OS GRAUS AZUIS DO REAA - GÊNESE E EVOLUÇÃO
Tradução: Sergio K. Jerez
Por Pierre Nöel
[ii], 33, CBCS
Em 1804, os altos graus do REAA foram (re) introduzidos na França por IIr\ que haviam voltado dos EUA, onde o primeiro Supremo Conselho de Grandes Inspetores Gerais havia sido criado, não muito tempo antes, na Carolina do Sul. Esta organização não havia previsto graus azuis específicos e só conhecia os rituais tipicamente anglo-saxões, codificados por Thomas Smith Webb e regidos pelas Grandes Lojas locais.
De volta a Paris, os ex-emigrantes encontraram uma situação confusa, marcada por lutas internas que opunham o Grande Oriente da França às lojas ditas “escocesas”, porque estas não praticavam altos graus reconhecidos por ele. O apoio incondicional dos “Escoceses” permitiu que os recém-chegados estabelecessem uma Grande Loja central escocesa e um Supremo Conselho independentes do GODF
[iii]. Indo além de seus inspiradores americanos, eles não se contentaram em conferir os altos graus do Rito, mas redigiram também os chamados cadernos dos graus azuis, que eles apresentaram como os únicos autênticos dos “antigos”. Assim, nasceram as primeiras versões dos graus azuis, chamadas de REAA, que eram praticadas nas lojas contrárias ao GODF. Muito naturalmente, os redatores se apossaram do que seus antecessores haviam criado, e deram à luz rituais sincréticos, misturando tanto elementos da maçonaria francesa clássica, quanto do chamado “Rito Escocês” e, especialmente, contribuições anglo-saxônicas de estilo “antigo”. O REAA azul original foi, portanto, um conglomerado pouco praticável de várias, e, por vezes, contraditórias, influências. A reaproximação subsequente destas lojas com o GODF nada mudou nesta questão até o final do Primeiro Império.
A Restauração viveu, com a independência do Supremo Conselho, um redesenho destes rituais, visando torná-los mais consistentes com o gosto da época. A contribuição britânica foi minimizada, o exemplo do Rito Francês trouxe empréstimos significativos, e a lenda de Hiram foi relida sob uma perspectiva naturalista que ocultava o seu significado original. O positivismo em moda também trouxe desenvolvimentos inesperados que só fizeram alterar os textos. No final do século XIX, os rituais usados pelo Supremo Conselho não diferiam efetivamente dos utilizados no GODF que, para manter a invocação ao Grande Arquiteto do Universo, abandonou o Rito Francês após a decisão de 1877.
Desde o fim da II Guerra Mundial, o retorno a uma concepção mais tradicional da maçonaria viu uma reescrita desses rituais, mas sem que as influências do século XIX desaparecessem por completo. Os novos empréstimos, das maçonarias britânica e holandesa, bem como do companheirismo
[iv], levaram aos rituais hoje em uso pela GLNF
[v] e pela GLDF
[vi].
Os rituais atuais, conhecidos como do REAA, se ressentem desses empréstimos sucessivos que – este ponto é essencial – não devem nada aos graus superiores do mesmo rito e diferem consideravelmente de sua mistura original. Isto levanta duas questões difíceis:
Existe uma especificidade, ou mesmo coerência, que liga os graus azuis e os altos graus do mesmo nome?
Qual é o verdadeiro REAA para o que se entende como graus azuis?
Introdução
O Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) é o rito maçônico mais praticado no mundo. Ele é chamado de “Rito Antigo e Aceito” nas Ilhas Britânicas ou de “Rito Escocês” nos EUA, e está à frente de um sistema de trinta altos graus, cuja maior parte é, mais frequentemente, conferida por comunicação. Embora raramente se fale dos graus azuis deste Rito, desconhecidos em países de língua inglesa, eles são praticados na Europa continental (França, Bélgica, Itália, Suíça) e na América latina. O que não impede os bons autores, como Lantoine, Clement, Naudon e Palou, de permanecerem estranhamente calados sobre o assunto.
Este silêncio não deixa de surpreender. Por causa de duas coisas: ou o rito possui graus azuis que lhe são próprios ou não os possui! A questão não é trivial, porque os defensores do sistema não param de repetir que o REAA é uno, do 1o ao 33o grau e – corolário obrigatório – que os Grandes Inspetores Gerais, 33o e último grau do Rito, exercem sua autoridade “dogmática
[1]” sobre todos os graus do Rito, afirmações respeitáveis mas que demandam, reconheça-se, uma demonstração frequentemente necessária.
A organização de um conjunto de trinta graus foi um processo longo e complicado cuja estrutura começamos a descobrir graças aos trabalhos essenciais de Jackson, Alain Bernheim e outros, incluindo a escola americana, especialmente a da revista “Heredom”, publicação do Supremo Conselho da Jurisdição Sul dos Estados Unidos, que, felizmente, complementa os escritos fragmentários dos autores citados acima.
Mas seus trabalhos não tratam dos graus azuis do rito. Seu conteúdo só raramente é lembrado, e os curiosos, ansiosos por saber em que esses graus do REAA diferem (ou se diferenciam) significativamente de outros rituais, dificilmente encontram uma resposta para as suas dúvidas.
A gênese destes altos graus foge aos meus propósitos. É suficiente lembrar que os graus atualmente integrados à escala do rito foram desenvolvidos na França, entre 1740 e 1760, e nas possessões francesas da América, sobretudo em São Domingos, durante a década seguinte. No início do século XIX, foram organizados, em Charleston, em um sistema de 33 graus, dos quais apenas os dois últimos eram desconhecidos na França. O primeiro “Supremo Conselho dos Mui Poderosos Soberanos Grandes Inspetores Gerais do 33º Grau ” foi formado em 31 de maio de 1801. Inicialmente composto por apenas dois membros, John Mitchell
[2], Grande Comendador, e Frederick Dalcho
[3], Lugar Tenente Grande Comendador, foi ampliado, no decorrer do ano seguinte, para os nove membros previstos pelas Grandes Constituições, chamadas “de 1786”. Em uma circular datada de 04 de dezembro de 1802, dirigida “aos poderes maçônicos de ambos os hemisférios”, esta nova organização declarou conhecer cerca de cinquenta e dois graus (e não trinta e três!), mas se apressa em acrescentar que deixou os graus azuis para as Grandes Lojas
[4]. Portanto, não havia, na época, graus azuis específicos do REAA, como ainda hoje não existem nos Estados Unidos ou nas Ilhas Britânicas.
Em 21 de fevereiro de 1802, este mesmo Supremo Conselho remeteu ao conde de Grasse-Tilly
[5], nomeado “Grande Comendador para as Ilhas Francesas da América”, uma patente cujo texto merece ser recordado
[vii]:
“Universi Terrarum Orbis Architecturis Gloria ab Ingentis.
Deus meumque Jus. Ordo ab Chao.
Do oriente do Supremo Conselho dos Mui Poderosos Soberanos Gr. Insp. Ger., sob a abóboda celeste do Zênite, que corresponde ao 32°grau 45 m. lat. Norte.
Aos nossos M. Il. e M. Val. e Subl. Príncipes do Real Segredo, Cav. de K.H. Ilustres Príncipes e Cavaleiros Grandes Inefáveis e Sublimes, livres e aceitos maçons de todos os graus, antigos e modernos, sobre a superfície dos dois hemisférios. A todos os que a estas presentes letras vejam,
SAÚDE. PROSPERIDADE. PODER
Fazemos saber que Nossos signatários Subl. Grandes Inspetores Gerais, devida e legalmente constituíram e se estabeleceram em Supremo Conselho; tendo examinado cuidadosamente nosso Il. Irmão Conde Alexandre-Francois-Auguste De Grasse-Tilly, nos diversos graus que ele legalmente recebeu; e a seu pedido especial, certificamos, reconhecemos e proclamamos nosso M. Il. Ir. Alexandre-Francois-Auguste De Grasse-Tilly, de Versalhes na França, antigo capitão de cavalaria e engenheiro a serviço dos Estados Unidos da América; M. Secreto, M. Perfeito, Secr. Íntimo, Preboste e Juiz; Intendente dos Edifícios; M. Eleito dos 9, Il. Eleito dos 15, Subl. Cav. Eleito; Grão Mestre Arquiteto Real-Arco; Gr. Eleito, Perfeito e Subl. Maçom.
Certificamos também que é Cav. Do Oriente ou da espada, Príncipe de Jerusalém, Cav. do Ocidente, Cav. da Águia e Sob. Príncipe Rosacruz de Heredom, Grande Pontífice, Mestre ad vitam, patriarca, Noaquita, Cav. Prussiano, Príncipe do Líbano, Grão M. Escocês, Cav. de Sto. André, etc. etc. etc.; Chefe do Tabernáculo, Príncipe da Misericórdia, Cav. da Serpente de bronze, Comendador do Templo, Soberano. Cav. do Sol, Príncipe adepto, H.K., Cav. da Águia branca e negra e Soberano Grande Inspetor Geral e membro do Supremo Conselho do grau 33.
Além disso, certificamos que nosso supracitado M. Il. Ir. é Grande Comendador do Supremo Conselho das Ilhas francesas da América.
Autorizamos e damos poder ao nosso Ir. A.F.A. De Grasse-Tilly, para constituir, estabelecer e inspecionar todas as Lojas, Capítulos, Conselhos e Consistórios da Ordem real e militar da antiga e moderna Franco-Maçonaria nos dois hemisférios, de acordo com as grandes Constituições.
Nós, portanto, conclamamos a todos os nossos súditos Pr. Cav. e Sublimes Maçons a receberem nosso Il. Ir. Alexandre-François-Auguste De Grasse-Tilly, em todas as suas diversas qualidades, até o mais alto grau da Maçonaria; prometendo ter o mesmo respeito por aqueles que se apresentarem ao nosso Subl. Cons. munidos de certificados ou credenciais também autênticas.
Credenciais às quais, nós Soberanos Grandes Inspetores Gerais, membros do Supremo Conselho do 33° grau, em Charles Town, Carolina do Sul, temos subscritos os nossos nomes, e estampado o grande selo da referida Il. Ordem na Câmara do Grande Conselho, próximo da B.A., sob a abóbada celeste, neste nono dia do 12o mês da Restauração de 5562, anno Lucis de 1802, e, da era cristã, o 21o dia do mês de fevereiro de 1802.
Assinado ir. Dalchs, H.K.P.D.R.S.
S.G.I. 33°
B. Borven
[6], K.H.P.R.S.S.G.I.G. 33° grau, Mestre de Cerimônias
B. Dieben
[7], K.H.P.R.S. GJ e 33°, e Grande-Tesoureiro do Sacro Império.
Abraham Alexander
[8], P.R.S.S.G.I.G. 33°, e Grande Secretário do Sacro Império
J.B.M. La Hogue
[9], P.D.R.S.S.G.I.G. 33°, Lugar-tenente-Grande-Com. para as Ilhas francesas ao vento e sob o vento
[10].
Os graus relacionados nesta patente, com exceção do Grande Inspetor Geral, eram – ou tinham sido – praticados na França no século anterior. Quando de Grasse-Tilly chegou à França, dois anos mais tarde, ele só fez trazer de volta ao seu país de origem os graus que ainda eram regularmente conferidos nos capítulos dependentes do Grande Oriente da França (GODF).
Mas esta patente conferia também a Grasse-Tilly o direito “de constituir, estabelecer e inspecionar todas as Lojas, Capítulos, Conselhos e Consistórios da Ordem real e militar da antiga e moderna Franco-Maçonaria nos dois hemisférios, em conformidade com as grandes Constituições”, um poder tão exorbitante que permitia a ele criar lojas em todos os lugares, mesmo em um país onde a maçonaria estivesse bem estabelecida, como era o caso da França. Ressalte-se um ponto essencial: a patente não falava sobre o Rito Escocês Antigo e Aceito, mas sim da “antiga e moderna Franco-Maçonaria”, incluindo os dois ritos! Não se pode deixar de salientar a pouca constância dos nove cavalheiros de Charleston. Em fevereiro, eles deram a Grasse-Tilly autoridade para criar lojas azuis, enquanto, na sua circular de dezembro, anunciaram que estavam deixando para as Grandes Lojas existentes a responsabilidade de conferir os graus azuis.
1. A situação da Ordem Maçônica na França, em 1804
Na França, onde nada jamais é simples, a situação da maçonaria, no alvorecer do século XIX, era particularmente complexa.
Após a morte do conde de Clermont (16 de junho de 1771), quinto Grão-Mestre da “Grande Loja de Paris, dita da França”, um cisma dividiu a maçonaria francesa.
O Grande Oriente da França seria fundado, em 1773, por uma assembleia de representantes das lojas de Paris e das províncias, reunidos em “Grande Loja Nacional” sob a direção enérgica do duque Montmorency-Luxembourg. Após a aprovação, em 26 de junho daquele ano, de novos estatutos que previam, entre outras coisas, a removibilidade dos mestres de loja, o duque de Chartres
[11], primo do rei, foi instalado em 22 de outubro. Mas a Grande Loja Nacional não conseguiu fazer com que todos os mestres parisienses compartilhassem de seus pontos de vista, já que alguns deles eram, podemos entender, muito ligados à irremovibilidade de seu cargo, privilégio que a jovem obediência queria suprimir. Os rebeldes se constituirão, então, na “Mui Respeitável Grande Loja da França”, ou melhor, afirmarão dar continuidade à Grande Loja, que será chamada de “Grande Oriente de Clermont” ou mesmo de “grande e único Grande Oriente da França”
[12]. Em 10 de setembro de 1773, ela anunciou sua lista de Grandes Oficiais, só reconhecendo por Grão-Mestre o falecido Conde de Clermont e por Diretor-Geral o Duque de Montmorency-Luxembourg, o qual apenas pôde protestar contra o abuso feito seu nome.
Este cisma, então, durou até 1799, sem que, no entanto, houvesse diferença nos rituais e graus praticados. Esta maçonaria era bem “francesa”, ou seja, “moderna”, na linha direta da herança britânica, embora adaptada à imaginação latina, e isto desde as primeiras revelações
[viii] parisienses. Tomemos o cuidado de evitar o equivalente ao cisma inglês, antigos contra modernos, que provocou cisões do outro lado do Canal da Mancha, embora menos do que esta fratura ainda aberta que hoje separa as maçonarias “liberal” e, caso se queira, a “dogmática”. A diferença foi principalmente sociológica: a Grande Loja era parisiense, plebeia e burguesa, e o Grande Oriente nacional, aristocrático e elegante, pelo menos em sua alta administração.
As duas obediências deram prova de grande liberalismo em matéria de rituais, quer fossem praticados nas lojas azuis ou nos capítulos. O Grande Oriente passou um tratado de aliança com os diretórios do Rito Escocês Retificado, em 1776, dando-lhes o controle de suas lojas
[13], e, em 1781, com a Loja parisiense de Saint-Jean d’Ecosse du Contrat Social, Loja-Mãe
[ix] para a França do Rito Escocês Filosófico, dando o direito de se juntarem aos seus altos graus as lojas que assim o desejassem.
O Grande Oriente não faz por menos e, em 18 de janeiro de 1782
[14], constitui uma “Câmara de Graus”, que, em um esforço louvável, elaborou um rito “do Grande Oriente”, mais tarde chamado Rito Francês, que foi aprovado em Assembleia Geral, no início de 1786
[15]. Os três graus azuis foram então codificados, mas só serão publicados coletivamente em 1801, em uma coleção de três livros destinados ao venerável e aos dois vigilantes, intitulado “Le Régulateur du Maçon
[x]“.
O prefácio do ritual de 1786 destaca a vontade da câmara dos graus de codificar um conjunto ritual único, para uso pelas lojas da obediência:
“Outro aspecto igualmente importante é a uniformidade, desejada há muito tempo, do processo de iniciação. Animado destes princípios, o G.O. da França finalmente se dedicou à elaboração de um protocolo de iniciação para os primeiros três graus, ou graus simbólicos. Ele se sente no dever de trazer a maçonaria de volta aos seus usos antigos, que alguns inovadores tentaram alterar, e de restituir a essas primeiras e importantes iniciações a sua autêntica e respeitável pureza. A lojas de sua jurisdição devem, portanto, seguir à risca ponto por ponto.
[16] “
Além disso, o Grande Oriente reconheceu cinco “Ordens” superiores, administradas por um Grande Capítulo Geral da França
[17], ao qual o Grande Oriente foi incorporado em 1786
[18] ou 1787
[19]. As quatro primeiras “Ordens”, Eleito, Escocês, Cavaleiro do Oriente e Rosacruz
[20], devolveram os graus superiores surgidos nos anos 1740-1760 com uma fecundidade sem paralelos. A quinta, da mesma forma, “compreendia todos os graus físicos e metafísicos de todos os sistemas, particularmente aqueles adotados pelas associações maçônicas em vigor.
[21]” Claramente todos os graus superiores ao Rosacruz estão reunidos nesta quinta Ordem, exceto o Kadosh, que tinha sido reconhecido como “falso, fanático e odioso” em 1766
[22].
O Grande Oriente, quer no seu Grande Capítulo quer por seus tratados de aliança com os diretórios Escoceses Retificados e com a loja-mãe Contrat Social, pretendeu ser depositário e guardião de todos os graus “Escoceses” praticados em Paris e nas províncias. A quinta Ordem devia se reunir na primeira terça-feira de cada mês, mas não se sabe se ela chegou a fazê-lo. Acredita-se que ela trabalhava no grau de cavaleiro do sol
[23].
A revolução passou por lá, o que deu aos irmãos outras preocupações além de fazer maçonaria em uníssono. Depois da tormenta terrorista, o Grande Oriente retomou os seus trabalhos, em 1796, sob a liderança de Alexandre-Louis Roëttiers de Montaleau (1748-1808), que havia se recusado a aceitar a sucessão do duque de Orleans, que renegou a Ordem em fevereiro 1793 e que foi guilhotinado em 03 de novembro do mesmo ano. Tornado “Grande Venerável”, Roëttiers tinha em mente não só a ressurreição do Grande Oriente, mas também o encontro dos dois grandes corpos maçônicos de antes da revolução. Ele é bem-sucedido no acordo de união assinado por comissários das duas obediências, em 21 de maio de 1799, e sancionado pelo Grande Oriente em 23 de maio e, pela Grande Loja, em uma reunião extraordinária, em 09 de junho
[24]. A reunião dos dois GG\ OO\da França foi consumada com alegria, em 22 junho de 1799
[25].
1.1 A resistência escocesa
Algumas lojas “escocesas” não compartilharam deste entusiasmo.
A resistência é incorporada em um homem, Antoine Firmin Abraham (1753-1818), “cavaleiro de todas as ordens maçônicas.” Nascido em Montreuil-sur-mer, em 03 de setembro de 1753, funcionário chefe da Marinha e Secretário da La Fidèle Union
[26], em Morlaix, criador da loja Les Elèves de Minerve, em 01 de fevereiro de 1802 “, foi o primeiro que teve a coragem de erguer a bandeira do escocismo na França”
[27].
De 1800 a 1802, publicou o “Miroir de la Vérité, dédié à tous les Maçons“, em quatro volumes, cujo conteúdo é relacionado na bibliografia de Fesch
[28]. O terceiro volume contém a maior parte de seus escritos sobre escocismo: primeira circular a todos Maç\ Escoc\ na França – Circular da R.L. da Parfaite Union
[29], O\ de Douay e sua profissão de fé sobre o escocismo – Motifs du traité d’union entre le G\O\ de France et les directoires français – Réflexions sur l’existence du soi-disant G\ Chap\ Général de France.
Abraham não poupou palavras: sua condenação ao Rito Francês era definitiva. Em sua “Circular aos Maçons escoceses” (junho de 1802), ele escreve claramente:
“Os altos graus, na França, não têm qualquer semelhança com aqueles reconhecidos na Alemanha, Rússia, Prússia, Suécia, Dinamarca, Estados Unidos da América, Inglaterra, Irlanda e Escócia; o Reno e os mares tornaram-se, para os maçons, o que Styx foi para os antigos: a separação dos vivos e dos mortos. Eu os convido vigorosamente a notificarem ao Grande Oriente da França, juntamente com os maçons escoceses, vossa firme e inabalável resolução de manter, em sua oficina, este Rito precioso naquilo que concerne aos altos graus” (Miroir de la Vérité, Volume III: 64-67, citado por Lantoine, II, 135).”
A diatribe merece que nos detenhamos sobre ela. Na verdade, o que disse ela senão que os altos graus do GODF não eram os praticados em países estrangeiros, ao contrário dos altos graus “escoceses”
[30]? Mas os graus anglo-saxões adicionais, Arco Real, Marca ou Cavaleiro Templário, para falar apenas desses, populares na Inglaterra e nos Estados Unidos, não eram os altos graus “escoceses” da França!
A Escócia conhecia certamente a Ordem de Heredom de Kilwinning, criada na França, em Rouen e Paris, antes da revolução, mas ignorava todas as inovações “Escocesas”. Os países germânicos tinham visto o crescimento das Ordens Templárias da Estrita Observância, revisadas por Eckleff na Suécia, Zinnendorf na Prússia e Willermoz em Lyon. Certos graus “escoceses”, notadamente o Rosacruz, eram conhecidos na Grã-Bretanha, mas não diferiam em nada de suas contrapartes do Grande Oriente. Em suma, Abraham atirou no alvo errado.
A pergunta é legítima: o que eram essas lojas “Escocesas” se não lojas que conferiam os altos graus? Conheciam elas uma forma particular de graus azuis, isto é, um método específico para levar os recipiendários à maestria, que as diferenciasse das lojas clássicas da época? Certamente, em países de língua inglesa, coabitavam, bastante mal, duas tradições: a da Grande Loja de 1717, chamada dos “modernos”, e a da Grande Loja “sob as antigas Constituições”, fundada em 1751, em Londres, por maçons irlandeses. Se podemos, por analogia, tratá-las como “Rito antigo” e “Rito moderno”, seria um erro extrapolar isso para o continente. “Escocês” e “antigo” não eram mais sinônimos do que “francês” e “moderno”! Dito isto, a influência “antiga” era inexistente na França, e todos os rituais continentais do século XVIII que se diziam “escoceses” ou não, estavam relacionados mais ou menos à tradição “moderna”, mas sem copiá-la servilmente.
1.2 Rito Moderno e Rito Antigo
Durante várias décadas, a “primeira” Grande Loja fundada em Londres, em 1717, era a lei na Inglaterra. É a ela que devemos a divisão dos graus em três e a introdução da lenda de Hiram, marcos verdadeiros, sem os quais não pode haver Maçonaria. Seus rituais são conhecidos somente através das revelações, cuja mais importante continua a ser a “Maçonaria Dissecada“, de Samuel Prichard (1730). Quando a maçonaria foi introduzida em França, os primeiros adeptos do que viria a ser a Grande Loja da França muito naturalmente adotaram seus usos antes de adaptá-los e desenvolvê-los de acordo com sua própria sensibilidade. Mantiveram o essencial, que hoje permanece a base do Rito Francês:
Ambos os vigilantes ficam situados no Oeste da loja
O ternário Sol-Lua-Venerável são as três grandes luzes da Maçonaria, representada pelos três candelabros de canto colocados ao redor do painel da loja
A loja é suportada por três colunas (Sabedoria-Força-Beleza)
As “palavras” J e B são as do 1o e do 2o graus, respectivamente
No terceiro grau “a antiga palavra de mestre”, Jeová, não está “perdida”, mas apenas foi substituída por uma palavra ocasional, M… B…. A chave do grau é a experiência mística vivida pelo neófito quando deitado no túmulo que tem o nome do Altíssimo.
Em 1751, foi instituída, ainda em Londres, a “Mui Antiga e Honorável Fraternidade dos Maçons Francos e Aceitos”, cujos membros eram, em sua maioria, de ascendência irlandesa. Esta inovação veio romper a bela unidade britânica, tanto que as Grandes Lojas da Irlanda e da Escócia logo reconheceram a jovem obediência como a única regular, porque era a única fiel aos “antigos usos”. Na verdade, seu agitado Grande Secretário, Lawrence Dermott, nunca parou de denunciar os “desvios” da primeira Grande Loja, indiscriminadamente acusando-a de ter simplificado e descristianizado os rituais, omitido as preces, invertido as palavras sagradas do primeiro e segundo graus, abandonado a cerimônia “secreta” de instalação de um venerável e, sobretudo, rejeitado o grau do Real Arco. Sem muito pudor, qualifica de “Modernos” os partidários da mais antiga Grande Loja, o que permitiu denominar de “Antigos” ou arcaicos, os da sua recente obediência.
Em 1760, uma outra revelação, a “Three Distinct Knocks
[xi]“, divulgou o conteúdo dos rituais “antigos”, cujas diferenças essenciais
[31] com o Rito moderno merecem ser destacadas:
O primeiro e o segundo vigilantes têm, cada um, na mão, uma coluna de 20 polegadas, que representam os dois pilares do Templo de Salomão.
O segundo vigilante está colocado no meio da coluna do Sul, enquanto o primeiro vigilante está no Oeste (estão postados diante das portas do templo).
Eles são assistidos por dois diáconos, função de origem irlandesa, um localizado à direita do venerável, o outro à direita do primeiro vigilante.
Os candelabros, sempre associados com o ternário sol-lua-mestre da loja, mas chamados de “pequenas luzes” (lesser Lights, em inglês), são posicionados à direita do venerável e dos vigilantes.
A bíblia, o esquadro e o compasso, colocados no altar diante do venerável, são chamados de “Grandes Luzes da (ou melhor, “na”) Maçonaria”.
As palavras sagradas são B no primeiro grau e J no segundo.
A antiga palavra de mestre está perdida devido à morte de Hiram porque são necessários três para pronunciá-la (é a famosa “regra de três” já mencionada nos primeiros catecismos britânicos). Salomão e o rei de Tiro não podem mais comunicá-la aos novos mestres, que devem se contentar com uma palavra substituta.
A França, na época, não conhecia nada sobre estas mudanças e continuou, como antes, a praticar apenas o Rito moderno, embelezado, aumentado, enriquecido com certeza, mas fundamentalmente idêntico ao que era. Em última análise, o escocismo defendido por Abraham era, para os graus azuis, apenas uma metamorfose do rito moderno de Prichard.
Rito moderno Rito antigo
Arranjo de colunas J a Noroeste, B a Sudoeste B para o Sudoeste, Noroeste J
Palavras sagradas J no 1o grau, B no 2ograu B no 1o grau, J no 2ograu
Disposição dos vigilantes Ambos no Oeste, o 1oao sul, o 2o ao norte,
o 1o ao Oeste, o 2o ao sul
Diáconos Não Sim
Grandes Luzes Sol, lua, mestre da Loja Bíblia, esquadro, compasso
“Antiga” palavra do mestre Substituída, mas conhecida Substituída por estar perdida (regra de três)
Fig. 1: Comparação dos ritos moderno e antigo
1.3 O anátema do Grande Oriente
Não faltam partidários para Abraham. Além de sua loja, Les Elèves de Minerve
[32], e da Parfaite Union
[33] de Douai, ele podia contar com o apoio da Loja Mãe Escocesa de Marselha
[34], que jamais havia reconhecido a autoridade do GODF, e do capítulo provincial de Heredom de Kilwinning, fundado em Rouen, em 1786, além de algumas lojas, como a Reunion des Etrangers, em Paris, fundada em 1784 por um maçom dinamarquês. O movimento teve amplitude suficiente para fazer com que o GODF decidisse, em 12 de novembro de 1802, dar um basta, declarando irregulares as lojas que professassem ritos diferentes daqueles reconhecidos por ele e proibindo as lojas de sua jurisdição de lhes dar asilo e contatá-las, sob pena de serem eliminadas de seus quadros
[35]. Esta declaração recebeu o protesto da Parfaite Union de Douai (18 de dezembro de 1802) e da Reunion des Etrangers (21 de fevereiro de 1803) que declarava ter ficado chocada por ter sido taxada de irregularidade “por sua perseverança em manter o título de Loja Escocesa“.
Ela fez isso em 1788 e tornou a fazer… Os principais dirigentes do GO foram recebidos com todas as honras consagradas pelo uso, e não demonstraram qualquer sofrimento ao verem o Vivat de seus agradecimentos coberto pelo Huzzé escocês. A R\L\, “convencida de que o humor ou capricho de alguns oficiais do G.O., não pode alterar a natureza e a essência das coisas; de que o Escocismo é o único Rito que preservou em toda a sua pureza os princípios e estatutos que nos foram passados da Montanha Sagrada, que é, sem dúvida, o berço da nossa Ordem; que os outros Ritos são apenas desvios mais ou menos remotos criados por conveniência, e que ela deve assumir e se arrogar o incontestável direito de permanecer L\ Escocesa” (Gout, 1985: 31)
[36].
