sábado, 16 de junho de 2018




AS QUATRO FASES DA OBRA ALQUÍMICA

Extraído do Blog do Filardo

Vera Faria Leal

1ª. Fase – NIGREDO, ou obra em negro

De acordo com Carl G. Jung esta primeira fase corresponde à integração da sombra, do aspecto obscuro da psique, ou seja, a integração das emoções, intuições, percepções e pensamentos que nós repudiámos ao longo da vida porque os considerámos inapropriados ou defeitos indesejáveis.

Isto pressupõe um submergir no inconsciente pessoal para tomarmos gradualmente consciência das projecções que fazemos para as pessoas à nossa volta. Elas correspondem aos aspectos de nós que marginalizamos e reprimimos, que não aceitamos que são nossos. Esta fase pressupõe enfrentar cara a cara o aspecto sombrio da criação, em nós, em tudo. A Luz e a Sombra fazem parte da existência.

A palavra nigredo está associada à cor negra, ao chumbo, a Saturno (o planeta que, na idade média os astrólogos designavam por grande maléfico devido às provações que lhe estavam associadas, mas que é na verdade um mestre rigoroso e sábio) ao que é pesado, difícil e que causa sofrimento. O primeiro passo do trabalho alquímico é, portanto, conhecer e encarar o nosso lado sombrio – a travessia no deserto. Faz parte deste processo o enfrentar raivas, invejas e ódios ocultos, o reconhecermo-nos na cobiça (mesmo a espiritual) e na competição. Este confronto com o nosso lado sombra causa depressão, melancolia, introversão, desilusão connosco mesmos e letargia. Quando estamos no nigredo, é comum sentirmos o mundo como um lugar triste, sem esperança e as pessoas como não confiáveis ou incapazes de nos confortar. O primeiro passo rumo ao alto, portanto, é um mergulho para baixo para nos conhecermos mais profundamente, com as nossas emoções pesadas, fraquezas e limites. Para alcançarmos todo o nosso potencial interno, é necessário que nos purifiquemos libertando-nos das nossas “sombras” (julgamentos, medos, ódios, culpas, tristezas, apegos) que danificam a nossa relação conosco mesmos e com os outros.

As maiores crises da nossa vida podem dar sempre inicio a extraordinários períodos de renascimento, se não ficarmos agarrados ao passado. São fases cheias de novas possibilidades em que é fundamental investirmos outra vez em nós, numa nova relação, numa carreira, numa outra forma de viver a vida. Perto do fim de algo, mesmo antes de raiar a madrugada é quando a noite é mais escura. E esse mergulho na noite escura da alma, é uma parte de um ciclo que pode levar dias, meses, ou anos, mas acaba sempre por se fundir no ciclo seguinte. É impossível mudarmos as fases da vida, mas, como somos magos das nossas experiências, as nossas escolhas estão constantemente a re-criar novas circunstancias.

Podemos sair da crise mais ou menos abalados, mas reforçados nos nossos fundamentos com a nossa estrutura temperada e fortalecida pelo fogo-dor da experiência. Podemos aprender que está na nossa mão mudar as circunstâncias e começar a praticar.

Como alquimistas de Vida, temos à nossa disposição para trabalharmos com e produzirmos os resultados que almejamos na realidade: o corpo físico, o poder do pensamento e a razão, a nutrição dos sentimentos e a capacidade de acção e mobilização das energias. Na verdade, tudo se resume à utilização adequada das energias para produzir um determinado resultado. Esta é a alquimia realizada pelo mago ou pelo herói, que é você.

Aceitar trabalhar com esse poder que é o de co-criarmos as nossas vidas com a essência que é a fonte, é aceitar viver uma vida mais consciente (ciente de si), mais lúcida (luminosa), mais criativa (o Self em acção).

