo que mais tarde seria dignitário da AMORC (da qual ele foi expulso) e da OSTI: evidência clara de engano. Como se todos os fatos anteriores fossem poucos, eles obtiveram os auspícios de Napoleão Bonaparte a quem enganaram. Para isso, eles usaram a Carta e também um relicário de cobre contendo quatro pedaços de ossos dos Templários mortos na fogueira, uma espada de ferro que eles alegaram ter pertencido a Jacques de Molay, um capacete de ferro com ornamentos de ouro que se dizia ser de Guy, irmão do Delfim de Auvergne, uma cruz de marfim e três luvas de pano e outros objetos.

Tudo isso, depois, de supor que era absolutamente falso, de acordo com documentos depositados, entre outros lugares, na biblioteca de Morrison de Greenfield. Os ossos calcinados dos Cavaleiros foram preparados por Leblond e Fabre na casa do primeiro, na Rua de Marmouzets.

O Ir. ·. Leblond comprou o pequeno relicário de cobre, a espada que dizia ser de Jacques de Molay e os outros objetos foram comprados pelo Ir. ·. Leblond de um antigo comerciante de ferro do mercado de San Juan e de um caseiro que vivia ali perto.

O Ir. ·. Arnal foi aquele que pegou o capacete com incrustações de ouro, que já pertenciam a um armazém de armadura de propriedade do governo. E ainda se poderia adicionar alguns outros detalhes pitorescos ...

Para isso, refiro-me ao trabalho citado por François Timoleón Bègue Clavel, de onde obtive estes valiosos e divertidos dados. Concluo pois este escrito que previni uma falsa filiação templãria: a OSTI.esta escrita que impede uma falsa filiação templária: o OSTI. Mas eles não são os únicos ...

Quanto a outras filiações legítimas não-maçônicas dos Templários, direi o seguinte: a filiação muito legítima e real da Ordem do Cristo de Portugal foi infelizmente interrompida no século XVIII, de acordo com o que me informou o Pe. Das Neves, então vice-reitor da Universidade Católica de Lisboa. Atualmente, a Ordem continua a existir, mas os Cavaleiros são nomeados por decreto do presidente dessa república (que é honorário, mas não iniciado).

Resta mencionar os grupos templários escoceses, aqueles que têm filiação real. Existem dois principais, você encontrará informações sobre isso no livro de Andrew Sinclair "The Sword and the Grail", EDAF, New Issues, Madrid, 1994 e que vale a pena ler.

Em escritos futuros, lidaremos com grupos neotemplários que operam na Argentina, invocando a Carta de Larmenius, e que não são mais que centros de montagem de elementos da extrema direita (mais neo-nazistas do que neotemplarios) dedicados à desculpa da violência com clara inspiração nos escritos antitradicionais de Miguel Serrano e Julios Evola.

E, a qualquer polêmica, também me proponho demonstrar com riqueza de detalhes a data de que Evola era antitradicional (e que suas doutrinas foram seriamente criticadas por René Guénon).

[1] Manicamp é uma comuna francesa na região administrativa da Picardia, no departamento de Aisne

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

OS MAÇONS NA HISTÓRIA DO BRASIL 


UMA IDEIA, UMA PRÁTICA, UMA INSTITUIÇÃO 

Por João Anatalino Rodrigues 

Como todos os maçons sabem, a Maçonaria tem uma origem muito obscura. Nenhum historiador sério, até agora, ousou escrever uma história documentada da Ordem Maçônica, situando a sua origem, os seus verdadeiros antecedentes e sua razão de existir, seja na história do pensamento humano, ou mesmo como realização do engenho do homem na sua luta para organizar a vida social.

Como organização historicamente reconhecida, podemos situar seu nascimento nos idos de 1717, quando as quatro Lojas de Londres se uniram para criar a Grande Loja de Londres, a qual se tornaria o núcleo a partir qual a Maçonaria, como sociedade formalmente constituída, iria se tornar conhecida por todo o mundo ocidental. Mas, como diz a historiadora Frances Yates, antes dessa formalização como sociedade, a Maçonaria teve seus antecedentes históricos e filosóficos, os quais se perdem na noite dos tempos. [1]

Aliás, se antes de 1717, já existiam Lojas maçônicas em toda Europa, especialmente na Inglaterra, Escócia, França e Alemanha, comprovadas por documentos preservados, é lícito observar que a atividade maçônica já era praticada e conhecida muito antes desses termos. Então, as datas de 1717 (união das Lojas londrinas) e 1723 (publicação das Constituições Maçônicas, de James de Anderson) são apenas elucidativas do ponto de vista histórico, como registro da existência de uma atividade que a sociedade humana já praticava desde as suas mais remotas origens.