Mas isso não nos diz em que a maçonaria “Escocesa” diferia da do Grande Oriente. Não é suficiente para fulminar um anátema. Ainda é necessário que isso se baseie em fatos concretos. Mas nossa fome não será saciada porque nenhum dos protagonistas da época traz elementos substanciais ao debate. Constatar que o Huzzé toma, nas lojas escocesas, o lugar do Vivat francês, pode parecer insuficiente, e a evocação da montanha (imaginária) de Heredom “berço indubitável da Ordem”, não pode razoavelmente ser considerada um verdadeiro casus belli. Fora todas as considerações propriamente ritualísticas, as diferenças essenciais residiam na recusa em se usar os rituais escritos pelo GODF e nos privilégios concedidos aos titulares dos altos graus escoceses. O uso não era recente, e os “Regulamentos Gerais” estabelecidos em 1743 “para servir de regra para todos as lojas do reino”, foram utilizados, para, de resto, refutar as reivindicações e as prerrogativas dos Mestres escoceses. O uso se tornou, porém, generalizado. O que fez com que Gout escrevesse:
“Uma loja escocesa é, de fato, uma loja azul que permaneceu fiel aos rituais dos graus simbólicos antes do estabelecimento do Rito Francês, uma loja na qual os Irmãos revestidos de altos graus recebem honras especiais; e que, geralmente, acreditam observar os costumes da antiga maçonaria da Escócia
[37].
Pode-se acrescentar a esta descrição a crença, já afirmada no discurso do Cavaleiro Ramsay (1686-1743) e adotada pela maioria dos sistemas de altos graus continentais
[38], de que a origem da Maçonaria deve ser buscada no tempo das Cruzadas e não nos operativos dos séculos passados.”
1.4 O Rito Escocês Filosófico
Os opositores do Rito Francês não constituíam um corpo homogêneo e nada permite afirmar que suas lojas praticavam um ritual uniforme. Basta notar que alguns dos componentes deste movimento, principalmente a Ordem de Heredom de Kilwinning, eram, eles próprios, corpos de altos graus sem um ritual azul definido. O Rito Escocês Filosófico, praticado por alguns
[39], era, provavelmente, o que mais se assemelhava a um Rito com contornos reconhecíveis
[40].
De origem avignonesa ou marselhesa, surgido por volta de 1774, este Rito era o da loja parisiense Saint Jean du Contrat Social, criada em 1770, e trabalhando segundo os rituais de Avignon desde 1776
[41]. Ela tinha, em 1781, negociado uma concordata com o GODF, que lhe concedeu o direito de criar oficinas superiores de seu rito na França e lojas azuis no exterior
[42]. Embora a loja tenha abatido colunas durante a revolução, seu rito foi mantido em algumas lojas da França e, em particular, na Parfaite Union de Douai, que o praticava desde 1784.
Os rituais do Rito Escocês Filosófico são conhecidos. A biblioteca do Supremo Conselho para a Bélgica
[43] conserva diversos exemplares, idênticos aos publicados há 20 anos por R. Désaguliers
[44], e provenientes da loja Saint Jean de la Vertu Persécutée, de Avignon.
Sua leitura mostra que estes rituais não eram muito diferentes daqueles em uso nas lojas francesas da época. As “instruções” de Avignon e do Regulador diferem apenas na apresentação e na ordem das perguntas e respostas (ver anexo 1)
Repito os principais elementos:
Os oficiais são organizados segundo o uso “moderno”: o venerável no Oriente, o 1o vigilante ao Sudoeste, diante da coluna B, o 2o Vigilante no Noroeste, diante da coluna J.
As palavras sagradas são “J” no primeiro grau, “B” no segundo grau e “M…”
[45] no terceiro grau. A inversão de palavras decidida pela Grande Loja dos Modernos
[46], em 1730 (ou 1739), era respeitada, como o será em todas as lojas francesas no século XVIII, incluindo as lojas “escocesas”.
As três luzes são o sol, a lua e o mestre da loja.
As palavras de passe, comunicadas durante a cerimônia, são “Tub” no primeiro grau, “Schi” no segundo grau e “Gib” no terceiro grau.
As viagens do candidato no primeiro grau são marcadas pela purificação pela água e pelo fogo
[47].
A letra G, revelada no segundo grau, significa, “Glória a Deus, grandeza ao Ven. e geometria para todos os maçons.” Ela designa o Grande Arquiteto do Universo.
Ponto essencial, a versão da lenda de Hiram é a que estava em uso na França desde a introdução do grau de mestre: a antiga palavra de mestre, Jeová, não se perde com o desaparecimento do arquiteto. Ela apenas passa a ter uma palavra substituta: MB. Isso é fundamental, porque o Rito dos “antigos” afirmava, ao contrário, que apenas três a conheciam. A morte de Hiram impediu que ela fosse comunicada e a escolha de uma palavra substituta tornou-se assim muito mais do que uma marca de prudência.
Embora o Rito Escocês e o Rito Francês fossem basicamente idênticos, é necessário salientar uma diferença significativa: a disposição dos grandes candelabros ao redor do tapete da loja, descrito pelos “Regulamentos Gerais da respeitável Loja Mãe Saint Jean d’Ecosse de la Vertu Persécutée, no Oriente de Avignon”, datados de 1774, citado por René Desaguliers em seu artigo essencial de 1983.
V
“No meio do Templo e sobre o pavimento, será traçado com giz o painel conhecido de todos os Maçons. Haverá três grandes candelabros, cada um portando uma tocha: colocados, um deles, no canto do painel, entre o Oriente e o Sul; os outros dois no Ocidente, um entre o Sul e o Oeste, o outro entre o Oeste e o Norte.”
[48]
Esta disposição, SE-SO-NO, que nos parece familiar, pois é a do Rito Moderno belga, não era a das primeiras lojas francesas. Os “painéis” que ilustram as primeiras revelações
[49] e gravuras famosas de Lebas mostram consistentemente candelabros nos cantos NE-SE-SO. Na confissão de John Coustos aos inquisidores portugueses, em 1743, lemos que o venerável mestre, sentado no Oriente, estava ladeado por duas velas, enquanto uma terceira brilhava no Oeste próxima aos dois vigilantes
[50], disposição confirmada por revelações francesas, onde se lê:
“Em Lojas regulares e bem montadas, estes candelabros altos como Candelabros de Altar são comumente de forma triangular
[51]& decorados com os motivos da Maçonaria. Os quatro pontos Cardeais marcados sobre o Desenho ditam a colocação das três velas, do Grão-Mestre
[52] e dos dois vigilantes. Colocamos uma dessas luzes no Oriente, a outra ao Sul, e a terceira no Ocidente. O Grão-Mestre se coloca no Oriente, entre a luz do Oriente e a do Sul
[53].”
As lojas do GODF tinham mantido esta disposição, como mostram as ilustrações do “Régulateur du Maçon” (1801): a loja de aprendiz é iluminada por três velas colocadas em três grandes candelabros triangulares posicionados nos ângulos NE, SE e SO. Trata-se de um outro exemplo de fidelidade do “Rito Francês” às tradições da Grande Loja inglesa, dita dos Modernos, já que esta disposição era aquela das “novas lojas de acordo com as instruções de Desaguliers”
[54] segundo um texto fundamental inglês do início do século anterior. As lojas francesas seguiram, assim, o costume da maçonaria mais tarde chamada de “moderna”, aquela da Grande Loja de 1717.
O significado destas luzes foi dado por Prichard, que, em seu livro “A Maçonaria Dissecada”, de 1730, escreveu:
“P. Há quaisquer Luzes em sua Loja? R. Sim, Três.
O que elas representam? R. Sol, Lua e Mestre-Maçom.
N.B. Estas luzes são três grandes velas colocadas em candelabros altos (grifo meu).
Por que? R. O Sol para governar o dia, a Lua a noite, e o Mestre Maçom sua Loja
[55]“.
Os rituais franceses foram um passo adiante ao denominá-las “Grandes Luzes”
“O que vistes quando fostes recebido maçom?
Três Grandes Luzes dispostas em esquadro, uma no Oriente, outra no Ocidente e a terceira ao Sul.
O que significam essas três Grandes Luzes?
O sol, a lua e o mestre da loja.
[56]“
Se a loja inglesa era iluminada por três luzes, ela também era suportada por três “pilares”, Sabedoria, Força e Beleza, representados pelo venerável mestre e os dois vigilantes. Ambas as Grandes Lojas, “Moderna” e “Antiga”, estavam, pela primeira vez, de acordo sobre este ponto. As revelações dos anos 1760. The Three distinct Knocks Or the Door of the most Antient Free-Masonry, de 1762, e Jachin and Boaz or an authentic key to the door of Free-Masonry, relatavam o mesmo diálogo:
“Mestre. O que sustenta a sua Loja?
Resp. Três grandes pilares.
Mestre. Quais são seus Nomes?
Resp. Sabedoria, Força e Beleza.
Mestre. Quem o Pilar de Sabedoria representa?
Resp. O Mestre no Oriente.
Mestre. Quem o Pilar da Força representa?
Resp. O Primeiro Vigilante [no Ocidente].
Mestre. Quem o Pilar de Beleza representa?
Resp. O Segundo Vigilante [no Sul].
[57]“
As primeiras revelações francesas foram mais longe e afirmaram a semelhança destes “pilares” às colunas J e B do templo de Salomão (“pillar” é traduzido indiferentemente como coluna ou pilar, embora, em francês, coluna signifique um suporte de formato circular e pilar designe um suporte de qualquer formato). Ao descrever a imagem da loja, o “Nouveau Catéchisme des Francs-Maçons” (p.41) é bem explícito:
“Abaixo [da janela do Oriente], eles pressupõem
[58] um terceiro pilar, Beleza. Sobre uma das duas Colunas reais, Força & um grande J. que significa Jakhin, &, sobre a outra, Sabedoria & um grande B. que significa Booz, & no centro da Estrela Flamejante aparece um grande G.”
Legenda: Painel da loja de aprendiz no “Nouveau catéchisme des Francs-Maçons”, de 1749. Note-se a localização das tochas luminosas marcadas pelos botões.
Esqueçamos a disposição variável, e às vezes fantasiosa, da Sabedoria, Força e Beleza. O que é importante é a semelhança dos “sustentáculos” da loja com as duas colunas, J e B, do templo de Salomão, e sua associação muito forte com os dois vigilantes. O ritual de companheiro (1767) da loja do marquês de Gages, La Vraie et Parfaite Harmonie, do Oriente de Mons, não dizia nada diferente:
A coluna dos aprendizes tem as letras J-F Jaquim e Força; a coluna dos companheiros, as letras B-B, para Boaz e Beleza.
De onde se tem o seguinte esquema:
Fig. 2: Disposição da loja francesa
Em resumo, a loja francesa:
é suportada por três colunas, Sabedoria-Força-Beleza, duas das quais são nada menos do que as colunas J e B do templo de Salomão, às quais estão associados os Vigilantes, e à terceira, imaginária, o Mestre da Loja;
é iluminada por três luzes dispostas em esquadro nos cantos da loja: o sol, a lua e o Mestre da Loja.
O deslocamento das luzes na loja avignonesa
[59] alterava radicalmente a geografia da loja e as associações simbólicas que ela ocultava. Na verdade, o artigo seguinte dos Regulamentos Gerais estipulava:
VI
“Toda assembleia de maçons será chamada de Loja e será presidida por um irmão que chamaremos de Venerável, e por outros dois irmãos que serão chamados de Vigilantes, que representam as Três Luzes ou as Três Colunas da loja, a qual ainda tem por Oficiais um Orador, um Secretário, um Tesoureiro, um guarda dos Timbres e Selos, dois Mestres de Cerimônias, um Mestre Ordenador de Banquetes e dois Enfermeiros e Capelães
[60] (grifos meus).”
Enquanto as colunas e as luzes são dois ternários distintos na loja francesa, aqui elas são fundidas em uma única unidade, reunindo os três principais oficiais, os candelabros e os sustentáculos da loja, tudo ilustrado pela nova disposição dos candelabros de canto. Naturalmente, as colunas J e B perdem a sua função de suporte da loja.
A instrução do grau de aprendiz do Rito Escocês Filosófico contém as sementes do anúncio desta fusão:
“D: O que vistes quando vos foi dada a Luz?
R: Três grandes luzes; o Sol, a Lua & o Ven.
D: Não vistes outras Luzes?
R: Três grandes tochas que representam o Ven. e os Vig.”
Isto permitiu que R. Desaguliers escrevesse, em 1983:
“Na minha opinião, é esta disposição dos candelabros-colunas em torno do tapete-quadrilongo e sua estreita associação com o Venerável e os dois Vigilantes que fundamenta o “Rito Escocês” para os três primeiros graus.
[61]“
Rapidamente concluímos:
Em uma loja escocesa,
o Venerável Mestre e os dois Vigilantes são ao mesmo tempo luzes (os grandes candelabros) e colunas (Sabedoria-Força-Beleza, sustentáculos da loja)
os três grandes candelabros, por uma mudança semântica compreensível, também se tornaram as três colunas-sustentáculos da loja,
as duas colunas, J e B, perdem seu significado original para não serem nada mais que as colunas de aprendizes e companheiros,
o tradicional ternário Sol-Lua-Venerável Mestre é mantido, mas a sua associação com os candelabros desapareceu.
Fig. 3: Disposição da Loja Escocesa
Tudo pode ser resumido por um quadro bastante simples:
Rito Moderno Rito antigo
Disposição das colunas
J a Noroeste, B a Sudoeste B a Noroeste, J a Sudoeste
Disposição dos vigilantes
[xii] 1o Vigilante, coluna B
2 o Vigilante, coluna J 1o Vigilante, coluna B
2 o Vigilante, coluna J
Disposição das luzes
(tochas de canto) NE, SE, SO SE, SO, NO
Aclamação Vivat, Vivat, Vivat Huzzé, Huzzé, Huzzé
Grandes Luzes Sol, lua, Mestre da Loja Sol, lua, Mestre da Loja
Fig. 4: Comparação dos Ritos Francês e Escocês
A única diferença significativa é a fusão, no Rito Escocês, das colunas e das luzes, fusão induzida por seu deslocamento para os mesmos ângulos que as colunas.
Nada em tudo isso justifica a condenação do Rito Francês feita por Abraham. A maçonaria “Escocesa” talvez difira da maçonaria francesa clássica, mas não de maneira tão radical como afirmava o defensor do escocismo. Ambas estavam sob a influência do “Rito Moderno”, introduzido na França com a Ordem Maçônica, mas adaptado às sensibilidades locais. O ponto de ruptura não se encontrava nos rituais dos graus azuis, mas no desejo de conferir, como no passado, os altos graus nas lojas e na rejeição à autoridade “dogmática” do Grande Oriente. Não é exagero, me parece, concluir que a resistência das lojas escocesas foi causada pela vontade centralizadora do GODF e não pelo abandono de uma certa tradição iniciática imaginária.
De qualquer forma, o ostracismo Grande Oriente preparou o terreno que permitiu o surgimento na França de um rito até então inédito, o Rito Escocês Antigo e Aceito, pois sem o apoio incondicional dos “Escoceses” condenados pelo Grande Oriente, os protagonistas de 1804 não teriam tido sucesso nas suas intenções.
2. O ano de 1804 e o retorno dos “americanos”
Desde 19 de brumário do ano VIII
[xiii] (10 de novembro de 1799), o Diretório tinha dado lugar ao Consulado presidido por Bonaparte. Em março de 1802 foi assinada a paz de Amiens com a Inglaterra, logo seguida por uma lei de anistia geral (abril de 1802) que permitiu o retorno à França dos emigrantes. Em agosto do mesmo ano, Bonaparte, nomeado Primeiro Cônsul vitalício, aproveitou a oportunidade para ratificar a Constituição do Ano X, que lhe dava maiores poderes, primeiro passo para a restauração de uma monarquia.
Em abril de 1803, a Grã-Bretanha exigia a cessão, por dez anos, da ilha de Malta, que ela deveria ter evacuado segundo os termos da paz de Amiens, e a evacuação da Suíça e Holanda pela França. O ultimato foi rejeitado pelo governo francês e a guerra começou novamente. Ela duraria onze anos, até a queda de Napoleão.
Em março de 1804, em retaliação a uma conspiração monarquista, Bonaparte removeu do Ducado de Baden o duque d’Enghien, neto do príncipe de Condé. Transferido para Vincennes, o duque d’Enghien foi executado após um simulacro de julgamento (março de 1804). Finalmente, em 18 de maio de 1804, um decreto do senado, conhecido como a Constituição do ano XII, proclamou Bonaparte imperador dos franceses. Ele foi consagrado na Catedral Notre-Dame de Paris pelo Papa Pio VII
[62], em 02 de dezembro de 1804.
É nesse período, repleto de agitações, que apareceu na França o Rito Escocês Antigo e Aceito, trazido na bagagem dos exilados que retornavam ao país.
O primeiro destes exilados foi Hacquet Germain, notário em Santo Domingo
[xiv], com sólido passado maçônico. Nascido em Paris, em 1758, ele havia pertencido às lojas Les Frères Réunis (Cape francês) e La Réunion des coeurs franco-américains (Porto Príncipe), antes de juntar-se à L’Aménité, na Filadélfia, em 1797, da qual sairá no ano seguinte. Recebeu uma patente de Deputado Inspetor Geral do Rito de Perfeição das mãos de Pierre le Barbier Duplessis, em 1798. De volta à França, em abril de 1804, estabeleceu as oficinas de Phenix, chamada de Escoceses de Heredom, uma loja simbólica, em 14 de junho, um Conselho de Cavaleiros Kadosh, em 15 de setembro, e um Consistório de Príncipes do Real Segredo nos dias 19 e 20 do mesmo mês. Bem acolhido pelo Grande Oriente, aportou a este o grau do Real Segredo, de Morin e Francken, grau este que a França nunca havia conhecido
[63].
Grasse-Tilly veio logo em seguida. Grande Inspetor Geral e Grande Comendador do “Supremo Conselho do Grau 33 estabelecido nas Ilhas Francesas da América”, havia, em março de 1802, em São Domingos, se juntado às forças do general Leclerc, infeliz aventura que terminou com o colapso das forças francesas, dizimadas pela febre amarela. Em 30 de setembro de 1803 foi capturado pelos ingleses e mantido cativo na Jamaica
[64]. Enquanto isso, havia se filiado, em São Domingos, à loja “Les sept Frères Réunis” fundada pelo Grande Oriente da França e constituída “no 21o dia do 12 o mês de 5801″ (21 de fevereiro de 1802).
Libertado em 1804, Grasse ficou brevemente em Charleston
[65] antes de embarcar para a Europa. Em 4 de julho, ou um pouco antes, desembarca em Bordeaux, França, que ele havia deixado havia 15 anos e que teria, não tenho dúvida, alguma dificuldade em reconhecer.
Após a sua chegada em Paris, Grasse entrou em contato com a loja Saint-Alexandre d’Ecosse, herdeira da Contrat Social, que havia retomado seus trabalhos, em 22 de agosto, sob a presidência de Leuven de Pescheloche
[66], portando o título de Loja-mãe Escocesa para altos graus do Rito Escocês de Avignon (dito Filosófico)
[67]. Os acontecimentos que se seguiram são resumidos, de forma relativamente elaborada, mas precisa em todos os aspectos, por uma declaração de Grasse-Tilly, registrada no Livro de Visitas do S.C. (da América
[68]) (em 18 de agosto de 1818):
“Em 1804, quando chegamos na França, as Lojas Escocesas haviam sido atingidas pela condenação do G\O\. Nos comunicamos, em Paris, nos altos graus dos Escocismo, com vários maçons tanto zelosos quanto respeitáveis; estabelecemos um Supremo Conselho do grau 33 para a França. Este Conselho, unido àquele do grau 33 para a América, estabeleceu, em 05 de dezembro de 1804, com o Gr\Or\, uma concordata que pareceu tão vantajosa para a Maçonaria, que este último mandou cunhar medalhas para perpetuar a memória de sua existência.
[69]“
Esta é a data da introdução, na França, do Rito Escocês Antigo e Aceito, com seus 33 graus organizados nos Estados Unidos em uma graduação inédita que ignorava os “Escoceses” da França, notadamente os defensores do Rito Escocês Filosófico.
Além de Grasse, vários membros do Supremo Conselho da América estavam em Paris, incluindo Caignet, Antoine e Toutain, todos revestidos do grau 33
[70]. Com eles, Grasse conseguiu completar o seu Supremo Conselho no exílio ao alcançar os nove membros previstos pelas Grandes Constituições de 1786 (artigo 5o) formando um Supremo Conselho para a França que seguia as regras estabelecidas por estas mesmas Constituições. Assim, ele conferirá aos principais oficiais da St. Alexandre os graus do Rito Antigo e Aceito que não faziam parte do Rito Filosófico
[71]. Em 28 de agosto, Grasse recebeu no grau 32 “do rito Antigo e Aceito” a Joseph Louis Leuven de Pescheloche, V.M. da St. Alexandre, e, no grau 33, a Jean Nicolas le Tricheux (30 de setembro) e a Louis Charles Bailhache (8 de outubro)
[72]. Entre 18 de setembro e 28 de outubro de 1804, 14 irmãos no total foram elevados a diferentes graus do Rito, do 13 ao 33
[73]. Seis deles foram promovidos, além do próprio Grasse, a membros do Rito Escocês Filosófico: Leuven de Pescheloche (venerável fundador da St. Alexandre), La Tour d’Auvergne (venerável em exercício), Haupt (orador), Thory (1ovigilante), o abade de Ales (Tesoureiro) e Valence (Presidente do Soberano Capítulo Metropolitano).
Quando foi formado o Supremo Conselho da França? Curiosamente, nenhum autor cita qualquer registro de uma reunião que tenha abrigado a instalação oficial desta organização! Thory (1757-1827) dá duas datas diferentes.
Em 1812, ele escreve:
“O Supremo Conselho do grau 33 foi erguido em Paris e organizado provisoriamente, em 22 de dezembro de 1804. Sua constituição final foi promulgada e publicada em 19 de janeiro de 1810.
[74]“
Em 1815, ele mudou de ideia e escreveu:
“22 de setembro (1804): Fundação, pelo Senhor conde de Grasse-Tilly, de um Supremo Conselho, para a França, de Soberanos Grandes Inspetores gerais do 33o grau do Rito Antigo e Aceito
[75]“.
Para A. Doré, estas datas são uma fraude. Nenhuma oficina maçônica, em qualquer nível que seja, existe sem uma Constituição assinada por seus fundadores e devidamente arquivada na instituição da qual depende. Mas este Supremo Conselho não deixou nenhum vestígio de sua fundação! “Não haverá, escreve Doré, Supremo Conselho da França até 19 de janeiro de 1811, e, novamente, ele desaparecerá em 1814, com o Império, para reaparecer apenas em 06 de junho de 1821”
[76]. Gout não é desta opinião. Embora reconheça implicitamente que não há um ato constitutivo do Supremo Conselho (ainda que fosse apenas citado), se apoia em um discurso do barão de Haupt, orador da St. Alexandre, que, em 23 janeiro 1805, evocava, sem lhe atribuir uma data, a criação do Supremo Conselho:
“A R\L\ Mãe Escoc\ estava ocupada abrindo sua correspondência com as RR\ LL\ de sua jurisdição, quando foi o informada que o Mui Ilustre e Mui Respeitável Irmão de Grasse-Tilly havia se reunido na sua qualidade de Grande Comendador ad vitam do Sup\ Conselho do 33o e último grau.
[77]”
Sutilmente, Gout argumenta sobre o artigo 5 das grandes Constituições que afirma que,
“Três (dos nove membros de um S.C.), estando presentes o soberano poderoso (Grande Comendador) ou o ilustre Inspetor (Tenente Grande Comendador), podem conduzir os assuntos da ordem e formar o conselho completo”
supondo que o Supremo Conselho foi de fato instituído assim que a cota mínima de três Grandes Inspetores Gerais foi alcançada, ou seja, em 10 de outubro de 1804, data de recepção de Vidal, com o próprio de Grasse e le Tricheux vindo a completar este número
[78].
Legenda: página de um registro mantido na biblioteca do S.C.P.L.B.
[xv]. O S.C.D.F. foi criado em 22 de setembro de 1804. O relatório existiu de fato, mas a viúva de Thory se recusou a devolvê-lo.
Em contrapartida, sobre a criação da Grande Loja Geral Escocesa, decidida em 23 de outubro de 1804, por um Comitê Geral Veneráveis e Deputados das lojas Escocesas, convocada por iniciativa da St. Alexandre d’Ecosse, não paira qualquer dúvida. Este Comitê Geral, considerando que “era importante que o rito escocês Heredom fosse regular e escrupulosamente preservado, já que os graus do regime escocês eram os únicos conhecidos nos orientes estrangeiros, e que era uma dignidade para os maçons franceses do rito antigo ter um ponto central na capital do Estado” decidiu estabelecer a Grande Loja Escocesa da França e oferecer o Grão-Mestrado ao príncipe Louis Bonaparte, irmão de Napoleão e condestável do Império
[79]. O comitê nomeia a seguir os Grandes Oficiais, incluindo Grasse-Tilly, representante do Grão Mestre; Kellermann, Grande Administrador; Valencia e Lacépède, Grandes Conservadores; Hacquet, Primeiro Grande Vigilante. A Grande Loja Geral realizou sua primeira reunião em 27 de outubro, e, em 01 de novembro, anunciou a sua existência ao mundo maçônico francês, através de uma circular que causou um grande barulho
[80]. Em sua terceira reunião, em 10 de novembro, ela criou três câmaras e nomeou trinta novos Grandes Oficiais, incluindo Jean-Baptiste Pyron (1750-1818) e Claude Antoine Thory.
[81]
Se o caso parecia bem encaminhado, a vontade de Napoleão veio mudar a situação. Ele exigiu a fusão imediata do Grande Oriente com a Grande Loja Geral, fusão esta que foi aprovada por um tratado de união chamado “concordata”, assinado em 3 de dezembro de 1804, na loja do marechal Kellermann
[82]. O tratado foi ratificado em 5 de dezembro por ambas as obediências e, na mesma data, à meia-noite, a Grande Loja Escocesa foi admitida no templo do Grande Oriente. Grasse-Tilly, representando o Grão Mestre, prestou juramento pelas mãos do Grande Venerável, Roëttiers de Montaleau, e este prestou, pelas mãos de Grasse-Tilly, juramento de união e vínculo ao Grande Oriente
[83]. O dois Ritos estavam provisoriamente unidos.
O documento redigido aquele dia começa com um “Ato de União”, uma espécie de declaração de motivos.
Legenda: documento guardado na biblioteca do SCPLB. O texto é assinado por Grasse-Tilly, Montaleau, Challan, Doisy, Defoissy, Pyron, Thory e outros; é certificado por Pyron, Grasse-Tilly, Vidal e Thory.
A continuação do texto é intitulada “Da Constituição Geral da Ordem“
[84] sem que as palavras “Ato de União” reaparecessem. Ele trata da organização da Ordem maçônica como um todo, graus simbólicos e altos graus, e prevê diferentes estruturas de gestão, Grande Oriente, Grande Capítulo Geral, Grande Loja simbólica de administração, Grande Conselho dos vinte e sete. O Supremo Conselho era parte do Capítulo Geral, mas obteve um privilégio exorbitante: o direito de destituir um grande oficial do Grande Oriente diante de uma queixa de sua oficina, que poderia ser ou não “dos altos graus”.
“Do Grande Conselho de deputados inspetores-gerais do 32ograu e do sublime conselho do 33o.
O Grande Oriente da França tem, no grande capítulo geral, o grande conselho do 32o grau e o sublime conselho do 33o grau.
Os deveres do 33o grau, independentemente daqueles que realizam tais deveres, são tratar dos mais altos conhecimentos místicos e harmonizar os trabalhos.
Ele expressa sobretudo aquilo se tem como ponto de honra; ele pode destituir um Grande Oficial do Grande Oriente da França, depois de queixas e denúncias recebidas exclusivamente das oficinas das quais faz parte o oficial acusado, de acordo com as formas maçônicas.
O Supremo Conselho do 33o grau só pode reformar ou revogar as suas decisões.
Das atribuições principais dos grandes capítulos metropolitanos.
Cada classe apenas poderá conferir os graus que serão indicados pelo Grande Oriente da França, em seu grande capítulo geral, de modo que os da segunda classe só poderão ser conferidos no capítulo que receber os poderes, e assim de classe em classe.
Os primeiros catorze graus serão os únicos que os capítulos particulares poderão conferir.
O décimo-quinto, até e incluindo o décimo-oitavo, só serão investidos no grande capítulo geral do Grande Oriente da França.
O grau 33 só pertence ao sublime grande conselho deste nome, que é o único que pode conferi-lo.
Os inspetores gerais do rito antigo, reconhecidos para tal até hoje, são membros natos do grande conselho do 32o grau
[85]“.
O tratado, ou concordata, não podia satisfazer os escoceses:
A palavra “Tratado” só aparece na exposição de motivos, não no corpo do texto.
