segunda-feira, 3 de agosto de 2015


MAÇONARIA- A CADEIA DA UNIÃO

Autor: João Anatalino

" As pessoas formam famílias, tribos, sociedades, nações. Todas essas entidades, - das moléculas dos seres humanos e destes aos sistemas sociais ─ podem ser considerados "todos" no sentido de serem estruturas integradas e também "partes" de "todos" maiores, em níveis superiores de complexidade. De fato, veremos que "partes" e "todos", num sentido absoluto, não existem."
Fritjof Capra


Para desenhar a composição estrutural do cosmo, o Grande Arquiteto do Universo se vale de duas estratégias fundamentais: a pluralidade e singularidade. Isso significa que tudo, no mundo, tem uma estrutura singular e coletiva ao mesmo tempo, sendo que uma depende da outra para existir. Dessa forma, indivíduo e sociedade se completam, e o que acontece com um repercute na outra, o que nos torna todos responsáveis pelo que acontece no mundo. 
  
Segundo alguns estudiosos[1] o universo em que vivemos se manifesta aos nossos olhos sob três faces: pluralidade, unidade e energia. Sob um rosto multiforme e variado, ele é um organismo que esconde uma indissolúvel unidade, mantido pela energia contida no núcleo de cada um dos seus elementos. Essa energia é a informação inicial que neles se hospeda, e os faz procurar, no ambiente em que se manifestam, os elementos que necessitam para realizar a necessária complementaridade.

A atomização é o processo pelo qual os constituintes básicos da matéria universal se dividem, se qualificam e depois se reúnem novamente, formatando as realidades do mundo real. E em cada átomo da matéria decomposta, reflete glorioso, esse indefinível sentido de unidade, que se manifesta, pela manutenção, em todas as partes pelas quais ela se multiplica, das propriedades observadas no todo. 
Por isso se diz que o universo inteiro está contido em cada grão de poeira existente no cosmo, e também em cada célula dos organismos que a natureza criou. E o universo reflete a estrutura de cada organismo que o compõe.[2]

Na intimidade do ínfimo se encontram as propriedades do imenso com todas as suas intenções e qualidades. É como se todo o real existente fosse derivado de uma substância única, que subsiste exatamente por causa dessa sua propriedade essencial, que é a identidade entre todas as suas partes.
Pelo fato de ser homogênea, a essencialidade da matéria consegue projetar-se, como uma vontade que une, sobre todos os múltiplos de sua substância, conferindo à todas as coisas a unidade que se observa entre os elementos materiais. Essa unidade é uma força que faz com que todos os elementos do universo, e particularmente os seres vivos, pratiquem uma necessária interação, como função das relações que necessitam para realizarem suas finalidades de existência. Essa relação de complementaridade não precisa integrar, necessariamente, um ideal humanístico para ser natural. Nesse sentido, o predador que abate e consome a sua presa, na ação natural de preservar a própria vida, não comete nenhum ato antinatural. É uma interação útil e necessária, da qual a natureza se vale para realizar a sua função. Portanto, não há conflito na luta entre o leão e o antílope, ou entre a pomba e o gavião, mas sim, uma estratégia da natureza na sua tarefa de seleção e preservação da vida. . 
É diferente da luta que se trava meramente pela superação ambiciosa e arrogante do adversário, que ultrapassa os limites da necessidade de sobrevivência e aperfeiçoamento da espécie, que se observa no seio da sociedade humana. Aqui a função natural da luta ultrapassa os limites da estratégia útil e necessária para se tornar uma atividade predatória sem sentido nem finalidade, praticada única e exclusivamente para atender a um desejo egocêntrico de dominação. Se a natureza inventou a luta pela sobrevivência, a arrogância e a estupidez humana criaram o conflito e a guerra pela supremacia. E se um dia a natureza, ou Quem, o Que a controla, optar pela sua supressão, será exatamente essa especificidade do ser humano que justificará a sua extinção.

A energia resultante de uma interação entre dois elementos se mede pelo grau de transformação que cada um dos elementos dessa relação sofre. Esse resultado é também a medida da evolução individual de cada um e dos seus resultantes em termos coletivos. A energia que transmitimos uns aos outros, a energia que transmitimos às coisas com as quais interagimos, a energia que deles recebemos, eis o motor de todas as transformações; e a potencialidade do quanto "somos" em cada momento da nossa vida é o resultado desse processo. Quando me relaciono com uma pessoa, ela se modifica em consequência da informação que recebe de mim. Da mesma forma, sou modificado pela informação que dela recebo. Informação é energia e nós somos produtos de relações. E a nossa sociedade vive de relações entre relações. Por isso nada pode ser descartado. E nenhum argumento justifica a exclusão, seja do que for que a natureza um dia produziu. Esse é o melhor argumento contra qualquer tipo de racismo, ou de doutrina que defenda qualquer forma de exclusão, fundamentada na diferença. No desenho do universo que Deus projetou, a falta do mais insignificante elemento implica em torná-lo incompleto. E torná-lo incompleto é mutilá-lo. E tudo que é mutilado é feio.

Maçonaria é, acima de qualquer outra finalidade, o sentimento de união. União dos Irmãos em uma cadeia onde a energia de cada um é canalizada para a “egrégora” que se forma e a todos beneficia, Por isso o simbolismo do salmo 133: “ó quão bom e quão suave é que os Irmãos vivam em união. É como bálsamo precioso que desce sobre a barda de Aarão e molha a orla dos seus vestidos; é como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sion, porque ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre.”

