sexta-feira, 3 de maio de 2019



NIETZSCHE E A MORTE DE DEUS


As doutrinas esotéricas sugerem que nos primórdios da criação, a humanidade compartilhava dos mesmos símbolos arquetípicos, razão pela qual havia uma unidade cultural que unificava os grupos humanos e os fazia partícipes de um mesmo destino. Nesses áureos tempos, havia uma língua universal, falada por todos os povos, e a humanidade vivia em paz, sob os olhares de deuses bondosos e complacentes.

Foi a partir da multiplicação das línguas que tudo mudou, e nesse dia o mal entrou na terra. Isso é o que dizem as antigas tradições e a Bíblia, no episódio da Torre de Babel, atesta essa velha memória como sendo a experiência básica que destruiu a unidade da raça humana e implantou as diferenças que até hoje se observam.

É possível que o mal tenha realmente entrado no universo quando os homens começaram a “fazer” história, ou seja, a partir do momento em que passaram a compor exercícios semióticos variados, como consequência da multiplicidade de linguagens que se instalou na terra com a multiplicação das famílias humanas. Por essa razão os símbolos deixaram de ser comuns e Deus afastou-se dos homens, pois desse momento em diante, sua história não seria mais que um reflexo das suas próprias consciências, não mais refletindo a Consciência Dele.

É provável, também, que até certo momento na vida dos grupos que povoaram a terra, tivesse sido possível para os homens captar o reflexo da Consciência Divina e com isso interferir nas próprias ações da natureza. Mas isso, como se pode perceber, deixou simplesmente de acontecer a partir de certa época.

É certo que até os tempos de Josué, pelo menos a Bíblia está a indicar isso, Deus parecia estar bem presente na história humana. Grosso modo, parece que a intervenção divina, imobilizando o sol no firmamento para que os israelitas pudessem vencer os amorreus e depois marchar em volta das muralhas de Jericó para derrubá-las com o som de suas trombetas, foi uma das últimas ações diretas da Divindade na história dos homens. Depois dela as intervenções pessoais de Deus na terra escassearam e a partir de certa época não se falou mais nisso. Deus passou a falar com os homens através de seus profetas, isto é, não mais diretamente, como antes fazia, quando se manifestava em tudo e em todos, de tal forma que suas figurações eram tantas que se podia dizer que os antigos povos tinham mais deuses que população.

A doutrina cristã sugere que Deus deixou de falar com o homem “face a face”, como fazia nos tempos bíblicos, em virtude de Ele ter mandado à terra seu próprio filho, que seria o primeiro e último verdadeiro enviado divino, o Cristo. Depois da vinda de Jesus, Deus não precisou mais falar com os homens diretamente, pois toda comunicação entre o céu e a terra seria feita pela Igreja que ele fundou. Esse postulado encontraria fundamento nas palavras de Jesus: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” e na tese que fundamenta as pretensões da Igreja de Roma, segundo a qual Jesus teria dado a Pedro a incumbência de ligar a terra ao céu, e esse prerrogativa ele teria repassado ao Papa.

Aos ouvidos de Nietszche tudo isso soava como uma grosseira usurpação. Entendia ele, que a partir do momento em que os hebreus se apropriaram do conceito de Deus e fizeram de si mesmos os seus eleitos sobre a terra, na verdade eles “mataram” a verdadeira divindade ─ ou seja, a ideia da existência de uma energia que formata e organiza o universo ─ e a substituíram por uma Entidade amorfa e mesquinha que reflete o homem em sua mais abjeta condição. Assim, o Deus judaico-cristão, no entender do polêmico filósofo alemão, nada mais era do que uma cópia modelada no velho patriarca dos antigos clãs, que refletia suas virtudes e defeitos, enquanto as deidades dos antigos povos, que viam a divindade nas forças da natureza, especialmente o sol, eram bem mais representativas e estavam muito mais próximas da ideia que se deve ter de um verdadeiro Deus.

Assim, a partir da oficialização de uma religião como sendo a única verdadeira na face da terra, tudo acontece como se a divindade se desinteressasse do destino dos homens, provocando uma ruptura entre os dois estratos que formam o universo: o divino e o profano. Então matéria e espírito também se separam em duas realidades diferentes e às vezes antagônicas, cada uma vivendo em substratos diversos, com necessidades que muitas vezes se chocam. Dai o surgimento das moléstias psíquicas, causadas por esse descompasso. E também a ansiedade do homem moderno para voltar a esse mundo de harmonia, beatitude e paz que havia antes da queda, ansiedade essa que ele reflete na multiplicidade de religiões e teorias que ele inventou para tentar falar novamente com Deus face a face.

Mas para que Deus se daria ao trabalho de se comunicar com os homens se Ele agora tem emissários oficiais para isso? Assim, a partir do advento das religiões reveladas, a presença de Deus entre os homens foi considerada desnecessária e por isso o Zaratustra de Nietzsche pode dizer: “Deus morreu. Eu vos anuncio o Super-Homem.”[1]

Sim, porque o pensamento de Nietzsche era exatamente esse. O homem, se quisesse voltar à era dourada dos seus primeiros tempos teria de abandonar a crença estereotipada que a religião judaico-cristã lhe impusera. Por que essas crenças haviam criado um homem fraco, senil, subserviente e incapaz de cuidar de si mesmo. Esse era o homem do Velho Testamento, que vivia sob o tacão de um Deus cruel, ciumento e injusto, que era capaz de fazer seletivas entre a própria família que Ele criou, privilegiando uns e relegando todo o resto a uma cruel exclusão. E tudo isso culminou depois numa outra crença mais limitante ainda, que levou os homens a se transformarem em vermes do seu próprio cadáver. Essa crença foi o Cristianismo, com sua falsa noção de valores, socializando a fraqueza, a fome, a servidão e a covardia. Por isso, diz Nietzsche, os cristãos eram vermes e o seu deus um pastor de larvas. Essa foi a crítica mais ácida e contundente do irrequieto filósofo alemão, e foi esse pensamento que encantou Hitler e seus “guerreiros do fogo”. E desse ponto de vista é possível entender o Holocausto que ele provocou, especialmente em relação aos judeus.

Autor: João Anatalino

Nota

[1] – Friedrich W. Nietzsche- Assim Falava Zaratustra, Ed Hemus, São.Paulo,1979. Evidentemente, essa é uma opinião do próprio Nietzsche, que desprezava as doutrinas judaico-cristãs. O Zaratustra histórico (Zoroastro) jamais diria uma coisa dessas, pois na verdade, a doutrina que ele pregava (O Mazdeímo) era altamente espiritualista e em nossa opinião, foi a precursora do Cristianismo. Sobre esse assunto ver a nossa obra “Mestres do Universo”, publicada pela Biblioteca 24×7. Nietzsche era o filósofo favorito dos nazistas e dos anti-semitas que os precederam.

A ALEGORIA DO TEMPLO E A INICIAÇÃO MAÇÔNICA


por Luiz Marcelo Viegas



“Quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso” (Melanie Klein)

A alegoria da construção do Templo foi forjada por intelectuais dos anos 30 do século XVIII, sem compromisso com verdades históricas, com a finalidade de criar seus próprios personagens e dar uma origem nobre e não apenas operativa à moderna Maçonaria. A narrativa dramatizada, inspirada na descrição bíblica da obra de construção do Templo de Jerusalém, liderada pelo Rei Salomão, evoca uma reflexão sobre o assassinato do Mestre Hiram por Companheiros que representam inimigos internos e simbolizam três grandes males que afligem a humanidade: a ignorância, o fanatismo e a ambição.

O aspecto iniciático da cerimônia de recepção dos novos membros foi aprimorado a partir de então, com um roteiro adaptado de escritos sobre figuras religiosas de diferentes culturas e épocas, e funciona como um estímulo para o desenvolvimento de várias ideias de cunho espiritual, de forma a educar o homem para ser um agente de transformação da sociedade.

As pessoas são ensinadas a acreditar em narrativas desde a mais tenra idade. O homem primitivo lançava mão da lenda para narrar os fatos; para educar, utilizava-se da fábula. O exemplo dos professores, nas séries iniciais de ensino, torna-se emblemático, ao adotarem recursos didáticos como alegorias, lendas, fábulas, mitos, fantasias poéticas e histórias criadas a partir da imaginação, com o objetivo de sugerir um sentido moral e valores. O que não se pode é interpretá-los como se fossem acontecimentos reais.

Ocorre que o ser humano é um contador de histórias e pensa o universo como uma narrativa povoada de personagens bons e maus, conflitos, derrotas e vitórias, estereótipos, cada um procurando ao seu modo o significado da existência e o sentido da vida, começando a encontrar respostas quando desenvolve independência intelectual e emocional que permita fazer nova leitura, questionar e verificar o mérito dessas narrativas ou mesmo desconstruí-las à luz da verdade.

A psicologia explica que a mente humana não é racional e calculista, e precisa de alegorias, fábulas e ficções para organizar sua ação. Por sua vez, os símbolos agem no sentido de provocar uma introspecção, um estado de receptividade. A alegoria é simbólica e não se constitui um termo final, mas por trás encontra-se uma realidade superior, que a inteligência humana percebe indiretamente, como um começo, onde se inicia o divino (J. Boucher, A Simbólica Maçônica).

A maçonaria, ao utilizar o poder de alegorias para transmitir e organizar conceitos, faculta a seus adeptos a liberdade de interpretação como forma de não negar a própria liberdade de pensamento, de investigação, sem nenhuma intenção de orientar ou de defender uma verdade específica. Incentiva no iniciado o exercício da mente na busca do conhecimento, sem se deixar levar pelo pensamento alheio.

Segundo Carl Jung, “até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chama-lo de destino”. Mas, a conscientização segue o ritmo individual e chega para cada um no seu tempo, baseando-se em observações e evidências e não apenas na fé, de forma a não se confundir verdade com crenças, no refletir sobre a sociedade em que vive e compreender a história da própria humanidade, onde a vida tem o sentido que damos a ela e que não há outra maneira de entendê-la a não ser vivendo e crescendo conscientemente, na percepção de quem efetivamente somos, enfrentando riscos e desafios, cada um com o seu conjunto de valores, ou uma ética.

