sábado, 6 de janeiro de 2018


O QUE SÃO SABBATS?

Por Gerina Dunwich
Texto extraido do blog Ponte Oculta

Os oito Sabbats são belas cerimônias religiosas derivadas dos antigos festivais anuais que celebravam, originalmente, a mudança das estações do ano.

Os Sabbats, também conhecidos como a “Grande Roda Solar do Ano” e “Mandala da Natureza”, têm sido celebrados sob formas diferentes por quase todas as culturas no mundo. São conhecidos sob vários nomes e aparecem com frequência na mitologia.


Os quatro Sabbats principais (ou grandes) correspondem ao antigo ano gaélico e são chamados de Candlemas, Beltane, Lammas e Samhain. Os quatro menores são Equinócio de Primavera, Solstício de Verão, Equinócio do Outono e Solstício de Inverno. 

O Sabbat, infelizmente tem sido confundido também com a “Missa Negra” Satânica ou “Sabbat Negro”, sendo esse outro conceito errado que muitas pessoas têm e que é decorrente de séculos de propaganda antipagã da Igreja, do medo, da ignorância e da imaginação excessiva dos escritores desde a Idade Média. 

Uma Missa Negra não é um Sabbat de Bruxos, mas uma prática satânica, acreditem, que parodia o principal ritual do Catolicismo e que inclui supostamente o sacrifício de bebês não batizados, orgias sexuais pervertidas e a recitação de trás para frente do “Pai Nosso”. 

Nada disso jamais acontece nos Sabbats dos Bruxos. Não há sacrifícios (humano ou animal), não há o que chamam de magia negra, não há rituais anticatólicos. 

Os Sabbats são simplesmente uma ocasião em que é celebrada a Natureza com danças, cantigas e deleite com alimentos pagãos e honra às deidades da Religião Antiga (principalmente a Deusa da Fertilidade e Seu Consorte, o Deus). 


Em certas tradições wiccanas, a Deusa é adorada nos Sabbats de Primavera e do Verão, enquanto o Deus é homenageado nos Sabbats do Outono e do Inverno.

A celebração de cada Sabbat é uma experiência espiritual intensa e sublime que permite aos praticantes permanecerem em equilíbrio harmonioso com as forças da Mãe Natureza.

(Texto: Gerina Dunwich)







LAMAS, JESUS E A COLHEITA FELIZ

Por Marcelo Del Debbio
Extraido do Blog Ponte Oculta


Dia 2 de Fevereiro comemoramos no hemisfério Sul a celebração de Lammas, um dia sagrado no paganismo, cuja origem remota aos cultos egípcios de fertilidade. Também comemoramos o Dia de Iemanjá, uma das mais importantes orixás dos cultos africanos; além disso, relacionados ao ritual de Lammas, Jesus e os Apóstolos nos darão dicas de como agradecer por sua Colheita Feliz. E, por mais incrível que pareça, todos os assuntos acima estão interligados!

Lammas é um dos oito Sabbats da Roda do Ano Celta/Wicca. Os quatro Sabbats principais (ou grandes) correspondem ao antigo ano gaélico e são chamados de Candlemas, Beltane, Lammas e Samhain. Os quatro menores são Equinócio de Primavera, Solstício de Verão, Equinócio do Outono e Solstício de Inverno.

Lammas, que ocorre entre o Solstício de Verão (Litha) e o Equinócio de Outono (Mabon), é a festa da primeira colheita, uma época de agradecimento aos Deuses por tudo o que colhemos. Agradece-se ao que foi bom e também ao que pareceu ruim, pois no paganismo crê-se que tudo o que acontece na vida faz parte no caminho evolutivo de cada um.

Lammas (ou Lughnasadh) é comemorado em 1 de Agosto no hemisfério Norte e 2 de Fevereiro no hemisfério Sul. O nome Lughnasadh veio duma festa agrícola típica dos celtas. Uma festa da colheita em honra ao deus céltico do Sol: Lugh (considerado o maior guerreiro dentre os celtas, pois derrotou os gigantes que exigiam sacrifícios humanos). Já o nome Lammas significa “Missa do Pão” (loaf Mass), que representa o alimento (geralmente pão ou bolo ou qualquer outra massa) feito com os grãos, que representam a colheita, e repartido (como alimento sagrado) entre os sacerdotes ou família ou mesmo entre amigos.


Este ritual já era praticado desde o Antigo Egito, logo após o período das cheias do Nilo (que ocorriam entre Junho e Setembro), período no qual aconteciam as principais colheitas e correspondiam aos signos de Ísis, Rá, Neit e Maat. Nestas celebrações, os sacerdotes, em número de doze (cada um representando um dos signos do zodíaco egípcio), juntos do Sumo-Sacerdote responsável pela celebração, reuniam-se neste sabbat para agradecer aos deuses pelas graças alcançadas.

Nestas celebrações, eram usados o pão (que representava o trigo colhido em sua forma final) e o vinho (que representava as uvas em sua forma final), que eram repartidos entre todos durante o ritual. Esta celebração também era realizada em outras datas festivas, como o Pessach.

Este ritual foi praticado por Yeshua e seus discípulos e acabou se tornando conhecido como a “Santa Ceia” pelos católicos. Nos evangelhos, a Última Ceia (também chamada de “Ceia do Senhor” ou “Ceia Mística”) foi a última refeição compartilhada por Jesus com os doze apóstolos antes de sua “morte e ressurreição”. A Última Ceia tem sido objeto de várias pinturas, sendo a mais famosa o afresco de Leonardo da Vinci em Milão, pintada em 1498, repleta de referências Astrológicas.

Durante a Última Ceia, e em referência específica ao tomar o pão e o vinho, Jesus contou aos seus discípulos, “Façam isso em memória de mim”, (1 Coríntios 11:23–26). Outros eventos e diálogos foram gravados nos Evangelhos Sinóticos e no de São João. Todas as igrejas cristãs interpretam o descrito como a instituição da Eucaristia.


O vaso que era usado para servir o vinho ficou conhecido também como o “Cálice Sagrado”, e tem sido um dos supostos objetos da literatura do “Santo Graal” na mitologia cristã (embora fique claro que são duas taças distintas na mitologia católica). Eu já falei sobre isso em colunas anteriores, procurem…

A Última Ceia ocorreu na véspera da morte de Jesus. O Novo Testamento narra que Jesus pegou no pão em suas mãos, deu graças e disse aos Seus discípulos: “Este é o meu corpo que será entregue a vós”. Do mesmo modo, ao fim da ceia, Ele pegou o cálice em suas mãos, levantou ao alto e disse aos seus discípulos: “este é o meu sangue, o sangue da vida que será derramado por vós.”

Atualmente, este ritual têm sido realizado como um ato simbólico, representando um agradecimento por tudo o que conseguimos colher neste período (sejam realizações materiais, intelectuais, emocionais ou espirituais). 

A sociedade atual e materialista (na qual “ser feliz” significa “ter dinheiro”) possui a mentalidade nefasta de estar sempre pedindo, pedindo, pedindo… mas poucos têm a humildade de agradecer; Lammas é um ritual que nos lembra exatamente disso. Agradecer pela colheita feliz que temos em nossas vidas. Como Jesus fez, os sacerdotes egipcios faziam antes dele e os magos celtas fazem até hoje.

Agora sabemos o porquê da festa de agradecimento aqui no Hemisfério Sul, mas que relação isto teria com Iemanjá, senhora dos mares na Umbanda e no Candomblé?
A resposta é simples: basta entender como a Roda do ano funciona. Em Salvador, ocorre anualmente, no dia 2 de Fevereiro, uma das maiores festas do país em homenagem à “Rainha do Mar”. A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até ao templo-mor, localizado próximo à foz do rio Vermelho, onde depositam variedades de oferendas, tais como espelhos, bijuterias, comidas, perfumes e toda sorte de agrados. Isso porque Iemanjá foi sincretizada à Nossa Senhora dos Viajantes, uma das diversas versões de Nossa Senhora que teve origem em Portugal no século XV. mas N. S. dos Viajantes foi uma adaptação da Santa conhecida como Nossa Senhora das Candeias (velas) ou Nossa Senhora da Candelária.

Esta santa, por sua vez, foi uma “adaptação” (para não dizer que os Católicos surrupiaram as datas das principais festas pagãs de novo) das festividades de Candlemas, também conhecido como Imbolc, Oimelc e Dia da Senhora.