Assim se fundamenta este que é o mais importante de todos os conceitos trabalhados pela Maçonaria, enquanto Ordem ecumênica, de âmbito mundial. A Cadeia da União é o símbolo dessa unidade atômica onde as energias individuais se congregam para formar um tecido único, de substância indestrutível, ao qual a humanidade inteira pode recorrer nos seus momentos de maior angústia existencial. Essa é uma visão que não pode ser ser perdida pelos Irmãos.



[1] Ver Teilhard de Chardin- O Fenômeno Humano, Cultrix, São Paulo, 1968
[2] Fórmula admiravelmente deduzida pelo preceito hermético, constante da Tábua de Esmeralda, atribuída a Hermes Trismegisto, que diz que “o dentro é igual ao fora e que está em baixo é igual ao que está em cima.”
João Anatalino





O CÍRCULO DA LUZ

Autor: João Anatalino

A alquimia como exemplo


Os adeptos da arte de Hermes (a alquimia) acreditavam que na matéria bruta, sobre a qual deveriam trabalhar existia um caos, uma treva espessa, um depósito de energias desorganizadas que deveriam ser recompostas em sua estrutura através de um processo de manipulação química que tinha um sentido ascético que se podia chamar de quase religioso. 
Isso porque no núcleo de todo grão de matéria residia a glória de Deus. Assim, no interior da “matéria prima da obra” habitava a chama divina, a luz interdita, o raio, que liberto das suas amarras físicas, daria ao seu libertador o controle sobre todas as forças da natureza. Para os alquimistas, era também essa energia, que uma vez liberada, conferia a todos os corpos, minerais, vegetais ou animais, suas conformações físicas, fazendo deles um elemento químico, uma planta ou um animal, sendo também responsável pelos graus em que se organizavam seus elementos internos, dividindo-os em espécies.[1]
Essa energia era a matéria prima do espírito. O espírito, que é luz, habitava em meio á trevas. Ao ser libertado precisava ser convenientemente dirigido. Pois assim como os núcleos atômicos de materiais pesados que são rompidos sem medidas de controle podem causar explosões imensas, com danos irreversíveis para o operador e para o ambiente em que ele opera, também o espírito liberado sem direcionamento, sem “magistério” próprio, pode causar terríveis perturbações.


A alquimia entrou na maçonaria pelas mãos dos chamados “maçons aceitos” do grupo rosacruciano, ali pelo início do século XVII. Ganhou adeptos em todas as Lojas maçônicas da época, provavelmente pela analogia que as tradições alquímicas guardavam com a idéia maçônica, de aprimoramento do espírito através do trabalho manual.
Para os alquimistas, o trabalho de manipulação da matéria no laboratório provocava no espírito do operador o mesmo resultado que o trabalho de edificação trazia para o construtor de edifícios sacros. Ambas eram práticas sacralizadas, que levavam ao êxtase aqueles que nelas eram iniciados. Além disso, a esperança alquímica de revelação divina, através da manipulação da matéria, estava no mesmo nível da esperança maçônica, de obtenção da Gnose através do simbolismo da construção de um edifício sagrado, como eram as igrejas medievais. Daí tanto se pode dizer que a alquimia era uma espécie de maçonaria praticada operativamente nos laboratórios por filósofos químicos, da mesma forma que a maçonaria era uma alquimia espiritual praticada num canteiro de obras de um laboratório. Ambas eram derivações de artes operativas: a alquimia provinha da prática da antiga metalurgia, a maçonaria da prática da arquitetura.
Que tais tradições fossem associadas a uma disciplina espiritual, visando o mesmo resultado, não causa nenhuma perplexidade. Afinal, o que pregavam as crenças religiosas e as tradições iniciáticas de todos os tempos, senão a idéia de que o espírito humano é um elemento que deve ser expurgado de suas impurezas, para tornar-se uma entidade “luminosa”, limpa, pura, capaz de alçar-se ao território das divindades e com elas conviver num nível de igualdade? E não era essa também a finalidade da religião, a meta da filosofia, a esperança gnóstica e a realização derradeira de toda experiência mística?
Foi nesse passo que a Alquimia deixou de ser apenas a Arte de Hermes, destinada a apreender os segredos da natureza e aplicá-los na transmutação dos metais, para transformar-se em verdadeira ciência do espírito, capaz de realizar a iluminação do próprio operador, levando-o a um estado de consciência superior, que só um verdadeiro iniciado conseguia atingir. Essa era, pelo menos, a esperança da grande maioria dos praticantes da chamada Art d’Amour, como ficou conhecida entre os românticos adeptos da literatura espagírica, a alquimia. Pawels e Bergier descrevem bem esse processo: “ Finalmente pensamos o seguinte: o alquimista no fim do seu trabalho sobre a matéria vê, segundo a lenda, operar-se em si mesmo uma espécie de transmutação. Aquilo que se passa no seu crisol passa-se igualmente na sua consciência ou na sua alma. Há uma mudança de estado. Todos os textos tradicionais insistem nesse ponto, evocam o momento em que a “ Grande Obra” se realiza e em que o alquimista se transforma “ num homem desperto”’. Parece-nos que esses velhos textos descrevem deste modo o termo de todo o conhecimento real das leis da matéria e da energia, incluindo o conhecimento técnico”.[2] 
Eis, portanto, realizada a ascese espiritual, a iluminação buscada pelos místicos de todos os tempos, a Gnose dos antigos filósofos e o “insight “ do cientista. O operador alquímico é agora um Homem Novo, renascido das próprias cinzas, como a fênix da lenda, como a matéria prima mineral que durante anos a fio triturou, dissolveu, aqueceu no crisol e cozeu no seu forno, “matando-a e ressuscitando-a” inúmeras vezes, até que, por um fenômeno de interação entre suas moléculas modificadas e recombinadas infinitas vezes, produz-se o fenômeno. 
E ao mesmo tempo, enquanto a matéria prima se purifica no decorrer do processo, o operador alquímico torna-se também “purificado”, como o metal grudado no fundo do crisol. Ele é, agora, detentor de todo saber, todo conhecimento, todos os segredos da natureza e senhor do seu próprio psiquismo. É o Homem da Terra, feito á semelhança do Homem do Céu, o Homem Desperto das crenças teosóficas, o Homem Universal da esperança maçônica.[3]
Eis enfim, realizado o grande sonho da humanidade. Enquanto o alquimista possui agora um artefato (a Pedra Filosofal) capaz de introduzi-lo no mais íntimo dos segredos da natureza, ou seja, o processo pelo qual ela fabrica os elementos naturais, ele é também, como homem desperto, um verdadeiro eleito na sociedade em que vive, pois possui a Gnose, a verdadeira sabedoria que tudo transforma. 

