quinta-feira, 30 de novembro de 2017


A FACE JUDAICA-TEMPLÁRIA DA MAÇONARIA


Na obra “Antigas Letras”, o Grão-Mestre Leon Zeldis 33º, da Maçonaria de Israel (The Grand Lodge of the State of Israel), chama a atenção para o fato de que os textos religiosos hebraicos onde aparecem os nomes divinos de D’us não são destruídos quando envelhecem, mas enterrados ou guardados em um lugar especial da sinagoga conhecido como guenizá. Diz a tradição judaica que qualquer fragmento de um texto sagrado que contiver o nome do Criador deve ser enterrado de acordo com determinados rituais. Entretanto, com o passar dos séculos e em função das perseguições sofridas pelos judeus, muitos documentos hebraicos foram apenas escondidos, daí o nome de guenizá (esconderijo), que corresponde em hebraico ao termo lignoz e significa guardar, manter secreto.

Provavelmente, quando os primeiros templários chegaram a Terra Santa comandados por Hugues de Payen, em 1118, quase duas décadas após a conquista de Jerusalém pelos Cruzados (1099), o objetivo real de sua presença não ficaria apenas circunscrito a dar proteção aos peregrinos que se deslocassem a Jerusalém. O grupo de nove nobres franceses oriundos da região de Provença que se estabeleceu na ala leste do palácio do rei Balduíno II, patriarca de Jerusalém, sob o nome de Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão, passou quase dez anos promovendo escavações na área da Mesquista de Al-Aqsa, erguida sobre o local onde existiram dois grandes templos judaicos: o primeiro Templo, construído em 960 antes da Era Comum pelo rei Salomão e destruído por Nabucodonosor, da Babilônia, em 586 a.E.C., e o segundo Templo, reconstruído cinquenta anos depois no mesmo local e que resistiu até 70 da E.C. quando foi arrasado pelas legiões romanas.

No livro “A Chave de Hiram”, os autores maçons Christopher Knight e Robert Lomas destacam que os clérigos que acompanhavam os cavaleiros templários eram “todos capazes de ler e escrever em muitas línguas e eram famosos por suas habilidades em criar e decifrar códigos”. E transcrevem um comentário do historiador francês Gaetan Delaforge sobre os reais motivos dos templários: “A verdadeira tarefa dos nove cavaleiros era realizar uma pesquisa na área para recuperar certas relíquias e manuscritos que continham a essência das tradições secretas do Judaísmo e do Antigo Egito, algumas das quais provavelmente datavam do tempo de Moisés” (The Templar Tradition in the Age of Aquarius).

UMA ORDEM ACIMA DE REIS E RAINHAS

Legitimada pelo papa Honório II em 31 de janeiro de 1128, a Ordem do Templo ganhou estatuto, regras e um comandante: o Grão-Mestre Hugh de Payens. Havia mais de 600 artigos no estatuto dos templários, segundo o historiador inglês Piers Paul Read, autor de “Os Templários”, sendo que a regra 325 relacionava-se com o uso de luvas de couro, que era consentido apenas aos capelães e aos pedreiros construtores de santuários e fortalezas. Mas, “em nenhum lugar havia qualquer menção a peregrinos ou à sua proteção, aparentemente ignorando a única razão para a criação dessa Ordem” (A Chave de Hiram). O papa seguinte, Inocêncio II, através da bula “Omne datum optimum” (1139), estabelece privilégios que tornam a instituição independente de toda interferência de autoridades políticas e religiosas. Segundo a encíclica, os templários só deviam obediência ao Papa.

Durante os próximos 200 anos a Ordem do Templo cresce e se expande em poder e riqueza, recebendo doações em dinheiro e propriedades na Europa. De acordo com os investigadores históricos ingleses, Michael Baigent e Richard Leigh, que pesquisaram a herança templária no surgimento da maçonaria, “em meados do século 12, a Ordem do Templo já tinha começado a se estabelecer como a mais poderosa e rica instituição isolada em toda a Cristandade, com exceção do Papado, com frotas de navios, territórios extensos e ligações secretas com líderes sarracenos” (O Templo e a Loja). Esses mesmos autores e mais Henry Lincoln ainda afirmam que coube aos templários criar e estabelecer a moderna instituição bancária. “Através de empréstimos de vastas somas a monarcas necessitados, tornaram-se os banqueiros de todos os tronos da Europa” (O Santo Graal e a Linhagem Sagrada).

Com a perda de Jerusalém para os muçulmanos em 1291, a Ordem do Templo se transfere para Chipre. A ilha tinha sido conquistada pelo rei Jayme I (Coração de Leão), da Inglaterra, em 1191, e vendida, anos depois, para os templários. Em 1312, a Ordem é oficialmente extinta por um decreto papal emitido por Clemente V, sem que um veredicto conclusivo de culpa tenha sido pronunciado. Através da bula Vox in excelso o Papa extingue a Ordem do Templo “proibindo estritamente qualquer um de conjeturar em entrar para a referida Ordem no futuro, ou de receber ou usar seu hábito, ou de agir como um templário” (Os Templários). Em bula subsequente, a Ad Providam, todos os bens e propriedade dos templários são transferidos para a Ordem dos Hospitalários, uma instituição similar a dos templários, que também funcionava na Terra Santa.

Na França, por ordem do rei Filipe IV, o Belo, os templários são perseguidos, presos e torturados. A Inquisição também se alastra por toda a Europa. As acusações concentram-se em supostas heresias e rituais praticados pelos membros da Ordem. O seu Grão-Mestre, Jacques de Molay, é queimado até a morte, na Ile de la Cité, no Sena, em 1314.


ESTADO TEMPLÁRIO PREOCUPAVA A IGREJA 

Setecentos anos depois desses acontecimentos, dúvidas ainda persistem sobre a verdadeira natureza da Ordem e de seus cavaleiros. Seriam eles guardiões de um conhecimento secreto adquirido na Terra Santa em contato com outras culturas ou mesmo oriundo de documentos sobre as origens do Cristianismo descobertos nas escavações? Para Baigent e Leigh, o impacto de antigas formas de pensamento cristão, não Paulinas, podem ter influenciado as atividades da Ordem no seu projeto para a criação de um Estado Templário e na sua política de reconciliar o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo. “Os templários não negociavam apenas dinheiro, mas pensamentos também. Através de seu contato com as culturas muçulmana e judaica, começaram a atuar como introdutores de novas ideias, novas dimensões do conhecimento, novas ciências” (O Santo Graal…).

A pesquisadora da Biblioteca do Vaticano, Bárbara Frale, em artigo publicado no “L’Osservatore Romano” (21.08.2008), jornal oficial da Santa Sé, afirma que os documentos originais do processo contra os templários, encontrados no Arquivo Secreto do Vaticano, demonstram que foram infundadas as acusações de que os cavaleiros praticavam em segredo ritos pagãos e haviam abandonado a fé cristã. De acordo com a autora, os templários não eram hereges e o que se descobriu nas atas conservadas no Vaticano é que “a disciplina primitiva do Templo e o seu espírito autêntico se haviam corrompido com o passar do tempo, deixando a porta aberta para a difusão de maus costumes” (Revelações do Arquivo Secreto do Vaticano: templários não foram hereges,no portal Zenit).

Aí caberia a indagação: quais seriam os “maus costumes”, segundo a avaliação da pesquisadora, adquiridos pelos templários? No mesmo artigo, Frale reconhece que “ainda há verdadeiramente muito que investigar” e adianta que o estudo da espiritualidade desta antiga ordem religiosa dará à cultura contemporânea novos motivos de discussão.

ESCÓCIA: REFÚGIO DOS TEMPLÁRIOS E BERÇO DOS MAÇONS

Da extinção oficial da Ordem até a fundação da primeira grande Loja Maçônica em Londres (1717), a trinca de autores do “Santo Graal e a Linhagem Sagrada” registra que os templários ingleses e franceses encontraram refúgio na Escócia (país que ignorou a bula papal), e muitos deles também se integraram a outras Ordens e sociedades secretas na Alemanha, Espanha e Portugal. Conta-se que em 1689, na batalha de Killiecrankie, na Escócia, um dos aliados do rei Jayme II da Inglaterra, John Claverhouse, visconde de Dundee, estava usando uma antiga vestimenta da Ordem do Templo, de antes de 1307, quando foi morto na luta. A referência ao fato foi publicada no jornal da primeira Loja de Pesquisas Maçônicas do Reino Unido (Quatuor Coronati), em 1920: “Lorde Dundee perdeu sua vida como líder do Partido Escocês Stuart. Segundo o testemunho do abade Calmet, ele teria sido Grão-Mestre da Ordem do Templo na Escócia” (O Santo Graal…).

Mas, muito tempo antes, nos meados do século 16, um manuscrito já comprovava a existência dos chamados franco-maçons e a sua subordinação à monarquia dos Stuart, principalmente ao soberano escocês Jaime I (1566-1625), que também foi rei da Inglaterra e da Irlanda. O historiador maçônico, Robert F. Gould, em “The History of Freemasonry”, transcreve o que era exigido dos franco-maçons à época: “… que sejais homens leais ao rei, sem nenhuma traição ou falsidade e que não tolerais qualquer traição ou falsidade, tratando de combatê-las ou notificá-las ao rei”. Segundo definição de um ilustre estudioso maçom José Maria Ragon (1781-1866), o termo franco-maçom somente se aplicaria àqueles que efetivamente cooperassem na obra de instrução e regeneração da humanidade. Os demais membros de obreiros construtores e integrantes da corporação de pedreiros seriam denominados simplesmente maçons.

Observa-se que a Grande Loja da Inglaterra, criada para centralizar a franco-maçonaria inglesa e que se constituiu no marco oficial da imagem pública da Maçonaria, foi instituída em 24 de junho de 1717, data emblemática para os templários e que lembra o nascimento de João, o Batista. A devoção a essa figura histórica é um dos elos que ligam os franco-maçons aos templários. Segundo o “Dicionário de Maçonaria”, de Joaquim Gervásio de Figueiredo 33.º, João Batista é o patrono da Maçonaria e todas as lojas maçônicas simbólicas são intituladas Lojas de São João.

A TRADIÇÃO JUDAICA DOS ESSÊNIOS

Preso e decapitado em 32 da E.C. por ordem de Herodes Antipas, governador da Galiléia, Yochanan ben Ezequiel (nome hebraico de João Batista) provavelmente era membro da seita dos essênios, uma comunidade judaica que existiu durante os dois últimos séculos da era do Segundo Templo (150 antes da E.C. a 70 da E.C.). Historiadores judeus do século I, Flavio Josefo e Philo de Alexandria, registraram a presença desse grupo ascético, que praticava um Judaísmo ultra-ortodoxo, com jejuns frequentes e banhos rituais diários, e que habitava o deserto da Judéia, entre Jericó e Ein Guedi.

