terça-feira, 29 de janeiro de 2013


SALA DOS PASSOS PERDIDOS


Charles Evaldo Boller

A designação sala dos passos perdidos foi copiada pela Maçonaria do parlamento inglês, constava de uma ante-câmara onde o cidadão esperava ser atendido, ou recebia decisões e despachos de assuntos de seu interesse. Era quando este perambulava sem destino para descarregar sua ansiedade; algo semelhante à sala de preocupações do tio Patinhas, onde aquele anda em círculos até afundar o piso sob seus pés pelas mesmas razões.

Na Maçonaria este cômodo está localizado antes do átrio e do templo. É a sala de espera para aguardar o inicio dos trabalhos e onde são tratados os mais diversos assuntos. Onde possível, consta de um local confortável, com poltronas ou cadeiras, mesa, e onde se pratica a sociabilização, cada um a sua maneira e de acordo com sua personalidade.

Neste local não existe ordem nem ritualística, as pessoas transitam pela sala em qualquer direção, formam grupos em diálogos de todos os tipos, nada tem rumo, daí a semelhança com a ante-sala do parlamento inglês. 

Aproveita-se o tempo para pagar emolumentos ao irmão tesoureiro. Se houver alguma coleta de recursos para campanhas de caridade da loja, o irmão hospitaleiro faz esta coleta, dá recibo e a registra. Recebem-se recados do irmão secretário de alguma pendência de documentos ou outras providências burocráticas. O irmão mestre de cerimônias faz a distribuição dos colares aos oficiais se o obreiro tiver cargo em loja, mas estes não os vestem. Assina-se o livro de presenças junto ao irmão chanceler. É discretamente feito o telhamento de visitantes. Consulta-se o edital com alguma novidade em exposição. 

Regem as etiquetas e comportamentos profanos, dentro do maior respeito. 

A agitação vai lentamente cedendo lugar ao silêncio, e conforme os arranjos de preparação vão progredindo e a hora de inicio dos trabalhos se aproxima, vai perdendo a influência o mundo profano até adentrar ao átrio, onde toda a agitação cessa.

O mestre de cerimônias convida os irmãos a adentrarem ao átrio. 

O cobridor externo, já devidamente paramentado, portando espada, fecha a porta externa às suas costas. 

Passa a reinar silêncio e o comportamento é formal, ritualístico, silencioso e ordeiro. Consta em uma sala, normalmente de quase a mesma largura do templo e adequada para receber todos os irmãos perfilados. As lojas que possuem átrios de pequenas dimensões, usam a sala dos passos perdidos também como átrio. 

O átrio é o vestíbulo do templo, é onde cada obreiro coloca seu avental e paramentos com a garantia de estar fora de alcance de olhos profanos. 

É preparado o cortejo de entrada em duas filas, uma para cada coluna; os irmãos aprendizes ficam perfilados ao lado norte e os irmãos companheiros ao lado sul; os oficiais das colunas tomam o lado onde ficam locados dentro da Loja. 

Inicia-se a preparação espiritual do grupo; mesmo que não existente no rito escocês antigo e aceito, por simples tradição, o mestre de cerimônias recita oração e pede ajuda ao Grande Arquiteto do Universo para que a reunião seja agraciada de bons fluídos, comunicando ao venerável mestre que o templo está devidamente ornamentado e que os trabalhos já podem iniciar. 

O venerável mestre determina que o mestre de cerimônias cumpra com seu dever.
O mestre de cerimônias determina que os irmãos guarda do templo e mestre de harmonia tomem seus lugares dentro do templo. Estes entram e fecha-se a porta do templo atrás deles. 

O mestre de cerimônias aguarda um breve instante e dá uma batida com seu bastão na porta do templo, que é respondida pelo guarda do templo pelo lado de dentro. O guarda do templo abre a porta para entrada do cortejo ao interior do templo. 

O mestre de cerimônias coloca o cortejo em marcha, adentrando primeiro os irmãos aprendizes, seguidos pelos irmãos companheiros, mestres sem cargo seguidos pelos oficiais, o segundo vigilante, o primeiro vigilante, ficando para o final, o irmão venerável mestre, e após este, se presentes, outras autoridades da grande loja, remanescendo apenas o cobridor externo em sua função. 

Pela descrição das funções dos dois ambientes percebe-se que enquanto na sala dos passos perdidos reina o caos do mundo profano no átrio age o sacro, tem regras e ritualística. Num atua o mundano, noutro o sagrado, para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo.

A COMPAIXÃO 


(algumas visões) 



Santo Agostinho - “in Confissões” 

“Arrebatavam-me os espectáculos teatrais, cheios de imagens das minhas misérias e de alimento próprio para o fogo das minhas paixões. Mas porque quer o homem condoer-se, quando presenceia cenas dolorosas e trágicas, se de modo algum deseja suportá-las? Todavia, o espectador anseia por sentir esse sofrimento que, afinal, para ele constitui um prazer. Que é isto senão rematada loucura? Com efeito, tanto mais cada um se comove com tais cenas quanto menos curado se acha de tais afectos (deletérios). Mas ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação das dores alheias, compaixão. Que compaixão é essa em assuntos fictícios e cénicos, se não induz o espectador a prestar auxílio, mas somente o convida à angústia e a comprazer o dramaturgo na proporção da dor que experimenta? E se aquelas tragédias humanas, antigas ou fingidas, se representam de modo a não excitarem a compaixão, e espectador retira-se enfastiado e criticando. Pelo contrário, se se comove, permanece atento e chora de satisfação. 

Amamos, portanto, as lágrimas e as dores. Mas todo o homem deseja o gozo. Ora, ainda que a ninguém apraz ser desgraçado, apraz-nos contudo a ser compadecidos. Não gostaremos nós dessas emoções dolorosas pelo único motivo de que a compaixão é companheira inseparável da dor? A amizade é a fonte destas simpatias”. 


Texto de Dennis Allan - “A Compaixão de Jesus” 

Jesus estava pregando na Galiléia quando um homem leproso se aproximou dele. Sabendo do poder do Senhor, o leproso pediu que Jesus o curasse. Ao ver o homem no seu sofrimento, Cristo ficou “profundamente compadecido” (Marcos 1:41). Um hino antigo faz a pergunta: “Importará ao Senhor Jesus que eu viva no mundo a ter o meu coração cheio de aflição? Sentirá meu triste viver?” A resposta poderosa do hino, refletindo as afirmações das Escrituras, é: “Oh! Sim, eu sei, Jesus bem vê o que eu estou a sofrer”. 

Lendo o relato de Marcos 1:40-45, podemos observar seis fatos sobre a compaixão de Jesus:  Ele viu a pessoa.  Ele percebeu o sofrimento da pessoa.  Ele ouviu o apelo do sofredor.  Ele sofreu com o homem (assim, a idéia de compaixão).  Ele falou com o leproso.  Ele agiu em favor da pessoa que necessitava de ajuda. Nós devemos mostrar a mesma compaixão em relação aos sofredores ao nosso redor. Precisamos reconhecer que as pessoas existem e que têm problemas reais para podermos falar palavras de conforto ou agir para ajudá-las. 

Jesus se compadece de nós. Ele andou aqui na terra durante mais de 30 anos. Ele sofreu, e viu outros sofrendo. É claro, ele sabe que todas as aflições desta vida são temporárias; mas, mesmo assim, ele sofre conosco. Uma boa ilustração deste fato se encontra em João 11. Jesus demorou, de propósito, em responder ao apelo das irmãs de Lázaro. Quando o Senhor chegou, Lázaro já tinha morrido. Jesus bem sabia do seu próprio poder, e da sua intenção de ressuscitá-lo. Ele sabia que as lágrimas de tristeza, em poucos minutos, seriam substituídas por lágrimas de alegria. Mesmo assim, ele mostrou a sua compaixão quando viu Maria, Marta e outros lamentando a morte de Lázaro. Jesus “agitou-se no espírito e comoveu-se” e chorou (versículos 33 e 35). 

Quando nós sofremos a perda de entes queridos, problemas de saúde ou outras tristezas, Jesus sabe que o nosso sofrimento durará muito pouco. Mesmo assim, ele se compadece de nós. Sim! Ele se importa conosco! 

“Compaixão – Ir.´. KLEBER ADORNO” 

Compaixão é a verdadeira essência de uma vida espiritual e a prática central daqueles que devotaram suas vidas para alcançar a iluminação. É a raiz das Três Jóias Supremas – Buda, Darma e Sanga. 

É a raiz de Buda, porque todos os Budas nascem da compaixão. É a raiz do Darma, porque os Budas dão ensinamentos motivados unicamente por compaixão. É a raiz da Sanga, porque é ouvindo e praticando os ensinamentos de Darma, os quais são dados por compaixão, que nos tornaremos membros da Sanga, ou Seres Superiores. 