Quando ficamos sem fogo, sem energia, sem motivação ou esperança, é o sinal inequívoco da vida em nós a preparar o terreno para a grande alquimia. Esta fase é pois o nigredo, a etapa ao negro da Alquimia interna que a crise representa. É a noite escura da alma, a travessia nos desertos que todos provavelmente já conhecemos. Nesta fase, sentimo-nos atirados para o fundo do poço, perdemos a antigas seguranças, ficamos desorientados e doridos, assustados e solitários nesse medo profundo e intraduzível. É preciso aceitarmos esse momento sem quaisquer certificados de garantia, nem ilusórias tábuas de salvação. É um momento arquetípico, que evoca poderosamente todas as mortes psicológicas por que passámos enquanto humanidade. É a etapa alquímica em que o chumbo se prepara para a sua ascensão, para chegar a ser transformado em ouro; é preciso que se desagregue neste caos dissolvente a partir do qual uma nova consciência emergirá.

É necessário continuar em frente, muito embora por vezes nem saibamos bem por que forças nos conduzimos através desse deserto, como conseguimos descobrir por que ponta pegar na nossa vida. Nesta fase, é preciso perder antigas referências de uma identidade que já não nos serve; que caducou como o BI. É preciso ter a coragem de não saber mais como nos definimos, como nos contrastamos com o mundo, a coragem de sermos transparentes nessa fragilidade que em breve irá abrir as portas ao novo degrau da espiral da vida. Esta é uma fase difícil, delicada, em que muitos se perdem em novas alienações que mais não são que fugas ao processo de crescer. Se não nos deixarmos anestesiar demasiado nem por demasiado tempo com quaisquer substâncias ou actividades que visem amortecer a dor mas que também impedem a evolução da alquimia integral que se está a realizar em todo o nosso ser, então um dia começam a despontar novos sinais de mudança.

Sinais de que uma nova e importante parcela do nosso psiquismo se está a preparar para emergir, para sair das trevas e anunciar-se à luz. Como será a experiência de sair das águas cálidas do ventre materno? De ser semente no seio da terra negra, a despedaçar-se desde o interior, até à periferia, germinando novas raízes, novo tronco, novas folhas? Aqui, já percebemos que as regras mudaram e que não vale a pena defendermo-nos à moda antiga. Também não adianta martirizarmo-nos com a culpa ou, inversamente, perseguir bodes expiatórios numa ilusória tentativa de diminuir a dor e de fugir para a frente. Isto não significa que nos demitimos do nosso dever de fazer o melhor para reparar, nos nossos relacionamentos, uma situação de injustiça, de crise, de dificuldade. O que significa, é que é preciso reparar o que puder ser reparado, apanhar os cacos e cuidar de nós começando por acolher uma nova e irreversível ordem na nossa vida.

Este confronto com a nossa realidade interna (ou vazio) é normalmente doloroso (pode ser depressivo), mas uma vez ultrapassado, uma nova luz nasce: surgem novas respostas e pistas sobre como lidar com a nova situação de uma forma positiva.

É pelo fundo de nós mesmos que nos descobrimos. A superfície não revela a nossa essência. Ela vai-se-nos revelando na medida em que vamos atravessando as diversas vivências que a vida nos serve, no decorrer da nossa existência. É bom lembrar-nos, de vez em quando, que não estamos sós. Deixemos que o pensamento – não estou só – perpasse a nossa mente de quando em vez.

Uma das evidências de que começamos a sair do nigredo, é o facto de sentirmos internamente que aqueles aspectos mais obscuros já não nos dominam. Saber que eles fazem parte de nós mas que não nos definimos por eles, dignifica a nossa humanidade e recorda-nos da nossa Essência. Compreendemos e sentimos que é possível contrabalançá-los quando em contacto com a nossa natureza luminosa. Nesta fase, compreendemos que temos chumbo e ouro, luz e sombra, e essa integração é sinal de que nos estamos a movimentar em direcção à próxima etapa, abandonando gradualmente esse estado doloroso para entrar noutro mais ameno.

Nesta fase começa a surgir a aceitação, que abre as portas para uma nova abertura a si mesmo. Esta abertura, por seu turno, facilita a compreensão do que está por detrás da atitude, da crise, da separação ou do problema (os mecanismos inconscientes que geram as dificuldades). Nesta fase, é importante que a pessoa se questione sobre o seu modo de vida e procure a ajuda necessária para compreender a origem do seu problema, dor, dificuldade. Esta busca denota uma aceitação gradual aceitação do problema/situação, o que promoverá a compreensão do mesmo.