A Maçonaria é tão antiga como a própria sociedade humana. Mas só poderemos entender esse pressuposto se o colocarmos sobre um tríplice enfoque, que é a ideia, propriamente dita, que está na sua origem, a prática que ela originou, e a organização que lhe foi dada, para que ela adquirisse uma conformação e uma identidade na vida social das comunidades onde ela se instalou.

A IDEIA 

A ideia vem da necessidade que as sociedades têm de conservar as suas conquistas sociais. E para isso precisa congregar em círculos restritos as pessoas mais importantes, mais comprometidas e mais interessadas nessa preservação (poder intelectual, econômico, religioso e militar). Nasceram daí as instituições conhecidas como Mistérios, que por definição eram festivais folclóricos e religiosos que costumavam homenagear os deuses patronais dos antigos povos, para que estes os favorecessem com uma natureza propícia às suas atividades econômicas, sociais e de defesa. Esses festivais, que no início tinham finalidade essencialmente religiosa, assumiram, mais tarde, autênticas conotações políticas, pois se tornaram núcleos de distinção social. [2]

A PRÁTICA 

A prática se encontra no núcleo da confraria, que por definição é uma a associação ou conjunto de pessoas do mesmo ofício, da mesma categoria social, ou que praticam um mesmo modo de vida, ou pensam do mesmo modo, ou ainda comungam de objetivo comum. Confrarias existem desde que as primeiras civilizações adquiriram identidades próprias e se organizaram em estados, povos ou nações.
Entre os gregos antigos a noção de estabilidade social estava estreitamente ligada à idéia de Fraternidade. Os grupos familiares eram chamados de frátrias. Esses grupos congregavam as pessoas da família e todos os agregados que, de alguma forma, tivessem relação de parentesco com o chefe da família, ou qualquer ligação profissional, social ou legal, com o núcleo familial. Dessa conformação, em princípio moldada por vínculos de sangue e depois por interesses sociais, religiosos, políticos e econômicos, evoluiu a noção de clã ─ a família ampliada ─ e da reunião de clãs formou-se, mais tarde, a pólis, que era a comunidade circunscrita a uma urbe. 

Foi esta última que deu origem às cidades-estado da Grécia antiga e da península itálica. Praticamente, todas as cidades do Ocidente clássico evoluíram a partir desses núcleos familiares. Iremos encontrá-los também em Roma, na estrutura do patriciado, assim chamados os núcleos familiares que deram origem ao estado romano e foram responsáveis por uma estrutura social que sobreviveu por muitos séculos.

Foram essas confrarias que origem às cidades-estado da Grécia antiga e da península itálica. Praticamente, todas as cidades do Ocidente clássico evoluíram a partir desses núcleos familiares. Iremos encontrá-los também em Roma, na estrutura do patriciado, assim chamados os clãs familiares que deram origem ao estado romano e foram responsáveis por uma estrutura social que sobreviveu por muitos séculos.[3] E depois, já na Roma imperial, urbanizada e organizada como um grande estado, iremos encontrar os Collegia Fabrorum, confraria dos profissionais de um mesmo oficio, os quais deram origem ás guildas corporativas da Idade Média e foram a origem dos modernos sindicatos.[4]


A INSTITUIÇÃO 

Esta, como dissemos, nasceu em 1717, com a união das quatro Lojas maçônicas de Londres, e a Constituição dos franco-maçons escrita por James Anderson em 1723. Daí a Maçonaria espalhou-se pelo mundo como uma organização, em sistema de franquia, congregando diversos ritos e tradições, mas todas com um objetivo comum, que é a divulgação da ideia maçônica (preservação da ordem social) e a disseminação da sua prática doutrinária (através da formação de uma elite). Malgrado todos os esforços dos seus idealizadores, a Maçonaria nunca conseguiu escapar dos conflitos ideológicos que a sociedade humana sempre hospedou. Isso não tem sido diferente com a Maçonaria brasileira.


