domingo, 28 de junho de 2015

A Natureza da Maçonaria


José A. Filardo M.´. I.´.

Em nossa série de artigos e pesquisas publicadas na Revista, procuramos esclarecer as influências e antecedentes da formação da Instituição que conhecemos hoje como Maçonaria.

Primeiro, em https://bibliot3ca.wordpress.com/a-verdadeira-primeira-grande-loja/ procuramos mostrar o que era aMaçonaria Operativa na Europa, como o principal elemento que informa nossa estrutura e simbologia.

Depois, mostramos o que eram as Guildas inglesashttps://bibliot3ca.wordpress.com/607-2/ também chamadasCompanhias de Libré.

Depois, particularizamos uma das guildas – A guilda dos Stonemasons – https://bibliot3ca.wordpress.com/o-dna-da-maconaria-a-companhia-dos-macons/ vez que tudo indica ter sido nela que nossos fundadores se basearam para estruturar a nova instituição.

Em nossas pesquisas, entretanto, topamos com uma informação crucial sobre o ambiente político da época que pode ter determinado a constituição da primeira grande loja e sua difusão a partir dai – O Riot Act de 1715. https://bibliot3ca.wordpress.com/dna-da-maconaria-por-que/

Controle social

Em nosso post sobre o Riot Act, desenvolvemos a teoria de que a Maçonaria representou uma reação ao ambiente opressivo e ditatorial existente na época que submetia os cidadão britânicos à ameaça de pena capital caso se reunissem.

Quem dera…

É preciso lembrar e ter em mente que a Inglaterra, desde 1533, com um breve intervalo no reino de Maria Stuart (1553 – 1558) era um país protestante e é lícito afirmar que os reverendos Desagulliers e Anderson gozavam de prestígio junto a Casa de Hanover. Também não se pode esquecer a tensão existente entre católicos e protestantes, o que fazia da religião uma expressão de divergências políticas, uma vez que os Jacobitas eram católicos e os Hanoverianos protestantes.

O Riot Act de 1715, medida draconiana não estabelecia exceções. Simplesmente suspendeu o direito de reunião e provocou uma situação de opressão a que os ingleses não estavam acostumados. E, naturalmente, o descontentamento aumentou.

Acresça-se o fato de que a situação que provocou a edição do Riot Act perdurou pelos próximos 30 anos, até que os Jacobitas finalmente perderam força e se conformaram.

Mas, como fazer para legalizar o direito de reunião de forma limitada e somente entre escolhidos?

Os estrategistas da Coroa logo acharam uma saída brilhante. Uma organização disciplinada na qual a discussão política e religiosa estava proibida. Como alternativa, oferecia discussões sobre o sexo dos anjos e outras discussões importantíssimas sobre simbolismo e tradição esotérica, que mudavam o rumo da conversa e satisfaziam o anseio dos ingleses pelo direito de reunião.

Isso transforma os pastores protestantes Desagulliers e Anderson em agentes de um governo que oferecia uma liberdade limitada à parcela pensante da sociedade inglesa.

Moldaram a instituição a partir de uma tradição de longa data, aMaçonaria Operativa que na Inglaterra eram as Companhias de Libré https://bibliot3ca.wordpress.com/607-2/ herdeiras da fase operativa das guildas; eles formataram o espaço de reunião com base na estrutura do plenário da Câmara dos Comuns (dando com isso, a sensação aos maçons de que participavam de importantes discussões)


Planta da Casa dos Comuns no Parlamento Britânico

e agregaram uma instituição caríssima dos ingleses – O Clube de Cavalheiros – que surgira havia pouco tempo (1693),

Gentlemen 

da qual aproveitaram o sistema de votação com bolas pretas e brancas e a regra da admissão exclusivamente masculina.

“Não podemos mais duvidar que as Lojas Maçônicas que surgiram em 1717 eram nada mais que um novo tipo de Clube: o livro das Constituições afirma que os novos iniciados encontravam em uma loja um relaxamento seguro e agradável do intenso estudo ou pressa dos negócios, sem política ou partido.” (Cramer, B. – The Origin of Freemasonry – AQC vol 2, p. 106)

Através da proibição da discussão de política e de religião nas lojas eles desarmaram os espíritos e “enquadraram” os descontentes ou potencialmente descontentes, evitando assim o agravamento da crise jacobita.

Também parece ter sido a agenda deles sabotar a igreja católica, pois eram protestantes hanoverianos. Atacaram simultaneamente os dois pontos mais importantes do ambiente político de seu tempo, a Política e a Religião.