O que é exatamente compaixão? Compaixão é uma mente que, com a motivação de apreciar todos os seres vivos, deseja libertá-los do seu sofrimento. 

Às vezes, desejamos que alguém se livre do sofrimento por razões egoístas; isso é bastante comum nas relações que se fundamentam principalmente no apego. Se nosso amigo estiver doente ou deprimido, poderemos desejar que se recupere depressa para desfrutarmos novamente da sua companhia; mas esse desejo é basicamente autocentrado, não é verdadeira compaixão. A verdadeira compaixão baseia-se, necessariamente, na motivação de apreciar os outros. 

Embora já tenhamos algum grau de compaixão, no momento, ela é bastante parcial e limitada. Quando nossos familiares e amigos estão sofrendo, facilmente geramos compaixão por eles, mas é bem mais difícil sentirmos solidariedade por estranhos ou por pessoas que achamos desagradáveis. 

Além do mais, sentimos compaixão por aqueles que estão sofrendo dor manifesta, mas não por aqueles que estão desfrutando de boas condições e menos ainda pelos indivíduos que estão cometendo ações nocivas. 

Se realmente quisermos realizar nosso potencial alcançando a plena iluminação, temos que aumentar o escopo da nossa compaixão até que ela consiga abranger todos os seres vivos sem exceção, como faria uma mãe amorosa que sente compaixão por todos os seus filhos, independente de estarem agindo bem ou mal. 

Essa compaixão universal é o coração do budismo mahayana. Ao contrário da nossa compaixão atual, limitada, que já surge ocasionalmente de modo natural, a compaixão universal precisa ser cultivada por meio de treino durante um longo período. 

Para saber mais sobre compaixão, consulte os livros Oito passos para a felicidade, Compaixão universal, and Contemplações significativas

Há em suma apenas três motivações fundamentais das ações humanas, e só por meio do estimulo delas é que agem todos os outros motivos possíveis. 


Elas são: 

A) Egoísmo, que quer seu próprio bem (é ilimitado); 
B) Maldade, que quer o mal alheio (chega até a mais extrema crueldade); 
C) Compaixão, que quer o bem-estar alheio (chega até a nobreza moral e a generosidade)” 


Schopenahuer, Sobre o fundamento da moral 


No ano de 1840, a Sociedade Real Dinamarquesa de Ciências de Copenhague levantou o seguinte questionamento: “A fonte e o fundamento da filosofia da moral devem ser buscados numa idéia de moralidade contida na consciência imediata e em outras noções fundamentais que dela derivam ou em outro principio do conhecimento?”. A fim de respondê-lo o filosofo alemão Arthur Schopenhauer escreveu um tratado filosófico intitulado “Sobre o fundamento da moral”. Pretendo aqui refletir brevemente sobre as idéias schopenhaurianas presentes nesse tratado que apesar de ter sido escrito no século XIX me parece muito útil para se pensar à contemporaneidade. Vivemos em um mundo capitalista de imensas explorações e desigualdades sociais, políticas e econômicas. Apesar de todo o desenvolvimento tecnológico do último século e a grande capacidade produtora das indústrias o mundo ainda é assolado pela fome e pela miséria. Apesar de todo o acumulo de conhecimento cientifico ainda sofremos de intolerância étnica e religiosa, e os conflitos armados matam milhares de pessoas todos os dias, a exploração descontrolada e irresponsável da natureza cada vez mais se agrava provocando catástrofes em todas as partes. Ao pensarmos essa realidade entendemos um pouco o que Schopenhauer queria dizer quando falava de egoísmo e maldade como formas de motivação da ação humana. Aparentemente tais motivações não só existem de sobra como são o que move o nosso sistema. Mesmo imbuindo de pessimismo a filosofia de Schopenahuer convida-nos a pensar o celebre sentimento da compaixão, o que significa, como se manifesta e principalmente qual é seu papel entres as relações humanas e a moralidade. 

Ao pensar em compaixão lembra-se logo da filosofia cristã e do mandamento bíblico que diz, “amaras a teu próximo como a ti mesmo”. É inegável que apesar de ateu Schopenhauer tem uma enorme influencia da cultura judaico-cristã, porém em sua posição de filosofo e cientista ele busca desvincular a moral e a ética de conceitos teológicos. Comecemos do principio, para falar sobre o fundamento da moral deve-se compreender o que Schopenhauer entende por moral. A palavra moral vem do latim mores e quer dizer costume, filosoficamente falando moral significa conjunto de valores, regras, costumes e hábitos sociais. Assim sendo moral está diretamente vinculada à ação humana, ou seja, ao agir de um individuo para com outros. Como é de se imaginar a moral esteve presente de formas variadas em todas as formações sociais na história dos seres humanos, por isso ela é um campo muito vasto da filosofia estando sua reflexão presente em todos os grandes pensadores da história. A moral só existe no campo dos relacionamentos sociais, assim sendo Schopenhauer afirma que o contrario de uma ação moral e uma ação egoísta. Uma ação egoísta pode ser definida como uma ação vinculada somente às necessidades do eu, e totalmente desinteressada para com as necessidades de um outro. Portanto para uma ação ganhar valor moral, de justiça e caridade ela não pode ter como motivo imediato nenhum interesse egoísta. Uma ação moral deve levar em conta o bem-estar e o mal-estar de um outro como se esse fosse o meu próprio. Schopenhauer ao pensar em nossa condição animal descobre que a auto-preservação e a auto-satisfação são nossos instintos primordiais, assim sendo o egoísmo. A grande pergunta que se apresenta agora é: como negar o egoísmo sendo ele instinto primordial e agir para com outro como se fosse eu mesmo? É ai que começamos a tratar sobre a compaixão, sendo ela também uma motivação primordial nos seres humanos. 

Ao nos percebermos como indivíduos, ganhamos facilmente a noção empírica da diferença entre o eu e o outro, é inegável que os seres humanos carregam muitas diferenças entre si, o que aumenta a separação entre cada um. Isso dificulta ainda mais a pergunta feita no parágrafo anterior, como é possível frente a essa inegável diferença entre os indivíduos agir com o outro como se esse fosse eu mesmo? Para solucionar esse dilema Schopenahuer aponta para a compaixão. Para o filosofo alemão a compaixão está ligada exatamente à destruição dessas diferenças que percebemos entre os indivíduos, ou pelo menos uma diminuição. A compaixão é o sentimento de identificação com a dor alheia, de tal forma que a dor alheia passa a ser sentida como a minha própria dor. Ao sentirmos a dor do outro como nossa própria, diminuímos essa diferença entre o eu e o outro e é ai que surge o verdadeiro valor moral como uma entrega desinteressada ao outro, suprimindo mesmo que parcialmente o egoísmo. 

A compaixão é o fundamento de toda moral e, portanto, de toda a justiça livre e de toda caridade genuína. A compaixão não pode por sua vez ser induzida artificialmente e externamente, ela provem do interior da alma é um sentimento que se manifesta naturalmente em qualquer ser humano, apesar de que não se manifesta sempre. 

Disso pode vir a surgir outro interessante questionamento: porque somente a dor do outro é que gera a compaixão e não o prazer ou a felicidade? Schopenhauer ficou conhecido pelo seu profundo pessimismo existencial, que apesar de ser um tanto quanto radical é muito coerente, se não vejamos. Ele afirma que a dor e o sofrimento são as características principais da existência humana. Como diz o personagem Agamêmnon na tragédia “Ifigênia” de Eurípedes: “Não há entre os mortais um só cuja existência seja perenemente próspera e feliz. Nunca existiu alguém imune ao sofrimento”. Assim sendo Schopenhauer diz que a dor alheia desperta a compaixão porque a dor e o sofrimento são sentimentos positivos que se fazem sentir imediatamente. Enquanto o prazer e a felicidade consistem simplesmente na supressão temporária de alguma carência, portanto sentimentos negativos. É nisto que consiste o fato de que somente a dor, o sofrimento e carência despertam a compaixão e a necessidade de participação frente ao outro, enquanto a felicidade e a satisfação nos são indiferentes por serem estados negativos. 


A noção de compaixão como uma forma de perceber a igualdade entre os seres humanos vem na historia da filosofia do pensamento de Jean-Jacques Rousseau, filosofo iluminista muito apreciado por Schopenhauer. Além disso, toda essa fundamentação da moral na compaixão tem muito haver com a visão cosmológica de Schopenhauer, que acredita que tudo no universo provem de uma força metafísica irracional denominada Vontade. Se tudo que existe não passa de fenômeno dessa Vontade então no fundo todos os seres tem a mesma essência, inclusive os seres humanos. Essa é a fundamentação metafísica que Schopenhauer da a moral e a compaixão, isso é o que marca definitivamente sua ética. 