O título “Escocês” é mencionado apenas uma vez, no artigo 5 das Disposições Gerais (“os respeitáveis irmãos Lacépède, Hacquet, Godefroy de la Tour d’Auvergne, De Trogoff, Thory, Bailhache etc, membros do antigo rito escocês antigo e aceito
[86], são proclamados afiliados livres de todas as lojas e de todos os capítulos da França”), embora o reconhecimento de tal estatuto fosse uma exigência essencial.
O poder dos 33o limitou-se apenas à administração dos dois últimos graus, 32o e 33o, com os outros dependendo do Capítulo Geral, um desdobramento do Grande Oriente.
Apenas a prerrogativa inesperada de destituição eventual de Grandes Oficiais parecia reconhecer no “Sublime Conselho” a autoridade disciplinar que nada, é preciso que se diga, justificava.
Como único consolo, os Grandes Inspetores Gerais
[87] ganharam o direito de sentar-se no Oriente, mas num lugar subalterno: na frente dos Grandes Conservadores e dos Grande Administradores do GODF
[88].
Esses artigos deixavam para os 33o de Grasse-Tilly uma pequena porção. Eles continham em germe as causas do conflito que levou, no ano seguinte, ao enfraquecimento do Tratado da União. Enquanto isso, em 29 de dezembro, de Grasse usou seus poderes para admitir ao 33o grau dois dos três Comissários do G.O. que tinham participado da elaboração do projeto de Tratado, Roëttiers de Montaleau e Challan
[89], enquanto os seus colaboradores imediatos recebiam os graus 30 e 31. Finalmente, os Rosacruzes do Rito Francês, membros do Rito quando da união, foram coletivamente “elevados” ao grau 28 do Rito Antigo e Aceito. A fórmula do juramento na oportunidade previa “respeitar os decretos do Supremo Conselho.
[90]”
Os meses que se seguiram viram acontecimentos singulares que ninguém jamais pode desemaranhar com certeza. Nós nos restringiremos aos fatos relacionados com o nosso objetivo.
A Grande Loja Geral Escocesa realizou a sua última reunião em 05 de dezembro de 1804, dia da ratificação do tratado de união, e, em 8 de janeiro de 1805, depositou seus selos e arquivos nas mãos de GODF
[91]. O acordo entre as duas obediências fracassou. Várias manobras de uns e de outros fizeram com que falhasse e, em 6 de setembro de 1805, oitenta e um irmãos do grau 32 se reuniram na casa do marechal Kellermann e denunciaram o tratado de união de dezembro 1804
[92].
“Os Princ\ Maç\, Soberanos Grandes Inspetores Gerais, membros do trigésimo terceiro grau na França, formados em grande Consistório com os Princ\ Maç\, deputados inspetores do R\ Segr\, deliberando em comum com os Ven\ das Lojas Escocesas, e outros membros do mesmo rito presentes à deliberação e convocados extraordinariamente,
Considerando que a Grande Loja Geral Escocesa da França se uniu ao G\O\, depois das comunicações que fizeram;
Que isso resultou em uma Concordata entre os dois Ritos;
Que a Concordata foi aceita por ambos os Ritos, sancionadas na Assembleia Geral de 5o\ D\ do 10o M\ 5804, e consagrada pela assinatura e juramento de cada membro de ser fiel à sua execução;
Que os membros do Rito Escoc\ escrupulosamente observaram e executaram as diversas disposições contidas na Concordata, enquanto que, pelo contrário, os membros do rito Moderno as aboliram:
O Conselho dos vinte e sete, o Grande Conselho do trinta e dois, o Soberano Conselho do trigésimo terceiro, substituindo um Diretório de Ritos ao qual se concede a faculdade de reconhecer apenas aqueles que lhes convenha adotar, desafiando a Concordata que uniu ao G\O\ todos os professantes dos dois hemisférios;
Que eles distorceram e até mesmo anularam a nova organização maçon\ consagrada pela Concordata com base na qual o rito escoc\ concordou em se unir com o G\O\;
Que deixaram de lado as leis, estatutos e regulamentos gerais e as formalidades exigidas por essas mesmas leis, que eram uma garantia para todos os Maç\ que as observavam,
Decretam, por unanimidade, em votação que não recebeu nenhuma bola preta, os seguintes artigos:
Decreto:
Artigo I: O Antigo Rito Escocês não está mais unido ao G\O\. A concordata do terceiro dia do décimo mês de 5804 é considerada nula.
Art II: A Grande Loja geral Escoc\ está restabelecida. Seus trabalhos serão retomados no menor tempo possível; para este efeito, os antigos membros são agora convidados a retomar provisoriamente suas funções.
Art III: Uma comissão composta por 12 Príncipes Maçons, apresentará, na sessão indicada a 16 deste mês, os artigos provisórios desta constituição e de uma nova organização. Os membros desta comissão serão os RR.IIr.
Kellermann, grande Administrador da GLE.
Pyron, grande Orador
Reiner, grande secretário
Thory, VM da Saint Alexandre
Fondeviolles, VM da Triple Union
Girault, VM da Réunion des Etrangers
Hacquet, VM da Phénix
Bailhache, VM da St Napoléon
Saint Eloi, VM da Sainte Joséphine
La Flotte, VM da Parfait Union
Le Court Villiers, Orador da St Napoléon
Tureau, Orador da St. Joséphine.
Art IV: a loja de Saint Alexandre dÉcosse retomará desde hoje seu título de Loja-Mãe.
Art V: A notificação do presente decreto será feita durante o dia da segunda-feira próxima ao G\O\ da França na pessoa do Resp\ Ir\ Montaleau, pelos Veneráveis de la Salle, Hacquet e De La Flotte.
Art VI: ela será participada aos IIr. Escoceses de Marselha, Douai e Valenciennes, ao capítulo Jacobita de Arras e ao Ir. Mattheus de Rouen, com um convite para nomearem um deputado local para participar da formação dos novos Estatutos e Regulamentos do Rito Escocês na França e da organização definitiva da Grande Loja e todas as Lojas e Capítulos, independentemente de seu Rito, na França e fora da França, nos dois hemisférios.
Art VII: No entanto, esta decisão não receberá execução definitiva conquanto o G\O\ da França restabeleça, até o dia 15 deste mês somente, a concordata em todas as disposições nela contidas, tal como foi assinada pelos comissários dos dois Ritos, e cancele as diferentes determinações e deliberações estabelecidas por ele que sejam contrárias tanto às disposições quanto às formas e formalidades prescritas pela Concordata; para o que a sessão será retomada no décimo sexto dia do mês para dar a esta decisão sua plena e total execução, caso o G\O\ não concorde com a presente deliberação…
[93]“
Em 16 de setembro, os mesmos decidiram que os dois Ritos estavam separados e que iriam trabalhar separadamente, cada qual de acordo com seu dogma.
“Que o Conselho do trigésimo segundo grau de Subl\ Princ\ do R\ Segr\ e do Soberano Conselho Grande Inspetores Gerais do grau trinta e três deixaram seus assentos no grande Capítulo geral, como havia sido decretado pela Concordata.
Que os diferentes Ritos unidos ao G\ O\ só seriam representados pelos Comissários de cada Rito, formados em diretórios dos Ritos
[94] unidos sob a condição expressa de cumprirem as instruções dadas a eles por seus Ritos
[95]“.
Em 24 de setembro foi formado o Grande Consistório da França, no lugar da Grande Loja Geral Escocesa, que jamais voltaria a ser restaurada:
“O Supremo Conselho, usando o poder de que foi investido pelas grandes constituições de 1786, ao invés de reativar a Grande Loja Escocesa de acordo com a deliberação de oitenta e um Princ\ Maç\ de seis (sic) do mesmo mês, organizou na mesma sessão de 24 de setembro, um Grande Consistório do trigésimo segundo grau; conclamou os membros chamados a compô-lo, e, em seguida, deu prosseguimento à sua instalação.
Ele também estabeleceu que organizaria nas principais cidades, sempre que as circunstâncias exigissem, Conselhos particulares do trigésimo segundo grau e Tribunais do trigésimo primeiro…. Não se ocupou, nesta sessão, da iniciação aos dezoito primeiros graus
[96] nem da concessão de cartas capitulares específicas para estes graus. O modo desta concessão, outorgado pela Concordata, continua tacitamente a subsistir, salvo no tocante a cuidar da dignidade do Rito, manter o poder supremo para o qual foi investido pela constituição de 1786, e o devido respeito às leis e estatutos gerais de cada Rito, cuidando para que os graus que são parte do Rito antigo não sejam mais concedidos por Ritos para os quais eles são totalmente estranhos; e, a este respeito, o G\ O\ não pode representar qualquer tratado entre ele e Rito antigo, posterior ao acórdão dos comissários de 16 de setembro de 1805, e aos seus novos estatutos e regulamentos de 17 novembro de 1806, sobre os quais se falará a seguir
[97].”
3. Os primeiros rituais dos graus “simbólicos” do REAA
Em toda esta história, os rituais dos graus azuis não estiveram em discussão. Tudo se resume a uma questão obscura de supremacia administrativa e de precedências protocolares. Os grandes príncipes definidos por Abraham e seus amigos não parecem ter atraído a atenção dos protagonistas do tratado ou da sua ruptura. A conclusão foi a divisão de competências: para o Grande Oriente a gestão dos graus de 1 a 18, para o Supremo Conselho o monopólio dos graus superiores, monopólio do qual só fez um uso moderado porque se limitará, por muitos anos, a conferir, com parcimônia, apenas os graus 31, 32 e 33
[98].
As lojas azuis do Primeiro Império dependiam exclusivamente do Grande Oriente e o Supremo Conselho nunca se intrometeu em seu funcionamento. Isso não significa que nenhuma delas tenha trabalhado no REAA. O anuário do Grande Oriente, de 1811, cita várias lojas, em Paris e nas províncias, trabalhando neste rito. Três apenas eram anteriores à volta à França de Hacquet e de Grasse-Tilly: Saint-Alexandre, la Triple Unité e Marie-Louise
[99]:
Anuário do GODF 1811
Paris: 91 lojas, incluindo 14 no REAA, quais sejam:
· Les Amis de la Vertu 14 de maio de 1805
· Le Grand Sphinx 3 de novembro de 1804
· Jérusalem 11 de abril de 1804 VM: Rouyer
· Le Lys étoilé 20 de março de 1807
· Marie Louise 11 de janeiro de 1784
(ex Réunion des Etrangers)
· Le Phénix 14 de junho de 1804 VM: Hacquet
· Royal-Arch 2 de março de 1806
· Saint Alexandre d’Ecosse 7 de julho de 1782
· Sainte Caroline 18 de maio de 1805 VM de honra: Cambacérès
VM: le Peletier d’Aunay
· Saint Jean d’Ecosse de la Parfaite Union 22 de janeiro de 1805
· Saint Joseph 29 de novembro de 1807 VM: Duval Deprémesnil
· Sainte Joséphine 27 de janeiro de 1805
· Saint Napoléon 10 de novembro de 1804 VM de honra: Kellermann
(fundada por Grasse-Tilly) VM: Rampon
· La Triple Unité 27 de setembro de 1801 VM de honra: Fondeviolles
Nas províncias ou no estrangeiro:
¨ 5 lojas do REAA: Hédée (Nature et Philanthropie, 25 de março de 1809), Lyon (la Bienfaisance, 24 de setembro de 1806), Rome (la Vertu triomphante, 5 de junho de 1806), Toulouse (le Faisceau, 15 de dezembro de 1810), Valenciennes (La Parfaite Union et Saint Jean du désert reunidas, 3 de julho de 1733)
¨ 8 lojas trabalhando nos dois Ritos: Amiens (la Parfaite Sincérité, 13 de dezembro de 1784), Amsterdam (Sainte Marie Louise d’Autriche, 25 de outubro de 1810; Saint Napoléon, 5 de agosto de 1810), Gènes (Saint Napoléon 2 de dezembro de 1805), Le Havre (L’Aménité, 15 de maio de 1775), Le Saint-Esprit, perto de Bayonne (la Parfaite Réunion, 12 de março de 1806), Lille (la Fidélité, 21 de maio de 1805), Limoges (les Amis Réunis, 30 de janeiro de 1805)
¨ Diretório Escocês do 5o distrito (sic), fundado em 2 de agosto de 1766. Grão Mestre Provincial: De Bry
Cinco lojas: La Sincérité et Parfaite Union (Besançon), l’Union des Cœurs (Genève), la Réunion désirée (Gray), la Parfaite Egalité (Lons-le-Saulnier), l’Union Parfaite (Salins).
Uma vez que durante o Império existiam lojas trabalhando no REAA sob obediência do GODF, deveria haver um ou mais rituais apropriados a este Rito.
3.1 O ritual de aprendiz da Triple Unité Ecossaise
A primeira edição impressa dos graus azuis do REAA é intitulada de “Le Guide des Maçons Ecossais ou Cahiers des trois grades symboliques du Rit Ancien et Accepté
[xvi]”. Ela traz uma menção “em Edimburgo. 58”, o que não é conclusivo. No corpo do texto, nenhuma obediência é mencionada e a primeira saudação protocolar é endereçada “à Sua Majestade e sua augusta família.” A omissão do adjetivo “imperial” é suficiente para atribuir o documento à era pós-napoleônica. Na verdade, a maioria dos autores concorda que é um documento que data da Restauração. Será que isso significa que os rituais em questão foram escritos naquela época? Podemos dizer, sem a mínima dúvida, que não.
Na verdade, o acaso me permitiu descobrir, na biblioteca do Supremo Conselho para a Bélgica
[100], um ritual manuscrito do primeiro grau do Rito antigo aceito pertencente à loja Triple Unité Ecossaise. Ele tem três selos na capa: no centro, o da Grande Loja Geral Escocesa da França, que traz uma águia radiante com asas abertas, segurando em suas garras uma espada e um bastão; de ambos os lados, os selos da loja Triple Unité Ecossaise, com a data de 5804.
Esta loja, embora fundada em 1801, pertencia à Grande Loja Geral, que teve, como vimos, uma vida efêmera, de outubro a dezembro de 1804, antes de se unir ao Grande Oriente da França, tendo a Triple Unité Ecossaise ficado sob a obediência deste último. Ponto essencial: em 1805, ela tinha como venerável o Ir\ Fondeviolles, “proprietário de terras em São Domingos”, que foi um dos primeiros a ser recebido no grau 33 por Grasse-Tilly. Este ritual certamente foi copiado durante o curto período que viu, entre outros eventos notáveis, a coroação de Napoleão (2 de dezembro de 1804) e o Tratado de União do Grande Oriente com a Grande Loja Geral do Rito Escocês Antigo (05 de dezembro de 1804 ).
A leitura do texto permite ser ainda mais preciso. A consagração do neófito se faz “sob os auspícios da Grande (Loja) metropolitana de Hérodom sob o Regime Escocês reunido ao G\O\ da França. Como a Grande Loja Escocesa se juntou ao GODF em 05 de dezembro de 1804 e desapareceu definitivamente em 08 de janeiro de 1805
[101] quando depositou seus arquivos e selos nas mãos de GODF, é razoável concluir que a cópia foi feita, no mais tardar, em dezembro de 1804
[102].
A leitura deste ritual essencial leva a uma primeira conclusão: ele é praticamente idêntico ao “Guia dos Maçons Escoceses
[xvii]“, e com isso resolve uma questão: o texto publicado durante a Restauração é bem anterior a este.
O documento é um caderno de 48 páginas, com uma caligrafia elegante e muito legível. Intitulado “Rito antigo aceito. Primeiro grau de aprendiz”, inclui a abertura da loja, a abertura dos trabalhos (leitura dos últimos trabalhos, entrada e telhamento
[xviii] de visitantes), a recepção, a instrução e o encerramento dos trabalhos.
3.1.1. A abertura da loja.
É claramente mais elaborada do que a abertura do Rito Francês de 1786 ou de 1801. Inclui, embora com algumas variações em termos, os diálogos habituais nas lojas francesas (em itálico no texto), mas também empréstimos textuais da revelação inglesa “Three Distinct Knocks “, de 1760, incluindo um erro gritante do texto em inglês que é repetido tal e qual na versão em francês (em negrito)! Sabemos que esta revelação não é outra senão o ritual em uso nas lojas inglesas de inspiração irlandesa trabalhando sob a autoridade da Grande Loja
[103] dos “Antigos”.
Three Distinct Knocks-1760 Triple Unité Ecossaise-1804
Master, to the junior Deacon
What is the chief care of a mason?
Answer . To see that his Loja is tyl’d.
Mas. Pray do your Duty
N.B. The junior Deacon goes and gives Three knocks at the Door; and if there is nobody nigh, the Tyler without answereth with Three Knocks: The junior Deacon tells the Master, and says:
Worshipful, the Loja is tyl’d.
Mas. to jun. Dea. The junior Deacon’s place in the Loja?
Deacon: At the Back of the senior Warden, or at his Right-hand if he permits him.
Mas. Your Business?
Deacon’s Ans. To carry Messages from the senior to the junior Warden, so that they may be dispersed round the Loja
Mas. to sen. Dea. The senior Deacon’s Place in the Loja?
Sen. Deacon’s Ans. At the Back of the Master, or at his Right-hand if he permits him.
Mas. Your Business there?
Sen.Deacon’s Ans. To carry all Messages from the Master to the senior Warden.
Mas. The junior Warden’s place in the Loja?
Deacon’s Ans. In the South.
Mas. to the jun. Warden. Your Business there?
Sen. Warden’s Ans. The better to observe the Sun, at high meridian to call the Men from Work to refreshment, and to see that they come on in due Time, that the Master may have Pleasure and profit thereby.
Mas. The senior Warden’s Place in the Loja.
Jun. Warden’s Ans. In the West.
Mas. to the sen. Warden. Your Business there?
Sen. Warden’s Answer. As the Sun sets in the West to close the Day, so the Senior stands in the West to close the Loja, paying the Hirelings their Wages and dismissing them from their labour.
Mas. The Master’s Place in the Loja?
Sen. Warden’s Ans. In the East.
Mas. His Business there?
Sen. Warden’s Ans. As the Sun rises in the East to open the Day, so the Master stands in the East to open his Loja to set his Men to Work…
N.B. Then the Master takes off his Hat, which he has on but at this Time…
Mas. The Loja is open, in the Name of God and holy St. John, forbidding all cursing and swearing, whispering, and all prophane Discourse whatsoever, under no less Penalty than that what the majority shall think proper; not less than One Penny a Time, nor more than Six-pence.
N.B. Then he gives Three Knocks upon the Table with a wooden hammer, and puts on his Hat. O V\M\ golpeia & diz,
– De pé e à ordem, meus IIr\
– Ir\1o Vig\Qual é o primeiro dever de um Vigilante na loja?
– Verificar se a loja está coberta.
O V\ M\ diz – Assegure-se meu Ir\
O Ir\1o Vig\ ordena ao Ir\2oVig\ que transmita ao Ir\Cobridor, que depois de olhar fora do templo fecha a porta e diz ao Ir\2o Vig\ que o transmite ao Ir\1oVig\ que o templo está coberto. Ele diz ao V\M\: o templo está coberto.
– Ir\2o Vig\ qual é o segundo dever de um Ir\Vig\em loja?
– É verificar se somos todos maçons e à ordem.
O V\M\diz: assegure-se meu Ir\
O Ir\1o Vig.:. repete para o Ir\2o Vig.:., que confirma e depois o Ir\1o Vig.:. diz para o V\M\
– Somos todos maçons e à ordem.
– Ir\2o Diácono, qual é o seu lugar em loja?
– À direita do Ir\1o Vig. se ele quiser permitir.
– Por que meu Ir\?
– Para portar as ordens do Ir\2oVig. e certificar a ele que os IIr:. estão devidamente nas colunas.
– Onde se encontra o Ir\1oDiácono?
– Atrás ou à direita do V\M\se ele quiser bem permitir.
– Por que Ir\1o Diácono ocupais este lugar?
– Para levar suas ordens ao Ir\1oVig. e a todos os oficiais dignitários a fim de que os trabalhos sejam mais prontamente executados.
– Onde se encontra o Ir\2o Vig\?
– No Sul V\M\
Em seguida, dirigindo-se ao Ir\ 2o Vig\
[104] lhe diz
– Ir\1o Vig\por que ocupais este lugar?
– Para melhor observar o sol em seu meridiano, enviar os obreiros do trabalho à recreação, recordá-los do trabalho para que o V\M\ obtenha honra e glória.
– Onde está o Ir\1o Vig\?
– No Ocidente V\M\
Em seguida, dirigindo-se ao Ir\1o Vig\ lhe diz.
– Ir\1o Vig. Por que ocupais este lugar?
– Como o sol se põe no Oeste para fechar o dia, do mesmo modo o Ir\1o Vig\ aqui se encontra para fechar a loja, pagar os trabalhadores e reenviá-los satisfeitos.
– Ir\1o Vig. Onde se encontra o V\M\?
– Ao leste V\M\
– Por que meu Ir\?
– Como o sol se eleva no Leste para começar seu curso e abrir o dia, do mesmo modo o V\M\; aqui se encontra para abrir a loja, dirigi-la em seus trabalhos e iluminá-la com suas luzes.
O V\M\ então golpeia (três golpes) seu malho em tempos iguais; em seguida, voltando-se para o Ir\1o diácono, eles mutuamente fazem o sinal gutural. O V\M\ lhe dá a palavra sagrada, desta forma B\O\O\Z\ para abrir a loja da aprendiz maçom do Rito antigo aceito na loja Escocesa Triple Unité.
O Ir\1o diácono a leva ao Ir\1oVig. que a envia pelo seu 2odiácono ao Ir\2o Vig. golpeia (um golpe) e diz.
– V\M\ Tudo está justo e perfeito.
O V\M\ se descobrindo diz
– À G\D\G\A\D\U\ em nome e sob os auspícios da metrópole universal de Herodom, sob o Regime Escoceses unido ao G\O\ da França, a R\ L\ Escocesa La Triple Unité escocês está aberta no grau de aprendiz; não é mais permitido falar nem passar de uma coluna sem haver recebido a permissão do Ir\Vig. De sua coluna.
– A mim meus IIr:.
Todos os IIr\ fazem o sinal gutural.
A influência do Rito “Antigo” anglo-irlandês é evidente. O autor deste ritual tinha, sem dúvida, sob seus olhos, a revelação inglesa de 1760, quando escreveu essa abertura. Tomou emprestada dos ingleses a posição dos Vigilantes, o primeiro no Ocidente e o segundo ao Sul, assim como os diáconos, tipicamente irlandeses, que nunca tinham existido no continente e que não eram conhecidos das lojas “Modernas” da primeira Grande Loja da Inglaterra
[105]. No entanto, evitou copiar servilmente o texto britânico: algumas frases são muito clássicas do estilo francês; a circulação final da palavra, do Venerável ao 2o diácono, reflete uma tradição mais antiga encontrada notadamente no ritual da loja de Mons, do marquês de Gages, datada de 1763.
O resultado é essencialmente sincrético, combinando usos “Antigos” e tradição francesa.
Note-se que a Bíblia não é mencionada em lugar nenhum nesta abertura, nem no texto inglês. No entanto, na última página do caderno, ela é mencionada explicitamente:
“Nota: A loja de aprendiz escocesa La Triple Unité não deve jamais abrir os trabalhos sem que a Bíblia esteja no altar, aberta na segunda epístola de São João com o compasso aberto sobre ela e suas duas pontas sobre um esquadro de quatro polegadas. As pontas do compasso voltadas entre o Sul e o Oeste e as duas pontas do esquadro para o Leste.”
Lembremo-nos que o “Regulador” não previa nada semelhante: sobre o altar do venerável havia os Estatutos Gerais da Ordem, cobertos com a espada.
O ritual da La Triple Unité; note-se que se afirma que o regime está unido ao G\ O\, enquanto o selo do cabeçalho é o da Grande Loja Geral Escocesa
3.1.2. A abertura dos trabalhos
Diferente da abertura da loja, previa a entrada dos visitantes que eram, se necessário, telhados de uma forma muito “continental”:
“D – M\Q\ Ir\ Visitante, de onde vindes?
Da loja de São João, V\M\
O que trazeis?
Alegria, saúde, prosperidade a todos os meus IIr \
O que mais trazeis?
O V\M\ da loja vos saúda por 3 vezes 3.
O que se faz nela?
Erguem-se templos à virtude e cavam-se masmorras aos vícios.
O que vindes fazer aqui?
Vencer minhas paixões, submeter minhas vontades e fazer novos progressos na Maçonaria.
O que desejais meu Q\ Ir\?
Lugar entre vós.”
3.1.3. A recepção de aprendiz
A recepção de aprendiz combina elementos clássicos da maçonaria francesa e usos ingleses do Rito Antigo em um outro exemplo do sincretismo característico deste ritual híbrido, conforme demonstra o anexo 1, que compara as peripécias da recepção do primeiro grau segundo o ritual de Avignon (Rito Escocês Filosófico), o “Regulador” (Rito Francês) e o ritual da La Triple Unité (Rito Escocês Antigo Aceito).
Se o esquema básico (preparação do candidato-entrada-viagens-juramento-luz- consagração) é idêntico nos três rituais, o que não é surpreendente, pois é a própria base do sistema, os detalhes variam. A preparação é idêntica, mas as provas purificadoras da água e do fogo, presentes no de Avignon e repetidas pelo Regulador, no texto da la Triple Unité são limitadas ao fogo. As provas acessórias (taça da amargura, sangramento, marca da vela e teste de beneficência) aparecem em diferentes momentos da cerimônia. Note-se a ausência de qualquer referência alquímica no ritual do REAA: sal e enxofre são encontrados apenas na câmara de reflexão do Regulador.
Fundamental é a prece pronunciada pelo venerável após a entrada do candidato:
“Meus IIr\ humildemente perante o Soberano árbitro dos mundos…! reconheçamos seu poder e nossa fraqueza..! Mantenhamos nossos espíritos e os nossos corações nos limites da equidade, e, caminhando
[106] no caminho certo, elevemo-nos ao mestre
[107] do universo… que é um… que existe
[108] por si mesmo a quem todos os seres devem sua existência… que opera em tudo e por tudo, invisível aos olhos dos mortais, ele vê todas as coisas… é ele que eu invoco… é a ele que eu dirijo meus votos e minhas preces.
Permita, ó grande arquiteto
[109], permita-me te invocar a proteger os obreiros da Paz que vejo aqui
[110]… estimule suas cabeças
[111], fortaleça suas almas na luta fatigante
[112] das paixões, inflame seus corações com o amor às virtudes, e determine seu sucesso como o de um novo aspirante
[113] que deseja participar de nossos augustos e sublimes
[114] mistérios …preste a este candidato tua assistência e sustente-o com teu braço poderoso ao longo das provas às quais se submeterá
Amém. Amém. Amém. “
Esta prece é seguida pela pergunta-teste, tipicamente britânica e “antiga”: “Profano, em quem depositais tua confiança?” e a resposta “Em Deus”.
Apesar desta ajuda estrangeira, a cerimônia é muito próxima do Rito Escocês de Avignon e daquele, francês, do Regulador, o único que prevê a consagração pela espada. O Rito “antigo aceito” da La Triple Unité conserva o essencial da maçonaria continental, o papel do irmão Terrível que conduz o candidato em suas viagens
[115], o recebimento da luz no círculo de espadas, enquanto o candidato está de pé no Oeste da loja, as longas exposições verbais, com destaque para o discurso sobre o vício e a virtude… Mas acentua o lado teatral através da introdução de episódios dramáticos desconhecidos no Reino Unido: a projeção do candidato no “tanque”, a luz em dois tempos com o episódio grandiloquente do cadáver do perjuro
[116].
Em contrapartida, a influência britânica é, também, muito sensível:
A entrada sob a ponta da espada.
A prece
[117] e a questão-teste
Os “obstáculos” enfrentados pelo candidato nas três viagens, próximo dos vigilantes e do venerável
A prestação do juramento sobre a Bíblia sobreposta pelo esquadro e o compasso.
O essencial é a adoção dos “segredos” da maçonaria Antiga: a palavra do grau, B, e não J, como era a regra na França desde a introdução da Ordem, tradição conservada tanto pelo Rito Francês quanto pelos Ritos Escoceses, seja o “Filosófico” ou o “Retificado”; a ausência de palavra de passe só faz confirmar o alinhamento do rito antigo aceito com o Rito antigo anglo-irlandês.
3.1.4. A instrução.
É surpreendente que ela descreva uma cerimônia de recepção muito diferente daquela realmente sofrida pelo neófito. Todos os elementos continentais típicos estão ausentes. Nada que deva surpreender, uma vez que esta instrução não é senão a tradução literal da “Trois Coups Distincts
[xix]” (Anexo 2). O redator se contentou em copiar o conteúdo do texto em inglês, sem se dar conta das incoerências que introduziu no produto final.