A partir de 1947, e até 1956, com a descoberta dos pergaminhos nas cavernas de Qumran (os manuscritos do Mar Morto), a tese de que os essênios eram seus autores ganhou força entre estudiosos e peritos de várias nacionalidades. Segundo Leon Zeldis 33º, os iniciados da comunidade de Qumran, cujas idades variavam entre 25 e 50 anos, aprendiam a “amar a justiça e ter aversão à maldade”. Consideravam-se herdeiros dos reis sacerdotes, simbolizados por Salomão (do hebraico Shlomo, que deriva da palavra Shalom-paz) e Melquizedek (do hebraico Malki-Tzadik, rei justo), rei de Salem (a atual Jerusalém), à época de Abraão. Alguns de seus membros, como João, o Batista, faziam votos de nazareos – do hebraico “nazir” que corresponde a “separado” ou “consagrado”. Os autores do livro “A Chave de Hiram” acreditam que “a voz que clama no deserto” poderia ser a de João Batista “que viveu uma vida dura no deserto, de retidão qumraniana, comendo apenas os alimentos permitidos, usando um cinturão de couro e uma túnica de pelo de camelo”.


Na obra “Os Manuscritos do Mar Morto”, o professor e doutor em teologia Geza Vermes destaca que os membros da seita se consideravam “o verdadeiro Israel”, fiéis representantes das autênticas tradições religiosas. Os sacerdotes, chamados de “filhos de ZadoK” (o sacerdote da Casa de David), se constituíam na autoridade máxima da comunidade. A hierarquia era rigorosa. Cada membro era inscrito na “ordem de seu grau”. O mais alto cargo recaía na pessoa do Guardião, conhecido também como “Mestre” (maskil, em hebraico). Eram também instruídos a reconhecer “um filho da Luz” de um “filho das Trevas”. Na lista de infrações e de suas penas correspondentes, o pecado mais grave que demandaria em imediata expulsão da congregação seria qualquer tipo de transgressão, por ato ou omissão, às diretrizes da Lei de Moisés.

Em um dos manuscritos – o Preceito do Messianismo – é especificado que somente a partir dos 30 anos os homens eram tidos como maduros, podendo participar das assembleias, de casos em tribunais e tomar assento nos altos escalões da seita. O neófito vindo de fora que se arrependia de seu “caminho de corrupção”, iniciava-se “no juramento da Aliança” no dia em que conversava com o Guardião, mas nenhum estatuto da seita deveria ser divulgado a ele. Na avaliação do professor Geza Vermes, o retrato que assoma da leitura dos manuscritos em relação às ideias e aos ideais religiosos dos essênios é uma observância fanática à Lei de Moisés. No campo político, os essênios eram frontalmente contra a dinastia de Herodes e o domínio dos romanos sobre a Terra Santa.

LIVROS SECRETOS DE MOISÉS

Dizimada pelos romanos em 66-70 da E.C., a comunidade de Qumram pode ter enterrado sua história, seus segredos e sua tradição secreta ligada a Moisés em algum lugar do templo de Jerusalém, seguindo a prática judaica de não destruir documentos sagrados (a cidade de Jerusalém fica a 40 minutos de carro de Qumram). Na obra “A Chave do Hiram”, os autores aventam a hipótese desses manuscritos terem sido descobertos pelos templários, no século 12, em função das sigilosas escavações realizadas no local por mais de uma década. No livro “A Odisséia dos Essênios”, o historiador britânico Hugh Schonfield faz referência aos livros secretos que Moises teria dado a Josué para que ele os mantivesse ocultos “até os dias de arrependimento”.

No livro do escritor francê Michel Lamy – Os Templários. Esses senhores de Mantos Brancos/1997 – é lembrado o interesse do abade Estevão Harding, amigo e mentor de Bernardo de Clairvaux (incentivador da criação da Ordem dos Templários e autor de suas regras), por textos hebraicos. O abade procurava a ajuda de rabinos nas suas traduções do hebraico dos livros do Velho Testamento. Para Lamy, esse intenso interesse por textos hebraicos demonstram a crença na existência de um tesouro oculto enterrado sob o monte do Templo e algum tipo de relação com o lugar que mais tarde se tornou a moradia dos templários. O historiador Piers Paul Read também destaca que uma das primeiras traduções encomendadas pelos templários na Terra Santa foi a do “Livro dos Juízes”, do Velho Testamento. “Havia uma íntima e inquestionável identificação dos cristãos da Palestina com os israelitas de antigamente” (Os Templários).

Erguido pelo rei Salomão para abrigar a “Arca da Aliança” – relicário das palavras divinas a Moisés no deserto – , o grande Templo de Jerusalém concentrava nesse local toda a sua santidade. Construído sobre o Monte Moriá, o aposento onde ficava a arca sagrada era o lugar mais recôndito do Templo, chamado de “o Sagrados dos Sagrados” (Kodesh há-Kodashim), recinto cuja santidade era tal que somente o grande sacerdote (Cohen Gadol, em hebraico) tinha permissão de lá entrar, uma única vez durante o ano, no Dia do Perdão – Yom Kipur (Revista Morashá).

A adoção pelos templários e maçons dessa simbologia estruturada nos mistérios e segredos que se iniciam com Abraão, tem seu ápice em Moisés, se perpetua com a construção do Primeiro Templo por Salomão e sofre transmutações generalizadas a partir dos primórdios da Era Comum, após a destruição da comunidade de Qumram, ainda permanece envolta em véus em sua nascente e tem se mostrado um desafio para a Igreja Católica. De igual forma, a imensa quantidade de publicações, teorias e suposições a respeito do tema ainda não produziu uma resposta diferente daquela que anima e justifica o trabalho da maioria dos pesquisadores: a da “busca pela verdade” .

OS GUARDIÕES DA ALIANÇA

Em “As Intrigas em torno dos Manuscritos do Mar Morto”, o leitor acompanha a trajetória dos manuscritos, desde das primeiras descobertas no deserto da Judéia, em 1947, durante o mandato britânico na Palestina, até o início da década de 1990, quando o conteúdo de muitos documentos ainda não tinha sido divulgado. A batalha para o livre acesso e publicação de mais de 800 manuscritos por parte de inúmeros pesquisadores de renome mundial é relatada por Michael Baigent e Richard Leigh que culpam a chamada “equipe internacional” comandada pelo padre Roland de Vaux, da École Biblique de Jerusalém, de manter por longo tempo o monopólio sobre os manuscritos. A polêmica se estendeu até a imprensa através das páginas do influente jornal americano New York Times que em editorial publicado em 9 de julho de 1989 criticou a morosidade das pesquisas, observando que “passados 40 anos, um círculo de estudiosos indolentes continua esticando o trabalho, enquanto o mundo espera e as preciosas peças vão se desmanchando em pó”.

Hoje sabemos que os membros da comunidade de Qumram costumavam referir-se a si próprios como “os guardiões da Aliança”. Tal conceito se baseia essencialmente na grande importância da “Aliança”, que impunha um voto formal de obediência, total e eterna, à Lei de Moisés. Daí a expressão “Ossei ha-Torá”, encontrada em um dos pergaminhos, que pode ser traduzida por “Agentes da Lei”, expressão talvez que fosse a origem da palavra essênio (As intrigas em torno dos Manuscritos…). Mas, para o pesquisador Robert Eisenman, autor de vários livros sobre os Manuscritos, termos como essênios, zadoques, zanoreanos, zelotes, sicários, ebionitas (os pobres) apontam para um mesmo grupo ou movimento ortodoxo de rigoroso cumprimento da lei mosaica.

Em seu estudo “Paulo como herodiano”, apresentado na Sociedade de Literatura Bíblica (Society of Biblical Literature), em 1983, Eisenman credita a Paulo (Saulo de Tarso) o papel de agente secreto dos romanos, após ser ameaçado de morte pelos “zelosos da Lei”. A partir dos manuscritos e de referências encontradas no Novo Testamento, o pesquisador afirma que a entrada de Paulo em cena mudou o rumo da história. “O que começou como um movimento localizado dentro da estrutura do Judaísmo existente, e cuja influência se restringia aos limites da Terra Santa, se transformou em algo de uma escala e magnitude que ninguém na época poderia ter previsto. O movimento que estava nas mãos da comunidade de Qumran foi efetivamente convertido em algo que não tinha mais lugar para seus criadores” (As Intrigas em torno dos Manuscritos…).

Para os autores ingleses de “A Chave de Hiram”, Saulo de Tarso não conhecia profundamente os ritos nazoreanos da comunidade de Qumram e a sua simbologia da “ressurreição em vida”, cerimônia adotada pela Maçonaria em seu ritual de 3º Grau. Em um dos manuscritos encontrados, denominado “Preceitos da Comunidade”, é explicado que ao entrar na comunidade o sectário era elevado a uma “altura eterna” e unido ao “Conselho Eterno” e à “Congregação dos Filhos do Céu” (Geza Vermes, em “Os Manuscritos do Mar Morto”).

Outro importante estudioso dos manuscritos, o historiador John Allegro, em seu livro “The Treasure of the Copper Scroll” que traz a tradução completa do Manuscrito de Cobre, explica que “Qumram” é uma palavra árabe moderna e que no século I da E.C. o local era conhecido como Qimrôn, raiz da palavra hebraica que significa abóbada, arco, portal. O pesquisador também observou a utilização de códigos no Manuscrito de Cobre quando são citados os 64 esconderijos com metais preciosos e manuscritos pertencentes à Comunidade. Detalhe igualmente notado pelo padre J.T.Milik, que fazia parte da equipe internacional que analisou os manuscritos em Jerusalém. O religioso constatou a presença de técnicas de codificação críptica em alguns documentos secretos que continham informações sobre eventos futuros.

Sheila Sacks
Jornalista de Investigação – Rio de Janeiro, Brasil


CADEIA DE UNIÃO: FONTE DE BONDADE
CONCEITO DE CADEIA DE UNIÃO


A Cadeia de União é o mais perfeito símbolo da unidade maçônica e torna os obreiros em elos fortíssimos e quando é formada representa a Verdadeira Fraternidade. É uma “corrente” que une e é formada por múltiplos anéis interligados entre si, sem princípio e nem fim, evidencia a união perfeita, igual e imutável daqueles que aceitaram unirem-se por Laços Fraternos.