Alquimistas e maçons

Essa também é a simbologia que se aplica ao maçom, homem regenerado pela iniciação no oficio, possuidor de uma consciência superior, que lhe permite “ver” e agir num domínio ampliado pelo mundo interior que a prática da Arte Real finalmente lhe assegura.
Não é sem motivo que muitos autores sustentam que o objetivo da maçonaria é a realização de uma obra espiritual comparável á grande obra dos alquimistas, representada pela Pedra Filosofal. Não é também irracional a comparação que se faz entre a construção simbólica do Templo de Salomão e a obtenção dessa “pedra”, capaz de transformar minerais impuros no mais puro ouro. E não é também por acaso que a iniciação maçônica, e o seu próprio catecismo, são pródigos de evocações a símbolos alquímicos. Pode dizer que a maçonaria é uma forma de alquimia praticada simbolicamente em uma Loja, ao invés de um laboratório, como faz um alquimista, tendo como matéria prima o psiquismo do praticante, e como finalidade a transmutação do seu próprio caráter. 
Bernard Rogers resume bem essa questão: “O objetivo que os franco-maçons perseguiam é a construção do Homem, isto é, da Humanidade Autêntica, concebida como projeto, a partir da construção do individuo”,escreve aquele autor. “Não causará surpresa”, prossegue ele, “o fato de que o eixo em torno do qual eles estabeleceram seu simbolismo seja a construção do Templo de Salomão, sendo o ser humano considerado como a morada da divindade. A quem venha opor esse propósito a afirmação de que há franco-maçons ateus, respondamos que nenhum desses, a menos que não mereça sua qualificação, poderia pelo menos negar sua fé na perfectibilidade do homem, cuja natureza divina- isto é - luminosa- não pode deixar de ser reconhecida por quem não tem medo das palavras e se recusa a tornar-se escravo do que esta ou aquela religião possa exigir dele”. [4]


Por acaso também não é que a disposição dos símbolos, numa Loja Maçônica, assemelhe-se, de forma notável, à quarta prancha do Mutus Líber dos alquimistas.[5] Ambas são visões simbólicas do universo. Nelas se representa a “energia dos princípios”, responsável pelas transformações internas e externas que se realizam na natureza e no homem. É na Loja que a mística da Palavra Perdida, o Verbo Divino, o Número Único, que na cabala representa o Principio Criador de todas as coisas, e na alquimia a ” flos coeli (flor celeste) “, “o dom de Deus” é captada pela alma humana no momento da iniciação. É essa energia que age, á medida que a cerimônia avança, para a realização da transmutação do neófito, conferindo-lhe um status que o eleva de sua condição anterior de profano á condição superior de iniciado.

O simbolismo do piso e dos painéis

Em tudo e por tudo o magistério alquímico guarda a mais estreita relação com a tradição maçônica. Tanto é que as cinco telas do Mutus Líber ocupam, na iconografia alquímica, a mesma posição que os painéis (quadros) na Loja Maçônica, onde se realizam as transmutações dos Irmãos, na passagem sucessiva das fases de iniciação nas Lojas Simbólicas.[6] Da mesma forma, observa-se que o mosaico do piso, que é obrigatório em todas as Lojas maçônicas, também seja largamente utilizado na simbologia alquímica. É que, em ambas as tradições, esse piso, formado por ladrilhos pretos e brancos, dispostos como uma mesa de xadrez, tem a função específica de “receber e filtrar a luz” que vem do Oriente, a “ Luz de Rá” das iniciações egípcias, Principio Criador de tudo que há no mundo. E as cores desse piso, em preto e branco, repetem as mesmas cores do mercúrio dos filósofos alquimistas.
Diz-se que o mosaico, na Loja Maçônica, é uma representação do piso que ornava o Templo de Salomão. Mas essa referência histórica é uma informação que não reflete o seu verdadeiro significado místico. Na verdade, desde o tempo de Moisés, ou até antes disso, esse traçado geométrico já representava ideias de alto conteúdo esotérico. Era utilizado nos templos egípcios, nos antigos templos fenícios e sírios, e nos templos greco-romanos como forma de captar e filtrar a luz solar, orientando-a para um fim determinado. Dessa forma, não é estranho que os alquimistas tenham utilizado semelhante disposição geométrica para preparar o seu “filtro”, fundamentados na mesma sensibilidade que orientou os profetas e hierofantes das religiões solares.
Como já referido, as mais antigas tradições maçônicas dizem que o Templo de Salomão era ornamentado por um piso mosaico formado por quadrados pretos e brancos, orientados em uma certa disposição geométrica, cujo significado esotérico está hoje perdido. Essa informação consta de diversos manuscritos antigos, pertencentes ao conjunto conhecido como Old Charges (As Velhas Instruções).[7] É bom lembrar, entretanto, que essa informação não consta da Bíblia nem em qualquer outro documento histórico, o que nos leva a pensar que o simbolismo do piso da Loja maçônica tenha, efetivamente, mais relação com o simbolismo alquímico do que, propriamente com as antigas tradições maçônicas herdadas da arquitetura salomônica.


