sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ELIAS ASHMOLE



ELIAS ASHMOLE



Elias Ashmole foi um Antiquário célebre com obras universalmente conhecidas, dente elas citamos “A História da Ordem da Jarretera”. Foi o fundador do “Museu Ashmolean de Oxford”. Nasceu em Litchfield, Inglaterra, em 23 de maio de 1617 e morreu em Londres no dia 18 de maio de 1692. Foi iniciado na Maçonaria no dia 16 de outubro de 1646, dando-nos no livro “Memórias” (pag. 303) – 1646”, o seguinte relato:

“Me fiz maçom em Washington, em Lacanshire, com o Coronel Henry Maywaring de Karticham, em Cheshire; os nomes dos que estavam na Loja eram:

- Richard Penket Warden;
- James Collier;
- Richard Zankey;
- John Elliant e
- Hugh Brewer.

Em outros lugares cita ter sido admitido à Comunidade (Memórias, pag. 362) depois de 36 anos da primeira iniciação por ele relatada, fazendo o seguinte relato: “10 de março de 1682 – recebi uma convocação para assistir a uma reunião que ocorrera no dia seguinte (11 Mar), numa sala de estar, de uma Loja Maçônica, em Londres.” Na conformidade da indicação, participei da Sessão e ao meio-dia fui admitido naquela comunicade de maçons por Sir William Wilson, Cavaleiro Capitão Richar Bordwich, Senhor William Wodman e Senhor William Wife. Eu era o mais antigo entre eles pois contava 35 anos que havia sido iniciado. Além desses, já citados, estavam presentes vários outros maçons (cita vários nomes). “Comemos uma bela refeição na “Taberna da Meia Lua de Cheapside, preparada às expensas dos novos maçons aceitos”.

Sentimos muito que a intenção expressada por Ashmole em escrever uma história da francomaçonaria nunca foi levada a sério.

Suas pesquisas laboriosas, como uma evidência de seu incansável trabalho relacionado com a Ordemda Jarreteira, nos levou à esperar de sua antigua canetauma relação da origem e progressos anteriores de nossa Instituição com maior valor que nenhuma das que agora possuímos.

Mediante esta nota, tentaremos, através das mãos de Robert Gallantin Mackey, em sua “Enciclopédia da Francomassonaria e sua relação com as ciências” consignar parte da vida da personagem que foi Elias Ashmole, citado em numerosos trabalhos maçônicos.

Nossos Queridos Irmãos na atualidade costumam receber as mais variadas referências sobre antigos maçons que tiveram alguma participação no decorrer da história da Ordem sem avaliar o quê e quem foram para a Irmandade.

Portanto, nos parece ilustrativo, consignar em nossas páginas uma referência sobre a personalidade de Elias Ashmole e sua interferência no seio da Ordem.

As observações seguintes sobre esta matéria, contidas na carta do Dr. Kanipe, da Igreja Cristã de Oxford e dirigida ao biógrafo de Ashmole, na medida que nos facilita o meio de formarmos uma idéia da perda que sofreu a literatura maçônica, também nos fornece interessantes dados que devem ser retidos.

“Em relação a antiga sociedade dos francomaçons a que se faz referência e que todos demonstram estar desejosos de sabe, o que podemos dizer é que se nosso digno Ir.´. Ahsmole, tivesse colocado em execução seus desígnios, nossa Fraternidade deveria estar muito agradecida a ele e à nobre Ordem da Jarreteira.

Não desejo que se surpreenda com essa expressão ou creiam que seja demasiada arrogante.

Os soberanos desta Orem não desdenharam de nossa comunidade, pois em muitas ocasiões, durante todo o tempo, os imperadores foram também maçons.

O que mais tem se tentado obter da coleção do Sr. Ashmole foi essa versão de que o nascimento de nossa Sociedade provinha de uma Bula expedida pelo Papa durante o reinado de Henrique III, e que esse fato ocorreu ao mesmo tempo em que arquitetos italianos viajavam por toda Europa com a finalidade de construir capelas, o que é totalmente infundado.

Existiu tal Bula, e esses arquitetos eram maçons, porém, esta Bula, segundo a opinião do entendido Ashmole, era apenas confirmativa, por conseguinte, de nenhuma maneira criou nossa fraternidade e de forma alguma a estabeleceu nesse reino.

Quanto ao tempo e a forma deste estabelecimento, devo dizer algo extraído dessas mesmas coleções. “Santo Alban, o proto-mártir da Inglaterra, estabeleceu ali a Maçonaria; e desde esse tempo ela floresceu mais ou menos. Passados os anos, até a época do rei Atelshtan, este concedeu aos maçons, em consideração ao seu irmão Edwin, escritura autêntica, no tempo dos príncipes normandos.

Frequentemente recebiam extraordinárias demonstrações dos favores reais. Mas não existe a menor dúvida de que a habilidade dos maçons eram sempre transcendentes aos tempos mais bárbaros – e devido a sua maravilhosa bondade e afeto mútuo, diferente de alguma forma das condições reinantes e sua inviolável fidelidade em guardar religiosamente seus segredos - devia expô-los nesses tempos da ignorância, da suspeita e do aborrecimento de uma imensa variedade de aventuras, que variavam de conformidade com as distintas sortes dos partidos ou outras alterações nos governos.

A propósito, temos que fazer notar que os maçons eram sempre leais, coisa que os expunham a grandes rigores quando o poder se adornava com a justiça, pois aqueles que cometiam traição castigavam homens leias como traidores.