Para esse fim, a maçonaria apresenta aos escolhidos, homens livres e de bons costumes, uma série de instrumentos relacionados à construção de um santuário, não vinculado a contexto religioso, mas que se consubstancia no templo simbólico do Conhecimento, da Sabedoria, da Luz da Inteligência, onde o iniciado deve sacrificar no altar da verdade todas as suas crenças e superstições, provando que é o criador de seu caráter, o moldador da sua vida, o construtor do seu destino, vislumbrando alcançar com muito trabalho e dedicação a independência e libertação que o conduzem à fraternidade plena, sem descurar da simplicidade expressa nas palavras de Helena Blavatsky : “Sê humilde se queres adquirir sabedoria; sê mais humilde ainda quando a tiveres adquirido”.

A cerimônia de iniciação maçônica, como um rito de passagem e sem nenhum valor sacramental, funciona como a porta de entrada para essa nova proposta de vida, esboçando novos horizontes, além de promover uma oxigenação ao recarregar a Loja de energia para a permanente renovação dos quadros. Não é uma mera formalidade. Quando realizada de acordo com a ritualística, ou seja, o rigor teatral, é um momento de êxtase, um choque emocional, face ao apelo sensorial envolvido, promovendo mudanças na condição do indivíduo, e deixa marcas indeléveis ao despertar a consciência do recipiendário para uma série de questionamentos e inquietações, expandindo-a, ao sugerir caminhos que despertem o interesse pela pesquisa.

Tomando como referência a alegoria da Caverna, de Platão (427 – 347 a.C), a iniciação enseja o início da caminhada do mundo sensível – a Caverna – para o mundo das ideias, da luz, da iluminação, onde se encontra a verdadeira essência das coisas, o verdadeiro conhecimento, compreensível através da razão, do pensamento.

O formalismo e a linguagem esotérica tem o objetivo apenas de proteger sob um véu os arcanos da Ordem, pois seu glamour está justamente na sua aura de segredos. O significado real da cerimônia pertence exclusivamente ao iniciado e é resultado da vivência de cada momento e não pode ser expresso em palavras. É consenso que se a essência da maçonaria fosse transparente para não iniciados, a Ordem já teria desaparecido ou se transformado em mais um dos inúmeros clubes de serviços existentes.

A iniciação maçônica, portanto, dispara esse gatilho do exercício do autoconhecimento e de uma jornada de libertação, consubstanciada na descoberta da verdadeira identidade, do aperfeiçoamento, no sentido de criar oportunidades para o vislumbre de realidades as quais o iniciado ignorava, ao rever hábitos e conduta, de pensar e agir, ajudando-o a construir ou reformar o seu Templo Humano, de forma continuada em busca de progresso permanente ao longo de sua vida, por esforços próprios, gozando da mais estreita fraternidade, onde se torna mais um elo de uma potente corrente de união. A verdadeira iniciação não se endereça senão ao espírito e a meta de todo Iniciado é tornar-se seu próprio Mestre.

E isso é um desafio, pois no outro extremo estaria a manutenção do túmulo onde podemos nos esconder de nós mesmos, representado pela caverna da mente, simbolizando a imersão nas sombras da solidão, das paixões, da ignorância, dos vícios, das tristezas, da inércia, como uma fuga ou medo de enfrentamento da realidade e deixar se levar pela correnteza, tipo “deixa a vida me levar…..”.

As várias iniciações ou viagens espirituais de aprimoramento a que são submetidos os maçons nos Graus Simbólicos e Altos Graus contêm uma metáfora de metamorfose, destruição ou falecimento, reconstrução ou ressurreição, transmitindo uma mensagem de ciclos e renovações contínuas, ou seja, a sua Natureza interior renasce e se purifica. Com a morte simbólica do Candidato/Profano, nasce o Aprendiz; com a morte deste, nasce o Companheiro, e este ao morrer dá lugar ao Mestre, e assim se desdobram em várias alegorias representativas dessas passagens, demonstrando que o Templo Espiritual, onde se rende preito à Virtude, à Filosofia e à Ciência é indestrutível e se apura constantemente por meio de estudos e reflexões sobre a realidade.

Essa alusão constante sobre o tema da morte enseja a construção do novo a partir da superação. Segundo Plutarco (46-120 d.C): “morrer é ser iniciado”. O sentido da iniciação é a renovação, o renascimento após a morte, pois através dela se retorna à Luz interior do seu ser, ao discernimento proveniente do seu pensamento, como novo homem, transformado, livre por sua própria retidão e hábitos edificantes, que se desvinculou por completo do domínio das sombras do mal e da ilusão. Em síntese, o que se procura é atingir um estado de consciência esclarecida pela Luz da Verdade, do Conhecimento, vencendo as ilusões da ignorância.

A maçonaria sempre se apoiou em correntes filosóficas e culturais que possam contribuir para formar o Homem como livre pensador e foi inspirar-se sobre a morte e ressurreição lá nas encenações e performances dos Antigos Mistérios, originárias da Suméria, do Egito e da Grécia, nas iniciações Mitraicas, que fundamentavam lições morais e que não perdem sua originalidade, no sentido de valorização da vida. À época, erigir um templo significava fundar uma escola esotérica. Para Platão, o objetivo dos Mistérios era restabelecer na alma a sua pureza primordial. Como explica o Capítulo III, do Evangelho de São João, morrer para renascer, para “nascer outra vez, de água e espírito”, pois “quem não nascer outra vez não pode ver o reino de Deus”.

No aspecto físico, o templo maçônico é um lugar fechado onde se realizam as reuniões de trabalho. Esse local tem características e símbolos tomados da Bíblia e adaptados em vários graus, com o objetivo de estimular a memória e de transmitir didaticamente uma lição ou moral, ao fazer refletir a filosofia desses elementos no terreno espiritual, conforme detalhado no trabalho “A Influência da Bíblia na Maçonaria”, publicado no Blog “O Ponto Dentro do Círculo”, em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2018/08/28/a-influencia-da-biblia-na-maconaria/.

A Loja é a própria reunião em si mesma. Para J.M. Ragon, a palavra tem raízes em LOGA e LOGOS, com o sentido de “um lugar onde certas coisas são discutidas”. Na prática, representa a assembleia de maçons, orientados por uma pauta – a Ordem do Dia -, conforme planejamento prévio, seguindo-se uma ritualística orientadora dos trabalhos. No contexto espiritual, o simbolismo da obra que se deve edificar no coração e na mente é o Templo da Virtude, no sentido esotérico representado pela moral, caráter e personalidade, com inspiração na narrativa bíblica contida em 1Cor 3,16. Em Atos 7,48 temos: …“o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens…”.

Assim, a falta do entendimento a respeito do verdadeiro sentido da iniciação maçônica tem contribuído para uma série de conflitos e dissidências no âmbito de várias Lojas, com exceção das nossas, é claro, em especial nas disputas por cargos e reconhecimentos, bem como na relação entre os que já comandaram a Loja e as novas gerações, tudo aliado a problemas de gestão. Não são raros os casos de obreiros que ainda não sabem o que estão fazendo na Ordem, e por consequência, não estudam, não participam das discussões filosóficas, não debatem, enfim, não se envolvem. Quando muito aportaram na maçonaria atraídos pelo seu capital social. (ver artigo em: https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2015/09/04/o-capital-social-da-maconaria/).

Para esses fica a sugestão de revisitar o “Norte” da Loja, onde começam os Aprendizes, rever atentamente as instruções ministradas naquela “Coluna” e refazer a rota de caminhada, com força e vigor. É um bom exercício, se é que o Templo Individual ainda tenha estrutura consistente que suporte esse desafio da reiniciação, que deveria ser automática. Em caso de vacilo, é só lembrar a resposta para a pergunta sobre o que foi fazer na Maçonaria.

“Quem conhece os outros é sábio; quem conhece a si mesmo é iluminado” (Lao-Tse, 570 – 490 a.C)

Autor: Márcio dos Santos Gomes

Márcio é Mestre Instalado da ARLS Águia das Alterosas – 197 – GLMMG, Oriente de Belo Horizonte, membro da Escola Maçônica Mestre Antônio Augusto Alves D’Almeida, da Academia Mineira Maçônica de Letras, e para nossa alegria, também um colaborador do blog.



A ESPADA NA MAÇONARIA




A Espada é um dos acessórios mais usados nas cerimônias maçônicas. No seu aspecto mais vulgar, é a arma da vigilância, por meio da qual seu condutor procura defender os mistérios maçônicos de toda e qualquer violação profana. 

A Maçonaria consagrou dois tipos de Espadas: a comum, comumente empunhada pelos irmãos da Loja; e a Flamígera ou Flamejante, usada pelo Venerável Mestre. Empunhada com a mão direita, a Espada representa uma arma e simboliza ação física. Os maçons a seguram com a mão esquerda, transformando-a, assim, em instrumento de transmissão e de ação iniciática. Os construtores do Segundo Templo de Jerusalém, chamados de Zorobabel, seguravam-na com a mão esquerda, tendo na direita a Trolha de Pedreiro. Assim os maçons também o fazem, pois, simbolicamente, a mão direita está ocupada, constantemente, no trabalho ativo da construção do Templo perfeito. 

Sem este simbolismo, a Espada poderá parecer fora de seu lugar em um Templo Maçônico, ou de uma instituição eminentemente pacífica como é a Maçonaria. Empunhada com a mão esquerda, a espada simboliza a faculdade passiva do pensamento. A interpretação moral de seu simbolismo é que na luta constante entre os dois princípios – o Bem e o Mal -, existe reservado, para o segundo, o castigo do fogo destruidor da consciência. 

A Espada é obrigatória em certas cerimônias e desempenha o simbolismo da honra, do valor e da dignidade. Nenhum maçom é considerado investido em seus diferentes graus, sem antes prestar solenemente seu compromisso, perante o símbolo da honra e da dignidade representado pela Espada. 

O uso de Espada no passado exigiu qualificação de nobreza. 

O uso da Espada dentro dos Templos Maçônicos, em um determinado período histórico, ou seja, no século XVII, serviu para nivelar os homens, pois antes da Revolução Francesa somente os fidalgos poderiam usá-la. A Espada era, então, um símbolo da nobreza, de sangue azul de seus possuidores, e leis severas proibiam os seus uso por quem não tivesse tais qualificações ou carta de nobreza, somente na Maçonaria essa lei não era válida, pois todos são iguais e irmãos. 

