quinta-feira, 20 de abril de 2017


A MAÇONARIA TEMPLÁRIA


A influência da Cavalaria

Do 15º ao 18º grau a Maçonaria do Rito Escocês desenvolve o que chamamos de graus cavaleirescos, já que são inspirados principalmente nas tradições da Cavalaria medieval. Os próprios títulos dos graus denunciam essa influência. No grau 15 temos o Cavaleiro do Oriente ou da Espada; no 16, o Príncipe de Jerusalém; no 17, o Cavaleiro do Oriente e do Ocidente; e no 18, o Soberano Príncipe Rosa-Cruz. Embora todos se desenvolvam com base em alegorias relativas ao Templo de Jerusalém, particularmente o Segundo Templo, o de Zorobabel, reconstruído pelos judeus que voltaram do cativeiro da Babilônia, a fonte verdadeira na qual esses graus se inspiram são claramente cavalheirescas, oriundas dos cavaleiros cruzados.[1]

E não é sem razão, já que eles encerram o chamado sistema escocês, incluídos nos rituais maçônicos por influência dos seguidores da Maçonaria escocesa. Para entender o alcance dessa influência é preciso uma incursão, ainda que rápida, pelas regras dessa instituição tão importante na cultura medieval, e que tão profundas marcas deixou na imaginação do povo, como bem nos deu mostra o genial romance de Miguel de Cervantes, o Don Quixote.[2]

Síntese histórica

Nas Constituições de Anderson não há referências á Cavalaria como legatária de alguma influência á Maçonaria. Ao contrário, Anderson parece acreditar que foram os maçons que influenciaram as Ordens de Cavalaria medieval e não o contrário. Isso se explica pelo fato de que a Maçonaria de Anderson, na verdade, ser aquela oriunda das Old Charges, praticante dos ritos herdados pelos pedreiros livres, enxertada com algumas tradições de origem gnóstica e herméticas-cabalísticas. Na época das Constituições, conforme se deduz do próprio preâmbulo escrito pelo autor, a Maçonaria praticava somente os ritos da Loja Simbólica, e apenas nos graus de aprendiz e companheiro, já que o mestre era título aplicado apenas ao presidente da Loja. Assim, mestre, nas antigas Lojas maçônicas, era apenas o Venerável. Foi somente com o desenvolvimento da chamada Maçonaria escocesa que os graus superiores foram criados, desdobrando-se a Lenda de Hiram, incluindo os motivos herméticos- cabalísticos, com o aporte das tradições cavalheirescas, inspiradas nas Ordens militares fundadas pelos cruzados na Terra Santa.[3]

As cruzadas

No ano de 1099 um exército cruzado, formado principalmente por cavaleiros franceses e alemães, a pedido do Papa e financiado pelo Vaticano, derrotou os sarracenos e conquistou Jerusalém. Seu comandante era um príncipe franco-germânico chamado Godofredo de Boillon.

Com isso um reino cristão foi fundado na Terra Santa. Essa cruzada foi realizada por motivos políticos, econômicos e religiosos. De um lado a Europa estava mergulhada na miséria e na ignorância. A invasão dos povos bárbaros havia destruído a antiga prosperidade do Estado Romano e acabado com a organização que Roma havia dado ao seu imenso império. Apenas a Igreja Católica havia conservado uma estrutura administrativa capaz de oferecer alguma ordem social e política aos combalidos e fracionados reinos europeus. 

De um lado, toda a Europa estava ameaçada pelos avanços dos exércitos muçulmanos, que já haviam ocupado o norte da África e uma grande parte da Península Ibérica. De outro lado, os lugares santos, onde Jesus havia nascido, desenvolvido seu magistério e por fim crucificado, estava nas mãos dos muçulmanos e estes não permitiam que os cristãos praticassem ali as suas crenças. 


Assim, uma expedição militar ao Oriente Médio, com o objetivo de tomar Jerusalém e combater os muçulmanos no seu próprio território foi necessária para reverter esse quadro perigoso e preocupante para toda a cristandade. 

Tomada Jerusalém, e implantado um reino cristão na Palestina, todos os cantos da cristandade passaram a ver no Oriente Médio uma oportunidade para uma vida melhor. Uma multidão de peregrinos ocidentais desembarcou na Terra Santa, provocando nos habitantes locais, muçulmanos em sua esmagadora maioria, uma onda de protesto e violência sem paralelo até então, na história. Os doentes e os feridos, resultado dessa guerra sem quartel, se amontoavam nas cidades. [4]

Para resolver a questão da proteção aos peregrinos que buscavam a Terra Santa para viver, ou mesmo somente para visitar os lugares santos, foi fundada a Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão, mais conhecida como Ordem dos Templários. E para tratar dos doentes e dos feridos, foi fundada a Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João, conhecida popularmente como Ordem dos Hospitalários. 

Enquanto os cavaleiros templários estabeleceram sua sede nas ruínas do antigo Templo de Salomão [5], os hospitalários montaram a sua num mosteiro pertencente à Ordem dos Beneditinos, uma vez que era essa Ordem que prestava, já desde o início das cruzadas, serviços médicos e de hotelaria á multidão de cristãos que se deslocaram para a Terra Santa por causa desse movimento. Esse mosteiro, conhecido como Hospital dos Cruzados, foi fundado por um monge beneditino chamado João, o Esmoleiro, filho do rei de Rodes, que havia chegado junto com os primeiros cruzados a Jerusalém. Esse hospital recebeu o nome de Hospital dos Cavaleiros de São João Batista, e pode-se dizer que foi o primeiro hospital filantrópico do mundo. 

Com a fundação da Ordem dos Hospitalários, a direção desse hospital passou para esses Irmãos. Á semelhança dos Templários, os Irmãos hospitalários também cresceram e se tornaram muito poderosos, tanto política quanto economicamente. Mas diferentemente dos seus Irmãos do Templo, que após as cruzadas se tornaram banqueiros, administradores e grandes senhores feudais, os Irmãos do Hospital de São João, embora tivessem sido aquinhoados pela Igreja e pela nobreza feudal, da mesma forma que os templários, se mantiveram fiéis aos seus propósitos e nunca se desviaram da sua missão institucional, que era a construção e a manutenção de hospitais e fornecimento de asilo e abrigo à pobreza necessitada.

Em 1307, os templários foram acusados por Filipe, O Belo, rei da França, de uma série de crimes, que incluíam heresia, idolatria e homossexualismo. Depois de um rumoroso processo, a Ordem dos Templários foi extinta pelo Papa em 1313 e seus últimos comandantes queimados vivos em uma ilha do rio Sena em 1314. Os motivos que levaram á extinção e execução dos líderes templários nunca foram devidamente esclarecidos e constitui, ainda hoje, um saboroso mistério explorado pela literatura histórica e pela imaginação dos amantes do esoterismo e das teorias conspiratórias, principalmente após os maçons terem incorporado ás suas tradições os temas templários.[6]

Muitos cavaleiros templários, para escapar da morte na fogueira, se filiaram ao Hospital de São João. O reino de Portugal foi um dos territórios onde esses proscritos cavaleiros se homiziaram para escapar da perseguição. Em terras portuguesas, o rei Don Dinis lhes deu asilo e proteção. Em troca, os Cavaleiros do Hospital de São João lhe prestaram uma preciosa ajuda na campanha de reconquista que o monarca português estava empreendendo contra os mouros, para recuperar para a cristandade esse importante território que hoje abriga a pátria portuguesa.