Obviamente, a justaposição de dois textos tão diferentes só poderia levar à mais completa confusão, como a que está claramente demonstrada por dois exemplos:
Na instrução do TDK, o candidato recebe a luz ajoelhado no Ocidente diante do altar e com mão sobre as “três grandes luzes da Maçonaria”, enquanto a tradição continental é respeitada no texto da recepção que dispõe que ele se posiciona a Oeste do painel e descobre o círculo de espadas quando lhe removem a venda.
Os três candelabros de canto, Grandes Luzes na França, Pequenas Luzes (lesser lights) na Inglaterra, se veem batizados de “Sublimes Luzes”, pois o tradutor foi incapaz de lhes atribuir um papel subalterno.
3.2. A Arte do Perfeito Telhador.
O ritual da La Triple Unité, que será repetido pelo “Guia“, destaca-se pelo seu sincretismo e pela mistura – na realidade, justaposição – de itens britânicos e continentais. Só é original na medida em que combina duas tradições em um conjunto híbrido e, por vezes, contraditório. Tão distante dos rituais “Escoceses” quanto do Rito Francês, não é nem uma coisa nem outra, sem tampouco se alinhar à maneira inglesa de forma inequívoca. Isso satisfez o “Escoceses” indóceis? Não sei. Se sim, isso só pode ser atribuído aos seus ares “Antigos” que combinavam tão bem com as recriminações do Ir\ Abraham
[118].
Este, de todo modo, adotou as peculiaridades dos “Antigos”, como havia feito a La Triple Unité, quando, em 1807, publicou “L’Art du Parfait Thuileur “
[119] “destinado principalmente às lojas que seguem ou que seguirão o Rito Escocês antigo aceito”. Os sinais, palavras e toques são tipicamente britânicos, (daí os “Antigos”) e não as do Rito Escocês filosófico. No grau de aprendiz, o sinal é feito colocando-se a m. d. em esquadro, horizontalmente, à altura da g.; a palavra sagrada é B.; a bateria de três vezes três golpes iguais. No grau de companheiro, o sinal é feito colocando-se a m. d. sobre o p.e. com p. levantada, enquanto a m. e. é elevada à altura da o., com a p. voltada para a f.; a palavra de passe é S e a palavra sagrada é J. No grau de mestre, o sinal de ordem é feito colocando-se a m. estendida, o p. tocando o v., a p. para baixo, e retirando horizontalmente a m. como se o v.
[120] tivesse sido cortado, dizendo “Ó Senhor, meu Deus”. Na câmara do meio há um sinal particular que é levantar as duas m. no ar com a p. para a frente, os olhos para o céu, e depois trazê-las para baixo sobre o a., todos dizendo juntos “Ó Senhor, meu Deus” (sinal ainda usado pelo atual “Rito” de Emulação). A palavra sagrada é Mohabn e a palavra de passe é T.. A marcha do aprendiz é feita em três passos, começando com o pé esquerdo.
Note-se que, naquela época, o avental de mestre era branco dobrado e emoldurado de azul (e não de vermelho), com um sol sobre a abeta. Uma fita azul de seda ondeada, sustentando a joia (esquadro, compasso e régua), completava a decoração.
3.3. O manuscrito do Supremo Conselho para a Bélgica
A biblioteca do Supremo Conselho possui um manuscrito intitulado “Cahiers des 33 gr\ de la Maç\ Ecoss\ Rit ancien-accepté” cujas saudações cerimoniais podem ser datadas com precisão: a primeira é para Napoleão, o Grande, Imperador dos Franceses, Rei da Itália e para a imperatriz Marie-Louise, sua augusta esposa, assim como para os Príncipes e Princesas da família imperial. A segunda é dirigida a “Don José, rei das Espanhas e das Índias, Grão-Mestre da Ordem”
[121] e ao príncipe Arqui-Chanceler, ou seja, Cambaceres, Grão-Mestre Adjunto do GODF desde 1805, e Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da França desde 1806. A omissão do Rei de Roma situa o ritual entre o casamento de Napoleão (abril de 1810) e o nascimento de seu filho (20 de março de 1811)
O primeiro grau é quase idêntico ao da La Triple Unité Ecossaise, e ao do “Guide des maçons Ecossais“. Mas este manuscrito também contém os 2o e 3o graus, cujos equivalentes da La Triple Unité não temos.
3.3.1. O grau de companheiro
A abertura da loja de companheiro é muito simples, marcada somente pela circulação da palavra de companheiro do Venerável ao primeiro vigilante e depois ao segundo vigilante, por intermédio dos diáconos. O candidato, “cabelo despenteado, sobre os ombros, portando uma régua na mão esquerda, uma das extremidades da qual é apoiada no ombro esquerdo, braços nus, amarrados, sem casaco ou colete, a abeta do avental levantada” é introduzido pelo mestre de cerimônias. É questionado sobre as circunstâncias da recepção de aprendiz e não sobre a instrução traduzida do TDK. Para a pergunta “O que vistes quando seus olhos foram descobertos?”, ele responde “Todos os IIr\ armados de espadas apontadas para mim”, enquanto a instrução especificava que ele descobria, naquele momento, as três “grandes luzes”.
O candidato, sempre conduzido pelo mestre de cerimônias, faz em seguida cinco viagens que representavam os anos de aprendizagem, a serem cumpridos por qualquer aprendiz. Ele está munido de instrumentos (malho e cinzel para a primeira viagem, compasso e régua para a segunda, régua e alicate para a terceira, alavanca para a quarta) durante as primeiras quatro viagens, mas de mãos vazias na última, o que significa que deve empregar o quinto ano no estudo da teoria.
Ele, então, sobe em direção ao trono e descobre a Estrela misteriosa e “o delta resplandecente de luz” que lhe dá “duas grandes verdades e duas ideias sublimes“: o nome de Deus (o tetragrama) e a geometria (a letra G). Em seguida, vêm o juramento e a consagração pela espada antes da comunicação do sinal, do toque, da palavra sagrada (J) e da palavra de passe (Sch).
Essa recepção não difere em nada daquela do Rito Francês e do Regulador. O ritual e as explicações do venerável são cópias do documento francês. Só os “segredos” do grau são “antigos” (palavra do grau, J.; palavra de passe, Sch.). Em contrapartida, a instrução seguinte é, mais uma vez, traduzida do TDK (Anexo 4) e descreve uma recepção que não é a enfrentada pelo neófito.
O redator, sem dúvida se dando conta da incoerência, tentou corrigir os elementos mais óbvios.
No TDK, o candidato executa duas voltas na loja e encontra as mesmas “oposições” que durante a iniciação. No entanto, de acordo com o ritual do SCPLB, ele faz as cinco viagens programadas pelo Regulador. Por isso, é muito lógico que o editor omita as questões 11, 12 e 13.
O ritual ignora o toque de passe, daí a omissão da questão 20.
Ponto capital: o companheiro inglês recebe o seu salário na câmara do meio, enquanto o seu homólogo continental o recebe na coluna de seu grau, como ensinavam todas as revelações francesas dos anos 1740. O editor então alinha as questões 23 e 24 segundo a tradição continental, não sem respeitar a distribuição “antiga” dos segredos. É na coluna J e não na B que o companheiro é recompensado por seu trabalho.
Por outro lado, ele não alterava o momento da comunicação da palavra de passe, que era uma das diferenças que separava os Modernos dos Antigos: os primeiros a comunicavam ao recipiendário depois de seu juramento, junto com os outros segredos; para os últimos, isso era feito antes do recipiendário ser introduzido na loja. Os rituais franceses seguiam o uso “Moderno”. O redator não conseguiu decidir se abandonava este modo de fazer: na cerimônia, a palavra de passe é dada após a consagração, mas a instrução, contra toda a lógica, segue o texto do TDK.
Ainda mais que o primeiro grau, o grau de companheiro mostra a dificuldade de combinar duas tradições por vezes contraditórias.
3.3.2. O grau de mestre
As mesmas dificuldades são encontradas no terceiro grau.
A loja é disposta como ditava o costume francês:
“A loja deve ser acortinada em preto, pontilhada com crânios brancos e lágrimas colocadas por 3.5.7.
Nove estrelas
[122] colocadas três a três diante de cada uma das três primeiras luzes. Os Mtres\, sempre que possível, estarão de preto, chapéu rebatido, um longo crepe
[xx], luvas brancas, avental comum e colar azul.
O Ven\ Mtre\ deve estar enlutado, com um longo casaco preto.
Disposição da câm\ do meio.
No meio da câmara haverá um caixão coberto com uma mortalha pontuada de crânios, de ossos cruzados, com lágrimas. Forma-se em torno deste caixão uma separação com um cortinado, para representar a câmara do meio. Em um canto daquela câm\, no lado do Sul, no seu Ocid\, coloca-se um ramo de acácia sobre um pequeno punhado de terra. No topo do caixão há um esquadro pousado na terra; no pé, um compasso aberto.
[123]“
A abertura segue o modelo inglês e os diáconos terão a mesma função que antes (transmitir a palavra do grau, do venerável ao segundo vigilante). Por outro lado, o seu papel termina aí e eles não aparecem mais na cerimônia de recepção. Isto é particularmente dramático, bem de acordo com a linha francesa:
“Em uma recepção, o último mestre recebido é colocado no caixão. Ele é coberto com uma mortalha branca até a cintura, com o avental levantado, o rosto coberto com um pano branco manchado de sangue.
O candidato está sem sapatos, com os braços e peitos nus, sem metais. Um pequeno esquadro é colocado no seu braço direito, uma corda é colocada na cintura. Ele usa um avental de companheiro.”
A encenação é teatral, se não melodramática: suspeito do assassinato, porque diz, indevidamente, ter a palavra de passe, o candidato é maltratado pelo venerável que o agarra pelo colarinho e não o larga até que esteja convencido de sua inocência. A descoberta do cadáver, acompanhada de comentários ameaçadores, é seguida por uma viagem única, feita sob a orientação do mestre de cerimônias e do irmão terrível que segura o candidato pela corda. Conduzido ao Ocidente, aqui chega no Oriente “caminhando no primeiro degrau do ângulo direito do quadrilongo, formando um esquadro no segundo degrau por dois passos, e no terceiro por um só” e em seguida presta seu juramento ajoelhado sobre ambos os joelhos, com as duas pontas do compasso em cada peito e a mão sobre a Bíblia, como no TDK:
“Eu, N, de livre e espontânea vontade na presença do G\ A\ do U\ e desta R\ Loja dedicada a S. João, juro e prometo solenemente nunca revelar os segredos de Mtre\ Maç\ do rito antigo aceito que aqui reconheço como tal, e obedecer as ordens de uma loja regular; de guardar todos os segredos de meus IIr\ como se fossem os meus, exceto em casos de morte ou de traição; de nunca fazer-lhes mal nem lhes causar sofrimento; de servir-lhes em tudo o que puder; jamais seduzir suas esposas, filhas ou irmãs, prometendo ainda cumprir minhas obrigações sob pena (aqui, o Resp\ M\ dá um golpe, agarrando a mão direita do recipiendário, fazendo-o fazer o sinal de Mestre) de ter o corpo aberto em dois, uma parte levada ao Sul e a outra ao Oeste, minhas entranhas queimadas, minhas cinzas jogadas ao vento, a fim que não reste nada de mim. Que Deus me proteja. Amém! Amém! Amém!
Ele beija a Bíblia três vezes e permanece de joelhos”.
O respeitabilíssimo (título do venerável neste grau) levanta-se dizendo “Levante-se, Ir\ J.A.K.I.N.” e anuncia que ele vai representar “o maior homem do mundo Maç\, o nosso Resp\ M\ Hyram, que foi morto durante a edificação do templo.” O primeiro vigilante se coloca a Oeste, armado com um esquadro; o segundo vigilante, ao Sul, armado com uma regra de vinte e quatro polegadas e o respeitabilíssimo a Leste, armado com seu malhete.
Segue o discurso histórico que relata a versão “antiga” da lenda de Hiram: o complô urdido por quinze companheiros, a retratação de doze deles, a obstinação dos três restantes (aqui chamados de Jubulas, Jubulos e Jubulum), a visita de Hiram ao templo, sua tripla recusa em dar a palavra de mestre, os golpes dados no Sul, no Oeste e no Leste (simbolicamente pelos vigilantes e pelo respeitabilíssimo), o transporte do cadáver para fora de Jerusalém e seu enterro, o envio por Salomão dos doze companheiros arrependidos que são divididos em quatro grupos, a descoberta dos assassinos em uma caverna perto de Jaffa (Joppa, no texto), sua apresentação a Salomão e sua posterior execução (Jubulas teve a garganta cortada, Jubulos o coração arrancado e Jubulum o corpo cortado em duas partes, uma jogada ao Norte e outra ao Sul), depois do fracasso da missão dos companheiros.
Até então, a lenda segue fielmente a história “antiga”, tal como é relatada no TDK, incluindo o aviso de Salomão aos doze companheiros: se eles não conseguissem encontrar a palavra de mestre, “ela estava perdida, já que só podia ser dada por três pessoas reunidas, das quais Hiram fazia parte.” Neste caso, o primeiro sinal feito e a primeira palavra pronunciada ao se encontrar e exumar o corpo de Hiram iriam substituir os antigos sinal e palavra de mestre.
O resto da história, curiosamente, adota a versão francesa, do clássico “L’Ordre des Francs-maçons trahi“
[xxi], de 1745: diante do fracasso dos companheiros, Salomão envia nove mestres que descobrem a tumba no Monte Moriá e a marcam com um ramo de acácia, antes de avisarem a Salomão. Este ordena que o exumem e tragam seus restos mortais a Jerusalém. A exumação é feita da forma habitual, mas a palavra pronunciada na posição dos cinco pontos de perfeição é Moabon, a palavra começada em M utilizada pelos “Antigos” ingleses.
Continuando a consagração e a comunicação dos segredos do grau, o “grande sinal dos mestres” (os braços levantados acima da cabeça caem sobre o avental, com a exclamação: “Ó Senhor, meu Deus!”); a palavra de passe, T.; a palavra sagrada, M.; o toque (os cinco pontos da maçonaria), o sinal penal e a aclamação Escocesa (Huzzé! Huzzé! Huzzé!).
Encontramos novamente esta curiosa mistura de elementos “antigos” e “modernos”, ou seja, franceses. Como, de fato, conceber que a palavra de mestre esteja “perdida” se são nove mestres, e não doze companheiros, que levantam o corpo? Mas é aí que reside a característica essencial do Rito antigo: a antiga palavra de mestre está de fato perdida porque somente três a conhecem e só podem pronunciá-la quando estão reunidos e de acordo. No Rito Francês, a antiga palavra é substituída por uma palavra alternativa, medida prudente que não impede que ela seja conhecida de todos os mestres e gravada no triângulo colocado no túmulo de Hiram.
A instrução que se segue é, mais uma vez, a tradução literal do TDK. Ela é dada em anexo. Para ajudar a demonstração, são apresentadas a versão original do TDK, a do manuscrito Bruxelas, a do Guia dos Maçons Escoceses e outra versão datada de 1812, preservada na biblioteca do Grande Oriente dos Países Baixos (fundos Kloss classificação 123 C 45 – 56 H 45), “Leis Constitucionais, Estatutos e Regulamentos do Rito Escocês ou antigo e aceito”.
3.4 O Guia dos Maçons Escoceses
O Guia segue fielmente
[124] os rituais que acabamos de estudar. Mas não é, em última análise, a primeira versão impressa, e sua data exata perde muita importância. Escrito sob a Restauração, como fica evidenciado pelas saudações de praxe, que ignoram a família imperial, é sem dúvida anterior a 1821, ano da organização da loja La Grande Commenderie pelo Supremo Conselho da França.
Seu interesse principal está na sua introdução que a coloca como rival do Regulador, afirmando assim a diferença essencial que separa o Rito francês do Rito escocês antigo (e) aceito:
Não obstante o que dizem os detratores da Maçonaria Escocesa, é fato que as lojas deste rito estão geralmente espalhadas por todos os países da Europa e da América, e que o rito de Heredom tem uma preferência marcante sobre o rito moderno. As correspondências são estabelecidas, em todas as línguas, para que todas as lojas, de qualquer país, possam obter seus livros; e são tomadas medidas para garantir que as cópias só sejam confiadas, mediante pagamento, aos maçons que tenham obtido o mais alto grau de estima e consideração, a fim de que o Guia dos Maçons Escoceses não seja submetido à publicidade escandalosa que foi dada aos livros do rito Francês sob o título de Regulador do Maçom.
3.5. Tentativa de síntese
O essencial é a perfeita concordância dos documentos que atribuem aos graus azuis do REAA uma imagem conflitante:
Eles misturam elementos Antigos e Franceses (portanto Modernos) em uma construção sincrética e híbrida que os torna, desta forma, impraticáveis sem alterações significativas.
As aberturas e fechamentos seguem o ritual antigo, enquanto as cerimônias de recepção são, basicamente, francesas, embora misturada com elementos antigos.
A lenda de Hiram apresenta uma mistura de duas versões, Antiga e Moderna, o que tira muito do seu significado (a palavra está perdida ou não?).
Os assassinos são encontrados e punidos, o que elimina grande parte de sua relevância para os graus de vingança, chamados de Eleitos.
As instruções são traduzidas do TDK, com, aqui e ali, concessões aos costumes franceses.
Os segredos de cada grau são antigos, mas as palavras de passe são comunicadas após a cerimônia (uso Moderno) e não antes da admissão do candidato (uso Antigo).
Os atores deveriam perceber que as instruções descrevem uma outra cerimônia diferente daquela que é realmente experimentada pelo recipiendário, contradição que parece insuperável, a menos, é claro, que a instrução seja simplesmente ignorada, como é o caso na maior parte das lojas atuais!
Se, marcados por uma dupla influência, francesa e britânica, esses rituais podem muito bem ser chamados de Rito “antigo”, eles diferem muito do Ritos “Escoceses”, filosófico ou retificado, que floresceram na França no século XVIII. Agora, como eles se autodenominam de “Rito Escocês antigo e Aceito”, e foram adotados por maçons “escoceses”, é legítimo conceber que o mereceram de uma forma ou de outra e, portanto, procurar uma terceira influência.
3.6. A contribuição Escocesa – os telhadores
[xxii]
A contribuição Escocesa se encontra essencialmente na disposição da loja como a descrevem os Telhadores da época.
Os “Thuileur des trente-trois degrés de l’Ecossisme du Rit Ancien, dit Accepté
[xxiii]” foi publicado por L’Aulnaye (Delaunay) em 1813 e reeditado em 1821 sob um novo título, “Thuileur des trente-trois degrés de l’Ecossisme, ou Manuel maçonnique des divers rites pratiqués en France. Nouvelle édition, corr. et augmentée
[xxiv]“. Ele descreve brevemente a loja de aprendiz “do Rito Antigo”:
“Cortinado Vermelho
Três luzes, uma a Leste, duas a Oeste
[125]
Na entrada da Loja, ou seja, no Oeste, estão as duas colunas, J à direita, B à esquerda.
Títulos.
Há um Venerável, localizado no Oriente; dois Vigilantes, um no Oeste, o outro no Sul.
Os outros oficiais de uma loja regular e completa são o Orador, o Secretário, o Tesoureiro, dois Expertos, o Guarda-dos-Selos, o Hospitaleiro, o Mestre de Cerimônias. Em seguida vêm um Mestre de Banquetes, um Porta-Estandarte, um Porta-espada, dois Diáconos, o Arquiteto e o Guarda do Templo. No total, dezoito “.
No grau de mestre, no entanto, as luzes são:
Normalmente três ou nove, agrupadas em grupos de três, a Leste, Sul e Oeste.
Os paramentos são um avental branco, abeta levanta para o aprendiz e abaixada para o companheiro; um avental dobrado e emoldurado de vermelho para o mestre, tendo ao meio as letras M.B. em vermelho e uma fita de seda ondeada azul, como um talabarte, da direita para a esquerda.
Os segredos são os do Rito antigo, os nomes das colunas B e J no 1o e 2o graus, a palavra antiga no 3o grau, palavras de passe Sc\ e Tub\ no 2o e 3o graus.
Em suma, Delaunay mantém, do Rito Escocês, a disposição das luzes do grau de aprendiz, e, do Rito antigo, a disposição das luzes do grau de mestre e os diáconos. Quanto ao avental vermelho dos mestres, é uma inovação ignorada pelo Telhador de Abraham mas que é ideal para o “Escocês”, cujo vermelho é a cor emblemática.
O “Manuel maçonnique, ou Tuileur de tous les rites de maçonnerie pratiquée en France par un vétéran de la maçonnerie
[xxv]”, publicado em 1820 e reeditado em 1830 e 1834, completa as informações. Seu autor, Vuillaume, era particularmente bem colocado: grau 33 desde 1818, e membro do Supremo Conselho dito “da América” presidido pelo conde Decazes, participou, no ano seguinte, de uma tentativa, embora abortada, de reunião do GODF com este Supremo Conselho, a primeira havida sob sua direção nas lojas dos três primeiros graus.
Em sua introdução, Vuillaume escreveu:
“Chamamos de rito antigo ou escocês a Franco-maçonaria tal e qual é praticada na Escócia, Inglaterra, Estados Unidos, e em grande parte da Alemanha. O rito escocês antigo e aceito é aquele reformado por Frederico II, rei da Prússia, que aumentou em oito graus o rito escocês antigo… eleito o rito seguido pelo Grande Oriente da França e lojas sob seu controle, sob o título de rito moderno ou francês.
[126]”
Vuillaume vai mais longe que Abraham: escocês e antigo tornaram-se sinônimos e o autor se utiliza desta afirmação que, como vimos, nada justifica, para provar a universalidade do REAA. Aqui encontramos as pretensões habituais dos defensores do Escocismo que dizem que eles se equivalem. O próprio Vuillaume estava apenas parcialmente enganado, uma vez que escreveu em nota, a propósito de Frederico:
“Alguns afirmam que esta reforma não é devida a Frederico II. Não se tem a intenção de entrar aqui na discussão de um fato que o Supremo Conselho da França considera inquestionável, nem de expressar uma opinião particular; é apenas uma maneira de designar o escocismo atual por uma coisa pelo menos convencionada por muitos”.
“Convencionada” é, neste contexto, a palavra certa! Isso não diminui em nada o valor do texto.
A loja de aprendiz, nos lembra Vuillaume, é cortinada com vermelho.
“A Oeste há duas colunas de bronze, da ordem coríntia; sobre cada capitel há três romãs entreabertas, sobre o fuste da coluna à direita na entrada está a letra J, e, sobre o da outra coluna, a letra B.
Em torno da loja está a borla dentada.
No pavimento, no meio da loja, um pouco para o Leste, está o traçado ou painel da loja.
A Leste, está um dossel de pano vermelho com franjas de ouro; sob o dossel está um trono onde fica o presidente; diante do trono está um altar sobre o qual são colocados um esquadro, um compasso, uma Bíblia, uma espada e um malhete. O trono e o altar estão elevados acima do pavimento, em uma plataforma de três degraus.
À direita do trono, sobre a plataforma, estão a mesa do secretário e a mesa do hospitaleiro. Em frente a essas duas mesas e à esquerda do trono, estão: a mesa do orador, e, em seguida, a do tesoureiro.
A Oeste, em frente da coluna B, há uma poltrona para o primeiro vigilante; ao Sul, voltada para o Leste, há uma poltrona para o segundo vigilante
[127]. Cada um dos vigilantes tem diante de si uma mesa sobre a qual é colocado um malhete.
Um pouco antes do trono está colocado um pequeno altar triangular, chamado de altar dos juramentos…”
Segue a lista dos oficiais, idêntica à de Delaunay, somando dezoito oficiais com os diáconos.
Observem-se os elementos constantes da maçonaria francesa: duas colunas de bronze no Oeste, o dossel acima do trono, o orador. Nada disto é encontrado nas lojas britânicas “antigas”. Esta é uma loja bem francesa, que só difere da do Regulador pela cor das cortinas e a posição dos vigilantes. Se a localização dos três candelabros (“luzes”) é omitida por Vuillaume, as indicações de Delaunay as mostra nos cantos NO, SO e SE.
Por isso, o seguinte esquema:
Fig. 5: Loja de Aprendiz do REAA.
A disposição das luzes de canto é a do Rito Escocês pré-revolucionário. Em contrapartida, os vigilantes estão dispostos segundo o modo “antigo” e a situação das colunas corresponde à distribuição das palavras dos dois primeiros graus.
No grau de mestre, Vuillaume descreve as nove luzes “agrupadas em três”, a Leste, Sul e Oeste. O paramento é um avental dobrado com a borda vermelha, tendo ao meio, bordadas em vermelho, as letras M.B.. O colar é de seda ondeada azul com uma roseta vermelha na parte inferior à qual está ligada a joia.
Como é justo, os “segredos” para cada grau são aqueles do Rito antigo.
O que conservaram, do Rito Escocês de antes de 1804, os defensores do novo sistema? Bem poucas coisas: a disposição dos candelabros, a cor vermelha e a aclamação Houzzé (ou Huzzé). Em contrapartida, a disposição geral da loja seguia tanto a tradição francesa quanto os costumes britânicos.
Se foi nesse cenário que ocorreram as cerimônias previstas pelos rituais originais do REAA, a conclusão se impõe: um ritual de inspiração híbrida, combinando o gosto francês do espetáculo à simplicidade britânica, executado em um cenário sob uma tripla influência. Este era, definitivamente, o REAA nos graus simbólicos.
3.7. Chave de leitura
Quatro critérios essenciais (moderno, antigo, francês, escocês) distinguem os ritos praticados em língua francesa. Os critérios “geográficos” (franceses e escoceses) são mutuamente exclusivos, bem como os critérios de estilo (moderno e antigo). O primeiro é definido pelo arranjo dos candelabros ao redor do tapete da loja, o segundo pela ordem das palavras sagradas e pelo lugar dos vigilantes.
Com referência às figuras 1 e 4, verifica-se que um Rito pode ser:
Francês e moderno: é o caso do Rito Francês e do Rito Sueco
[128].
Escocês e moderno: é o caso do Rito Escocês Retificado, do Rito Escocês Filosófico e do Rito Moderno belga.
Escocês e antigo: é o caso do REAA em todas as suas versões sucessivas.
Não há Rito Francês e antigo
[129].
4. Os autores dos rituais azuis do REAA
Quem escreveu esses rituais? A questão não pode ter uma resposta definitiva. Nós não sabemos e talvez jamais saibamos quem foram seus redatores. Isso, no entanto, não nos impede de avançar em algumas hipóteses com base em algumas premissas simples:
Os redatores conheciam a maçonaria habitualmente praticada na França.
Estavam familiarizados com a Maçonaria britânica ou americana, especialmente a praticada nas antigas lojas do Rito antigo.
Eles dispunham do “Three Distinct Knocks” e conheciam o idioma inglês suficiente bem para traduzi-lo corretamente.
Finalmente, eles deveriam ter um interesse em difundir, na França, uma maçonaria com um novo estilo, diferente daquele das lojas do GODF.
Só os maçons que viviam no exterior e que estavam ansiosos para se separar do Grande Oriente é que podiam atender a esses critérios. E este era o caso dos “americanos” que queriam introduzir em Paris um sistema de 33 graus, que apresentavam como uma forma maçônica mais “universal” do que o Rito Francês de 7 graus praticados pelo Grande Oriente desde 1786. Para chegar ao seu objetivo, eles deveriam oferecer novos rituais para os três primeiros graus. Mas estes não existiam, já que o primeiro Supremo Conselho Mundial, o Conselho de Charleston, tinha dito que deixava para as Grandes Lojas a comunicação dos três graus básicos.
Era então preciso inventá-los. E foi isso que fez com que os redatores extraíssem dos rituais existentes o material de que necessitavam.
Muito habilmente, eles intitularam de “antigos”
[130] o produto da sua compilação, como antes deles o havia feito Laurence Dermott, Grande Secretário da Grande Loja anglo-irlandesa de 1751, e, como ele, chamaram a seus rivais de “modernos”. Em ambos os casos, o fascínio provocado pela afirmação de antiguidade foi suficiente para dar aos seus produtos uma aura de autenticidade
[131]. Mas eles tiveram o cuidado de não omitir a alegação de serem “escoceses”, que ainda tinha sobre os maçons franceses um irresistível poder de atração desde as afirmações do cavaleiro Ramsay e do surgimento dos primeiros altos-graus.
Pode-se ser mais preciso? O ritual da Triple Unité é datado de 1804, o que significa que foi escrito ou copiado naquele ano. O copista, que era ou não o autor do ritual, devia pertencer àquela loja ou, talvez, a uma loja que compartilhava as mesmas preocupações. Como não há nenhuma evidência de que o ritual original tenha sido escrito em 1804, a pesquisa pode, teoricamente, ir até a data de publicação do TDK, mas as circunstâncias históricas sugerem que a sua formulação é posterior ao retorno dos “americanos” à sua pátria-mãe.
Considerando-se os critérios acima, três nomes imediatamente vêm à mente: Grasse-Tilly, Hacquet e Fondeviolles.