Candlemas é o Festival do Fogo que celebra a chegada da Primavera. O aspecto invocado da Deusa nesse Sabbat é o de Brígida, a deusa celta do fogo, da sabedoria, da poesia e das fontes sagradas. Brigit também é conhecida como a Deusa-Tríplice, Senhora da Lua, filha de Dagda e uma das Tuatha de Danann. Uma versão celta da própria Ísis.

Como os sabbats são invertidos no hemisfério Norte e Sul, então enquanto comemoramos Lammas aqui no Brasil, os Europeus comemoram… isso mesmo! Candlemas!
(MDD)




SIMBOLISMO E COSMOGONIA
PARTE I

Autor: Federico González
Tradução: S. K. Jerez




A COSMOGONIA PERENE

A cosmogonia é uma ciência cultivada por todos os povos arcaicos e tradicionais e se refere ao conhecimento do homem (pequeno cosmos) e do universo (homem grande). Repete-se de modo unânime e de maneira perene ao longo do tempo (história) e do espaço (geografia), descrevendo uma única realidade, a do cosmos. Esta realidade, por outro lado, é a mesma que nós, os contemporâneos, vivemos e habitamos, pois é essencialmente imutável apesar das mutantes formas em que pode ser expressa ou apreendida, já que se mantém perenemente viva.

Esta ciência é praticamente desconhecida para o ser humano atual, que é produto do racionalismo, do positivismo, do materialismo e da técnica. Foi, no entanto, a estrutura básica, primária, sobre a qual tanto os povos primitivos como as grandes civilizações da antiguidade como, por exemplo, os egípcios, fundaram suas crenças, e a ferramenta com a qual construíram sua vida e cultura, que no caso desse exemplo durou três mil anos; o mesmo poderia ser dito do império chinês, ou melhor, da Tradição extremo–oriental. Esta ciência, na verdade, é o denominador comum de todas as tradições conhecidas, quer se encontrem vivas ou aparentemente mortas.

O modo normal pelo qual essa Cosmogonia, Universal e Perene, se expressa, é o símbolo, ou um conjunto de símbolos em ação, constituindo códigos e estruturas que se conjugam permanentemente entre si, manifestando e veiculando a realidade, ou seja, toda a possibilidade do discurso universal, que se faz audível e compreensível por seu intermédio. O símbolo é, portanto, a tradução inteligível de uma realidade cosmogônica e, ao mesmo tempo, essa realidade em si, ao nível em que ela se expressa[1].

Para o caso da cosmogonia nos interessam particularmente os símbolos numéricos e geométricos, que, como se sabe, mantém uma perfeita correspondência entre si. Constituem módulos paradigmáticos, presentes em todas as culturas, já que formam a estrutura de qualquer construção, neste caso, da Construção Universal. Não obstante, trataremos aqui não só dos números e figuras geométricas e do simbolismo construtivo em geral, mas, em particular, do símbolo da roda. É importante ressaltar que aquilo que a simbólica manifesta dentro de si, no mais profundo de sua intimidade, não é senão a totalidade do cosmos, atual e constante. Ela própria, a Cosmogonia Perene e Universal – e não só a ciência que trata dela – que é válida para todo tempo e lugar na dimensão do humano, não é nada mais que um símbolo de algo muito mais amplo que a transcende, já que pode ser concebida e explicada como uma modalidade arquetípica do Ser Universal.

Roda da Fortuna – Miniatura. Século XII. Arte alsaciana

Pode-se pensar, equivocadamente, que as estruturas simbólicas são meras convenções utilizadas para descrever a realidade. Isso só seria válido na medida em que se aplicasse igualmente a qualquer manifestação, que é sempre uma determinação, uma fixação, começando pela linguagem, pelo verbo. Porém, é óbvio que não há maneira de apreender a realidade senão é por meio do símbolo (linguístico, numérico, geométrico, etc.) e dos códigos que este forma.

O símbolo não é arbitrário, e reflete autenticamente o que expressa, requisito sem o qual seria impossível qualquer relação ou comunicação. Deve-se ter em mente que, por tomar uma forma, constitui uma estrutura na torrente do não-enunciado, na vida larval e caótica do vir a ser. Os antigos conheciam sobejamente esta verdade, e daí o valor criativo que atribuíam à palavra. Ou seja: o sujeito participa de qualquer fato objetivo e portanto o gera; a história de seus ciclos também testemunha esta inter-relação constante. No entanto, a irrealidade do mundo – e do homem – só pode ser observada porque existe, e deve ser, nesse caso, sujeito e objeto de alguma revelação. Os símbolos, como os conceitos ou os seres, são imprescindíveis no plano do Universo, e alguns códigos como o aritmético ou o geométrico, entre outros, não são convenções casuais, mas expressam realidades arquetípicas e formam a base de qualquer estrutura, não só no “exterior” mas também no “interior”. A ponto que de se poder dizer que estas imagens constituem categorias próprias do pensamento, e fazem do homem um autêntico intermediário entre o conhecido e o desconhecido, ou seja: o maior dos símbolos, capaz de unificar por sua mediação a multidão do disperso.

Notas
[1] – Ver René Guénon: Símbolos Fundamentales de la Ciencia Sagrada, Eudeba, Buenos Aires 1988.

O SÍMBOLO DA RODA

PARTE II

O Símbolo da Roda

Talvez a Roda seja o mais universal dentre os símbolos sacros de todos os povos. Isso se deve, por um lado, ao fato de que este símbolo aparece unanimemente, direta ou indiretamente, em todas as tradições, e parece ser consubstancial ao homem. Por outro lado, a própria universalidade dos significados da roda, e sua conexão direta ou indireta com os demais símbolos sagrados, em especial, números e figuras geométricas, fazem dela uma espécie de modelo simbólico, uma imagem do cosmos. Pois a roda no plano é um círculo, e a circularidade é uma manifestação espontânea de todo o cosmos; portanto essa energia há de provir de um ponto central que a irradia, tal qual o caso de uma roda, símbolo do movimento e também da imobilidade, que pode girar e reiterar seus ciclos, possibilitando a marcha graças a um eixo imóvel. No plano isso se representa como um centro do qual a circunferência extrai sua forma (com cordel ou compasso, é imprescindível ter um ponto fixo para traçar a circunferência) por irradiação, tal qual a energia potencial do eixo se transmite ao aro por mediação dos raios das rodas, análogos ao raio da circunferência[1].

Qualquer pessoa que traça uma circunferência sabe que esta depende do ponto central e não ao contrário. Entre o ponto central e a circunferência se configura o círculo; o valor aritmético associado ao primeiro é a unidade, que é uma representação natural do ponto geométrico, e à segunda o nove, que é o número do ciclo por ser o da circularidade, como mais adiante veremos. A soma de ambos nos dá a dezena (1 + 9 = 10) que é modelo numérico da tetraktys pitagórica, o qual pode ser relacionado com qualquer outra aritmosofia, já que os números – e as figuras geométricas – são módulos harmônicos arquetípicos, válidos em todo o manifestado e, portanto, para qualquer tempo e lugar dentro deste ciclo humano.


Assim, pois, não devemos estranhar que neste trabalho sejam tratados em conjunto os símbolos da roda e do círculo, o da espiral e o da esfera, pois esta, por exemplo, não é senão o círculo na tridimensionalidade. Igualmente, que se mencionem símbolos estreitamente associados ao da roda como o da cruz, o quadrado, e outros, assim como que se recorra às distintas tradições onde se encontra testemunhado. Não obstante, este símbolo está presente em nossa própria Tradição e se acha ao nosso alcance trabalhar com ele. No próprio dia-a-dia podemos observá-lo constantemente; de fato é evidente na própria vida, pois como observamos, as coisas se produzem com um movimento circular e portanto são cíclicas, o que é um pensamento emitido por todas as doutrinas metafísicas. A figura esquemática da roda no plano foi associada ao sol por numerosos povos e de fato ainda hoje é o símbolo astrológico desse astro; em alquimia representa o ouro, seu equivalente terrestre. Daí a associar o percurso do sol com um carro dourado, ou de fogo, é só um passo. De fato seu alcance é significativamente mais amplo e se corresponde com a ideia arquetípica de Centro: aquilo que é capaz de gerar uma ordem na massa amorfa do caos; o ponto imóvel imprescindível a toda criação, o motor graças ao qual o devir tem um sentido.