Com o fim das cruzadas, e após a extinção dos Templários, os Irmãos do Hospital de São João deixaram a Terra Santa e se estabeleceram em Rodes. A partir dessa ilha se espalharam por todo o mundo cristão, fundando asilos e hospitais, tornando-se a principal referência em serviços médicos e filantropia em toda a Europa Ocidental.


Em face da conquista daquela ilha pelos turcos otomanos, em 1530, ela deixou sua sede em Rodes e se estabeleceu na ilha de Malta, mudando seu nome para Ordem dos Cavaleiros de Malta, com o qual sobrevive ainda hoje. 

Em 1798 a ilha de Malta foi capturada pelos soldados de Napoleão. Quando Napoleão foi derrotado e os ingleses ocuparam a ilha, a Ordem foi dissolvida e a maioria dos seus membros encarcerados. Os que conseguiram escapar fugiram para a Itália, onde refundaram a Ordem de Malta e estabeleceram sua nova sede em Roma, em 1834, onde continua até hoje. 

Atualmente a Ordem dos Cavaleiros de Malta tem status de estado livre, semelhante ao Vaticano.
Os Irmãos Hospitalários continuam até hoje cumprindo a finalidade pela qual a Ordem foi fundada: cuidar dos doentes e oferecer asilo aos necessitados. Participam ativamente da Cruz Vermelha e diversos hospitais por todo o mundo. Sua principal atuação está centrada em Portugal, França e Itália, onde uma grande parte dos hospitais filantrópicos está sob sua direção.


Cavalaria- instituição iniciática

Desde o seu início como organismo militar e instituto cultural a Cavalaria foi impregnada de elementos místicos e iniciáticos, muito a gosto da sociedade medieval. Essa característica se deve principalmente ao espírito profundamente religioso do povo europeu e á doutrina pregada pela Igreja, que via na prática ascética o principal caminho para o Reino dos Céus.

Assim, a Cavalaria logo assumiu uma característica de organização iniciática, com seus rituais próprios e seu código de valores. Uma longa preparação tinha que ser cumprida por um jovem antes de ser armado cavaleiro. Começava como pajem, servindo o seu cavaleiro nas tarefas mais humildes, depois escudeiro, auxiliando seu suserano em tarefas militares. E depois, comprovados seu zelo e sua fé, era-lhe concedido o título de cavaleiro, depois de um ritual de iniciação que não ficava muito a dever às Ordens monásticas da época.

O ritual de armação tinha sua ritualística própria. O jovem cavaleiro passava a noite em oração, velando suas armas. Depois, acompanhado do padrinho, que geralmente era o senhor feudal a quem servira como escudeiro, ele era levado perante á um padre e na presença deles jurava fidelidade ao seu senhor, à Santa Madre Igreja, e prometia ser fiel servidor da fé cristã, e perseverar na prática da virtude, servindo aos mais fracos e protegendo os desvalidos.

Grande parte da cerimônia tinha caráter religioso e com o passar do tempo, passou a incorporar um vigoroso simbolismo. O novel cavaleiro recebia uma túnica branca de linho, simbolizando a sua pureza. Uma cruz vermelha era costurada nela como símbolo do sangue que o cavaleiro teria que derramar em defesa da fé em Cristo. Esse simbolismo passou a ser observado depois das cruzadas.
A maior parte dos ideais da Cavalaria foi inspirada nas doutrinas da Igreja medieval. Pureza, castidade, piedade, justiça para com os fracos e oprimidos, galanteria em presença de uma dama, lealdade para com o seu suserano e a Igreja de Roma, eram as virtudes exigidas dos cavaleiros medievais. A aura de heroísmo e misticismo que os envolveu foi um produto dos bardos, poetas e cantores itinerantes, que viviam de cidade em cidade, cantando e distribuindo nas feiras livres suas baladas heróicas.


O discurso de Ramsay

O principal articulador da ligação entre a Cavalaria e a Maçonaria foi o Cavaleiro André Michel de Ramsay (1686 – 1743), nobre escocês, que num célebre discurso pronunciado em 1738 em uma seção de iniciação em uma Loja (uns dizem inglesa, outros francesa) lançou a ideia de que a Maçonaria tinha sido fundada na Terra Santa, na época das cruzadas, por nobres cavaleiros que participaram daquela epopeia. Esse discurso foi depois publicado e distribuído em várias Lojas da Europa e tornou-se um dos maiores clássicos da literatura maçônica. 

Fixou, definitivamente, a ideia que a Maçonaria mantinha uma estreita relação histórica com a Cavalaria, especialmente aquela que se referia ás Ordens militares fundadas pelos Cruzados para proteger as conquistas cristãs na Terra Santa, ou seja, as Ordens do Templo (Os Templários), a Ordem do Hospital de São João (Os Hospitalários) e os Cavaleiros Teutônicos, ordem militar que congregava cavaleiros principalmente alemães, e do norte e centro da Europa (Polônia, Suécia, Dinamarca, Ucrânia etc.

“No tempo das Cruzadas na Palestina”, escreveu Ramsay, “muitos príncipes, senhores e cidadãos se associaram e prometeram restaurar o templo dos cristãos na Terra Santa e se empregar para fazer retornar sua arquitetura à primeira instituição; Eles concordaram sobre vários antigos sinais e palavras simbólicas extraídas da religião, para reconhecer uns aos outros entre os infiéis e os sarracenos. Comunicavam-se esses sinais e palavras apenas a aqueles que prometiam solenemente, e muitas vezes até mesmo diante do altar, nunca os revelar. Esta promessa sagrada não era, portanto, um juramento execrável, como tem sido chamado, mas um laço respeitável para unir os cristãos de todas as nacionalidades em uma mesma Fraternidade.”[7]

Evidentemente, não há nenhuma base histórica para confirmar essa informação de Ramsay. Essa pressuposição foi colocada a partir de algumas relações ─ essas, sim comprovadamente verdadeiras ─ de que as Ordens de Cavalaria fundadas pelos cruzados, especialmente os Templários e os Hospitalários, mantinham em seus quadros muitos pedreiros profissionais para construírem seus edifícios, de acordo com os propósitos de cada uma delas. É verdade, também, que a arquitetura templária, principalmente, desenvolveu um estilo próprio e se tornou um importante ramo da tradição arquitetônica medieval e nela, a mística que se chumbou á essa Irmandade em particular, acabou servindo ao propósito de maçons como Ramsay, que procuravam criar para sua Irmandade uma aura de nobreza. O elo entre a arquitetura templária e hospitalária e a tradição maçônica herdada da arquitetura medieval, foi assim estabelecido, muito mais como um recurso de imaginação do que propriamente uma verdade histórica. 

