O TESOURO DO MAÇOM
Oliveira Pereira (Oriente de Portugal)
O Templo do silêncio e de máxima reflexão, para além dos característicos, específicos e milenares rituais, e da profunda meditação interior que nele é nutrida com os nossos estudos, satisfazemos tanto a nossa sagacidade do saber como a busca incessante do conhecimento, e deste modo crescemos em sabedoria interior e assim emergimos das trevas da ignorância para a luz do mundo espiritual. Com estes amplos, vastos e exaustivos estudos, aprendemos, que tudo o que encontramos no nosso caminho, pode e deve ser um proveitoso material de construção para o edifício simbólico do nosso Templo, que erigimos, em cada instante, em cada hora, e em cada dia ao G:. A:. D:. U:.. Na verdade, tudo é no fundo um bom material para ser utilizado na construção do edifício do Bem, embora este se possa apresentar sob a forma de uma experiência desagradável, de uma imprevista contrariedade, de uma qualquer dificuldade, de um obstáculo, de uma desgraça ou até mesmo de uma momentânea inimizade.
O verdadeiro Maçom, não se deixa vencer pelo desânimo nem pela decepção, antes pelo contrário, ele é forte espiritualmente e integro no seu agir. Mas, aqueles que eventualmente venham a ser atingidos por esta teia do mal, como também aqueles que ingressaram na Maçonaria com um espírito superficial e interesseiro, deixarão de conhecer aquilo que esta secular Ordem no seu seio encerra, que é e será sempre um mistério ao mundo exterior e profano a esta, pois estes deixarão de conhecer o seu real propósito, e a Força Espiritual que está oculta, que na verdade é aquela que no seu interior anima a Ordem e consiste na verdade o seu verdadeiro tesouro.
O verdadeiro tesouro da Maçonaria não está visível nem acessível ao profano, este encontra-se profundamente escondido nas entranhas do conhecimento e da sabedoria. Só escavando por baixo da aparência e do orgulho, o poderemos encontrar. Quem passa por esta sagrada Instituição como se fosse por um qualquer clube profano, nunca a poderá verdadeiramente conhecer, pois somente aqueles que permanecem nesta Ordem por muito tempo, com a sua fé inalterada, esforçando-se sempre por se tornar um verdadeiro Maçom e reconhecendo o privilégio que lhe é conferido por esta qualidade, ela lhe revelará o seu oculto tesouro.
Voltando à referida definição do Grande Dicionário Universal da Língua Portuguesa, embora na generalidade os profanos considerem a Maçonaria uma Sociedade secreta, na atual realidade, este é um termo excessivo e abusivo, pois esta não é uma Sociedade SECRETA, mas sim uma Sociedade DISCRETA, pois nós Maçons entendemos, que tudo o que diz respeito a esta nobre e respeitável Ordem está reservado, e somente interessa aqueles que nela participam, e que dela façam parte. Como sabeis, existe realmente uma grande diferença entre estes dois distintos conceitos. Como Instituição SECRETA dever-se-ia provavelmente entender, que se esconde na Maçonaria algo que não se pode revelar ao mundo exterior desta, algo provavelmente de maléfico, de hediondo e talvez de muito perigoso para a sociedade. Em geral, o que não é verdade, a Maçonaria apenas reserva aos seus membros os seus princípios, as suas tradições, os seus ritos, os seus mitos, os seus segredos, como também, a sua própria maneira de agir e de estar no mundo, onde o universo é o homem e o seu bem-estar social.
Embora existam hoje muitas publicações sobre a história desta secular Instituição, nas quais basta uma simples leitura para que esta nos revele os seus propósitos e as suas nucleares ideias, mesmo assim, teima no mundo exterior e profano a esta, permanecer a ideia do secretíssimo e do mistério mais profundo, que leva a que pronunciem o seu nome em voz muito baixa, num inequívoco sinal de respeito, de receio e muito medo pelo desconhecido. O que é uma absoluta contradição, pois, só pelo facto tanto de existir variadíssimas publicações de fácil acesso a qualquer leitor, como também existirem muitos sites na internet sobre este nebuloso tema, e a Ordem estar inscrita nas instituições públicas a esse fim consignadas, deveria ser razão mais que suficiente para que esta fosse considerada uma Sociedade Discreta, e não uma Sociedade Secreta.