A analogia entre o magistério alquímico e a prática maçônica, no entanto, é notável. Há uma similitude de objetivos em ambas as tradições e no processo de obtenção de resultados, que muito se assemelham entre si. Da mesma forma que na prática alquímica o “metal” se regenera a partir de uma conjunção entre a luz e as trevas, na maçonaria essa regeneração é operada a partir do sol e da lua. Eles estão representados no Oriente da Loja, atrás do trono do Venerável Mestre. No meio deles, no centro do triângulo, o “olho onisciente”, reina absoluto. 

O Círculo da Luz

Essa simbologia, inspirada em tradições egípcias, é representativa da crença de que tudo no universo emana da conjunção de dois princípios, resultando num terceiro, que se propaga por todo o real existente. O sol ali representado é Osíris, ou Rá, o Princípio Criador de tudo que existe no universo. Em Alquimia esse princípio é o fogo, cujo calor dilui os corpos submetidos á sua ação. A lua representa Isis, a deusa-mãe em cujo ventre se opera o milagre da regeneração (em alquimia é o athanor, o “ovo cósmico” onde a matéria prima se recompõe e recombina seus átomos), e o “olho onisciente” é o olho de Hórus, o filho que nasce da união de Ísis e Osíris, após a ressurreição daquele deus (o próprio alquimista, organizador e realizador desse processo).
A trindade egípcia, nos trabalhos de Loja, é representativa do “mistério maçônico” que se nela se opera. Através desse processo o maçom alcança a regeneração psíquica que fará dele o “o homem universal”, típico arquétipo de todas as doutrinas esotéricas. É da luz que vem do Oriente, a partir da consagração dada pelo Venerável, que o iniciado atinge a qualidade de homem renascido, após ter sofrido a morte psíquica, simbolizada por sua passagem pelos subterrâneos e sua descida ao ventre da terra. 
Por isso é que após ter passado um período perdido nas trevas, realizando diversas provas e viagens, o neófito maçom “vê” a luz, no momento em que lhe é retirada a vendas dos olhos. Momento limite de sua iniciação, ele percebe que essa luz lhe é conferida pelos astros ali representados, simbolizando que ele, finalmente, superou a primeira fase de sua jornada iniciática e sabe agora da existência de uma verdade maior que precisará ser descoberta aos poucos, subindo uma escada elevatória que o levará ao cume desses mistérios. Exatamente como fazia a prática alquímica com seus adeptos.
Aqui a correspondência entre a maçonaria e a tradição alquímica se torna ainda mais evidente: o Aprendiz, que durante longo tempo permaneceu num estado de semente, lançada num profundo negro, evolui para o branco da regeneração, quando se torna Companheiro e conhece o vermelho da ressurreição ao tornar-se Mestre. O Mestre que renasce a partir de Hiram morto, eis o apogeu do processo que simboliza o nascimento de um maçom na sua plenitude iniciática, pois ao iniciar-se Aprendiz, e ao elevar-se a Companheiro, ele ainda está em processo de gestação. Será preciso um longo processo de manipulação e aprimoramento do seu caráter até que ele se torne, enfim, o Homem Universal, alicerce da nova sociedade, justa e perfeita, que a Maçonaria se propôs a construir.
Essa é a alquimia que se processa no interior de uma Loja Maçônica, que, nesse mister repete o trabalho feito no laboratório do adepto da Art d’ Amour. Assim, o neófito que busca a realização maçônica carrega na sua alma o mesmo anseio do adepto que se iniciava na Arte de Hermes. O que ele busca, de fato, é entrar naquele “Circulo da Luz” que confere aos iniciados uma nova visão do mundo. E tanto nos laboratórios dos artistas da Grande Obra, como nos templos maçônicos de hoje, quando um Irmão é iniciado ouve-se dizer que A LUZ FOI FEITA , A LUZ SEJA DADA AO NEÓFITO.