Exercício: escolha a situação da qual se quer libertar. Focalize-se nela e escreva-a ou desenhe uma imagem que a simbolize. Intensifique a sua concentração por uns instantes e depois queime o papel consumindo simbolicamente o poder que a situação tinha sobre si.

Quando o nigredo foi bem integrado, conquista-se:

– A capacidade de viver vários sentimentos com vitalidade, autenticidade, espontaneidade
– A capacidade de estarmos bem sozinhos
– Assertividade e auto-estima
– Criatividade
– Maior disponibilidade para uma intimidade mais plena.

No nigredo, conseguimos resgatar a nossa unidade interna.

A 2ª. fase: O Albedo

Durante este período, os alquimistas procediam à lavagem dos instrumentos e dos materiais do nigredo calcinados – a raiz latina de albedo é alvo, branco, que é a cor das cinzas. No confronto com “a noite escura da alma”, dá-se a calcinatio, a queima dos nossos desejos frustrados, com um efeito profundamente purgador e purificador. Prepara-se o terreno psicológico para, mais à frente no rubedo, renascer em nós um fogo maior, que nos liga muito mais profundamente a toda a Vida.

A paixão, por exemplo, tem um efeito solutio, – uma operação alquímica fundamental ligada à água, que visa:

– A transformação dos aspectos fixos e estáticos da personalidade, pela sua dissolução através da análise dos produtos do inconsciente e questionando as atitudes do ego.

Na paixão, como na perda de um amor, dissolvemo-nos nas profundezas do inconsciente. Podemos até sentir-nos inundados por emoções tão profundas, que quase nos afogamos nas aguas da dor ou do desejo. Os sonhos que temos com inundações podem referir-se muitas vezes à solutio – psicologicamente, é uma etapa em que nos podemos sentir dissolvidos, as nossas expectativas não mais têm chão para serem alimentadas e entramos num processo de análise das diversas partes em conflito dentro de nós.

Exercício (cerca de meia hora): preferencialmente no escuro, numa banheira com água salgada submergir-se ficando apenas com o rosto de fora de água. Focalize-se na respiração e deixe que os seus pensamentos se acalmem. Gradualmente permita que a experiência de rendição à fluidez da água desperta os seus sentimentos: não lhes resista: tome consciência deles e flua com eles. Seja água como a água.

De um ponto de vista psicológico, nesta fase começamos a ter intuições e pistas mais profundas sobre como uma dada emoção surgiu, porque é que odiamos ou invejamos aquela pessoa. Este entendimento mental transforma a intensidade da emoção – outra alquimia. No albedo há um exame mais racional dos sentimentos. A pessoa começa a fornecer explicações para as suas reacções, a entender o que as motivou. Há um afastamento das emoções que possibilita uma re-interpretação do que aconteceu. Compreendemos que estamos perante uma vida nova que, vista à luz do albedo, já não parece tão difícil nem tão sofrida. No albedo demandamos a nossa alma e continua a ser importante partilharmos essa busca com alguém. Nesta fase, compreendemos que somos outra pessoa, apesar de não sabermos ainda bem quem somos. Depois de termos sido “vencidos pelo cansaço“ na fase anterior, aqui aprendemos a depor as armas, a não usar mais a nossa força contra nós, a aceitar o sentimento de impotência que nos vem ensinar que a vida não se deixa controlar pelas nossas ilusões. É um estado de transição, uma pausa em que é importante tornarmo-nos mais receptivos para que a Obra possa continuar a crescer em nós.