A Cadeia de União é a mais bela e preciosa joia da Loja, ora móvel, ora fixa e quando formada representa a Luz dos Astros em torno do Sol, simboliza o Universo e é eterna, como eternos e universais são o Amor, a Bondade, o Progresso e a Justiça. Os homens unidos se abraçam constituindo uma só Cadeia de União, uma só Família, orientada pela grandeza absoluta do Pai Celestial, que é o nosso G.: A.: D.: U.:

A Cadeia de União é mais um motivo para o Maçom praticar a verdadeira Caridade, ou seja, a que os “Olhos não vêem”, mas o coração sente.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A UNIÃO

Os elos nunca são os mesmos, porém por terem os maçons Amor Fraterno e Universal, estão acorrentados aos seus Irr.: de Loja, na solidariedade do bem comum e do crescimento espiritual, podendo ser descrita como uma “prisão mística” e sendo o mais belo símbolo dentro de uma Loja, isto é a “cadeia” em direção a “União”, por isso o Salmo 133, “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em União!”, nos revela que a União entre os Irr.: os faz uma só pessoa, não podendo ser mais bem demonstrada pelo símbolo da “Cadeia de União”.

A Cadeia de União é formada por anéis de Boa Vontade, motivados pela sede de Verdade e Luz. Esta corrente aparece essencialmente como um símbolo de Solidariedade Humana, ou mais precisamente a Reconciliação Universal.

OBJETIVOS DA CADEIA DE UNIÃO

Transmissão da “P.: Sem.:” que é um sinal de regularidade maç.: e foi introduzida pelo Grande Oriente de França em 1777;

Demonstrar a igualdade entre os irmãos;

Canalização das energias internas;

Captar a benção Superior do G.:A.:D.:U.;

Dirigir preces ao G.:A.:D.:U.: por intenção a algum Irmão enfermo;

Demonstrar a União e a Fraternidade entre os Irr.: e que fazemos parte do corpo místico da Maçonaria Mundial tanto no plano terrestre como no espiritual;

Objetivo essencial é comunicar-se com as energias celestes, ou seja, um canal de comunicação da terra com o céu.

PREPARAÇÃO

A reunião deve ter como “Ordem do Dia” A Cadeia de União, não é prudente a diversificação de objetivos, pois, embora possuímos uma força mental ao dividi-la em vários pedidos, estaremos enfraquecendo-a e possivelmente diminuindo a sua eficácia. Os Irr.: devem ser avisados anteriormente de quando vai ocorrer, com o objetivo de se preparem espiritualmente; O ambiente deve estar propício, com música de fundo, iluminação fraca, incenso e principalmente a concentração de todos os presentes. Na Cadeia de União não são os olhos que vêem, mas o coração que sente.

EFEITOS DA CADEIA DE UNIÃO

Quando conseguimos absolver a Energia Interior emanada pelos Irr.: “a egrégora” que nos foi presenteada pelo G.:A.:D.:U.: o mundo faz-se notar como “Ser” e nós passamos a “Amar o Mundo”, a respeitar a natureza, a admirar a obra da criação e desejamos um mundo melhor porque nós estamos melhores. Se acreditarmos no seu efeito, se desejarmos o seu resultado e soubermos realizar uma Cadeia de União, esta funcionará perfeitamente, pois não deveremos nos esquecer que ao estarmos unidos em Loja estaremos representando o Cosmos, a Fraternidade Mundial e a emanação de Energias Positivas e Regeneradoras que só tenderá a melhorar o nosso ambiente e aumentará a nossa Vibração Pessoal.

Os indivíduos, ou melhor, a ideia de indivíduo e do particular de cada componente da Cadeia, desaparece como tal, para formar um único corpo vibrando e respiram na mesma cadência rítmica. 
A Cadeia de União torna-se assim um Círculo Mágico e Sagrado onde uma Força Cósmica e Teúrgica concentra e flui através de cada “Homem Acorrentado”, constituindo assim o Verdadeiro Espírito Maç.: e é de fato o “quadro celestial” que limita, separa e protege o “O Mundo das Luzes” do “Mundo das Trevas”, o Sag.: do Prof.:.

Nossos símbolos e rituais constituem o núcleo da nossa identidade que a nossa instituição é em si e não pode deixar de ser, a menos que lhe permite tornar-se desvalorizada e vazia de todo o conteúdo essencial. É importante compreender e aceitar que, graças a esses símbolos e rituais é revelada a nós através dos séculos e a Ordem Maç.: adquire seu sentido mais puro.

Só através do esforço pessoal de meditação é possível penetrar no significado mais profundo que esconde o ritual. Porém, quando você não sabe ver nada mais do que a forma exterior do símbolo e é feita com pressa ou pelo simples fato de ignorá-la, conduz inevitavelmente ao empobrecimento do rito em si, deixando, portanto, reduzir a quase nada seus efeitos, assim o valor desse ato não ressoa dentro de nós.

A FORMAÇÃO DA CADEIA DE UNIÃO


Após a queima da Col.: Grav.: devemos observar a importância do elemento fogo. A matéria do papel é reduzida às cinzas. A fumaça produzida é levada em direção à Abóbada Celeste. Dentre inúmeros ensinamentos, há a representação da morte da matéria e imortalidade d’alma que retorna ao Oriente Eterno. De modo geral, a Cadeia de União começa e termina no V.:M.:, e é ele, como a máxima autoridade da Loja, que dirige a invocação ao G.:A.:D.:U.: A Cadeia de União é formada por todos os maçons presentes na reunião, com exceção dos Irr.: visitantes de outras potências quando for passar a palavra.

A cadeia tem uma forma oval ou circular, obrigatoriamente fechada; Estende-se do Oriente para o Ocidente; É feita tendo ao centro o Altar dos Juramentos, com o Livro da Lei aberto; O V.:M.: fica de costas para o trono, a sua direita o Ir.: Or.: e a sua esquerda o Ir.:Sec.:, na outra extremidade em frente ao V.:M.: fica o Ir.:M.:C.:, tendo ao seu lado esquerdo o Ir.:1ºVig.: e a sua direita o Ir.:2ºVig.:, isso no Rito Escocês. Os demais Irr.: do quadro comporão a Cadeia de acordo com o seu lugar em Loja, permanecendo em Silêncio e Meditação.

A TRANSMISSÃO DA PAL.´.

O V.:M.: transmite a Pal.: (sussurrada ao ouvido) do Ir.:Or.: a sua direita e ao Ir.:Sec.: a sua esquerda, sendo assim transmitida aos Irr.:, que culminará aos ouvidos do M.:C.: e depois de receber a Pal.: em ambas as orelhas, (fora de lugar a cadeia é fechada novamente) e vai retransmiti-la ao V.:M.: em ambos ouvidos que dirá se está correta, se acaso não estiver, repete-se o processo. Se estiver correta o V.:M.: dirá simplesmente: “Meus Irmãos, a Pal.: está correta, guardemo-la no mais profundo silêncio, e só divulga-la em Loja Reg.: e da referida Pot.: Maç.:”

POSTURA DE CADA IRMÃO

Os pés em Esq.:, com os calc.: unidos e as pontas, tocando a dos que estão ao seu lado, os Br. Cruz.:, sendo o dir.: sobre o esq.: de modo que a m.: dir.: de um aperte a m.: esq.: do outro em forma de Gar.: Formando assim os Três toques da Cadeia de União: O toque dos Pés, das Mãos e o Mental, quando a pal.: é sus.: ao ouvido, e neste momento os Irr.: devem permanecer com os olhos fechados para absorver toda energia emanada pelos Irr.:

ENCERRAMENTO 

Antes do término do ritual, os Irr.: cumprimentam-se apertando as mãos que ainda encontram-se entrelaçadas e repetem por três vezes Saúde, Sabedoria e Segurança. A quebra da Cadeia deverá ser lenta e suave, para que a força de cada um se estabilize no seu circuito fechado.

Sérgio Crisóstomo dos Reis – M.’.M.’.
A.’.R.’.L.’.S.’. Joaquim Gonçalves Ledo 218, Oriente de Juiz de Fora – MG, Brasil




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SPOLADORE, Hercule. Cadeia de união I: efeitos à distância. Disponível em:http://www.solbrilhando.com.br/Sociedade/Maconaria/Artigos/Paranormalidade_e_M_C_de_U_I.htm. Acesso em: 19 nov. 2010.


O TEMPLO MAÇÔNICO E A REGULARIDADE




A.´.G.´.D.´.G.´.A.´.D.´.U.´.

i) Preliminar
ii) Conceito de Templo
iii) Conceito de Templo Maçônico
iv) Desenho do Templo Maçônico
v) Organização do trabalho no Templo
vi) Significado esotérico do Templo Maçônico
vii) Epílogo

i) Preliminar
Aspectos gerais do Templo Maçônico, de acordo com a prática do R.´.E.´.A.´.A.´. no Gr.´. de Ap.´.

ii) Conceito de Templo
Templo – segundo o Dicionário da Língua Portuguesa é um edifício destinado ao culto de uma religião; um monumento em honra de uma divindade, ou um qualquer lugar sagrado ou venerável. O dicionário Priberam da Língua Portuguesa diz-nos ainda que é o lugar onde a maçonaria celebra as suas sessões e que também assim pode ser chamada a Ordem dos Templários.

Templo – segundo a wikipedia, vem do latim templum, "local sagrado" e é uma estrutura  arquitetônica dedicada a um serviço religioso ou a um culto. O termo no sentido figurado é o reflexo do mundo divino, a habitação de Deus sobre a terra, o lugar da Presença Real. É o resumo do macrocosmo e também a imagem do microcosmo: 'um corpo humano é um templo.

As tradições religiosas, entre outros, dão-lhe nomes diversos, como:

Igreja, Casa de Oração, Capela, Catedral e Basílica; no caso do Cristianismo;
Mesquita, no caso do Islão;
Sinagoga, no caso do Judaísmo;
Templo de fogo, no caso do Zoroastrismo;
Pagode, no caso do Budismo;
Mandir, no caso do Hiduísmo;
Pathi, no caso do Ayyavazhi;
Terreiro, no caso das Religiões Afro-brasileiras;
Casa de Adoração, no caso da Fé Bahai; e Centro Espirita, no caso do Espiritismo.

Pode ainda ser considerado Templo o lugar onde se presta culto a uma Arte ou a uma Ciência.

iii) Conceito de Templo Maçónico
Do ponto de vista esotérico e partindo dos conceitos anteriormente referidos, poderemos concluir que: Templo Maçônico é o lugar no qual os maçons prestam culto ao G,´.A.´.D.´.U.´. e sob os seus auspícios realizam o seu Trabalho Espiritual.

Estas definições que conceptualmente se apresentam simples, de facto complicam-se pelas mais variadas razões, sejam elas de índole política, religiosa ou outra.