No terceiro ano do reinado de Henrique IV, publicou-se uma Lei no Parlamento para abolir a sociedade dos maçons e impedi-los, sob severos castigos, de formar Conselhos, Lojas ou outras Assembleias regulamentares. Não obstante isto, tal ato foi repelido posteriormente e ainda desde antes disto, o rei Henrique IV e vários dos principais Lords de sua corte, fizeram-se Companheiros do Grêmio.
“História da Maçonaria e sua relação com as Ciências - I.·. y P.·. H.·. Robert Gallatín Mackey”

Texto retirado e traduzido do site Del Guarijo pelo Ir.´. José Roberto Cardoso - membro da Loja Estrela D´Alva nº 16 - GLMDF




quinta-feira, 15 de agosto de 2013

OS MANUSCRITOS SECRETOS DE NEWTON





Um homem como Issac Newton merece nossa admiração.

Homem de racionalidade matemática e científica, nunca deixou de pensar sobre os profundos mistérios da natureza interior do homem.

Agora se sabe que 95% de seus escritos eram desconhecidos até o ano de 1936, quando descobriram papéis secretos, escritos por ele, nos quais confessava sua enorme paixão pela espiritualidade e misticismo. Esses documentos estão em posse da Universidade Hebráica de Israel.

Numa carta que escreveu a seu amigo Robert Boyle, companheiro da Real Sociedade, fundada pelos membros do Colégio Invisível (ver o excelente trabalho de Rober Lomas) disse: 

“jamais tornemos público nosso conhecimento pelo grande perigo que seu uso inadequado traria a humanidade” 

Newton nos evidencia que o mundo da ciência não está desligado do universo da espiritualdade. O velho debate entre ciência e fé está superado. A nova física, a mecânica quântica, reconhece os universos paralelos... e as possibilidades supremas da mente e do pensamento sobre a ma matéria...

Newton o sabia e também o supôs Albert Eisntein...na realidade todos eles sempre souberam

Isaac Newton é o fundador da ciência moderna, a nossa ciência, a ciência praticada pela Arte Real.

(Texto extraído e traduzido do site O colégio invisível pelo Ir.´. José Roberto Cardoso – Loja Estrela D´Alva nº 16 – GLMDF)

A MISSÃO DOS CONSTRUTORES (CONTO)



A MISSÃO DOS CONSTRUTORES



Alguns obreiros estavam talhando pedras ao pé de um grande edifício em construção. De pronto, um visitante se aproximou de um deles e lhe perguntou:

- Que vocês estão fazendo aqui?

Um deles o olhou com de forma rude e lhe respondeu:

- Acaso não vês o que fazemos? Estou aqui talhando pedras como escravo por um salário miserável e sem o mínimo reocnhecimento. Olhe para o cartaz e veja que lá consta os nomes dos engenheiros e dos arquitetos e os nossos, nem sombra...

Nós estamos aqui do amanhecer ao anoitecer deixando nossa pele sobre as pedras.

O visitante se aproximou então de outro dos trabalhadores e lhe fez a mesma pergunta e o obreiro menos rabujento respondeu:

- Pois aqui, como você está vendo, estou talhando pedras para levantar um grande edifício. O trabalho é duro e mal pago, mas não há o que fazer, preciso levar alimento para meus filhos.

O visitante se aproximou do terceiro operário e lhe fez a mesma pergunta: o que estás fazendo: o homem, com mais entusiasmo e alegria respondeu:

- Estamos levantando um grande hospital, o melhor do mundo. As gerações futuras o admirarão e ele poderá salvar a vida de centenas, milhares de pessoas. Quiçá jamais eu o possa utilizar, porém quero ser parte desta extraordinária aventura.
.........

O mesmo trabalho, o mesmo salário, a mesma ausência de reconhecimento, a mesma realidade. No entanto há em cada trabalhardor três maneiras maneiras diferentes de vivenciar a mesma realidade: um deles a vê como escravidão; o outro, como resignação e o último como uma apaixonante aventura e como um desafio para si mesmo.

Deveríamos todos nós sonhar e desfrutar com alegria da oportunidade do trabalho que nos é dado e nos sentirmos parte de uma boa obra pois são nos bons exemplos que devemos construir nossas vidas.

(Extraído e traduzido do Site: O Colégio Invisível pelo Ir.´. José Roberto Cardoso – Loja Estrela D´Alva nº 16 – GLMDF)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

PLATÃO E O MITO DA CAVERNA




PLATÃO E O MITO DA CAVERNA


Caros Iir. ´.,

Este é um trabalho elaborado por um Companheiro Maçom e publicado na Revista Triângulo da Grande Loja Maçônica do Estado de Minas Gerais, e que acho merece ser transcrito neste blog embora a simplicidade de sua abordagem.

Acredito que todo Maçom é um livre pensador e que deve estar sempre à procura da verdade que é sempre subjetiva para todos nós, mas que por isso nos permite ser eternos aprendizes e livres pensadores.

Leiamos a peça de arquitetura do Ir.´.

“De tempos em tempos surgem em nosso mundo homens iluminados à frente do seu tempo, dentre tantos cito Platão, um dos pensadores mais influentes de todos os tempos, e esta peça de arquitetura tem como base uma das narrativas de suas obras, mas das primeiramente devemos conhecer um pouco de sua biografia.

Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Aristocles. Platão seria um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua característica física, por ter vigor físico e ombros largos (“platos” – significa largueza”).

Platão nasceu em Atenas provavelmente em 427 a.C e morreu em 347 a.C.. Filósofo e matemático e considerado um dos principais pensadores do período clássico da Grécia Antiga. É autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia Platônica, também chamada Academia de Atenas, que foi a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor Sócrates e seu pupilo Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental.