Se pensarmos os dias atuais percebemos que a realidade contradiz os dizeres do velho filosofo. Em nosso sistema capitalista a moral se tornou materialista, e seu fundamento esta na busca de lucro e no acúmulo de capital. Nossos principais valores como a competição, o individualismo e o consumismo geram um sentimento de total egoísmo, o que obviamente só agrava mais ainda a desigualdade entre os seres humanos. A ética schopenhauriana nos serve principalmente para pensarmos a relação com o outro. Se grande parte de nossos problemas vem do fato de termos nos tornado tão diferentes a compaixão surge como alternativa para tentarmos perceber o que nos faz iguais e nos uni. As teses de Schopenhauer são compostas por conceitos e idéias de filosofias antiguíssimas dos primórdios da humanidade como o cristianismo primitivo, o hinduismo e o budismo. Todas elas repletas de sabedoria milenar que de uma forma ou de outra sempre valem para as reflexões. 

“A multiplicidade e a separabilidade pertencem somente ao mero fenômeno, e é uma e mesma essência que se apresenta em todos os viventes. Assim, a apreensão que suprime a diferença entre o eu e o não-eu não é a errônea, mas sim a que lhe é oposta. Encontramos esta última indicada pelos hindus pelo nome de ‘Maja’, quer dizer, ilusão, engano, fantasma. Aquele primeiro aspecto é o que encontramos como sendo aquilo que está no fundamento do fenômeno da compaixão e mesmo como a expressão real dele. Seria portanto a base metafísica da ética e consistiria no fato de que um indivíduo se reconhece a si próprio, a sua essência verdadeira, imediatamente no outro”. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

As Romãs


                                                                        
AS ROMÃS

       As romãs pela divisão interna mostram os bens produzidos pela influência das estações, representam as Lojas e os MMaç.´. espalhados pela superfície da Terra, suas sementes, intimamente unidas nos lembram a fraternidade e a união que devem existir entre os homens. 
O nome em latim da romã é: ‘pomum’ (maçã) mais ‘granatus ‘ (com sementes). 
Arquivos cuneiformes na Mesopotâmia, três mil anos antes de Cristo, já faziam referências às romãs. 
Mas a Bíblia também nos diz que as romãs são Símbolos de Retidão ou Honradez. 


As Borlas e a Corda de 81 nós




BORLAS E AS ‘VIRTUDES CARDEAIS’ 

“Tudo na Maçonaria tem história e autenticidade, que muitos maçons não querem conhecer, por ignorância ou por lamentável sectarismo”. (Theobaldo Varoli Filho) 

Helio P. Leite 


A borla consiste na reunião de um conjunto de fios em números variáveis, presos por um nó. As borlas são na verdade uma arte de “passamanaria”, - o trabalho com passamanes. Uma arte que se ocupa de bordados ou transados de fios em roupas, tecidos, cortinados ou borlas. Estas servem para complementar um enfeite e geralmente, como parte final de um cordão que vem atado ou preso a uma peça de vestuário. 

A origem das Borlas é remota. Reis, poderosos, sacerdotes, as usavam em suas vestes; em 1660 foram implantadas nos uniformes militares franceses. 

As borlas traduzem o “Poder”e em certas partes, este uso prossegue, como terminais em cordões atados à cintura ou em chapéus. De tal modo, temos o Barrete (Barrete Frígio) usado na Turquia Antiga, como distinção entre os vulgo e os poderosos. Durante a época do fascismo, na Itália, os militares, usavam um “barrete negro”, de cuja calota pendia um cordão que terminava em borla. Vemos borlas em estandartes, vários escudos ou brasões de cidades, e nas armas dos cléricos, especialmente do cardinalato e dos papas. Na realeza é centralização do poder que se espalha alcançando os súditos. A borla passou a ser usada nas universidades, para ornar tanto o capelo, como as faixas, simbolizando a libertação da ignorância, e o poder passou a ser emanado do diploma. 

Os cortinados nas casas ricas ou nos palácios têm os seus cordões terminados em borlas de todo tipo, simplesmente como adereço e demonstração de poderio econômico. 

Dentro dos Templos Maçônicos a “Corda de 81 nós” (ou houppe dentelée), que contorna a parte interior e susperior do Templo antes da “Abóbada Celeste”, tem a finalidade de simbolizar a união do maçons. Seus oitenta e um laços duplos (que devem ser apertados e não frouxos), recordam o entrelaçamento, com elos de uma mesma corrente, das mãos formadas na “Cadeia de União”. Protegendo, além de “conectar” e de “ligar”, os símbolos e emblemas que aparecem desenhados no quadro, o que é considerado como um espaço sacralizado, e, portanto, inviolável. Nesse sentido, a idéia de “proteção” está incluída no simbolismo dos nós e das ligaduras, que por suas respectivas formas relembram o traçado dos dédalos e labirintos iniciátios. 

Esquadrinhando o atavimo da operatividade, quando nossos irmãos não só cercavam como determinavam a posição correta dos templos ou catedrais, que sempre, e de forma invariável, estavam orientados segundo as direções do espaço assinaladas pelos quatro pontos cardeais, exatamente iguais á Loja. Ao mesmo tempo reforçavam o canteiro de obras com as estacas e, em cada uma destas, a corda era entrelaçada. Detemos aí a origem da “Corda de 81 Nós”. Hoje, na Maçonaria Especulativa, todo obreiro, como coluna, faz referência a uma estaca. Ligados cada qual pela corda de nós. 


O algarismo 81 é o quadrado de 9, que por sua vez é o quadrado de 3, número perfeito e de grande importância mística para as ancestrais civilizações. Três foram os filhos de Noé, três os varões que apareceram a Abraão, três os dias de jejum dos judeus desterrados, três as negações de Pedro, três as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade); além disso, as tríades divinas sempre existiram na maioria das religiões: 

. Sumérios – Shamash, Sin e Ichtar: 
. Egípcios – Osíris, Íris e Hórus; 
. Hindus – Brahma, Vishnu e Shiva; 
. Taoismo – yang, ying e Tao; 
. Trindade Católica romana – Pai, Filho e Espírito Santo; 
. Da Constituição do Ser – Espírito, Alma e Corpo; 
. Do hermetimo – Archêo, Azoth e Hylo; 
. Da Cabala Hebraica – Kether(Coroa), Chokmah(Sabedoria) e Binah(Inteligência); 
. Do Budismo – Buda(Iluminado), Dhama(lei), e Sanga( Assembléia de Fiéis); 
. Da Trimurti indiana – Brahma, Vishnu, e Shiva; Sat, Chit, e Ânanda; 

O nó central deve estar sobre o Trono de Salomão, representa a Unidade, não como forma de medida, mas sim como fonte Creadora e indivisível. “O Todo”. O restante dos nós distribuídos com quarenta nós ao sul e quarenta nós ao norte. Pois, 40 como o numeral simbólico da Penitência e da Expectativa: a duração do dilúvio(Gênesis, 7:4); quarenta dias passou Moisés no Sinai( Êxodo, 34:28); foram os dias de jejum de Jesus no deserto(Mateus, 4:2); quarenta dias o Grande Mestre ficou na Terra após a Ressurreição(Atos dos Apóstolos, 1:3). 

Essa Corda absorveria as tensões nervosas (elétricas) dos irmãos, descarregando-as através dos fios das duas borlas pendentes. Detém-se que, dentre outros “efeitos esotéricos”, a corda retém a energia que emana de todos os Obreiros presentes, bem como da distribuição da Energia de cima para baixo e de fora para dentro. Os nós funcionando como acumuladores de energia. 

Cada borla é formada de um “botão” recoberto de fios, formando uma franja que desce ao piso. O botão modula e concentra as “forças” e os fios descarregam em direção ao solo a energia. Funcionando como “fios terra”. 

Essa borlas deveriam ser amparadas pelos Diáconos, sustentando-as em suas mãos, quando da formação do triângulo, junto com o Mestre de Cerimônias, protegendo o Oficiante, no momento da abertura do Livro da Lei. 

Os rituais do REAA instruem que as quatro borlas representam as quatro Virtudes Cardeais: 

. TEMPERANÇA 
. JUSTIÇA 
. FORTALEZA 
. PRUDÊNCIA 


Conforme nos instruiu Varolli, trata-se de uma lembrança da moral platônica, haurido do neoplatônico-alexandrino-romano-Plotino (204-270-a.C.).Adequadas e muito teorizadas pelos Doutores da Igreja Católica: Santo Ambrósio, Santo Agostinho de Hipona e São Tomás de Aquino. 