É por isso que algumas estruturas, ditas maçônicas, ou para/pseudo maçônicas, substituem o termo Templo por Loja ou Oficina, sendo que essas designações existem, mas são outra coisa, tendo o significado conceptual destas palavras sido indevidamente equiparado a Templo, encontrando-se na para/pseudo-maçonaria definições como: “a Loja/Oficina é local no qual os francomaçons celebram as suas assembleias ou reuniões”; e assim suprimem-lhe toda e qualquer conotação espiritual, procurando desse modo ocultar toda a natureza “religiosa” que, mesmo não sendo nem tendo uma religião, tem caracterizado a maçonaria ocidental desde as suas origens, abrindo-se assim as ditas maçonarias a um trabalho dito “maçônico laico” que não é de todo compatível com o esoterismo iniciático que está na essência da Arte Real.

Parece-me pois claro que o trabalho maçônico autêntico exige que o mesmo se cumpra num Templo Maçônico e como tal terá que ocorrer A.´.G.´.D.´.G.´.A.´.D.´.U.´. para que o seu ritual assim celebrado permita que os membros que o executam tenham um Despertar Espiritual e alcancem níveis espirituais inimagináveis para os profanos e lamentavelmente, também para alguns iniciados que, por não terem interiorizado corretamente a sua iniciação, se deixaram levar em correntes de todo incompatíveis com a essência da atividade maçônica.

Ter um Despertar Espiritual mais não é do que perceber que há muito mais na vida do que aquilo que nos foi induzido a acreditar; é algo mais interior e mais profundo, com um significado à espera de ser descoberto.

É um conjunto de muitas pequenas coisas e muitas coincidências que não são mais que o início desse despertar, o início da percepção de que somos atemporais, não físicos; eternos.

Quando começamos a não nos preocupar com coisas como a reputação social, a popularidade, e a aprovação, quando descobrimos que a nossa identidade vem de algo mais profundo do que isso; quando iniciamos um relacionamento com o Universo, sendo que o Templo é o Universo, e quando nele nos aceitamos integrar, normalmente deixamos também de ter medo, até o medo da morte vai diminuindo conforme a nossa parte atemporal ao Universo se vai ligando, aí e então vamo-nos aperceber que apenas caminhamos, e que caminhamos pelo caminho certo, rumo ao G.´.O.´.E.´..

Quando o Despertar se inicia abandonamos muitas das preocupações profanas ficamos mais interessados na busca do Conhecimento, na busca da Sabedoria e por isso aceitamos e abraçamos como experiências enriquecedoras todas as ocorrências da nossa passagem por esta “vida”.

iv) Desenho do Templo Maçônico
A compreensão da forma como os nossos Templos foram desenhados requer ter em conta que a maçonaria especulativa tal como foi pensada no século XVIII, aquando do seu surgimento proveio de uma concepção do mundo e do homem que tinha por base, fundamentalmente, a Arte Construtiva intrinsecamente ligada às restantes disciplinas que compõem o Hermetismo: a Alquimia, a Teurgia, a Magia Natural e a Astrologia; sem nos esquecermos também das várias correntes de pensamento procedentes das Religiões dos Mistérios, do Pitagorismo, do Neoplatonismo e das Gnoses, Judaica e Cristã, bem como da herança da Antiga Sabedoria Egípcia.

É claro que, três séculos volvidos, os avanços científicos fizeram com que nos afastássemos do que era fábula e superstição; mas para lá da evolução ocorrida a maçonaria tem sido rigorosa em conservar os conhecimentos perenes, intrínsecos da própria natureza do ser humano e do cosmos que o contém.

No respeito por essas verdades eternas o bom senso tem prevalecido e os símbolos primitivos do Templo Maçônico continuam a ser imprescindíveis para executar o trabalho espiritual que é a essência maçônica.

Na simbologia maçônica o Templo representa ainda o Templo do Rei Salomão, aquele erigido em honra e por ordem de Yahvé , seu Deus.

Este Templo foi edificado em Jerusalém e segundo referências escritas nos Livros Sagrados contava com três espaços perfeitamente bem delimitados:

- O Pórtico [’ülâm] que delimitava o profano do sagrado;

- O Sancta [o “lugar” Santo = hékâl ou hekhal, que deriva do Sumério: É GAL = Casa Grande] que continha a nave central do Templo;

- O Sancta Santorum [o “lugar” Santo dos Santos] que na sua parte mais recôndita, o Debir (דְּבִיר), abrigava a Arca da Aliança.

O Templo Maçônico obedece igualmente a esse mesmo plano, sendo o que a seguir se indica o seu traçado:

- O Pórtico, que vai desde a parede ocidental, onde se encontra a porta de entrada no recinto, até uma linha imaginária, que se projeta desde a parede Norte até à parede Sul, traçada à altura das Colunas, a B.´. e a outra a Sul dela, linha essa que delimita a zona a partir da qual, estando o espaço sacralizado, os profanos não passam; apenas adentram essa linha os iniciados e o neófito no dia da sua iniciação.

- O Sancta que se estende desde a linha onde termina pórtico até à balaustrada do Or.´. e é o espaço onde todos os iniciados se arrumam por Oficinas. É neste espaço que o nosso Templo tem o seu apogeu, bem no centro da L.´., o local onde é possível o contacto com a Divindade, o local que é atravessado pelo eixo do mundo, o único caminho que permite o trânsito entre o mundo superior e o mundo inferior.

- O Sancta Sanctorum que vai desde a balaustrada até à parede Oriental. O Sancta Sanctorum da maçonaria é um local que pode ser alcançado por todo e qualquer maçom que tenha progredido em conhecimento e auto-controlo; que tenha acrescido Luz, da que brilha desde o Or.´., à sua luz estando assim preparado para a etapa final do grande drama do desenvolvimento do Espírito: a busca da Palavra Perdida.

Um Templo, com as dimensões rigorosas, deverá ter a forma de um paralelipípedo que por sua vez é composto por dois cubos perfeitos, representando o cubo do Oc.´. a Matéria e o cubo do Or.´. o Espírito.

É mesmo no início do cubo no Oc.´. que estão as Colunas, a B.´. e a outra a Sul dela, e no fim do cubo no Or.´. que se encontra o Trono de Salomão, a Cadeira do V.´.M.´..

Forma-se ainda um terceiro cubo que é composto pelas duas metades dos cubos   do Oc.´. e do Or.´.; este terceiro cubo representa o homem que é composto por Matéria e por Espírito. É no centro deste terceiro cubo, que é o ponto onde os dois primeiros confluem, que se coloca o Quadro da L.´., simbolizando o ponto de chegada da nossa viagem, o nosso encontro com o G.´.A.´.D.´.U.´..

A figura geométrica do cubo corresponde em aritmética ao número quatro. Na simbologia dos números o 4 tem várias conotações e ligações das quais destacamos apenas:

Os 4 pontos cardeais: Norte, Sul, Este e Oeste;
As 4 estações do Ano; Primavera, Verão; Outono e Inverno;
Os 4 elementos da Natureza: Terra, Ar, Água e Fogo
As 4 Fases da Lua: Nova, Crescente, Cheia e Minguante.

Este terceiro cubo encerra a mais complexa e mais rica das simbologias; o seu pavimento é de ladrilhos pretos e brancos alternados, um mosaico também chamado de piso axadrezado, que reflete a cosmovisão dualista da maçonaria, recordando a harmonia que deve reinar nas LL.´. quaisquer que sejam as condições ou convicções dos seus obreiros.

Essa dualidade contém ainda uma alegoria extra L.´.; aquela que recorda a todos os    O as características do universo profano, onde têm que percorrer a maior parte das suas vidas sem que perca de vista os atributos que caracterizam um maçom.

Um Templo Maçônico é atravessado pelo Trópico de Câncer (Solstício de Verão), uma linha imaginária que vai da Coluna B.´. à Lua; é também atravessada pela linha do Equador Celeste (Equinócios do Outono e da Primavera) que vai do Oc.´. a Or.´.; e é ainda atravessada pelo Trópico de Capricórnio (Solstício de Inverno), a linha imaginária que vai da Coluna a Sul da Coluna B ao Sol.


Ao deslocarmo-nos de uma para a outra Coluna, simbólicamente representamos os movimentos da terra (Rotação e Translacção) estando assim a deslocarmo-nos de um solstício ao outro, de um equinócio ao outro, percorrendo passo a passo as diferentes etapas e provas que provocam a evolução do Espírito na sua aventura transcendente da sua passagem por este mundo, ou se preferirmos, por este estadio da sua vivência múltipla.

Nos estremos Sudeste, Noroeste e Sudoeste do pavimento de ladrilhos estão as três colunetas, a saber: a da Sabedoria (Jônica), a da Força (Dórica) e a da Beleza (Coríntia); são elas que suportam as três Luzes, que para lá de terem literalmente iluminado os trabalhos nos Templos primitivos, tinham e têm também a sua simbologia: a Jônica, associada ao V.´. M.´. orienta-nos no caminho da vida; a Dórica, associada ao 1.º Vig.´. anima-nos e sustenta-nos em todas as dificuldades; e finalmente a Coríntia, associada ao 2.º Vig.´. adorna todas as nossas ações, o nosso caráter e o nosso espírito.

Na parte superior de um Templo Maçônico está presa uma corda com 81 nós que representa todos os maçons espalhados pela superfície do globo terrestre e a união que entre eles deve reinar. Este símbolo representa ainda a solidariedade maçôica, que jamais deve ser quebrada.

Ao teto de um Templo Maçônico cabe ainda destacar as características da Abóbada Celeste.


v) Organização do trabalho no Templo
Tanto o traçado do templo quanto a organização dos trabalhos em L.´. seguem sempre a orientação dada pelos quatro pontos cardeais:

Oriente: é o lugar onde nasce o Sol, e alegoricamente é o ponto donde surge a Luz; daí o Oriente ser considerado a fonte da Sabedoria, o lugar para onde caminhamos em busca do Conhecimento, e por isso mesmo ali tem assento o V.´.M.´..

Ocidente: é o lugar do pôr-do-Sol; é por aí que se adentra a L.´. e simboliza a passagem das Trevas à Luz, sendo por isso que é aí, no sector oposto ao V.´.M.´., que tem assento o 1.º V.´..

Norte: é o primeiro sector da L.´., aquele a que é mais fácil aceder, é o sector chamado de Coluna do Norte, e é o lugar onde tomam assento os IIr.´. Ap.´. que ficam nesse lugar porque acabaram de sair das trevas da ignorância e as suas débeis pupilas não poderiam olhar de frente a Luz. A Coluna do Norte vai desde a Coluna B.´. à balaustrada do Or.´..

Sul: é o meio-dia, é o lugar onde tem assento o 2.º V.´. sendo o sector chamado de Coluna do Sul e é neste lugar que têm assento os IIr.´. Comp.´.; ficam nesse lugar porque já conseguem, embora ainda com algumas limitações, suportar a Luz que ali chega com intensidade superior àquela que chega à Coluna do Norte. A Coluna do Sul vai desde a Coluna a Sul da Coluna B à balaustrada do Or;´..