Dentre suas várias obras, cito “A Repúblia” que aborda vários temas. É dividida em dez livros e consiste no desenvolvimento de um diálogo a partir do qual Sócrates e seus interlocutores idealizam um Estado no qual seus dirigentes e guardiões propõem uma sociedade justa onde o egoísmo seja superado, as paixões controladas e os interesses pessoais se juntam a favor do coletivo sendo a educação o ponto de partida e principal instrumento de seleção e avaliação das aptidões de cada cidadão desta sociedade.

Nesta obra filosófica, no Livro número VII temos a narrativa “O Mito da Caverna”, também conhecida como “Alegoria da Caverna”, onde para o filósofo todos nós estamos condenados a ver sombras a nossa frente e acreditar que são reais, e a utiliza para ilustrar a trajetória que tira o homem da ignorância e o leva ao verdadeiro conhecimento.

Vendo a humanidade condenada a esta infeliz condição o filósofo compara a realidade da sociedade da época imaginando a situação de um grupo de pessoas que viviam na escuridão de uma caverna, imobilizados por correntes e de costas para a entrada sendo condenados a olharem sempre a parte a frente, de modo que a única coisa que conseguiriam enxergar seria sombras do mundo exterior projetadas nesta parede que surgiam e desapareciam.

Para Platão era assim que viviam os homens, acreditando que as imagens que apareciam aos seus olhos eram verdadeiras, eram a realidade, tornando a sua existência inteiramente dominada pela ignorância.

E se por um acaso alguém resolvesse libertar um daquels pobres coitados da sua pesarosa ignorância e o levasse ainda que arrastado para fora daquela caverna, o que poderia então suceder-lhe? Num primeiro momento, chegando do lado de fora, ele nada enxergaria, ofuscado pela extrema luminosidade do sol, mas aos poucos seus olhos se ambientariam, recuperando assim a visão, onde as imagens e uma infinidade de outras coisas do ambiente que o cercava se revelariam e ele iria perceber um mundo totalmente oposto ao do mundo subterrâneo que tinha sido criado.

O Universo por inteiro se abriria perante ele, podendo vislumbrar todo o conhecimento e todas as formas que antes lhe eram ofuscadas no mundo subterrâneo.


Na narrativa constante de “O Mito da Caverna”, Platão quis nos mostrar que para chegarmos ao conhecimento é preciso sacrifícios e temos que romper com a inércia da ignorância e observarmos com atenção as idéias morais que regem a sociedade.


Esta narrativa nos apresenta duas formas de conhecimento, uma é a ignorância na qual o homem não deve confiar, pois são provenientes dos sentidos e de opiniões e por isso podem ser um conhecimento falso em relação à realidade a sua volta. A outra é o conhecimento Verdadeiro, que é absorvido sob a parência das coisas, da idéia das coisas, isto é, aquele saber que é julgado através da razão. Esse conhecimento é considerado Veradeiro porque ele habita no Mundo das idéias sendo a superação do “conhecimento” oriundo da ignorância.

Atualmente, podemos dizer, por exemplo, que a caverna pode ser substituída pela casa, as correntes representam nosso medo da realidade e as sombras que são um tipo de entretenimento ignorante são substituídas pelos nossos meios de comunicação audio visuais os quais conseguem manipular grandes massas, e quando mal usados produzem um falso conhecimento, isto é, o homem se entrega de tal forma às suas programações que não consegue produzir nenhum conhecimento sadio ou verdadeiro. Também não podemos esquecer as amarras dos preconceitos e das instituições que alienam multidões.

A Maçonaria é um dos caminhos que pode levar o homem a se libertar da caverna uma vez que a Arte Real nos leva ao estudo e a prática de boas ações nos ensinando a combater os vícios e a enaltecer as virtudes.

Em resumo, para Platão existem dois mundos, o primeiro é o visível no qual a maioria da humanidade está presa, crendo, iludida, que as sombras são reais. O segundo é o inteligível, o mundo da inteligência e da razão, privilégio daqueles que encontraram a essência do bem e do belo.

A República de Platão, escrita há aproximadamente 2.400 anos é seguramente o texto mais conhecido daquele filósofo e um dos mais comentados em toda a história da Filosofia tendo em vista a crítica que fez sobre o estado em que se encontrava a humanidade inspirando reflexões profundas acerca do assunto".

Humbero de Oliveria Araújo – Companheiro Maçom. Texto publicado na Revista Maçônica Triângulo - MG

TOMAR E A QUADRATURA DO CÍRCULO





Antes de abordarmos o assunto sobre Tomar, lembramos que na obra do J, Scholsser “A pedra franca”, encontraremos referências a convivência dos Templários no Oriente com várias Ordens Secretas e a origem do estilo gótico desenvolvido por Bernardo de Claraval e outros. A Quadratura do Círculo está intríssicamente ligada ao estilo Gótico.

No texto que se segue, de Carlos Leite Ribeiro, encontraremos uma bela história sobre Tomar e relatos sobre arquitetura gótica e a Quadratura do Círculo. 

Aproveitem a leitura.

“Parece que o nome de Tomar, se não é propriamente árabe, foi, pelo menos resultante de uma arabização e por intermédio dos árabes o recebemos. Também segundo parece, foi a vegetação local e nas águas do rio Nabão, o motivo da escolha do nome, que anteriormente tinha sido potamônio, o que não prejudica o parecer, pois bem aceitável é a hipótese de os mouros terem dado ao rio um nome provocado pela abundância da tal planta — o tomilho — que se encontra em abundância neste rio. O tomilho, planta labiada, era conhecida dos gregos; mais tarde os romanos trouxeram o nome para a península (THYMUS), os mouros nacionalizaram-na segundo a sua índole da sua língua e foi assim nacionalizado, isto é, arabizado, que deu a forma "thomar" mais tarde Tomar.