A palavra cardinal vem de cardo, cardinis, que, em latim, significa gonzo(dobradiça), em torno do qual gira a porta. 

As virtudes cardeais são as virtudes fundamentais em torno das quais gira o ser humano. Entre as virtudes adquiridas pelo homem, estabelecem-se quatro, que são fundamentais, ou capitais, ás quais estão subordinadas outras que são acessórias ou subordinadas.. 

As quatro borlas estão arranjadas estando duas no leste e duas no oeste. 

No Oeste, Temperança e Fortaleza, junto ás colunas e aos lados da porta, para designar as qualidades exigidas de todos aqueles que desejem ingressar na Maçonaria, como as virtudes que o maçom deve conservar dentro e fora da Loja. 

A TEMPERANÇA é o primeiro passo para alcançar as outras três Virtudes Cardeais. Expressa o comedimento, reserva e sobriedade diante das coisas do mundo. Tudo pode ser empregado em pequena ou grande dose, e o risco existe nas duas situações. Traz equilíbrio para se ter serenidade para intuir o Grande Arquiteto do Universo na essência de cada qual. Impede que o homem se exceda, ajudando-o a submeter seus desejos e vencer sua paixões. Ao falar, o maçom deve saber colocar bem as palavras sem descabimento de atitude ofensiva, vulgarizando o discurso na tentativa de impor pretensa vaidade. A temperança é dada ao homem porque tudo pode ser usado em pequena ou grande quantidade, e o risco convive nas duas situações. 


A FORTALEZA deve versar harmonicamente com o bom senso. Objetivando a bens mais elevados para enfrentar os perigos, tolerar os males e não retroceder, nem mesmo ante a morte. Bravura para acudir a um ideal digno, fazendo brotar á autoconfiança para materializar nossas aspirações e anseios. Na fortaleza as virtudes são fortes contra o vício e resistentes contra as ciladas dos inimigos de Deus. Muitos dons e talentos são comprometidos pela falta de virtude. A paciência, lado a lado à Fortaleza, consiste na capacidade constante de suportar adversidades transformando nosso modo de ver e enfrentar conflitos. Pois, se a causa é justa o prêmio é adequado. 

As duas do leste significam Justiça e Prudência, representadas pelas borlas do oriente. 

A JUSTIÇA sempre do mesmo lado do Orador, conforme o rito adotado pela Oficina, significa os ditames que devem seguir os maçons e os dirigentes de qualquer coletividade, para equilibrar e enaltecer as reações humanas. Assim como buscamos tornar feliz a humanidade na formação de uma sociedade mais justa e perfeita, conclamamos nossos membros para praticar a solidariedade humana. Honrando os direitos e deveres das Leis de Deus e dos homens. Alan Kardec, por orientação maior revelou que a lei de Deus está impressa na consciência do homem. 

A Maçonaria entende por dever o respeito aos direitos dos indivíduos e da sociedade. Entretanto, não ficamos satisfeitos em apenas respeitar a propriedade, igualmente carecemos proteger e servir aos nossos semelhantes. A maçonaria resume o dever dos homens assim:” Respeito a Deus, amor ao próximo e dedicação á família”. Em verdade, essa é a maior síntese da fraternidade universal. 

A PRUDÊNCIA leva em conta o futuro, é a virtude do saber escolher, de discernir o certo do errado, para realizar o Bem e vencer o mal. Sapiente, regula nossas ações conforme o momento em que estejamos vivendo. Ajuda a conduzir a si mesmo, e caso necessário, para conduzir os outros. A prudência exige: reflexão, capacidade para examinar os juízos e as idéias, e perspicácia, para descobrir os meios mais hábeis. Exige, ademais, inteligência, capacidade de resolver com clareza e segurança, de modo a alcançar as melhores soluções. Resguarda a moral do fanatismo. Quantos horrores consumados em nome do Bem? Quantos crimes em nome da virtude? A prudência ajuda a optar pelo caminho que melhor soluciona os problemas e mai beneficia a humanidade. “A prudência”, diz santo Agostinho, “...é um amor que escolhe com sagacidade.” 


As borlas são da mesma cor e material da Corda de 81 nós. Já as do Pavimento de Mosaicos são em branco e preto; as do Painel do Aprendiz, também em cândido e preto, reproduz por moldura a Orla Dentada do Pavimento de Mosaicos. Nos quatro cantos da Orla Dentada, as borlas dirigem-se ao quatro cantos da Cãmara do Meio simbolizando os quatro elementos: Terra, Ar, Água e Fogo. Cabe aqui lembrar C. W. Leadbeater: 

“ Há também uma ampla interpretação para as quatro orlas que aparecem nos ângulos da franja. Na Maçonaria masculina simbolizam temperança, fortaleza, prudência e justiça, e sempre têm um significado moral. Mas também representam as quatro grandes ordens dos devas relacionados com os elementos terra, água, ar e fogo, e seus quatro Governantes, os quatro Devarajas, agentes da lei cármica, que computam e ajustam os negócios humanos sem que haja injustiça nos seres viventes do universo de Deus, assim como não há desconcerto nas relações das diferentes substãncias e corpos materiais...” 

Abrindo-se na entrada do Templo, a corda de 81 nós termina em Borlas. Por ser dinâmica e progressista a Maçonaria tem representado nessa abertura da corda o fato de estar sempre receptiva às novas idéias que possam contribuir para a evolução do homem, e assim tornar mais feliz a Humanidade pelo progresso ético e moral. Respeitando-se a liturgia e a ritualística, bem como os usos e costumes da Ordem. A transformação é interior, e ao renovar-se, o homem transformará o mundo. Não pode ser maçom aquele que exonerar-se da evolução tentando justificar um conservadorismo rançoso, muitas vezes dogmático, e, por isso mesmo, pernicioso. Não devemos voltar a nossa atenção para modificar as coisas de fora, mas para aprimorar ou despertar as coisas de nossa intimidade. 

As virtudes são a somatória dos predicados essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. Porém, para o maçom não deve ser mais que a elementar obrigação. O turbilhão da rotina provoca hábitos que quase sempre se acompanham de pequenas enfermidades morais que s desonram e enfraquecem. Não é virtuoso aquele que ostenta a sua virtude! Falha em modéstia e tem o vício do orgulho. Os hábitos maus enraízam de tal sorte em nosso psiquismo que se tornam extremamente difíceis de ser eliminados. Daí a necessidade de reforma íntima e da vigilância constante. Na realidade, não somos nós que deixamos os vícios, são eles que sem a nossa sintonia é que nos deixam. 

“Mais vale pouca virtude com modéstia, do que muita com orgulho”(François – Nicolas – Madeleine – Paris, 1863). Pelo orgulho é que as humanidades sucessivamente se hão perdido; pela humanidade é que um dia elas se hão de redimir. 

Irmão Luiz Washington Bozzo Nascimento

HUZÉ! HUZÉ! HUZÉ! - CONSIDERAÇÕES


CONSIDERAÇÕES SOBRE A ACLAMAÇÃO


“HUZÉ! HUZÉ! HUZÉ!”


Traduzimos e registramos aqui a exposição sobre a matéria, de Jules Boucher, encontrada em seu substancioso compêndio “La Symbolique Maçonique”, às páginas 345 e 346. 

Jules Boucher, em seus comentários, cita vários renomados autores. Após cada citação, aduziremos algumas palavras para melhor entendimento de nosso ponto de vista. Passemos a palavra ao mestre: 

“Huzza! Huzza! Huzza! tal é a velha aclamação escocesa. 

Albert Lantoine fez algumas pesquisas a respeito dessa aclamação e é a ele que recorremos, de início, em nossa argumentação." 

Ele diz : 

“Eis o que escreve Delaunay às páginas 3 e 5 de seu “Cobridor dos Trinta e Três graus do Escocismo” (1815):“Acrescente-se a trípliceaclamação HUZZÉ, que se deve escrever HUZZA, palavra inglesa que significa VIVE LE ROI! e que substitui o nosso VIVAT”. 

Por esta primeira citação, sabe-se que a palavra HUZZA foi tomada do Inglês pelos maçons franceses. Enquanto em Inglês a grafia é HUZZA e a pronúncia ÚZÊ, em Francês a grafia é diferente, é HUZZÉ, mas a pronúncia é idêntica ao Inglês UZÊ, pois como todos sabem o acento agudo em Francês serve para fechar o som da letra E. Continua Jules Boucher: 

Vuillaume, no Manual Maçônico (1820), diz: 

“Exclama-se três vezes HUZZA! (pronunciar HOUZZAI Este nome nos vem do Inglês; eis aí a diferença entre a grafia e a pronúncia; ele é empregado em sinal de alegria e corresponde ao VIVAT dos Latinos. Os antigos Árabes se serviam da palavra UZZA nas suas aclamações; é também um dos nomes de Deus em sua língua”. 