“Algum tempo depois,” prossegue Ramsay “nossa Ordem formou uma união íntima com os Cavaleiros de São João de Jerusalém. A partir daquele momento, nossas Lojas assumiram o nome de Lojas de São João. Esta união se fez de acordo com o exemplo dos israelitas quando eles ergueram o segundo templo. Enquanto lidavam com a trolha e a argamassa com uma mão, na outra eles tinham prontos, a espada e o escudo. Nossa Ordem, portanto, não deve ser considerada uma renovação das Bacanais, mas uma ordem moral, fundada em tempos imemoriais, e renovada na Terra Santa por nossos antepassados, para lembrar a memória das mais sublimes verdades em meio aos prazeres da Sociedade.”

Nessa parte do discurso Ramsay procurou, ao mesmo tempo, construir o elo entre a Maçonaria e as Ordens de Cavalaria cruzadas, ao mesmo tempo que procurava desconstruir um mito que começava a ser divulgado na época, principalmente pela Igreja. Esse mito era o de que a Maçonaria agasalhava ideias e costumes pagãos, especialmente inspirados nos antigos festivais romanos dedicados ao deus Baco, as famosas Bacanais. Tais eram, segundo os detratores da Maçonaria, os banquetes realizados pelas Lojas maçônicas, nos quais se praticavam as mais infames orgias e ritos. Para combater essa campanha de difamação feita pelos inimigos da Maçonaria, Ramsay criou outro mito: o de que a Maçonaria era, nada mais nada menos, uma continuação das Ordens de cavalaria fundadas pela própria Igreja no tempo das cruzadas. 

Dava, com isso, não só uma origem nobre para a Maçonaria, mas também criava uma tradição fundada sobre o nobre propósito dos Hospitalários (cavaleiros que se dedicavam ao bem estar dos cristãos na Terra Santa). Também estabelecia uma ligação desta com a própria antiguidade, evocando o episódio da reconstrução de Jerusalém por Zorobabel e os israelitas repatriados da Babilônia. Nascia, dessa forma, a Maçonaria dos graus superiores, tal como hoje a conhecemos, pois a partir da idéia da reconstrução do Templo de Jerusalém, levado a cabo pelo Aterzata Zorobabel, os cavaleiros cruzados, os pedreiros medievais e os novos cavaleiros formados pelo ideal do Iluminismo e na virtude que esse sistema de pensamento pregava, encontravam um ponto de contato. E a partir daí, criava-se esse organismo híbrido, misto de religião e escola de pensamento, que se tornou a Maçonaria moderna.

“Os Reis, príncipes e senhores, voltando da Palestina, fundaram várias lojas em seus Estados. Desde o tempo das últimas Cruzadas, já vimos várias Lojas erguidas na Alemanha, na Itália, na Espanha e na França, e daí para a Escócia, devido à estreita aliança entre escoceses e franceses. James, Lord Steward da Escócia foi Grão-Mestre de uma Loja estabelecida em Killinwing, no oeste da Escócia, no ano 1274, pouco depois da morte de Alexandre III, rei da Escócia, e um ano antes de John Baliol ter subido ao trono. Este senhor recebeu os maçons em sua Loja, os condes de Gloucester e Ulster, um Inglês e o outro irlandês.”[8]

Assim Ramsay criou também uma História para a Maçonaria do Rito Escocês. É visível a sua intenção de ligar a Maçonaria á Guarda Escocesa, organização militar criada pelos reis escoceses da dinastia Stuart, que no começo da Idade Moderna assumiu também o trono inglês. Esses reis, cuja origem se situa em Robert Bruce, o rei que no início do século XIV libertou a Escócia do domínio inglês, mantivera uma estreita relação com os Templários, tendo mesmo dado asilo e proteção a vários cavaleiros por ocasião da dissolução da Ordem e do processo que a Inquisição moveu contra eles. A essa dinastia pertencia o Príncipe Carlos, jovem pretendente do trono inglês, que estava, nessa época, exilado na França em consequência da revolução que apeou sua família do trono. 

Ramsay era partidário dos Stuarts, tendo mesmo lutado pela reintegração desse príncipe no trono inglês. A Guarda Escocesa era uma instituição muito conhecida e respeitada na Europa desde o fim da Idade Média e servira a muitos reis, prestando-lhes serviços de segurança, assessoria militar e outros trabalhos do gênero. Sua tradição militar e a aura de cavaleiros que mantinham, semelhante a outras organizações do gênero existentes nos reinos europeus, como a Guarda Suíça, que servia ao Papa e os famosos Mosqueteiros do rei da França, eram famosas. Assim, nada mais apropriado do que ligar a nascente Maçonaria, como instituição, á famosa Guarda Escocesa, fazendo desta uma de suas fontes de tradição. 

Assim é que Ramsay diz em seu discurso: “Pouco a pouco, nossas lojas e nossas solenidades foram negligenciadas na maioria dos lugares. Por isso é que poucos historiadores, os da Grã-Bretanha, principalmente, são os únicos que falam de nossa ordem. No entanto, ela se manteve em seu esplendor entre os escoceses, a quem os reis (da França) confiaram durante muitos séculos, a guarda de suas pessoas sagradas.”[9]

Isso justificava o conjunto de ritos que ele, a partir de então, iria estabelecer para o conjunto da Maçonaria, conjunto esse que veio a ser conhecido como REAA – Rito Escocês Antigo e Aceito. Ou seja, uma espécie de ritualística militar, combinada com tradições cavaleirescas e motivos religiosos extraídos do Antigo Testamento, tudo entremeado com lendas e símbolos pinçados da tradição arquitetônica dos pedreiros medievais. 

E para dar a essa mixórdia toda um contexto de doutrina, enxertou-se nos rituais os ideais pregados pela religião do momento entre os intelectuais: O Iluminismo.


“Após os deploráveis acontecimentos das Cruzadas,”prossegue o inefável Cavaleiro Ramsay, “o perecimento dos exércitos cristãos e o triunfo do Bendocdar, sultão do Egito, durante a oitava e última Cruzada, o Grande Príncipe Edward, filho de Henrique III, rei da Inglaterra, vendo que não havia mais segurança para os seus irmãos na Terra Santa, de onde as tropas cristãs estavam se retirando, os trouxe de volta, todos, e essa colônia de irmãos foi estabelecida na Inglaterra. Como este príncipe tinha todas as qualidade heroicas, ele amava as belas artes, declarou-se protetor da nossa Ordem, concedendo-lhe novos privilégios e, em seguida, os membros desta fraternidade assumiram o nome de maçons-livres, a exemplo de seus antepassados. Desde aquela época, a Grã-Bretanha foi a sede da nossa Ordem, a conservadora das nossas leis e depositária de nossos Segredos. As fatais discórdias de Religião que envergonharam e rasgaram a Europa no século XVI, fizeram degenerar a Ordem da Nobreza de sua origem. Mudaram-se, disfarçaram-se, suprimiram-se muitos dos nossos ritos e costumes que eram contrárias aos preconceitos da época.”[10]

Isso aconteceu, segundo a ótica de Ramsay, pela entrada na Ordem maçônica de pessoas indignas e sem o adequado perfil para fazer parte da Irmandade.