Grasse-Tilly era membro da Contrat Social antes de partir para as ilhas. Enquanto esteve em Charleston, participou dos trabalhos de duas Grandes Lojas locais, das quais uma era do Rito Antigo
[132]. De volta a Paris, em julho de 1804, ele se dedica, com o apoio de sua loja-mãe, a fundar a Grande Loja Escocesa Geral, à qual presidirá na ausência do Grão-Mestre. Foi o fundador do Supremo Conselho da França, do qual se tornou o primeiro Grande Comendador, e trata no mesmo nível com os oficiais do Grande Oriente. O tratado de União garantiu-lhe funções importantes, tanto dentro do GODF quanto dentro do Grande Capítulo Geral. Seu papel, no entanto, foi de curta duração, uma vez que se demitiu do cargo de Grande Comendador, em 10 de junho de 1806, e foi para a marinha, só retornando a Paris em 1814. Não lhe faltavam ambição nem ousadia, mas será que tinha os requisitos necessários para escrever novos rituais? Isso é duvidoso. Nada em sua carreira o predispôs a uma vocação literária. Era, afinal, apenas um militar sem grande envergadura (não ultrapassou o posto de líder de esquadra) e um nobre sem recursos que vivia de expedientes e que, muitas vezes, viu-se acusado de usar a maçonaria para seus interesses e fins pessoais. Tudo isso, certamente, não seria um impedimento, mas não o faz um provável candidato à realização de uma tarefa ingrata e sem grande repercussão.
Germain Hacquet, notário em São Domingos, foi venerável de uma loja em Porto Príncipe, dependente da Grande Loja da Pensilvânia. Estabeleceu, em junho de 1802, uma Grande Loja Provincial na ilha, da qual foi Vice-Grão-Mestre
[133]. Quando chega na França, em abril de 1804, estava munido de uma patente de Grande Inspetor Geral, que usou para estabelecer, dentro das lojas Triple Unité e Phénix, fundadas por ele em 14 de junho daquele ano
[134], um Consistório do Rito de Heredom (ou seja, o Rito de Perfeição de 25 graus) para a França. Tendo recebido o 33° de Grasse-Tilly, tornou-se o Grande Vigilante da Grande Loja geral Escocesa e, em seguida, durante a concordata, Grande Oficial de segunda classe do GODF. Em 22 de dezembro de 1804, tornou-se também Grande Mestre de Cerimônias do Supremo Conselho, cargo que ocupou até sua adesão ao Supremo Conselho dos Ritos
[135] constituído pelo GO em 1815, onde se tornou o primeiro Grande Comendador
[136]. Hacquet ocupa um cargo de direção nos círculos que verão o nascimento dos rituais azuis do REAA. Ainda que possa não ter sido o redator, reunia, sem dúvida, as qualidades para sê-lo
[137].
Jean-Pierre Mongruer de Fondeviolles, fazendeiro em São Domingos, seria recebido na França em 1797. Membro do GODF e Rosacruz, fundou a Triple Unité em 25 de setembro de 1801 e, em seguida, em 1804, um consistório do 32 ° grau por meio de uma patente em branco que recebeu de Kingston naquele ano
[138]. Recebeu o 33° de Grasse-Tilly, em 24 de outubro de 1804, e era membro ativo da Grande Loja geral Escocesa: na reunião de 03 de novembro de 1804, exercia a função de 2º vigilante, enquanto Hacquet era o primeiro Vigilante. Compareceu à reunião de setembro 1805 portando o título de venerável da Triple Unité Ecossaise onde, mais tarde, se tornou venerável de honra. Participou regularmente das reuniões do Supremo Conselho até que suas atividades paralelas obrigaram-no a se demitir, em 1812.
As razões para esta demissão são importantes porque permitem um novo olhar sobre as atividades do Supremo Conselho da França de 1805 a 1812.
Vimos que, em setembro de 1805, o Grande Consistório do 33° e 32° tinha denunciado o tratado de união e decidiu que o Supremo Conselho teria uma existência independente do GODF. No entanto, manteve as disposições essenciais da Concordata, deixando ao GO o direito de conferir graus até o 18 ° e de supervisionar os capítulos. Estas decisões foram seguidas pela eleição de Cambaceres, que já era Grão-Mestre Adjunto do GO desde 13 de dezembro de 1805, para o cargo de Grande Comendador (01 de julho de 1806), deixado vago pela renúncia de Grasse-Tilly (em 10 de junho de 1806) e por sua instalação solene (13 de agosto de 1806). O primeiro ato do Supremo Conselho foi altamente significativo: ele renuncia à organização de oficinas de todos os graus e decreta que daí em diante só ele (Supremo Conselho) concederá os graus superiores ao 18° (decreto de 27 de novembro, 1806
[139]):
“Art 1: O poder dogmático do REAA pertence ao Supremo Conselho de GIGercée sob a sua supervisão pelo Grande Consistório.
Art 2: O Supremo Conselho tem sob a sua supervisão
O Soberano Grande Consistório dos 32°
Os Conselhos particulares dos 32°
Os Tribunais dos 31°
A organização de Conselhos, Tribunais, Colégios e Capítulos particulares, ligados aos graus superiores ao 18o até e inclusive o conselho específico do 32o está suspensa até que o Supremo Conselho decida o contrário. Qualquer ordem contrária a esta disposição anteriormente emitida pelo Supremo Conselho está revogada.
Art 3: Os graus superiores ao 18o grau, até e incluindo o 32o, serão concedidos no futuro, assim como a organização dos Conselhos, Tribunais, Colégios e Capítulos do grau, pelo Supremo Conselho do grau 33, ou em decorrência de uma delegação especial e específica emanada dele.
Art 4: O estabelecimento dos conselhos, tribunais, faculdades e capítulos definidos no artigo acima, só será feita, quando necessário, em virtude de Cartas Capitulares acordadas pelo Grande-Oriente; mas o pedido de estabelecimento só poderá ser formulado pelo Supremo Conselho do grau 33, como detentor do poder dogmático.
E até a obtenção das cartas capitulares, os requisitantes não poderão desenvolver trabalhos no grau para o qual solicitam as cartas, sob nenhum pretexto “.
Por este decreto, o Supremo Conselho proibiu qualquer possibilidade de extensão. Ele condenou-se a uma vida vegetativa, restrito apenas ao cenáculo parisiense. Não surpreende que esta decisão tenha sido mal recebida por aqueles que, 33° ou não, já praticavam os graus superiores, às vezes sob patente anterior à criação do Supremo Conselho. Eles decidiram continuar independentemente das decisões de um órgão distante, e cortar pela base o problema. E foi isso o que aconteceu: os graus mais elevados do Rito foram conferidos nas oficinas de Paris e das províncias que se sentiram habilitadas a fazê-lo, sem que prestassem contas ao Supremo Conselho.
O Supremo Conselho se ressentiu, e constatando, na sua sessão de 15 de dezembro de 1808, a presença de muitos irmãos paramentados com colares e joias de graus que não reconhecia e cujos altos-graus haviam sido conferidos com suspeita facilidade, decretou quais eram os graus
[140] que poderiam ser concedidos e acrescentou que eram legais apenas os cadernos do REAA revestidos com seu selo e a assinatura do secretário do Sacro Império, Pyron. O decreto não é suficiente para restaurar a ordem na casa porque, em 19 de janeiro de 1811, o Supremo Conselho reiterou vigorosamente que os altos graus dependiam apenas dele: “Até o 18° grau, a autoridade é do Grande Oriente de França, e, da mesma maneira, para graus mais elevados, existe um único centro, e este centro somente pode ser o Supremo Conselho”. No processo, ele reviu sua decisão de 1806 e decidiu que, no futuro, iria organizar as lojas de graus intermediários das cidades provinciais, única decisão capaz de reverter o tráfico de graus.
“Art 27: A suspensão da organização dos capítulos, colégios, tribunais e conselhos especiais, definida no artigo 2 do decreto de 27 de novembro de 1808
[141], foi adiada; sua organização será realizada nas cidades do Império que o Supremo Conselho considere passíveis de recebê-los. Ela só pode ser feita próxima dos capítulos do grau 18 do REAA
[142].”
Pyron
[143] confirma que muitos capítulos haviam constituído, pela autoridade que atribuíam a si mesmos, Grandes Capítulos (do 29°) Colégios (do 30°), Tribunais (de 31°) e Conselhos Especiais (do 32°). Ele cita quatro capítulos de Paris, cujo último, conduzido por Abraham, 32°, tinha estabelecido um Tribunal em Neufchâteau (Vosges) e recebido alguns maçons de Angers no 31°, os quais tinham organizado um Grande Capítulo do 29° e um Tribunal do 31° nesta cidade.
Em 2 de dezembro de 1811, o Supremo Conselho examinou o caso do Consistório da Triple Unité. Ele havia sido fundado por Fondeviolles em virtude, segundo ele, de uma carta capitular de Kingston recebida antes da criação do Supremo Conselho. Considerava, por isso, que os decretos posteriores não se aplicavam a ele. Fondeviolles, infelizmente, não pôde fornecer esta carta à comissão de inquérito, constituída por Freteau de Peni, Rampon e Rouyer. Consequentemente, o consistório foi declarado irregular, fato que levou à demissão de Fondeviolles do Supremo Conselho
[144].
Essa demissão foi anunciada em 20 de abril de 1812, mesmo dia em que foram “regularizados” 55 membros do consistório da Triple Unité, pois esta era a prática constante do Supremo Conselho para regularizar os membros das oficinas que tivessem a irregularidade decretada.
Estes eventos são importantes, pois mostram que a autoridade do Supremo Conselho estava longe de ser assegurada e que sua atividade limitava-se a muito poucas reuniões cuja realização pudemos constatar pelos livros de visitantes. Fora de sua área de influência, quase todo mundo fazia o que bem entendia. Por outro lado, eles confirmam que os 33° que o compunham não se preocupavam com nenhum grau inferior ao 19°, e, muito menos, com os primeiros três graus, embora já tenhamos visto que o número de lojas azuis do GODF que trabalhavam no REAA estava longe de ser irrelevante. Pode-se legitimamente concluir que eles não tiveram, como instituição, nada a ver com a gênese dos graus simbólicos de “seu” Rito.
Voltando a Fondeviolles, este caso mostra que ele nunca se sentiu subordinado às decisões do Supremo Conselho do qual era membro desde a fundação. Seu espaço era muito mais a Triple Unité, da qual era o venerável fundador. Pode-se imaginar que ele não teve participação nenhuma
[145] na redação do ritual do primeiro grau que encontramos, emitido por uma loja da qual havia sido foi o venerável fundador? Isso sem falar no ritual (do REAA) para os três primeiros graus, conservado pela fundação Kloss, que traz a menção “Geschrven door Br. Fondeviolles
[xxvi][146]“.
Resta Abraham. Certamente, não há nenhuma evidência de que ele soubesse inglês nem que tenha vivido fora da França, embora fosse muito ativo durante o período que estamos tratando, e seu interesse pelo antigo Rito e pelas inovações trazidas da América nunca tenham sido desmentidos. Ele acolheu Hacquet, quando este chegou à França, e da colaboração entre ambos nasceu a “Phénix“, em 14 de junho de 1804. Vimos que ele publicou, em 1807, uma “Art du Parfait Thuileur
[xxvii]” que adotava as características do rito antigo. Não para por aí: um “Unique et Parfait Thuileur pour les 33 grades de la Maçonnerie écossaise
[xxviii]“, publicado em 1812, também foi atribuído a ele, corretamente ou não. Ele fundou, como 32°, um Grande Capítulo do 29° e um Tribunal do 31o grau em Neufchâteau, oficinas que o Supremo Conselho declarou irregulares em 2 de dezembro de 1811 e 6 de abril de 1812. Em 08 de abril de 1812, uma comissão formada por Hacquet, Challan e Chasset apresentou um relatório ao Supremo Conselho, que concluiu que Abraham tinha conferido indevidamente graus e emitido cadernos rituais para os Irmãos da Père de Famille de Angers. Este capítulo tinha sido formado pelo GODF, mas este tinha por regra só dar os graus que tinha sido autorizado a conferir, ou seja, até o 18°, e, portanto, os graus superiores dados por Abraham eram ilegítimos. O Supremo Conselho declarou aquelas oficinas irregulares (Decreto de 8 de abril de 1812), e Pyron acrescentou que os diplomas concedidos eram nulos e que Abraham fora excluído do rol de membros do grau 32°. No mesmo ano, em 7 de agosto, o Soberano Capítulo Metropolitano do Rito Escocês Filosófico
[xxix], presidido pelo general Baron Rouyer, colocou-se contra um livro, “Les Règlemens généraux de la Maçonnerie Ecossaise
[xxx]“, publicado em Paris e distribuído por um certo Sr. Piat, que reconheceu que os havia recebido de Abraham. Mas este livro tinha sido utilizado, em 1805, pelo Capítulo, “para trabalhos de escrita”, e ele aproveitou para roubar um exemplar do tal Regulamento. Finalmente, em 14 de setembro, o Supremo Conselho ordenou o envio de uma circular a todas as oficinas do rito para se protegerem contra o tráfico de altos graus e de cadernos de maçonaria, especialmente contra Abraham, que se apresentava em muitas lojas como revestido dos mais altos graus do REAA, do Rito Escocês Filosófico e do Rito de Heredom de Kilwinning.
Conclui-se que Abraham teve um papel pouco conhecido, mas consequente, na disseminação dos graus escoceses, fora de qualquer controle do Supremo Conselho, mas cuja exata influência durante o período imperial ainda está por ser escrito.
Uma última palavra sobre o Supremo Conselho da América. Despertado por Delahogue (1744-1822), padrasto de Grasse-Tilly e seu tenente Grande Comendador, ele conferiu também suas patentes e criou oficinas superiores na metrópole a partir de 1810, o que não o impede de reclamar, em 1813, que foi estabelecido como “Supremo Conselho para as possessões francesas da América”, próximo do SCDF. Pyron
[147] nota, nesta ocasião, que eles haviam recebido uma quantidade considerável de maçons no 30°, 31° e mesmo no 33°, e tinham emitido numerosos diplomas de graus acima do 18, tanto na França quanto no exterior, diplomas estes assinados no oriente de Paris ou de São Domingos. Seu pedido foi rejeitado na reunião de 30 de janeiro de 1813
[148]. Isso não vai impedir que o nome dos “americanos” volte a ser mencionado na prancha seguinte, datada de 05 de março de 1813
[149]. Apesar desta demonstração de boa vontade, esses mesmos americanos dirigiram-se ao GODF, em 27 de outubro, nestes termos:
“O Ilustríssimo Ir De Grasse-Tilly, G Comendador ad vitam do supremo conselho para as possessões francesas da América, junta a este distinto título aquele extremamente valioso de primeiro representante especial do GM do GO da França. Esta dupla ligação estreita ainda mais os laços que unem estes pais da maçonaria escocesa à estrela maç que ilumina e orienta todos os maçons da França.
Embora prisioneiro dos ingleses, o M. Il. G G está, contudo, no Supremo Conselho, pelo carinho que cada um dos cavalheiros lhe dedica; os poderes que o constituem estão nas mãos dos Ilustríssimos GG II GG 33° grau, que, reunidos com o Ilustríssimo Ir representante do Grande Comendador De La Hogue, conserva-os com os títulos, cartas, constituições, carimbos e selos do Supremo Conselho, que tem com orgulho, em seu livro de visitantes, quase todos os ilustres membros do GO da França
[150].
O Supremo Conselho para as possessões francesas na América, refugiado na França, não exerce a sua jurisdição para a França; limita-se a observar a sua existência maçônica pelas atas de carência. Ele vê com dor se distanciar, pela demora da guerra naval, o momento onde poderá retornar à sua casa. No dia em que os membros do Supremo Conselho puserem os pés no solo da pátria-mãe, cada um deles terá uma oficina regular sob o regime do G.O. da França; vários deles têm propagado a verdadeira luz, e quaisquer que fossem os altos graus com que estavam revestidos, se apressaram em render homenagem e reconhecer a autoridade e o poder supremo do legislativo e do senado da maçonaria francesa.
O Supremo Conselho para as possessões francesas na América vem, então, unanimemente, executar o pensamento do Ilustríssimo Ir De Grasse-Tilly, tornado seu; ele se coloca sob a bandeira do G. O. da França; ele vos pede, Ilustríssimos IIr, o favor de acolherem agora e para sempre o seu representante; de recebê-lo entre os IIr que compõem o G.O. da França. O Supremo Conselho quer atrair novas luzes, merecer elogios de todos os maçons da América francesa, e, por sua demanda franca e digna da verdadeira maçonaria, proclamar a verdade inegável de que o G.O. da França é o primeiro e único poder constitutivo da França, e que se distanciar um momento do círculo de seu poder é um erro culpável e contrário à concordata assinada em dezembro de 1804, que reuniu, no soberano capítulo do G.O. da França, os consistórios e Supremo Conselho da maçonaria escocesa.
Esta época, Ilustríssimos IIr, será memorável para o Supremo Conselho; e quando a paz voltar ao Novo Mundo, ele se apressará a espalhar esta verdade que irá definir para sempre os consistórios, conselhos e colégios sob o regime do G. O. da França.
Feito no O de Paris, no 27° dia do 8° mês do ano da V. L. de 5813
Assinado: O GT (Tesoureiro) ad vitam, Hannecart-Antoine; La Hogue, tenente G Comendador ad vitam do 33° grau para as dominações francesas da América; Tissot, tenente Grande Insp Geral, 33° grau; Devillainez, 33°, Ilustríssimo G A; Nason.
Por determinação: o secretário do Santo Império, A. Tessier de Marguerittes.
[151]“
No entanto, é pouco provável que tenham participado na elaboração dos graus azuis: Delahogue ainda estava nos Estados Unidos em 1804
[152], a maioria de seus partidários, com exceção de Anthony, nunca tinha colocado os pés além-mar e seu Supremo Conselho não constituiu nenhuma loja azul antes da Restauração.
5. O crescimento do Supremo Conselho e o abandono da “antiga” herança.
O império viu a queda do Supremo Conselho. A maioria de seus membros se uniram ao GODF e ao “Grande Consistório dos Ritos
[153]“, instalado em 22 de novembro de 1815 e presidido por Hacquet, e as irredutíveis condutas de Pyron e Thory impediram outra solução que não fosse o adormecimento. O Supremo Conselho da América, ao contrário, encontrou um novo vigor, especialmente pelo fato de que seu grande Comendador, Grasse-Tilly, tinha voltado do cativeiro e assumido a direção dos trabalhos.
Este Supremo Conselho tomou sob sua direção as lojas azuis, o que nunca tinha sido feito pelo Supremo Conselho da França. Ele tinha apenas uma loja em 1815, La Rose Etoilée à qual veio se juntar, no ano seguinte, a La Rose du Parfait Silence. Em 24 de outubro de 1818, o Supremo Conselho da América, chefiado pelo conde Decazes, eleito Grão-Comendador cinco dias após a renúncia (em 10 de setembro) de Grasse-Tilly, consagrou, como “Loja-mãe do Rito Escocês”, a loja Les Propagateurs de la Tolérance, loja aristocrática que incluía todos os 33° em atividade e era presidida pelo general barão Louis Joseph Cesar Fernig (1774-1847), iniciado em 1804 na loja Les Amis Philanthropes, de Bruxelas.
Só em 1821 é que os sobreviventes (incluindo Valence, Muraire, Lacépède, Fréteau de Peny) do Supremo Conselho da França decidiram despertar sua instituição e aceitar uma fusão com o Supremo Conselho da América
[154], fusão esta que foi consagrada no dia 24 de junho, tendo o conde de Valence se tornado o Grande Comendador, o conde de Segur tenente Grande Comendador, e o conde Muraire e Fernig os secretários. No mesmo dia, foi instalada a loja Grande Commenderie, organismo que deveria governar todos os graus até o grau 29. Em julho do ano seguinte, a Grande Commenderie tornou-se a Grande Loge Centrale, portadora do número 1 no quadro da obediência enquanto a Les Propagateurs de la Tolérance tornou-se a nº 2.
O que aconteceu com o ritual híbrido concebido pelos proponentes do REAA? Uma vez que o Guia
[xxxi] foi publicado naquela época, é provável que tenha sido usado, no todo e em parte. Não sabemos qual era o ritual usado pela Les Propagateurs de la Tolérance. As atas daquela loja, mantidas na Biblioteca Real de Bruxelas, relatam várias iniciações entre 1818 e 1819, mas não fazem qualquer menção às cerimônias dos “trabalhos”. O máximo que se pode dizer é que a loja conhecia os diáconos. O príncipe de Arenberg foi o primeiro Grande Diácono e o conde de Castellane o segundo Grande Diácono, enquanto os IIr\ Gaborrio e Rascol eram diáconos titulares.
Será que o Guia foi praticado pelas lojas dependentes do Supremo Conselho da França após a sua reorganização, em 1821? A resposta tem algumas nuances. Como estava, era impraticável, fosse pela inconsistência das cerimônias propriamente ditas ou pelas instruções de cada grau. Duas soluções seriam possíveis: adaptar previamente as cerimônias às exigências das instruções, que eram oriundas da “Emulação”, ou reescrever as instruções e, por que não, acrescentar inovações mais distantes do exemplo britânico que do “Regulador” francês. Ao que parece, escolheu-se a segunda opção.
5.1. Os rituais de 1829.
O manuscrito BN cota FM4 96, intitulado “Rite Ecossais Ancien et Accepté. Rituel des trois premiers degrés selon les anciens rituels
[xxxii]“, foi recentemente reeditado pelo Supremo Conselho da França
[155]. O primeiro grau não é muito diferente do contido no Guia. A única mudança notável: a purificação pela água na segunda viagem. O segundo grau, ao contrário, introduz longos e tediosos procedimentos, lidos durante a viagem, sobre os cinco sentidos, as ordens de arquitetura e as artes liberais.
O terceiro grau sofreu uma mudança radical: a lenda de Hiram se torna alegoria solar, mutação que nós desenvolvemos ainda mais.
5.2. O ritual da loja Le Progrès de l’Océanie.
A Maçonaria foi introduzida nas ilhas havaianas, em 1843, por um marinheiro francês, Georges Le Tellier, 18° grau do REAA (Supremo Conselho da França). Possuidor de uma licença daquela obediência que o permitia “criar e constituir de acordo com os regulamentos gerais do Rito, novas lojas sob a obediência do Supremo Conselho, em todos os territórios cuja competência não esteja decidida ou reconhecida
[156]“, ele reuniu alguns maçons em Honolulu e abriu a loja Le Progrès de l’Océanie no 124, em 08 de abril de 1843, loja que ainda está em atividade sob a autoridade da Grande Loja local. Seu ritual foi traduzido para o inglês
[157] por Erik Palmer, pastmaster da loja Americus no 535, da Grande Loja de Nova York, em uma data desconhecida. Foi, também, reeditado pelo Supremo Conselho da França, em 1999
[158]. Este documento fundamental mostra a evolução do Rito de 1821 a 1843.
Os oficiais da loja são aqueles previstos pelo “Guia“: o venerável mestre, dois vigilantes, um guarda, dois diáconos, um secretário, um orador, um mestre de cerimônias, um cobridor, um experto e um capelão. A disposição da loja atende ao que foi prescrito por Vuillaume e de Delaunay, mas os castiçais são colocados “Um no Leste, voltado para o Sul. Dois no Oeste, um voltado para o Sul e outro para o Norte” segundo a pura tradição escocesa. Acima do trono há um delta ou triângulo com o tetragrama em hebraico.
A abertura segue fielmente as indicações do “Guia” ou, se preferirmos, o ritual da Triple Unité. Falta apenas a circulação da palavra do grau, do venerável ao segundo vigilante, através dos diáconos. As circunstâncias de iniciação seguem o mesmo padrão, incluindo a prece e a questão da crença em Deus, mas com algumas mudanças significativas:
É o primeiro diácono que introduz o candidato e, em seguida, o conduz durante as suas viagens (ele é chamado, então, de Ir\ Terrível).
O candidato é purificado pelo ar na primeira viagem, pela água na segunda e pelo fogo na terceira. Da mesma forma, os vários ruídos, o bater das armas e o silêncio final acompanham as três viagens, como é o uso hoje em dia nas lojas belgas do Rito “moderno”.
A luz é dada de uma vez, seguindo o exemplo do “Regulador“, sem o episódio do cadáver do perjuro.
O juramento é feito diante do altar, com o candidato de joelhos, a mão direita sobre a espada nua, o esquadro e o livro dos estatutos da ordem (e não mais a Bíblia), e a mão esquerda segurando o compasso aberto a 60°, uma ponta sobre o coração e a outra voltada para baixo. O venerável reenvia em seguida o candidato ao Oeste, entre as colunas, onde a luz é dada a ele no círculo de espadas. Segue-se a consagração, ao Leste, por três golpes na espada dados sobre a cabeça do recipiendário. A fórmula difere um pouco nos dois rituais publicados:
“Em nome de Deus, único autor e soberano mestre de todas as coisas, sob a proteção de São João, em nome e sob os auspícios da SS GG II Gen., chefes, protetores e verdadeiros mantenedores da ordem, 33° grau e último do Escocês Antigo e Aceito que compõem o Supremo Conselho do Santo Império para a França e suas dependências, em virtude dos poderes que me são conferidos por eles e por esta respeitável loja, proclamo o Ir… que vocês veem presente entre as duas colunas, aprendiz maç e, nesta qualidade, Membro da respeitável loja no … constituída sob o signo distintivo de … no Or de … (in Ordo ab Chao, 1999 : 528)
À glória do Grande Arquiteto do Universo, em nome e sob os auspícios dos Soberanos Grandes Inspetores, verdadeiros mantenedores da ordem, 33° grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, membros do Supremo Conselho do Santo Império para a França e suas dependências. De acordo com os poderes que me são conferidos por eles e por esta venerável loja, eu vos crio, recebo e constituo aprendiz maçom, primeiro grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, e membro da venerável loja simbólica constituída sob o nº 124 e o título distintivo de Le progrès de l’Océanie, no Oriente Honolulu nas ilhas Sandwich (in Collactanea 1995 : 55).”
A instrução é de interesse fundamental porque demonstra que a influência “antiga” impregnada no “Guia” foi significativamente reduzida. As perguntas e respostas foram reescritas para se alinharem com a cerimônia, mas também para se adaptarem ao discurso moralizante característico da época. A descrição da recepção está em conformidade com os imprevistos vividos pelo neófito e as viagens descritas como a transição do caos à ordem e à paz. A descrição da loja traz alguns detalhes inéditos:
“Onde você trabalha?
Em uma loja.
Qual é o nome da sua loja?
Ela tem por nome genérico a loja de São João;
O que vos diz esta denominação?
Como São João, que os Antigos chamavam de Janus, parece proteger as portas do céu e abrir ao astro radiante da claridade a rota celeste percorrida pelo sol
[159], foi denominada de templo ou império de Janus; assim também a loja em que trabalham os maç para chegar ao conhecimento da Verdade que é a verdadeira luz, foi denominada loja de São João, porque ela é a imagem do Universo.
Como está construída sua loja?
Ela é um longo retângulo, o seu comprimento se estende de Leste a Oeste, e a largura de Norte a Sul, a altura da terra ao céu, e a profundidade da superfície da terra ao centro.
Como está coberta a sua loja?
Por um dossel de cor azul cravejado com inúmeras estrelas, e onde circulam o sol e a lua, e incontáveis globos que se sustentam por suas atrações ponderadas.
Quais são os sustentáculos desse dossel?
Doze belas colunas.
A loja não tem nenhum outro apoio?
Ela se encontra ainda fundada sobre três pilares.
Quais são eles?
Sabedoria, Força, Beleza. Três dos principais atributos do Poder Supremo.
Como são representados na loja esses três atributos do Poder Sup?
Por três grandes luminares.
Como estão colocados estes três grandes lum?
Um ao Leste, um ao Oeste e o terceiro ao Sul.
[160] “
Surpreendente é a introdução de noções “esotéricas” que não eram esperadas tão cedo, aludindo a Janus por exemplo, que se acreditava ter sido emprestado de René Guénon, ou ainda o significado das colunas de bronze do templo como portas solsticiais:
“O que significa o pórtico?
Ele marca o ponto do Oriente onde o sol nasce sobre o hemisfério; ele também é o símbolo da iniciação nos mistérios da Maçonaria.
O que significam os dois pilares de bronze?
Eles marcam os dois pontos solsticiais que por milhares de séculos a estrela da manhã jamais cruzou, como se estivesse retida por uma barreira de bronze”.
Note-se também que as Grandes Luzes não são constituídas pelo conjunto bíblia-esquadro-compasso, de acordo com o uso “antigo”, mas pelos três pilares de canto, sem que eles, no entanto, se refiram ao ternário “moderno”, sol-lua-mestre da loja.
O segundo grau traz mudanças significativas. Um prefácio anuncia o novo significado dos três graus, desconhecidos tanto dos Antigos quanto dos Modernos, as três idades do homem e introduz a “alegoria solar”.