Esta cidade, sede de um “concelho”[1] cujos limites se aproximam daqueles que constam da doação do Castelo de Cera aos Templários, em 1159, conserva ainda inviolados os mistérios da sua origem e simbolismo arquitetônico.

Situada numa rota tradicional de transumância, a sua implantação no ubérrimo[2] vale do rio Nabão, praticamente desconhecido e filão arqueológico riquíssimo particularmente para os especialistas do Paleolítico - embora infelizmente afetado pela industrialização, mais ou menos selvagem a que tem sido sujeito - obedece, pelo menos desde os tempos da ocupação romana, às regras seguidas para a eleição, sacralização e instalação territorial, quando o homem sabia organizar o seu espaço vital à medida e semelhança das configurações celestes que lhe presidiam.

As fontes dessa cosmografia sagrada encontram-se hoje diluídas em lendas e tradições sucessivamente revitalizadas até, pelo menos, ao século XVl.

Uma das mais marcantes é a lenda de Santa Iria, virgem mártir do século Vll, religiosa de um convento beneditino fundado por S. Frutuoso, que teria existido no local onde hoje vemos a igreja de Santa Maria do Olival: a Nabância. Este topônimo[3] é desconhecido dos geógrafos antigos, o que aliás, não invalida a existência de um importante núcleo populacional que a moderna historiografia prefere designar por "Sellium" e que os frequentes achados arqueológicos confirmam.

E que dizer da mata dos Sete Montes, protótipo do recinto sagrado por excelência, habitualmente relacionada com as proezas iniciáticas templárias e o seu fabuloso tesouro — encantado?

Sigamos, porém, o modelo urbanístico concretizado no século XV, ou seja já durante a vigência da administração da Ordem de Cristo, sucessora e herdeira dos bens e conhecimentos da Ordem do Templo (Templários), pelo infante D. Henrique, grande impulsionador dos Descobrimentos e iniciado nesta Ordem. A ordenação de Tomar, processa-se segundo uma cruz axial cujos braços são dirigidos aos quatro principais pontos cardeais.

Mas vamos situarmos no local onde se situa o Castelo e o Convento de Cristo...

Entramos no recinto ameado[4] do Castelo pela Porta de Santiago; lago, que conduz à outra, designada por Porta do Sol, por onde se concretiza a entrada no terreiro de armas da fortaleza. Daí, imediatamente se torna patente a fachada dos Paços do Infante e a Charola[5] dos Templários, dedicada a S. Tomás da Cantuária

e limite primordial da muralha poente da cerca casteleja que Gualdim Pais terá restaurado, a partir de 1 de Março de 1160, com base no remanescente de uma anterior fortaleza, talvez da época romana e sucessivamente renovada e adaptada de acordo com os conhecimentos de geomancia, a que, aliás, a lenda da refundação se refere. O que, não obstante a brevidade requerida pela circunstância, será impossível escamotear é o rigoroso traçado a que obedece o plano de construção, tanto do Castelo como do Convento de Cristo. O singular simbolismo arquitetônico e iconográfico compendiado na fachada em que se rasga a conhecidíssima janela da Sala do Capítulo, (janela manuelina) se for decifrado, poderá permitir o entendimento do projeto e objetivos dos Cavaleiros de Cristo, esclarecidos guias do povo português com vista à instauração de uma fraternidade humana inspirada pelo Espírito Santo e coreograficamente preludiada pelo culto ao Paracleto[6], cujo auge coincidiu com o apogeu da expansão marítima liderada pela Ordem de Cristo e assumiu em Tomar uma forma próxima daquela que a Festa dos Tabuleiros hoje reveste.

Tomar foi conquistada aos mouros em 1147, por D. Afonso Henriques, e, mais tarde, em 1159, doada aos Templários. D. Gualdim Pais, mestre da Ordem, em 1162 concedeu-lhe foral.

Com a extinção da Ordem do Templo em 1312, foi por D. Dinis, com o consentimento do papa João XXll, fundada a Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, com sede em Tomar. Em 1510, D. Manuel l concedeu-lhe foral novo e visitou-a durante muitos anos. Foi elevada à categoria de cidade em 1844 e no ano seguinte recebeu a visita de D. Maria ll.

CONVENTO DE CRISTO


O recinto conventual, que foi pertença, inicialmente, da Ordem do Templo e passou, no reinado de D. Dinis, para a égide da Ordem de Cristo, é um dos principais monumentos da arquitetura nacional, onde todas as etapas estéticas, desde o século Xll ao XVlll, se encontram ampla e profundamente documentada.

Penetrando no reduto do arruinado castelo templário, edificado por Galdim Pais em 1160, pelo portal nascente, e seguindo uma longa escadaria onde a cada passo se vislumbram vestígios seculares, entre os quais as ruínas da velha alcáçova templária e dos Paços Henriquinos, atinge-se a igreja e demais dependências do convento.

O primitivo oratório, que remonta ao final do século Xll, é um exemplar românico que se inspira no modelo oriental das igrejas ítalo-sírias em rotunda, cerrado e murado como uma fortaleza. Era inicialmente uma construção formada por um prisma octogonal centrado numa rotunda de dezasseis faces, consolidada por singelos contrafortes gigantes nos vértices. No prisma central abrem-se arcos levemente apontados que pousam sobre colunas capitelizadas romano-bizantinas.