Ainda através de Vuillaume, verifica-se que a pronúncia da aclamação em Francês é UZÉ. Ninguém desconhece que o OU francês corresponde ao nosso U e que o AI no final das palavras soa Ê, como na 1ª pessoa do singular do indicativo presente do verbo AVOIR: J’aurai (jorê ou jorre). 

Prossegue Jules Boucher : 

“O Dicionário Maçônico de Quantin, aparecido anonimamente em 1825, em Paris, é mais explícito, mas ele não faz senão confirmar a opinião de Delaunay: 

“HOUZÉ (huzza) grito de alegria dos Maçons do Rito Escocês. Ele significa VIVA O REI! Assim os Maçons, denunciados como inimigos do trono, manifestam sua alegria pelo grito de VIVA O REI!” 

Mais uma confirmação de que a palavra HUZZA é que deve ser pronunciada em Francês: UZÊ, à semelhança do Inglês. 

Ainda Jules Boucher: 

“Para mim, diz Albert Lantoine, a palavra HUZZA (HOUZÉ) é simplesmente sinônimo de HOURRAH! Há mesmo na língua inglesa o verbo TO HUZZA que quer dizer aclamar. Como a bateria de alegria se fazia sempre em honra a um acontecimento feliz para uma Loja ou para um Irmão, era muito natural que os Maçons Escoceses usassem esta aclamação.” 

Em hebreu, OZA significa “força” e é aí, pensamos nós, e não alhures que é preciso procurar a origem da palavra HUZZA; por extensão, esta palavra significa “VIE” tal como a palavra VIVAT.” 

Lantonine reafirma o que todos, sem exceção afirmam: grafia em Inglês HUZZA; Pronúncia UZÊ. E a grafia em Francês HUZZÉ, mas sempre pronunciada UZÉ. O Francês alterou a grafia para conservar a pronúncia. Nós no Brasil, por ignorância ou o que seja, alteramos tudo, grafia e pronúncia. 

Vejamos como, no Brasil, se tem registrado a aclamação. Otaviano Menezes de Bastos, em sua “Pequena Enciclopédia Maçônica” 

“Chama-se também aclamação a uma palavra ou frase especial que se pronuncia em voz alta fazendo determinados sinais e que varia segundo os graus embora nem todos os possuam. As do Rito Escocês são HUZZA! HUZZA! HUZZA!...” 

Nenhuma menção faz o mestre brasileiro à grafia e a pronúncia da aclamação em Português. Do que se pode concluir que o autor admite a grafia e a pronuncia HUZZA (UZA). 

Nicola Aslan, no seu “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia”, registra assim a aclamação: HUZZÉ. E transcreve do MANUEL MAÇONNIQUE”, de VUILLAUME, o que se segue: 

“Exclamam em seguida, por três vezes, HUZZA (pronunciar HUZZÉ)”. 

Não percebeu o autor que a palavra HUZZÉ, em Francês pronuncia-se de modo diferente em Português. HUZZÉ, em Francês diz-se UZÊ. HUZZÉ em Português diz-se UZÉ ou O ZÉ. 

No Dicionário Maçônico de Joaquim Gervásio de Figueiredo, lê-se: 

“HUZE. Grito de aclamação do maçom escocês. HUZZA. Denominação árabe da Acácia, porém com o mesmo significado desta”. 

Observamos que a aclamação é exatamente pronunciada na Grande Loja do Ceará, durante quarenta e sete anos. A palavra se apresenta sem qualquer acento. Admissível tal pronúncia. 

Já Manuel Gomes, no “Manual do Mestre Maçom”, dando à palavra origem hebraica, registra HUZZÉ! Sem comentários sobre a pronúncia, parece adotar o UZÉ ou O ZÉ. 

O “Dicionário Enciclopédico de la Masoneria”, impresso pela Editora Kier S.A., em três volumes, num total de quase três mil folhas, registra apenas o seguinte: 

“HUZZA – Nome que davam os antigos árabes à acácia, árvore misteriosa para eles, que a consagraram ao sol, como símbolo da imortalidade, e que sob diversos nomes tem figurado sempre nas antigas iniciações com o mesmo significado emblemático.” 

Pelo Dicionário citado, pode-se presumir que os espanhóis não têm problemas ao emitir a aclamação. 

Feitos os registros acima, aduzamos mais algumas considerações sobre a pronúncia da aclamação HUZZA, em língua portuguesa. 

Tentaremos ser claros, o que não nos será fácil, tendo em vista a impossibilidade de se representar graficamente, com precisão, os sons muito semelhantes da mesma palavra em duas ou mais línguas. 

Admitamos que HUZZA nos tenha vindo, realmente, do Árabe. Transmitida aos Ingleses, estes passaram a pronunciá-la HUZZÊ ou HUZZEI, numa adequação compreensível à fonética da língua Inglesa. Dos Ingleses, receberam-na os Franceses, que passaram a redigí-la de duas maneiras de duas maneiras: HUZZÉ ou HUZZAI, grafias diferentes, mas de pronúncia semelhante. O som especial do U em Francês não interessa ao caso em tela. Da primeira representação (HUZZÉ) recebemos nós a aclamação, sem maior exame da grafia ou da prosódia. 

Assim, os Ingleses escrevem HUZZA e pronunciam, aproximadamente, “UZÊ”; e os franceses grafam HUZZÉ ou HOUZAI e pronunciam, em qualquer caso, “UZÊ”. No Brasil, na elaboração dos primeiros rituais, transcreveram a forma francesa HUZZÉ, inclusive, sem consideração à fonética, com o acento agudo, o qual, em Francês, fecha o som do E, enquanto o abre, em Português. 

Os Franceses puzeram o acento agudo no E para lhe dar um som fechado, semelhante ao A (Ê ou EI) da língua Inglesa. No Brasil, ao contrário, num francesismo fácil de compreender à época, muitos maçons olvidaram a pronúncia e adotaram integralmente a grafia Francesa, inclusive com um acento que tem funções diversas nas duas línguas. Em Francês, como já dissemos, o acento agudo fecha o som do E. Em Português, ao contrário, o acento abre o som do E. 

Destarte, se pretendíamos imitar os Franceses, os quais, por sua vez já imitavam os Ingleses, que adotássemos a formula HUZZÊ. O acento circunflexo substituiria o acento agudo do Francês, a fim de que a palavra, em Português, fosse pronunciada da mesma forma: UZÊ. Haveria, pelo menos, uniformidade de pronúncia. 

O que parece inaceitável é imitar, servilmente e erroneamente, a grafia francesa e se pronunciar a aclamação como ninguém o faz. Nem franceses nem ingleses nem espanhóis. 

Feitas estas considerações, chegamos às seguintes conclusões: 

1º - Os Ingleses grafam HUZZA e pronunciam UZÊ ou UZEI; 
2º - Os Franceses granfam HUZZÉ ou HOUZAI e pronunciam ambas as grafias: UZÊ; 
3º - Em Português escreve-se HUZZÉ e pronuncia-se UZÉ ou escreve-se HUZZE com a pronúncia ÚZE (usada na Gr\ L\ do Ceará durante 47 anos); 
4º - Em Português, nenhuma dificuldade prosódica temos para pronunciar a palavra HUZZA (uza); 
5º - Se, por fidelidade injustificável à França, quiséssemos adotar a grafia com E ao final, que pelo menos se conservasse a pronúncia francesa, colocando-se um acento circunflexo sobre o E. E, assim, teríamos HUZZÊ. 

Por conseguinte, podemos nós : 
a) – escrever HUZZA, como universalmente é escrita a aclamação e pronunciá-la UZA. 
b) – ou, para conservar uma tradição de quarenta e sete anos, dar-lhe a grafia HUZZE e pronunciá-la ÚZE. 
c) – Ou ainda, a fórmula HUZZÊ (UZÊ), assemelhada à maneira de pronunciar do Inglês e do Francês. 

Injustificável, inadmissível é estarmos, em nossas reuniões, a gritar UZÉ! UZÉ! UZÉ! ou O ZÉ! O ZÉ! O ZÉ! E isto, por não se encontrar explicação plausível para tal procedimento. 

Fortaleza, 5 de outubro de 1977 

João Cesar - Grão Mestre da GLMCE

A MARCHA DO APRENDIZ




A MARCHA DO APRENDIZ

              Charles Evando Boller.
        "Sinópse: Simbolismo, misticismo e esoterismo ligados à marcha do Aprendiz   Maçom"   
              
Durante a marcha, na interpretação mística e esotérica da Maçonaria, o aprendiz maçom no Rito Escocês Antigo e Aceito não deve levantar o pé do chão, e sim arrastá-lo. 