Este ponto central da Roda do Mundo se comunica com a periferia, como já se disse, através de raios, que são portanto intermediários entre ambos; e enquanto a roda gira sobre si mesma simbolizando o movimento e o tempo, o eixo permanece fixo expressando a imobilidade e o eterno[2].

O círculo e a esfera foram tomados por numerosos povos e distintos autores antigos como figuras perfeitas e expressões da totalidade. A roda em particular está associada aos ciclos que repete uma e outra vez e, portanto, ao relativo, ao passageiro, ao contingente, porém sobretudo à recorrência, à reiteração. Como se poderá observar, e assim o continuaremos vendo, este símbolo se presta a inumeráveis transposições ao plano metafísico, ontológico e cósmico e é objeto de conhecimento e especulação.

O que é um ponto central ao círculo, é o eixo com relação à esfera, motivo pelo qual centro e eixo se correspondem exatamente, sendo o primeiro um símbolo plano e o outro símbolo tridimensional do mesmo conceito.

Se o ponto é virtual, não-manifestado e geometricamente não existe, a periferia da roda será visível e representará, na ordem cósmica, a manifestação universal e, no mundo do homem, qualquer expressão, razão pela qual também se pode equiparar o ponto e o círculo, a potência e o ato, e por conseguinte, a contemplação e a ação.

A primeira divisão a que pode dar lugar o símbolo da roda é a bipartição da figura que a representa em duas metades análogas e exatas. Estas representam os dois movimentos, de ascensão e descenso, que realiza a roda no percurso de um ciclo, seja o do sol no ano, ou o do dia, ou o da lua em um mês, ou o da vida de um ser humano; o de princípio e fim com o qual está assinada qualquer criação.


Princípio e fim têm uma origem e um destino comum, o que dá lugar, além disso, às ideias de reincidência ou repetição, crenças e conceitos de todos os povos arcaicos e tradicionais que viveram sempre um tempo cíclico e não linear e indefinido, tal como o nós concebemos atualmente. Qualquer ponto da periferia – os que são de número indefinido e podem simbolizar, cada um, a vida de um homem na imensidão do criado – é um reflexo do centro e se encontra conectado a ele pelo raio, porém enquanto que no aro todo é sucessivo, do ponto de vista central as coisas são simultâneas. Esta figura também pode ser adaptada obviamente aos conceitos de interior e exterior, de luz e reflexo, e também de realidade e ilusão, posto que a permanência do ponto não se altera diante das formas mutantes e sempre perecíveis do transcorrer periférico.

Nos diz René Guénon que: “O centro é, antes de tudo, a origem, o ponto de partida de todas as coisas; é o ponto principal, sem forma nem dimensões, portanto indivisível, e, por conseguinte, a única imagem que se pode dar à Unidade primordial. Dele, por irradiação, são produzidas todas as coisas, assim como a Unidade produz todos os números, sem que por isso sua essência fique modificada ou afetada de qualquer maneira”.

Todos os pontos da circunferência estão a igual distância do centro, lhe são equidistantes, motivo pelo qual as inumeráveis energias do cosmos se neutralizam em seu seio. Geometricamente é o eixo vertical que atravessa distintos planos circulares horizontais, que ele mesmo gera, os que giram como rodas ao seu redor formando a cadeia de mundos, os diferentes estados de um Ser Universal.

A energia da irradiação chegada a seus próprios limites retorna a sua fonte por mediação do mesmo raio que as conecta, para ser reabsorvida no Princípio, que novamente volta a emaná-la para a periferia, constituindo esta inter-relação, ad extra e ad intra, uma espécie de respiração universal selada pelas leis cósmicas da dialética. Por isso é que o Centro, ou o Eixo, é a Origem e o Princípio, e irradiando tudo d’Ele, a Ele tudo retorna.

O centro é pois uma região mítica, uma ideia arquetípica que, não obstante, se manifesta em determinados pontos da circunferência que, desta maneira, passam a ser centros para o sistema que eles geram, sempre e quando sejam autênticos reflexos do ponto original ou, o que é o mesmo, que esse Centro fosse uma teofania, ou uma hierofania, um lugar, pessoa ou objeto que expressasse a unidade de um modo particular, e que igualmente a irradiasse. Nesse caso os distintos centros ou pontos significativos na periferia seriam focos “cosmizados” que estariam estabelecendo contato com o ponto médio, rompendo assim com o movimento homogêneo e reiterativo da Roda. Por este caminho o sábio perfeito, segundo o taoismo, poderia acessar o “ponto central da Roda”, em comunhão com o princípio, em absoluto repouso, imitando “sua ação não atuante”[3].

Notas

[1] – Ambas derivam da palavra latina radius.

[2] – Este raio é chamado buddhi na tradição hindu e corresponde à inteligência, ou intuição direta.

[3] – O alquimista, matemático e cabalista John Dee, astrólogo da rainha Isabel I da Inglaterra, cujos instrumentos mágicos (espelho, pantáculos, bola de cristal) se conservam expostos no Museu Britânico, escreve no Teorema II de seu Mônada Hieroglífica: “É pois pela virtude do ponto e da mônada que as coisas começaram a ser desde o princípio. E todas as que são afetadas na periferia, por grandes que elas sejam, não podem, de nenhuma maneira, existir sem a ajuda do ponto central”.

SÍMBOLO, MITO E RITO
PARTE III

Símbolo, Mito, Rito

O simbolismo do “centro do mundo” poderia ser transposto ao do “eixo do mundo” e relacionar-se então com tudo aquilo que significa este eixo. Em particular com os símbolos da árvore (Árvore da Vida) e da montanha, e todos os indicadores de pontos de conjuntura na geografia e na história sagrada, que se manifestaram ao longo do tempo e em distintos lugares. Estes lugares ou seres especiais, que são símbolos por suas próprias características mágico–teúrgicas, promovem uma ruptura de nível que permite comunicar-se com outros mundos, ou estados de consciência diferentes, com zonas vedadas do universo e de nós mesmos. No ser humano esse Centro do qual falamos está alojado no coração, como o atestam todas as tradições.

A montanha e a árvore são, além disso, dois símbolos de ascensão, igual ao da escada, e supõem a ideia de saída de um plano ou mundo, e o ingresso em outro superior. Geometricamente esta possibilidade está marcada pela figura da espiral, que é capaz de sair do plano e da reincidência rotineira, e projetar um novo movimento circular, desta vez em um plano distinto. Costuma-se também representar a espiral em forma dupla, formando na tridimensionalidade uma espécie de trompa, onde uma das espirais é “evolutiva” e a outra “involutiva”, complementando-se perenemente.
Por outro lado o círculo é análogo ao quadrado. Poder-se-ia dizer que este último é uma solidificação daquele, marcada pela agressividade rígida das arestas em comparação com a brandura e suavidade da forma circular; isto também é válido para o cubo e a esfera. Não obstante ambas as figuras têm 360 graus, já que essa é a superfície do círculo, também configurada pelos quatro ângulos retos de 90 graus do quadrângulo. Tradicionalmente se tomou a figura da esfera, ou do círculo, como mais perfeita que a do cubo ou do quadrado. Uma das razões já foi mencionada: os raios que unem à periferia da esfera com o centro são de igual distância, enquanto que no cubo ou quadrado não ocorre o mesmo. Em geral se relacionou o círculo com o céu (uma semiesfera) e o quadrado com a terra. Entre ambos constitui-se o cosmos, como se pode observar no simbolismo arquitetônico, em especial o do templo, pois este constitui uma imagem do universo[1]. Como decorrência, a associação do círculo com o quadrado (e com o quaternário e a cruz) resulta naturalmente das próprias características inerentes a estes símbolos, os quais se entrelaçam de modo espontâneo tal qual as ideias e arquétipos que eles representam.

Voltaremos mais adiante a discorrer sobre estes temas. Façamos porém agora algumas considerações sobre os símbolos e também sobre os mitos e ritos. Em primeiro lugar assinalaremos que os símbolos não são, para a Simbólica, o que costuma entender hoje o homem contemporâneo. Ou seja, simples alegorias ou convenções impostas pelo ser humano. Repitamos: estas versões, em realidade, não são senão graus de leitura do que é o símbolo em si, nas quais se faz “pé firme” só por seu aspecto psicológico, ou simplesmente por seu valor prático, e sofrem o enorme perigo de reduzir o símbolo só a isso, com o que não se faz outra coisa além de negá-lo, ao tergiversar seu sentido. O símbolo é muito mais amplo e não se reduz a estas duas leituras. Pelo contrário, seu caráter é essencialmente metafísico e ontológico (na medida em que se refere ao ser e é transformador) e portanto arquetípico. Este é o símbolo, cuja função a qualquer nível de leitura que se observe, não é mais que a de levar do conhecido ao desconhecido por sua mediação.