A charola de Tomar, cuja traça se baseou no tipo de mesquitas sírias, gosto adquirido pelos cavaleiros da Ordem do Templo durante as lides orientais, e por eles aplicada no Ocidente, é um raríssimo santuário da Alta Idade Média que segue o protótipo da Ermida de Omar, em Jerusalém, modelo igualmente aplicado nas Capelas de Eunate em Navarra e Vera Cruz em Segóvia (terras espanholas). No princípio do século XVl, a charola, oratório dos Templários, foi adaptada a capela-mor do novo templo que então se erigiu, tendo duas das faces do polígono da rotunda sido sacrificadas em favor da magnífica nave manuelina. Suprimido então também o elmo ameado de pedraria que a coroava, permaneceu a cerrada cabeceira românica, que, abstraindo da abundante decoração quinhentista, transmite ainda uma ideia do que foi o primitivo oratório. Uma iluminatura da "Leitura Nova" de 1508 representa o convento com a charola, antes das modificações de Diogo de Arruda, provida de coruchéu[7] exterior assente num tambor octogonal (foto acima).

Segundo o cronista Pedro Álvares Seco, foi o rei D. Manuel l, após 1510, que ordenou a decoração da capela-mor do novo templo com esculturas, pinturas e outros elementos. Nas paredes da charola subsiste ainda grande série de pinturas sobre madeira, encomenda régia anterior a 1510, constituída por vários painéis. Trata-se de opulentos primitivos com vincada influência nórdica, talvez da escola do pintor Jorge Afonso. Várias capelas do deambulatório foram ordenadas também durante campanhas de obras joaninas, com pinturas retabulares que, pela colocação, se assemelhariam a predelas das grandes tábuas manuelinas citadas. Desta série apenas estão nos lugares de origem os quadros Santo António Pregando aos Peixes e São Bernando.

Muita coisa ficou por dizer deste maravilhoso Convento de Cristo e da sua famosa janela manuelina (foto acima).


CASTELO DE TOMAR
Castelo de Tomar

Constituído primitivamente pela torre de menagem, pela alcáçova e por uma curta cintura de muralhas, foi posteriormente ampliado com um largo cordão reforçado por cubelos[8]. Balizava o velho burgo, que no século XV alastrou para a planície. Do antigo castelo, fundado por Gualdim Pais, subsistem vários panos de muralha e a torre grande, que apresenta, embebidas nos parietais, lápides romanas e legendas medievais. O velho Paço Henriquino, que foi alcáçova inicial do reduto templário, reduz-se a alguns trechos muito incompletos, um dos quais ostenta uma janela de verga recortada e um portal em ogiva. Os trechos murados, em que se rasgam cubelos e torrelas, envolvem o recinto do Convento de Cristo, integrando-o numa unidade arquitetônica que, no seu conjunto, domina a cidade. Uma das lápides que se vislumbram, sumida, na torre templária, sobre a fresta do segundo pavimento, alude a Gualdim Pais e é contemporânea da fundação.

RUÍNAS ROMANAS

A cidade atual provém de um agrupamento populacional romano denominado Sellium, algures existente na margem esquerda do Nabão. Na zona têm sido encontrados inúmeros vestígios da ocupação romana. Assim, em 1952, foram postas a descoberto, no cerrado de João do Couto, algumas sepulturas de uma necrópole, cujo espólio era constituído por resíduos de tijolos, um peso de um tear de barro com marca de oleiro, uma lâmina de faca, argolas de vidro e diversas moedas dos séculos lll e lV.

A 2 Km de Tomar, pela estrada fronteira a Santa Maria do Olival, no sítio da Marmelais, existiu a antiga Nabância, onde numeroso espólio romano tem sido encontrado (estátuas, moedas, mosaicos, ruínas de casario) e onde ainda estão patentes alguns arruamentos da secular urbanização. 

OS TEMPLÁRIOS


Tal como as estrelas da Via Láctea, os Visigodos dividiram-se em dois grupos e os que tomaram a direção de Espanha, dirigiram-se a Toledo. Os mais ousados continuaram a avançar em direção a oeste, até Tomar, e a partir daqui espalharam-se em direção ao norte. Depois de terem conquistado a capital dos Alanos, Bracara, instalaram-se lá e deram-lhe o nome de Braga.

De acordo com as tradições visigóticas, Tomar era um ponto telúrico extremamente propício e esta terra privilegiada foi, posteriormente confirmada várias vezes através da história.

Nesta região, São Bernardo mandou edificar um dos mais belos florões da Ordem Cistercience, ou seja o Mosteiro de Alcobaça que, ainda hoje continua a ser uma das obras-primas mais puras da arquitetura gótica no seu início. Alcobaça fica a cerca de sessenta quilômetros para poente de Tomar e a meio caminho fica Fátima.

Templários ou Cavaleiros do Templo, era uma Ordem militar religiosa, fundada em 1118, distinguindo-se particularmente na Palestina. Em Portugal prestaram relevantes serviços na luta contra os mouros.