O aprendiz maçom está ligado às coisas da matéria, ele constrói seu ser material, ligado à Terra. É o que significa o esquadro sobre o compasso. O aprendiz maçom está ligado às coisas materiais e depois, ao galgar outros graus ele passa a tirar os pés do chão.

Alguns irmãos brincam com a marcha do aprendiz maçom, chamando-a de a marcha do "manquinho", exatamente devido esta característica do pé esquerdo ser arrastado para frente e depois o calcanhar direito se junta em esquadro no calcanhar esquerdo.

Em nenhum momento, nenhuma das palmas dos pés, tanto direito como esquerdo descolam do chão. Há quem queira explicar este arrastar de pés como ligados ao fato do aprendiz maçom ainda não estar simbolicamente acostumado com toda a luz, então vai tateando.

De tudo o que se lê a respeito, o arrastar de pés está ligado unicamente ao fato do aprendiz maçom estar ligado ao chão, à Terra, um dos quatro elementos, porque ainda não galgou a escada em direção de sua espiritualização. Isto é simbólico, mas pretende passar sensibilidade com os assuntos da espiritualidade.


Pessoas como eu poderão dizer, num primeiro instante, que é bobagem, mas sabemos que a ritualística maçônica carrega em si mensagens em seus símbolos que talvez um dia o iniciado vai descobrir o significado. Daí, se mudar o símbolo, muda-se a mensagem, então é importante executar a ritualística com rigor, senão ela realmente não passa de atitude fingida e não de um símbolo esotérico. E sabemos que estamos na Maçonaria para nos influenciarmos mutuamente. As quatro linhas de pensamento básicas da Maçonaria devem fundir-se numa só para preparar o homem em sua caminhada pela sociedade, onde fará sua obra.. A marcha do aprendiz maçom tem relações com as três colunas do templo: sabedoria, força e beleza. Sabedoria porque se destaca a cabeça como se estivesse numa prateleira quando se coloca a mão em esquadro na garganta; Beleza porque a postura e a marcha devem ser feitos com garbo, energia, elegância; Força porque devem ser feitos de forma enérgica, orgulhosa e denotando força moral.

Além disso, o posicionamento da marcha do aprendiz é emblema de três passagens: nascimento, vida e morte. Quando bem feito representa discernimento, retidão e decisão. Quando a marcha é torta e frouxa representa: Inépcia, farsa, vacilação.

Os três esquadros formados pela mão, braço e pés significam: podem me degolar que não conto os segredos; o braço e antebraço em esquadria significam força à disposição da Ordem; a esquadria dos pés significa que o caminho do maçom deve sempre ser pautado pela retidão do ângulo reto. São três os esquadros porque três é a idade do aprendiz maçom.

Acima de qualquer especulação ou consideração, é importante lembrar que existem duas maneiras de efetuar qualquer tarefa: fazer bem feito ou mal feito: implica que, tanto para fazer bem feito, como para fazer mal feito leva-se quase o mesmo tempo e se gasta quase o mesmo recurso; então faça bem feito! Ademais, como estudante da arte real é importante fazer tudo bem feito, para escalar a Escada de Jacó com galhardia e progredir espiritualmente para honra e à Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Bibliografia:
1. CASTELLANI, José, Consultório Maçônico XI, ISBN 978-85-7252-286-1, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 176 páginas, Londrina, 2011;

2. PIKE, Albert, Morals and Dogma, of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry, primeira edição, Supreme Council of the Thirty Third Degree for the Southern Jurisdiction of the United States, 574 páginas, Charleston, 1871.

Data do texto: 09/09/2008

Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná, Local: Curitiba, Grau do Texto: Aprendiz Maçom. Área de Estudo: Filosofia, Maçonaria, Ritualística, Simbologia.


Difusão: Geraldo Porci de Araújo

domingo, 27 de janeiro de 2013






A Cavalaria perfeita e as virtudes do bom cavaleiro no livro intitulado “ORDEM DE CAVALARIA”
de Ramon Llull.

Para melhor desenvolvermos o tema do nosso trabalho precisamos transcrever partes do livro acima citado que se adapta ao nosso objetivo, vez que são nesses registros históricos que encontramos com maiores detalhes para observar a influência das virtudes teologais na cavalaria.

“Ramon desenvolve o tema virtudes/vícios praticamente em todas as suas obras, pois, como vimos, este era um dos cinco usos possíveis de sua Arte. No Livro da Ordem de Cavalaria, Llull trata do tema com o objetivo de legitimar a ordem cavaleiresca, ou, em suas palavras, “torná-la bem acostumada” . Ramon inicia então com as virtudes teologais e cardeais:

Todo cavaleiro deve conhecer as sete virtudes que são raiz e princípio de todos os bons costumes e são vias e carreiras da celestial glória perdurável. Das quais sete virtudes são as três teologais e as quatro cardeais. As teologais são fé, esperança, caridade. As cardeiais são justiça, prudência, fortaleza, temperança.

Virtude (virtus) deriva de vir (virilidade, vigor, homem, masculinidade). O século XIII é considerado o tempo da virtus por excelência, isto é, o tempo da vontade como potência da vida. Para os filósofos medievais, o racionalismo deveria ceder terreno ao voluntarismo, pois se pensava o divino como um ser volitivo.

Por outro lado, conceitualmente, virtude significa força, poder, eficácia de uma coisa, algo merecedor de admiração, que tornaria seu portador uma pessoa melhor, moral ou intelectualmente.

Desde Platão e Aristóteles, o conceito foi entendido, para o primeiro (virtudes cardeais), como uma capacidade de realizar uma tarefa determinada; para o segundo (virtudes morais ou excelência moral), como um hábito racional, que tornaria o homem bom.

Estas quatro virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) — pontos referenciais para a potência do homem —, eram utilizadas por todos os pensadores medievais. Tomás de Aquino, ainda defendeu o conceito de virtude aristotélica como uma conseqüência dos hábitos humanos, mas, sobretudo como perfeição da potência (capacidade de ser alguma coisa) voltada para seu ato (TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, volume III, q. 55).

São Tomás ainda aproveitou este sistema referencial para demonstrar que só as virtudes morais poderiam ser chamadas de cardeais, pois exigiriam a disciplina dos desejos (rectitudo appetitus), virtude perfeita (Suma, II, 1, q. 52). De fato, esta é a base de todas as citações medievais posteriores sobre as virtudes cardeais, inclusive Ramon Llull, que se vale principalmente da idéia de virtude como hábito.

Por outro lado, as virtudes teologais. Elas se encontram em São Paulo (c.10-66 d.C.), em sua Primeira Epístola aos Coríntios, escrita por volta dos anos 50-57 d.C. Ao comentar o uso e a hierarquia dos carismas — um dos problemas cruciais do cristianismo primitivo — São Paulo, trata da importância da caridade (“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine”) (Bíblia de Jerusalém, 1991, 1Cor, 13, 1, 2.164).

No final desta passagem, São Paulo fala das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, sendo que a caridade — no sentido grego de ágape, um amor de dileção, que quer o bem do próximo, sem fronteiras, que busca a paz no sentido mais puro, o amor que é a própria natureza de Deus — é a maior delas (Bíblia de Jerusalém, 1Cor, 13, 13, 2.166).

Sempre junto dessas virtudes, o pensamento em Deus. Estes atributos (imperativos) deveriam ser encadeados. Também para Ramon Llull as virtudes deveriam ser ativas: através de sua ação, de sua prática social, a ordem dos cavaleiros seria reconhecida pelo restante do corpo social.

E o que Llull entendia exatamente por virtude? O estudo das virtudes lulianas se insere no âmbito da ética, de uma ética das virtudes. A Ética, junto com a Metafísica e a Epistemologia, é considerada um dos três pilares da Filosofia, e estuda a natureza e os fundamentos do pensamento e da ação moral, em geral, ciência da conduta.

A ética luliana possuía base aristotélica, privilegiando as virtudes. Ramon comparava as correspondências e contrariedades entre virtudes e vícios, típica de seu tempo, partindo de uma gênese filosófica de cunho psicológico: o que impulsionava o homem a filosofar era a admiração, o ato de maravilhar-se, pelo assombro do espetáculo da natureza e pela falta de caridade e devoção a Deus por parte dos homens de seu século.

Esta estupefação dava lugar a uma consciência moral que justificava uma atitude apologética: o homem cristão deveria difundir a fé. Assim, a ética luliana estava dividida em quatro segmentos:

1) a chamada “primeira intenção” (a preocupação com a solução do problema da finalidade do universo)

2) os dois movimentos da alma (para o bem e para o mal) em relação à liberdade
3) a consciência como diretriz da conduta prática

4) o sentido correcionista da ética (TOMÁS Y JOAQUÍN CARRERAS Y ARTAU, EL, vol. I, 1, 1957).