A Espada, além de simbolizar a honra e a dignidade, é a insígnia do poder e do mando. Por isso, cada Mestre Maçom deve possuir a sua. 

Para o cobridor e guarda do templo, a Espada é empunhada com a mão direita, é uma arma de proteção de defesa efetiva da Oficina, podendo, inclusive, transforma-la em arma de ataque. 

A Espada Flamígera, tem a lâmina em forma ondulada, simbolizando a chama do fogo sagrado proveniente de GADU. A origem desse símbolo está na Escritura Sagrada “Gênesis 3.24 e havendo lançado para fora o homem, pôs ao Oriente do Jardim do Éden os Querubins, e uma espada Flamejante que se envolvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida”. Essa Espada é a verdadeira insígnia do mais puro trabalho do Venerável Mestre e deve estar presente sobre seu altar, para ser utilizada nos juramentos prestados perante a loja.





do

OS STUARTS E A MAÇONARIA, HISTÓRIA OU LENDA?



TRADUÇÃO JOSÉ FILARDO

Publicado 4 de abril de 2017 – por Pierre Mollier

James II da Escócia

A associação dos Stuarts com a Maçonaria continua a ser uma das grandes figuras da imaginação maçônica do século XVIII. Muitos rituais ou correspondência explicam que desde tempos imemoriais, os Stuarts eram os protetores e chefes secretos da Ordem, alguns até mesmo adicionam que um propósito oculto das Lojas era então restaurar a infeliz dinastia escocesa em seu trono legítimo. O que é realmente isso; história ou lenda?


Talvez não haja aqui fumaça sem sem fogo, mas ainda hoje os historiadores não conseguem encontrar provas documentais sobre o envolvimento real dos últimos representantes da grande dinastia com a Maçonaria escocesa. Elementos raros emergem como existência comprovada de uma oficina “jacobita” na comitiva de James III no exílio em Roma, ou a de algumas lojas stuartistas claramente identificadas em Paris na década de 1730 por Pierre Chevallier. Mas, por outro lado, todas as patentes ou cartas constitutivas supostamente concedidas assinadas ou promulgadas pelos Stuarts revelaram-se falsas.


Desde 1653, a Loja de Perth exibe um pergaminho dizendo que James VI da Escócia foi iniciado como Aprendiz em seu seio em 15 de abril de 1601. Os rumores em torno da existência de uma Loja no exílio de Saint-Germain-en-Laye em 1688 ocupam os maçons de Paris desde 1737. Em 1749, o ritual da Sublime Ordem dos Cavaleiros Eleitos afirma que os Templários perseguidos foram acolhidos e protegidos pelos reis Stuart na Escócia, onde eles se esconderam nas Lojas dos maçons. A lenda tornou-se ainda mais viva que a personalidade, a epopeia e o trágico destino de Charles Edward Stuart, conhecido como Bonnie Prince Charlie – chamado de “jovem pretendente” (1720-1788) – lhe conferem uma forte dimensão romântica. Sua reconquista inaudita da Escócia por alguns meses em 1745 e, em seguida, a fuga para as montanhas depois da derrota fatal de Culloden apaixonaram então toda a Europa.


Seja por cálculo, como a crítica moderna o acusou, ou mais ou menos de boa fé como pensamos, o Barão de Hund conservou essa genealogia Templária e stuartista quando começou a desenvolver a “Estrita Observância” Templaria na Alemanha a partir de 1750. Ele alegava ter sido recebido em Paris na década de 1740, na Ordem do Templo restaurada no seio de uma loja reunindo membros ingleses e escoceses seguidores de Charles Edward Stuart. Fizeram-no supor que Charles Edward era o Grão-Mestre secreto dos Maçons sob o nome de “Eques a sole Aureo”. A Maçonaria que dissimulava a continuação secreta da Ordem do Templo era na realidade dirigida por chefes que ninguém conhecia, os “Superiores Desconhecidos”.


O grande sucesso da Estrita Observância Templária popularizou mais o suposto papel do Stuarts nas Lojas. Após a morte de Hund, o novo Grão-Mestre, o príncipe Ferdinand de Brunswick quis saber onde se colocar. Em 1777, ele então envia um Maçom muito ativo, o Barão de Waechter junto ao “jovem pretendente”, que não o é de fato, para interrogá-lo “oficialmente” – finalmente! – sobre as ligações reais dos Stuarts com a Maçonaria. Este dá uma resposta confusa, mas da qual finalmente fica claro que nem seu pai nem ele eram maçons. Mas o lado evasivo da resposta e a reputação de dissimulação ligada a Charles Édward não resolvem a questão, e os dignitários maçônicos alemães e suecos voltam à carga. Abordado diversas vezes, ele acaba por insinuar que se as lojas desejassem ele estava pronto para assumir os deveres do seu cargo! Pressionado por todos os lados – e à procura de reconhecimento e … dinheiro! – em 1783, ele finalmente dará uma Patente “verdadeira-falsa” ao rei Gustavo III da Suécia reconhecendo-o como seu legítimo sucessor como chefe da Ordem dos Cavaleiros de São João do Templo, isto é, da Ordem Maçônica Templária.


Desde tempos imemoriais à pergunta “Sois maçom? ” as instruções maçônicas mandam responder: “Meus Irmãos como tal me reconhecem.” Se é quase certo que ele nunca foi iniciado em boa e devida forma, Charles Edward era reconhecido desde longa data “como tal” por muitos maçons do século XVIII. No crepúsculo de sua vida, ele finalmente aceitou esta coroa que todos lhe queriam colocar.

A única que ele jamais colocaria em sua cabeça.


Publicado em http://www.fm-mag.fr/article/tradition/les-stuarts-et-la-franc-maconnerie-histoire-ou-legende-1512

DESCOBRINDO O COMPAGNONNAGE NA FRANÇA



Tradução J. Filardo


Obras primas (trabalho de final de curso) de Companheiros carpinteiros de Tours

Listado pela UNESCO desde 2010 como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a Compagnonnage (companheirismo) é hoje reconhecido mundialmente pela “especificidade de seu ensino profissional e moral, suas tradições e a capacidade de transmiti-los”. Os 10.000 Companheiros iniciados do Tour de France estão divididos em cerca de trinta ofícios diferentes. Três grandes organizações se distinguem: a Federação de companheiros das Construções e Outras Atividades, a União de Companheiros do Dever Unidos e a Associação profissional dos Companheiros do Dever. O museu da Compagnonnage de Tours, criado em 1968, é o único que não depende de nenhum outro. Para lançar luz sobre o passado e a história contemporânea, é natural que o nosso questionamento se voltasse para seu diretor, Laurent Bastard.

Desde o início, esse erudito, herdeiro de quatro gerações de companheiros do Dever da indústria do couro, nos diz: o único ponto comum com a Maçonaria é o seu status como estrutura iniciática. É certo que haverá um esqueleto semelhante: os rituais, diferentes de acordo com as corporações, mas resultando apenas em um grau, o de Companheiro. De fato, o aprendiz é apenas um aspirante, o mestre, um patrão. Alguns empréstimos são comuns como o do lendário judaico-cristão com a lenda de Hiram. A cadeia de união se torna a cadeia de aliança. O esquadro e o compasso, emblemas do oficio chamados de “brasões”, serão adotados por todos os Compagnonnages somente em 1880. No entanto, desde os antigos “Deveres” até os dias atuais, passando pelas Compagnonnages dos séculos XVIII e XIX, sua prática identitária é específica. Ao abandonar sua vida profana, o novo Companheiro recebe um nome provincial ligado a uma qualidade, por exemplo Dauphiné la Fidélité, tradição inspirada no mundo militar do Ancien Régime para quem conheceram o batismo de fogo, como Fanfan la Tulipe! Durante dois a cinco anos, os Companheiros fazem uma excursão pela França e às vezes até pelo exterior pela Associação dos Trabalhadores, que acolhe meninas desde 2004. Eles estão alojados em “quartos” ou “cayennes”. A “obra-prima” que eles devem realizar para serem iniciados atesta a excelência de sua formação. Para descobrir esse patrimônio, é a nossa vez de “viajar pela França” além dos museus públicos e privados ou seus centros de aprendizagem…
Escada de adega em formato de garrafa – trabalho de conclusão de
 curso de um companheiro cortador de pedra.

Com efeito, além do museu municipal de Tours particularmente completo, classificado como “museu da França”, o museu departamental de Romanèche Thorins apresenta as coleções da escola de Traçados de madeiramento de telhado, fundada por Pierre-François Guillon, companheiro carpinteiro, em 1871. Bordeaux também tem uma importante coleção de obras de companheiros, assim como a maioria dos museus de artes e tradições populares. Em Limoges, no local da antiga abadia medieval de La Règle, a Cidade dos Ofícios e Artes abriga o centro de exposições de obras-primas dos Companheiros e Melhores Trabalhadores da França assim como Bourges no antigo palácio do arcebispado. Em Troyes, os Compagnons du Devoir fundaram a Casa da Ferramenta e do Pensamento Obreiro no Hôtel de Mauroy, construída por volta de 1560 e restaurada por eles. No número 10 da Rue Mabillon em Paris, a livraria-museu da Compagnonnage é a antiga sede dos Companheiros Carpinteiros do Dever de Liberdade. Um companheiro apresentará à história do seu ofício, as ferramentas e obras de arte em exibição. Este também é o caso quando, mediante reserva, as “cayennes” abrem suas portas. Alguns exemplos: os Compagnons du Devoir de Nantes na mansão de Hautière; A Union Compagnonnique em Montauban, Châteauroux ou Arras … A lista não é exaustiva!

Após 25 anos de experiência, Laurent Bastard deixará a vida pública. Ele não mais participará dos Fragmentos de História dos Companheiros editados pelo museu em forma de palestras ali ministradas. Não duvidamos que ele usará esse “tempo recuperado” para enriquecer a bibliografia de suas muitas pesquisas que contribuirão para um melhor conhecimento de uma ordem em que a inteligência da mão tem seu lugar.