No início do século XVl, a Ordem dos Templários era poderosa, rica e corrompida. Diferente dos Hospitalários e dos Cavaleiros Teutônicos, os Templários não se podiam vangloriar de terem feito qualquer cruzada desde o abandono da Terra Santa aos muçulmanos. Recusando encarar uma aliança com os Hospitalários, acabaram por adquirir uma reputação de aristocratas amantes do luxo. Por isso, Filipe "o Belo" de França decidiu que era tempo de reformar a Ordem. Além disso, pensava que, apropriando-se das riquezas dos Templários, podia encher os cofres reais. Tal razão levou este rei francês, bruscamente, a ordenar que se levantasse um processo aos Templários, acusando-os de heresia e de imoralidade. Em 1307, todos os Templários de França, que eram cerca de dois mil, foram presos e sujeitos sem contemplação ao suplício de um interrogatório.

Tendo recebido ordem de obter confissões, até pela tortura se fosse necessário, os inquiridores obrigaram-nos a confessar diversos crimes, atos de imoralidade, ritos de iniciação herética e outros delitos secretos.

Entretanto, os novos inquéritos, ordenados pelo Papa Clemente, revelaram que grande número de confissões tinham sido arrancadas pela tortura ou, até mesmo, apenas pela crença da tortura. Uma das vítimas, por exemplo, depois de ter visto algumas carroças cheias de Companheiros do Templo, que eram conduzidos ao carrasco, acabou por confessar ter morto Cristo!

Por isso, mais tarde, numerosos prisioneiros negaram as confissões que lhes tinham sido arrancadas pela força. Tais afirmações levaram o rei francês Filipe e seus comparsas a sentirem-se na obrigação de defenderem o seu procedimento. Resolveram por isso excitar o espírito do povo, o que provocou, por parte deste, a exigência de uma severa punição dos Templários, considerados como destruidores da religião e da moral. Algum tempo depois, o Papa Clemente V cedeu e aboliu a Ordem, declarando contudo, que a culpabilidade não estava provada.

Os Templários tinham entrado em Portugal em 1125 e uma das figuras mais carismática, foi sem qualquer dúvida o Mestre Gualdim Pais, nascido em Braga e Cavaleiro de D.Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal.

Depois da extinção dos Templários, o rei D. Dinis "o Lavrador" e um dos mais queridos dos portugueses, transformou os Templários na Ordem de Cristo, cujo símbolo, as naus portuguesas levaram a todos os cantos do mundo.

Noutros trabalhos já foi falado o rei D. Dinis, sexto de Portugal que além do cognome histórico de o "Lavrador" também era conhecido por "Rei Trovador".

Um dos Mestres mais famosos da Ordem de Cristo, foi o Infante D. Henrique "o Navegador", filho de D. João l e de D. Filipa de Lencastre, nascido em 1394 na cidade do Porto. Fundo em Sagres (Algarve) uma escola náutica, um observatório astronômico e estaleiros para construção de navios.

Chamou do estrangeiro cosmógrafos e matemáticos ilustres que, com alguns Cavaleiros da sua Casa se entregou ao estudo das cartas marítimas. Todos os anos, uma caravela, armada à sua custa e capitaneada por um seu Cavaleiro ou Escudeiro, partia mar fora à descoberta de novas terras. Quando o Infante D. Henrique morreu, em 1460, deixava reconhecida a costa africana até à Serra Leoa, preparação para o grande feito de Vasco da Gama, a Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, trinta e oito anos depois. D. Henrique, assim como seus pais e seus irmãos, repousam no Mosteiro da Batalha na sala "Ínclita Geração". 


D. MANUEL l "o VENTUROSO" e o CONVENTO DE CRISTO

O Venturoso

O sucesso dos Descobrimentos e a riqueza súbita e colossal que deles adveio, fizeram de Portugal e dos seus soberanos os felizes beneficiários da "charola" da fortuna.

O gosto requintado de D. Manuel 1 levou este soberano a edificar numerosos monumentos que marcaram um novo estilo — o Manuelino. Este renascimento artístico espalhou-se por Portugal inteiro, de tal modo que todos os santuários, todos os edifícios pretenderam ordenar-se com decorações manuelinas.

Tomar não foi exceção a esta regra. As igrejas de São João Batista e de Santa Iria, primeiro, e mais tarde o castelo medieval, que foi enriquecido com o Convento de Cristo.

Detentores de uma verdade arquitetural, os seus construtores souberam respeitá-la e a construção do convento foi adaptada à do castelo tendo em consideração a disposição "cósmica" precedente.

O desvio existente — cerca de cinco graus — prova que a data, no máximo, de 1510 (de acordo com a precessão dos equinócios, e considerando setenta e dois anos por cada grau, cinco graus correspondem a trezentos e sessenta anos).

Os conhecimentos secretos que tinham feito nascer o estilo "francês" aplicados pelo monges de Clairvaux na construção do Mosteiro de Alcobaça e, por outros mestres-de-obras na edificação da Catedral de Évora e nas magníficas realizações góticas da Ilha de França, não se perderam. Fazem parte da herança concedida a D. Manuel.

Na mensagem secular subsiste um princípio essencial do conhecimento chamado "gótico", que resulta da igualdade entre um círculo, um quadrado e um triângulo. Geometricamente, este princípio corresponde a uma determinada quadratura impossível de realizar de acordo com os dados pitagóricos. Estes dados estão inclusos na referida quadratura, mas não podem fornecer a chave, visto que o "Pi" clássico (3,1416) deixou de ser um jogo. A quadratura aplicada a todas as obras de estilo gótico permite a sua análise imediata. E permite igualmente recolhê-las sem possibilidade de erro. Os números nasceram do Apocalipse de São João, e correspondem aliás aos da estrutura nuclear. Trata-se portanto de relações universais. Um círculo de diâmetro invariável e dois quadrados, com o mesmo perímetro e com a mesma superfície que o círculo, constituem a base deste princípio, que alia simbolicamente o Cosmo — o círculo; a Criação — o quadrado; e o Ternário espiritual — o triângulo.