Mas diz o provérbio, que “não há fumo sem fogo”. E neste caso, este tem alguma razão de ser, uma vez, que nós somos os herdeiros de uma história marcada pela resistência e pela clandestinidade, em que não raras vezes, fomos perseguidos como terríveis demónios, acusados de bruxaria e de heresia. Fomos até mesmo vistos como um perigo para o regime ditatorial de poderosas nações, como também de muito perigosos para todos aqueles que na realidade detinham o verdadeiro poder dessas mesmas nações, espíritos mais interessados na exploração do homem pelo homem do que com o seu desenvolvimento, progresso e bem-estar social. Em consequência desta injusta e cruel herança, hoje ainda alguns de nós, continuam tanto a ter um hereditário medo e um secular pavor de dizer que são Maçons, como também de usar em público qualquer símbolo ou distintivo que os identifique como tal, preferindo atuar em nome da Ordem, na sombra da clandestinidade e fora da ribalta das luzes.
Nos dias de hoje, aparentemente, não há razão para esse receio e esse ancestral temor, tanto mais, que depois de séculos de luta pelo reconhecimento do poder político esta conseguiu, pôr fim, alcançar com o advento do 25 de Abril. E tanto mais, que na histórica Portuguesa, apesar das esporádicas perseguições que se verificaram de tempos a tempos, poderemos com alguma segurança afirmar, que apesar de no seu início, os movimentos Maçónicos terem sido fortemente condicionados pelas perseguições da Inquisição, estes movimentos estiveram sempre presentes no nosso País e nele foram geralmente acarinhados e até mesmo protegidos. Embora, o seu grande desenvolvimento e crescimento, tivesse apenas lugar a partir da Revolução Liberal.
Mas, se tivermos em consideração as provas existentes nas páginas da história deste País, que dão a possibilidade dos Templários terem sido os antepassados diretos da Maçonaria moderna, para a qual se julga terem estes passado o seu testemunho de certos princípios gnósticos e esotéricos, em consequência das perseguições de que foram alvo, então não há razão para este medo ancestral, uma vez que Portugal sempre forneceu aos Templários o refúgio e a segura guarida de que tanto, em tempos, necessitaram. Aliás, esta tese é tanto mais verosímil e aceite, se tivermos em consideração que existe ainda hoje uma forte ligação entre a Maçonaria e o Templo. Ligação esta, que é assumida em certos graus maçónicos de certas obediências, como uma realidade absoluta e irrefutável.
Em face desta tese, poderemos deste modo concluir que, em Portugal, a atividade Maçónica esteve sempre presente ao longo da sua história, uma vez que, a Ordem do Templo desempenhou um papel relevante e extraordinariamente importante no tempo em que este País se formava e geograficamente delimitava o seu território. Pois, ao contrário do que veio a acontecer noutros países europeus, a Ordem do Templo não foi perseguida em Portugal, antes pelo contrário, os nossos Reis deram-lhe guarida, acarinharam-na e protegeram-na e até mesmo, quando o Papa Clemente V, por influência do rei de França, Filipe “o Belo”, dissolveu a Ordem do Templo, o nosso Rei D. Dinis, apressou-se a promover a criação da Ordem de Cristo, para a qual transitaram todos os bens dos Templários e até mesmo os próprios Templários. Foi aliás graças a este inteligente e arrojado aproveitamento político, que mais tarde veio a possibilitar a Portugal a sua grande giesta e epopeia marítima, ao tomar a dianteira na expansão marítima dos séculos XV-XVII em relação às demais potências europeias, como ainda conferiu a este País, o início da germinação de uma lenta formação de uma identidade nacional de que hoje é apanágio no nosso hino nacional.
Por outro lado, historicamente a Ordem Maçónica tanto é a herdeira das associações de artistas do Mundo Antigo, especialmente do Egito, da Grécia e de Roma, como está ligada às corporações de pedreiros da Idade Média, que à semelhança do que se praticava no resto da Europa, estas associações de mestres também floresceram em Portugal. E com elas a Maçonaria operativa. E como prova desta sua existência, temos gravados nas grandes construções medievais portuguesas os seus elementos simbólicos, nomeadamente nas construções do Convento de Cristo, no Mosteiro da Batalha e no Mosteiro dos Jerónimos de entre muitas outras construções. Com a reforma de Lutero e o fim da edificação de templos, as associações franquearam as portas a pessoas não iniciadas na arte da construção. Com o evoluir do tempo e o fim da construção de templos, estas lojas, pouco a pouco, vieram a estar sob a influência de membros adoptados por estas. E com este facto, a organização profissional dos construtores de Catedrais e de Templos veio a derivar para a Maçonaria especulativa, a qual, se tornou relevante a partir de 1717, quando os membros de quatro Lojas de Londres fundam a grande Loja de Inglaterra, e com esta, os princípios da obediência, conferindo assim autoridade e poder a esta grande Loja para criar novas outras Lojas.