ILUMINISMO X POSITIVISMO 

No campo das ideias é possivel perceber, desde logo, que a Maçonaria brasileira hospedou um conflito ideológico entre as ideias iluministas, inspiradas pela Revolução Francesa e as guerras de libertação das colônias americanas (especialmente as colônias inglesas) e o recente pensamento positivista que havia se instalado entre os intelectuais que inspiraram a organização da maioria dos governos das colônias emancipadas.

O Iluminismo, como se sabe, é um movimento intelectual que surgiu no começo do século XVIII na Europa, defendendo o uso da razão e da ciência (luz) ao invés da fé e do direito imposto por quem detém o poder (trevas). Pregava a liberdade econômica, política e religiosa para todos.

Já o positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. O positivismo afirma que só existe verdade quando ela é comprovada através de métodos científicos válidos.

No fundo são dois movimentos que se completam. A única diferença é que o Iluminismo admite, ainda que sob certas condições, uma presença divina a orientar a razão humana, coisa que é negada veementemente pelos positivistas. 

Esse conflito pode ser percebido na intenção de um grupo de irmãos que pugnavam por uma maçonaria não envolvida em questões políticas, mas inteiramente voltada para a filosofia, no sentido da preservar uma ética e uma moral que havia sido amplamente defendida pelos iluministas. Esse pensamento, como é óbvio, se identificava mais com as ideias reformistas dos protestantes, razão pela qual encontrou, desde logo, a oposição das figuras mais importantes da maçonaria brasileira, que eram todos católicos, e em muitos casos, ligados oficialmente á Igreja Romana. 

Haja vista que no século XIX havia um grande número de padres que eram maçons. Ressalte-se que a Maçonaria, no Brasil, só passou a ser combatida oficialmente pela Igreja Católica depois da chamada Questão Religiosa, desencadeada por um discurso proferido pelo padre maçom José Luís de Almeida, em 2 de março de 1872, exaltando os maçons e a Maçonaria como principais responsáveis pelos movimentos que culminaram com a independência do Brasil, e pela luta pela abolição da escravatura. O Bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, que reivindicava para a Igreja essas láureas, exigiu que o padre abandonasse a Maçonaria e mais tarde, com a evolução do conflito, isso iria resultar em uma proibição formal de que padres se tornassem maçons. Essa querela já havia sido desencadeada, entretanto, pelo Papa Pio XI, cujo ódio pela Maçonaria vinha do fato de que foram os maçons (especialmente Garibaldi, Mazzini e Cavour) que promoveram a unificação da Itália, que acabou com o poder político do Papa e reduziu o território da Igreja a um pequeno território, que é o Vaticano. [5]

CONFLITO POLÍTICO: CONSERVADORES (MONARQUISTAS) X LIBERAIS (REPUBLICANOS) 

No terreno político a Maçonaria brasileira hospedou desde o início uma divergência política e ideológica que se revelou, ao longo do tempo, incontornável. Essa divergência começou entre os idealizadores da nossa independência, que se filiavam entre os monarquistas, chefiados pelo Grão-Mestre do GOB, José Bonifácio de Andrada e Silva e o republicano Gonçalves Ledo, que era o seu Primeiro Vigilante. José Bonifácio pugnava por um Brasil independente, mas não desligado politicamente de Portugal. Sua ideia era a do estabelecimento de uma comunidade luso-brasileiro, nos moldes do que viria ser mais tarde a Comunidade Britânica das Nações. Daí a sua luta para que a monarquia fosse preservada a todo custo. Já Gonçalves Ledo e seu grupo até aceitavam a monarquia em princípio, mas apenas como uma transição, para conquistar a independência, mas depois evoluir para a República, como nos demais países da América, que haviam se libertado de suas metrópoles.Filosoficamente o grupo de José Bonifácio adotava postulados iluministas, buscando uma compatibilização entre a ciência e a religião, enquanto os partidários de Gonçalves Ledo eram francamente positivistas e queriam um estado completamente apartado da religião. Esse, desde logo, foi um dos motivos de graves conflitos ideológicos na nascente Maçonaria brasileira, pois como se viu, havia em seus quadros um grande números de religiosos oficiais.