Ilustrações: Crédito: Museu da Compagnonnage de Tours

Publicado na revista FM – Franc Maçonnerie no. 63


AS PERSEGUIÇÕES À MAÇONARIA


Ir.’. J.B.O. – R:. L:. MESTRE AFFONSO DOMINGUES



Ao longo dos últimos 300 anos a maçonaria passou por perseguições de toda a ordem. Políticas, religiosas, culturais e étnicas. Assim, resolvi apresentar uma breve reflexão sobre a perseguição á maçonaria antes da II Guerra Mundial, e durante a mesma, sumarizando os tempos difíceis pela qual a maçonaria passou nos meados do século XX.

O rol de perseguições á nossa augusta ordem foi enorme e de toda a espécie. Durante as primeiras décadas do século XX essa perseguição atingiu uma particular violência um pouco por toda a Europa.

Começando no primeiro regime Fascista da Europa, na Hungria em 1919 com Bella Kun, e prosseguindo com o regime Fascista de Mussolini em 1923, esses tempos difíceis na maçonaria propagaram-se também a Portugal e a Espanha.

Por exemplo, mesmo aqui ao lado durante, e após, o termo da Guerra Civil Espanhola, o Generalíssimo Franco promulgou em 1940 a Lei de Repressão contra a Maçonaria e o Comunismo. Aliás, Franco atribuía frequentemente todos os males que padecia Espanha ao complot Judaico Maçónico, como se pode testemunhar ainda no seu último discurso feito em Madrid em 10 de Janeiro de 1975.

Das muitas perseguições que a maçonaria sofreu no último século, posso destacar a perseguição sobre o jugo nazi e as coincidências temporais pela qual a maçonaria foi também perseguida em Portugal.

Quando Hitler chegou ao poder em 1933, a sua política estava bem definida, pois já no seu livro “Minha Luta”, Hitler dizia que “a maçonaria sucumbiu aos judeus e converteu-se num excelente instrumento para combater pelos seus interesses […]”.

No entanto os esforços para eliminar a maçonaria não eram a sua primeira prioridade. Mas, e após o estabelecimento e fortalecimento das bases do regime nacional-socialista, a perseguição chegou às portas das lojas. Primeiramente, as lojas que defendiam a tolerância, a igualdade, e que de algum modo estavam ligadas aos sociais-democratas ou liberais, foram sujeitas a perseguições e eram pressionadas para abater colunas “voluntariamente”.

Nessa primeira fase, durante o ano de 1933 aquelas lojas mais conservadoras, e que estavam dispostas a acomodar-se ao regime, ainda puderam funcionar durante mais algum tempo.

No entanto, os nacionais socialistas desde bem cedo pretenderam excluir de cargos públicos todos aqueles mações que se recusavam a renunciar á maçonaria.

A situação mudaria radicalmente no início de 1934 quando Roland Freisler (Juiz Nazi e Ministro da Justiça do Terceiro Reich) criou o “Volksgerichtshof” (Tribunal do Povo), que não era nem mais nem menos que um tribunal político pelo qual os nacionais socialistas tentavam controlar a população através de penas desproporcionadas e brutais.

Roland Freisler decidiu em Janeiro de 1934 que os maçons que não deixassem as suas lojas até 30 de janeiro desse ano, não se poderiam filiar no Partido Nacional Socialista. Ainda no mesmo mês, Hermann Goering na altura ministro do Interior da Prússia emitiu um decreto ordenando que as lojas se dissolvessem “voluntariamente”, e exigindo que essas acções “voluntárias” lhe fossem submetidas para a sua aprovação.

Além disso, as lojas foram atacadas em toda a Alemanha por unidades locais da S.A., que destruíram os templos, e seus recheios. Isto tudo somado á crescente pressão, sobre os funcionários públicos suspeitos de pertencerem á maçonaria (Magistrados, Professores, Militares), levou a que fosse desferido um duro golpe na nossa Ordem.

Ainda em Maio de 1934, o Ministério da Defesa Alemão proibiu a maçonaria, a todo o seu pessoal militar, e civil. Os funcionários estavam proibidos de aderir ou pertencer a qualquer loja maçónica. Nesse Outono de 1934, depois de Himmler e Reinhard Heydrich tomarem as rédeas da Gestapo, a polícia Alemã fechou muitas lojas e confiscou os seus bens.

Entretanto em 28 de Outubro de 1934, o Ministro do Interior do Reich, Wilhelm Frick, emitiu um decreto em que considera as lojas como “hostis ao Estado”. Ao serem declaradas hostis ao Estado as lojas sujeitavam-se a ficar com os seus bens apreendidos.

Só por curiosidade, em Portugal o então deputado José Cabral, Director-Geral dos Serviços Prisionais, apresenta, em 19 de Janeiro de 1935, na Assembleia Nacional, o projecto de lei n.º 2, visando a extinção das associações secretas. O projecto adoptava uma definição de associação secreta que tinha em vista atingir a maçonaria. Enfim coincidências…

Finalmente, em 17 de Agosto de 1935, citando a autoridade de “O Decreto do Fogo do Reichstag (Reichstagsbrandverordnung)*”, Frickordenou que todas as Lojas restantes fossem dissolvidas e seus bens confiscados.

Também em Portugal em 27 de Março de 1935 a Câmara Corporativa emite um parecer favorável à aprovação do projecto de lei, nº 2 num extenso parecer subscrito por Domingos Fezas Vital, Afonso de Melo, e Gustavo Cordeiro Ramos. A 21 de Janeiro de 1937 foi emitida uma portaria (baseada na lei nº 1901), que dissolve o Grémio Lusitano (Associação profana que suporta o Grande Oriente), e a lei nº 1950 que entrega todos os bens do Grémio Lusitano á Legião Portuguesa.

Ainda em 1935 Reinhard Heydrich Chefe da Polícia de Segurança e do S.D.** dizia que os Maçons, os Judeus, e o Clero, eram os “inimigos mais implacáveis da raça alemã”. Afirmava convictamente que era necessário erradicar de todos os Alemães a “influência indirecta do espírito judaico”, pois para ele essa influência, “era um resíduo infeccioso Judeu, Liberal e Maçónico, que contaminava acima de tudo o mundo académico e intelectual”.

Heydrich criou uma secção especial do Serviço de Segurança SS, Secção II /111, para enfrentar e exterminar especificamente a Maçonaria. O S.D. estava muito interessado neste tema, pois acreditava, que a maçonaria exercia um poder político real, e que controlava a opinião pública através da Imprensa, o que significava que a maçonaria, estaria em condições de fomentar a subversão e a revolução.

Mais tarde a RSHA*** uma mistura de S.D. e de Policia de Segurança formada em 1939 assumiu a secção dedicada á investigação da maçonaria.

No entanto a seguir aos anos tempestuosos de 1934, a 1936 e com a Alemanha a preparar-se para a guerra nota-se em 1937 e 1938, um alívio sobre a maçonaria.

Hitler amnistia alguns membros que renunciaram á maçonaria em Abril de 1938, e foram decididas algumas reintegrações nos serviços do Estado caso a caso. Após a II Guerra Mundial começar em 1939, muitos ex-maçons que tinham sido obrigados a aposentarem-se regressaram ao serviço público, sendo levantada a proibição de ex-maçons servirem na Wehrmacht (Forças Armadas Alemães), inclusivamente como oficiais. No entanto o Partido Nacional Socialista continuou a proibir os ex-maçons a aderirem às suas fileiras embora tenham havido algumas excepções depois de 1938.

Após conquistarem a Europa em 1940, e nos países aonde estabeleceram um regime de ocupação, os Alemães dissolveram as organizações maçónicas e confiscaram os seus bens e documentos.

Assim, alguns dos parceiros Alemães do Eixo decretaram medidas policiais e de segregação desfavoráveis aos maçons. Um exemplo claro desta política é o decreto proferido em agosto de 1940, pelo regime Francês de Vichy. Esse decreto afirmava que os maçons eram inimigos do estado e permitiam a vigilância policial a todo e qualquer maçon. Isso levou a que as autoridades Francesas do Regime de Vichy criassem um arquivo onde estavam identificados todos os membros do Grande Oriente da França, uma das principais organizações Maçónicas francesas;

Quanto ao modo de actuar dos Alemães nas zonas ocupadas, era o seguinte:

Depois de fecharem uma Obediência apreendiam a lista de membros, bibliotecas, mobiliário e outros artefactos culturais. Os itens apreendidos eram enviados para a agência alemã apropriada, principalmente o S.D. e mais tarde, o RSHA.

Também, como parte de sua campanha de propaganda contra a maçonaria, os nazistas e outras organizações de direita locais, montaram exposições antimaçónicas em toda a Europa ocupada. Assim, um pouco por toda a Europa a Alemanha, montou várias exposições, como a de Paris em outubro de 1940, e a de Bruxelas em fevereiro de 1941. Exibindo rituais maçónicos e artefactos culturais roubados de lojas, essas exposições visavam ridicularizar e dirigir o ódio contra os maçons e aumentar os temores de uma Conspiração Judaico-Maçónica.

Além disso a propaganda Alemã durante e guerra, sempre acusou os judeus e os maçons de terem provocado a Segunda Guerra Mundial e serem responsáveis pelas políticas do presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt, que foi identificado como maçon.

Em 1942, Alfred Rosenberg**** foi autorizado por um decreto de Hitler a realizar uma “guerra intelectual” contra os judeus e os maçons. Assim, Hitler concedeu uma autorização a Rosenberg, de livre acesso a todos os arquivos e bibliotecas maçónicas, de modo a ter informação e conhecimentos suficientes para continuar “a luta intelectual e metódica”, que era necessária para vencer a guerra.

Aquando do fim da Segunda Guerra Mundial, foram capturados aos Alemães enormes quantidades de arquivos e bibliografia maçónica que tinham sido apreendidas pelas autoridades Alemãs. Esse material foi capturado pelos aliados e enviado quer para Moscovo (importante arquivo capturado na Silésia), quer para Washington e Londres.

Desde o fim da Guerra Fria, muitas colecções relacionadas com a maçonaria foram restituídas aos países de origem, enquanto outras continuam a ser mantidas em armazéns no estrangeiro.

Honestamente é difícil determinar quantos Irmãos morreram durante o regime nacional-socialista apenas por serem maçons, mas uma estimativa conservadora aponta que os números de maçons Alemães que foram executados ou morreram em campos de concentração foram cerca de 80 000. Já, em todos os países ocupados estima-se que tenham morrido há volta de 200 000 maçons.