Tanto os IIr.´. Ap.´. quanto os Comp.´. devem começar por tomar assento nos lugares mais a Oc.´. nas respectivas colunas de acordo com a sua antiguidade na Oficina, pois só se devem aproximar do Or.´. na medida em que os seus olhos para tal estejam preparados, e para tal tenham adquirido capacitação.

vi) Significado esotérico do Templo Maçônico
Do ponto de vista esotérico, analizado na sua totalidade, o Templo Maçónico simboliza:

1 - O Universo.
O templo enquanto representação da Emanação ou da Criação representa o Universo, daí as suas dimensões serem de Norte a Sul e do Zênite ao Nadir; sendo assim, por conseguinte no Universo, que o neófito é iniciado e é ali que, já como maçom, trabalha e busca o seu crescimento  pessoal  A.´. G.´. D.´.G.´.A.´.D.´.U.´..

2 - A Humanidade.
O Templo é também uma alegoria da “Humanidade Ideal” à qual os maçons aspiram, humanidade ideal que cada um de nós, com o aperfeiçoamento do seu interior e o seu exemplo, ajuda a edificar uma Humanidade onde a Paz reine sobre a terra, o Amor reine entre os homens, e a Alegria permaneça nos corações.

3 - O Corpo Humano
O Corpo Humano também simboliza o Templo porque é o receptáculo, o santuário que a Divindade utiliza como um dos meios para se manifestar no universo físico; simboliza, mais específIcamente, o Universo Humano onde reside o Ser Superior, a Essência Infinita, o Espírito do G.´.A.´.D.´.U.´..

4 - A Interioridade Humana
O Templo Maçônico é também a imagem do Espírito e da Consciência do Homem, sendo nesse contexto que o maçom se esforça por desbastar a pedra bruta que evoca a obra que cada maçom vai construindo dentro de si, desde a purificação (katharsis) na sua iniciação, passando pela Iluminação (theorya), com vista ao aprimoramento dos seus trabalhos até alcançar a Divinização do Ser (Theosis ou Santificação).

Sobre a interioridade já Pitágoras, ou a sua escola pitagórica, refere: a grandeza do homem está no conseguir eleger-se como um ser capaz de identificar a sua interioridade com a ordem inscrita no Cosmos; por sua vez Agostinho de Hipona recomenda: “Noli foras ire, in teipsum redi: in interiore homine veritas” (Não vás fora, entra em ti mesmo: no homem interior habita a verdade).

E, claro, não podemos esquecer o nosso VITRIOL, que para lá de ser a arcaica designação de um sulfato é o anagrama de "Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem", literalmente: Visita o Centro da Terra, Retificando-te, encontrarás a Pedra Oculta, e que simbólicamente quer dizer: Visita o Teu Interior, Purificando-te, Encontrás o Teu Eu Oculto, ou, a essência do Teu Espírito humano.



5 - O Corpo e a Interioridade Humana
Analisando o conjunto carnalidade/interioridade contido no esoterismo do Templo Maçônico, surge-nos “O Homem”, o homem que guarda no seu corpo o Espírito Superior pelo qual passará a ser conduzido, logo que consiga eliminar os vícios que o impedem de seguir as Suas indicações e executar o trabalho que lhe possibilite regenerar a natureza perdida e retornar à natureza original da sua criação.

vii) Epílogo
Como bem sabemos e vemos, o Templo tem muito mais decoração e simbologias como Esquadro, Compasso, Pedras, Sol, Lua, etc., mas quero-me ficar por aqui que já é o bastante para ser trabalhado.

Foi por, na sessão realizada no 13.º dia do sexto mês de 6 016, em que por boa sorte estive presente, me ter parecido que haveria uma “corrente” tendente à indiscriminação, uma “corrente” de que “era tudo a mesma coisa”, que me ocorreu traçar esta prancha, e traço-a porque não; … porque não é tudo a mesma coisa, … ou andaríamos todos nessa falsa socialização dos ecrans, que mistura o real com o virtual, como essa moda “pós-pokemons” onde as pessoas, se socializam, fazem-no virtualmente e sempre como um átomo isolado; já não sei se se trata realidade aumentada, de virtualidade diminuída, ou do seu contrário; sei que hoje tudo evolui muito rapidamente e não se conseguindo, com segurança, prever o futuro sendo esse difícil planear, e as pessoas sem planos para o futuro tendem a tornar-se individualistas destruindo-se assim as sociedades.

O Templo ele mesmo, é um construtor de sociedades e de socialização e contém em a chave que permite ao iniciado compreender o objectivo do verdadeiro trabalho da verdadeira Arte Real.

Não é possível passar ao lado da riquíssima simbologia que existe neste elemento pedagógico que é o Templo, nem da generosidade da maçonaria que tudo coloca ao alcance daqueles que estão a dar os primeiros passos nas suas Oficinas.

É esta conduta de Amor, profundamente atípica no mundo profano, que pretende evitar que aqueles que iniciam o caminho maçônico errem no rumo que devem tomar, porque sabemos que um I\ que se extravie na escuridão da noite profana muito dificilmente reencontrará o caminho de volta que lhe permita reorientar a sua marcha, e isto é algo que já ocorreu com vários IIr.´.

As simbologias do Templo traçam, claramente, uma linha divisória que separa a Maçonaria Regular da pseudo-maçonaria, ou o que quer que lhe chamem, divisória essa que nos permite compreender que a Maçonaria trabalha com e A.´.G.´.D.´.G.´.A.´.D.´.U.´. que é, na realidade, quem preside ao trabalho dos Obreiros em L\, enquanto que a pseudo se vê limitada à parte física da condição humana.

A Maçonaria Regular desenvolve-se nas imprescindíveis dimensões Física e Espiritual, enquanto a pseudo fica agarrada à carnalidade do ser humano e apenas trabalha no plano do natural.

A verdadeira Maçonaria é uma carta de navegação encriptada que o G.´.A.´.D.´.U.´. permite que a decifrem todos os que amam e têm a coragem de iniciar a viagem até ao centro de si mesmos, com todos os perigos que isso representa, mostrando-lhes assim o Caminho de regresso a Casa.

Está em cada um de nós tomar a decisão de seguir tal caminho ou outro, no pleno exercício do livre arbítrio que nos foi concedido.

Traçada em Luanda aos 26 dias do sexto mês de 6 016

ARS M\ M\

NÚMEROS E ESOTERISMO – PARTE I: 
TETRAKTYS PITAGÓRICA E DELTA MAÇÔNICO

Tanto os antigos rituais como as mais antigas constituições maçônicas afirmam conjuntamente que a Maçonaria tem como finalidade o aperfeiçoamento do homem. Também os antigos Mistérios Clássicos tinham o mesmo objetivo e conferiam a “teletè”, ou seja, a perfeição iniciática. Esse termo técnico era, de acordo com o pitagórico Plutarco, etimologicamente associado a três significados: fim, morte e perfeição. Um manuscrito, achado pelo Locke em 1696, enuncia expressamente a existência de uma relação entre a Maçonaria e a Escola Itálica fundada por Pitágoras mais de 25 séculos atrás. As mesmas Constituições de Anderson mencionam Pitágoras e o manuscrito de Cooke afirma ser a Maçonaria a parte principal da geometria. Fica, portanto, comprovado que a arte geométrica da Maçonaria deriva, direta ou indiretamente, da geometria e aritmética pitagórica.

Pitágoras (580-490 a.C.), discípulo dos mestres do Egito, da Grécia e da Caldéia, afirmava que a aritmética e a geometria não ficavam confinadas apenas no mundo da lógica. Muito pelo contrário, religião, moral, política, música, física, etc. unificavam-se no espírito cosmológico de uma autêntica teologia racional. Em particular, a geometria era a ciência que tinha por objeto o estudo do cosmo sob o aspecto da posição e da estensão. A aritmética era a ciência do ritmo, do número, do tempo, do intervalo, e o pitagórico Arquitas discriminava entre um tempo físico e um tempo psíquico.

Os números não eram considerados apenas em suas propriedades abstratas, mas também, e principalmente, em suas dimensões simbólicas, psicológicas, metapsíquicas e esotéricas. Portanto os números representavam as virtudes intrínsecas e efetivas do Grande Arquiteto do Universo, gerador e garantidor da ordem e da harmonia cósmica . Para os adeptos da Escola Itálica o um, a unidade (mônade), não era um verdadeiro “número”, mas o princípio gerador de todos os números. Analogamente o dois (díade) era tido como o gerador de todos os números pares. O primeiro verdadeiro número, o três (tríade), surgia da interação entre a mônade e a díade. Assim, todos os demais números podiam ser obtidos por simples adição a partir da unidade, criando assim uma progressão linear de números inteiros.

Todavia, a partir do três, os números podem também ter uma representação superficial. De fato o três pode ser imaginado como um terno de pontos dispostos nos vértices de um triângulo equilátero (número triangular). Assim, considerada a unidade como potencialmente triangular e o três como segundo número triangular, pode-se obter uma série ilimitada de sucessivos números triangulares mediante o desenvolvimento de um triângulo equilátero a partir de um de seus vértices. Aritmeticamente, escrita numa primeira linha a sucessão dos números lineares, pode-se deduzir a sucessão dos triangulares escrevendo a unidade sob a unidade e, sucessivamente, obter o triangular sucessivo como soma do triangular que o precede com o correspondente linear na mesma coluna na qual iremos escrever o novo triangular. Ou seja:


Existe uma maneira simples para verificar se um número qualquer é triangular? A resposta se encontra na fórmula em baixo onde P(3,n) representa o número a ser investigado, 3 significa que é um triangular de ordem n. Verificamos, por exemplo, se 15 é triangular e qual a ordem dele. Substituindo e desenvolvendo obtemos que n=5, ou seja é um triangular de ordem 5, e, com efeito, o 15 se encontra na quinta coluna da lista representada acima.

Inserindo na fórmula outro número que não seja triangular, por exemplo 20, obtemos n=5,844… ou seja um número decimal. Isso quer dizer que o número examinado não é triangular.


Em geral, cada número natural pode ser escrito como soma de, no máximo, três números triangulares (eventualmente repetidos); trata-se de uma propriedade descoberta por Gauss, e é um caso particular do teorema de Fermat sobre os números poligonais.


Virtualmente existem infinitos números poligonais construídos a partir do triângulo, do quadrado, do pentágono, hexágono, e assim por diante. Do ponto de vista algébrico, todos podem ser representados por meio da expressão P(l,n), onde P significa número poligonal, l é o número dos lados do polígono e n a ordem. Em consideração da importância especial dos números pentagonais, é aqui transcrita a fórmula que permite verificar rapidamente se um determinado número é pentagonal e a ordem dele.