Aquele que teve a oportunidade de estudar as culturas tradicionais pôde observar a importância transcendental que o símbolo sempre possui nelas. Isso se deve ao fato de que para elas o símbolo em si está carregado de uma energia especial, de uma força mágica –por manifestar verdades desconhecidas de segredos implícitos no mundo, e desse modo revelá-los – que é objeto de veneração e reverência, como o atestam as sociedades arcaicas, que tomam estes símbolos (ou objetos-símbolos) como autênticos representantes de outros mundos verticais; das energias do além, capazes de transmitir o conhecimento de outras realidades, ou melhor, de outros planos, que igualmente, constituem o total da realidade.

Quanto ao mito, presente em todas as culturas antigas, além de revelar verdades cosmogônicas e propor um modelo exemplar de vida e realização, é o fator aglutinante que deu coesão à existência dos inumeráveis povos, possibilitando assim sua organização social. O mito é um símbolo que se transmite de maneira oral; de outro lado o rito dramatiza o mito e perpetuamente o atualiza, simbolizando-o; consequentemente, símbolo, mito e rito formam um só conjunto, como já se assinalou em outros lugares, e deve-se por subentendido que quando falamos de símbolo, também estamos nos referindo a mito e rito.

Voltando ao termo metafísica, uma vez feita a ressalva de que se refere àquilo que está além da física, devemos esclarecer que com ele não só se identifica o que excede à matéria, mas também o que está além do psicológico, por ser arquetípico. E ainda mais que isso, pois o sentido associado à palavra metafísica na simbólica quer expressar aquilo que está além do ser, o supra-cósmico e supra-humano.
O símbolo é o veículo que liga duas realidades, ou melhor, dois planos de uma mesma realidade. Participa, pois, de ambas: daí sua pluralidade de significados. Para a antiguidade, o símbolo era o representante de uma energia–força que permitia pela ruptura de nível o acesso a outros mundos, ou o acesso ao conhecimento de diferentes planos deste mesmo mundo, caracterizados por distintos graus de consciência. O símbolo era e é, consequentemente, o meio de comunicação entre os deuses e os homens, objeto sagrado por excelência, já que ele conta a história verdadeira, a eficaz, e não a sempre mutante, de múltiplas falsas aparências. Descreve então a realidade tal qual é e não permite assim o engano dos sentidos, os desvios e enredos a que é tão propensa nossa personalidade. Se crê portanto nele e se reconhece os valores de que é portador, sem cair no equívoco grosseiro de tomar o símbolo pelo simbolizado, o veículo pela meta da viagem.

O termo grego symbolon se referia a duas metades de algo, que se juntavam, que coincidiam, e conformavam um sinal de reconhecimento; pode concluir-se imediatamente que estas duas metades são análogas, o que caracteriza a simbólica, pois nada nem ninguém pode expressar ou transmitir algo se não o faz mediante uma correspondência entre o que quer manifestar e a forma através da qual o manifesta. Como decorrência, a representação simbólica há de expressar a ideia metafísica, descrevendo e repetindo a cosmogonia arquetípica, participando desse modo no processo de criação. Como estamos vendo, o símbolo está intimamente relacionado com as leis de analogia e correspondência presentes no Modelo do Universo, na Cosmogonia Perene.

A rigor qualquer coisa pode ser um símbolo, pois ela expressa de modo particular a sua origem e a mão de seu criador, o mistério que ela oculta dentro de si. Toda expressão é simbólica pois conserva implícito um gesto original. Não obstante, há que se distinguir entre os símbolos revelados especificamente para o conhecimento de uma realidade, e os símbolos espontâneos da psique individual que, por essa razão, não é capaz de ultrapassar esse nível de consciência. Enquanto os primeiros se supõem não humanos, os segundos não podem exceder o nível psicológico ligado em simbologia com o lunar e sublunar. Os primeiros expressam uma realidade transcendente, os outros não conseguem manifestar além do poder do imanente e denotam a garra do demiurgo.

Também deve-se distinguir o símbolo do emblema, e sobretudo, como já se notou, da alegoria, que põe um espaço entre o símbolo e o simbolizado, e se apresenta também como uma versão a nível psicológico, como inexistente ou sonhada, diferente da realidade e exatidão daquilo que os símbolos expressam.

Em forma gráfica e nas artes plásticas e monumentos se conservam os símbolos visuais das culturas antigas; de forma oral se tem transmitido seus mitos e suas canções rítmicas rituais, repetitivas e cíclicas e muitos desses se encontram registrados por escrito; antropólogos, arqueólogos, historiadores e outros especialistas, nos comunicam novos achados que confirmam a total importância que os povos tradicionais atribuíam a seus símbolos, já que, conhecedores da Cosmogonia Arquetípica, repetiam seus gestos simbólicos, que eram ensinados e aprendidos, pois o conhecimento do significado do símbolo não se pode obter de outra maneira. Hoje em dia é não faz parte da mentalidade oficial a ideia de um Modelo do Universo (conhecida por todos os povos tradicionais), um plano arquetípico e invariável que supõe a presença de um Arquiteto e que é válido para todo tempo e lugar, na escala humana, e que, de fato, também está transcorrendo agora. Igualmente se ignora a existência da Filosofia Perene, ou seja de uma mesma filosofia, idêntica nos princípios, em todas as tradições do mundo. Esta Cosmogonia e Filosofia perenes se ocultam dentro dos símbolos tradicionais, de origem revelada, que podem ser encarnados por aqueles que consigam obtê-los, pois os conhecimentos, energias e experiências que os símbolos contém, de caráter arquetípico e cosmogônico, podem ser vivenciados no constante agora, sempre que os interessados sejam pacientes para concretizar uma nova forma de aprendizagem e ser favorecidos por tamanha graça; em todo caso esta é uma experiência estranha e às vezes se vê como muito rara e muito difícil de assumir, segundo o atesta a tropa alquímica[2].

A roda, como símbolo do ciclo, está sujeita a um invariável retorno que, não obstante, tem determinados pontos que a limitam. Estes pontos estão magnificamente exemplificados pelo caminho do sol no ano, a “roda sór“, que se caracteriza por ter dois momentos máximos em seu percurso, nos quais o sol parece deter seu rodar; nos referimos aos solstícios de inverno e verão. Eles bem podem situar-se nos extremos da roda, ou do círculo, e marcar esses momentos. Há também outros momentos importantes no percurso do “carro sór“, os equinócios, e eles se encontram perfeitamente equidistantes dos solstícios marcando assim um círculo dividido em quatro partes exatamente iguais.

Entretanto, o quaternário como divisão normal do ciclo não só é reconhecido no percurso anual do sol, mas no diário (aparente), o qual é dividido também quadripartitamente em meia-noite (0 hs.), amanhecer (6 hs.), meio-dia (12 hs.) e entardecer (18 hs.)[3].

Igualmente pode-se encontrá-lo em qualquer ciclo ou manifestação, pois o quaternário é o signo do criado: também na divisão espacial se fixa os quatro pontos cardeais em relação à linha do horizonte[4].

Se pode também identificar outros exemplos desta lei do quaternário; as distintas idades de um homem: infância, juventude, maturidade, velhice. Igualmente, as idades do mundo caracterizadas de maneira descendente pelo ouro, a prata, o bronze, e esta última que estamos vivendo, o ferro. O mesmo as estações do ano: inverno, primavera, verão e outono; as fases da lua, e igualmente os elementos, ou princípios constitutivos da matéria: Fogo, Ar, Água e Terra, aos quais as diferentes tradições associaram cores, como sinais qualitativos.

Voltamos a ligar assim estreitamente a figura do círculo e do quadrado através do quaternário. O ciclo, ou seja o símbolo da roda em movimento, funde indissoluvelmente estas figuras entre si em estreita vinculação com a simbólica atribuída a espaço e tempo, relacionando-se o círculo com este último e o quadrado (o quaternário) com o primeiro.