[1] Aristóteles chamava essa energia de Enteléquia, principio que orienta a conformação final de todas as realidades universais.
[2] O Despertar dos Mágicos- Cultrix, São Paulo, 1968. Uma das mais imaginativas aplicações desse princípio foi utilizado pelo escritor escocês Robert Louis Stevenson para compor o seu clássico conto “The Strange Case of Dr. Jekil and Ms. Hyde”, que em português recebeu o título de “O Médico e O Monstro”.
[3] Todos esses arquétipos cultivados pelas tradições esotéricas tem a mesma base de fundamentação: a de que o homem, na sua origem, era perfeito e que por algum motivo perdeu essa condição. Mas através de um processo de purificação do seu espírito (ou mente) pode voltar a sê-lo.
[4] Bernard Rogers- Descobrindo a Alquimia-Círculo do Livro, 1986
[5] O Mutus Liber (em latim, "livro mudo") é um tratado de alquimia publicado na França, na segunda metade do século XVII. É composto apenas por uma coleção ordenada de ilustrações místicas, que para os conhecedores dessa arte tem a finalidade de transmitir o segredo da fabricação da Pedra Filosofal, objetivo final de todo alquimista.
[6] Nas Lojas Maçônicas, cada grau é simbolizado por um painel, que representa aquela fase de passagem por aquele grau de iniciação. É uma iconografia semelhante ao trabalho alquímico representado na admirável coleção de painéis do Mutus Liber. Ali se pode perceber diversos símbolos iconográficos muito caros aos maçons, como escadas (Escada de Jacó), elevações espirituais, trabalhadores manuais (trabalho com pedra bruta), etc. Tudo leva a crer que a própria simbologia maçônica, expressa nos painéis dos diversos graus, tenha sido inspirada pelo processo de obtenção da Pedra Filosofal, conforme descrito no Mutus Liber.
[7] Alex Horne - O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. São Paulo. Ed. Pensamento, 1998.
João Anatalino

SIMBOLISMO MAÇÔNICO- O ORVALHO DO MONTE HERMON

Autor: João Anatalino

A tradição dos “lugares altos”


Os chamados “lugares altos” sempre exerceram uma atração quase magnética sobre o espírito dos povos antigos. Eles eram considerados como altares naturais onde as divindades se apresentavam para exercer seu domínio sobre os homens. Não é pois, sem razão, que a grande maioria dos templos da antiguidade eram erguidos sobre elevações montanhosas, e que as grandes manifestações de fé e espirito religioso fossem feitas nos lugares altos.[1]
A história religiosa dos hebreus, e depois dos judeus, herdeiros desse antigo povo também está umbilicalmente ligado á esse simbolismo. Com efeito, uma das mais sagradas tradições de Israel é a de construir altares nos lugares altos e situar as manifestações da divindade nesses lugares. Mesmo antes de Moisés ter o seu encontro com Jeová no Monte Horeb, e depois levar o povo hebreu para um encontro com a sua divindade nos pés do Monte Sinai, onde receberia as Tábuas da Lei, várias outras elevações terrestres eram consideradas sagradas pelos israelitas e adoradas como locais sagrados. Eram sempre nos lugares altos que deviam ser realizados os sacrifícios; também nesses lugares a espiritualidade devia ser buscada.[2]
Historicamente o povo de Israel dividiu sua devoção entre dois lugares altos. O Monte Moriá, onde foi construído o Templo de Jerusalém, e o Monte Gerizim, que após a cisão do reino israelita, ocorrida após a morte de Salomão, tornou-se a montanha sagrada dos israelitas do norte, em oposição aos judeus, que fizeram de Jerusalém e do templo de Salomão, o seu lugar sagrado.[3] Essa divisão devocional perdurou por muitos séculos e ainda era um forte elemento de discórdia entre os israelitas nos dias de Jesus, pois enquanto os judeus só aceitavam o Templo de Jerusalém como único lugar de adoração de Jeová, os samaritanos, como então eram conhecidos os descendentes dos rebeldes israelitas do norte, o faziam no Monte Gerizim.[4]

O Monte Hermon

Mas a tradição bíblica consagra a devoção dos israelitas pelos lugares altos muito antes das disputas políticas que destruiram o reino unificado de Israel. Um desses lugares santificado era o Monte Hermon (em hebraico, Har Hermon, que se traduz por "montanha sagrada", também conhecida pelo nome de Djabal el-Sheikh, " a montanha do sheik” ou "montanha nevada". 
O Monte Hermon está localizado na parte sul da fronteira do Líbano com a Síria.Tem 2814 metros de altitude, e o seu pico está sempre coberto de neve, oferecendo um vistoso contraste com as terras ao seu redor, desérticas e sempre expostas ao sol inclemente.
Na encosta sul do Monte Hermon situam-se as Colinas de Golã, área capturada por Israel em 1967, na famosa Guerra dos Seis Dias. Posteriormente, em 1973, na chamada Guerra do Yom Kippur, o Monte Hermon foi palco novamente de encarniçadas batalhas entre Israel e seus vizinhos. Com a vitória israelense esses disputados territórios sagrados, tanto para judeus como para seus vizinhos, foram definitivamente ocupados por Israel e fazem hoje parte do seu território, embora isso jamais tenha sido reconhecido pelos adversários, nem pela ONU, pois este organismo internacional não reconhece a legitimidade de territórios adquiridos pela força. Não obstante, Israel continua ocupando até hoje esses lugares.
A Bíblia, no livro dos Juízes, chama o Monte Hermon de Baal-Hermon, e diz que ali habitava a tribo dos heveus, povo cananeu que aceitou de bom grado a ascensão de Israel, e ao que parece, adotou o culto israelense, pois não foram exterminados comos os demais povos cananeus e até forneceram esposas para os homens de Israel.[5] Assim, a história do povo de Deus está bastante ligada a esse monte sagrado, que fica nas montanhas do Líbano, de onde, segundo a tradição, de “o Senhor derramava a benção” para as terras do sul, onde os israelitas assentariam definitivamente suas tendas e depois fundariam a sua nação. 