Por incrível que pareça a II Guerra Mundial além de derrotar o nacional-socialismo veio dar um novo sopro de vida á maçonaria principalmente nos Estados Unidos como explica William J. Jones de Villa Grove, (quinquagésimo terceiro Grão-Mestre do Estado de Illinois, 2000-2003). Segundo ele, “Após o final da guerra muitos dos homens que combateram além-mar juntaram-se á maçonaria. Eu penso que os veteranos experimentaram uma grande comunhão de objectivos e princípios com os seus camaradas quando estavam no serviço além-mar. Na Guerra eles estavam juntos, com outros homens, e sentiam um parentesco próximo, uma verdadeira irmandade. Quando chegaram aos Estados Unidos, não encontraram esse mesmo sentimento de irmandade que sentiam quando estavam além-mar, e reflectindo chegaram á conclusão que gostariam de se juntar a uma fraternidade, a uma organização masculina, para que pudessem ter uma comunhão semelhante ao que tinham tido quando estavam em serviço além-mar.”

O exemplo disso é o do Estado de Illinois. Entre 1940 e 1950 a maçonaria ganhou 55751 novos Irmãos. É caso para dizer que o nacional-socialismo e o fascismo perderam em todos os sentidos para a maçonaria.

JBO

M:. M:. da R:. L:. Mestre Affonso Domingues em Fevereiro 2016

Fontes:
Mein Kampf
Adolf Hitler IHCM
Hitler’s Elite: The SS 1939-45
Chris McNab Bloomsbury “
“Freemasonry, its world view and organization and policies”
Dieter Schwarz Weltanschauung

NOTAS:
* Ordem do Império Presidente para a Proteção de Pessoas e EstadoCom base no artigo 48, parágrafo 2, da Constituição do Reich, prescreve-se o seguinte para a defesa contra os actos de violência comunistas que prejudicam o estado: com base em actos de violência comunistas que acabam com o estado: § 1º. Os artigos 114, 115, 117, 118, 123, 124 e 153 da Constituição do Reich alemão serão suspensos até novo aviso. É, portanto, restrições à liberdade pessoal, ao direito à liberdade de expressão, incluindo liberdade de imprensa, direitos de associação e reunião, intervenções no segredo postal, postal, telegráfico e telefónico, ordens de busca e apreensão de casas e restrições de propriedade, mesmo fora dela de outra maneira permitida por lei. § 1. Os artigos 114, 115, 117, 118, 123, 124 e 153 da Constituição do Reich são suspensos até novo aviso. [Habeas corpus], liberdade de opinião, incluindo a liberdade de imprensa, a liberdade de organizar e reunir, a privacidade das comunicações posta, telegráficas e telefónicas. Os mandados para pesquisas domiciliares, ordens de confisco e restrições de propriedade são, portanto, permitidos além dos limites legais prescritos de outra forma.
**Sicherheitsdienst (alemão: [zɪçɐhaɪtsˌdiːnst], Serviço de Segurança), o título completo Sicherheitsdienst des Reichsführers-SS (Serviço de Segurança do Reichsführer-SS), ou SD, foi a agência de inteligência das SS e o Partido Nazista na Alemanha nazista. A organização foi a primeira organização de inteligência nazista a ser estabelecida e foi considerada uma organização irmã com a Gestapo, que a SS se infiltrava muito depois de 1934. Entre 1933 e 1939, o SD foi administrado como um escritório SS independente, após o qual foi transferido para a autoridade do Reich Main Security Office (Reichssicherheitshauptamt; RSHA), como um dos seus sete departamentos / escritórios. O Seu primeiro diretor, Reinhard Heydrich, destinado ao SD a trazer cada indivíduo dentro do alcance do Terceiro Reich sob “supervisão contínua”.
*** O Reichssicherheitshauptamt, (em português Gabinete Central de Segurança do Reich) abreviado como RSHA, era o órgão do Partido Nazista que controlava as polícias, segurança alemãs e administração das mesmas no período de 1939, quando foi criada, até 1945.
**** Alfred Rosenberg (Reval, 12 de janeiro de 1893 — Nuremberg, 16 de Outubro de 1946) foi um político e escritor alemão, sendo o principal teórico do nacional-socialismo, sintetizado na obra O Mito do Século XX (Der Mythus des zwanzigsten Jahrhunderts, 1930). Conselheiro de Adolf Hitler, chegando a ser ministro encarregado dos territórios da Europa Oriental, em 1941, onde deportou e exterminou centenas de milhares de pessoas, principalmente judeus. O Tribunal de Nuremberg (ou Nuremberga) condenou-o à morte por enforcamento, pelos crimes de guerra.



Publicado no Excelente Blog A PARTIR PEDRA

AS TRÊS BATIDAS DISTINTAS - RITUAL DOS ANTIGOS



Por  LucianoRodrigues 


Steven C. Bullock, professor de história no Instituto Politécnico de Worcester em Massachussets (EUA) e autor do livro “Revolutionary Brotherhood: Freemasonry and the Transformation of the American Social Order, 1730-1840”, qualifica a exposição de rituais maçônicos como “o mais importante gênero antimaçônico”. Embora tenha sido esta a intenção, temos que considerar a importância destes documentos históricos para o conhecimento maçônico atual e a possibilidade de pesquisas através deles.



O primeiro ritual exposto como um livro, chamado “A Maçonaria Dissecada” (Masonry Dissected) por Samuel Prichard, publicado em 1730.

Esse livro, a divulgação, é um documento de grande importância para historiadores, pois fornece as primeiras descrições do grau de Mestre Maçom, e para eles essa documentação é inestimável. No entanto, para um maçom, a idéia de uma divulgação de seus rituais era de se preocupar e foi tomado como uma traição de sua confiança.

Mas e se esses historiadores, além de o serem, também forem maçons?

Arturo de Hoyos, um historiador e maçom, em seu livro “Light on Masonry: The History and Rituals of America’s Most Important Masonic Exposed”, escreve: “O grande segredo de historiadores maçônicos é que muitos de nós se apaixonam por divulgações. Como em outros assuntos do coração, isso é excitante, mas também pode se tornar um relacionamento de amor e ódio. Por um lado, sabemos que o resultado de traição, pode ser desconfiança, mas por outro lado, nos apresenta a possibilidade de uma autenticidade que pode nos ensinar muito sobre a evolução dos rituais maçônicos”. Em outras palavras, embora seja o resultado de uma traição, se usado com cuidado pelos historiadores, pode traçar algumas das mudanças e desenvolvimentos dos rituais maçônicos.


The Three Distincts Knocks (As Três Batidas Distintas), é uma das descobertas mais importantes da tradição maçônica inglesa.

Uma divulgação é um texto destinado ao público em geral. Isso deve ser entendido em oposição a outros documentos maçônicos ou referentes à Maçonaria, que são documentos particulares.

O estudo das divulgações e a sua recepção, são recentes. Os primeiros pesquisadores interessados, há mais de meio século, inicialmente os consideraram duvidosos e pouco confiáveis ​​em termos da veracidade de seu conteúdo.

Aliás, esses textos não teriam sido publicados com a intenção de prejudicar a Maçonaria?

O autor da mais famosa das divulgações, Samuel Prichard, escreveu que “De todos os abusos que aparecem entre os homens, nenhum é tão ridículo quanto o mistério da Maçonaria (…). Espero que (esta divulgação) dê plena satisfação e tenha o efeito desejado com a prevenção de tantas pessoas ingênuas que estão interessadas em uma sociedade tão perniciosa”.

Deve-se reconhecer que certas revelações são de fato falsas e tiveram o propósito deliberado de semear dúvidas na mente do público. Este é o caso de duas revelações francesas de 1744: Le Parfait Maçon e La Franche-Maçonne. Estas duas revelações foram publicadas por Johel Coutura, no livro “Le parfait maçon, les débuts de la maçonnerie française (1736-1748)”.


Com o progresso da pesquisa, ao comparar as divulgações com os textos inéditos, os estudiosos estabeleceram a coerência da maioria dessas publicações e as consideraram como fontes seguras.

Harry Carr, um dos mais notórios investigadores maçônicos ingleses, produziu um excelente trabalho publicando pela primeira vez as divulgações maçônicas francesas.

Hoje em dia, levando em conta todas essas conclusões, é possível realizar uma releitura desses textos e considerar um dos problemas fundamentais da história maçônica do século XVIII. De fato, a pesquisa maçônica, como qualquer pesquisa, consiste em reformular regularmente as mesmas questões e produzir novas respostas.

A principal divulgação maçônica, “A Maçonaria Dissecada” de Samuel Prichard, data de 1730. É a divulgação que apresenta um sistema em três graus. Esse texto conheceu tal sucesso durante todo o século XVIII (dezenas de edições), que a questão de saber se revelava ou não a verdade, não foi levantada.

Devido à magnitude de sua disseminação, essa divulgação se converteu de fato em uma fonte de rituais maçônicos, pois, por um lado, é muito difícil compará-lo com textos contemporâneos e, por outro lado, que os textos imediatamente posteriores o copiaram!

As lojas usaram o texto de Prichard como uma ajuda de memória, o que significa que a Maçonaria de Londres da década de 1730 estava de acordo com essa revelação.

Pode-se também pensar que a mesma maçonaria que apareceu em Paris naqueles anos, é provavelmente a que veio de Londres.

Primeira divulgação importante em inglês, a Maçonaria dissecada também será a última, na Inglaterra, por um longo tempo. Na França, a situação é muito diferente, desde o final da década de 1730, inúmeras divulgações foram aparecendo.

Alguns são da linha de Samuel Prichard (La Reception Mysterieuse, 1738 e Le Sceau Rompu, 1745) atestam as mesmas preocupações, os mesmos interesses, as mesmas necessidades e sem dúvida, a mesma prática maçônica dos irmãos da outra costa do Canal.

Outros, Le Secret des Francs-Macons, Le Catechisme des Franc-Macons, LÓrdre des Francs-Macons Trahi, dos anos 1744-1745, propõem uma Maçonaria que se referencia na Inglaterra.

Em 1751, ainda assim, Le Macon Demasqué é apresentado como uma tradução francesa de um ritual usado por uma loja de Londres.