O leitor poderá imediatamente constatar que, por exemplo, os números 35 e 70 são pentagonais respectivamente de ordem 5 e 7. Uma relação bonita entre o 5° pentagonal e o 7° quadrado, na qual se evidencia uma ulterior ligação entre os números quatro, cinco e sete, é a seguinte:


A partir do quatro os números admitem também uma representação espacial. Temos assim os números tetraédricos, piramidais, cúbicos, etc. É fácil observar como para delimitar um segmento de reta são necessários dois pontos, enquanto para delimitar uma porção de plano precisamos, no mínimo, de três pontos. Analogamente o número mínimo de planos ocorrentes para delimitar uma porção de espaço é quatro. O sólido formado pela interseção de quatro planos é o tetraedro e, como nesse poliedro existem quatro vértices, apenas quatro pontos (tétrade) são necessários e suficientes para defini-lo univocamente. Segundo Platão o tetraedro é a última partícula que constitui os corpos: o átomo da Natureza.

Em síntese, acrescentando uma unidade à unidade se passa do ponto à linha, delimitada por dois pontos; acrescentando a esses dois pontos um terceiro ponto se passa ao plano definido pelo triângulo. Enfim, acrescentando mais uma unidade se passa ao espaço mediante o tetraedro e nessa altura o processo pára, pois não faz sentido acrescentar mais um ponto fora do tetraedro. O conjunto formado pela mônade, díade, tríade e tétrade compreende tudo: o ponto, a linha, a superfície e o espaço. De consequência, no pensamento filosófico pitagórico a “tetraktys” (grupo de quatro) dos números 1, 2, 3 e 4 é perfeita porque compreende todos os aspectos do universo material sólido. Sobre essa tetraktys os pitagóricos prestavam juramento com essas palavras: “Eu juro por aquele que transmitiu à nossa alma a tetraktys, na qual se encontram a fonte e a raiz da eterna natureza“.

Como a soma 1 + 2 + 3 + 4 = 10, obviamente dez é um número perfeito. A perfeição, ou seja, o completamento da manifestação universal, é portanto alcançada com o número 10. A década, que corresponde ao quarto número triangular, contém tudo, da mesma forma que a mônade contém potencialmente tudo. A representação geométrica do quarto número triangular é a seguinte:



Essa reprodução da tetraktys é um verdadeiro símbolo enquanto representa contemporaneamente um triângulo equilátero (o mais perfeito dos triângulos) e dez pontos dispostos em quatro linhas contendo respectivamente a mônade, a díade, a tríade e a tétrade. Uma outra importante relação entre o dez e o quatro é que a quarta letra do alfabeto grego, (delta), é justamente a inicial da palavra grega decas (década) e tem a forma de um triângulo equilátero. Sem dúvida, porém, a evidência mais impressionante do caráter globalmente simbólico da tectraktys decorre da relação entre quatro e dez estabelecida pela física moderna. Efetivamente, embora o comportamento macroscópico do universo seja totalmente descrito por um sistema de referência espaço-temporal caracterizado por quatro dimensões (x, y, z, t) , as mais recentes teorias sobre a estrutura submicroscópica da matéria (superstring theories) necessitam de um espaço constituído de dez dimensões . Observamos, enfim, que também para os modelos de supercordas com número de dimensões maior de dez, as dimensões podem ser compactadas a partir do modelo em seis dimensões proposto por Calabi-Yau. Lembramos que o seis é um número triangular.


O símbolo pitagórico da tetraktys, na sua forma esquemática triangular, já existia no santuário de Delpho mais de 2500 anos atrás e coincide manifestamente com o Delta maçônico. Ocasionalmente o Delta tem sido interpretado como um símbolo da Trindade, mas, como observou o ilustre esoterista italiano Arturo Reghini , o caráter esotérico do Delta pitagórico-maçônico nada tem a ver com o cristianismo, sendo a tetraktys um símbolo inegavelmente pagão.

NÚMEROS E ESOTERISMO – PARTE II: OS NÚMEROS SINTÉTICOS 



A Maçonaria, com sua iniciação cerimonial, pode ser considerada uma corporação especializada na arquitetura sagrada onde elementos pitagóricos estão intimamente ligados ao simbolismo típico do trabalho maçônico: esquadro, compasso, perpendicular, etc. Consequentemente, a compreensão dos números sagrados à Maçonaria se torna mais fácil na medida em que são compreendidos os números pitagóricos. Tal estudo tem que ser realizado não apenas do ponto de vista aritmético ordinário, mas também do ponto de vista da aritmética simbólica (ou aritmética formal), correspondente à função filosófica e espiritual que Platão atribuía à geometria. Ambos os sentidos estão intimamente conexos no desenvolvimento da antiga aritmética pitagórica e por isso torna-se essencial analisar o significado dos números da década. 

A unidade (mônade) é representada graficamente por um ponto como o yodh hebraico cursivo no tetragrama IHWH (yodh hé waw hé) que literalmente significa: “Eu sou aquele que sou”. No um são concentradas todas as potencialidades do ser e todas as cosmogonias explicam a criação do universo a partir do um cuja explosão cria o espaço-tempo e as demais dimensões do cosmo. Por sua vez a mônade, ou Unidade, tem a capacidade de gerar (e não de criar) a díade, cujo aparecimento é apenas uma alteração, mais aparente que real, da Unidade, proveniente de uma distinção que a mônade opera sobre si mesma.

Os pitagóricos ensinavam que a díade era gerada mediante um processo de cisão, ou diferenciação, da Unidade; um processo que, no pensamento moderno, pode ser comparado ao de divisão celular ou até à fissão nuclear. Na Cabala, dois é o Sefirot Chokmah (a sabedoria) e é um principio feminino. Nos monumentos sagrados do antigo Egito duas colunas principais, representando respectivamente os Reinos do Norte e do Sul, simbolizavam a estabilidade política e espiritual de toda a nação. O Rei Salomão mandou que o arquiteto Hiram Abiff erguesse duas colunas de bronze (Jakim e Boaz) diante do templo de Jerusalém. Na tradição maçônica a unificação dessas duas colunas, que sempre aparecem nas lojas, é símbolo de solidez . O três representa a síntese entre a mônade e a díade: se assiste assim à manifestação (ou epifania) da mônade no mundo superficial em forma de trindade, entidade sagrada cuja perfeição torna-se ainda mais evidente no momento em que ela é representada em forma de um triângulo equilátero. Os Celtas representavam a divindade mediante três raios correspondentes a três sons pronunciados simultaneamente e toda a filosofia daquele antigo povo podia ser resumida em três séries de 3 x 3 x 3 tríades chamadas Tríades dos Bardos. Essencialmente, em todas as religiões do mundo as energias formadoras do universo atuam em conjunto de três e, obviamente, os “três pontos” maçônicos tiveram origem nessa cosmogonia numeral. As partículas elementares contidas no núcleo atômico, próton e nêutron, são, por sua vez, compostas por três quarks.

Enquanto o três só pode ser logrado somando a mônade com a díade, os números 4, 6, 8 e 9 podem ser obtidos por multiplicação e por isso são chamados de números sintéticos.

O quatro era considerado um número perfeito não apenas pelo fato de ser o último número da tetraktys e simbolizar o tetraedro, mas principalmente por ser ele um quadrado algébrico (2 x 2). O quatro é também o único número da década a ser um número sintético e, ao mesmo tempo, fator de outro número da década (2 x 4 = 8). Pitágoras distinguia quatro aspectos do espírito: Hile, Psique, Nous e Agaton, e a Cabala descreve quatro mundos nos quais se inscrevem os dez Sefirot: o mundo da emanação, o da criação, o da formação e o da ação. Na Física as leis que governam completamente a interação eletromagnética são contidas nas quatro equações de Maxwell. O DNA é formado pela repetição de quatro nucleotídeos (guanina, adenina, timina e citosina).

O seis resulta da multiplicação da díade (princípio feminino) com a tríade (princípio masculino) e, por tal motivo, era o número consagrado a Afrodite (deusa do amor) e o símbolo da vida orgânica. Nesse sentido constatamos uma coincidência surpreendente com o carbono (número atômico = 6), único elemento cujas características químicas permitem a existência da vida orgânica no universo. Os pitagóricos dividiam os números em três categorias: os números elípticos (menores que a soma de seus divisores), os números hiperbólicos (maiores que a soma dos divisores) e os números matematicamente perfeitos iguais à soma de seus divisores. O seis não só é perfeito nesse sentido (1 + 2 + 3 = 1 x 2 x 3), mas é o único número cujos fatores são números consecutivos. O seis é geralmente simbolizado pelo “Selo de Salomão”, que é um dos símbolos mais conhecidos do esoterismo.



O terceiro número da década que é obtido mediante multiplicação é o oito. Sendo um número cúbico (2 x 2 x 2) era considerado perfeito mesmo sendo par, pois os números cúbicos crescem conservando a regularidade da forma. Na cosmogonia chinesa o mundo é criado e regido por oito trigramas fundamentais dispostos simetricamente em volta de um Taijitu, uma díade simbolizando a união dos princípios antagônicos yin e yang. Na doutrina dos antigos Druidas o iniciado tinha que passar por oito estados de consciência antes de chegar à libertação espiritual . Observamos enfim que a maioria dos batistérios tem planta octogonal e que o oito em posição horizontal é encontrado na Corda Maçônica.




Quanto ao nove, sendo ele o quadrado de um número perfeito é duplamente perfeito. Na Maçonaria o nove tem uma importância peculiar na determinação das idades iniciáticas dos vários graus do Rito Escocês como, por exemplo, na lenda da morte e ressurreição de Hiram Abiff. Isso se justifica se consideramos que o nove é o primeiro número quadrado ímpar e que ele pode ser dividido em três tríades que, por sua vez, se dividem em três Unidades. Na mitologia clássica, nove são as Musas, filhas de Zeus e Mnemósine. De acordo com Aristóteles, todas as criaturas espirituais são divididas em três principados, cada qual composto de três ordens. Portanto o conceito cristão dos nove céus não pertence unicamente à tradição judaica, e sim à concepção metafísica pagã e, mais precisamente, àquela pitagórica.

Observamos que os quatro números sintéticos (4, 6, 8, 9) formam, por sua vez, uma nova tetraktys cuja soma dá como resultado 27, isto é o cubo de três. Então, também o 27 deve ser um número perfeito. Quanto aos números cinco e sete, eles serão tratados posteriormente.

O nove é o último dos números monádicos, ou seja composto de um só dígito, e como tal encerra a série dos números pitagóricos, sendo o dez a nova Unidade. Por essa razão o pitagórico Nicômaco de Gerasa afirmava: “O número dez é o mais perfeito dos números possíveis… A década é o Todo pois ela serviu de medida para o Todo, como um esquadro e um nível nas mãos do Ordenador”.