O simbolismo do Salmo 133

Na verdade, essa tradição está conectada a um fator geopolítico de fundamental importância para essa região e que, até hoje, fundamenta a encarniçada disputa que se trava entre os povos que nela habitam. É que nessas montanhas nascem os cursos de água que alimentam o principal rio da região, o Jordão, única fonte de abastecimento de água ali existente. É pois, um território de excepcional importância estratégica para todos os países que ali tem seus interesses: Israel, Jordânia, Síria, Líbano e autoridade palestina. 
O Monte Hermon seria o local da benção, de onde o Senhor derramaria o seu “orvalho precioso”, representado pela neve que se derrete e alimenta os cursos de água que fertilizam todo o Vale do Jordão, que na tradição de Israel, é o centro nevrálgico da chamada “Terra Prometida.” 
Justifica-se, portanto, o simbolismo presente no salmo 133, que consagra a tradição da união fraterna. Nesse simbolismo está presente a ideia de que Israel representa a realização prática dessa união, fundada em um pacto sagrado, firmado para uma convivência fraterna entre os Irmãos e na estrita obediência á uma única divindade. Uma verdadeira confraria social e política, que se regia pelos fundamentos que viriam a ser, mais tarde, consagrada por todos os povos livres do mundo: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

O orvalho de Hermon


Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes.
É como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre.”

O “orvalho do Hermon” é, portanto, a benção do Senhor, que é derramada sobre todos os povos que seguem a sua lei. Pois a obediência á lei de Deus é a verdadeira argamassa que une os povos em todo o mundo. Sua comparação ao óleo que desce sobre a barba de Aarão é uma preciosa analogia que identifica elementos de grande significado na crença dos israelitas. Primeiro, por que Aarão foi o primeiro sacerdote consagrado por Moisés, e ele representa, para o povo de Israel, o iniciador oficial do culto á Jeová. Por outro lado sabe-se que a barba, entre os antigos povos era um elemento simbólico de magna importância para identificar os eleitos da divindade. Assim, a Barba de Aarão simboliza, na verdade, todo o povo de Israel, que por seu intermédio era abençoado quando o óleo sagrado descia sobre a barba do sacerdote e molhava a orla das suas vestes sacerdotais.
Como se sabe, esse simbolismo tem uma correspondência muito significativa nos ensinamentos da Cabala. De acordo com essa antiga tradição judaica, a barba é o influxo que nasce na primeira Séfora e percorre toda a Árvore da Vida unificando a totalidade das realidades existentes no universo. 
 

A ÁRVORE SEFIRÓTICA

A Árvore Sefirótica, na tradição cabalística, é uma representação simbólica do Cosmo como realidade macro, que na sua manifestação energética, transmite o seu reflexo no homem como realidade micro. Por outro lado, a palavra barba, em hebraico, (Hachad) significa unidade, e por aplicação da técnica da gematria essa soma resulta no número 13. A=1, CH=8, D=4. Esses valores, segundo a numerologia da Cabala, correspondem às partes da barba do Macroprosopo, o Andrógino Superior ou Vasto Semblante, como a Cabala chama essa representação simbólica da energia que Deus manifesta no mundo. Essa manifestação gera o Microprosopo, que é a representação do universo material e do Andrógino Inferior, cuja proporção numérica e geométrica (o homem vitruviano) deu origem ao modelo do homem da terra. Daí o salmo 133 ser considerado um salmo cabalístico.[6]
Nesse sentido, o Monte Hermon seria a “cabeça” geográfica da Irmandade de Israel, de onde o orvalho santificado (óleo) escorre para o todo o corpo (o próprio território e povo de Israel), molhando a orla dos seus vestidos (os povos vizinhos que adotarem o culto israelense, os quais podem ser admitidos na Irmandade). Esse é o sentido da união fraternal contido no salmo 133 e do simbolismo do orvalho do Monte Hermon.[7] 
 

 O HOMEM VITRUVIANO

[1] Mesmo entre os gregos esse arquétipo era cultivado. Os mais famosos templos gregos foram erguidos sobre altas colinas. O mais famoso deles, o templo da deusa Atena, em Atenas, mais conhecido como Partenon, é um exemplo desse simbolismo. Foi construído no ponto mais alto da Acrópole, montanha situada nos arredores da capital grega no século V a. C. Outro exemplo desse simbolismo entre os gregos era a tradição de situar a morada dos deuses no famoso monte Olimpo, a mais alta montanha da Grécia. Essa montanha está situada a cerca de 100 km da cidade de Salônica, na região da Tessália.
[2] Abraão, por exemplo, subiu a uma montanha para sacrificar seu filho Isaque. Elias costumava subir ao Monte Carmelo para fazer suas orações.
[3] Referência á rebelião das dez tribos do norte, chefiada por Jereboão, por ocasião da sucessão de Salomão, que escolheu seu filho Roboão para sucedê-lo. A Bíblia relata esse episódio em Reis 12: 16.
[4] Por isso Jesus diz aos samaritanos: “crê-me que 
a hora vem, em que nem neste monte (Gerizim) nem em Jerusalém adorareis o Pai”. Pois os samaritanos se dirigiam ao Monte Gerizim para adorar a Jeová, enquanto os judeus diziam que isso só podia ser feito em Jerusalém. Na base do Monte Gerizim foi construída a cidade de Samaria, de quem os samaritanos tiraram o nome.
[5] Juízes, 3:3. O nome Baal-Hermon sugere que ali os antigos cananeus mantinham um santuário dedicado ao seu deus Baal, e que essa religião teria sido substituída pelo culto a Jeová.
[6] Macroprosopo, Vasto Semblante, Ancião dos Dias, são expressões simbólicas usadas pela Cabala para designar a Suprema Divindade. Microprosopo é a expressão simbólica para designar o “homem primordial”, que serviu de modelo para a criação do ser humano. Ver, a esse respeito, Knorr Von Rosenroth, Cabala Revelada, Madras, 2011. Na imagem 1, a Árvore Sefirótica, na imagem 2, o Homem Vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci, representando o “homem universal” o microprosopo cabalístico.
[7] Outra prova do significado sagrado do Monte Hermon é o fato de Jesus ter escolhido esse monte para ser transfigurado. O significado simbólico dessa passagem é a de que, sendo o Monte Hermon “a cabeça” de onde a benção do Senhor escorre para Israel, nada estranho que ali fosse o lugar onde ele deveria ser “reconhecido” como o Messias das profecias. Por analogia, o altar do Venerável Mestre na Maçonaria, especialmente no rito Adoniramita, onde esse simbolismo é invocado com mais força, é chamado de Monte Hermon.
João Anatalino