A roda de seis raios tem uma particularidade mágica: o tamanho do raio divide sempre o aro em seis partes iguais.

A roda zodiacal divide o ano em doze períodos, chamados signos, os quais também em ciclos maiores estão equiparados a eras; subdivisões todas da figura partida pelo binário e quaternário como já vimos. Acrescentaremos que o termo “zodíaco”, de origem grega, se traduz por “roda da vida”.

Os distintos números de raios das rodas não são arbitrários e se referem à partição do círculo nestes ou naqueles segmentos, assinalados por diferentes números, dependendo de como se encara a figura, em que contexto, e para que fins; tudo isso ligado com os atributos próprios de cada número e suas correspondências geométricas. Na Tradição Hermética, onde se produz uma amálgama entre os nomes rosa e rota ( = roda), a flor é a imagem do circular, como bem se pode perceber nos mandalas que são certas “rosetas” das catedrais europeias. Tudo isso faz particularmente significativas as diferentes modalidades do símbolo em geral, relacionando-o com aspectos diferentes da realidade, ou melhor, com várias referências acerca de como encará-la, todas elas complementares.

Assim como o ponto se corresponde com a unidade aritmética e o quadrângulo com o quatro, o ciclo se expressa pelo número nove. Este número é irredutível e como se sabe todos seus múltiplos (e submúltiplos) regressam indefectivelmente a ele, por exemplo: 9 x 2 = 18 = 1 + 8 = 9 ; 9 x 3 = 27 = 2 + 7 = 9 ; 9 x 4 = 36 = 3 + 6 = 9 , etc. Por outro lado divide a circunferência em quatro partes, e introduz a circularidade nas cifras com as quais se conecta, coisa que efetuam também seus múltiplos, relacionando assim qualquer número com a figura do círculo; devemos recordar que esta última se forma com o valor 9 da circunferência, mais o valor 1 do ponto central. O mesmo sucede com o quadrângulo que igualmente se constrói a partir de um ponto central cruzado por duas ortogonais, o que representa uma cruz, cujo meio exato é outro novo ponto, o número cinco, que na alquimia corresponde ao éter, em filosofia à quintessência, e que foi importante em distintas tradições, entre elas a chinesa e as pré-colombianas[5]. Com o número sete acontece o mesmo, já que é considerado o central de uma roda de seis raios. Na realidade, e por outra das transposições entre o símbolo do círculo e do quadrado e do plano ao espacial, o sete é o ponto central do cubo, de seis faces e doze arestas, outro dos símbolos-modelo do universo[6].

O simbolismo dos números, como já destacamos, está estreitamente relacionado com nosso tema. O sistema pitagórico decimal que usamos está formado por nove dígitos chamados naturais, agregados do zero que tem um valor posicional nos distintos níveis em que se expressa: dezenas, centenas, etc.; voltando-se a repetir em qualquer nível os mesmos nove números em sua viagem circular. Para o hermetismo a série numérica tem uma característica especial: a unidade gera todos os números e por adição está presente em todos eles; por isso o número um seria o maior, e os demais, divisões ou fragmentações da unidade primordial. Como se vê, aqui os números não estão expressando simples quantidades, mas qualidades, sendo tomados como módulos harmônicos arquetípicos. A antiguidade tinha primordialmente em conta a ideia que o número tinha significado; quer dizer, utilizava esta escala de modo vertical, que para isso havia sido projetada; embora também a usasse na forma quantitativa e horizontal para outras funções que considerava secundárias ou reflexas. Os conceitos que os números manifestam e suas representações geométricas estão intimamente associados ao metafísico e cosmogônico e correspondem a realidades essenciais do universo e do homem. As combinações entre os distintos números da escala faz possível a coesão universal, já que de fato, os números não são nem mais nem menos que conceitos de relação. O denário é uma chave mágica: com os dez primeiros números se pode nomear qualquer coisa. Na tradição hebraica os mesmos números são representados por letras, pois todo o alfabeto tem um valor numérico; no islamismo é igual. A relação entre letra e letra ou – o que dá no mesmo – entre número e número, produz o discurso do cosmos, a linguagem do universo, já que números e letras formam códigos reveladores do conhecimento do Ser Universal.

Notas

[1] – Na mesquita a cúpula corresponde ao céu e ao Profeta e as quatro “falsas” cúpulas que dela derivam e se projetam na base quadrangular, aos seus quatro descendentes, herdeiros de seu legado nesta terra.
[2] – Para destacar a importância do símbolo como linguagem só queremos recordar que a tradição cristã afirma que Constantino, imperador romano, viu uma enorme cruz no céu e ouviu uma voz que dizia In hoc signo vinces; este fato motivou sua conversão ao cristianismo e a posterior implantação desta religião como oficial no império, o que demonstra que o poder do símbolo foi capaz de mudar – ou orientar – toda a história do Ocidente.
[3] – Nem todos os povos fizeram exatamente esta divisão esquemática. Varias sociedades pré-colombianas aparentemente a contradizem. É de sumo interesse igualmente observar que estes povos que conheciam perfeitamente o ciclo e a circularidade, como o demonstra a perfeição de seus calendários, não utilizaram a roda de maneira técnica por considerá-la “tabu”, ainda que conhecessem sua aplicação prática, presente em numerosos brinquedos encontrados pelos arqueólogos ao longo da América Central.
[4] – A este respeito, não obstante, há que se ter presente que a linha do horizonte sempre se encontra no olho do espectador.
[5] – Para o hermetismo, é além disso o número do microcosmos, ou seja, do homem; também o dos dedos de sua mão.
[6] – Estas doce arestas ocupam um papel preponderante na cosmogonia pré-colombiana já que sua imagem do mundo se apresenta geralmente de modo quadrangular e cúbico; somadas ao centro produzem o número treze, módulo vital em sua visão do universo.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018


A LEI INICIÁTICA DO SILÊNCIO



Por Antonio Rocha Fadista

Platão, chamado a ensinar a arte de conhecer os homens, assim se expressou: “os homens e os vasos de terracota se conhecem do mesmo modo: os vasos, quando tocados, têm sons diferentes; os homens se distinguem facilmente pelo seu modo de falar”.

O pensamento do filósofo Iniciado nos oferece excelente oportunidade para uma profunda reflexão, principalmente para os que integram a Ordem Maçônica. Nem sempre nos damos conta de como nos tornamos prisioneiros das palavras que proferimos. Por serem a expressão do nosso pensamento, por traduzirem as idéias e os sentimentos, as palavras se tornam um centro emissor de vibrações, tanto positivas quanto negativas.

A palavra é o elemento que identifica o Homem e é a síntese de todas as forças vitais; é o elemento que interliga todos os planos, do mais denso ao mais sutil. A palavra está intimamente ligada ao silêncio, outra sublime expressão da psique humana.

No mundo profano a palavra - falada ou escrita - é usada indiscriminadamente. A sociedade humana está cheia de palavras que ofendem, que humilham, que magoam e que denigrem a honra do próximo. Se se trabalhasse mais e se falasse menos, com certeza que a humanidade seria mais evoluída e mais civilizada. Infelizmente existem palavras em excesso, não só no mundo profano como também nos Templos Maçônicos. Tal situação é inconcebível em um Maçom, pois no estudo dos símbolos ele aprende a refletir sobre o conteúdo oculto das palavras que, em última análise, refletem a essência interior do ser humano.

Não por acaso a doutrina Maçônica reserva o silêncio aos seus membros, de acordo, aliás, com a Tradição Pitagórica. A Escola Iniciática de Pitágoras tinha um sistema de três graus: o de Preparação, o de Purificação e o de Perfeição. 

Os neófitos do grau de Preparação, equivalente ao grau maçônico de Aprendiz, eram proibidos de falar; eram só ouvintes e cumpriam um período de observação de três anos, durante o qual a regra era calar e pensar no que ouviam. No grau de Purificação, equivalente ao de Companheiro Maçom, o silêncio se estendia por mais dois anos, adquirindo estes Irmãos o direito de ouvir as palestras do Mestre Pitágoras. Assim, para atingir o grau de Perfeição, equivalente ao de Mestre Maçom, quando então os Irmãos podiam fazer uso da palavra, era necessário praticar o silêncio durante cinco anos.