O dez é o quarto número triangular, símbolo da tetraktys pitagórica: enquanto os quatro primeiros números são o resumo final de toda a cosmologia numeral, o dez simboliza o retorno à Unidade depois de um ciclo completo de criação. Para Dante Alighieri o décimo céu é o empíreo, ou esfera do fogo, onde se encontra a Cidade Santa. Mas enquanto os nove céus inferiores são animados de moto rotatório que transmite ao cosmo a fluência do tempo, o décimo permanece imóvel, num eterno presente sem passado nem futuro. Para Pitágoras o cosmo era envolvido pela esfera do tempo, ou periekon, e Arquitas afirmava que além do periekon existia uma esfera caracterizada por um tipo diferente de tempo que ele chamava de tempo psíquico. Na Divina Comédia, Dante mostra como, passando da consciência humana à consciência divina (localizada no décimo céu) se torna possível a conexão entre o tempo físico e o tempo psíquico. Nesse tempo psíquico o princípio e o fim se reúnem garantindo assim a solução do problema da mortalidade física dos seres humanos.

Ninguém sabe exatamente o que existe além dos extremos limites do universo, mas a cosmologia moderna nos oferece uma visão extremamente sugestiva. Cerca de 13,8 bilhões de anos atrás, uma explosão primordial (Big Bang) deu origem não apenas ao mundo material como também ao cenário onde o cosmo está mergulhado, os seja o espaço-tempo. Desde o instante inicial do Big Bang o espaço-tempo tem se propagado com a velocidade da luz uniformemente em todas as direções fazendo com que o universo ocupe agora um volume imenso, mas limitado, embora ainda em expansão. É claro, então, que além dos limites do universo sempre se encontrará algo de indefinível, mas que não é espaço vazio, pois o espaço-tempo ainda não chegou lá. Nessa região, que envolve totalmente o cosmo, o tempo não transcorre porque lá ele não existe. Assim, a visão cosmológica dos antigos pitagóricos apresenta, pelo menos na questão do tempo, uma considerável analogia com a estrutura do universo proposta pelos cientistas modernos.

NÚMEROS E ESOTERISMO – PARTE III: A ESTRELA FLAMEJANTE

A divisão de uma circunferência em 2, 3, 4, 6 ou 8 partes iguais e o problema da inscrição nela de polígonos regulares de 3, 4, 6 ou 8 lados não apresentava dificuldades para os matemáticos da Grécia antiga. Mais difícil era o problema da divisão da circunferência em 5 ou 10 partes iguais. Essa questão geométrica foi enfrentada com sucesso por Pitágoras que chegou à construção do pentágono e do decágono regulares inscritos numa circunferência. A solução desse problema envolve, porém, um número incomensurável (a raiz quadrada de cinco), ou seja um número inconhecível pelas vias puramente racionais (simbolizadas pelo esquadro), mas perceptível pela intuição (simbolizada pelo compasso).

Esse número irracional está também envolvido com a secção de ouro de um segmento na forma seguinte: dado um segmento de comprimento a , chama-se secção de ouro (ou secção divina) aquela parte de a (digamos so) tal que a área do quadrado cujo lado é so, é igual à área do retângulo cujos lados são respectivamente a e (a – so). Na prática (so)² = a (a – so) e, portanto:

Se a = 1, então so = 1,6180…

A Natureza sabe utilizar espontaneamente a secção de ouro. Por exemplo, a disposição das folhas em torno de um caule, para que sejam expostas ao sol ao máximo possível, está matematicamente ligada à secção divina. O mesmo vale para certas conchas, assim como por um certo número de galáxias, sem contar que quase toda a arte antiga (templos, pirâmides, etc.) foi erigida segundo as proporções da secção de ouro. A seção de ouro é particularmente importante na composição de alguns fractais como no caso da “árvore de Barnsley”.

Mas, voltando ao assunto, Pitágoras demonstrou que o lado do decágono inscrito numa circunferência de raio unitário nada é se não a secção de ouro do raio. Na figura em baixo, os segmentos KL=LM=MN=NO=OK são todos seção de ouro do diâmetro da circunferência.






Assim os pontos K, L, M, N, O dividem a circunferência em cinco partes iguais e os segmentos verdes mostram o pentágono inscrito. Agora, se em vez de juntar o ponto K com os sucessivos L, M, etc. se junta K com o terceiro ponto da divisão (M), e este com o quinto (O), e assim por diante, se obtém um pentagrama regular (em amarelo) inscrito na circunferência e no pentágono. Essa figura geométrica é de extrema importância no simbolismo maçônico onde é chamada de Estrela Flamejante.

As razões pelas quais o pentagrama, ou pentáculo, foi escolhido pelos adeptos do sodalício pitagórico não eram todas de natureza geométrica. Por outro lado, as propriedades geométricas do pentáculo eram tão numerosas, simples e bonitas que a admiração suscitada nos pitagóricos justificou a escolha do pentagrama como símbolo da Escola Itálica e signo de reconhecimento entre os membros da Ordem.

Por outro lado é fácil demonstrar que os triângulos KMN, LNO, MOK, NKL, e OLM são todos isósceles e que os lados do pentágono são secção de ouro dos lados KM, NL, etc. do pentagrama. Também pode-se verificar que o lado KM do pentagrama é dividido em outros dois pontos p e q, tais que os segmentos Kq=Mp são secção de ouro do lado mesmo. Isso vale, obviamente, para todos os cinco lados do pentáculo.

Existem mais seis triângulos isósceles (LpM, NtO, etc.) cujas bases são secção de ouro dos lados maiores. Também as cinco pontas da estrela são iguais e Kp é secção de ouro de Mp.

Ainda mais surpreendente é constatar que os lados do pentagrama determinam um segundo pentágono regular cujos vértices (p, q, r, s, t) são também os vértices de um segundo pentagrama invertido (em vermelho na figura). Os lados desse pentágono menor são, por sua vez, secção de ouro dos lados do pentágono maior (em verde) e os lados da estrela menor (vermelha) são secção de ouro dos lados da estrela maior (amarela). O pentagrama menor determina, por sua vez, um terceiro pentágono (ao centro da estrela vermelha) que contem uma terceira estrela (não representada na figura) a qual contem um quarto pentágono, e assim por diante até o infinito.

Em síntese, o pentáculo, expressão geométrica do número cinco, pode ser construído a partir da secção de ouro, com a ajuda apenas do esquadro e do compasso. Esses instrumentos são os prolongamentos exteriores de uma faculdade interior: a medida, que é a capacidade típica dos seres humanos de conhecer seus próprios limites, assim como os limites do mundo exterior para ser, eventualmente, capaz de ultrapassá-los. Em seu grafismo, o pentagrama simboliza também a união do princípio masculino com o princípio feminino em uma entidade única. Ele é portanto a imagem do andrógino, que é o ser humano perfeito das origens.


NÚMEROS E ESOTERISMO – PARTE IV: OS NÚMEROS POLIGONAIS

Os pitagóricos, colocando pontos em correspondência dos vértices de polígonos regulares, não descobriram apenas os números triangulares pois, existindo polígonos virtualmente com um número ilimitado de lados, existem também infinitos números poligonais (quadrados, pentagonais, hexagonais, octogonais, etc.). Todavia apenas os triangulares e os quadrados permitem o preenchimento uniforme e completo de um plano. Os números poligonais, assim como os números lineares, podem ser reagrupados em pares e ímpares sendo que para os pitagóricos o princípio feminino e o lado esquerdo eram pares enquanto o princípio masculino e o lado direito eram ímpares. Consequentemente a metafísica pitagórica tinha uma veneração particular para os números ímpares da mesma forma que a Maçonaria reconhece um caráter divino a esses números. De alguma forma a perfeição dos números triangulares, sejam eles pares ou ímpares, era assegurada pela relação que decorre entre eles e o triângulo equilátero, símbolo da tetraktys e da perfeição divina.

Quanto aos números quadrados, se por um lado é imediato reconhecer que são alternativamente pares e ímpares (1, 4, 9, 16, 25, …), por outro observamos que eles possuem propriedades extremamente significativas:

a) Traçando uma paralela r à diagonal de um quadrado, ela o divide em dois triângulos consecutivos. Portanto a soma de dois triangulares sucessivos é igual a um número quadrado. Por exemplo, o número quadrado 9 decorre da soma dos dois triangulares 3 e 6.




b) Qualquer número quadrado pode ser obtido acrescentando ao número anterior um esquadro composto de uma quantidade ímpares de pontos. No exemplo seguinte, acrescentando ao número quadrado 4 um esquadro de 5 pontos obtemos o número quadrado 9.



O esquadro é um dos símbolos fundamentais não só da Maçonaria como também do Hermetismo. Isso é comprovado pela existência de um importante texto hermético, publicado em 1618, cujo frontispício apresenta junto a um símbolo hermético (o Rebis) um esquadro e um compasso. As analogias entre a Maçonaria e o Hermetismo não podem ser consideradas casuais devido às duas Instituições terem a mesma finalidade, ou seja a grande obra de transmutação dos seres humanos. Essa grande obra nada era se não a Arte Sagrada da edificação espiritual onde o “desbaste da pedra bruta” do indivíduo tinha uma profunda analogia com os cânones da arquitetura sagrada. Destarte, os instrumentos maçônicos (esquadro, compasso, etc.) tinham e ainda tem um valor puramente simbólico sendo que à Arte Sagrada correspondia o segredo arquitetônico dos construtores das grandes catedrais medievais.

De regra os números triangulares são diferentes dos quadrados, mas o 36 é o primeiro número linear a ser contemporaneamente triangular e quadrado; além disso o 36 representa o valor da tetraktys de Plutarco composta mediante os primeiros quatro números ímpares e os primeiros quatro números pares da década, ou seja:

(1 + 2) + (3 + 4) + (5 + 6) + (7 + 8) = 36

Na sequência dos números lineares qualquer um pode verificar que o único terno de números consecutivos onde a soma dos primeiros dois é igual ao terceiro é 1, 2, 3. Pitágoras, fascinado pela característica desse terno que, como já vimos, simboliza a epifania da divindade no âmbito dos números lineares (monodimensionais), procurou uma propriedade análoga nos números poligonais (bidimensionais ou superficiais). Ele demonstrou que entre todos os polígonos apenas os quadrados permitem a solução desse problema cujo resultado é constituído pelo terno 3, 4, 5 ou seja 3²+4² = 5² (teorema de Pitágoras). Os números desse terno são também os comprimentos dos lados do triângulo egípcio que é o mais simples dos triângulos retângulos cujos lados são números inteiros. O triângulo egípcio se apresenta, portanto, como a manifestação da epifania no campo dos números poligonais: nesse âmbito o número cinco, representado pelo pentagrama (ou Estrela Flamejante), toma o canto do número três, representado pelo Delta Maçônico.