LOJA DE MESA NO RITUAL BRITÂNICO

JBNews

A Loja de Mesa ou Jantar Ritualístico do ritual britânico tem atributos diferentes do Jantar Ritualístico do REAA. O do REAA teve origem em França, nas Lojas Militares, em torno de 1780. Seu ritual foi desenvolvido, em Lojas militares, durante o 1º Império de Napoleão (1804-1814). Daí porque, seu ritual é rico em símbolos militares. Bem ao gosto francês há, nos Jantares Ritualístico do REAA, ornatos inseridos nos sinais, como por exemplo fazer sinais com facas (espadas ou alfanjes) e uso de guardanapos (bandeiras).

A Loja de Mesa no ritual britânico teve origem no século XVI, nos ágapes (boards) realizados após uma sessão maçônica. Herdou influências da realeza britânica após a Revolução Gloriosa (1689)1, com William III2, da casa de Orange-Nassau. Teve sua ritualística desenvolvida após 1717, com marcantes influências hebraicas e celtas. As primeiras regras escritas do Jantar Ritualístico apareceram em 1721, em Londres.

Chama-se Banquete Ritualístico, Jantar Ritualístico ou Loja de Mesa. Banquete é derivado do italiano banchetto que significa “banquinho”, onde os primeiros cristãos sentavam durante ceias comunitárias (ágapes) nas catacumbas. Jantar Ritualístico – jantar do latim vulgar jantare significa comer numa refeição noturna; ritualístico do latim ritualis, -e significa cerimônia.

Até hoje, em todas as sessões na Grã-Bretanha, obrigatoriamente, realizam-se ágapes (boards). Mas, Jantares Ritualísticos (Festive Boards), somente em sessões comemorativas. O Royal Festive Board se realiza dias 24 de junho (fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717, e próximo ao solstício de verão no hemisfério Norte) ou 27 de dezembro (fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1813, e próximo ao solstício de inverno).

No ritual britânico, o banquete ritualístico é feito em loja fechada, isto é, não se abre a loja. Isto ocorre desde 1854, quando a rainha Victoria foi convidada e participou de um Festive Board. Desde então, usa-se o termo Royal Festive Board. Eventualmente, profanos podem participar do Jantar Ritualístico. É tradição, na Grã-Bretanha, a participação da Rainha no Jantar Ritualístico de Londres. Hoje, dia 24 de junho de 2014, dia de São João Batista e evocação do solstício de verão no hemisfério norte, comemorando 297 anos de fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, a rainha Elizabeth II, o Príncipe Consorte Philip, duque de Edimburgo, o Duque de Kent, Príncipe Edward George Nicholas (Grão Mestre Geral da Grande Loja Unida da Inglaterra) e vários membros da casa real britânica participaram de uma Loja de Mesa, em Londres, sessão presidida pelo Duque de Kent. Na verdade, o solstício ocorreu, em 2014, dia 21 de junho às 10:51 h.

A mesa do banquete deve ser disposta em forma de U, com a colocação do Venerável Mestre no Leste (chamada mesa do candelabro de sete braços, não é chamado de Oriente); o 1º Vigilante no Oeste (lado Norte) – chamada mesa do candelabro de cinco braços; o 2º Vigilante no Oeste (lado Sul) – chamada mesa do candelabro de três braços – e, os demais irmãos distribuídos nos braços da mesa, sendo os aprendizes dispostos no lado central dos braços. O Oeste não é chamado de Ocidente.

Existe uma homenagem ao último aprendiz iniciado, o único que no Ritual de Emulação tem levantada a abeta de seu avental. Este aprendiz senta-se à mesa do candelabro de sete braços, ao lado das autoridades presentes.