“Assim como o grau de aprendiz representa a juventude, assim também o grau de companheiro representa a sociedade em idade civil… Poderíamos também, após a alegoria solar, comparar o segundo grau da Maç\ àquela preciosa parte do ano que está contida entre os dois equinócios, de primavera e de outono.
[161]“
O esquema da recepção é o mesmo: cinco viagens sob a orientação do experto e não de um diácono, precedem a descoberta da Estrela Flamejante, mas seu significado não é o do “Regulador“. O certo é que eles são sempre marcados pelo uso das mesmas ferramentas e representam, como no passado, os anos de aprendizado, mas o ensino que os acompanha não é mais sobre a formação operativa. Na primeira viagem, o candidato descobre os cinco sentidos e a Estrela Flamejante; na segunda, as cinco ordens de arquitetura
[162]; na terceira, as sete artes liberais; na quarta, os globos terrestres e celeste; na quinta, a unidade singular do Ser Supremo, “criador e conservador de tudo o que é” representado pela Estrela Flamejante. A declaração final resume este ensinamento que “representa as sucessivas eras do homem e da sociedade”.
A abertura da loja de mestre não prevê diáconos. A loja é escurecida e envolta em preto, iluminada apenas por “três estrelas místicas”. O candidato é introduzido de costas e não vai se virar até que sejam examinadas suas mãos e seu avental. Ele, então, segue para o Oriente, por sobre o cadáver, e ouve a lenda de Hiram. Aqui já está simplificada: não mais se refere a um complô de 15 companheiros, dos quais doze se retiram in extremis, mas apenas a três assassinos; o percurso é (pela primeira vez?) “solar”, da porta do Leste à do Oeste e, detalhe capital, desapareceu a exigência de que três estejam reunidos para pronunciar a palavra. Nem a cerimônia, nem a declaração final faz alusão a uma perda de palavra e a ênfase é sobre a ressurreição do arquiteto, comparada ao retorno da luz. Quando o venerável levanta o candidato, pronuncia estas palavras:
“Deus seja louvado! O Mestre é encontrado, e também parece mais radiante que nunca.
(Depois de dirigir o neófito para o Oriente, acrescenta) Celebrem, meus Irmãos, com aclamações de alegria esta feliz claridade que retorna à nossa oficina entristecida depois de tanto tempo que a luz parecia banida para sempre; nosso Mestre viu novamente a luz, ele renasce na pessoa de nosso Irmão
[163] “
A nova instrução não deixa dúvidas sobre o significado da lenda solar:
“Que significa então a história de Hiram?
Eu penso que, na verdade, esta história é uma representação da marcha aparente do Sol nos signos inferiores durante três meses decorridos desde o equinócio de outono; que estes três meses são os três conspiradores, causas imediatas de seu fim aparente no solstício de inverno.
Sob que circunstâncias você reconhece isso?
O sol, neste momento de luto para toda a natureza, parece querer fugir para sempre do nosso hemisfério. No entanto, parece logo se elevar, retornar ao equador e reaparecer com todo o seu esplendor. Da mesma forma, vemos o nosso venerável mestre Hiram ser retirado dos braços da morte e voltar à vida “.
5.3. A mutação naturalista
Estes dois os rituais mostram um distanciamento claro tanto dos usos “antigos” como da tradição francesa. Embora o padrão básico das cerimônias (introdução, viagens, juramento, dedicação, comunicação) seja consistente com o Guia, os novos aportes os diferenciam claramente.
No primeiro grau, a purificação pela água se junta à pelo fogo, o que não carece de lógica, tanto que o Rito Francês sabia disso desde 1786
[164].
As lições oferecidas ao candidato durante suas cinco viagens ao segundo grau merecem atenção. Os cinco sentidos e as sete artes liberais não representam grande problema: já foram explicados tanto na instrução de aprendiz do TDK
[xxxiii] como na do Guia, e sua inclusão na cerimônia de recepção de companheiro era, em última análise, uma mudança cênica. Em contrapartida, o aparecimento das cinco ordens de arquitetura e dos dois globos era uma inovação real cuja inspiração deve ser encontrada nos Estados Unidos. Na verdade, ela se encontra em uma obra famosa do outro lado do Atlântico
[xxxiv], o “Freemason’s Monitor or Illustrations of Masonry“, de Thomas Smith Webb (1771-1819), obra publicada pela primeira vez em 1797 e reeditada várias vezes durante a vida do autor e depois de sua morte, e que exerceu considerável influência sobre a formação das cerimônias praticadas nos Estados Unidos, tendo valido a Webb o título de “pai do Rito Americano”
[165].
Ora, o livro de Webb, as “Notas sobre o segundo discurso” contém uma “exortação à iniciação do segundo grau
[166]” em duas seções. A primeira apresenta uma dissertação sobre as cinco ordens de arquitetura dos Antigos e sobre os cinco sentidos (para eles, o homem pode descobrir a natureza e a bondade divina). A segunda ilustra e explica as sete artes liberais e a doutrina das esferas, terrestre e celeste, cuja contemplação deve inspirar reverência à divindade, ou seja, todos os elementos encontrados em todos os rituais americanos do segundo grau atuais, em termos frequentemente idênticos aos de Webb. Acreditamos que é lá que deveria ser buscada a inspiração dos revisores do ritual de companheiro do REAA.
Mas o próprio Webb não inventou nada. Na verdade, sabemos que ele seguiu fielmente o trabalho de um dos seus antecessores, o escocês (mas londrino por adoção) William Preston (1742-1818), cujo “Illustrations of Masonry” apareceu em 1772, e teve muitas edições posteriores. Provém deste livro o texto copiado literalmente por Webb. Chamou-os de “Remarques sur le second discours
[xxxv]” e contém a explicação das cinco ordens de arquitetura, dos cinco sentidos, das sete artes liberais e dos globos
[167].
Essential, enfim, é a nova interpretação do mito de Hiram. Seu tema-chave não é a perda da antiga palavra de mestre, que não é mencionada, mas a identificação do arquiteto com o sol. Sua morte brutal se torna uma alegoria do declínio do astro luminoso durante os três meses de outono e seu desaparecimento no solstício de inverno, enquanto sua posterior ressurreição, afirmada pelo próprio texto da cerimônia, mostra o retorno da luz. Hiram torna-se assim um avatar de deuses como Mithra ou Adonis, do Oriente Próximo, “que morrem e renascem”. Curiosamente, esta inovação foi introduzida por um reformador que era membro do Grande Oriente de França
[168]: Nicolas Chaales-Des Etangs (1766-1847). Venerável da loja parisiense Les Trinosophes, ele tinha publicado, em 1825, um longo trabalho intitulado “Le véritable lien des peuples ou la Franc-maçonnerie rendue à ses vrais principes
[xxxvi]“, que continha rituais reformados dos três graus simbólicos, do Rosacruz e do Cavaleiro Kadosh. Apóstolo de um modernismo romântico e de um misticismo intelectual onde os irmãos de todas as crenças pudessem se encontrar, ele sonhava com uma maçonaria onde Meca, Genebra, Roma e Jerusalém seriam confundidas. No grau de mestre, Hiram torna-se o representante de Osíris ou do sol. Vítima da Ignorância, da Falsidade e da Ambição, é descoberto pelos nove mestres enviados à sua procura, que constatam com felicidade que ele não está morto:
“É o nosso Mestre! gritaram eles; é o nosso Mestre!” Um deles tentou levantá-lo, mas sua confusão foi tão grande que ele exclamou que a carne estava deixando os ossos! E a sua consternação foi extrema! No entanto, o Mestre os ouviu; ele não estava morto, ele somente havia dormido
[169]; o repouso havia curado suas feridas, e se levanta suavemente com a ajuda de um Maç Fiel, e lhes disse, ‘parem de chorar; não temam. Vocês me procuraram, vocês me acharam. Eis-me aqui!’. E seu rosto tornou-se radiante como o sol.
[170] “
A nova leitura da lenda de Hiram tirou o seu caráter original. Sua representação como um fenômeno natural transformou o mito em uma alegoria ingênua. No entanto, é interessante notar que esta mudança, proposta por um maçom do Rito Francês, foi imediatamente adotada pelos adeptos do REAA.
Outro maçom célebre da época, Chemin-Dupontès
[171], membro de ambos os Ritos, desenvolveu o tema naturalista em seu “Cours Pratique de Franc-maçonnerie publié sur la demande et sous les auspices de la R\L\ Isis-Montyon
[xxxvii]” (1841). A ressurreição de Hiram torna-se “uma ficção”, por meio da qual a maçonaria quer alertar seus discípulos de que muitos dos fatos deste tipo, ao contrário das leis da natureza, são apenas símbolos, segredos que os Maç\ inteligentes descobrirão. A imortalidade e o gênio, representados pela letra G, são os dois principais itens para os quais o grau chama a atenção do neófito.
“Em todas as iniciações se encontra um personagem inocente arrancado da vida de uma maneira bárbara. Elas parecem ter querido nos familiarizar com a morte. Na verdade, é uma grande lição para os vivos, e é bom que eles tenham frequentemente esta imagem diante dos olhos.
[172]“
Mas a imortalidade de Hiram é assegurada:
“Hiram, cuja substância corporal já se encontra em decomposição, levanta-se cheio de força. Certamente, não quiseram fazer desta ficção uma realidade. É um símbolo, e um símbolo nobre, que responde bem à fragilidade da natureza humana: é sobre a imortalidade.
[173]“
E vem enfim a apoteose naturalista:
Sob o ponto de vista astronômico, Hiram é o emblema do sol. A palavra Hiram marca a ascensão, e dela veio pirâmide, a qual, adicionada ao artigo oriental p. Hiram-Abi significa pai elevado; Adonhiram apresenta quase o mesmo significado, Adon, de onde se tem Adonai, que significa Senhor. Como a gratidão pela feliz influência do astro vivificante é a base geral das religiões antigas e modernas, direta ou indiretamente, sob formas simbólicas, o Arq\ do T\ é o representante do sol, e para aqueles que buscam seu autor, o próprio Deus, o Jeová, nome que se deu ao Grande Ser, e ao sol, que é sua imagem sensível. A morte de Hiram é, como a de Osíris, de Iaco, de Hércules, de Mithra, e de muitos outros, um símbolo do movimento aparente do Sol, que desce em direção ao hemisfério austral, considerado figurativamente vencido, seguindo a mesma alegoria, como o gênio do mal. Mas ele vem de volta para o nosso hemisfério: agora é o vencedor, espera-se que ressuscite. Além disso, nos ttrab\ de M\, o representante de Hiram se eleva glorioso e estes ttrab\, que começaram de maneira lúgubre, terminarão com um desfecho brilhante e com gritos de triunfo e alegria.
[174]
Em suma, a versão “romântica” de REAA pode ser resumida assim:
Manutenção das formas (disposição das colunas, palavras), mas abandono parcial das bases do Rito antigo (Grandes Luzes, perda da antiga palavra de mestre, regra de três).
Alinhamento com o Rito Francês (provas pelos elementos).
Empréstimos dos rituais americanos (o desenrolar do 2º grau).
Deísmo difuso e leitura naturalista do mito de Hiram (alegoria solar).
5.4. Os rituais da Grande Loja da França de 1896.
A história do Supremo Conselho da França, durante o século XIX, esteve longe de ser pacífica. Desde que, em 1821, ele havia tomado sob sua obediência as lojas azuis, encontrou a oposição dos maçons da base, que não aceitaram a tutela hierárquica pesada de uma organização composta por membros aliciados para esse fim e necessariamente reacionários por sua posição social e por sua idade. Esta oposição se manifestou em várias ocasiões, como pela criação da efêmera Grande Loja Nacional, em 1848, do Comitê Central do Rito Escocês reformado, em 1868, e da Grande Loja Simbólica Escocesa (GLSE), em 1879. Em todos os casos, a rejeição aos altos graus e às estruturas oligárquicas eram unânimes. A demanda democrática se refletiu no aparecimento do slogan “o maçom livre na loja livre”, concebido no GLSE e destinado a fazer história.
Essa evolução prosseguiu em consonância com a tentação positivista que transbordava do único Grande Oriente. Os Maçons Escoceses também atacarão o Grande Arquiteto e proporão à Grande Loja Central, em 1868, a sua supressão, que foi aceita em 29 de novembro de 1869, por 26 votos contra 6. O Supremo Conselho impediu esta execução, mas a disputa continuou. O Grande Comendador, Adolphe Crémieux, pensou encontrar uma acomodação ao produzir, no final de 1873, um decreto que pretendia ser conciliatório:
“O Supremo Conselho
Considerando, como testemunho da comunidade, os sentimentos que unem todos os maçons, julga apropriado afirmar o lema maçônico: Liberdade, Igualdade, Fraternidade;
Considerando ainda que é do interesse do rito restituir o título das pranchas a uma fórmula uniforme:
Decreta
Todas as pranchas Maç\ deverão a partir da data do presente decreto, incluir o seguinte cabeçalho
A.G.D.G.A.D.U.
O nome e sob os auspícios do Supremo Conselho para a França e suas dependências
O nome da Loja e seu número
Liberdade, Igualdade, Fraternidade “.
Se eles tivessem operado de forma democrática, as lojas escocesas teriam excluído a menção ao G.A.D.U., em 1869, decisão nunca tomada pelo GODF, que simplesmente a declarou opcional em 26 de outubro de 1878
[175]. O Supremo Conselho foi incapaz de resolver por si mesmo e, em vez disso, adotou a resolução da convenção dos Supremos Conselhos, realizada em Lausanne, em setembro de 1875, que previa:
“A Maçonaria proclama, como tem proclamado desde a sua origem, a existência de um princípio criador, sob o nome de Grande Arquiteto do Universo.”
A criação, em 20 de novembro de 1879, da Grande Loja Simbólica Escocesa, resolutamente democrática e livre pensadora, hostil aos altos graus e se limitando aos três primeiros graus simbólicos, trouxe ao ponto máximo estas dissensões. Como seria justo, esta nova obediência suprimirá qualquer referência ao G.A.D.U..
Longas e difíceis negociações foram necessárias para que, enfim, o Supremo Conselho concedesse autonomia para as lojas de sua jurisdição (8 de novembro de 1894) a fim de que elas se constituíssem como Grande Loja da França (em 23 de fevereiro de 1895). No ano seguinte, em 18 de dezembro de 1896, esta nova organização se fundiu com a Grande Loja Simbólica (tornada “da França”, em 1894), dando assim origem à atual Grande Loja da França. Com tudo isso, pouca atenção foi dada aos rituais, que dificilmente eram assunto de debate entre os maçons franceses da época. Destaque-se que jamais a prática do REAA foi contestada pela GLSE que, por mais revolucionária que fosse, sempre afirmou seu compromisso com o escocismo
[176].
Eu só tenho, infelizmente, dentre os rituais da GLSE, o “Rituel Interprétatif pour le grade d’Apprenti
[xxxviii]“, escrito para a loja Le Travail et les Vrais Amis Fidèles, por Oswald Wirth (1893). Mas este documento, que introduziu as interpretações alquímicas tão caras para muitos maçons contemporâneos, é muito atípico para ser útil ao debate. Em contrapartida, tenho dois rituais impressos, um dos quais na página de rosto exibe a inscrição “Rito Escocês Antigo e Aceito – Supremo Conselho
[177] para a França e suas dependências – Ritual simbólico dos primeiros três graus da maçonaria escocesa” (após o SC); o outro, ” Rito Escocês Antigo e Aceito – Ritual dos três primeiros graus simbólicos da maçonaria escocesa” (após a GL). O segundo foi “concedido pela Grande Loja da França à R. Loja instalada sob o título distintivo de Galileo Galilei (escrito à mão) no Oriente de Paris, em 09 de julho de 1904 (idem), e registrado como no 359 (idem) no registro geral das oficinas do Rito”. O primeiro foi “concedido pelo Supremo Conselho
[178] da França para a R. Loja instalada sob o título distintivo de La Nouvelle Jérusalem (escrito a mão) no Oriente de Paris (idem) matriculada sob o no 376 (idem).” Um deles é anterior, o outro posterior, à criação da Grande Loja. Poucas coisas diferem um do outro.
5.4.1. O Grau de Aprendiz.
A decoração da loja é idêntica em ambos os rituais. São descritas as cortinas (vermelhas), a orla dentada, as colunas do Ocidente, o lugar dos Vigilantes (o 2o ao Sul, o 1o a Noroeste), o dossel do Oriente com o “delta transparente sobre o qual se lê, em caracteres hebraicos, o nome do Grande Arquiteto do Universo”, o sol e a lua na parede do Oriente, o altar do venerável com um compasso, um esquadro, um malhete, uma espada nua e as Constituições. As três “luzes” (candelabros) são colocadas “uma no Leste voltada para o Sul. Duas no Oeste, uma voltada para o Sul e a outra para o Norte”. O ritual da GL acrescenta:
“Além disso, e quando se trata de uma reunião de iniciação, será colocado na frente do hospitaleiro um cartucho
[xxxix] (sic) no qual estão escritas as palavras: terra, ar, água, fogo. Isso irá acompanhar os desafios da iniciação. O neófito, tendo recebido a luz, compreenderá o significado das alegorias que o impactaram. Os IIr\ nas colunas entenderão melhor a tão notável origem dos estudos sucessivos pelos quais a Maçonaria faz passar os Aprendizes e Companheiros. No 1o grau a luta com a natureza, o estudo das forças naturais e, chegando em seguida ao 2o grau, o estudo humano, o conhece-te a ti mesmo dos Sábios da Antiguidade”.
A abertura é muito simples, prevendo apenas a verificação da cobertura (exterior) da loja e a qualidade maçônica dos participantes (os diáconos desapareceram). Em ambos os rituais, os trabalhos são abertos à glória do Grande Arquiteto do Universo
[179], mas a bateria, Huzzé-Huzzé-Huzzé
[180], é seguida do ternário republicano na GL.
[181]
O candidato é despojado de seus metais e preparado (sem paletó, pé esquerdo no chinelo, de olhos vendados) pelo experto e seu testamento entregue ao mestre de cerimônias. Após a apresentação do candidato à porta, segue-se o questionamento da identidade e a entrada sob a ponta da espada do experto.
Mal tendo sido admitido, pergunta-se ao candidato sobre a liberdade, a moralidade, a virtude e o vício em termos que não diferem em nada daqueles do “Guia“. É-lhe pedido, então, seu primeiro juramento na taça das libações
[xl]. As três viagens são lideradas pelo experto e cadenciadas pelos três “obstáculos” clássicos desde o TDK. A segunda é seguida da purificação pela água, a terceira pelo fogo, tudo pontuado pelo discurso em tom grave do venerável. Depois vêm o teste do sangramento e da beneficência e a subida ao Oriente pelos três passos do aprendiz. O juramento é feito novamente, com a mão direita sobre os Estatutos Gerais da Ordem e a mão esquerda segurando o compasso. Ele inclui as palavras “na presença do G.A.D.U.” e a penalidade tradicional. Trazido de volta entre as colunas, o neófito recebe a luz, de uma só vez, dentro do círculo de espadas. Ele é, então, “criado, recebido e feito aprendiz maçom, primeiro grau do REAA
[182]” por três golpes de malhete na espada colocada sobre a sua cabeça. Os segredos geralmente são aqueles do Rito antigo.
Importante acrescentar-se: o discurso do orador é precedido, na GL, por um comentário do venerável sobre os “os quatro elementos dos antigos” que começa com estas palavras:
“Anteriormente, o candidato à iniciação submetia-se às provas terríveis destes quatro elementos, Terra, Ar, Água e Fogo.
Este sistema de iniciação antigo, que é refutado em seu desenrolar pela ciência moderna, é aceito por nós como uma tradição simbólica, que mostra o neófito lutando com as forças da natureza
Ele continua com considerações muito banais sobre a composição do ar, os estados físicos da água e a combustão de oxigênio, sem qualquer alusão à alquimia.
Por outro lado, o ritual do Supremo Conselho contém em anexo uma prece (furiosamente suprimida em outros lugares), chamada de “Ação de Graças para os dias de recepção apenas”:
Grande Arquiteto do Universo, os trabalhadores deste Templo te rendem suas ações de graças, e relatam a ti o que fizeram de bom, útil e glorioso nesta jornada solene, em que viram aumentar o número de seus irmãos. Continua a proteger os seus trabalhos e dirige-os constantemente para a perfeição.
Que a harmonia, a união e a concórdia sejam sempre o triplo cimento de suas obras.
E vós, prudência, discrição, modesta amenidade, sois o apanágio dos Membros desta Oficina e que volta ao mundo, sempre reconhecemos, na sabedoria dos seus discursos, nas convenções que os mantêm e na prudência de suas ações, porque eles são os verdadeiros filhos da luz”.
Fora esta prece, nada subsiste do Rito antigo além da entrada na ponta da espada, os obstáculos encontrados durante a viagem e os segredos do grau, todos afogados em um dilúvio verbal cujo exemplo já havia sido dado pelo Guia.
5.4.2. O grau de companheiro.
Ele começa com um prefácio muito semelhante ao da Progrès de l’Océanie, evocando tanto as duas idades do homem quanto a alegoria solar.
As observações preliminares preveem quatro cartuchos com os nomes dos cinco sentidos, das quatro ordens de arquitetura, das artes liberais e dos filósofos (Solon, Sócrates, Licurgo, Pitágoras e, somente no Supremo Conselho, INRI). No meio da loja, voltadas para o Leste, estão duas esferas colocadas no “altar do trabalho” e, no Leste, uma estrela flamejante tendo ao centro a letra G.
Após a abertura, o candidato é apresentado e entrevistado pelo experto sobre algumas questões da instrução de aprendiz. Depois de ouvir um discurso do venerável ensinando-lhe que no grau anterior foi aberta a ele a porta das ciências e que ele se tornou um novo homem, faz cinco viagens sob a orientação do experto. Como foi o caso na Progrès de l’Océanie, ele descobre sucessivamente os cinco sentidos, as quatro ordens de arquitetura e as sete artes liberais, comentados com alguma alegria pelo venerável
[183]. Na quarta viagem, ele encontra os filósofos acima mencionados. As palavras INRI, omitidas na G.L., são discutidas dessa maneira no S.C.:
“INRI. Estas quatro letras não são um nome, mas a inscrição colocada na cruz do Cristo, e, de acordo com a lenda cristã, ela significaria “Jesus Nazarenus Rex Judaeorum“. Jesus é adorado como um deus pelos cristãos, e deve ser respeitado como um sábio pelos filósofos. Sua doutrina, essencialmente humanitária, poderia ser resumida nas seguintes palavras: “Amai-vos uns aos outros”. Ele foi crucificado por sua moral e seus ensinamentos, que, desde então, preencheram o mundo. “
“Isso prova que a força nada pode fazer contra o Direito e a Verdade”.
A quinta viagem exalta a Liberdade, mas também recorda a necessidade do trabalho. Antes do juramento, o venerável profere uma ode ao trabalho, que termina com estas palavras:
“Sejas glorificado! ó trabalho, bendito sejas pelos filhos da viúva por tuas dádivas do passado, e bendito sejas por teus benefícios futuros.
(levantando a mão) Glória ao trabalho.
Todos os IIr\ presentes levantam a mão e repetem:
Glória ao trabalho.”
A letra G é descoberta durante a primeira e a terceira viagem, quando a geometria é comentada. A instrução do grau dá esta explicação que afasta da letra G qualquer dimensão metafísica:
“Vê-se brilhar no Leste uma estrela com cinco pontas representando os sentidos; ela é chamada de Estrela Flamejante.
Esta Estrela Simbólica não contém algum outro emblema?
Vê-se no meio da letra G, que significa Geometria, uma das ciências mais elevadas já produzidas pelo gênio do homem. É por isso que eu ainda enxergo naquela letra o símbolo por excelência da inteligência humana.”
5.4.3. O grau de mestre.
A loja é acortinada em preto, iluminada apenas por “três estrelas misteriosas”, como já era em 1843. Os mestres portam (pela primeira vez?) uma faixa azul em seda com as bordas em fitilho vermelho e um avental branco com bordas vermelhas, com as letras M. e B. no meio, bordadas em vermelho. Eles estão cobertos, “as bordas (de seu chapéu) avançam sobre os olhos em sinal de pesar.” O Respeitabilíssimo senta-se à frente do altar, ao pé da escada.
O candidato é introduzido, de costas, por dois expertos. Suspeito do assassinato de Hiram, é perdoado ao se examinarem suas mãos e seu avental. Em seguida é perguntado sobre sua concepção de direito, de justiça e da lei natural antes de retornar para o Leste e descobrir o pseudo-cadáver. Ele, então, vai ao Oriente passando sobre o túmulo e ouve a lenda do grau. De acordo com a versão da Progrès de l’Océanie, Hiram chega sucessivamente às portas do Leste, do Sul e do Oeste, onde ele recebeu o golpe fatal.
A sequência é clássica: o candidato está caído no caixão e coberto por um pano preto antes de ser erguido pelo respeitabilíssimo e os dois Vigilantes, erguimento que é, sim, uma ressurreição como fica evidenciado pelas primeiras palavras pronunciadas pelo respeitabilíssimo:
“Celebremos, meus IIr\, com aclamações de alegria, esta feliz luz que retorna à nossa entristecida loja depois de tanto tempo que a julgávamos perdida para sempre. Nosso Mestre reviu a luz, ele renasce na pessoa do Ir\ N…”
Retorno da luz, se não do sol: tal é a palavra final do mito de Hiram. A instrução vai mais longe ainda e acrescenta ao calvário do arquiteto uma inesperada reminiscência cristã:
“O que significa, então, a história de Hiram?
Eu acho que, na verdade, esta história é uma representação do movimento aparente do Sol nos signos inferiores durante os três meses que sucedem ao equinócio de outono; esses três meses são os três conspiradores, causas imediatas de seu fim aparente no solstício de inverno.
Sob que circunstâncias você reconhece isso?
O sol, no nosso tempo de luto por toda a natureza, aparenta querer fugir para sempre de nosso hemisfério. No entanto, parece logo se elevar, retornar para o equador e reaparece em todo o seu esplendor. Da mesma forma que vemos o nosso Respeitabilíssimo Mestre Hiram ser retirado dos braços da morte e voltar à vida.
Como, em nossos mistérios, se deu a ressurreição de Hiram?
Pela ação de três Mestres esclarecidos.
Diga-me como eles fizeram isso?
O Mestre e os dois Vigilantes chegam para levantar Hiram e retirá-lo do túmulo; um deles, tomando sua mão com o toque de Apr sente que ela lhe escapa, porque a carne deixa os ossos; o segundo tomando-a com o toque de Companheiro tampouco obtém sucesso; mas, tendo os três reunido todos de seus esforços, conseguem colocá-lo em pé, e alegremente festejam o seu regresso à vida.
O que significa isso?
É a imagem dos três primeiros dias após o solstício durante os quais os antigos ficavam incertos sobre o curso que seguiria o astro luminoso, pois só no terceiro dia se identificava claramente seu retorno aparente em direção ao hemisfério superior”.
A última resposta é exemplar: a morte de Hiram, personificação do sol, é seguida por três dias de incerteza que precedem a sua reaparição. Vimos que o arquiteto se revelou um dos deuses do Oriente Próximo, que morrem e renascem. Constatamos aqui que ele vive, em palavras veladas, a paixão do cristo e da sua estadia no inferno antes da ressurreição no terceiro dia!
Mas isso não impede a surpresa. A cerimônia termina com um longo discurso do respeitabilíssimo, diretamente inspirado pela “L’histoire de la reine du matin et de Soliman prince des génies
[xli]“, de Gérard de Nerval
[184], sem que a fonte seja citada.
Discurso do respeitabilíssimo Nerval
[185]
À hora indicada, o Mestre se dirige à entrada do templo; ele se inclina para o pórtico exterior, e fazendo um pedestal de um bloco de granito, ele lança um olhar sobre a multidão convocada e então se dirige para o centro dos trabalhos. A um sinal de Hiram, as ondas daquele oceano humano empalidecem e todos os rostos se voltam para ele. O Mestre então levanta seu braço direito, e com sua mão aberta, ele traça uma linha horizontal, do meio da qual faz cair uma linha perpendicular representando dois ângulos retos em esquadro, signo no qual os sírios reconheciam a letra T.
A este sinal de reunião, o formigueiro humano se agita, como se um tornado o tivesse irritado. Em seguida, os grupos se formam, desenhados em linhas regulares e harmoniosas, as legiões se dispõem e esses milhares de obreiros, liderados e dirigidos por chefes desconhecidos, se dividem em três corpos principais, cada uma subdividida em três unidades distintas, densas e compactas ao caminhar: 1o os Mestres, 2o os Companheiros, 3o os Aprendizes.
Diante desta força desconhecida que ele mesmo ignora, Salomão se empalidece; lança um olhar perplexo sobre o brilhante mas pálido cortejo de sacerdotes e cortesãos que o cercam …
Eis aí! diz a si mesmo Salomão, um sinal dessa mão faz nascer ou dispersa exércitos?