EVOLUÇÃO POLÍTICA IDEOLÓGICA 

Essas tendências podem ser observadas em toda a história da Maçonaria brasileira desde então. Refletiria nos principais movimentos históricos que permearam a vida do Império e depois a da República. Movimentos liberais pela República, que geraram os mais importantes conflitos armados ocorridos no Brasil, como a Confederação do Equador e a Revolução Farroupilha foram liderados por maçons federalistas como Frei Caneca e Bento Gonçalves; o movimento abolicionista, igualmente de inspiração liberal e republicano também tiveram em maçons os seus principais líderes. Entre eles o Barão do Rio Branco, Luiz Gama, José do Patrocínio e o poeta Castro Alves. Do lado monarquista-conservador estavam também vários maçons, que lutavam pela preservação da monarquia. Entre eles grande nomes, como o Duque de Caxias (Grão-Mestre do GOB), o padre Diogo Antonio de Feijó, Joaquim Nabuco e outros maçons que escreveram importantes capítulos na história do Brasil. 

A tendência liberal republicana acabou triunfando com a Proclamação da República. Muito mais pelo enfraquecimento das lideranças monarquistas, que acabaram perdendo força com envelhecimento de D. Pedro II e a falta de um sucessor confiável para o trono e principalmente com a emancipação definitiva dos escravos, que destruiu, de vez, o modelo econômico vigorante no regime imperial. Mais uma vez, seria nas Lojas maçônicas que o movimento pela mudança do regime acabaria tomando corpo e seria, afinal, implementado. Esse movimento, que teria início na Convenção de Itu seria liderado por maçons e culminaria na proclamação da República pelo maçom Deodoro da Fonseca.[6]

Embora a Maçonaria, a partir da implantação do regime republicano, e especialmente depois da ditadura Vargas, tenha diminuído sensivelmente a sua influência na história contemporânea do Brasil, ela ainda concentra uma importante parcela de poder na estrutura de governo do nosso país. É grande o número de maçons que militam no Executivo, Legislativo e Judiciário. A grande dificuldade é, hoje, como ontem, aglutinar todo esse poder em prol de um objetivo comum. Hoje, como ontem, as vaidades pessoais e a sede de poder falam mais alto e impedem a Maçonaria de alcançar plenamente seus objetivos, que é a realização de uma ordem social justa e perfeita.

[1] Francis Yates- Giordano Bruno e a Tradição Hermética- Cultrix, 1986
[2] Referência aos Mistérios Egípcios e os Mistérios de Elêusis, que muitos autores citam como legatários das mais antigas tradições maçônicas. Entre os iniciados nesses Mistérios eram encontradas as pessoas mais importantes dessas sociedades, que eram cooptados justamente pela importância (poder econômico, religioso, intelectual, militar) que adquiriam em suas vidas.
[3] Vide nossa obra “O Tesouro Arcano”, publicado pela Editora Madras, 2012
[4] Especialmente as guildas dos construtores civis, chamados de pedreiros-livres, construtores de igrejas e mosteiros, chamados de franco-maçons, que estão na origem da Maçonaria histórica.
[5] Ver Castellani e Almeida- História do Grande Oriente do Brasil- Madras, 2009
[6] A Convenção de Itú, movimento republicana que deu o pontapé de início na proclamação da República, foi liderado pelo maçom João Tibiriçá Piratininga, que organizou o Partido Republicano
João Anatalino

domingo, 10 de setembro de 2017


SIMBOLISMO DAS ROMÃS


Extraído do blog https://focoartereal.blogspot.com.br/2017/04/simbolismo-das-romas.html

A importância da romã é milenar, aparece nos textos bíblicos, está associada às paixões e à fecundidade. Os gregos a consideravam como símbolo do amor e da fecundidade. A árvore da romã foi consagrada à deusa Afrodite, pois se acreditava em seus poderes afrodisíacos. Para os judeus, a romã é um símbolo religioso com profundo significado no ritual do ano novo.


Quando os judeus chegaram à terra prometida, após abandonarem o Egito, aqueles que foram enviados voltaram carregando romãs e outros frutos como amostras da fertilidade da terra prometida. Ela estava presente nos jardins do Rei Salomão. Foi cultivada na antiguidade pelos fenícios, gregos e egípcios. Em Roma, a romã era considerada nas cerimônias e nos cultos como símbolo de ordem, riqueza e fecundidade.