Mas o que interessa ressaltar na ética luliana é sua montagem através de contrários. Seria mesmo uma ética da polaridade: os princípios de concordância e contrariedade, de perfeição e imperfeição, cuja explicação pode encontrar-se no substrato ideológico da época. Os pensadores medievais pensavam suas idéias em termos dualistas; o século XIII realizou um esforço intelectual de síntese de contrários (ROBERT LOPEZ, 1965, 359).

Esta polaridade está assim expressa no capítulo VI do “Lirvo da Ordem de Cavalaria: virtudes teologais:fé, esperança e caridade; virtudes cardeais: justiça, prudência, fortaleza e temperança e os vícios, ou sete pecados capitais: glutonia, luxúria, avareza, preguiça, sobera, inveja e ira”.

A fé é o alicerce do cavaleiro: dela decorrem, a esperança e a caridade e também as virtudes cardeais”.

Embora tenhamos inserido todo o texto o que prentendíamos era ressaltar a influência das virtudes teologais e cardeais no corpo de cavaleiros. Na realidade isso fica bem definido apenas em uma linha e um parágrafo, acima citados e repetidos a seguir:

“Ramon desenvolve o tema virtudes/vícios praticamente em todas as suas obras, pois, como vimos, este era um dos cinco usos possíveis de sua Arte. No Livro da Ordem de Cavalaria, Llull trata do tema com o objetivo de legitimar a ordem cavaleiresca, ou, em suas palavras, “torná-la bem acostumada” . Ramon inicia então com as virtudes teologais e cardeais:

Todo cavaleiro deve conhecer as sete virtudes que são raiz e princípio de todos os bons costumes e são vias e carreiras da celestial glória perdurável. Das quais sete virtudes são as três teologais e as quatro cardeais. As teologais são fé, esperança, caridade. As cardeiais: são justiça, prudência, fortaleza, temperança.

AS VELAS NA MAÇONARIA


AS VELAS NA MAÇONARIA

A vela aparece, na Loja especulativa, na época das Corporações ou Guildas e provêm das ofertas votivas, relíquias dos séculos anteriores.

         Nas Lojas Maçônicas, há algum tempo passado, o cerimonial de acendimento das Luzes se revestia de uma beleza incomparável, principalmente no que tange ao respeito e aos votos que as envolviam.

         Esta cerimônia era, sem dúvida, uma das primeiras orações que se erguiam na Loja pedindo a proteção do G.:A.:D.:U.: para os trabalhos. Por isso mesmo, a atitude mental dos presentes era de suma importância, eis que eles deviam acompanhar a cerimônia com o pensamento elevado e com a mais humilde contrição.

As velas eram acesas durante a sessão em Loja, mesmo se ela fosse realizada em pleno dia, visto que tais velas não objetivavam dispensar a escuridão material, mas sim, deviam cumprir a magia que lhes cabe nos trabalhos. No Templo maçônico, as velas são a manifestação do Fogo Sagrado e não um mero detalhe do Ritual.

A quantidade de velas, sua distribuição pelo Templo e seu simbolismo em cada grau (em especial nos graus ditos filosóficos), são determinados minuciosamente nos rituais maçônicos.

A vela, simbolicamente, é a transmissão ou transmutação, ou melhor, a passagem de um estado da natureza para outro. Do sólido (corpo da vela) para o líquido (cera derretida) e para o gasoso (fumo), pelo grande mediador que é o fogo. A vela, além disso, pela sua luz bruxulenta e sempre em movimento, é um catalisador ideal para quem se dedica à profunda meditação, fixando sua chama.

As velas representam um simbolismo ternário que os escritores religiosos não deixam de destacar. Para eles é a imagem da trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; sendo a cera o Pai; o pavio o Filho e a chama o Espírito Santo. Pode também representar o ternário: Corpo, Alma e Espírito. A vela é, ainda, a imagem da sublimação espiritual. Na Loja Maçônica representam o ternário: Sabedoria, Força e Beleza.

A vela apresenta um simbolismo vital, isto é, fálico. Esse mesmo simbolismo também é encontrado na flor.

A Luz física é o emblema da Luz espiritual. A vela incandescente dos altares medievais e das antigas corporações tem a idéia de consagração e também de promover a guarda (dos votos de gratidão – por graça recebida).

         Acrescentamos que todas as artes corporativas mantinham, nas vizinhanças de uma Igreja, um altar cheio de velas ofertadas ou obtidas através de tributos (ou multas) impostos aos membros. O uso de velas em Lojas é um costume muito antigo, mas não exclusivamente religioso. Durante o século XVIII, tanto nas Lojas dos “Modernos” como dos “Antigos” os Maçons ingleses acendiam velas, liturgicamente, sobre altos candelabros

A ORIGEM DAS VELAS


ORIGEM DA VELA

         Desde tempos antiqüíssimos o fogo tem sido fonte de luz, calor e símbolo de conforto para o homem. Sempre representou o poder do bem.

         A Mitologia Grega nos conta que Prometheu roubou o “fogo” sagrado dos deuses para animar sua criação que havia moldado em argila. Isto podemos interpretar como o despertar da consciência do homem que, a partir desse momento, tornou-se suficiente para poder raciocinar e filosofar sobre sua existência. 

O homem aprendeu a cozinhar os produtos animais que caçava e verificou que assim se tornavam mais saborosos. Mais tarde percebeu que as gorduras que derretiam dessa cocção eram inflamáveis e emitiam assim uma LUZ melhor e, ainda, que uma fibra embebida nessa gordura, retardava a combustão e lhe dava uma iluminação mais intensa do que o fogo da queima da lenha. Assim, provavelmente, então, nasceu a VELA. 

O fogo sempre esteve presente em todos os templos antigos e venerado como uma das manifestações de Deus. No centro de cada Templo da Antigüidade existia um Altar onde eram queimadas dádivas destinadas a conquistar a simpatia dos deuses, prestando a devida compensação por faltas cometidas, pois no raciocínio primitivo dos antigos, cada falta devia ser compensada pela perda de um bem material.

Assim, sacrificavam animais ou produtos da colheita sujeitando-se a um prejuízo material. Com o advento do cristianismo, que determinou a proibição desse sacrifício, este foi substituído pela missa e o fogo pelas VELAS. Como nossa Ordem é fiel à tradição ela adotou, como adota até hoje, o mesmo proceder

TRONCO DE SOLIDARIEDADE


Tronco de Solidariedade

Charles Evaldo Boller


Sinopse  Considerações a respeito do Tronco de beneficência ou de solidariedade; ritualística de coleta; interpretação mística e filosófica.

No Rito Escocês Antigo e Aceito é explicado ao neófito que o Tronco de Solidariedade arrecada dinheiro, denominado metais, que serão distribuídos depois aos necessitados. O obreiro coloca seu óbolo na mão e a fecha, coloca-a dentro da bolsa de coleta e lá dentro a abre e solta sua doação, deposita para si mesmo, soltam-se os fluídos da ponta de seus dedos, energizando o conteúdo da bolsa, fecha a mão e a retira fechada. Ao retirar a mão fechada significa que assim como ele pode colocar o que lhe ditar o coração, também poderá tirar quando necessidades o afligirem. Daí deduzindo que os necessitados a serem socorridos em primeira instância são os próprios irmãos do quadro.

Existem relatos que creditam a origem deste procedimento como remanescente ao tempo em foi construído o templo de Salomão, onde ferramentas, projetos, documentos e pagamento dos obreiros eram colocados dentro das colunas do templo, que eram ocas exatamente para esta finalidade. O pagamento de companheiros e aprendizes origina-se da tradição de retirar do interior do tronco das colunas o salário a que faziam jus.

Mas a origem mais convincente e lógica é francesa, pois naquela língua a palavra "tronc" pode ser usada tanto para tronco humano como para caixa de esmolas. Guarda-se apenas a simbologia deste procedimento, em verdade as colunas B e J dos templos atuais são meras figuras simbólicas e não são ocas.


A circulação ritualística da bolsa de solidariedade obedece ao formato de duas estrelas de seis pontas, que por sua vez são compostas cada uma por dois triângulos um dentro do outro, em posição invertida.