Os “maçons aceitos”

Essa história, ele provavelmente a inventou para justificar o nascimento da Maçonaria escocesa. Evidentemente, tudo isso saiu da sua imaginação, pois não existe qualquer prova de que semelhante Irmandade tenha sequer existido, seja na Inglaterra ou em qualquer outro país. O que o imaginoso cavalheiro fez, no caso, foi evocar o costume das Lojas de pedreiros operativos, praticado desde os tempos medievais, de colocar-se sobre a proteção de um potentado qualquer, fosse ele um príncipe, um bispo, um barão, para que estes os mantivessem livres de impostos e das restrições que o sistema feudal impunha a todos os prestadores de serviços da época. Essa sim, era uma prática muito em voga na época, sendo os Templários e os Hospitalários, eles mesmos, mantenedores de grupos desses profissionais, que estavam a serviço das respectivas Ordens. Essa prática acentuou-se depois da extinção dos Templários, sendo a Inquisição um dos principais motivos que a alavancaram, já que o costume de perseguir qualquer corporação que criasse institutos e ritos próprios despertava a desconfiança da Igreja. Essa perseguição chegou ao auge na época da Reforma Protestante, razão pela qual eram muitas as corporações que procuravam a proteção de autoridades, fazendo inclusive com que muitos deles se tornassem seus patronos, e muitas vezes, até membros da própria corporação. Essa é a origem histórica dos chamados “maçons aceitos”.


“Brincando de cavaleiros”

A grande verdade de tudo isso é que, na época de Ramsay, a Cavalaria, como instituição, era coisa morta. Já há muito que havia desaparecido. O próprio instituto da nobreza, como classe, era um fator que começava a ser apontado como responsável pela manutenção de um estado de coisas que fazia da Europa o palco de sangrentas guerras. Estas tinham na religião a sua desculpa, mas no fundo, eram o resultado de um sistema social injusto e degradante, que mantinha a grande maioria dos indivíduos na miséria e na ignorância extrema, para que uma pequena minoria usufruísse de uma vida ociosa e promiscua. Contra esse estado de coisas se insurgiu a moral dos Iluministas. E a eles se atrelaram os intelectuais londrinos da recém fundada Real Sociedade da Inglaterra, destacado clube de cavalheiros ingleses e escoceses, oriundos, muitos deles, da velha nobreza, agora sem títulos, mas ainda conservando, no sangue, nos costumes e principalmente, no ego, os ideais, as tradições e o romantismo da velha Cavalaria. E assim nasceu a Maçonaria moderna, essa Fraternidade que, segundo dela disse Napoleão Bonaparte (que foi iniciado maçom), era constituída por um “grupo de distintos senhores que gostam de brincar de cavaleiros.”

[1] As lendas dos graus 15 a 17 se referem á organização que Zorobabel, por permissão de Ciro, rei da Pérsia, elaborou para reconstruir o Templo de Jerusalém, destruído pelas tropas de Nabucodonosor, rei da Caldéia. Essas referências á tradição hebraica não devem confundir os leitores, já que esses graus buscam, principalmente ligar as virtudes da Maçonaria ás tradições cavalheirescas.
[2] O Don Quixote, obra clássica da literatura mundial, embora de forma satírica, traça um retrato bem fiel das tradições cavalheirescas, na sua mística, seu romantismo, sua religiosidade e a importância que teve na cultura medieval.
[3] A Maçonaria Simbólica e Iniciática, citado.
[4] Na imagem, o selo dos Cavaleiros Templários. Dois monges montados no mesmo cavalo. Simbolo da pobreza e da humildade.Fonte: Enciclopédia Barsa.
[5] Na época das cruzadas já não era o Templo de Salomão, mas ruínas do Templo construído por Herodes, o Grande, sobre restos do Templo que havia sido construído por Zorobabel no século V a. C.
[6] Sobre os Templários e sua relação com a Maçonaria escocêsa, ver Baigent, Leigh, e Lincoln, The Holly Blood and The Holly Grail, Ed. Harrow, Londres, 1966 e O Templo e a Loja, Ed. Madras, São Paulo, 2006. Na imagem, gravura de Jacques de Molay e sua morte na fogueira Fonte: Blogspot.
[7] A Maçonaria Simbólica e Iniciática, citado, pg. 72.
[8] Idem., pag. 72.
[9]Ibidem, pg 73.
[10] Maçonaria Simbólica e Iniciática, pg 74. Na imagem o Cavaleiro André Michel de Ramsay. Fonte. Enciclopédia Maçônica.
João Anatalino


A INCONFIDÊNCIA MINEIRA E TIRADENTES



Geraldo José Chaves
M.: I.: Cad. 3373 - Aug.: Resp.: e Ben.: Loja Simbólica Tiradentes nº 2 - GLMDF

Sobre Tiradentes e a inconfidência Mineira, considero enfadonho falar de uma história que todos já conhecem.

Neste breve trabalho, não trago fatos novos. Trago detalhes pouco conhecidos, que alguns historiadores, talvez por não os considerar importantes, preferem deixá-los de lado. Mas eles existem e chegaram até nós através de uns poucos estudiosos. 

O movimento separatista de Minas Gerais foi um movimento elitista, idealizado por pessoas ricas, insatisfeitas com os impostos que Portugal impunha ao Brasil.

Além da “derrama”, havia ainda a cobrança do “quinto do ouro”, que correspondia a 20% de toda a produção aurífera. Era um verdadeiro confisco. Esta situação foi a semente da Inconfidência mineira. 

Em 1788, Tiradentes ganhara um exemplar do Recueil, que era uma Coletânea de Documentos e Leis Constitutivas das Colônias Inglesas Confederadas, sob a Denominação de Estados Unidos da América Setentrional, a ele oferecido por José Álvares Maciel. Este livro, com 370 páginas, viria a se tornar na mais importante fonte de inspiração dos inconfidentes de Minas Gerais. Além do exemplar de Tiradentes, havia somente um outro na Capitania e pertencia ao Advogado residente em Mariana, Dr. José Pereira Ribeiro. 

Mas o Recueil não era perfeito. Não previa, por exemplo, a abolição da escravatura e nem permitia às mulheres votar ou serem votadas. 

Como o exemplar do Dr. Pereira Ribeiro foi destruído durante a Devassa, o único que restou foi o de Tiradentes, contendo anotações por ele feitas de próprio punho, e hoje faz parte do acervo do Arquivo da Casa do Pilar de Ouro Preto

O movimento republicano de Vila Rica dividiu-se em três grupos: o dos ideólogos, composto por Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa; o dos ativistas, liderado por Tiradentes; e, finalmente, o grupo dos discretos, que apoiavam o movimento, mas preferiam permanecer anônimos.

No dia 15.03.1789, o Cel. Joaquim Silvério dos Reis, que também era um inconfidente, denunciou, pessoalmente, o movimento ao Visconde de Barbacena, que lhe ordenou colocar no papel tudo que lhe havia contado. Assim, em 11.04.1789, de uma localidade chamada Borda do Campo-MG, o Cel. Silvério dos Reis escreveu uma carta ao Visconde, detalhando os pormenores da denúncia.