A bebida extraída da romã entrou para a história durante o reinado de Salomão, em Israel. Ele mandou esculpir a fruta no alto das colunas de seu templo, onde hoje se encontra o Muro das Lamentações, em Jerusalém. Era para lá que os judeus levavam as romãs e outros alimentos sagrados na Festa de Pentecostes. Há ainda a crença de que uma romã possui 613 sementes, o mesmo número de mandamentos escritos da “Torá“.


Entre os plebeus, a romã ganhou outros significados, como amor, união, casamento e fertilidade, todos relacionados à grande quantidade de sementes que a fruta contém e à forma harmoniosa como elas se entrelaçam em sua polpa – na Grécia, por exemplo, era comum às mulheres consumirem romã em eventos religiosos para evocar a fertilidade.


A relação das Romãs com a Ordem Maçônica está na adoção, pela Ordem, do Templo de Salomão como modelo de seus Templos. Na busca de uma definição simbólica e perfeita para o Templo que cada um de nós tem em si próprio, a Bíblia fornece aos Maçons o Templo de Salomão, símbolo de alcance magnífico.


Todo o templo maçônico, incluindo o soalho, as paredes e o teto, é contemplado no Painel, tendo em sua composição duas colunas, sobre as quais estão plantadas Romãs.


Na maçonaria as romãs são mostradas através de três romãs entreabertas, no topo das colunas J e B. As “romãs da amizade” representam a prosperidade e a solidariedade da família maçônica. Ela é também vista como a unidade que existe entre todos os maçons do universo, da mesma forma que suas sementes, sempre juntas e proporcionando uma acomodação ímpar, acolhendo a todos. Sua simbologia é muito semelhante à Corda de Oitenta e Um Nós.


O grande número de grãos que a romã possui e sua propriedade afrodisíaca, fez com que a mesma fosse considerada, na simbologia popular, como sendo a representante da fecundidade e da riqueza. Este, talvez, seja o significado mais correto para as Romãs colocadas sobre as colunas de Salomão. No entanto, também, são simbolizadas como sendo a força impulsionadora para o trabalho e dispêndio de energia.


Na Maçonaria, os grãos da Romã, mergulhados na sua polpa transparente, simbolizam os maçons unidos com a energia e a força necessárias para realizarem o trabalho. Os grãos da romã simbolizam a união dos maçons em seus vários aspectos: o fisiológico, porque cada grão possui "carne", "sangue" (o suco) e "ossos", (as sementes).


Os grãos crescem unidos de tal forma que perdem o formato natural, que seria redondo; espremidos uns aos outros, são semelhantes a polígonos geométricos, com várias facetas; são lustrosos e belos, lembrando os favos de uma colmeia de abelhas; as abelhas trabalham sem descanso e assim lutam os maçons.


A Romã expressa, na sua coloração, a realidade. A coroa de triângulos ou coroa da virtude, do sacrifício, da ciência, da fraternidade, do amor ao próximo, está colocada numa extremidade da esfera. Simboliza o coroamento da obra da Arte Real. A flor rubra representa a chama do entusiasmo que conduz o aprendiz ao seu destino, iluminando a sua jornada.


As cores da Romã simbolizam: o verde, o reino vegetal; a amarela, o reino mineral; e a vermelha, o reino animal. As membranas brancas, que não constituem cor, mas a mistura de todas as cores como as obtidas quando o raio transpassa o cristal formando o arco-íris, simboliza a paz e o amor fraterno.


Em suma, a romã simboliza a própria Loja.


A romã é um dos símbolos mais autênticos e tradicionais da nossa Ordem. Nos nossos templos em que Colunas simbolicamente unem a terra com o céu, onde, ostentam as frutas da união - como uma dádiva, como favos de mel das abelhas, cheias de pureza e de beleza, sadias e como uma das mais perfeitas criações da natureza.


Cada romã passou a ser a representação de uma Loja e de sua universalidade. Suas sementes, como vimos, representam os Irmãos unidos pelo que é bom, pelo que é sábio, pelo que tem força e beleza, e pelo ideal comum.


A principal lição que devemos levar sobre as romãs está na forma como as sementes mantêm-se unidas "ombro a ombro". Apesar de seus formatos e tamanhos diferentes, as sementes se apoiam em perfeita união. São inúmeras e, como nós, espalham-se pelo planeta.


Cada Maçom deve zelar para que a árvore da Maçonaria venha a produzir frutos não afetados por pragas e doenças, e a união deve reinar em nosso meio em prol do bem comum.