Assim, dos anos de 1730 a 1750, os usos maçônicos dos irmãos ingleses e franceses para os graus azuis (simbólicos) eram substancialmente idênticos.

Em 1751-1753, ocorre um evento que modificará consideravelmente a situação.

Trata-se da aparição, na Inglaterra, de uma segunda Grande Loja, distinta da Grande Loja de Londres, tanto em seu ritual quanto em sua concepção da Maçonaria.

Foi de fato uma criação original de irmãos da Irlanda, que trouxeram com eles seus costumes e tradições maçônicas muito diferentes dos costumes de Londres.

Surgindo em 1751, esta maçonaria não terá o título de Grande Loja até 1753, quando Robert Tuner Esq., foi eleito Grão-Mestre dos Antigos, pelas 12 lojas que formavam o grupo.

A “Grande Loja dos Maçons de acordo com as Antigas Constituições”, mais tarde chamada de Grande Loja dos “Antigos”, conhecerá seus primeiros movimentos em oposição à Grande Loja de Londres ou à primeira Grande Loja, mas Laurence Dermott, seu principal animador, chegará ao nível de seu concorrente e até excedê-lo até o final do século XVIII.

Será neste contexto, que em 1760, após trinta anos de silêncio documental na Inglaterra, surgem novas divulgações:

Em primeiro lugar, “A Master Key to Freemasonry”, tradução muito próxima de “L’Ordre des Francs-Macons Trahi”. Esta divulgação demonstra uma forte identidade entre os maçons franceses e ingleses dentro da tradição dos “Modernos”.

Um pouco mais tarde, “The Three Distinct Knocks” (As três batidas distintas) são publicadas. Este texto é apresentado como um ritual que permitiria ao leitor se passar por maçom e penetrar nas lojas maçônicas.

Em 1762, “Jachim e Boaz” aparece com conteúdo muito próximo da revelação anterior. De qualquer forma, essa divulgação surge como uma revelação dos “Antigos”, embora Jachim e Boaz sejam declarados falsamente como “Modernos”.

Em 1764 “Hiram” foi publicado, revelação muito parcial que se refere às “Três Batidas Distintas” e faz alusão ao Arco Real (grau muito importante para os “Antigos”) e em 1765, surgem o “Mystery of Freemasonry Explained” (versão abreviada de Jachim e Boaz). ) e o “Shibboleth”.

Mas, nesta série de publicações, o mais importante é, sem dúvida, “As Três Batidas Distintas”.

Antes de iniciar a leitura crítica do texto, devemos rever os problemas que encontraremos no decorrer de nosso estudo.

1. Quais são as diferenças exatas entre os rituais dos “Modernos” e dos “Antigos”?

No Ahiman Rezon, livro das Constituições dos “Antigos”, Laurence Dermott havia estabelecido uma lista do que reprovava nos “Modernos”.

Esse catálogo consistia em elementos mais ou menos justificados.

Está bem provado que os “Modernos” não consideravam o grau do Arco Real, embora alguns deles o tenham praticado. Esse grau havia sido trazido pelos irmãos irlandeses (os antigos) e, embora as fontes não fossem conhecidas, defendiam-no como um quarto grau.

Outra reprovação era que eles (modernos) haviam abandonado a cerimônia de instalação (secreta) do Venerável Mestre o que, sem dúvida, era verdadeiro.

Mas, embora essa cerimônia não seja descrita no texto de Samuel Prichard, ela é encontrada nas “Três Batidas Distintas” e deve-se notar que entre essas duas revelações há um espaço de trinta anos e um certo número de eventos na França pouco relacionados à Cerimônia de Instalação, de modo que hoje não podemos ser tão afirmativos como L. Dermott, com relação a esse assunto.

Por outro lado, a reprovação por terem abandonado as orações no ritual não é pertinente. De fato, não há nenhuma oração em Samuel Prichard, mas pode-se dizer que os Modernos os abandonaram? E se eles nunca tivessem praticado?

E acima de tudo, o enorme problema da ordem das Palavras.

É verdade que os Modernos no começo praticaram a ordem B e J, que eram os mesmos que os Antigos, e isso mudou depois para J e B.

Esta mudança provocou as mais violentas disputas. Ainda hoje, obediências e ritos maçônicos divergem sobre a ordem dessas duas palavras, cada um pensando que pratica a ordem correta.

2. Que tipo de relação poderia ter existido entre a França e a Inglaterra justamente na década de 1760?

Após a segunda edição das Constituições da Grande Loja de Londres, tem-se a impressão de que em 1738 a Maçonaria Francesa, que recebera um Grão-Mestre Francês, foi separada da Maçonaria Inglesa e a partir daí a incompreensão entre os dois está instalada.

Mas parece que essa visão é imprecisa e que a separação real se estende por várias décadas.

Certamente o estudo dos altos graus permite esclarecer esta questão, mas uma releitura das divulgações nos levará a considerar o ponto de vista dos graus simbólicos praticados, que sem dúvida, se manteve muito mais próxima do que se acredita e justamente na década de 1760 na Inglaterra e na França.

Em outras palavras, a separação entre as tradições maçônicas, inglesa e francesa, seria relativamente tardia.

Quais foram às relações reais entre os irmãos das duas Grandes Lojas?

Oficialmente e em uma lógica de obediência maçônica, não há relacionamento, mas era frequente irmãos mudarem de obediência, como ilustrado por William Preston. Na maçonaria do século XVIII havia grande liberdade para os irmãos trocarem de loja, até mais do que hoje.

Por outro lado, essas trocas foram proveitosas, já que na década de 1760 e sob a influência dos Antigos, os Modernos criaram um Capítulo do Arco Real independente da Grande Loja.

Quais foram às influências entre as divulgações em inglês e francês?

O Maçonaria Dissecada (1730) foi adaptado para o francês em 1738. Por outro lado, Franc-Macons Trahis (1745) foi traduzido para o inglês em 1760.

Dito isso, devemos reconhecer que é difícil avaliar o impacto dessas traduções e adaptações.

Já vimos que o sistema maçônico exposto nesta divulgação é o dos “Antigos”. Depois dos “Modernos”, é o segundo sistema simbólico que aparecerá na Inglaterra.

Esses sistemas têm muitas diferenças, tanto por seu status quanto de conteúdo.

A primeira distinção reside no fato de que a tradição dos “Modernos” foi introduzida na França e no continente, enquanto o sistema dos “Antigos” permaneceu, em sua lógica e funcionamento, como um sistema profundo e fundamentalmente Inglês ou Anglo-saxão.

Uma segunda distinção se refere ao problema das fontes de ambas as tradições.

Embora você possa identificar aqueles da tradição dos “Modernos”, o mesmo não acontece com os dos “Antigos”.

Comparando a divulgação de Prichard (1730) com os mais antigos documentos escoceses do grupo Haughfoot (o manuscrito dos arquivos de Edimburgo, o manuscrito Chetwode Crawley e o manuscrito Kewan, 1696-1714), é possível estabelecer uma associação entre estes dois textos. Nestes textos escoceses existem alguns elementos rituais importantes que nos permitiriam pensar que eles são uma das fontes identificáveis ​​e certas da primeira maçonaria inglesa.

Não existe tal coisa com a Maçonaria dos “Antigos” e as fontes da revelação que nos interessam, são desconhecidas. As hipóteses que podem ser avançadas com prudência, são tentativas. Por exemplo, podemos notar que nenhum testemunho do ritual dos “Antigos” é conhecido na Inglaterra antes do ano de 1750.

No entanto, os “Antigos” eram essencialmente de origem irlandesa.

Poderíamos deduzir que o ritual dos “Antigos” foi inspirado por um sistema maçônico que teria surgido na Irlanda, a partir de fontes indeterminadas?

Apenas o estudo da história da primeira maçonaria irlandesa responderá a essa pergunta.

Sabe-se da existência de uma loja (ou pelo menos de certa atividade maçônica), que está registrada no discurso do Trinity College em Dublin, em 1688.

Alguns pesquisadores consideraram que a primeira maçonaria irlandesa poderia ser uma espécie de maçonaria paleo-inglesa na medida em que a Maçonaria foi introduzida naquela terra católica por colonos ingleses e protestantes.

Com o tempo, estes últimos estavam se tornando anglo-irlandeses e irlandeses, e assim que esta Maçonaria, agora irlandesa, seria o testemunho vivo de um primeiro sistema maçônico inglês do final do século XVII.

Tal sistema teria desaparecido da Inglaterra, substituído pelo dos “Modernos”, duradouro e em desenvolvimento apenas na Irlanda. Infelizmente, essa hipótese sedutora atualmente não se baseia em nenhum documento.

Vamos abordar agora, mas de outro ângulo, os mistérios das “Três Batidas Distintas” estudando o próprio texto.

No primeiro nível a ser abordado, descobrimos sua extraordinária estranheza e novidade com referência ao sistema revelado por Samuel Prichard. De fato, existem muitas diferenças importantes entre essas duas tradições.
A posição dos Vigilantes

No texto de Prichard, que parece retomar um uso antigo e simples da Maçonaria Escocesa, o Venerável Mestre está no Oriente e os dois Vigilantes no Ocidente.

Esse sistema “moderno” se expandirá pelo continente e é baseado no eixo leste-oeste (oriente-ocidente).

Na Maçonaria dos “Antigos”, os três oficiais se localizam de uma maneira diferente: um Vigilante está localizado no ocidente e outro no sul.

Além disso, o texto do ritual de abertura, associa o local dos oficiais às três posições do sol: Oriente para o Venerável; o Ocidente para o primeiro Vigilante e o Sul para o segundo Vigilante.
A posição dos 3 grandes candelabros.

Em Prichard, há dois candelabros no leste (oriente) e apenas um no oeste (ocidente), uma posição evidentemente encontrada no rito francês. Estes candelabros não estão associados aos oficiais e representam o Sol, a Lua e o Mestre da Loja (Venerável Mestre).

Por outro lado, no sistema dos “Antigos”, esses candelabros estão associados a cada um dos três oficiais e as virtudes: Sabedoria, Força e Beleza.
As três grandes luzes

Segundo os “Modernos”, essas luzes são o Sol, a Lua e o Mestre da Loja.