Há, na carta, trechos interessantes, alguns dos quais transcrevo:


“...que o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga...procurou o partido e união do Coronel Inácio José de Alvarenga e do padre José da Silva de Oliveira, e outros mais...valendo-se para seduzir a outros do alferes (pago) Joaquim José da Silva Xavier”.

E mais adiante: 

“...que a senha para o assalto havia de ser cartas dizendo tal dia é o batizado...” 

Finalmente, a revelação de Silvério dos Reis, que logo depois viria explicar por que a revolta não acontecera antes:

“...a demora desta conjuração era enquanto não se publicava a derrama”.

Em 14.03.1789, um dia antes da denúncia, o Visconde de Barbacena envia carta à Câmara Municipal de Vila Rica, suspendendo “derrama”.

Ora, se os inconfidentes apenas aguardavam a instalação da “derrama” para o início do movimento, este havia perdido inteiramente o sentido, diante da suspensão da cobrança. Deixaram de existir, portanto, as razões pelas quais Silvério dos Reis fez a denúncia. 

A partir daí, foi instalada a Devassa. Aos envolvidos foram aplicadas as severas penas previstas nas Ordenações Filipinas pelo crime de Lesa Majestade, extremamente cruéis, pois iam muito além da pessoa do acusado, atingindo a sua ascendência e a sua descendência.

As primeiras prisões e os primeiros sequestros de bens alcançaram vários inconfidentes.

De Tiradentes, por exemplo, foram confiscados 04 escravos, 08 sesmarias e títulos creditícios no valor de $ 420.000 réis. 

Os bens sequestrados aos inconfidentes presos compunham uma vasta fortuna, pois compreendiam fazendas, lavras minerais, escravos, 1.384 livros publicados em diversas línguas, 240 gramas de pedras preciosas, 1 quilo e 240 gramas de ouro em pó, e uma considerável fortuna em dinheiro, que somava 94 contos, 301.922 réis.


Tiradentes foi preso no dia 10.05.1789 por um homem chamado Antônio Diogo da Silva Parreiras. Permaneceu encarcerado por dois anos até ser enforcado.


Preso, sofreu onze interrogatórios e duas acareações. Os interrogatórios eram longos, cansativos e os interrogadores só registravam as respostas que lhes interessavam.

Talvez o mais importante interrogatório tenha sido o 4º, do qual destaco a resposta dada por Tiradentes ao seu inquisidor, o Desembargador José Pedro Machado Torres, Juiz da Devassa, que lhe perguntou se ele era o cabeça do motim, tendo Tiradentes lhe respondido o seguinte: “...que é verdade que se premeditava o levante, que ele responde confessa ter sido quem ideou tudo, sem que nenhuma outra pessoa o movesse, nem lhe inspirasse coisa alguma...”

Este trecho mostra a coragem e a firmeza com que Tiradentes enfrentou o mais cruel e o mais parcial dos julgamentos de nossa história sem denunciar qualquer de seus amigos.

Em 31.10.1791, foi nomeado como defensor dos 29 réus o Advogado José de Oliveira Fagundes, que, ao se referir ao réu Joaquim José da Silva Xavier, assim se expressou em sua defesa:

“...acha-se sem a menor dúvida provado ser ele conhecido por loquaz, sem bens, sem reputação, sem crédito para poder sublevar tão grande número quantos lhe seriam indispensáveis para o imaginário levante contra o Estado e alto poder de sua Majestade em uma Capitania como a de Minas Gerais...”.

Tiradentes foi enforcado no dia 21.04.1792, na Praça de Lampadosa, no Rio de Janeiro. Posteriormente, essa Praça passou a chamar-se PRAÇA TIRADENTES.

Um dia antes de ser enforcado, ao saber que a rainha D. Maria I concedera clemência aos seus companheiros condenados à morte, ao seu confessor, Frei Raimundo Penaforte, ele declarou: “Dez vidas eu daria se as tivesse para salvar as deles”.

Do Acórdão que condenou Tiradentes, extraí importante trecho: 

“Portanto, condenam ao réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha Tiradentes, ... a que, com baraço e pregão, seja levado pelas ruas públicas desta cidade ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios de maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e a Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais do chão se edifique...” 

Essa casa pertencia ao padre Joaquim Pereira de Magalhães.

É interessante recordar a cronologia dos acontecimentos que ocorreram antes e depois do movimento dos inconfidentes (listei, apenas os mais importantes):

- Em 24.02.1777, D. Maria I assume o trono português e governa durante 39 anos.

- Em 12.12.1782, Tomás Antônio Gonzaga se torna Ouvidor Geral e, em 1787, foi nomeado Desembargador da relação da Bahia, mas não assumiu o novo cargo, pois começava, em Vila Rica, a trabalhar as primeiras ideias da conspiração.

- Em 10.07.1788, o Visconde de Barbacena torna-se Governador de Minas, e inicia a cobrança dos impostos atrasados. Daí surgiu a “derrama”.

- Em 26.12.1788, os inconfidentes de Vila Rica realizam, na residência do Ten. Cel. Francisco de Paula Freire de Andrade, a mais importante reunião entre eles. Nesta reunião, que tudo indica ter sido uma sessão maçônica, Tiradentes teria sido exaltado e, na mesma oportunidade, propôs o modelo da nova bandeira do Brasil.

- No Ano de 1789, vários acontecimentos importantes tiveram lugar:

a) em carta datada de 14.03, o Visconde de Barbacena suspende a “derrama”;

b) no dia seguinte (15.03), Silvério dos Reis denuncia o movimento;

c) em 07.05, o Vice-Rei Luiz de Vasconcelos instaura uma devassa no Rio de Janeiro. Três dias depois, Tiradentes foi preso e conduzido ao Forte da Ilha das Cobras;

d) em 22.05, Tiradentes foi interrogado pela primeira vez. Mais dez interrogatórios e duas acareações se seguiriam;

e) em 23.05, Tomás Gonzaga e o Ten. Cel. Domingos de Abreu Vieira são presos em Vila Rica; 

f) no dia seguinte, foram presos Alvarenga Peixoto e o padre Carlos Correa e enviados para o Rio de Janeiro escoltados por contingente fortemente armado;

g) nos dias 22 e 25.05, são presos, respectivamente, o cônego Luiz Vieira, na Cidade de Mariana, e Claudio Manuel da Costa, em Vila Rica; 

h) em 12.06, o Visconde de Barbacena instaura a Devassa em Minas;

i) em 03.07, por ordem do governador, Vila Rica é ocupada por 200 soldados, para evitar qualquer tentativa de levante;

j) no dia 04.07, Claudio Manuel da Costa foi encontrado morto em sua cela. Uns diziam que foi suicídio. Outros, que ele fora assassinado. Os adeptos da tese de suicídio sustentam que Claudio estava deprimido e doente e, não suportando o sofrimento, tirou a própria vida. Os que defendem a hipótese de assassinato se baseiam em laudo pericial que afirma ter sido ele enforcado com os cadarços de seu calção;

k) em 06.07, teve início o processo da Devassa. 