Em suma, os Templários como construtores de templos, foram os geradores das Lojas Maçónicas operativas e nelas estes deixaram bastantes vestígios da sua herança e da sua passagem, que vão desde aos seus ritos, às suas hierarquias, formas de estar próprias da Cavalaria, à devoção e predileção do número três e até mesmo do seu culto. Neste último caso, eles deixaram-nos tanto o culto de um Deus cósmico que se nos revela na Luz do Oriente, como também nos deixaram o conhecimento da existência de duas Igrejas cristãs primitivas, muito diferentes entre si: A Igreja de Pedro e a Igreja de João. Tanto para eles como para a Maçonaria, a Igreja de Pedro é a Igreja exotérica destinada às multidões, baseada na fé e no dogma, enquanto que a Igreja de João é a Igreja esotérica, cujos ensinamentos são reservados aos chefes e aos pastores, que caminham à frente do seu rebanho.
Pela existência destes vestígios visivelmente comparáveis, e por muitos assumidos, que os Templários foram de fato os antepassados históricos dos Maçons, os quais, se identificam com os seus ritos e com as suas tradições. Esta tese agiganta-se ainda muito mais, quando comparada com as poucas provas existentes, de que os Cavaleiros Templários tivessem sido efetivamente exterminados e com eles a sua Ordem do Templo. É no entanto certo e evidente, que pelos graves acontecimentos de que estes foram vítimas em França, estes tiveram a necessidade de se ocultarem, para desse modo lhes ser possível de novo se reagruparem, o que viria a acontecer alguns séculos mais tarde na forma de Maçons. Pois, se analisarmos com alguma frieza e independência, os acontecimentos históricos a partir daquela célebre e fatídica sexta-feira do dia 13 de outubro de 1307, poderemos identificar alguns sinais que nos dão conta da continuação da sua existência. Ora vejamos: como foi possível, que por toda a França nesse longínquo dia, os Senescais do rei, dando cumprimento às ordens seladas que este lhes havia secretamente enviado, mobilizassem e organizassem tropas suficientes para deter e prender os mais destemidos e os melhor treinados guerreiros de toda a Cristandade? Algo semelhante a uma típica suburbana esquadra de polícia, nos dias de hoje, receber ordens dos seus superiores, para reunirem forças suficientes a fim de deterem e prenderem todo os elementos do corpo de comandos e do corpo de fuzileiros estacionados na sua área geográfica. Inacreditável só de pensarmos nessa possibilidade! Por outro lado, esta catástrofe para os Templários não ocorreu em simultaneidade em todos os países europeus, dois países houveram, que de imediato ofereceram refúgio e asilo aos perseguidos Cavaleiros do Templo, que foram os reinos de Portugal e da Escócia. Outros houve, em que a perseguição foi quase nula, nomeadamente de entre muitos episódios, na Alemanha por exemplo, consta-se que o Mestre Templário Hugo de Gumbach, juntamente com um punhado de Cavaleiros experientes e bem treinados em combate, cuidadosamente por este escolhidos e selecionados, fizeram uma entrada teatral no concílio convocado pelo arcebispo de Metz onde se julgava as ações dos Templários, alegando que ele e os seus homens estavam desejosos de serem submetidos a julgamento por combate, contra aquela própria assembleia ali reunida. É fácil para nós percebermos e adivinharmos, que após um estupefato e cobarde silêncio dos prelados presentes, o caso foi rapidamente abandonado e esquecido por estes e os Cavaleiros viveram o tempo suficiente para provarem a sua inocência noutras ocasiões.
Para além desta evidência da sua não total exterminação, não nos deixa também de ser estranho e até mesmo muito curioso, que os Cavaleiros, cujo símbolo era representado por dois cavaleiros montados em um só cavalo, em sinal de companheirismo, não tivessem pedido reforços a outros seus irmãos estacionados em outros países e de imediato o obtivessem. Como não menos estranho, perplexo e sem qualquer resposta lúcida, é também o facto, de haver o conhecimento histórico, que no momento das prisões dos Templários em França, estava fundeada ao largo das suas costas, a famosa e a mais temível armada Templária do seu tempo, a qual, simplesmente se volatilizou e desapareceu dos mares e das páginas desses compêndios. Não menos curioso, é o facto dos registos da espoliação ordenada pelo rei de França aos bens dos Templários, não constar neles um único navio apreendido. Para onde foi então essa poderosa e temível armada Templária? Tudo nos leva a supor, que essa famosa e célebre esquadra contornou as costas do Mediterrâneo para Ocidente parte desta arribou nas margens do rio Tejo enquanto que a outra parte continuou a viagem para fundearem nas costas da Escócia. Com este acontecimento, tanto os navios Templários, como os mestres e marinheiros foram os percutores da expansão marítima portuguesa, os quais vieram a ornar as bujarronas das caravelas portuguesas, que numa missão de descoberta e conquista sulcaram os até então desconhecidos oceanos.