A reação jacobita surgiu por meio do conflito entre Antigos e Modernos. Esse conflito, embora se desse em termos de divergências ligadas à constituição maçônica e o aspecto da religião dos maçons, ele mascarava os interesses de Protestantes e Católicos. O recuo dos Modernos foi evidentemente um recuo tático que alavancou a difusão da nova instituição.

Não tardou também a reação da Igreja Católica à evidente intenção da nova instituição de combater o obscurantismo e o domínio da igreja sobre a sociedade da época. Há que se considerar que do ponto de vista papal, a Inglaterra fugia totalmente do controle da Igreja desde Henrique VIII (1533) e a maçonaria era uma ameaça enorme à sua autoridade. Precisava impedir sua difusão entre os seus clientes.

O Papa Clemente XII, em 1738, emitiu a bula papal que excomunga os católicos que se tornem membros da Maçonaria. Esta sentença é válida até nossos dias, apesar dos alienados maçons americanos e alguns ingleses se apegarem à carta do Cardeal Sepe que tentava relativizar a excomunhão e pretendem que a maçonaria americana não se enquadra na hipótese da bula, visto que não conspira contra a Igreja. Mas, diversos papasreiteraram a excomunhão, inclusive o atual Benedito XVI.

A esperança dos maçons que professam o catolicismo é vã. A excomunhão nunca será levantada, pelo simples fato de que a igreja tem como dogma a infalibilidade papal, e a revogação de uma bula significaria admitir que o Papa Clemente XII estava errado.

Igreja e Maçonaria são, de fato, duas faces da mesma moeda. Uma tem o dogma da infalibilidade papal e a outra tem o Landmark #25 de Mackay, segundo o qual nada pode ser mudado na instituição.

Mas, há uma diferença fundamental. A Maçonaria é a igreja sem a superstição e procura salvar o corpo físico humanidade usando a razão, enquanto que a santa madre diz querer salvar a alma manipulando o medo e usando a ignorância.

Assim, a Igreja continua controlando a sociedade através do confessionário, enquanto a Maçonaria o faz através do comportamento dos maçons e das lojas e aumentando seus quadros com o recrutamento da elite dominante da sociedade. São duas instituições complementares que o Establishment utiliza para o controle social. Aqueles que fogem ao controle da Santa Madre Igreja e se refugiam na Maçonaria são igualmente controlados.

Os agentes da Coroa Inglesa que montaram a Maçonaria procuraram deixa-la o mais abrangente possível, cobrindo assim toda uma gama de preferências religiosas e assegurando seu domínio.

Eram homens de seu tempo, mas demonstraram uma extraordinária perspicácia.

Não ousaram, todavia, realizar o que somente mais tarde os franceses – tradicionais iconoclastas – fizeram: dispensar a divindade. Para os ingleses – e eles estavam absolutamente corretos em sua análise – um ateu não pode ser maçom. E a razão é muito simples: se alguém é capaz de negar o limite máximo, será capaz de negar qualquer coisa. Logo, é um indivíduo livre e incontrolável. Não serve para a maçonaria. Ela precisa de conformistas.

Um exemplo recente (1929) desse controle social é evidenciado pelo texto sobre a loja New Welcome 5139, publicado em http://fm4cats.wordpress.com/apendice-2-a-loja-new-welcome-n%C2%BA-5139/.

Em resumo, trata da criação de uma loja especialmente para membros do Partido Trabalhista inglês, porque o Grão Mestre – o Príncipe de Gales – era de opinião que os membros e funcionários do partido estavam recebendo bola preta em seus pedidos de ingresso na Maçonaria.

Até ai, tudo bem, uma oportunidade está sendo oferecida a quem dela precisa e lhe está sendo negada.

O que fica interessante é o final do texto do Irmão Sir Rockliff:

“Além disso, os promotores sentem fortemente que a Maçonaria exerceria uma influência estabilizadora (“como cidadãos do mundo”) sobre aqueles que são trazidos para dentro dela e ajuda a tornar inoperante qualquer influência perturbadora que possa existir no trabalho em fábricas e em outros lugares.

Os homens que compõem a principal associação de lojas do exército e da marinha pertencem às classes industriais, e eles fizeram um juramento de fidelidade.

Espera-se imbuir em seus colegas civis o mesmo espírito de lealdade por meio da Loja da Cidadania”. (Grifos meus)


(Nota: Loja de Cidadania foi o nome inicialmente dado à loja e posteriormente mudado para New Welcome.)

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