- Em 1791, a Devassa foi reconvocada sob a presidência do juiz Vasconcelos Coutinho, que reinicia as prisões e os interrogatórios. 

- No dia 18.04.1792, Dona Maria perdoa os sentenciados à morte, cuja pena foi transformada em degredo perpétuo, exceto quanto a Tiradentes, que seria enforcado três dias depois;

- Em 1798, eclode na Bahia a Conjuração Baiana, conhecida como a Revolta dos Alfaiates; O principal líder desse movimento foi o político, médico, filósofo, jornalista, Deputado e Senador, Dr. Cipriano José Barata de Almeida. A exemplo da Inconfidência Mineira, também a Conjuração Baiana teve o seu traidor, o ferreiro José da Veiga, que era um dos conjurados; 


- Em 28.01.1808, D. João VI, fugindo das tropas de Napoleão, desembarca no Rio de Janeiro com uma comitiva de quinze mil pessoas e, em 1818, é aclamado rei de Portugal, Brasil e Algarves.


- Em 07.09.1822, dom Pedro I, que também era maçom, proclama a emancipação do país, rompendo definitivamente os laços com Portugal. 

TIRADENTES ERA OU NÃO MAÇOM? 

Segundo Honoré de Balzac, há duas espécies de história: a oficial, que é mentirosa, e a verdadeira, que é honesta. 

Empenhei-me na pesquisa e na busca de dados que pudessem auxiliar nas conclusões que podem ser tiradas sobre a discussão se Tiradentes era ou não maçom.

Em tese brilhantemente defendida, editada em julho de 2001, o Eminente Ir. Marco Antônio de Morais, diante das dificuldades de se encontrar comprovação histórica que pudesse indicar ter sido Tiradentes um maçom iniciado, optou, inteligentemente, por estudar o perfil sociológico do maçom no século XVIII, com o objetivo de ali encontrar traços psicológicos que pudessem identificar o perfil de Tiradentes, tendo assim se expressado:

“Será que, no plano moral, Tiradentes preenchia os requisitos mínimos para ingressar na Maçonaria? No tocante ao seu “status”, como homem culto, educado, de posses, é sabido que passava longe. E mais, não sabia guardar segredos, tinha a língua solta, haja vista que criticava o governo dentro do quartel e pregava abertamente a inconfidência”.

Conclui o Ir.: Marco Antônio, afirmando:

“Esta indagação permanecerá “ad eternum”, enquanto a própria Maçonaria, como instituição, não tomar a iniciativa de buscar a resposta...”

Não devemos esquecer que a Devassa destruiu muitos documentos sobre os inconfidentes e a Inconfidência mineira. É bem possível que, dado o ódio que a Coroa portuguesa tinha contra Tiradentes, tudo ou quase tudo que lhe dizia respeito, profissional, social ou pessoalmente, tenha sido destruído, inclusive a própria casa onde residiu, como vimos neste trabalho, quando nos referimos ao acórdão que condenou Tiradentes. Naquela época, a Maçonaria funcionava clandestinamente, pois era vítima de grande perseguição que movia o Vice-Rei e nome da Coroa Portuguesa.

Revisitando a história podemos verificar que a Maçonaria Azul, que era inglesa e monarquista, foi introduzida em nosso país entre os anos de 1760 e 1770, enquanto que a Maçonaria Vermelha (francesa e republicana) chegou até nós trazida por Manuel Inácio da Silva Alvarenga e Basílio da Gama que, juntos, fundaram, em 1780, no Rio de Janeiro, uma Loja Maçônica que, para fugir da perseguição, funcionava de forma disfarçada, sob o nome de “Sociedade Literária”.

Existem evidências históricas que ligam Tiradentes à Maçonaria, contidas em depoimentos de renomados historiadores, que podem auxiliar-nos em nossas conclusões. 

Vejamos algumas:

AUGUSTO DE LIMA JÚNIOR, nascido em Leopoldina em 1889, ao se referir a Tiradentes, em sua obra “História da Inconfidência Mineira”, assim se expressou: “Iniciado na Maçonaria, tomava parte nas reuniões desta, no Rio de Janeiro e pregava as suas doutrinas onde quer que se encontrasse”.

GUSTAVO BARROSO, que foi contemporâneo de Augusto de Lima Júnior, sustenta que a Maçonaria participou ativamente da Inconfidência Mineira, ao declarar em seu livro, “A História Secreta do Brasil”, que: “A Maçonaria entrou em cena na Inconfidência Mineira”.

VIRIATO CORRÊA, nascido em 1884, em seu livro “Terra de Santa Cruz”, escreveu: “Quando mercador ambulante, Tiradentes foi muitas vezes à Bahia para refazer o sortimento de mercadorias para seu negócio. A capital baiana era o centro de efervescência maçônica, foi mesmo o primeiro ponto de entrada da Maçonaria. E naquela época as lojas da Maçonaria eram verdadeiras oficinas revolucionárias... Numa dessas viagens, Tiradentes se fez maçom e, na atmosfera crepitante das lojas, formou o seu espírito de revolucionário”.

MÁRIO DA VEIGA CABRAL, que veio ao mundo em 1894, em sua obra, “História do Brasil”, ao descrever o encontro de Tiradentes com o Ten. Cel. Francisco de Paula Freire de Andrade, seu Comandante, ocorrido no dia 28.08.1788, fê-lo com as seguintes palavras: “Retirou-se Tiradentes satisfeitíssimo, não por saber que o Comandante tomava parte no movimento, mas por lhe ter ele dado a conhecer que também estava iniciado no misterioso trama”.

JOAQUIM NORBERTO DE SOUZA E SILVA, que nasceu em 1820 e começou a escrever sobre a Inconfidência antes de 1859 (cerca de apenas sessenta anos após a morte de Tiradentes), em seu livro, “A História da Conjuração Mineira”, leciona: “Possivelmente, Tiradentes foi iniciado na Maçonaria pelo Dr. José Alvares Maciel que, de acordo com o ritual, lhe transmitiu os sinais. Ao apresentar-se ao Comandante, Tiradentes demonstrou, provou ser maçom (renovando a prática, que tivera com Alvares Maciel) ...”

Às fls. 165 do mesmo livro, JOAQUIM NORBERTO faz outra afirmação importante: “...Tiradentes, Alvarenga e Francisco de Paula libertariam a pátria por isso que eram mazombos”. E ele próprio explica que “mazombo” significava “maçom”.

O historiador LAURO SODRÉ, que foi o 16º Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil (de 1904 a 1906), diz que Tiradentes teria sido iniciado por comunicação pelo Ir.: José Alvares Maciel. Vimos que, em 26.12.1788, em uma possível sessão maçônica na residência do Ten. Cel. Francisco de Paula, Tiradentes teria sido exaltado. 

Porém, as mais importantes informações sobre a questão nos são trazidas pelo Dr. JOAQUIM FELÍCIO DOS SANTOS, advogado e historiador, que nasceu no Serro Frio, antiga Vila do Príncipe, no dia 11.05.1822 e faleceu aos setenta e três anos de idade em uma localidade chamada Biribi, na Comarca do Tijuco, hoje Diamantina, no dia 21.10.1895. 