Nos banquetes ritualísticos maçônicos, come-se carneiros, chamados em hebraico de Korban (significa “sacrifício “ – ן ר ק) termo que se encontra na Torá e significa um sacrifício de um animal ofertado a YHWH. O significado de se comer cordeiro é um sacrifício simbólico ofertado ao GADU. Come-se pão ázimo ou matzá ( ) um pão assado sem fermento, feito somente de farinha de trigo e água. De acordo com a tradição hebraica, o pão ázimo foi feito pelos hebreus antes da fuga do Antigo Egito, porque não houve tempo para esperar até a massa fermentar (Êxodo 12: 39). O significado simbólico é: assim como a massa sem levedura não sofre um efeito corruptor, ao preparar a levedura de nosso corpo (1 Coríntios 5: 8), também demonstra-se o desejo de pureza, quando se deseja comemorar a liberdade em relação à escravidão. Na maçonaria, portanto, comer pão ázimo significa a liberdade dos vícios, ou “cavar masmorras ao vício e erguer templos à virtude”. Bebe-se vinho – yayin (יין ) que significa uma simbólica santificação – Kiddush ou Kadosh – קדוש – significa “sagrado” ou “santificado”. Aos que não podem beber, oferece-se, hoje, suco de uva. Há várias justificativas bíblicas para se beber vinho. A primeira, em Juízes 9: 13: “… meu vinho, que alegra a Deus e aos homens…”. Também no Salmo 104: 15: “…o vinho, que alegra o coração do homem…”.

Nas cerimônias judaicas, usa-se o Shofar ( ), um chifre tradicionalmente de carneiro que era utilizado como instrumento musical nos tempos da construção do Templo de Salomão. O shofar é considerado sagrado, quase como uma voz celestial. Estes sons característicos do shofar, que nas cerimônias hebraicas ecoa por 3 vezes (shefarim ou sh’varim) como 3 soluços, significa o chamamento à ordem sobre as necessidades da alma. Geraram, na maçonaria, as batidas dos malhetes nos pedestais (ou nos altares) e em outros ritos, nas diversas baterias dos graus. Na maçonaria, usam-se malhetes que é o chamamento à ordem e à atenção.

O candelabro de sete braços, na mesa do Venerável Mestre, é, na tradição hebraica, a menorá (מְנוֹרָה – מנורת שבעה קנים ) um dos símbolos do antigo Templo de Jerusalém. A Menorá representa a divindade e, para os maçons, a Sabedoria. Por isso na mesa do V.M..

O 1º Vigilante senta à mesa do candelabro de cinco braços. A menorá de cinco braços, chamada Menorot (תטןנםמ – נברשת חמש זרוע ), representa a criação do mundo em 5 etapas. Diz a lenda hebraica que Deus ficou tão encantado com a criação, que achou falta de alguém para louvá-Lo. Criou o Homem na 6º etapa e descansou na 7º etapa. A Menorot simboliza o espírito e, para os maçons, a Força (espiritual).

O 2º Vigilante senta à mesa do candelabro de três braços. O candelabro de três braços chama-se Tzerin (עטץצ – נברשת עם שלוש זרועות ) e representa a criação do mundo por Deus que o constituiu em três reinos: vegetal, mineral e animal. Simboliza a matéria e, para os maçons, a Beleza, a natureza.

Quem administra o cerimonial, no Jantar Ritualístico, é o Diretor de Cerimônias, comandando por um bastão, a vara de ofício. O bastão representa os cajados dos hebreus, usados na fuga do Egito. O Diretor de Cerimônias lembra a administração do comando dos retirantes do Egito. No ritual britânico, o V.M. faz, apenas, um brinde, dividido em quatro etapas. Isto, também, tem origem hebraica. Os quatro brindes representam as quatro expressões de libertação prometidas por Deus, em Exodus, 6: 6-7. Os quatro brindes do Sêder de Páscoa (סֵדֶר ), o Jantar da Páscoa Judaica, representando as quatro vezes que os hebreus foram escravos: 1º – “tirei da escravidão”, uma redenção, quando os hebreus fugiram do Egito; 2º – “salvei dos impostos e autoritarismos do governo”, quando os hebreus se libertaram do domínio da Babilônia; 3º – “redenção com punho forte”, quando os hebreus se libertaram das autoridades gregas; e 4º – “resgatarei”: Deus pegou o povo hebreu como seu povo e lhe deu a Torá. O Mestre da Loja levantará um só brinde, dividido em quatro etapas. Os quatro brindes serão em homenagem: 1. aos chefes executivos federais (chefe de Estado Brasileiro — não se brinda o chefe de governo —, e chefe do Estado Maçônico, o Grão Mestre Geral do GOB) — no Brasil os chefes de Estado e chefes de governo são as mesmas pessoas; 2. aos chefes executivos estaduais (chefe do estado — Governador do Estado, Grão Mestre do GOB-SC e Grão Mestre de Obediências regulares, se presentes); 3. às autoridades maçônicas (Grão Mestre Adjunto, Secretários, Veneráveis Mestres e autoridades presentes de outras Obediências regulares); 4. aos maçons.

Dos celtas, a Maçonaria adotou a recomendação de se realizar o jantar ritualístico no solstício de verão (em junho, no hemisfério norte), o dia mais longo do ano, por ser o dia de maior Luz, maior Sabedoria. Isto é um costume celta muito antigo que se comemora, até hoje, em Stonehenge4.

Por fim: o objetivo do Jantar Ritualístico é a confraternização, isto é, reunirmos em confraternidade, comungarmos nossos estados de espírito, darmos demonstrações conviviais de ser fraternos. Então (cf. regras de 1721): “comamos e bebamos e façamos votos de que nos tornaremos melhores amigos.”


http://www.banquetemaconico.com.br/2014/loja-de-mesa-no-ritual-britanico/