Nesta fase é possível fazermos em maior ou menor grau a integração consciente do arquétipo oposto ou seja, do “feminino” para os homens (arquétipo da “Anima”) e do “masculino” para as mulheres (arquétipo do “Animus”). O ser humano, tanto física como psiquicamente, é um conglomerado de opostos. Nos nossos genes há elementos masculinos e femininos e o mesmo acontece no nosso psiquismo. Para o homem a “Anima” encontra-se inicialmente submersa no seu inconsciente pessoal misturada com a “Sombra”, tal como o Animus para a mulher. Uma vez que estas nossas contrapartes feminina e masculina tenham sido integradas na psique, transformam-se numa “ponte” que nos liga ao inconsciente colectivo e aos seus arquétipos. Esta fase ensina que em última análise, teremos que fazer a íntima união dos componentes da nossa própria personalidade. O casamento espiritual ou as bodas alquímicas são uma vivência interna, não já projectada no outro. É uma unificação dos contrários internos.

No albedo, precisamos também encarar o que é que não queremos mais, que compulsões, ideias, crenças, atitudes, emoções, relações, já não nos servem e que precisamos com humildade, ir erradicando para que não coagulem de novo em nós, como toxinas. Separar o que queremos do que já não nos serve é também um tempo de re-organização. E um período onde sentimos as coisas fluírem com mais facilidade e menos sofrimento.

Exercício: Deitado na terra, areia ou relva, olhando o céu, relaxe por alguns momentos. Visualize o problema/dificuldade que quer trabalhar, a escorrer do seu corpo para a terra (como se destilasse de si). Sinta a energia subtil da terra e vizualize-a agora ascendendo das entranhas da terra até ao seu corpo, trazendo-lhe frescura, solidez e segurança.

Nesta fase, é importante que a pessoa não fique imobilizada na análise – dela mesma, do sentido da vida, das relações. Que não fique imobilizada nas teorias e incapaz de ver o que está a acontecer à sua volta e de agir. O risco no albedo, o que aqui nos impede de passar à fase seguinte, é o de ficarmos ainda muito centrados em nós mesmos. De não sermos capazes de deixar aquilo que já não queremos, de não empilharmos tudo isso num monte e de lhe deitarmos fogo. Por exemplo, já percebemos que estamos numa relação afectiva onde já não há vida nem estímulo, mas ainda não conseguimos partir; já não conseguimos ir trabalhar porque aquele emprego tira-nos a energia; sabemos que a nossa vocação está noutra parte, noutra actividade, mas não temos ainda coragem para ir embora e bater com a porta. Este é o risco, no albedo, o de não concluirmos o processo.

No albedo, idealmente, começamos a perceber que o caminho não é algo que acontece fora de nós, mas que nós e o caminho somos a mesma coisa, ou seja: o alquimista e o objectivo do seu trabalho – a iluminação – são o mesmo. Deixa de haver um sujeito e um objecto e passa a haver um processo.

Quando o Albedo foi bem integrado, conquista-se:

– Vitalidade e sentido de propósito
– Consciência das sincronicidades
– Uso criativo dos sonhos/imaginação/visualização.
No albedo, renovamos a nossa eficácia na esfera social, alcançando um novo nível de pacificação nos nossos relacionamentos.

Os rituais de passagem e a Alquimia da Vida

Os rituais de passagem que sempre existiram na história da humanidade correspondem a processos de iniciação que marcam etapas de transformação pessoal com mudanças nos padrões conscientes e inconscientes. O noviço, aprendiz ou neófito cruza o limiar de uma nova realidade e renasce uma nova pessoa. Todas as tradições têm os seus rituais de passagem que reforçam o sentido de pertença da pessoa ao seu grupo/clã, e a ajudam extraordinariamente no profundo e fascinante processo de se ser Humano, progredindo através de várias etapas de morte e renascimento.

Alguns exemplos de ritos de passagem: cerimónias de nascimento e de atribuição de nome, baptismo, cerimónias de chegada à puberdade (como a circuncisão ou a celebração da primeira menstruação), o casamento, a viuvez ou as cerimónias próprias da morte.