Para os “Antigos”, eles são o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso ou as “Três Grandes Luzes”. O Sol, a Lua e o Mestre da Loja são considerados como as três luzes menores.
A posição das palavras sagradas.

Esta questão é muito complexa e a diferença entre as duas tradições pode não ser tão fundamental como já foi dito.

Prichard dá duas palavras, J e B do primeiro grau, enquanto os “Antigos” apenas uma, o B.

Sem entrar em detalhes, deixe-nos observar uma crítica voltada para os “modernos”, segundo o qual eles teriam invertido as palavras sagradas, o que na verdade, está longe de ser comprovado e, de fato, parece muito mais plausível, que as duas palavras haviam estado originalmente associadas (como dito pelo texto de Prichard e depois dissociado).

Isto poderia explicar porque os “Modernos” teriam escolhido a palavra em J e os “Antigos”, a B. Em todo caso, será o J que se encontra no primeiro grau do sistema francês tirado dos “Modernos”, e B no segundo grau, embora no sistema dos “Antigos”, seja B no primeiro grau e J no segundo.

Essa diferença será de consequências incalculáveis.

Por mais de 60 anos, as duas grandes lojas rivais disputaram essa questão e esse debate foi perpetuado no continente até hoje.

Finalmente, outras diferenças poderiam ser levantadas: por exemplo, a abertura que é mais curta entre os “Modernos” do que para os “Antigos”, uma vez que declinam as funções dos oficiais, de modo que a arquitetura do primeiro grau dos “Modernos” é profundamente diferente dos “Antigos”.

Deve-se notar que no “Três Batidas Distintas”, é o oficial “inferior” que anuncia o local na loja do próximo em uma sequência até o Venerável Mestre, assim como encontrado no “Guia dos Maçons Escoceses”. O 2º diácono anuncia o local do 1º diácono e este, anuncia o local do 2º Vigilante, que segue anunciando em sequência o 1º Vigilante e este o Venerável Mestre da Loja.

Com a união de 1813, esse sistema é simplificado e cada oficial indica a si mesmo e seu próprio local.

Para propor uma hipótese sobre a origem da tradição dos “Antigos”, devemos considerar, apesar de todas essas diferenças e paradoxalmente, os pontos comuns de ambos os rituais.

Pode-se perceber aqui que existe na maçonaria anglo-saxônica do início do século XVIII, um certo número de temas pertencentes aos Modernos ou aos Antigos: Os oficiais (Venerável e Vigilantes), as palavras em J e B, as luzes, a Bíblia, Esquadro e Compasso, as pedras, as jóias, os 4 pontos cardeais e etc.

Também é possível avançar a hipótese de que esses invariantes estão dispostos de maneiras diferentes e específicas, para formar os dois sistemas que conhecemos.

De fato, no final do século XVIII, o conteúdo simbólico da maçonaria anglo-saxônica (ritual, cerimônia e instruções) era extremamente simples e reside essencialmente no juramento e na Palavra.

No início do século XVIII, a Maçonaria se estrutura. É bem possível que essa vontade de organização tenha assumido diferentes formas na Inglaterra e na Irlanda.

As estruturas ainda eram embrionárias e a disposição do material simbólico básico, poderia ficar a critério das circunstâncias, dos interesses locais, das idéias, dos gostos e da imaginação de cada um.

Nesta perspectiva, é evidente que a interpretação simbólica do significado fundamental dessas escolhas é muito relativa como a encenação coerente de todos esses elementos, que poderia oferecer um número de possibilidades infinitas.

As soluções retidas sem dúvida são aquelas que pareciam as mais interessantes, as mais confortáveis e até as mais bonitas, sem um significado específico de um para o outro.

Por outro lado, para se ater à questão da ordem das palavras sagradas, vale a pena distinguir a diferença de significados de acordo com as palavras dadas em uma ordem ou outra!

Finalmente, não nos esqueçamos de que é apenas com Hutchinson, com a publicação do livro “O espírito da maçonaria”, em 1775, que a Maçonaria Inglesa realmente acessa o status de maçonaria especulativa e simbolista, o que não era o caso anteriormente, quando eles se contentavam em harmonizar elementos muito simples. William James Hutchinson se deu o título de “pai do simbolismo maçônico”. O texto recebeu a sanção da Grande Loja da Inglaterra e passou por nove edições durante sua vida. Seu trabalho foi um dos primeiros a conectar aspectos religiosos, filosóficos e espiritual, ao propósito e a profundidade do significado da Maçonaria.

Para coroar tudo, a mistura desses dois sistemas, uma vez constituída, irá agravar, se ainda fosse possível, a confusão inerente àquelas associações, a ponto de torná-la quase caótica.

Esse foi o caso da Inglaterra em 1813, mas também o caso da França, cerca de dez anos antes, com o “Guide des Macons Ecossais”, que combinava a tradição dos Antigos com os usos franceses dos Modernos.

Concluindo:

Uma comparação entre os sistemas maçônicos escocês e irlandês seria, sem dúvida, muito instrutiva, devido às relações muito antigas entre esses dois países. No século VI, os irlandeses colonizaram a Escócia. Navegadores corajosos, povoaram entre outros, os mosteiros do norte da Europa.

A Grande Loja da Escócia fundada em 1736, estabeleceu um relacionamento muito bom com a Grande Loja dos “Antigos”. Essa Maçonaria dos Antigos, rapidamente se tornou uma maçonaria inglesa, o que certamente facilitou a abordagem dos “Modernos”.

Pode-se ver que os mistérios desta divulgação dos “Antigos”, “As Três Batidas Distintas”, expõe os problemas sobre a origem da Maçonaria Britânica. Por outro lado, teve um impacto fundamental nos sistemas maçônicos contemporâneos. São os “Antigos” que moldaram, em grande parte, o aspecto da maçonaria inglesa de hoje e é difícil encontrar o que resta da herança dos “Modernos” nos rituais ingleses, mas não podemos dizer o mesmo sobre os rituais franceses.

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Adaptado e traduzido por Luciano Rodrigues e Rodrigues, a partir do texto “O Mistério das Três Batidas Distintas”, da William Preston Research and Study Lodge.


INSTALAÇÃO DO VENERÁVEL MESTRE - RELATOS HISTÓRICOS

Luciano R. Rodrigues – www.oprumodehiram.com.br

Uma das acusações que os “Antigos” fizeram aos “Modernos” no século XVIII era a de ter caído no esquecimento ou negligenciado a cerimônia secreta de Instalação do Mestre Eleito da Loja, atualmente chamado de Venerável Mestre. Em 1813, após a união das duas Grandes Lojas rivais da Inglaterra, esta cerimônia passou a ser considerada como um dos marcos tradicionais.

Este artigo é baseado na escrita do pesquisador francês Rene Guilly, também conhecido como René Desaguliers, que por sua vez revisou o trabalho de Harry Carr na revista Ars Quatuor Coronatorum vol.89 de 1976 sob o título “A Evolução da Cerimônia de Instalação e Ritual” e foi exibido por Harry Carr na loja de mesmo nome em 19 de fevereiro de 1976.

Como a cerimônia de instalação é difundida na França, René Desaguliers tem interesse especial em estudar as fontes desta cerimônia secreta, através das divulgações maçônicas, que são importantes registros históricos. Interesse este que não é diferente das pesquisas realizada para o “Prumo de Hiram”.

De qualquer forma, Harry Carr limita seu estudo apenas às fontes inglesas, embora, enfatiza Désaguliers, as fontes irlandesas pareçam ser de seu interesse.

Primeiro de tudo, Harry Carr remonta à história da Maçonaria Inglesa por 600 anos, até a Maçonaria operativa e descobre que não há nenhum vestígio de cerimônias de instalação ou eleição antes da maçonaria especulativa de 1717, mesmo com relação aos Diáconos, Vigilantes e Mestres.

As Constituições de Anderson de 1723, no entanto, descrevem o caminho para constituir e criar uma nova loja. Cita também a Cerimônia de Instalação de Wharton. Estamos falando de Philip Wharton, 1º Duque de Wharton, Grão-Mestre da Grande Loja de Londres e Westminster em 1722.

Philip Wharton, 1º Duque de Wharton

É a descrição mais antiga da instalação do Mestre de uma nova loja e o que aprendemos com ela?

Em primeiro lugar, o Grão-Mestre pergunta se o “candidato” foi examinado por seu vice/adjunto. Aquele candidato que é um Companheiro do Ofício, de boa moral e grande experiência, está localizado à esquerda do Grão-Mestre e após o consentimento unânime dos irmãos, a nova loja é constituída, os deveres do Mestre são apresentados e ele é instalado.

Infelizmente, nem esses deveres nem a cerimônia de instalação são conhecidos.

Em seguida, todos os membros curvam-se para a sua vez para cumprimentá-lo como sinal de submissão. A primeira coisa que está provada é que a Maçonaria de 1723 tinha dois graus, mesmo que, nesse caso, não esteja claro em que grau a cerimônia está aberta.

Os membros são, sem dúvida, Mestres e Companheiros do Craft, e nenhuma obrigação do Mestre eleito foi encontrada, nem um sinal, um toque ou uma palavra. Observe finalmente que, embora as Constituições de Anderson não descrevam a cerimônia, existem os encargos e requisitos para ter a honra de acessar tal cargo.

E somente nas “Três Batidas distintas” (Three Distinct Knocks) de 1760, que é descrita a primeira cerimônia de instalação durante a cerimônia de constituição de uma nova loja. Fala-se de “a obrigação dos oficiais de uma loja”, sendo a primeira do Mestre “na Cadeira”.

A loja parece aberta no terceiro grau e nada se sabe da eleição. O texto se concentra na parte esotérica da cerimônia. O futuro Mestre ajoelha-se em ambos os joelhos ao sul e assume uma obrigação que retoma as idéias clássicas: de não revelar a palavra e o toque, de respeitar os deveres de sua posição e de trabalhar para o bem da Maçonaria, etc etc … sob pena de receber as punições do Aprendiz Admitido, do Companheiro de Ofício e do Mestre Maçom!

Elevado com o aperto de mão do Mestre, o Instalador desliza até o cotovelo e sussurra a palavra e, presumivelmente, agora está instalado na Cadeira. Então o aplauso do Mestre é dado, descrito como o grande sinal de um Mestre Maçom que é feito levantando as mãos em sua cabeça, depois descarregando-o no avental e ao mesmo tempo batendo no chão com os dois pés.