Observamos, inclusive, que, como demonstrado pelo brilhante matemático britânico Andrew Wiles em 1993, a equação:

não apresenta soluções por n>2 (ipótese de Fermat).

O cinco está relacionado com a secção de ouro, com o pentágono e o pentáculo, e não existem senão cinco poliedros regulares convexos (tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro, icosaedro). Na tetraktys pitagórica, enquanto nove pontos estão colocados nas bordas da figura, só um, o cinco, fica bem no centro do Delta reforçando assim o caráter sagrado desse número. Na Cabala, o quinto Sefirot é Geburah que simboliza a força e o poder. Para os antigos Celtas a terra era constituída de cinco elementos: Kalas, matéria dura; Gwyar, matéria úmida; Fun, matéria gasosa; Ufel, matéria ignea; Nwyvre, matéria etérea [2]. Na especulação gnóstica, as “cinco árvores do Paraíso” representam as cinco entidades superiores primigênias que frutificam no Paraíso (Espírito, Pensamento, Reflexão, Intelecto e Razão).

Na teoria dos números, a função zeta de Riemann reveste um papel fundamental. Sabe-se que particulares coeficientes dessa função geram uma sequência de números inteiros [7]. Os três primeiros números da série são: 1, 2 e 42. É interessante observar que 42 nada é se não o terceiro número poligonal com base 15. Em fórmulas:

P(15,3) = 42

NÚMEROS E ESOTERISMO – PARTE V: OS NÚMEROS SÓLIDOS

Continuando com o processo enunciado no capítulo anterior, os pitagóricos descobriram os números sólidos. Os mais simples e, ao mesmo tempo, os mais importantes são os números piramidais, assim chamados por causa da forma: uma pirâmide com base triangular, quadrada, pentagonal, hexagonal, etc. Os piramidais com base triangular são também chamados de números tetraédricos e a figura seguinte representa o número quatro, tetraédrico de ordem dois, sendo que o primeiro, de ordem um, é a própria unidade.

Os neopitagóricos de Platão consideravam o tetraedro a partícula elementar da matéria e a química moderna nos ensina que, embora os átomos e as moléculas não tenham essa forma, a substância mais dura de todas é o diamante, cujas moléculas são formadas por quatro átomos de carbono dispostos nos vértices de um tetraedro. Também o metano, o mais simples dos hidrocarbonetos tem uma forma tetraédrica, e cada molécula de água sólida se junta às outras por meio de pontes de hidrogênio numa configuração teraédrica.

Observamos agora que, sem considerar a unidade, dez é o primeiro número a ser contemporaneamente linear, triangular e tetraédrico, razão pela qual ele se tornava ainda mais perfeito aos olhos dos pitagóricos. A matemática moderna só conhece quatro números que são contemporaneamente lineares, triangulares e tetraédricos. Eles são: 10, 120, 1540 e 7140, todos múltiplos inteiros de 10. Mais uma relação entre o 4 e o 10.

A fórmula geral dos números piramidais apareceu, pela primeira vez, no Codex Arcerianus, um código romano do ano 450 d.C. e o estudo dessa fórmula evidencia algumas propriedades exclusivas desses números. Em primeiro lugar observa-se que qualquer piramidal de ordem cinco é divisível por 5, enquanto os piramidais de ordem sete são divisíveis por 7 e por 28. Por sua vez o 28 é um número matematicamente perfeito, sendo ele igual à soma de seus divisores. Os pitagóricos tinham uma autêntica veneração por esse múltiplo do sete, tanto é que na basílica pitagórica subterrânea de Porta Maggiore em Roma, foram encontradas 28 lajes funerárias, tantas quantos os componentes daquela antiga confraria. Na Antiguidade só se conheciam quatro números perfeitos: 6, 28, 496, e 8128 que, por sinal, são todos triangulares respectivamente de ordem 3, 7, 31 e 127. Em segundo lugar demonstra-se que todos os piramidais de ordem quatro são múltiplos inteiros de 10, propriedade essa que reforça, mais uma vez, a relação entre o 4 e o 10.

Quanto aos piramidais com base quadrada, embora não apresentassem propriedades diferentes dos outros piramidais, gozavam outrossim de uma consideração particular devido eles terem a forma das pirâmides do Egito, terra onde Pitágoras aprendeu noções importantes de geometria esotérica. Na figura sucessiva é representado o segundo número piramidal, ou seja de ordem dois, com base quadrada.

O problema de encontrar três números sólidos consecutivos onde o terceiro consta da soma do primeiro com o segundo também pode ser enfrentado e resolvido. Demonstra-se que a única solução é a seguinte: 175 + 301 = 476 que representam respectivamente os números piramidais (com base decagonal) de ordem 5, 6 e 7. Destarte, como o terno 3, 4 e 5 resolvia o problema no plano mediante o triângulo egípcio, o terno 5, 6 e 7 resolve o mesmo problema no espaço mediante os números piramidais. Desta forma, a epifania da divindade se torna completa no mundo material em virtude do número sete. Ademais, os números 175, 301 e 476 são todos múltiplos de 7.

Em síntese, os três primeiros números ímpares da década (3, 5 e 7) representam a única solução do mesmo problema respectivamente para os números lineares, superficiais e sólidos.
Em virtude do fato que, em princípio, também os números lineares podem ser considerados números poligonais de lado um, ou seja: P(1,1)=1; P(1,2)=2; … P(1,n)=n e que, por simplicidade, os números piramidais podem ser representados com o símbolo F(l,n) onde l é o n° dos lados do polígono situado na base do sólido e n é a ordem, tudo o que acabou de ser explicado em palavras, pode ser resumido com as equações seguintes:
P(1,1) + P(1,2) = P(1,3)
(solução para os números lineares – uma dimensão)

P(4,3) + P(4,3) = P(4,5)
(solução para os números poligonais – duas dimensões)

F(10,5) + F(10,6) = F(10,7)
(solução para os números sólidos – três dimensões)

Na Maçonaria, o três é o número de lados do Delta luminoso e o número do aprendiz; o cinco é o número da Estrela flamejante e do companheiro; o sete é o número da sapiência e do mestre livre pedreiro. Também para os pitagóricos o sete simbolizava a sapiência. Isso se deve ao fato dele ser o único número primo (isto é não gerado) que ao mesmo tempo não é fator (ou seja gerador) de outros números dentro da década. Essas características o assimilam a Minerva, deusa virgem da sapiência, que nunca foi parida, mas que saiu já armada de lança e escudo diretamente do cérebro de Júpiter.
Sete são as notas musicais, sete os véus que ocultavam a deusa Ísis, e na Cabala o sétimo Sefirot é Netzach, a vitória ligada à natureza e ao amor: ele simboliza o triunfo do iniciado, ao fim de sua busca.

Hoje sabemos que todas as reações entre as partículas elementares da física moderna se fundamentam sobre o princípio de conservação de sete grandezas: energia (incluída a massa), momento linear, momento angular, carga elétrica, número leptônico, número muônico, número bariônico.

O estudo dos números sólidos não piramidais, obtidos colocando pontos nos vértices dos poliedros regulares (números cúbicos, octaédricos, dodecaédricos, icosaédricos), se torna relativamente complicado do ponto de vista matemático. Contudo, é útil lembrar que qualquer um desses números pode ser expresso como soma de números tetraédricos, os tijolos do mundo material na metafísica pitagórica e platônica. Os números dodecaédricos tinham chamado particularmente a atenção dos pitagóricos devido ser o dodecaedro o símbolo do universo sólido.


De fato o dodecaédro possui 12 faces pentagonais (que representam tanto os meses do ano como os 12 signos do Zodíaco) e em cada uma dessas faces pode ser inscrito um pentáculo regular. Outras numerosas propriedades geométricas desse sólido, em boa parte ligadas à secção de ouro, refletem a ordem e a harmonia do cosmo, justificando em pleno sua escolha como símbolo do universo. Nós modernos só podemos aprovar e louvar a opção dos antigos pitagóricos pois a física das altas energias comprovou que qualquer forma de matéria (com massa > 0) é constituída por 12 diferentes tipos de partículas elementares, exatamente tantas quantas as faces do dodecaédro.
Também, o menor dos fulerenos (C20) é dodecaédrico.

TABELA
Embora na Wikipedia apareça uma tabela de números poligonais até P(30,13), na intenção de facilitar a compreensão dessa monografia segue uma tabela contendo todos os números piramidais até F(7,12), os primeiros números octogonais até Oc(11), os icosaédricos e os dodecaédricos até Ic(7) e Do(7).


APÊNDICE I – OS NÚMEROS MÁGICOS

Na Física nuclear, um “número mágico” é um número de núcleons (prótons e/ou nêutrons) em correspondência do qual os núcleos atômicos mostram uma estabilidade particular. Esses números são: 2, 8, 20, 28, 50, 82, 126 e 34. São todos números pitagóricos, ou seja:


P(1,2), F(7,2), F(3,4), P(6,4), F(6,4), F(21,3), F(5,6) e P(4,6)

O leitor repare que 126=F(5,6)=P(10,6) ou seja, o 6° piramidal com base pentagonal é idêntico ao 6° número poligonal decagonal.
Existem muitas relações entre os números triangulares e os tetraédricos. Uma que achei particularmente bonita é a seguinte: F(3,82) = 28 P(3,82).

APÊNDICE II– A CONSTANTE DE ESTRUTURA FINAa
É a constante física () que caracteriza a magnitude da força eletromagnética e é de grande importância na teoria do princípio antrópico. Realmente, este parâmetro adimensional tem uma influência fundamental sobre o universo. Se o seu valor fosse diferente, mesmo que ligeiramente (cerca de 10-20%) do valor conhecido, o universo seria diferente de como nós o vemos e nele não haveria alguma forma de vida. O valor exato de -1 é 137,035999… Do ponto de vita pitagórico pode ser arredonadado a 137 cometendo um erro de apenas 0,26%, diferença que não vai mudar as características fundamentais do Universo. O número 137 pode ser decomposto da forma seguinte:
137 = 6+20+27+84 = P(3,3) + F(3,4) + P(10,3) + Do(3)

Todos números pitagóricos que podem chegar a constituir uma nova “Tetraktys de Estrutura Fina” assim definida:
(6, 20, 27, 84)

Seis, 20, 27 e 84 são todos números Harshad, ou seja divisíveis pela soma de seus dígitos (em base 10). O 6 é número Harshad em qualquer base e, portanto, é número Harshad completo.

Prof. Dr. Alberto Malanca
Parma, Itália


BIBLIOGRAFIA:

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  • M. Du Sautoy. “L’Enigma dei Numeri Primi” RCS Libri S.p.A., Milano (2004).
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