Sobrepondo-os sobre a planta do castelo de Tomar, verificamos que todos os elementos, incluindo as torres, correspondem às diferentes coordenadas.

O mesmo princípio aplica-se igualmente à parte do estilo "manuelino" com um desvio de cinco graus. A concordância permanece, fazendo notar a evolução do saber. A cúpula dos Templários é o ponto principal a partir do qual foram feitas as construções posteriores e a célebre "janela manuelina", que é a síntese arquitetural do estilo manuelino, é justamente considerada como a obra-prima da época. Esta evocação sumptuosa (estamos a falar da janela manuelina do Convento de Tomar), está cheia de uma fantasia genial onde uma mesma alegoria reúne símbolos e personagens. Um navegador, de que vemos somente o busto, sustenta com ambas as mãos o tronco de um sobreiro com imensas raízes e a cortiça constitui um elemento decorativo dos dois lados da parte superior da janela. Cordas e algas completam os símbolos terrestres e náuticos. As armas do rei D. Manuel e a cruz dos Cavaleiros de Cristo encimam o conjunto.

A sua construção não se afasta das regras geométricas, cuja tradição respeita escrupulosamente, sobrepondo-lhe toda a alegria dos feitos magníficos que transcreve na pedra numa evocação jovial.

Um quadrado com a mesma superfície que um círculo - cujos lados são prolongados - determina, sobre o círculo resultante do quadrado que circunscreve o círculo inicial, os pontos de um novo quadrado. E assim por diante. É muito simples, e podíamos até dizer que parece ser um princípio elementar, visto que a largura da janela é indicada pelas duas linhas que ligam as intercepções do círculo com o quadrado. Mas há que aceitar a quadratura e conhecê-la ! Tudo isto parece tão elementar que atualmente este princípio parece ser o resultado de pura utopia, uma vez que o nosso século se debruça sobre o estudo de verdades secundárias que não conduzem ao caminho da Verdade primordial. Conhecemos o sucesso alcançado por aqueles que procuraram a verdade primeira e estamos assaz inquietos relativamente ao sucesso dos que desprezam a tradição.

E esta janela conduz-nos até às riquezas escondidas, visto que são sempre ângulos de treze graus que nos são mostrados pela corrente e pela fita que envolvem o tronco nas partes laterais. São os símbolos da Ordem da Jarreteira e do Tosão de Oiro.

Os portugueses souberam ilustrar a lenda dos Argonatas e, mais felizes do que os seus predecessores míticos, descobriram uma Cólquida (antigo país da Ásia aonde os Argonautas, segundo a tradição, foram conquistar o Tosão de Oiro), mirífica que lhes dá nomeada e riqueza.

O conhecimento perdido, a charola, voltou e o Ouro dos Templários ficou novamente em segredo. E Mestre Gualdim Pais já não está no sarcófago. A placa que cobre as suas cinzas tem no entanto algumas marcas iniciáticas.

Qual o papel neste "In Memoriam" do pequeno círculo com oito raios por cima de três traços verticais, símbolos das três posições solares fundamentais e base da cosmogonia dos Templários?

Este lll corresponde a trinta e sete, de onde extraímos o ternário nele contido. E mais uma vez temos o número trinta e quatro. E o número trinta e quatro compreende treze e o seu oriente, assim como vinte e um o número das catedrais góticas dedicadas a Nossa Senhora Virgem Maria, rainha universal e medianeira entre o Céu e a Terra que o homem idealista e inquieto procurará indefinidamente no mito do eterno feminino.


O CONVENTO DE CRISTO E SEUS MISTÉRIOS


Os conhecimentos geométricos dos Templários, baseados nas progressões aritméticas e nas relações entre os números com correspondência universais, tinham necessariamente de conduzir os investigadores da Ordem a transpor as portas alquímicas da transmutação. Os Cavaleiros de Cristo acenderam novamente o facho e a disposição das construções manuelinas devia corresponder a esta necessidade.

No Convento de Cristo, não faltam indicações alquímicas e a construção constituí um caminho iniciático que nos é oferecido neste lugar. Para encontrarmos a porta, teremos evidentemente de partir do antigo castelo templário. Na sua linguagem secreta, o princípio alquímico utiliza o ovo como ponto de partida. O ovo alquímico encerra ao mesmo tempo o princípio, o germe e o todo, capaz de desencadear o processo de transmutação por meio da repartição dos eletrões; de acordo com o princípio elíptico do movimento giratório dos átomos. O que é verdade no mundo intersideral para os planetas também se aplica à estrutura da matéria. O ovo será portanto o símbolo exotérico deste princípio esotérico. Mas o processo alquímico da transmutação só pode ser desencadeado de acordo com as correspondências terrestres e celestes. Não se pode ser iniciado em qualquer altura nem em qualquer lugar. Somente em determinados lugares privilegiados lhe convém, situados sobre filões telúricos excepcionais. O mesmo acontece com todos os fenômenos de uma determinada alquímica "cósmica".

Foi assim que os maiores "milagres" da Idade Média só se deram em santuários situados sobre filões benéficos e, sempre, a Virgem Maria se manteve associada a estes favores celestes sobrenaturais. Em Portugal, é sobre o filão telúrico de Fátima, que as aparições foram acompanhadas em 1917 de fenômenos solares. A Virgem Maria, continua a ser uma imagem sagrada da ligação fluídica que liga o Céu com a Terra. Foi em 1917 — o dezessete que já conhecemos tão bem - que a Virgem se associou ao Sol, neste lugar modesto e tão mal conhecido como era na época.