As divulgações, “As três batidas distintas” e “Jakin e Boaz” apresentaram em 1762 a mesma cerimônia.

Em 1730, John Pennel, Secretário da Grande Loja da Irlanda, retoma a cerimônia de Wharton para a redação do Livro das Constituições irlandesas, mas sem mencionar Wharton. Da mesma maneira que Laurence Dermott que foi instalado em 1746, como Mestre da Loja nº26 em Dublin, também retoma a mesma cerimônia com algumas modificações na sua publicação do “Ahiman Rezon” de 1756.

Em 1775, será William Preston em sua “Ilustrações da Maçonaria”, que mostra uma nova evolução. Retoma a Instalação de Wharton e insere o primeiro texto completo dos Deveres do Mestre, muito próximo dos usados hoje em dia. Ao novo Mestre da Loja é entregue a insígnia do seu cargo e a carta patente da loja, apresenta-se o Volume da Lei Sagrada, o livro das Constituições, as ferramentas e jóias dos oficiais a serem empossados, que são felicitados conforme suas funções.

Mas como Preston escreveu sobre a cerimônia de instalação em 1775, se ele pertencia a uma loja dos Modernos?

William Preston foi iniciado em 1763 na loja nº111 da Grande Loja dos Antigos. Em 1764, sua loja mudou de obediência e de nome, passando a se chamar Loja Caledonian nº325 da Grande Loja dos Modernos.

Posteriormente, a Loja Caledonian tornou-se, a principal componente do primeiro Grande Capítulo do Sagrado Arco Real. Acredita-se que os membros da loja, apesar de estarem sobres a égide dos Modernos, continuavam praticando o chamado quarto grau dos Antigos ou Arco Real.

Em 1774, irmãos da Loja Antiquity participaram de uma palestra de William Preston e ficaram impressionados com seu conhecimento sobre os Antigos e o convidaram para ser membro da Loja que outrora, com o nome de Ganso e a Grelha, fora fundadora da Grande Loja dos Modernos. A Loja Antiquity se orgulhava de ser uma das primeiras lojas da obediência e por não estarem muito satisfeitos com as mudanças realizadas pelos Modernos, tinham especial interesse nas práticas descritas por Preston.

A partir de 1801, há vestígios da cerimônia de instalação, mas ao contrário do livro de William Preston, não há palavras de passe, sinais, toques ou penalidades. E será somente em 1822, nas atas da Loja Antiquity, que algo novo aparecerá.

De fato, em um certo momento da cerimônia, os Irmãos Mestres instalados se retiram. Preston frequentemente utilizou a noção de “uma sala adjacente”, uma sala onde o Mestre Eleito será apresentado ao Mestre Instalador, fazendo uma apologia de suas qualidades e méritos, o secretário irá recitar os antigos deveres e regulamentos, prestando seu juramento de Mestre Eleito (Venerável Mestre).

Especificamente, é mostrado que nada se sabe sobre se houve ou não uma abertura e fechamento daquela cerimônia, e se isso deve ser feito na presença de pelo menos três Mestres Instalados.

O novo Mestre é descrito saindo da sala adjacente vestido com suas insígnias, colocando-se na cadeira e sendo aclamado. Então, em procissão, os membros prestam homenagem a ele, como sinal de submissão; a loja fecha no terceiro grau, em seguida, descendo até o primeiro grau, onde todos os oficiais são empossados.

Vamos voltar no tempo, agora estamos em 1810 com a instalação da Loja de Promulgação. Parece, segundo Harry Carr, que os Modernos haviam negligenciado totalmente essa cerimônia, ao contrário do que os Antigos fizeram sob a direção de Dermott. E, de fato, a Cerimônia de Instalação foi considerada um dos “Marcos” em vista da reunificação que deu lugar a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Progressivamente, vai se constatando, pelas atas que chegaram até nós, que o ensino das cerimônias de instalação estava evoluindo, pelo menos em teoria, já que não há nada que nos permita dizer como ela realmente foi praticada em sua totalidade.

A próxima evolução está no MS. Turk de 1816, que constitui a terceira Instrução de William Preston, da qual existem cinco versões manuscritas, mas a MS. Turk é a única completa conhecida.

Verifica-se que o Mestre Eleito é apresentado à Loja no Segundo Grau, que lhe são dados os Antigos Deveres, os regulamentos gerais, onde ele assume o compromisso que assina e sela, os Mestres Maçons e os Mestres Instalados saem para uma “sala de Instalação” onde os trabalhos do terceiro grau são abertos, então os Mestres Maçons se retiram, deixando apenas o “Conselho de Mestres Instalados”.

O Mestre Eleito é novamente apresentado e recebe “o benefício da Instalação”, ele se ajoelha em ambos os joelhos e os dois Mestres Instalados juntam suas mãos formando um arco acima dele. Todos os irmãos se ajoelham.

Uma vez cumprida, se faz uma invocação ao Pai Todo Poderoso, observando que é a versão antiga de um ritual que contém uma oração de abertura e que difere pouco da usada hoje na Inglaterra.

Retomando o curso da cerimônia, o Mestre Instalado assume seu juramento e é colocado na cadeira pelo toque e pela palavra, é saudado e, por fim, o Conselho é fechado ou, mais exatamente, suspenso. Note aqui que as noções de trabalhos abertos e suspensos, não vêm de um ritual específico. Os Mestres Maçons são reintroduzidos e a Loja é fechada no terceiro grau, retornando a todos para a Sala da Loja, onde os trabalhos também são fechados.

E, com efeito, essa instalação é observada melhor em “Três Batidas Distintas” e “Jackin e Boaz”. Note também que, embora haja um sinal de reconhecimento e um toque específico nessa cerimônia. Na história de William Preston, este sinal e toque não são encontrados.

Pode-se pensar que, se Preston formalizou esta cerimônia, ela pode ter sido praticada por lojas dos Modernos, já que o controle da Grande Loja sobre a ritualística das lojas, não era muito grande.

Assim, com o tempo, o Grão-Mestre da Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1827, teve que intervir pessoalmente para padronizar as cerimônias no país e ainda instalar como se deveria, os Mestres de Loja, mesmo aqueles que já estavam em exercício.

Dez irmãos foram nomeados, incluindo o Grande Secretário e o Grande Arquivista para formar uma comissão especial chamada “Loja ou Conselho de Mestres Instalados”, que tinha como objetivo manter regularmente lojas de instrução de Mestres Instalados, esse Conselho também podia instalar os Mestres Eleitos.

Há apenas um documento referente ao trabalho daquela estrutura de Mestres Instalados, a ata de 24 de fevereiro de 1827 da Loja ou Conselho de Mestres Instalados. Algumas perguntas que seguem, permanecem sem resposta e acima de tudo neste texto, René Désaguliers deixa as seguintes dúvidas:

1. Como dar forma para declarar ou constituir um Conselho de Mestres Instalados, bem como a abertura e encerramento dos trabalhos.

2. A palavra do Mestre Instalado e a maneira de comunicá-lo eventualmente.

3. A cláusula penal da obrigação.

4. A inspeção do templo por Salomão e o papel de Adonhiram.

5. A saudação dada pela Assembléia nos três graus da cerimônia.

Para responder a essas perguntas, é preciso consultar o que René Guilly reagrupou sob o termo “Documentos Mais Tardios” e o “MS Henderson”, que é um manuscrito de 350 páginas.

Em 1832, John Henderson foi 1º Vigilante da Loja Antiquity nº2 e foi Presidente do Departamento de Assuntos Gerais da Grande Loja Unida da Inglaterra em 1836-1837. No início dos trabalhos do Conselho de Mestres Instalados, ele descreve em seu caderno, entre outros, a terceira instrução de William Preston do MS. Turk, que citamos anteriormente.

Da mesma forma, em 1838, aparece a publicação do ritual do terceiro grau e a Cerimônia de Instalação de Georges Claret, que de alguma forma é o precursor ou o pai dos rituais impressos, como os que conhecemos hoje.

Voltemos à conclusão desta primeira parte, as contribuições históricas para responder a cinco questões anteriores.

1. Os dois textos confirmam que após a abertura da Loja nos três graus, os Mestres Maçons se retiram e pelo menos três Mestres Instalados constituem por uma simples declaração e um simples golpe de malhete, o Conselho de Mestres Instalados; não há cerimônia de abertura ou encerramento.

2. Se a palavra do Mestre Instalado parece omitida na ata de 1827, pode-se simplesmente pensar que ela foi voluntária por razões de prudência.

3. Para o sinal penal, a omissão também foi prudência? De fato, pode-se pensar que não existia antes de 1827 e que Claret e Henderson foram os primeiros a fazer uma referência direta.

4. Para a inspeção do Templo por Salomão, nada existe antes de 1827 se não é uma referência ao “sinal e saudação de um Mestre de Artes e Ciências”. Henderson fala de sinal e saudação e um pouco de sua história, Claret dá na plenitude também a introdução da Rainha de Sabá.

5. Finalmente, a saudação ao Mestre Instalado pelos participantes parece ser uma recente inovação, sendo que Claret e Henderson não evocam mais do que uma simples saudação do Mestre Instalador.

Para entender o interesse de pesquisar a prática dessas cerimônias hoje, para entender a história e sentir o simbolismo, eu poderia terminar o resumo citando um parágrafo de René Desaguliers:

“A instalação é, acima de tudo, a mais alta honra que uma loja pode conferir, implicando os deveres e responsabilidades de um significado profundo para o feliz recipiendário e a cerimônia é sempre interessante e bela, desde que seja conduzida com dignidade e o decoro que eles impõem”.

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Bibliografia:

Constituições da Grande Loja de Londres e Westminster – 1723

Constituições da Grande Loja da Irlanda – 1730

A Maçonaria Dissecada – 1730

Ahiman Rezon – 1756

As Três Batidas Distintas – 1760

Jackin e Boaz – 1762

Ilustrações da Maçonaria – William Preston – 1775

The Evolution of the Installation Ceremony and Ritual – Harry Carr – 1976

L’evolution de la céremonie et du rituel d’Installation secréte du Maitre Elu, René Desaguliers – 1991