Nas reuniões maçônicas, sem dúvida, constitui uma prova de sabedoria saber ouvir e manter o silêncio. Chílon, um dos sete sábios da Grécia Antiga, quando perguntado sobre qual a virtude mais difícil de praticar, respondia: “calar”. No Zend Avesta, que contém toda a sabedoria da antiga Pérsia, encontramos normas e regras sobre o uso e o controle da palavra, cuja universalidade desafia os séculos. No mundo maçônico, a dimensão da palavra falada e escrita não é diferente.

Ao entrar em nossa Sublime Instituição encontramos, na ritualística, referências à sacralidade da palavra que, como meio de expressão dos pensamentos e dos sentimentos, deve ser sempre dosada, moderada, e deve espelhar o equilíbrio interno do orador. Em nossa Ordem, a palavra deve ser usada no mesmo sentido em que Dante Alighieri exortava o seu personagem Metelo, na Divina Comédia: “usa a tua palavra como um ornamento”.

À primeira vista, o silêncio poderia parecer um condicionamento e um castigo. Na realidade, o silêncio, a meditação e o raciocínio, são a única via que leva à libertação das paixões e dos maus pensamentos. Além de exercitar a autodisciplina, em seu silêncio o Maçom apreende com muito maior intensidade tudo o que ouve e tudo o que vê. 

Assim, a voz do Irmão que se mantém em silêncio é a sua voz interior, quando ele dialoga consigo mesmo e, neste diálogo, analisa, critica, tira suas próprias conclusões e aprimora o seu caráter. Em suma, pelo silêncio, a Maçonaria estimula os Irmãos a desenvolver a arte de pensar, a verdadeira e nobre Arte Real. Deste modo, o silêncio em Maçonaria não é meramente simbólico e não é também um meio de castrar a iniciativa dos Irmãos. O silêncio é indispensável e decisivo no processo de lapidação da Pedra Bruta e no aperfeiçoamento interno dos Irmãos.

Ao cruzar as portas de uma Loja Maçônica, trazendo consigo a liberdade total de expressão, um direito natural que lhe é garantido pela Declaração dos Direitos Humanos, sem as restrições que lhe impõem a moral e a razão, o novo Maçom aprende a controlar os seus impulsos, pela prática espartana do silêncio. Assim ele aprimora o seu caráter e prepara-se para ser um líder, numa sociedade na qual prevaleçam a Liberdade responsável, a Igualdade de oportunidades e a Fraternidade solidária.

Se tiver de falar, que o maçom siga o conselho de Dante e use a sua palavra como um ornamento. Tudo se resume na prática da Lei do Amor e da Tolerância. Certamente que o Grande Arquiteto do Universo ilumina e abençoa a todos os que pensam mais do que falam, pois estes espiritualizam a sua matéria, e são os Seus filhos mais diletos.

EM TEMPO:
O Irmão Aprendiz não só pode como precisa e deve usar a palavra quando apresentar os seus trabalhos, quando for questionado por outro Irmão, quando tiver informação relevante sobre qualquer candidato à Iniciação, ou quando tiver informação fundamental para a Loja ou para a Ordem. Basta pedir a palavra ao Vigilante de sua Coluna.

ANTÓNIO ROCHA FADISTA
M.'.I.'., Loja Cayrú 762 GOERJ / GOB - Brasi

O SHABTI DO ANTIGO EGITO: ESTATUETAS FUNERÁRIAS QUE ASSITIRAM AO FALECIDO E SALVARAM VIDAS.


Os shabtis [também conhecidos como "ushebtis" (estatuetas funerárias da dinastía XXI em diante) ou "shauabtis" (produzidos em Tebas durante o Novo Reino) eram figurinhas funerárias usadas pelos antigos egípcios. Existem diferentes hipóteses sobre a origem da palavra. Por exemplo, alguns especialistas propuseram que esse nome venha da palavra 'sha', que significa 'para comando', enquanto outros sugeriram a raiz 'swb', que significa 'stick' como a origem de seu nome. Essas figurinhas foram depositadas em túmulos como trousseau funerário, e acredita-se que sua função era auxiliar o falecido na vida após a morte. As shabtis tinham uma forma humana ou de múmia e podiam ser feitas de diferentes materiais, como faiança, argila ou mesmo cera. Os shabthis foram empregados em diferentes períodos da antiga história egípcia, começando talvez do final do Primeiro Período Intermediário e do início do Reino Médio. Atualmente, podemos ver o Shabti nas coleções de muitos museus ao redor do mundo.

Ancient Shabti egípcio exposto no Museu do Louvre, em Paris. ( CC BY-SA 2.5 )
Figuras que salvaram vidas
Nos períodos predynásticos e arcaicos do Egito, observou-se evidência de sacrifício humano como prática funerária. Parece que naquela época os servos foram sacrificados para que pudessem acompanhar seus mestres para a vida após a morte. Esta prática não durou muito, desde que ficou evidente que era desnecessário e desperdiçado. Em vez de sacrificar seus servos, os aristocratas decidiram representá-los simbolicamente, por exemplo em pinturas ou relevos no túmulo, para que pudessem servir os falecidos no além.
  • Descoberto no Egito coleção interessante de figurinhas de deuses antigos.
  • Setenta milhões de animais mumificados no Egito revelam Dark Secret of  the Ancient Mummy Industry.
  • Desenterrado no Egito seis túmulos com múmias da dinastia XXVI relativas a personagens da Elite.
A prática de representar os criados simbolicamente nas pinturas foi posteriormente substituída pelo uso de figurinhas, isto é, shabti. Alguns dos shabtis conhecidos mais antigos foram descobertos no complexo funerário de Nebhepetra Mentuhotep II (rei da dinastia XI considerado o primeiro faraó do Reino do meio), localizado em Deir el-Bahri, antigo Thebes. Essas figurinhas tinham forma humana e eram feitas de argila ou cera. Eles estavam envoltos em linho e colocados em pequenos caixões como se fossem verdadeiras múmias. Embora essas shabtis não tenham inscrições com feitiços mágicos como as de tempos posteriores, é provável que sua função fosse a mesma, ou pelo menos uma similar. 

Shabtis exibiu no Museu do Louvre, em Paris. ( CC BY-SA 3.0 )

Por outro lado, os shabti mais velhos eram freqüentemente equipados com minúsculas ferramentas, que supostamente serviriam para ajudá-los a executar a tarefa a que eles seriam destinados no além. Entre esses acessórios foram encontrados cestos, enxadas e enxadas. A partir dessas ferramentas em miniatura, podemos deduzir que o shabthis deve realizar trabalhos agrícolas para seus mestres na vida após a morte. Além disso, outras tarefas realizadas pelos shabtis eram assar pão, preparar cerveja, construir, etc. Mais tarde, os shabti foram inscritos com um feitiço mágico que supostamente lhes daria vida.

  • Descobriu barco funerário de 4.500 anos atrás em necrópolis do antigo Efito.
  • Curiosa figurinha cananeita feminina há 3.400 anos descoberta por uma criança em Israel.
  • Acordo pré-nupcial do antigo Egito em um papiro com mais de dois metros de cumprimento.

Materiais tradicionais

Os materiais utilizados para fazer o shabti também mudaram ao longo do tempo. Como mencionamos no parágrafo anterior, as primeiras figurinhas foram feitas de argila ou cera. Ao longo dos séculos, eles começaram a usar materiais mais duráveis. No Reino do Médio, por exemplo, os shabthis eram muitas vezes feitos de pedra, enquanto que no Novo Reino a faiança tornou-se um material padrão. Outros materiais utilizados para fazer shabti eram de madeira e terracota, o primeiro no início do Reino do Médio, o último mais comum no Novo Reino.

Shabti de Seti exibi no Louvre ( CC BY-NC-SA 2.0 )

Além disso, o número de shabtis que acompanhou o falecido variou de acordo com o período. Durante a 18ª dinastia, por exemplo, é usual que apenas um shabti sirva cada falecido. Este número foi aumentado para vários shabtis na próxima dinastia. No momento do Terceiro Período Intermediário, alguns falecidos foram enterrados com até 360 shabti, um para cada dia do ano. O problema não estava lá, já que no início deste período também havia um tipo especial de shabti, os "supervisores" do shabti. Estas estatuetas foram representadas com uma mão de um lado e a outra mão segurando um chicote. Sendo responsáveis ​​por dez shabtis, um enterro com 360 shabti 'trabalhadores' exigiu 36 supervisão de shabti. Mais tarde, no período tardio, o falecido ainda estava enterrado com um grande número de shabti,

Imagem da capa: Legião de estatuetas funerários (shabtis) pertencentes a Neferibreheb. Egito, cerca de 500 a. C., Louvre-Lens Museum ( CC BY 2.0 )

Autor: Wu Mingren

Este artigo foi originalmente publicado em www.ancient-origins.net e foi traduzido com permissão. 