A marcha inicia no ocidente, entre colunas, em direção ao oriente. O irmão hospitaleiro coloca a bolsa colada a sua cintura, ao lado esquerdo do corpo e inicia a marcha. Sem olhar para o que é depositado na bolsa vai passando por todos os obreiros em loja. O venerável mestre, primeiro vigilante e segundo vigilante definem o primeiro triângulo; orador, secretário e guarda do templo definem o segundo triângulo, o que resulta na primeira estrela; depois passa pelos oficiais e obreiros do oriente, pelos mestres e oficiais da coluna do sul e pelos mestres e oficiais da coluna do norte, definindo o terceiro triângulo; companheiros, aprendizes e o cobridor externo formam o quarto triângulo e completam a segunda estrela. E por fim, o cobridor externo segura a bolsa, e o próprio hospitaleiro deposita seu óbolo na bolsa, retoma a bolsa, lacra-a e conclui o giro da bolsa postando-se entre colunas. Comunica ao venerável mestre que a tarefa está cumprida e recebe instruções do que deve fazer em seguida.

Normalmente o hospitaleiro leva a bolsa lacrada até o altar do tesoureiro e ambos conferem o valor coletado. Em seguida o tesoureiro comunica ao venerável mestre o valor arrecadado. Durante a circulação da bolsa nenhum irmão pode adentrar ou sair do templo. Normalmente é momento em que os obreiros aproveitam para recolhimento espiritual ou relaxamento, pois o ato de doar é tido como místico, é o sacrifício da oferenda que se faz como culto ao conceito de Grande Arquiteto do Universo de cada um. Para tornar o momento mágico o mestre de harmonia baixa a intensidade das luzes e executa músicas suaves. É uma parte do ritual que se não executado é considerado como se aquela sessão não foi válida, à exceção das sessões brancas.

O retirar de metais não ocorre no instante em que o obreiro retira a mão da bolsa, mas é solicitado ao venerável mestre que determinará a seu critério mandar efetuar sindicâncias, para só então fornecer os recursos financeiros ao irmão em necessidade. Normalmente sequer é o beneficiado quem faz a solicitação, na maioria das vezes tal ação parte do hospitaleiro, mas pode ser qualquer outro irmão do quadro.


O irmão que não consegue pagar suas contas tem direito ao uso destes recursos? Não! Isto não é situação válida para obter recurso deste fundo. O obreiro teve sua casa queimada ou uma doença grave sobre ele se abateu de forma inesperada, pode ser socorrido com recursos do Tronco de Beneficência? Sim! À critério do venerável mestre e da loja.

Sempre precisa haver razão válida, de real valor humanitário para se efetuar algum socorro. E esta ajuda é feita muitas vezes de tal maneira que o beneficiado sequer sabe de onde vem o recurso, é feita também de tal forma que não humilhe aquele; tem somente o objetivo de amenizar o sofrimento de quem realmente necessita. É por isto também conhecido como tronco da viúva, onde os filhos da viúva são os maçons.

Quando os fundos do tronco dos pobres ou da viúva atingem valor razoável, parte dele é destinado para obras de beneficência. Nunca é totalmente gasto, sempre fica um fundo para a eventualidade de haver necessidade de socorrer algum irmão em real necessidade emergencial.

Não colaborar com o ato litúrgico do tronco de solidariedade é o mesmo que fugir da prática da caridade e torna o maçom indigno de exercer todos os demais privilégios maçônicos. E se possuir posses que lhe permitam fazê-lo, e não o faz, torna-se desonesto para consigo mesmo, pois poderá ser ele próprio o beneficiário daquele óbolo que coloca na bolsa. Se não colabora por vaidade ou avareza o seu caráter não é bom, ele deve desconfiar que tenha algo errado consigo mesmo. Dar esmola não significa mixaria, ninharia, insignificância; é melhor que não coloque nada e arque com as consequências que sua consciência lhe exigir.


É pela beneficência que o verdadeiro maçom se torna digno na procura de alcançar a glória de merecer de parte daquilo que ele considera o Grande Arquiteto do Universo, o seu Deus, o prêmio de fazer parte da edificação da sociedade.

Em sendo tão séria esta disposição então porque abusar da sorte: hoje está tudo bem, mas quem sabe o que o amanhã reserva?

Bibliografia:

1. ASLAN, Nicola, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, Volume I, ISBN 85-7252-158-5, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 1270 páginas, Londrina, 2003;
2. CAMINO, Rizzardo da, Dicionário Maçônico, ISBN 85-7374-251-8, primeira edição, Madras Editora Ltda., 413 páginas, São Paulo, 2001;
3. CASTELLANI, José, Dicionário Etimológico Maçônico, A-B-C, Coleção Biblioteca do Maçom, ISBN 85-7252-169-0, segunda edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda., 143 páginas, Londrina, 2003;
4. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix Ltda., 550 páginas, São Paulo, 1989;
5. Paraná, Grande loja do, Ritual do Grau de Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, terceira edição, Grande loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001.

Data do texto: 02/09/2008

Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.

Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná

Grau do Texto: Aprendiz Maçom

Área de Estudo: Filosofia, Maçonaria, Ritualística

O BALANDRAU E SEU USO NA MAÇONARIA


O BALANDRAU
E  SEU USO EM LOJA
Embora, na opinião de muitos, não seja esta uma discussão tão importante, é, de fato, uma questão interna de Loja que sempre causa alguns transtornos nas Sessões Maçônicas, entre aqueles que condenam o uso do balandrau e aqueles que o defendem. Para alguns Irmãos, o traje maçônico correto é o terno escuro, de preferência preto ou azul-marinho, especialmente em sessões magnas, sendo tolerado o uso do balandrau.
Outros sustentam a idéia de que tanto em Sessões Magnas, quanto Ordinárias, pode-se usar apenas o balandrau. Discussões à parte, para mim o mais importante é o Maçom participar da Sessão com todo o seu coração, imbuído da seriedade que o momento exige. É como diz o ditado “o hábito não faz o monge”.
Embora alguns autores afirmam que o balandrau não é veste maçônica, na realidade o seu uso remonta à primeira das associações organizadas de ofício, a dos Collegia Fabrorum, criada no séc. IV a.C., em Roma.
Quando as legiões romanas saíam para as suas conquistas bélicas, os collegiati acompanhavam os legionários, para reconstruírem o que fosse destruído pela ação guerreira, usando, nesses deslocamentos, uma túnica negra; da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos maçons medievais, quando viajavam para outras cidades, feudos, ou países, usavam um balandrau negro. Assim, o balandrau, que é veste talar – deve ir até os talões, ou calcanhar -, foi uma das primeiras vestes maçônicas.
Teve inicialmente o seu uso ligado às funções do 1° Experto, durante os trabalhos de Iniciação em que atendia o profano na Câmara de Reflexões e na cena de S. João. Acreditamos que o nosso clima tropical, a comodidade que o mesmo oferece ao usuário e especialmente o seu baixo custo fizeram com que se difundisse entre nós.
Segundo Nicola Aslan, a presença do Balandrau remonta à última metade do séc. XIX, tendo sido introduzida na Ordem Maçônica pelos Irmãos que faziam parte, ao mesmo tempo, de irmandades católicas e de Lojas Maçônicas, e que foram, sem dúvida, o motivo da famigerada Questão Religiosa, nascida no Brasil por volta de 1872. Rizzardo Da Camino, escreve:
“O Balandrau surgiu no Brasil com o movimento libertário da Independência, quando os maçons se reuniam sigilosamente, à noite; designando o local, que em cada noite era diverso, os maçons percorriam seu caminho, envoltos em balandraus, munidos de capuz, com a finalidade de penetrando na escuridão permanecerem ‘ocultos’, nas sombras para preservar a identidade”.
Fica aqui, pois esclarecido que o emprego do Balandrau é aceitável e freqüente, na Maçonaria Brasileira, desde que comprido até os pés, mangas largas, de cor preta, fechada até o pescoço e sem qualquer insígnia nele bordada. Mas lembrando sempre: que a consciência do homem está no seu interior e não na roupa.
O negro significa ausência de cor, empresta as sessões um clima pesado de luto; igualando a todos, não haverá distinção para analisar qualquer personalidade; todos emergem em um oceano de neutralidade. Que lições podem tirar desse costume maçônico? Que a parte externa de nós próprios, em certas oportunidades mostra-se em trevas ansiando todos por uma luz.
Lendo alguns artigos de autores maçônicos da atualidade, percebemos que há até entre eles algumas idéias que, se não chegam a se contradizerem, mostram algumas diferenças de pensamento, principalmente em relação ao uso do balandrau em Loja.
Este trabalho visa trazer algum esclarecimento sobre o tema aos meus irmãos da Loja Maçônica Asilo da Virtude, Loja essa que me proporcionou enxergar a luz maçônica e da qual tanto me orgulho. Tentarei ir por partes e peço um pouco de paciência, caso venha extrapolar um pouco o tempo, que eu sei ser de 15 minutos.
BALANDRAU [lat. balandrana; it. palandrano] é uma Capa em feitio de batina, feita de tecido leve e preto.
Loja Maçônica Obreiros do Irajá