Vejamos o que diz o Dr. FELÍCIO:

“A Inconfidência de Minas tinha sido dirigida pela Maçonaria. Tiradentes e quase todos os conjurados eram pedreiros-livres” (Memórias do Distrito Diamantino da Comarca do Serro Frio, pág. 253). E mais adiante: “Quando Tiradentes foi removido da Bahia, trazia instruções secretas da Maçonaria para os patriotas de Minas. Em Tijuco o primeiro que se iniciou foi o padre Rolim, depois o cadete Joaquim José Vieira Couto e seus irmãos”.

Indago: como poderia Tiradentes ser portador de “instruções secretas da Maçonaria “ se não fosse ele próprio um maçom? 

Esses “patriotas de Minas” – afirma o Dr. JOAQUIM FELÍCIO – “eram todos maçons, alguns deles possivelmente iniciados por Tiradentes”.

E continua o Dr. FELÍCIO DOS SANTOS: 

“A conspiração malogrou-se. Da família Couto, o cadete Joaquim José Vieira Couto foi o único perseguido; faleceu em Tijuco em consequência de uma enfermidade adquirida na Cadeia de Vila Rica. Ainda existem pessoas que assistiram ao seu funeral: Seu cadáver ia fardado, com um ramalhete de rosas brancas na mão e REVESTIDO DAS INSÍGNIAS MAÇÔNICAS DO GRAU DE MESTRE” (grifei).

Em artigo publicado na “Revista do Arquivo Público”, o Dr. JOAQUIM FELÍCIO nos informa o seguinte: “A Maçonaria começou a introduzir-se no Brasil, pela Bahia. Sabemo-lo pelas atas publicadas pelo doutor Melo Morais (Alexandre José de Melo Morais) que a época de fundação das primeiras lojas não tem sido possível determinar. O que podemos crer é que as ideias políticas de Tiradentes nasceram do seu espírito depois que ele iniciou na Maçonaria” (grifei).

Em “Memorias do Distrito Diamantino da Comarca do Serro Frio”, publicado em 1868, o Dr. FELÍCIO, ao se referir à prisão do padre José da Silva e Oliveira Rolim e das reuniões secretas dos inconfidentes realizadas no Tijuco, escreveu: “Os conciliábulos faziam-se alta noite em casa de José da Silva e Oliveira, pai do padre Rolim; a eles concorriam as principais pessoas do Tijuco e diz-se que até o intendente Beltrão se envolvera na conjuração; mas guardava-se o maior segredo sobre as deliberações e nomes dos comprometidos. Os conjurados eram todos iniciados na Maçonaria, introduzida por Tiradentes quando por aqui passou vindo da Bahia para Vila Rica”. 

A conclusão imediata que se pode extrair deste texto do Dr. FELÍCIO DOS SANTOS é que efetivamente Tiradentes levou a Maçonaria para o Tijuco e ali fundou a primeira loja maçônica, que funcionava na casa do Senhor José da Silva e Oliveira, que era pai do padre Rolim, um dos mais atuantes inconfidentes. 

Dou importância aos depoimentos do Dr. FELÍCIO DOS SANTOS, por seis razões fundamentais:

1ª) ele nasceu apenas trinta anos após a morte de Tiradentes e começou a escrever aos trinta e nove anos de idade, sendo, portanto, seu quase contemporâneo. É importante destacar que o Dr. FELÍCIO viveu numa época em que alguns contemporâneos de Tiradentes ainda estavam vivos. Esta circunstância lhe deu a vantagem de ter tido conhecimento de muitas informações que, provavelmente, outros historiadores não tiveram, e que se perderam na Devassa;

2ª) ele nasceu, viveu, trabalhou e morreu em uma região de grande influência dos inconfidentes; 

3ª) pertenceu às primeiras gerações após a de Tiradentes;

4ª) era um renomado advogado e historiador, formado na Faculdade de Direito do Estado de São Paulo, e, por ser uma pessoa estudiosa, conhecia muito bem a história de sua Terra. Era, portanto, homem de grande ciência e respeitabilidade;

5ª) se o Dr. FELÍCIO nos dá notícia de que na sua época ainda existiam pessoas que estiveram presentes no funeral do cadete, significa que essas pessoas estavam no Tijuco quando Tiradentes fundou a Loja Maçônica e iniciou o padre Rolin e o cadete Joaquim José Vieira Couto. É óbvio que o Dr. FELÍCIO, que era um hábil causídico e renomado historiador, conheceu essas pessoas, com elas falou e com elas buscou informações. Caso contrário, ele não teria afirmado que “AINDA EXISTEM PESSOAS QUE ASSISTIRAM AO SEU FUNERAL”. Ele teria dito simplesmente o seguinte: “HÁ NOTÍCIAS DE QUE AINDA EXISTEM PESSOAS QUE ASSISTIRAM AO SEU FUNERAL”. São afirmações diferentes: a primeira traz a certeza de quem afirma; a segunda, não. 

6ª) não tenho nenhum receio em afirmar que o Dr. FELÍCIO teve contatos com pessoas que viveram no Tijuco na mesma época em que Tiradentes por lá passou e fundou uma Loja Maçônica. Aliás, em seu livro “Memórias do Distrito Diamantino”, o Dr. Joaquim Felício nos dá conta de que identificou e entrevistou duas testemunhas dos acontecimentos que desaguaram na Inconfidência Mineira, sendo elas o Tenente Joaquim de Souza Matos – oficial das antigas milícias – e Aninha Bugre, frequentadora da residência do Intendente Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá, no município de Ipatinga-MG.

O eminente Ir.: ACIR TENÓRIO D’ALBUQUERQUE, um dos principais estudiosos da história da Maçonaria no Brasil, a quem tive a honra de conhecer pessoalmente pelos idos da década de 50, em sua obra “A Maçonaria e a Grandeza do Brasil” – Gráfica Editora Aurora Ltda, 3ª Edição, pág. 90, afirma o seguinte: “Informa-nos o Dr. Felício dos Santos que o Dr. Plácido, o Pe. Rolim e outras muitas pessoas distintas faziam parte de uma associação existente em Tijuco. E que associação era essa, cujo objetivo era promover a independência do Brasil? Era a Loja Maçônica fundada por Tiradentes” (grifei). 

Em minhas pesquisas, deparei-me com um estudo bastante interessante e valioso do Ir.: José Wilson Vilar Sampaio, membro da Academia Maçônica de Letras de Olinda-PE, do qual destaquei alguns trechos.

Diz o Ir.: José Wilson: 


“Em algumas ocasiões tivemos a oportunidade de conversar com irmãos e profanos que não acreditam na inspiração maçônica da Inconfidência Mineira e sequer que o próprio Tiradentes seria maçom. E não acreditam por conta de historiadores que à falta de documentos comprobatórios do “dedo da maçonaria” nessa rebelião, tramada contra a exploração desmedida e injusta da Metrópole que sugava sob a forma de impostos e taxas, as riquezas do Brasil colônia, insistem em negar o fato histórico.