Se examinarmos o aspecto geral da fachada do castelo de Tomar, podemos ver não somente que as torres estão regularmente dispostas — de acordo com uma divisão por seis do quadrado do mesmo perímetro que o círculo — mas ainda que todo se inscreve no quadrado com a mesma superfície. Voltamos a encontrar os ângulos habituais e a altura da torre corresponde à posição do Sol ao meio-dia dos equinócios na latitude de Tomar. O caminho em direção ao pátio interior, que separa o antigo castelo do Convento de Cristo, termina na torre quadrangular (foto acima).

É muito provável que debaixo do solo deste pátio existam uma ou várias salas subterrâneas a que seria possível chegar passando pelo poço. É deste ponto, com efeito, que podemos ver, em direção a oeste, o primeiro sinal do ovo. Os Templários juntaram muitas vezes ao ovo outro elemento arquitetônico que era utilizado na observação das estrelas em determinadas datas. É o chamado "olho-de-boi", pequena janela circular, cujo contorno permitia obter indicações graduadas. A tradição conservou-o, ou seja, a correspondência entre o Boi e o Boeiro.

Graças ao olho-de-boi, podemos estabelecer vários princípios arquitetônicos relativos ao convento propriamente dito, antes de encontrarmos a cabeça de três faces, o Hermes Trimegisto, que domina o centro da abóbada de uma pequena sala situada perto do refeitório. A cabeça aponta numa direção segundo a qual, e através de uma janela, podemos efetivamente ver outro ovo. Este conduz-nos, para além da janela manuelina, até ao claustro da Micha e de seguida até ao claustro dos Corvos. A palavra "corvo" sempre foi querida dos alquimistas por encerrar em si duas interpretações secretas da preparação da Grande Obra. A sua realização só pode ocorrer num local escolhido e eleito. Este local fica debaixo do claustro da Micha, que se situa — segundo o eixo manuelino deslocado — num ângulo de treze graus em direção a oeste.

O claustro dos Corvos faz o mesmo ângulo, perfazendo assim um total de vinte e seis graus, enquanto em onomancia[9], a análise da palavra "corvo" confirma o número vinte e seis.

No centro do claustro da Micha encontra-se um poço e deste poço partem duas escadas que se enterram no solo. Aqui existiriam as salas de investigação orgânica e de transmutação.

A transmutação só é possível com a intervenção do cloro, cujo número atômico é dezassete (em simbolismo, o 17 é o Número da Estrela. Não nos surpreenderemos portanto, ao verificar que o poço da Micha forma com a janela manuelina um ângulo de dezassete graus. Aliás é esta a direção seguida pelo olhar do velho capitão que herculamente sustém o conjunto decorativo da janela.
...
Veio depois o tempo em que os corvos se calaram e em que os sarcófagos do claustro dos Sepulcros guardaram e seu enigma. Os corvos mantém relações com os mortos e os sarcófagos ficam expostos ao sol da vida que continua a iluminar durante a Primavera o horizonte de Tomar...


Texto de Carlos Leite Ribeiro

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(*) fotos cedidas pelo autor

[1] Concelho (com c) é uma circunscrição administrativa inferior ao distrito, adotada em Portugal; é o município. 
[2] Muito fértil, abundante. 
[3] Chama-se o topônimo o nome ou expressão usado para nomear um lugar, ou seja, um acidente geográfico (seja ele físico – rios, serras, igarapés, etc – seja ele humano – cidades, bairros, ruas, praças, etc – Deste modo, o topônimo (ou signo toponímico) também é um nome próprio. 
[4] Ameado – murado. A ameia é um detalhe importante na construção de muros para defesa.. 
[5] A Charola era o oratório dos Templários no princípio do séc. XII. Esta apresenta uma estrutura compacta cilíndrica com grandes traços de influência oriental, trazida pelos cavaleiros da Ordem do Templo das passagens que tiveram por terras orientais (Cruzadas). Em 1356, Tomar passou a ser a sede da Ordem de Cristo (Herdeira doa templários, ordem extinta) em Portugal. A decoração da Charola reflete a riqueza da Ordem.Musica "Jesu Dulcis" executada por Schola Gregoriana MEDIOLANENSIS de Milão, Itália, dir. John Vianini 
[6]Paracleto - S.m. Teologia Nome dado ao Espírito Santo, nos Evangelhos. Fig. Intercessor; mentor; auxiliador; defensor; consolador. 
[7]Coruchéu é um substantivo masculino que provém do francês ¨clocher¨(campanário). 
-Remate piramidal de um edifício.
-Torre que coroa um edifício. 
[8]- cubelo (de cubo ou cuba), em arquitetura militar, designa um torreão de planta circular ou semi-circular, com a função de reforço de uma muralha numa cerca ou num castelo medieval. As torres de planta circular, como também poligonal, permitiam a diversificação dos ângulos de disparo para os defensores. Além disso, as superfícies curvas eram mais propensas a desviar os projéteis disparados pelos inimigos, que tendem a resvalar na superfície dos cubelos. Nos torreões de planta quadrada ou retangular, os cunhais (cantos) eram pontos frágeis. Outra vantagem dos cubelos era que necessitavam menos pedra para sua construção, ou seja, eram mais econômicos. 
[9]- Onomancia - [Subst. Fem.]- Onomancia ou onomatomancia, é a adivinhação baseada no nome de uma pessoa, no número de letras desse nome, etc. Onomancia provém do grego ¨onoma + atos + manteia ¨.