Ao ouvir estas palavras, Adoniram, encostado no pórtico exterior e fazendo um pedestal de um bloco de granito que estava perto, vira-se para esta incontável multidão, sobre a qual ele passeia seu olhar. Ele fez um sinal, e todas as ondas deste mar empalidecem porque todos levantam e dirigem a ele seus claros rostos … Adoniram ergue o braço direito e, com a mão aberta, traça no ar uma linha horizontal, do meio da qual faz cair uma perpendicular, representando assim dois ângulos retos em esquadro como os produzidos por um fio de prumo suspenso a uma régua, signo sob o qual os sírios pintavam a letra T, transmitido aos fenícios pelos povos da Índia, que tinham chamado de tha, e ensinado depois para os gregos, que o chamaram de tau.
Além disso, mal Adoniram o havia traçado no ar, um movimento singular se manifesta na multidão de pessoas. Este mar humano se perturba, se agita, as ondas surgem em diferentes direções, como se um tornado o tivesse irritado subitamente … em breve grupos vão surgindo, se avolumando, se separando; vazios são formados, legiões se dispõe de frente; uma porção da multidão é reprimida; milhares de homens, liderados por chefes desconhecidos se alinham como um exército que se separa em três corpos principais, subdivididos em unidades distintas, compactas e profundas…
No centro são reconhecidos os maçons e todos que trabalham a pedra: na vanguarda, os mestres; em seguida, os companheiros e atrás os aprendizes …
Confuso, Soliman recua dois ou três passos; ele se vira e não vê o fim do cortejo pálido e brilhante dos sacerdotes e seus cortesãos …
“Qual é, então, pergunta-se Soliman sonhador, este mortal que submete os homens como a rainha comanda os habitantes do ar?… Um sinal de sua mão faz nascer exércitos: meu povo é dele, e minha dominação se vê reduzida a um bando miserável de cortesãos e de sacerdotes. Um movimento de sobrancelhas o fará rei de Israel. ”
E a história termina, no ritual, com uma conclusão bem em sintonia com a época: “Salomão foi obrigado a reconhecer uma nova força pela qual, até então, tinha passado sem sequer suspeitar. Esta força é o POVO. ”
6. Últimos avatares do REAA no século XX.
O ritual GLDF de 1952
[186] faz algumas mudanças em disposições anteriores que refletem sobretudo o desejo desta obediência se alinhar com o exemplo britânico.
O altar é chamado de “altar dos juramentos.” O plano do venerável, situado ao pé das caminhadas do Oriente, sustenta as Constituições de Anderson de 1723 e a Constituição da GLDF, aberta, sobre a qual são colocados um esquadro e um compasso. Na parede do Oriente se acha o delta, portando, em letras hebraicas, o tetragrama.
Pela primeira vez no REAA, aparece o reconhecimento dos assistentes por parte dos dois Vigilantes, caminhando ao longo das colunas
[187], e a iluminação ritual das tochas
[188]: o mestre de cerimônias as acende enquanto o venerável e os dois Vigilantes proferem as palavras ” sabedoria “(venerável),” força “(primeiro vigilante) e” beleza “(segundo vigilante). As viagens do candidato que não foi “preparado” fisicamente, são marcadas pela purificação por elementos (sucessivamente ar, água e fogo).
A versão de 1962 confirma uma mudança no tamanho. De fato, em 1953, a convenção da Grande Loja da França, na esperança, que jamais se realizará, de obter o reconhecimento britânico, aprovou uma moção decidindo:
que os Deveres serão prestados sobre o esquadro e o compasso e um livro da Lei Sagrada, sendo este último considerado sem qualquer caráter religioso particular, como um símbolo da mais alta espiritualidade que inspira o Maçom que se dedica a trabalhar eternamente para livrar a Ordem do caos
[189].
As “Três Grandes Luzes” foram, portanto, substituídas no altar dos juramentos, enquanto a patente de constituição foi exposta diante do plano do venerável, com o olho simbólico substituindo o tetragrama no delta. Ao acender dos castiçais, especificou-se que se cuidasse das “pequenas luzes” e é um antigo venerável que devia abrir a Bíblia, sob o esquadro formado pelo bastão do mestre de cerimônias e a espada do experto, como acontece na Inglaterra sob os bastões dos diáconos
[190]. Depois de mais de um século, o REAA retorna à tradição “antiga” da maçonaria britânica.
Nesta mesma versão, o candidato, despojado de seus metais e parcialmente despido, tem uma corda no pescoço, outro uso britânico. A luz é dada em dois tempos: no círculo de espadas pela primeira vez com a cena de perjúrio e, na segunda, na cadeia de união.
Permanecem constantes certos conjuntos simbólicos do REAA original: coluna B no NO e J no SE (antigo), a disposição dos castiçais (escocês), o lugar dos oficiais, a cor vermelha, a marcha do pé esquerdo.
Em 1965, o REAA foi trazido para a GLNF, que só conhecia até então o ” Rito de Emulação” e o Rito Escocês Retificado através de desertores da GLDF, em circunstâncias dramáticas que têm derramado muita tinta, mas que fogem ao nosso propósito. Muito naturalmente, os rituais não foram afetados significativamente, pois a maior parte do trabalho já estava feita.
O ritual chamado “Cerbu”, agora em uso na Grande Loja Nacional Francesa, prevê, na abertura dos trabalhos, que o venerável acenda a Estrela associada à coluneta jônica (SE), dizendo: “Que a Sabedoria governe a construção de nosso edifício“; o 1o vigilante acende a estrela da coluneta dórica (SO), dizendo: “Que a Força a sustente“; o 2o vigilante ilumina a Estrela da coluneta coríntia (NO), dizendo: “Que a beleza a adorne“
[191]. O candidato, introduzido à ponta da espada, presta um primeiro juramento depois de ouvir a leitura da regra em doze pontos da GLNF que substitui a questão-teste da crença em Deus. Seguem-se as 3 viagens e as purificações pelo ar, água e fogo, estando a prova da Terra simbolizada pela permanência na câmara de reflexões. A luz é dada em dois tempos, com o candidato em pé no Ocidente. A primeira vez no círculo de espadas (sem a cena do perjúrio), a segunda vez na cadeia da União. O juramento é prestado com o compasso sobre o coração e a consagração é feita por três golpes de malhete na espada colocada sobre a cabeça.
As cinco viagens do companheiro trazem a apresentação sucessiva dos cinco sentidos, das cinco ordens de arquitetura, das sete artes liberais e das duas esferas, terrestre e celeste. A última viagem termina com a glorificação do trabalho (os filósofos desapareceram). A recepção termina com um empréstimo companhônico
[xlii] completamente inédito
[192]: os novos companheiros, munidos com uma carteira, um pedaço de pão e um bastão com laços, são acompanhados à porta da loja pelo venerável. Curiosamente a letra G não aparece na cerimônia, embora mencionada na instrução:
“Por que você se fez receber companheiro?
Para conhecer a letra G.
O que significa esta letra?
O GADU, ou aquele que foi elevado ao cume do Templo. Esta letra também significa Geometria e pode receber muitas outras interpretações.”
No terceiro grau, um véu preto, colocado no alto do limite do Oriente, isola o Debir do Hikal. Esta disposição, desconhecida dos rituais do início do século, é mais surpreendente porque parece um empréstimo adicional do Rito Francês do século XIX: o véu entra em cena em rituais reformados em 1858 sob o grão-mestrado do príncipe Murat
[193] .
O ritual mantém algumas das características “românticas” que descrevemos. Assim, o simbolismo solar não desapareceu completamente e o tema da ressurreição ainda está vivo. Ao descobrir o cadáver, o venerável dizia:
“Pensar-se-ia que ele ainda está respirando. Seu nobre rosto, respeitado pela morte, exprime a tranquilidade de consciência e a paz da alma, tanto que a imagem da virtude ficou profundamente gravada em suas feições “.
E, depois do erguimento:
“Glória ao GADU, o M\ é encontrado e reaparece radiante como nunca.”
Interpretação naturalista que vem confirmar a instrução:
“O túmulo de Hiram exala todas as tradições perdidas. Mas Hiram ressuscitará.
Como, em nossos mistérios, ocorre a ressurreição de Hiram?
Pela concorrência de três MM Maç esclarecidos e fiéis.
Qual pode ser o significado (do fim de Hiram)?
Considerado como Rito Solar, o drama de Hiram pode se referir à marcha aparente do sol: os três assassinos serão, então, os três últimos meses do ano, período em que o Sol desce para os Signos Inferiores e parece fugir para sempre do nosso hemisfério. No entanto, após o Solstício de Inverno, vemos sua ascensão e logo reaparece em todo o seu esplendor. Da mesma forma, vemos o nosso R\ M\ Hiram sair de seu túmulo e retornar para uma nova vida.”
Nada na cerimônia lembra a perda da antiga palavra do Mestre. Por outro lado, a instrução reintroduz o tema essencial da perda e da escolha de uma palavra substituta:
“Como viajaram os MM\ Maç\?
Do Or\ ao Oc\ e do Oc\ ao Or\ e por toda a Terra.
Com que objetivo?
Para encontrar o que foi perdido, juntar o que está disperso e espalhar por toda parte a Luz.
O que foi perdido?
Os verdadeiros segredos dos MM\ MM\
Como eles foram perdidos?
Por “Três Grandes Golpes”, que causaram o fim trágico de nosso R\M\ Hiram “.
Este retorno, um a mais, à tradição “antiga”
[194] por tanto tempo negligenciada, é certamente feliz. Também é necessário enfatizar aquilo que é apenas um empréstimo a mais de um ritual britânico. De fato, durante a cerimônia de abertura do 3o grau, o venerável inglês e os dois Vigilantes mantêm o seguinte diálogo
[xliii]:
“Bro. J.W., as a M.M., whence come you?
From the E., W.M.
Bro S.W. whither directing your course?
Towards the W., W.M.
What induced you to leave the E. and go to the W.?
To seek for that which is lost, which, by your instruction and our own endeavours, we hope to find.
What is that which is lost?
The genuine secrets of a M.M.
How came they lost?
By the untimely death of our Master, H.A.”
Assim, o REAA revive o que o caracteriza desde o início: o sincretismo e a adição de várias tradições. Após as influências britânicas e americanas identificadas antes, aqui estão outras, de origem holandesa, companhônica e da “Emulação”.
O outro ritual usado na GLNF é chamado de “1802”. Ele difere pouco do “Cerbu”. Como este, tem as provas pelos elementos no primeiro grau, “o juiz supremo” e a conduta companhônica no segundo grau. Os cinco sentidos, as ordens de arquitetura e as artes liberais são apresentados, mas desta vez sem comentários, quando das viagens do companheiro. Os globos desapareceram, mas o Trabalho, apresentado como uma missão ou uma religião, está sempre muito presente na última viagem.
Como no “Cerbu”, a loja de mestre é dividida em dois compartimentos por um véu negro, e é iluminada por uma única luz
[195] colocada na coluna jônica do venerável. A história do drama, durante a cerimônia, se mantém na perspectiva naturalista anteriormente descrita (que é suficiente para tornar anacrônica a data “1802” indevidamente atribuída a este ritual). Não há menção à perda da palavra de mestre. Quanto à instrução, ela retoma a explicação alegórica de Hiram, imagem do sol, antes de prosseguir pelos diálogos extraídos do ritual de Emulação acima mencionados, que explicam o tema da perda da palavra.
7. Observações finais.
Os graus azuis do REAA não constituem um todo monolítico e imutável. Surgido em um contexto maçônico-político específico, o período napoleônico, sofreram sucessivas alterações a ponto de tornarem irreconhecíveis suas versões originais. Longe de mostrar uma tradição “de tempos imemoriais”, foram constantemente reformulados e adaptados ao gosto das épocas, o que explica hoje o fato de haver lojas que usam rituais muito diferentes, diversidade explicada pela história interna, tantas vezes negligenciada, dos próprios rituais.
No caso do REAA, pode-se reconhecer, sem abusiva simplificação, três épocas sucessivas.
A primeira, chamada de “imperial”, é marcada por um alinhamento, que podemos chamar de excessivo, ao exemplo “antigo” dos britânicos, alinhamento que explica somente a vontade de se diferenciar do GODF. O resultado, oficializado pelo “Guia dos Maçons”, devia ser impraticável, uma vez que este alinhamento andava de mãos dadas com a manutenção do uso francês emprestado do Rito do mesmo nome ou do Rito Escocês Filosófico. A vontade de incluir, em um ambiente “Escocês”, uma ritualística “antiga”, significava distorcer as duas tradições que se viram, pela força das coisas, parcialmente desnaturadas.
Na segunda época, “romântica”, viu o relativo abandono da tradição antiga no cerimonial utilizado, que só sobreviveu nas várias peripécias da iniciação, na disposição das colunas do Ocidente e na distribuição das palavras, sagradas ou “de passe”. Os rituais do Supremo Conselho dos anos 1829-1842 são exemplares dessa tendência. O esqueleto das cerimônias continua a ser o do Guia: entrada sob a espada, interrogatórios, viagens, juramento, consagração e comunicação dos segredos “antigos”. A decoração da loja continua marcada pela dupla influência, antiga e escocesa. Mas o espírito se modificou consideravelmente: a introdução dos “elementos” no primeiro grau irá permitir, em breve, a interpretação alquímica que será desenvolvida por Oswald Wirth, Jules Boucher e seus imitadores. Os comentários das viagens do segundo grau introduzem considerações pseudo-filosóficas inspiradas no positivismo de Auguste Comte, com ênfase na necessidade de trabalho e na vontade popular, evidenciando preocupações sociais muito distantes da tradição maçônica. O mais significativo é a mutação do mito hirâmico, transformado em alegoria naturalista, e a ocultação completa do tema da perda da antiga palavra do mestre. Muito característico também é o desaparecimento da bíblia
[196] que só deve reaparecer após a segunda guerra mundial, por razões políticas: o desejo de se adaptar às exigências britânicas (Aims and Relationships of the Craft) de 1938-1949, na esperança, logo frustrada, de ver a Grande Loja da França reconhecida pela Grande Loja Unida da Inglaterra.
A última época, contemporânea, viu um retorno ao espiritualismo em conformidade com as exigências inglesas, sem, contudo, que desaparecesse completamente o naturalismo ingênuo da era romântica, ainda perceptível, apesar de algumas mudanças superficiais. Resumindo, reconheça-se que, por uma certa incoerência, esta última evolução traz também os empréstimos inesperados das tradições paralelas: Rito Francês, “Rito de” Emulação, influência companhônica.
7.1 As três leituras da lenda de Hiram
Nas revelações
[xliv] francesas do século XVIII, cujo paradigma foi o “L’Ordre des Francs-Maçons trahi“, de 1745, o tema hirâmico era, no fim das contas, o da união mística do recipiendário com Deus. Vale ressaltar que o Mestre Hiram, assassinado sob as circunstâncias que conhecemos, morreu e está bem morto, como evidencia seu posterior sepultamento. Ele, e só ele, é o candidato, que se “levanta” do túmulo e, assim, “renasce” pela ação conjunta do Venerável Mestre e seus dois Vigilantes. Mas se há “renascimento” ou “ressurreição”, ela ocorre em circunstâncias muito específicas: o túmulo em que se encontra o titular não é o de qualquer arquiteto, mas aquele do Deus das três grandes religiões monoteístas, aqui chamado, com ou sem razão, Jeová, uma vez que este nome está no túmulo conforme ficou evidenciado por gravuras das primeiras revelações francesas do século XVIII(?)
[197]. O neófito entrou, assim, em contato íntimo, carnal, com esse Deus com o qual compartilhou o leito, recebendo dele um sopro, uma faísca, que o faz daí em diante participar da essência divina. A operação pode ser comparada a uma teofagia disfarçada, muito semelhante à eucaristia cristã. Não há necessidade, portanto, de uma “perda”, uma vez que a experiência mística está, assim, concluída; nem há necessidade de mais graus subsequentes, pois tudo está dito. Este ensinamento foi sem dúvida atenuado pelas evoluções posteriores do Rito Francês, mas a identificação de Hiram com a divindade permanece há muito tempo afirmada pela inscrição da antiga palavra do Mestre no túmulo erguido por ordem de Salomão.
A esta interpretação francesa se opõe à versão “antiga” que insiste na perda da palavra, consequência inevitável da morte de um dos três protagonistas necessários para que ainda possa ser comunicada. Esta versão, com base na “regra de três” dos primeiros catecismos ingleses, era fundamentalmente pessimista e requeria que um ou mais graus posteriores viesse atenuar a perda e permitir a (re)descoberta da palavra perdida. Este será o papel do Real Arco anglo-saxão, e também dos equivalentes do REAA, Cavaleiro do Real-Arco e Grande Eleito da abóbada sagrada.
Os desenvolvimentos românticos do REAA dão um significado totalmente novo para o gesto hirâmico: o arquiteto torna-se alegoria solar e emblema naturalista de um fenômeno completamente banal, o desaparecimento do sol no solstício de inverno e seu subsequente renascimento. A morte de Hiram aqui é apenas aparente e sua ressurreição, ou seu despertar, está inscrita na ordem natural. Esta mudança alinha Hiram com o exemplo dos deuses do Oriente Próximo “que morrem e renascem”, e não o fará sem dar ao mito um traço de paganismo que teria surpreendido, não resta dúvida, os pastores londrinos das origens.
As duas últimas leituras estão, sob as aparências, sempre visíveis nas versões atuais do grau de mestre segundo o REAA, não tendo seus redatores tornado perceptível, ao que parece, seu caráter contraditório.
7.2 Coerência dos graus azuis e dos altos-graus do REAA
Então, surge a pergunta: qual é o REAA “real”, e corolário necessário, existe uma tradição autêntica que garanta sua legitimidade para o que se entende como graus azuis?
A resposta, se é que há uma resposta, só pode se basear na articulação deste ritual com altos graus do REAA, os únicos que, finalmente, dão ao sistema a sua coerência e o justificam. Mas essa articulação não se faz sem dificuldade. E por uma razão: os altos graus oferecidos por este Rito são todos anteriores ao aparecimento dos graus azuis, pois foram elaborados entre 1740 e 1760, enquanto os dois últimos graus dos azuis foram desenvolvidos entre 1770 e 1801.
Mas os próprios altos graus não formam um conjunto verdadeiramente coerente. Heterogêneo e de feitura variada, foram organizados em camadas sucessivas que se ligam, às vezes, somente por uma numeração arbitrária: os graus hirâmicos ou “inefáveis”, do 4 ao 14; os graus considerados “de exílio” baseados na construção do segundo templo, 15 e 16; os graus cristãos, joaninos e apocalípticos juntos, entre o 17 e o 19; os graus templários (30o e 32o) e os outros, mais difíceis de serem classificados por causa da inspiração extravagante. Na verdade, a questão de uma eventual coerência com os graus azuis só é colocada entre o grau de mestre e os graus completos hirâmicos que completam o tema da construção do primeiro templo, porque eles são os únicos em que são encontradas as questões deixadas em suspenso na morte de Hiram: a conclusão do templo (tema do 4o até 8o grau), a punição dos assassinos (9o ao 11o grau) e a descoberta da palavra perdida do mestre (tema do 12o, 13o e 14ograus). Claramente, o ritual do mestrado, caso se queira ver a sequência lógica do Rito como um todo, deve colocar essas três questões de forma inequívoca e abster-se de arriscar uma resposta. Para este fim, qualquer uma das três versões acima descritas é completamente satisfatória.
Em resumo, a versão do Guia se articula muito bem com os graus de perfeição, muito mal com os graus de vingança, tornados redundantes, e melhor com os graus centrados na descoberta da palavra perdida. A adoção das peculiaridades do Rito antigo (disposição das colunas do Oriente, deslocamento dos vigilantes, distribuição de segredos) não acrescenta nem retira qualquer coisa do sistema, embora elas não correspondam às prescritas nos altos graus. Estes, não nos esqueçamos, foram desenhados por maçons de tradição e formação “francesa” que nada sabiam sobre o Rito Antigo da Inglaterra. Não é de se admirar que os altos graus muitas vezes se pareçam mais “modernos” que “antigos”. Assim, os Vigilantes, quando há dois
[198], estão sempre dispostos no Ocidente, de acordo com o uso “moderno”, as palavras são comunicadas durante a cerimônia e não antes, e as colunas são colocadas segundo a regra moderna.
A adaptação romântica de REAA não é muito mais satisfatória porque a versão naturalista da lenda de Hiram não dá qualquer relevância à perda da palavra, na medida em que um Hiram “ressuscitante” não pode levá-la para a sepultura. Os graus chave do REAA (13 e 14) tornam-se incongruentes. Em contrapartida, a omissão da punição dos culpados tem sua razão de ser nos graus de vingança.
Quanto às versões contemporâneas, tentam, desajeitadamente na nossa opinião, fazer com que a leitura naturalista se case com a herança antiga, mas este casamento introduz no próprio grau uma confusão lamentável (não se sabe, afinal, se a palavra está perdida ou não).
Estas dificuldades internas dos próprios rituais provoca uma consequência inesperada aos olhos de alguns adeptos do REAA: será que não veem que a articulação entre os altos graus do REAA e os graus azuis homônimos não apresentam nada de específico e que os graus simbólicos de outros ritos, Francês, Moderno (belga), escocês filosófico e outros, podem facilmente servir como introdução aos altos graus em questão porque fazem as mesmas perguntas?
O que se pode concluir é que falta ao Rito um Willermoz para estabelecer uma coerência perfeita para as sucessivas fases do conjunto. No estado atual, nenhuma das variantes dos graus simbólicos do REAA justifica a afirmação de que os 33 graus do Rito Escocês constituem um conjunto único e obrigatório. Seria herético pensar que os graus azuis de todos os Ritos preparam igualmente para os ensinamentos dos altos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito?
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Publicado em 21 jan 2014
Notas
[i] Graus azuis é uma das formas (pouco usada no Brasil) de se denominar os graus simbólicos, ou seja, os três primeiros graus da Maçonaria: Aprendiz, Companheiro e Mestre (N.T.)
[ii] Médico, professor na Universidade de Bruxelas, praticou todas as maçonarias, francesa, inglesa, escocesa e americana. Autor de inúmeros artigos, é um reconhecido especialista em história dos ritos e prática maçônicas.
[iii] GODF é a sigla que designa o Grande Oriente da França. (N.T.)
[iv] Compagnonnage, no original. Designação genérica das associações de obreiros e artesãos franceses. (N.T.)
[v] GLNF é a sigla que designa a Grande Loja Nacional Francesa. (N.T.)
[vi] GLDF é a sigla que designa a Grande Loja da França. (N.T.)
[vii] O texto abaixo, em itálico, contém uma série de referências, siglas e abreviaturas associadas a graus filosóficos, cuja tradução decidimos não realizar em função do grau de dificuldade para fazê-lo e por não as julgarmos relevantes para a compreensão do artigo como um todo. (N.T.)
[viii] Traduzimos por revelações o que o texto original chama de divulgations. Talvez pudéssemos ter traduzido por vazamentos, já que esta denominação é dada às publicações que trazem a público particularidades dos procedimentos e rituais maçônicos (N.T.)
[ix] Segundo Albert Mackey, em sua Enciclopédia da Maçonaria, Lojas Mães foram lojas que, no século XIX, na França e na Alemanha, assumiram uma posição independente e emitiram licenças para a constituição de lojas afiliadas, reivindicando para si as prerrogativas de Grandes Lojas. Mackey também afirma que este sistema é irregular. (N.T.)
[x] Ao longo deste artigo o Le Régulateur du Maçon é chamado de Regulador. É uma compilação de regras e diretrizes para a prática dos três primeiros graus. (N.T.)
[xi] Three Distinct Knocks, em inglês, ou TDK em outras partes deste texto. Significa Três Golpes Distintos em português. Seu nome completo é Three Distinct Knocks, Or the Door of the most Antient Free-Masonry. É um livro que contém revelações sobre a maçonaria. (N.T.)
[xii] Aqui parece que o autor se confundiu e repetiu a disposição das colunas para os vigilantes
[xiii] Segundo o Houaiss, brumário é o segundo mês do calendário republicano francês, correspondente ao período compreendido entre os dias 22, 23 ou 24 de outubro e 20, 21 ou 22 de novembro (dependendo do ano). (N.T.)
[xiv] Capital da Repúbica Dominicana. (N.T.)
[xv] Supremo Conselho para a Bélgica (N.T.)
[xvi] Guia dos Maçons Escoceses ou Cadernos dos três graus simbólicos do Rito Antigo e Aceito (N.T.)
[xvii] Tradução de Le Guide des Maçons Ecossais. Ao longo do texto, este livro aparece também sob o nome de Guia. Como visto no começo deste capítulo e se verá mais adiante, o nome completo do livro é Le Guide des Maçons Ecossais ou Cahiers des trois grades symboliques du Rit Ancien et Accepté. (N.T.)
[xviii] Telhamento nas lojas filiadas ao GOB e Trolhamento nas lojas filiadas às Grandes Lojas. (N.T.)
[xix] É a tradução para o francês do Three Distinct Knocks descrito na nota vii. (N.T.)
[xx] Segundo o Houaiss, crepe é um “tecido leve, encrespado e preto, utilizado em intenção de luto” (N.T.)
[xxi] A Ordem dos Franco-maçons traída (N.T.)
[xxii] OTelhador, neste caso, é um livro ou manual descrevendo procedimentos maçônicos. (N.T.)
[xxiii] Telhador dos trinta e três graus do escocismo do Rito Antigo, dito Aceito (N.T.)
[xxiv] Telhador dos trinta e três graus do escocismo, ou manual maçônico dos diversos ritos praticados na França. Nova edição, corr. e aumentada (N.T.)
[xxv] Manual maçônico, ou Telhador de todos os ritos de maçonaria praticados na França por um veterano da maçonaria (N.T.)
[xxvi] Escrito pelo Ir. Fondeviolles (N.T)
[xxvii] Arte do Perfeito Thelhador (sic). N.T.
[xxviii] Único e perfeito Thelhador (sic) para os 33 graus de maçonaria escocesa. N.T.
[xxix] Souverain Chapitre Métropolitain du Rite Ecossais Philosophique. N.T.
[xxx] Os regulamentos gerais da Maçonaria Escocesa. N.T.
[xxxi] Referência ao livro Le Guide des Maçons Ecossais. (N.T.)
[xxxii] Rito Escocês Antigo e Aceito. Ritual dos três primeiros graus segundo os antigos rituais (N.T.)
xxxiii] Three Distinct Knocks. N.T.
[xxxiv] Lembre-se: este artigo foi escrito na França. N.T.
[xxxv] Notas sobre o segundo discurso (N.T.)
[xxxvi] A verdadeira conexão dos povos ou a Franco-Maçonaria devolvida aos seus verdadeiros princípios. (N.T.)
[xxxvii] Curso Prático da Maçonaria publicada a pedido e sob os auspícios da R\ L\ Isis-Montyon (N.T.)
[xxxviii] Ritual Interpretativo do grau de Aprendiz (N.T.)
[xxxix] Cartouche, no original. Segundo o Larousse, é um “ornamento em forma de mapa, não totalmente desenrolado, feito para receber um registro ou um brasão de armas.” N.T.
[xl] Ou taça sagrada N.T.
[xli] A história da rainha da manhã e de Suleiman príncipe dos gênios. (N.T.)
[xlii] Compagnonnique, no original. Relativo à compagnonnage (guildas francesas), denominação genérica das associações de obreiros, companheiros de um mesmo corpo de ofícios, para fins de instrução profissional e assistência mútua. (N.T.)
“Ir. 2o. Vig., como um M. M., de onde vindes?
Do Leste, V. M.
Ir. 1o Vig., para onde dirigi vosso curso?
Rumo ao Oeste, V. M.
O que vos fez deixar o L. e ir para o O.?
Buscar o que está perdido, que, por vossa instrução e nossos próprios esforços, esperamos encontrar.
O que é que está perdido?
Os verdadeiros segredos de um M.M.
Como se perderam?
Pela morte prematura de nosso Mestre, H. A.” (N.T.)
[xliv] Traduzimos por revelações o que o texto original chama de divulgations. Talvez pudesse ter sido traduzido por vazamentos. (N.T.)
[1] “Dogmática”, no sentido usado no século XIX, significa “regulamentar” ou “que segue o regulamento”.
[2] John Mitchell (1741-1816), de origem irlandesa, desempenhou um papel importante na Guerra da Independência.
[3] Dalcho, Frederick (1770-1836). Sucedeu a John Mitchell após sua morte, em 25 de janeiro de 1816. Renunciou às suas funções em 7 de novembro de 1823. Médico em seguida Diácono (em 1816) e sacerdote (1818) da Igreja Episcopal (Anglicana).