Aqueles ritos visam preparar a pessoa para o novo estágio, muitas vezes através de exercícios e vivências rigorosos que promoviam o rompimento radical das atitudes com os padrões de psicológicos e de funcionamento do estágio anterior. A estas experiências deveria seguir-se um período de isolamento, uma fase de adaptação necessária para que a morte e o renascimento se completem. Para que o noviço consiga efectivamente contactar com esse poder que deve aprender a dominar. No final deste período, ele volta a ser apresentado à comunidade/grupo com a sua nova condição e comportamentos correspondentes. A pessoa nunca mais será a mesma: como na Jornada do Herói, ela é chamada à Aventura da iniciação: cruza o Limiar dos Mundos, (retiro e contacto com o inconsciente) onde morre para a sua antiga forma de existir e enfrenta vários desafios até conquistar a recompensa da transformação. De regresso à realidade, após a metamorfose profunda que viveu no seu âmago, vai ocupar o seu lugar no grupo/sociedade.

Regressado de uma travessia no deserto onde se encontrou com os seus próprios fantasmas (os nossos medos da mudança, de sermos abandonados, de ficarmos impotentes, de sofrer, de morrer, de perder) o herói que é cada um de nós no Caminho da Vida, recria assim o seu mundo interior, à luz de uma nova força e saber de experiência feito.

Nesse sub-mundo em que entramos pela mão das provações, contactamos mais profundamente com a alma e a Essência que nos habita; é ela que em nós reanima forças esquecidas, iluminando camadas sombrias e preparando-nos para retornar ao mundo da superfície revitalizados e tornados na pessoa que realmente nascemos para vir a ser. Renascendo na nossa humanidade em nova comunhão com a alma, alargamos os horizontes do que julgávamos ser possível conquistar nas nossas vidas. Descobrimos nova esperança e que os antigos limites já não têm vigência sobre nós. Acreditamos que a vida é mais abundante em recursos e oportunidades do que antes fomos ensinados a esperar e tomamos a construção da nossa felicidade nas mãos.

O divórcio, a síndrome do ninho vazio (quando os filhos deixam o lar paterno) a perda de emprego, de um familiar, a emigração, uma doença grave, até um grande êxito são ritos de passagem que muito beneficiariam da antiga sabedoria curadora que nos conduz pelos labirintos emocionais e pelas alterações físicas da mudança, rumo a uma existência mais consciente, fortalecida e vital.

Muito perdemos hoje, nas sociedades ocidentais contemporâneas, com o abandono destes ritos de passagem: eles são como que manuais da alquimia da vida, que nos acompanham desde o nigredo dos abismos da alma, ao rubedo da ressurreição de uma nova identidade, auto-consciência e felicidade. Lembre-se, em cada transição da sua vida, de fazer um tempo de pausa para deixar ir o antigo e saudar o novo. A alquimia da felicidade implica aceitar as várias metamorfoses da vida como se fossem um processo de lapidação do seu diamante interior.

A 3a. fase: O Citredo

Esta é uma fase intermédia e habitualmente mais curta. O amarelo significa que a albedo amareleceu, envelheceu, como um papel branco que fica amarelado com o tempo.

O psicanalista americano James Hillman afirmou que a fase amarela interrompe a fase em que a pessoa só pensa em si mesma. Agora, já não é apenas o que interessa à realidade individual interna que tem importância para a pessoa.

Há uma maior abertura emocional e mental: esta etapa está ligada à educação, aos ensinamentos, a uma nova aprendizagem. É dedicada ao estudo, a uma revisão de conceitos e de preconceitos onde, por nos entendermos melhor, podemos entender melhor os outros nos seus próprios dramas e desafios. No citredo compreendemos melhor as semelhanças entre os nossos processos e os processos dos outros, o que possibilita um novo olhar sobre os seus comportamentos, referências e escolhas. Percebemos que o outro busca, afinal, o mesmo que nós, só que por caminhos diferentes.

Começamos a olhar para além de nós próprios e uma nova compreensão emerge nos nossos relacionamentos. Desponta uma vontade genuína de partilharmos as nossas experiências e de estarmos mais próximos dos outros, de os ajudar. Renovamos a nossa eficácia na esfera social, alcançando um novo nível de pacificação nos nossos relacionamentos. Cumpre-se um trabalho profundo sobre o nosso ego. O amarelo torna-se então radiante, dourado, como os raios de sol da aurora que anunciam um novo dia. Inicia-se a fase vermelha, o re-nascimento de um novo entusiasmo, fogo e ardor. Estamos próximo de nos tornarmos numa nova pessoa.