A/D


EXPRESSÃO “ERA VULGAR” E O CALENDÁRIO MAÇÔNICO



Extraído do Blog https://focoartereal.blogspot.com.br/2015/02/a-expressao-era-vulgar-e-o-calendario.html

Desde os idos mais antigos a humanidade utiliza-se de certos referenciais para delimitar um determinado espaço de tempo. Os astrônomos servem-se de acontecimentos naturais ou fenômenos a que se referem os seus cálculos, como as revoluções da Lua, os equinócios e solstícios, os eclipses e a passagem dos cometas.

Os cronologistas e historiadores servem-se também de certos acontecimentos que tiveram influência sobre o gênero humano.

Designam-se as épocas enunciando os fatos notáveis a que se referem: Criação do mundo, fundação de Roma e o nascimento de Cristo, entre outros. Primitivamente, os tempos eram calculados em gerações: a Bíblia, por exemplo, conta dez gerações antes do Dilúvio e outras dez depois do Dilúvio. Já segundo Heródoto (Grego considerado o Pai da História) e a maior parte dos autores da época, três gerações correspondiam há cem anos.

Posteriormente, possivelmente no século VIII, introduziu-se o uso das Eras, que consistiam no número de anos civis de um povo que decorriam desde uma época notável, tomada como ponto de referência, e que dava o nome à era adotada.

Quanto à etimologia da palavra “Era”, é um tanto controversa. Alguns indícios apontam que teve sua origem na Espanha e, acredita-se, ser a contração das iniciais A.E.R.A. encontradas nos monumentos antigos e que significam Annus Erat Regni Augusti (era o ano do reinado de Augusto) ou Ab Exordio Regni Augusti que significa “Do começo do reinado de Augusto”, pois os Espanhóis iniciaram seus cálculos a partir do período que o país ficou sob o domínio de Augusto.

Outros dizem derivar da palavra latina aes, aeris (bronze), porque das medalhas e moedas desse metal se deduzia a data do acontecimento notável que serviu de começo a uma serie de anos.

As palavras era e época tem certa relação entre si, mas, contudo são bem distintas: Era, é o número de anos decorridos desde certo acontecimento notável; época é o momento desse acontecimento.

De todos os marcos de início que se poderiam escolher, nenhum seria mais apropriado e natural do que o próprio começo do tempo, isto é: o instante do ponto de partida da primeira volta da Terra em torno do Sol, no princípio do mundo.

Todos os povos tomariam este instante se tivesse sido possível determiná-lo. Não o sendo cada povo adotou, como já dissemos, uma Era: A dos Judeus funda-se na criação do Mundo, segundo o Gênesis; a dos antigos Romanos, na fundação da sua Capital; a dos Gregos, no estabelecimento dos jogos Olímpicos; a dos Egípcios, na ascensão de Nabonassar, primeiro rei da Babilônia, ao trono daquele Império; a dos Cristãos no nascimento de Cristo.

Já a expressão Vulgar tem origem no Latim Vulgaris ou Vulgus e primitivamente significava “pessoas comuns”, ou seja, aqueles que não são da realeza. Isto pelo menos até meados do século XVI quando a palavra Vulgar passou a ter o significado de algo “grosseiramente indecente”.

Foram os Judeus, no entanto, que substituíram o antes de Cristo e o depois de Cristo por antes e depois da Era Vulgar. Como a Era Cristã, sob a denominação de Era Vulgar, é a mais empregada, serve de termo médio e de comparação com as outras, as quais podem se classificar em Eras antigas, as anteriores à Era Vulgar, e Eras Modernas, as posteriores. A Era Vulgar, portanto, designa o calendário Gregoriano mundialmente adotado.

Para entender como a expressão Era Vulgar passou a ser empregada na Maçonaria, é preciso lançar mão do Calendário Maçônico. O primeiro ano do Calendário Maçônico é o Ano da Verdadeira Luz, Anno Lucis em Latim, ou simplesmente V.´.L.´. ou A.´.L.´. como empregado na datação de antigos documentos Maçônicos do século XVIII, e interpretado como Latomorum Anno ou, como no texto original em inglês que serviu de base para esta pesquisa, “Age of Stonecutters” – que significa “Idade dos Cortadores de Pedra”. A determinação do Ano da Verdadeira Luz teria sido com base nos cálculos de James Usher, um bispo Anglicano nascido no ano de 1581, em Dublim.