[4] “Embora muitos dos graus Sublimes sejam, na verdade, uma extensão dos graus azuis, não há interferência entre as duas instituições… Os Maçons Sublimes jamais realizarão iniciações aos graus azuis sem autorização concedida para este fim por uma Grande Loja”. Circular “Para os Dois Hemisférios”, de 04 de dezembro de 1802, escrita por Frederick Dalcho, Isaac Auld e Emmanuel de La Motta, assinada por John Mitchell, Soberano Grande Inspetor Geral do 33o grau e Grande Comendador dos Estados Unidos da América, e Alexander Abraham, Secretário do Sacro Império.
[5] Filho mais velho do almirante De Grasse, que se tornou ilustre na guerra da independência americana, Alexandre François Auguste, conde de Grasse, príncipe de Antibes, Marquês de Tilly, nasceu em Versalhes em 14 de fevereiro de 1765. Foi iniciado na Loja-Mãe Escocesa du Contrat Social, em 8 de janeiro de 1783. Após a morte de seu pai, deixou a França no início de 1789 para tomar posse de uma herança de plantações em São Domingos. Em 1793, a revolta de escravos o obrigou a fugir com sua esposa, sua filha e seu padrasto, Jean-Baptiste Marie Delahogue (1744-1822), para Charleston (Carolina do Sul), onde chegou em 14 de agosto. Os dois homens participaram da fundação (1796), naquela cidade, da loja “La Candeur” que de Grasse presidiu em 1798 antes de renunciar, em 04 de agosto de 1799, para se tornar, seis dias mais tarde, o primeiro Venerável da “Réunion Française“, subordinada à Grande Loja dos “Antient York Masons” da Carolina do Sul. Enquanto isso, ele tinha sido feito “Deputado Grande Inspetor Geral”, e 25o grau do Rito “de Morin”, em 12 de dezembro de 1796, e seu padrasto e outros doze refugiados franceses participaram do treinamento, dado por Hyman Isaac Long no lobby da loja “La Candeur“, sobre o Grande e Sublime Conselho de Príncipes do Real Segredo (Charleston), em 13 de janeiro de 1797. Ele retornou no ano seguinte a São Domingos, desejando participar da malfadada campanha do general Hedouville. Foi capturado pelos rebeldes, mas, tendo se tornado cidadão dos EUA em 17 de junho de 1799, foi libertado rapidamente, e pode voltar a Charleston e ganhar a vida desempenhando várias ocupações honrosas, mas sem brilho. Em 27 de dezembro de 1800, tornou-se Grande-marechal da Grande Loja da Carolina do Sul (“Antigos”), onde John Mitchell, futuro fundador do Supremo Conselho de Charleston, era Grande Secretário. Morreu em 10 de junho de 1845.
[6] Thomas Bartholomew Bowen (1742-1805), Membro do Supremo Conselho antes ou em 5 de julho de 1801.
[7] Israel De Lieben (1740-1807), um dos quatro judeus que foram membros do primeiro Supremo Conselho. Ele foi admitido entre 05 de julho de 1801 e 10 de janeiro de 1802.
[8] Abraham Alexander (1743-1816), judeu como o anterior. Membro do Supremo Conselho em ou antes de 15 de junho, 1801.
[9] Jean Baptiste Marie Delahogue (1744-1822), nascido em Paris, padrasto de Grasse-Tilly.
[10] In Extrato das Colunas gravadas no Sob\Cap\Escoc\ do Rito antigo e aceito do Pai de Família, vale de Angers, 1812: 30-35.
[11] Com a morte de seu pai ele tornou-se o duque de Orleans antes de passar para a posteridade sob o nome de Philippe-Egalité.
[12] “Grand Livre d’architecture de la Três respectable Grande Loge de France. 9 février 5789 au 5 juin 5798″. Edições du Prieuré, 1996 (em colaboração com o Museu da Grande Loja da França).
[13] Ver: Louis Charriere (1938), p. 10.
[14] A.G. Jouaust (1865), p.229.
[15] Daniel Ligou (1991), Prefácio do “Rituels du Rite Français Moderne 1786“. Edições Slatkine, pp. XV-XVI.
[16] In Ligou 1991: 2-3. Sentença idêntica no prefácio do “Regulador …” de 1801, p. 4.
[17] As condições para o nascimento do Grande Capítulo são um tanto obscuras, marcadas por manipulações relacionadas com a “patente Gerbier”. Não fazem parte do nosso propósito.
[18] Ligou, op.cit. (1991), p. xvi.
[19] Etienne Gout (1985) p. 15.
[20] Grau que Gout, seguindo Pyron, insiste em chamar de “Judéia” para distingui-lo, sem dúvida, do futuro grau 18o do REAA (Gout, 1985 op.cit., P.15). O manuscrito de 1786 fala apenas de “Rosacruzes”.
[21] Artigo 29 dos “Estatutos Regulamentos gerais do G\Cap\G\da Fça\” (in Ligou, op.cit., 1991, p. 7). No catálogo da Biblioteca do Grande Oriente dos Países Baixos (fundos Kloss), uma nota manuscrita de Kloss especifica que o Grande Oriente incluía na 5a Ordem 9 graus de 9 graus ou 81 no total.
[22]. “Circulares da Grande Loja da França de 14 de agosto de 1766 e do Conselho Soberano dos Cavaleiros do Oriente de França, de 21 de setembro de 1766, relativas à supressão das Lojas- mães”, in Alain Le Bihan, 1973, pp.440-443.
[23] Pierre Mollier, comunicação pessoal
[24] In Pierre Chevallier, 1974, p. 380.
[25] Gout, 1985, op.cit. p. 15.
[26] Constituído pelo GODF em 04 de marco de 1785 para ter lugar em janeiro de 1776 (Le Bihan, 1990: 164)
[27] J. Bossu, Renaissance Traditionnelle, 1977 32: 305-307.
[28] P. Fesch Bibliographie de la Franc-Maçonnerie et des société secrêtes, 1910, publicado por G.Deny em 1976.
[29] La Parfaite Union de Douai foi formada pelo GODF em 12 de agosto de 1779, para ter lugar em 3 de dezembro de 1777. Foi filiada pelo Sob. Capítulo da Loja Mãe do Rito Escocês Filosófico em 03 de março de 1784 (A. Le Bihan, “Loges et chapitres de la Grande Loge et du Grand-Orient de France. Loges de province“.1990: 78).
[30] Note-se que Abraham não fala dos graus azuis.
[31] As particularidades descritas aqui foram adotadas pela Grande Loja Unida da Inglaterra após a fusão das duas Grandes Lojas rivais, em 1813. É isso que explica que todas sejam encontradas hoje no chamado, erroneamente, de “Rito de Emulação”.
[32] Instalada em Paris, em 9 de fevereiro de 1802 (Kloss, 1844: entrada 4459).
[33] A Parfaite Union, formada em 1755, filiada ao GODF em 1777, recebe em 1783-1784 as constituições da Loja Mãe do Rito Escocês Filosófico. Adormecida de 1792 a 1800, passou por um período notável de prosperidade de 1800 a 1810. Voltando a adormecer por razões políticas, volta à vida em 1816. Eliminada das listas do GODF em 1833, é reintegrada em 1833. Infiltrada por elementos republicanos, será fechada em 1851 por decisão prefeitorial porque “as reuniões podem se tornar perigosas para a ordem e tranquilidade pública” (Roland Allender, in la revue du Nord, tomo LXXII, 1990).
[34] Fundada, segundo a lenda, em 1751 por Georges de Walnon, um escocês jacobita, esta loja levou o título distintivo da Loja-Mãe em 1762. Em 1801, ela se declarou Loja-Mãe Escocesa da França e desapareceu em 1812 (Mazet, 1980).
[36] Esta réplica valeu à Réunion des Etrangers seu afastamento pelo GODF, em 10 de junho, 1803 (Kloss, 1744: entrada 4481).
[37] E. Gout de 1985: 32. Esta afirmação permite qualificar de “escoceses” os rituais de qualquer loja que pratique os altos graus. Por isso, algumas pessoas classificam de escoceses os rituais (1763) da Vraie et Parfaite Harmonie, de Mons, dedicados ao marquês de Gages, conclusão pelo menos arbitrária.
38] Notadamente a Estrita Observância alemã, o Rito Sueco de Eckleff e aquele alemão, de Zinnendorf.
[39] Houve 3 lojas Rito Escoc6es Filosófico em 1804. Eles serão 34 em 1811 e 42 em 1813 (Christian Charley, Tradition Ecossaise no 1, 2000).
[40] Deixo de lado o Rito Escocês Retificado que estava praticamente adormecido naquele momento.
[41] R. Desaguliers 1983, 54-55: 94-95.
[42] P. Chevallier, 1974, I: 185-194.
[43] O Rito Escocês Filosófico foi praticado na Bélgica durante a ocupação francesa.
[44] R. Desaguliers, 1983, 54-55: 88-101.
[45] A palavra começada em M é aquela dos “Modernos”, como em todas as lojas francesas daquele tempo.
[46] Sabemos que esta foi uma das críticas faziam os “Antigos” e seu ebuliente Grande Secretário, Laurence Dermott. Esta outra Grande Loja, fundada em 1751, tinha como palavras, B no 1o grau e J no 2o.
[47] É plausível que estas purificações fossem uma inovação do Rito Escocês Filosófico, adotadas, em seguida, pelo GODF, uma vez não aparecem nas revelações francesas dos anos 1745-1755, nem nos rituais do marquês de Gages, de 1767.
[48] R. Desaguliers 1983, 54-55: 96. Reproduzidos no “Regulamento Geral da maçonaria Escocesa”, impresso em Paris pela gráfica de Nozou, rue de Clery, no 9, 1812. (Exemplar conservado no museu do exército, Bruxelas).
[49] Catéchisme des Francs-maçons, 1744, fig. 2 e 3; L’Ordre des Francs-Maçons trahi et le Secret des Mopses révélé, 1745; La désolation des entrepreneurs modernes,1 745; le Maçon démasqué, 1745, para citar alguns.
[50] S.Vatcher, (1968): 9-67.
[51] As ilustrações do “Regulador” mostrando os candelabros em forma triangular.
[52] Diríamos o Venerável Mestre.
[53] Nouveau catéchisme des Francs-Maçons… M.CCCC.XL do dilúvio, p.43. Escrito anônimo, sem dúvida de Louis Travenol. Fesch diz que a data é 1740, o que é impossível (leia-se 1749). As palavras sublinhadas por mim demonstram que a luz do Oriente está a NE, a do Sul a SE. A legenda que acompanha o painel do 3ograu confirma esta interpretação.
[54] In “Dialogue between Simon and Philip” D.Knoop, G.P. Jones, D.Hamer, 1943, reedit. 1963: 181.
[56] Le Recueil précieux de la maçonnerie Adonhiramite, 1786: 23.
[57] Eu coloquei entre parênteses as palavras “no Oeste” e “no Sul”, porque elas denotam o uso tardio e tipicamente “antigo” que tinha movido os vigilantes. Os “modernos” situam a ambos no Ocidente, como até hoje se usa no continente nos Ritos de ascendência “Moderna”.
[58] Note-se o “pressupõem”: esta terceira coluna é imaginária.
[59] Esta nova disposição será adotada por Willermoz em sua primeira versão dos rituais do Rito Escocês Retificado (1778).
[60] In Desaguliers 1983: 96 .. O autor acrescenta que esses artigos permanecerão inalterados no “Regulamento Geral da Loja Mãe Escocesa do Contrat Social“, datado de 1780, e no “Regulamento Geral da Maçonaria Escocesa” impresso pela Loja-mãe Escocesa de Saint Alexandre d’Ecosse, em 1805. Esses regulamentos foram reeditados pela gráfica Nouzou, em Paris, em 1812.
[61] R. Desaguliers 1983: 97. Escrita sob o nome de René G., este autor já havia desenvolvido esta análise em 1963 (Les trois colonnes Sagesse-Force-Beauté et les Trois grands Chandeliers).
[62] Ou melhor, consagrou a si mesmo na presença do Papa!
[63] A. Dore, 1991: 144-145, ver também Baynard de 1939 66, e Vassal, 1827: 17. Em 1815, Hacquet se tornou o primeiro Grande Comendador do que viria a ser o Grande Colégio de Ritos.
[64] Ele recebeu no grau 33 a John Morales, Vice Grande Inspetor para a Jamaica e presidente do Consistório de Príncipes do Real Segredo estabelecido em Kingston, em abril de 1770 por Morin (inGout 1995, pp 85-86.). Alguns documentos dizem que criou em seguida um Conselho Supremo (in M.R.Poll, 2000, pp. 42-43).
[65] Em 15 de fevereiro deste ano, ele assina como visitante a ata da loja “La Candeur“.
[66] Ele morreria em Austerlitz.
[67] Ela substituiu a loja-mãe de Grasse-Tilly, “Saint-Jean du Contrat Social “, desaparecida com a revolução. Naquele dia, Leuven de Pecheloche colocou a culpa no GODF: “Nós ainda somos os mesmos, mas o GO mudou: os trabalhos pelos quais ela tem sido frequentemente aplaudida, ele não quer reconhece-los com regulares pela a falsa ideia que dá à palavra Escocês. Ele rejeita de seu seio as LLoj\ Escoc\embora continue a se corresponder com GG\OO\ estrangeiros dos quais emanam as nossas constituições primitivas” in Gout, 1985: 32.
[68] Trata-se do SC “das Ilhas da América”, fundado, como vimos, em Charleston, em 1802 e divulgado em Paris, em 1810, por seu Tenente Grande Comandante, Delahogue (de Grasse estava, mais uma vez, prisioneiro dos ingleses).
[69] In Extrato do livro de visitantes do Supremo Conselho. 18 de agosto de 1818: 1-2. Citado por Gout, 1985, p.17.
[70] Delahogue, padrasto de Grasse-Tilly, só voltou para a França no final de 1804, depois de uma estadia de vários meses em Nova Orleans.
[71] Incluindo o “Príncipe do Real Segredo”, grau 32, e o “Grande Inspetor Geral”, 33o e último grau do Rito”.
[72] Le Tricheux tornou-se membro do SC da França; Bailhache, do SC da América. (Bernheim, em 1986, Parte 3, pp. 136-137).
[73] I n Gout ,1995, pp.46-47:
1 – Francois-Christophe Kellermann, marechal do Império (Duque de Valmy em 1808) (sem data conhecida).
2 – Bernard-Germain-Etienne de la Ville, conde de Lacepede, membro do Instituto, Grande-Chanceler da Legião de Honra, senador (sem data conhecida).
3 – Louis-Charles Bailhacheantigo oficial (08 de outubro de 1804)
4 – Jean-Baptiste Vidal, antigo proprietário (10 de outubro).
5 – Germain Hacquet, comerciante, antigo notário em São Domingos (11 de outubro?).
6 – Claude-Antoine Thory, antigo corretor de câmbio, banco e finanças da cidade de Paris (mais tarde Cavaleiro) (12 de outubro).
7 – Godfrey-Maurice-Marie-Joseph, Príncipe de La Tour d’Auvergne, coronel de infantaria (13 de outubro).
8 – Abade Jean-Joseph Bermond d’Ales d’Anduze, antigo cônego-conde de Viena, vigário geral honorário de Arras (14 de outubro).
9 – Jean-Baptiste Timbrune Thiembronne, conde de Valência, general de divisão (mais tarde senador, conde do império, par de França) (15 de outubro).
10 – Frederick-Charles-Joseph de Haupt, antigo cavaleiro de Malta (16 de outubro).
11 – Renier Bernardin, ex-nobre veneziano (19 de outubro).
12 – Joseph-Louis Leuven de Pescheloche, major (20 de outubro)
13 – Jean-Pierre Mongruer de Fondeviolles, proprietário em São Domingos (24 de outubro).
14 – Jean-Baptiste Pyron, antigo advogado, pouco depois “Secretário do Santo Império” (25 de outubro).
[75] In “Acta Latomorum …”, 1815, vol. I, p. 222. Esta data é aceita por Lantoine.
[76] A. Doré, 1991, p. 149.
[77] E. Gout, 1985, p. 19.
[79] A. Doré,1991, p.150.
[80] Texto em A. Lantoine, 1927, pp. 128-129.
[81] A. Doré, 1991 p.152.
[82] E. Gout, 1995, p. 54.
[83] A. Doré, 1991 p.154.
[84] In Extrait du livre d’architecture de la R\L\Ecossaise de Saint-Napoléon à l’O\ de Paris, 1805: 9-62.
[85] In Sétier, 1832: 60-65. Muito imperfeitamente citado por Jouaust, 1865: 309-310.
[86] Esta é a primeira vez que aparece a expressão “Rito escocês antigo aceito.”
[87] A maioria recebeu um prêmio de consolação. Hacquet, Fondeviolles, Giraud, Pyron, Thory, Bailhache, deTrogoff tornaram-se Grandes Oficiais de segunda classe.
[88] Precedência do Grande Oriente da França, in Sétier, 1832: 71
[89] Por alguma razão desconhecida, o terceiro comissário, Bacon de la Chevalerie, não é citado entre eles
[90] E. Gout 1985, p. 28.
[92] Pyron, 1817: 36-41. Lantoine, 1927, II: 141-143.
[93] Note-se que nenhuma das lojas mencionadas faziam parte da Grande Loja da França, que se uniu em 1799 à GODF. Por isso, é errado dizer que esta Grande Loja foi “reconstituída”.
[94] Os Escoceses aceitaram então a formação deste Diretório de Ritos, muitas vezes apresentado como o casus belli, que ateou fogo na pólvora!
[97] Citado por Pyron (1817: 41), que está longe de ser uma testemunha imparcial!
[98] Faltou à Restauração por que as lojas azuis se colocaram sob a autoridade do Conselho Supremo da América em primeiro lugar, e, em seguida, do Conselho Supremo da França durante seu despertar em 1821.
[99] A Loja Marie-Louise não era outro senão a Réunion des Etrangers que tinha mudado seu nome em março de 1810, um mês antes do casamento de Napoleão e Marie-Louise da Áustria.
[100] Rue Royale 265, 1030 Bruxelas.
[102] O ritual em si poderia ser mais velho, já que a loja foi fundada em 1801.
[103] Grande Loja fundada em 1751.
[104] Este erro foi corrigido no “Guia …”.
[105] Se esta não for a loja “Antiquity“, de William Preston e suas lojas que bondosamente chamam a si mesmas de “eruditas”.
[106] Variante do ritual do SCPLB discutido mais tarde: “e caminham em caminhos seguros.”
[107] “diante do Mestre do universo.”
[108] “ele subsiste por si mesmo.”
[113] “que este novo aspirante”.
[114] “a nossos augustos trabalhos.”
[115] Na Inglaterra, esse papel era exercido pelo segundo diácono.
[116] No ritual do Rito Escocês retificado adotado em Lyon, em 1778, a luz já havia sido dada em duas etapas, sem “cadáver”.
[117] No TDK, a oração é abertamente cristã, e é “não-confessional” no ritual francês.
[118] Abraham aparece como 32o, Príncipe do Real Segredo, na “tabela geral” dos membros do Conselho Supremo, lista de membros publicada no livro de visitantes deste, em 1806.
[119] O manuscrito é mantida pelo Fundo Kloss. (Catálogo noXXVII-407). Ele contém a data do 8o dia do mês de nizan 5567 (16 de abril de 1807).
[120] Lembre-se que o sinal penal “ao ventre” não existe na maçonaria de estilo francês que desconhece penalidade própria do grau de mestre.
[121] Joseph Bonaparte, irmão do imperador, foi o Grão-Mestre nominal do GODF”.
[122] Note-se a triplicação das luzes de canto, como foi o caso no rito francês de dos ritos escoceses, filosófica ou retificado.
[123] Ritual do SCPLB, p. 100.
[124] Única diferença notável: quando o candidato recebe luz no primeiro grau, o venerável disse “Sic Transit Gloria Mundi”, como no Rito Retificado.
[126] Edição de1830, página 22.
[127] Nuance, portanto, em relação ao TDK: o 1o vigilante está a N.O. e não no Oeste.
[129] Se esta não é a construção bem recente de René Guilly, intitulada “Rite Français rétabli” (tornando-se mais tarde “Rite Français Traditionnel”
[130] Eles só fizeram traduzir o título americano: Grande Loja dos Antigos e Aceitos Maçons.
[131] Fascinação da qual ainda temos muitos exemplos.
[132] Foi ainda grande oficial.
[133] Baynard, 1937 : 66.
[134] Hacquet era venerável da Phénix quando da reunião de setembro de 1805 que testemunhou a denúncia da concordata.
[135] Atual Grande Colégio dos Ritos.
[136] 22 de novembro de 1815 (in Gout 1992 : 61).
[137] Seria bom se os rituais REAA azul tivessem sido escritos pelo primeiro Grande Comendador do Grande Colégio de Ritos.
[138] Citação de Kloss, gentilmente cedido por Alain Bernheim.
[139] Livro de visitantes do Supremo Conselho.
[140] Só poderiam ser conferidos o 27o, 29o, 31o, 32o e 33ograus do Rito.
[141] Decreto que reafirmava o de 1806.
[142] Livro de visitantes. Os Capítulos dependiam, lembremo-nos, exclusivamente do GODF.
[143] Pyron 1817 : 61-64.
[144] Carta de Fondeviolles, Inspetor do 33o grau a IIl. e Sub Inspetores gerais, componentes do Supremo Conselho do 33°, recebida em 09 dezembro de 1811: “ILL G Inspetores, a minha idade e minhas enfermidades, quase contínuas, privam-me de assistir os seus trabalhos, como eu gostaria; eu vos imploro que vocês aceitem minha demissão de membro do Supremo Conselho. Faço votos para a propagação do Rito antigo e aceito, do qual vocês são o suporte e o apoio. Aceito, …. “.
[145] Não estou dizendo que ele era o autor!
[146] Escrito pelo Ir. Fondeviolles.
[147] Pyron, 1817 : 69-71.
[148] Livro de visitantes do Supremo Conselho da França. Reunião de 30 de Janeiro de 1813.
[149] A.Bernheim, 1987, p. 37.
[150] Alusão ao registro contendo o juramento de obediência ao Supremo Conselho por dignitários do GODF, incluindo Roëttiers, em 29 de dezembro 1804, quando foram recebidos no 18o, 31o, 32o ou 33o graus (texto em Pyron, 1817 : 26; Jouaust, 1865 : 312 e Lantoine, 1927, II: 145-146).
[151] In Vassal, 1827: 43-45. Não parece que o Grande Oriente tenha respondido a esta carta.
[152] Foi, naquele ano, Venerável da Loja La Charité no 93, em Nova Orleans, antes de receber, em 29 de julho, uma licença emitida pelo Supremo Conselho de Charleston, do Soberano Grande Inspetor Geral do grau 33 e Tenente Grande Comendador da Antilhas Francesas” (in «History of the Supreme Council, 33°. Antient Accepted Scottish Rite of Freemasonry. Northern Masonic Jurisdiction of thee United States of America», SHBaynard, 1937 : 65).
[153] Ele irá se tornar o atual Grande Colégio de Ritos do GODF.
[154] As lutas internas que se seguiram à cisão do Supremo Conselho da América em duas organizações rivais, embora homônimos, conhecidos como Pompéia e do Prado, estão fora do nosso propósito. Nós só estamos falando de “Pompéia”.
[155] Gout, 1999, pp. 297-476.
[156] Carta concedida em 20 de abril de 1842 e assinada pelo general conde de Fernig, tenente Grande Comendador, e A. Genervay secretário-geral do SCDF.
[157] Tradução reeditada por Art de Hoyos, 1995.
[158] “O ritual da R L “Le Progrès de l’Oceanie” Ordo ab Chao, 1999, No. 39-40: 477-650.
[159] Frase curiosa na qual sem dúvida faltam uma ou mais palavras. A tradução inglesa também está incorreta.
[160] Ordo ab Chao, 1999 : 544-545.
[162] Toscana, dórica, jónica, coríntia e compósita.
[163] Ibid. 1999 : 631-632.
[164] Note-se que o ritual de aprendiz do Rito de Misraim, datado de 1839, prevê as provas da terra (câmara de reflexões), da água (1a viagem), do fogo (2a viagem) e do ar (3a viagem). Que seja do meu conhecimento, esta é a primeira menção explícita aos quatro elementos. Este ritual combina elementos do Guia (incluindo os segredos “antigos”) e do Regulador. Lá, os diáconos são chamados de “levitas” (manuscrito 1207 da biblioteca de Toulouse, reimpresso em Serge Caillet, 1994 : 35-75).
[165] Equivocadamente chamado hoje de “Rito de York”, na França. Lembre-se que esta expressão, nos EUA, designa é um conjunto de graus adicionais aos três graus simbólicos, do Mestre da Marca ao Cavaleiro Templário Mark passando pelo Arco Real os graus “crípticos”.
[166] Webb, 1797 : 61-84.
[167] Preston, 13a edição, 1821 : 47-67. Em muitas lojas inglesas atuais, os pilares que sustentam as “pequenas luzes” são, respectivamente, das ordens jônica (para o venerável mestre), dórica (para o primeiro vigilante) e Coríntia (para o segundo vigilante). Quanto aos globos, ficam sobre as colunas colocados nas mesas dos dois vigilantes.
[168] Ao contrário do que se poderia pensar, esta mutação não foi o fato do Rito de Misraim, que seus fundadores tentarem implantar em Paris durante a Restauração. O grau de mestre segue fielmente o relato do Guia (Caillet, 1994 : 95-117).
[170] Des Etangs, 1825: 99-100.
[171] Jean-Baptiste Chemin-Dupontès (1767-1850), escritor e fundador da “teofilantropia” (culto familiar, deísta e humanitário). Foi membro da Grande Loge Ecossaise des Propagateurs de la Tolérance, subordinada ao Supremo Conselho da América, foi venerável da Sept Ecossais Réunis (SCDF), em 1823, membro da Rigides Ecossais, em 1827, e da loja Isis-Montyon (GODF), em 1835. Em 1833, presidiu a Câmara do Supremo Conselho dos Ritos do GODF.
[172] “Cours …”, 1841 : 184.
[173] “Cours …”, 1841 : 186.
[174] “Cours …”, 1841 : 189-190.
[175] A convenção de setembro de 1877 suprimiu do artigo 1odas Constituições do GODF a obrigação da crença em Deus e na imortalidade da alma. O GADU não foi mencionado.
[176] A Grande Loja Simbólica Escocesa ainda permitiu, entretanto, que suas lojas utilizassem o ritual de sua escolha, Rito Francês ou o REAA.
[177] Palavras riscadas e substituídas à mão pela “Grande Loja”.
[180] Riscado no SC. Em 3 de Março de 1903, a reunião da Grande Loja decidiu que a expressão Grande Arquiteto figurasse nos rituais, mas que as lojas estariam livres para usá-la ou não (Ata dos trabalhos do Conselho federal, de janeiro a abril de 1903 : 21-24 , in F. Rognon em 1994 : 71).
[181] O ternário está colocado à mão no SC.
[182] “Em nome do Supremo Conselho” no SC, “Em nome da Grande Loja da França” na GL.
[183] Estes comentários são muito mais curtos na GL.
[184] Relato publicado em “Voyage en Orient“, lançado em 1851.
[185] Gérard de Nerval, OEuvres II, Biblioteca de la Pléiade, 1961, 531-533. Nerval não era maçom
[186] “Le REAA à travers les âges“, in l’Union Maçonnique, 4o ano, sem data posterior a 1962.
[187] O reconhecimento das “colunas” já foi feito na abertura da loja de aprendiz do Rito de Misraim, em 1839 (Caillet, 1994).
[188] O acendimento ritual das velas nunca tinha sido praticado até então no REAA, nem no Rito francês. Só é conhecido no rito Escocês Retificado depois da redação por Willermoz da versão final dos graus azuis daquele Rito (circa 1787). Foi emprestado do Elus Coens de Martinez de Pasqually.
[189] J.Corneloup. Universalisme et Franc-maçonnerie. Hier et aujourd’hui. 1964 : 94.
[190] “Diáconos” erroneamente traduzido como “expertos” na versão francesa do Rito de Emulação em uso na GLNF.
[191] A referência às ordens de arquitetura é muito significativa. Isto é tanto uma cópia do uso inglês descrito mais acima, quanto sinal visível de que os pilares e as luzes são confundidos no REAA.
[192] Não sei quando nem onde foi introduzido ou este episódio. Note-se que é prática corrente, desde os anos 1960, nas lojas belgas que trabalham no rito moderno, sem distinção de obediência.
[193] Lucien Charles Murat (1803-1878), filho de Joachim Murat e de Caroline Bonaparte, Grão-Mestre do Grande Oriente da França de 1852 a 1861.
[194] O retorno também marca a comunicação da palavra de passe do 2o de e 3o graus antes da cerimônia de recepção.
[195] Lembremo-nos que nos ritos herdados do século XVIII (francês, escocês filosófico e escocês retificado), a loja é iluminada por nove luzes, aludindo aos nove mestres enviados em busca de Hiram.
[198] Em particular no 14o, 18o, 30o e 32o graus, que são os mais importantes do sistema.