Quanto aos navios que fundearam nas costas da Escócia, a qual veio a se tornar o principal refúgio dos Templários, dado ser esta a pátria de Robert Bruce, o qual, havia sido excomungado pelo papa, pelo que este não tinha qualquer autoridade e jurisdição sobre aquele território, consolidaram e organizaram a ordem a qual veio a evoluir para a Maçonaria exclusivamente especulativa. Assim, por consequência deste histórico episódio, os Templários consolidaram e modernizaram a sua ordem, por forma a proporcionar mais tarde, às Lojas Maçónicas escocesas, a sua expansão para os restantes países europeus e desses para o resto do mundo. A primeira fase dessa expansão, foi dirigida e canalizada para França, à qual, esteve ligada as diversas vicissitudes da dinastia Stuart, que reinou na Escócia e na Inglaterra. Em 1649 o rei Carlos I foi vencido por Cromwell e por consequência desse feito bélico, este veio a ser decapitado na cidade de Londres. A sua viúva Henriqueta de França foi forçada a refugiar-se neste seu País natal, onde Luís XIV lhe ofereceu o Castelo de Saint Germain para sua residência, o qual, não tardaria a transformar-se num foco e num polo de conspiração contra Cromwell, como também num foco e num polo de irradiação Maçónica, uma vez, que acorreram a esse Castelo numerosos nobres escoceses, que se mantiveram fiéis à causa de Stuart, sendo, muitos desses nobres Maçons aceites, e usavam o segredo Maçónico para se comunicarem entre si, por forma a que desse modo se abrigassem das forças que lhes eram inimigas e hostis.
Quanto a Portugal, a Maçonaria especulativa implantou-se no nosso País durante a primeira metade de setecentos, a qual era essencialmente de origem inglesa e protestante. Como seria de esperar, a Inquisição veio a intervir na repressão e perseguição deste movimento Maçónico. Com a aclamação de D. José I e o início do período pombalino, as Lojas Maçónicas conheceram uma época de paz e até de proteção. No reinado de D. Maria, estas vieram a perder a proteção de que gozavam para voltarem a ser perseguidos, torturados e assassinados. Apenas no ano de 1802, se criou a primeira Obediência Maçónica inteiramente portuguesa, que foi o Grande Oriente Lusitano que ainda hoje existe.
Embora, como já foi referido, não exista nos dias de hoje em Portugal perseguição a Maçons, a hora não é para nós de felicidade e de euforia, pois a Maçonaria portuguesa está hoje dividida entre o que poderemos considerar de Conservadores e de Progressistas, por um lado e por outro de Laicos e de Crentes.
As nossas divergências são de uma profunda e gigantesca dimensão, pelo que, falarmos em união entre as várias obediências, é falarmos de uma utopia ou de um sonho irrealizável. Pois as nossas divergências, vão desde a crença em Deus, aos assuntos passíveis de serem discutidos em Loja.
O Grande Oriente Lusitano, velho bastião da Maçonaria portuguesa, filho do movimento republicano e seguidor da linha socialista, continua a defender uma Maçonaria laica e despojada de qualquer livro sagrado, pela razão de não limitar a margem de manobra dos Maçons, segundo a opinião dos seus membros, os quais dão como razão para esta sua posição, o facto de que “o Maçom é um homem mais livre do que o homem comum”. Assim, estes nossos irmãos não acreditam em Deus, aceitam ter mulheres na instituição (embora em Lojas próprias) e discutem vivamente a política da ordem do dia, havendo mesmo quem diga, que é nas suas reuniões que se decidem muitos dos lugares de destaque da vida pública e partidária. Estes nossos irmãos, são adeptos da linha francesa, jacobina e rebelde em relação aos textos fundamentais da Maçonaria.
Em face destes factos, o Grande Oriente Lusitano pode ser conotado com a facção mais progressista e de facto, este ao longo da história da instituição, sempre se digladiou contra a linha marcadamente conservadora e ritualista. Foi esta linha que, em 1989, se separou do Grande Oriente e decidiu iniciar em Portugal a maçonaria regular através da G: L: R: P: a qual é uma fiel seguidora do modelo inglês, conservador em relação aos princípios constitucionais da Ordem, definidos há muitos séculos: crença em Deus, proibição de discutir assuntos políticos ou religiosos em Loja e proibição à entrada de mulheres nas mesmas.
Em conclusão, nós somos a Maçonaria dos novos tempos, que embora conservadora e de princípios medievais, se despolitiza, se reforça nos seus rituais, e que ressuscita na crença em Deus e abre os braços a todos os credos e a todas as religiões. Nós acreditamos na imortalidade do espírito e condenamos a discussão sectária de natureza política ou religiosa. Nós procuramos unir a espécie humana pelos laços do amor fraternal, por isso a Maçonaria cumpre a lei básica de qualquer credo religioso válido.
Oliveira Pereira
Oriente de Portugal
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