Fontes :

Dollinger, A., 2006. O ushabti: uma existência de servidão eterna. [Online] 

Dunn, J., 2017. Figurinhas funerárias, incluindo Shabti, Shawabti e Ushabti, Workers for the Dead. [Online] 

Hill, J., 2016. Shabti, Shawabti e Ushabti. [Online] 

Pekkalainen, L., 2017. Shabtis do antigo Egito. [Online] 

University College London, 2001. Shabtis. [Online] 

Ushabtis.com , 2017. Shabtis: Servos para a vida após a morte. [Online] 
Disponível em: http://www.ushabtis.com/

www.globalegyptianmuseum.org , 2017. Shabti. [Online] 

MESTRES DA IDADE DA PEDRA

OS NEANDERTAIS PODERIAM TER ENSINADO TÉCNICAS SURPREENDENTES AOS NOSSOS ANTEPASSADOS


As ferramentas de 50 mil anos de idade, feitas de costelas de cervos, sugerem que o ser humano moderno poderia ter aprendido as técnicas de fabricação de ferramentas Neanderthal. Esses objetos, encontrados no sudoeste da França, aumentam o crescente corpo de evidências que mostram que a ideia usual de que os Neandertals eram grosseiros ou primitivos está longe de ser certa.

Semelhante aos polidores de osso que ainda hoje são usados ​​por artesãos de couro, as ferramentas antigas de Neanderthal possuem uma ponta polida e permitem um couro mais macio e resistente à água do que se o couro original fosse arranhado. A coisa não existe, uma vez que essas ferramentas parecem muito semelhantes às outras encontradas em assentamentos habitados mais tarde por seres humanos modernos. 

  • O cromossomo Y revela uma possível incompatibilidade genética entre o Homo Sapiens e o Neandertal.
  • Os 10 melhores mitos sobre os neandertais.
  • Jaw demonstra que um homem moderno de 40 mil anos atrás tinha um bisavô neandertal.
Um artigo sobre a descoberta foi publicado em 2013 na revista Actas da National Academy of Sciences. Falando sobre a descoberta, a Dra. Marie Soressi, pesquisadora da Universidade Holandesa de Leiden, observou que "Se os neandertais desenvolveram esse tipo de ferramentas ósseas por conta própria, é possível que o ser humano moderno aprenda essa tecnologia dos neandertais ".

Fotografias e desenhos de ferramentas ósseas dos sítios franceses de Abri Peyrony (AP) e Pech-de-l'Azé I (PA I). ( Soressi, M. et al )

O registro arqueológico sugere que o Homo sapiens chegou à Europa apenas com ferramentas de ponta feitas de osso entre seus instrumentos. Mas não demorou muito para que eles começassem a produzir esses polidores mais funcionais - o que poderia significar que os neandertais lhes ensinavam como criar esta ferramenta óssea mais especializada. A outra possibilidade é que essas ferramentas de 50 mil anos demonstram que o ser humano moderno influenciou o comportamento dos neandertais em um tempo anterior ao que acreditamos até agora. Pode ser muito cedo e não temos informações suficientes para decidir sobre isso.

Em qualquer caso, houve numerosos estudos que reforçam a hipótese de que Neandertals não eram grosseiros sem inteligência. Já há ampla evidência que sugere que essa espécie de hominídeos que desapareceu misteriosamente há cerca de 30 mil anos atrás não era tão primitiva quanto muitos acreditavam até agora. 

  • A mestiçagem entre humanos modernos e neandertais já ocorreu há 100 mil anos na Sibéria.
  • Estudos recentes mostram que os genes de Neanderthal fortaleceram nosso sistema imunológico.
  • Fogueiras e círculos de estalagmites: descobriu o possível santuário de Neanderthal no Sul da França.
Os neandertais não eram tão primitivos quanto muitos acreditavam até agora. ( Erich Ferdinand / CC BY 2.0 )

Há estudos que demonstram que os Neanderthals criaram arte , usaram plantas medicinais , gostaram de ter uma casa confortável ou "base" e podem até fazer uso de alguma forma de fala e linguagem modernas - sugerindo um certo nível de complexidade que geralmente não está associada ao estereótipo de Neanderthal grumpy. Talvez todas essas descobertas tenham servido de algum modo para reconsiderar nossa maneira de ver o Neanderthal. 


Reconstrução de neandertais enterrando um indivíduo em uma caverna. Museu Nacional de História Natural, Washington DC, Estados Unidos. (Ricardo Giaviti / CC BY NC SA 2.0 )


Imagem da capa: ilustração de um grupo de neandertais. ( Domínio público )




Este artigo foi originalmente publicado em www.ancient-origins.net e foi traduzido com permissão

O MAPA MAIS ANTIGO DO NOVO MUNDO NA HISTÓRIA ESTÁ GRAVADO NUMA CASCA DE OVO DE AVESTRUZ



O mapa mais antigo conhecido do Novo Mundo foi gravado pacientemente nas metades inferiores unidas pelos ovos de avestruz. Este século do século XVI ficou perdido para a história há séculos, mas voltou a iluminar alguns anos atrás em uma feira de mapas de Londres onde foi descoberto precisamente por um colecionador de mapas anônimo.

A National Geographic relata que o mapa curioso veio ao colecionador Stefaan Missine depois de ter sido comprado na feira. Missine mais tarde coordenou a análise de sua autenticidade e antiguidade, uma investigação que durou um ano.


América do Sul ("Terrae Sancta Crucis") no curioso mapa mundial gravado em ovo de avestruz. Na imagem, você também pode ver as ilhas da La Española ("Spagnolla") e Cuba ("Isabel"). Fotografia: Washington Map Society.

O mundo maravilhoso foi estudado por mais de 100 especialistas em mapas antigos. Os resultados revelaram que o mapa gravado em casca de ovo de avestruz era um original que poderia ser datado com precisão no ano de 1504, o que tornou mais antigo do que o resto dos mapas conhecidos do Novo Mundo descobertos até então, como o Hunt-Lenox Globe, que remonta a 1510 e é feito de cobre.

Como as características de ambos os globos são idênticas - a caligrafia, texto, ilustrações e até mesmo erros de ortografia são os mesmos - os especialistas concluíram que o mapa gravado em um ovo de avestruz foi usado como um molde ou modelo para reproduções mais tarde.

Balão Hunt-Lenox. (Biblioteca Pública de Nova York)

"Quem fez o balão teve acesso às informações mais recentes de exploradores de muitos países europeus que competem pela dominação mundial", lemos em Discover Magazine. Muitos exploradores estavam apenas voltando daquelas jornadas que mudaram tão profundamente a maneira como as pessoas daquela época viram e entendiam o mundo. A forma da "península asiática" (como o continente sul-americano foi considerado como tal), por exemplo, reflete as explorações do italiano Henricus Martellus, enquanto as duas pequenas ilhas que se observam no Mar do Caribe (Hispaniola e Cuba) Eles foram descobertos por Cristóvão Colombo. Outros detalhes refletem as recentes histórias exploratórias de Marco Polo, Corte-Real, Cabral e Amerigo Vespucci, que cunhou o nome de New World ou "MVNDVS NOVVS" que aparece refletido no globo.

  • Humor cartográfico do século XVI: o mapa mundial do bufão.
  • O Mapa de Piri Reis - Prova de uma tecnologia antiga?
  • Segredos ocultos revelados no mapa mundia de 1491.
O antigo globo terrestre gravado em casca de ovo de avestruz, rodeado por vários ovos de avestruz. Fotografia: Washington Map Society.

O mapa em si é fascinante. No Oceano Índico você pode observar um navio solitário navegando pelas ondas, de origem e destino desconhecidos. É também um dos dois únicos globos terrestres conhecidos que incluem a frase HIC SVNT DRACONES ("Aqui estão os dragões"), palavras que aparecem neste caso na costa do Sudeste Asiático.