Usher havia desenvolvido um cronograma que começava com a criação do mundo segundo o Livro de Gênesis, que precisou ter ocorrido as 09 horas da manhã do dia 23 de Outubro de 4004 A.C., com base no texto Massotérico (texto em hebraico que deu origem à vários capítulos da Bíblia) ao invés do Septuaginta (antiga tradução grega do Velho Testamento).

Neste contexto, James Anderson fez constar em sua Constituição de 1723 a adoção de uma cronologia independente da religião, pelo menos no contexto britânico da época, com o objetivo de afirmar, simbolicamente, a Universalidade da Maçonaria. Foi aceito, portanto, que o início da Era Maçônica deu-se 4000 anos antes da Era Comum ou Vulgar.

Nota-se o que parece ser um pequeno arredondamento de quatro anos entre os cálculos de Usher e o que foi adotado nas Constituições de Anderson.

O Ano Maçônico tem o mesmo comprimento do ano Gregoriano, no entanto, começa em 01 de março – assim como o Ano Juliano que ainda estava em vigor quando da redação das Constituições de Anderson. No calendário Maçônico os meses são designados pelo seu número ordinal. Assim, 01 de março de 2011 da E.´. V.´. seria o dia 01 do mês 01 do ano de 6011 da V.´.L.´., segundo Anderson.

Se por um lado existem claras referências nas Constituições de Anderson a eventos calculados segundo a regra que citamos, por outro tal prática parece não ter sido adotada como regra geral. Os antigos maçons dos Ritos de York e Francês adicionavam 4000 anos à Era Vulgar, conforme as Constituições de Anderson. No entanto Maçons do Rito Escocês Antigo e Aceito utilizavam o calendário judaico, adicionando 3760 anos à Era Vulgar.

Já os Maçons do Arco Real utilizavam-se da data de construção do segundo Templo, ou 530 anos antes da Era de Cristo. Qualquer que seja o motivo que tenha levado a tantas variações nos diferentes Ritos, um calendário maçônico é baseado na data de um evento ou um começo, e estas referências eram usadas em documentos oficiais das Lojas.

As datas históricas são símbolos de novos começos, e não devem ser interpretadas como se já houvesse uma loja maçônica no Jardim do Éden… A idéia só foi concebida para se transmitir que os princípios da maçonaria (e não a maçonaria em si) são tão antigos quanto a existência do mundo.

Vejo que qualquer outro significado Maçônico para estas datas não passam de um desejo dos primeiros maçons escritores de criar uma linhagem antiga para a Maçonaria, nos moldes de suas imaginações.

No Brasil há registros de que o GOB utilizava, nos primórdios da maçonaria Nacional, um calendário equinocial muito próximo do calendário hebraico, situando o início do ano maçônico não em 01 de março como sugere Anderson, mas no dia 21 de março (equinócio de outono, no hemisfério Sul) e acrescentando 4000 aos anos da Era Vulgar, datando seus documentos com o ano da V.´.L.´.(A.´.L.´.). Desta maneira, o 6° mês Maçônico tinha início a 21 de agosto (primeiro dia do sexto mês) e o 20° dia era, portanto, 09 de setembro da E.´.V.´., como situa um Boletim do GOB de 1874, isto segundo o Irm.'. José Castellani, em sua obra “Do pó aos arquivos”. 

O fato é que datar pranchas e documentos maçônicos com o ano da V.´.L.´. caiu em desuso, talvez porque hoje saibamos que nosso sistema solar existe há mais de 4,5 bilhões de anos. Utilizar o calendário Gregoriano e referir-se a ele como E.´.V.´., é a pratica mais comum nos dias atuais.

Bibliografia:

Philosophical e Mathematical Dictionary – Vol I – 1815 – Google Books
Peça de Arquitetura do Irm.'. Antonio Carlos Rios – Academia Maçônica de Letras do MS – COMS-COMAB
Pesquisas Objetivas – http://www.calendario.cnt.br/pesquisas2004.htm
The Masonic Manual by Robert Macoy – Revised Edition – 1867
Do pó aos arquivos – José Castellani
Web Site da Grande Loja Maçônica de Minnesota-USA

Considerações do Irm.’. Reinaldo Roberto Gianelli Jr