Nós, que acreditamos no envolvimento de maçons e por extensão, da maçonaria, não só nesse como também em outros movimentos libertários acontecidos no Brasil nos séculos XVIII e XIX, respeitamos – é claro - a opinião dessas pessoas, todavia, mantemo-nos na crença de que os maçons realmente estiveram ativos na Inconfidência Mineira”.

E continua José Wilson:

“A ausência de documentação especifica nos faz evocar outros meios probantes, ou seja, uma outra maneira de confirmar um fato histórico. Para tanto nos valemos de testemunhas coevas, do conhecimento e da tradição popular acerca dos acontecimentos públicos e notórios e finalmente, do próprio desenrolar lógico de uma série de fatores que levam à certeza da existência de um determinado episódio ou ação concreta; como por exemplo: o povo fala que muitos maçons estavam envolvidos em uma conspiração; ora, diante de uma afirmação dessa natureza podemos concluir que tal conspiração teve influência maçônica, mormente se existe correlação entre o compromisso declarado dos conspiradores ou insurretos, com os objetivos defendidos pela maçonaria”

E aqui eu faço uma observação que julgo importante sobre este texto: as “testemunhas coevas” a que se refere o Ir.: José Wilson foram encontradas e entrevistadas pelo Dr. Joaquim Felício dos Santos, conforme já vimos antes.

E continua José Wilson em sua brilhante exposição, evidentemente sem querer ironizar quem quer que seja:

“Seria muito bom para a História Pátria se Tiradentes tivesse deixado sobre a revolta que iria ocorrer, várias atas das sessões maçônicas na Loja do Tijuco, ordenando ao Secretário: Meu irmão, consigne na ata o nosso plano de iniciar o movimento republicano no dia em que o Visconde de Barbacena iniciar a Derrama... todos os irmãos assinariam a ata, deixando seus nomes para facilitar o trabalho dos historiadores e, caso o movimento fracassasse, a justiça da Rainha não teria o menor trabalho jurídico na instauração do processo, pois todos seriam réus confessos”.

Faço minhas as palavras do eminente irmão José Wilson.

De tudo que foi aqui exposto, chego a três conclusões:

1ª conclusão) Não posso acreditar... não consigo acreditar que respeitados, competentes e sérios historiadores do porte de Augusto Lima Júnior, Gustavo Barroso, Viriato Corrêa, Mário da Veiga, Joaquim Norberto de Souza Silva, Lauro Sodré, Joaquim Felício dos Santos, Acir Tenório D’Albuquerque e outros, tenham todos eles incorrido em clamorosos equívocos quando declararam que Tiradentes era maçom. Por acaso teriam eles, todos eles, incorrido no mesmo erro? Jamais aceitarei a tese de que esses homens, numa demonstração de irresponsabilidade histórica, tenham legado à posteridade uma deslavada mentira. Não podemos duvidar de sua palavra, pois eles sabiam o que diziam e tinham consciência do que escreviam. 

Pergunto se seria justo e lógico aceitar que os pensadores e historiadores de nossos dias, nossos contemporâneos, que duzentos e vinte anos após a morte de Tiradentes, podem se considerar, unicamente eles, os donos da verdade histórica sobre a vida do nosso maior herói nacional? Será que os historiadores e estudiosos hodiernos possuem mais conhecimentos daquela época do que aqueles historiadores do passado, alguns nascidos no mesmo século em que morreu Tiradentes?

2ª conclusão) A Maçonaria sempre esteve ligada aos movimentos libertacionistas. Foi assim nos EUA, onde a maioria dos chamados “Pais da Pátria” pertencia à Ordem (Thomas Jefferson era Venerável Mestre quando escreveu a Declaração de Independência, em 1776); foi assim na França; e foi assim no Brasil, onde os principais líderes do movimento inconfidente eram maçons. E não apenas eles. Também o eram o Visconde de Barbacena e o Vice-Rei do Brasil, Dom Luis de Vasconcelos, dentre outros. 

3ª conclusão) Fica, portanto, muito difícil não aceitar a ideia de que Tiradentes, que foi o principal expoente da Inconfidência, não tenha sido maçom. 

Sabemos que a bandeira que seria adotada pelo Estado de Minas Gerais após a vitória do levante dos inconfidentes, como se esperava que ocorresse, foi proposta por Tiradentes, numa reunião maçônica, com o seguinte formato: um triângulo verde sobre um fundo branco. O triângulo verde era o símbolo maçônico adotado na Revolução Francesa. Por que Tiradentes iria propor, para o maior símbolo da soberania nacional, um símbolo maçônico se não fosse ele também maçom?

Os conhecimentos, informações e dados referentes a fatos e acontecimentos passados, transmitidos oralmente de geração a geração, deixam de ser verdadeiros porque não estão documentalmente comprovados. As ruínas do Templo de Salomão nunca foram localizadas. Não obstante, acreditamos firmemente que tal construção foi edificada em alguma época, embora não exista nenhum documento que comprove tal afirmativa. E a nossa crença em tal assertiva é tão forte que a construção dos templos maçônicos é inspirada no Palácio de Salomão como tal descrito na Bíblia.

Se tivermos que aceitar apenas os conhecimentos e informações que estiverem comprovados com documentos, boa parte da história do mundo terá que ser apagada de nossa memória e dos registros oficiais existentes, inclusive algumas informações bíblicas. 

Meus queridos e estimados irmãos, este trabalho não contém “achismos” nem ficção histórica criada ao sabor da conveniência ideológica atual ou de uma época passada nem se alicerça no que dizem os historiadores de hoje. Trata-se de uma pesquisa séria e consciente, estribada no que nos legaram os mais reconhecidos e diligentes historiadores do passado.

As conclusões ficam por conta daqueles que tiverem real interesse pelo tema. 

Ninguém é obrigado a crer, mas todos estão convidados a lucubrar sobre o assunto e expor seus pontos de vista a favor ou contra a tese aqui apresentada.

Geraldo José Chaves, MI, Loja Tiradentes n° 2 - GLMDF

BIBLIOGRAFIA:
- Ricardo Tosto e Paulo Guilherme M. Lopes – O PROCESSO DE TIRADENTES – Conjur Editorial, publicada em parceria com Pró-Texto Comunicação e Editora e Dublê Editorial
- Kennet Maxwell – O LIVRO DE TIRADENTES – Editora Schwarcz S/A – 2013
- A. Tenório D’Albuquerque – A MAÇONARIA E A GRANDEZA DO BRASIL – Gráfica Editora Aurora Ltda – 3ª Edição
- Rocha Pombo – HISTÓRIA DO BRASIL – Editora Melhoramentos – 1952
- Agripa Vasconcelos – SINHÁ BRABA – Editora Itatiaia Ltda – 1966
- Agripa Vasconcelos – CHICA QUE MANDA – Editora Itatiaia Ltda
- Marco Antônio de Moraes – TIRADENTES, MAÇOM INICIADO? – 2001
- Joaquim Felício dos Santos – MEMÓRIAS DO DISTRITO DIAMANTINO – Edição de 1956