Exercício: respire profunda e conscientemente durante dez minutos. Focalize-se na inspiração e expiração e na alquimia de vida que o ar produz em si. Pode repetir diariamente. Coloque na sua casa notas espalhadas, para se lembrar de respirar bem.

A 4ª. fase: O Rubedo

A quarta e última fase, é muito representada na alquimia por uma águia branca e outra vermelha, ou por um rei vermelho e uma rainha branca. Eles simbolizam a união dos opostos complementares através da qual se pode alcançar a pedra filosofal e a síntese da Grande Obra, que é afinal a nossa Vida.

No Rubedo o alquimista alcança o “corpo de diamante”: a Totalidade, o encontro e acolhimento mútuos entre o nosso Eu consciente e o Self divino do qual sem sabermos, sempre fizemos parte.

É um estado inefável, indescritível, aludido por místicos, sábios, homens e mulheres do espírito de todos os tempos e que constitui um Mistério. Este Self divino é a “centelha divina” o “Deus interior” da mística, o “Mercúrio Filosofal” da Alquimia, “Deus em nós” como lhe chamou Jung.

Nesta fase vermelha acontece um processo de síntese interno, uma união entre as forças opostas que actuam dentro de nós, união essa que é a geradora da pedra filosofal. O lado masculino (o espírito) e o feminino (a alma) integram-se. Esta união é representada nas narrativas alquímicas pelo casamento do Sol e da Lua, ou da Terra e do Céu e é considerado o ponto culminante da Obra alquímica.

Descemos ao mais profundo de nós e encontrámos o nosso tesouro escondido, a nossa luz divina, através da qual nos reconstruímos em novos Homens e novas Mulheres. Quanto mais aprofundamos no nosso mundo interno, mais a consciência se eleva. Quanto mais procuramos a Luz na nossa consciência interior, mais nos elevamos e nos transcendemos. E assim, degrau a degrau, nessa alquimia de dentro para fora, vamo-nos transformando em homens e mulheres novos. Há uma nova criatividade, um novo entendimento de nós e das nossas relações. Vivemos com as nossas emoções, sentimentos e necessidades, mas já sem nos perdermos nem nos afogarmos neles. Psicologicamente, não somos mais os mesmos: assimilámos novos valores, as nossas motivações mudaram, um novo entusiasmo nos invade.

A psicanalista suíça Marie-Louise von Franz escreveu sobre esta fase final: “Algo firme nasceu dentro de nós, algo que está acima dos altos e baixos da vida, (…) algo muito vivificante que participa do fluxo vital sem inibições ou restrições da consciência”.

Carl G. Jung também descreveu este momento: “(..) é como estar no pico de uma montanha, acima da tempestade. Vemos as nuvens negras, os relâmpagos e a chuva a cair, mas algo dentro de nós paira acima de tudo isto e podemos simplesmente observar os elementos em fúria”. Algo em nós é capaz de dizer – eu já vi este filme – sabendo que não seremos mais tão condicionados por ele, e que estamos mais livres para encontrar novas soluções para a nossa vida.

No rubedo as bodas alquímicas ou o casamento entre os opostos é simultaneamente uma união que tem lugar em três planos: dentro da psique do indivíduo, entre o individual e a sociedade colectiva, e entre o corpo do colectivo e o mundo espiritual. Com cada estágio sucessivo de transformação da personalidade, nós alcançamos uma consciência cada vez mais expandida de nós mesmos, do mundo e de Deus. Renascemos e em cada fase da Alquimia maior da Vida, a Felicidade ganha um novo sentido pelo poder crescente do Amor em nós. No rubedo, religamo-nos à transcendência, à espiritualidade. Pelo fogo, ligado aqui ao simbolismo de uma nova consciência, compreendemos que tudo na vida faz sentido.

Quando o Rubedo foi bem integrado, conquista-se:

– Individuação
– Compaixão
– Equanimidade
– Graça.