O Novo Mundo está representado de forma muito rudimentar. Não existe a América do Norte, apenas algumas ilhas. Especificamente, os de ISABEL (Cuba) e SPAGNOLLA (La Española) são nomeados. Outros aparecem sem um nome. A América do Sul é chamada TERRA DE BRASIL (Brasil), MVNDVS NOVVS (Novo Mundo) e TERRA SANCTAE CRVCIS (Terra da Santa Cruz).

Um navio solitário arada as ondas do Oceano Índico no surpreendente globo terrestre gravado em casca de ovo de avestruz. Fotografia: Washington Map Society

Além da sua idade e suas características, o mapa também é uma raridade devido ao material em que foi feita. Os mapas antigos geralmente eram desenhados em vellum (pergaminho de pele de bezerro), selar a pele ou a madeira. Mas, sem dúvida, a casca de ovo de avestruz não era um suporte usado com muita frequência. Na Itália do século XVI, a nobreza sempre possuía avestruz como símbolo de sua posição e riqueza, de modo que o mapa poderia ter sido encomendado por alguma família da nobreza italiana da época, embora suas origens precisas permaneçam por agora sendo um mistério .

Imagem da capa: este globo terrestre 1504 poderia ser a mais antiga representação conhecida do Novo Mundo. Curiosamente, é gravado em duas metades inferiores de casca de ovo de avestruz. Fotografia: Washington Map Society

Autor: April Holloway

Este artigo foi originalmente publicado em www.ancient-origins.net e  foi traduzido com permissão.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

HUZZÉ, A ORIGEM DA ACLAMAÇÃO ESCOCESA

Por Luciano R. Rodrigues
Extraído do Blog O Prumo de Hiran


Na maçonaria brasileira, os irmãos praticantes do REAA (Rito Escocês Antigo e Aceito) estão bem familiarizados com a tripla aclamação Huzzé, utilizada na abertura e no fechamento dos trabalhos, mas a sua origem é um pouco duvidosa devido a confusão de teorias criadas por escritores que talvez não tivessem o acesso a tanta informação quanto temos atualmente, e com a facilidade que a internet nos proporciona.

Cito abaixo algumas teorias bem conhecidas sobre a origem da aclamação:

– Huzzé é derivada de uma palavra hebraica que significaria uma espécie de “acácia”, como símbolo de imortalidade;

– Palavra formada pela raiz O’z e sufixo Zé, significando “É minha força” uma alusão ao GADU;

– Origem espanhola – alguns dizem que Cavaleiros Templários que fugiram da França frente às perseguições do Rei Filipe e do Papa Clemente V e se refugiaram no sul da Espanha, uniram-se a população local para combaterem durante a guerra civil que assolava a região e a cada vitória eles gritavam a palavra Huzzé em celebração;

– Aclamação realizada para expulsar o “ar impuro”, mandando embora todo o negativismo que carregamos no dia-a-dia profano;

– Huzzé seria uma espécie de Hurra, como a aclamação Hip, Hip, Hurra;

Diante desta confusão, busco na história a origem e inserção desta prática na maçonaria.

Um pouco de história

Tudo indica que a aclamação Huzzé, deriva da palavra Huzza dos ingleses, onde a pronúncia com o tempo, criou a modificação na escrita.

O livro Essential Militaria de Nicholas Hobbes nos informa que nos séculos XVII e XVIII, Huzza era um cumprimento ou saudação usado pelos marinheiros, para homenagear quem embarcava ou desembarcava. Menciona também que a expressão era um grito repetido em uníssono, sincronizadamente, quando os marujos atuavam em conjunto para puxar os cabos das velas ou as amarras das embarcações.

Há relatos de que nos séculos XVIII e XIX, três Huzzas eram dados pela infantaria britânica antes dos disparos, como meio de ganhar moral e de intimidar o inimigo. Há quem diga que eram dois huzzas curtos seguidos de um terceiro, mais longo, dado durante a carga final.

Foi dessa forma, acreditamos, que o brado utilizado no REAA deve ter chegado aos marinheiros ingleses e depois, pelo fato da Inglaterra ser um país onde as atividades navais ocupavam grande destaque, passado ao resto da sociedade não só como exclamação de alegria e aprovação, mas também como designativo de união e atitude solidária. Disso, talvez, advenha sua adoção pela maçonaria.

Mas quando esta aclamação passou a ser utilizado pelos maçons?

William Preston, em seu livro Illustrations of Masonry, descreve com detalhes o evento ocorrido em 1753 na Escócia, no evento de lançamento da pedra fundamental do conjunto de edifícios chamados “The New Exchange of Edinburgh”, onde foi realizada uma procissão de 672 irmãos, que foi iniciada em frente a famosa Mary´s Chapel, em caminhada até o local onde seria lançada a pedra fundamental.

A procissão foi recebida por mais de 150 militares juntamente com uma companhia de granadeiros, em duas linhas, sob as armas, que escoltaram a procissão. Este fato foi de tão importância para os maçons, que o Grão-Mestre da Escócia, Lorde Carysfort, descreveu a honra de estar presente a tal acontecimento e ao realizar a cerimônia de lançamento da pedra fundamental, deu três pancadas na pedra com o Maço, seguido de três huzzas, provavelmente em homenagem aos militares ali presentes tendo visto a forte relação dos militares com a maçonaria.

Após alguns procedimentos do evento, o Grão-Mestre proferiu a frase “Que a mão generosa do céu abasteça esta cidade com abundância de milho, vinho, óleo e todas as outras conveniências da vida! Huzza, Huzza, Huzza!!!”.

Outro livro descreve a utilização da aclamação na Escócia ainda no século XVIII, geralmente em lançamentos de pedras fundamentais. A obra escrita William Alexander Laurie em 1804, sob o nome “The history of free masonry and the Grand Lodge of Scotland” cita que a prática militar de aclamar três Huzzas juntamente com o tocar de trombetas, diversas vezes foi realizada para recepcionar os maçons nos eventos.

O escritor inglês John Dunton, no livro “Cartas da nova Inglaterra”, registra o costume militar de se saudar autoridades com gritos de Huzza, muito comum entre os militares ingleses e escoceses. Huzza era o grito de guerra usado pelas tropas da marinha inglesa, bem como a do corpo de granadeiros.

Em 1778, para celebrar a aliança realizada com a França, o general George Washington diz ao seu exército: “Huzza, Viva o rei da França, Huzza, Vivam os amigos das potências europeias, Huzza, Viva o Estados Unidos da América”.

E finalmente, o exército Inglês faz uso dessa expressão (Huzza) em uma canção de marcha dirigida contra os franceses:

“And, Monsieurs, you’ll find us as good as our words:

Beat drums, trumpets sound, and Huzza for our King!

Then welcome Bellisle, with what troops thou canst bring!

Huzza! for Old England, whose strong-pointed lance

Shall humble the pride and the glory of France.”


Observando a aclamação nos rituais

Embora a aclamação Vivat, Vivat, Vivat, já apareça em 1737, com a divulgação de “La réception d’un Frey-Maçon” e no rito adohiramita com o “Recueil Precieux de la Maçonnerie Adonhiramite”, o triplo Huzzé e suas variantes não aparecem nos documentos do século XVIII.

Nas primeiras divulgações como o Maçonaria Dissecada (1730) e o Três Batidas Distintas (1760), apesar de aparecerem os três golpes de malhete na abertura dos trabalhos, não faz referências a aclamação.

Somente em 1804, no “Guia dos Maçons Escoceses”, também chamado de “Livro dos três graus simbólicos do rito antigo e aceito”, que a tripla aclamação surge na abertura e fechamento dos trabalhos da loja, neste momento escrito como “Houzze”.

Depois, em 1813, no livro “Tuileur de l’Écossisme” de Delaulnaye, novamente é registrada a utilização da aclamação escocesa (Houzze) na abertura da loja.

Conclusão

Estou convencido que a tripla aclamação escocesa foi inserida na maçonaria por influência dos militares e dos eventos ocorridos no século XVIII e descritos acima, era muito comum o alto escalão militar estar composto por maçons que ocupavam também cargos de importância na administração da maçonaria. O Huzzé foi usado inicialmente como uma exclamação de alegria e comemoração, simples assim, sem invenções e significados mirabolantes.

Bibliografia:

Illustration of Masonry – William Preston

The history of free masonry and the Grand Lodge of Scotland – William Alexander Laurie

Essential Militaria – Nicholas Hobbes

Tuileur de l’Écossisme – Delaulnaye