sábado, 16 de dezembro de 2017



CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CONSTITUIÇÕES MAÇÔNICAS



No texto abaixo o Irmão Armando Ettore do Valle mostra, de forma brilhante, as diferenças filosóficas e doutrinárias existentes entre as Maçonarias Francesa e Inglesa.

Interessante notar que, mesmo sendo 200 anos mais antiga do que a Constituição de Anderson (inglesa), a Constituição Francesa de 1523 possui um caráter humanista, progressista e evolucionista em concordância com os anseios atuais da sociedade e com os princípios da igualdade humana, idéias que até mesmo hoje, em pleno século XXI, ainda não são totalmente aceitas pelos setores conservadores da sociedade.

A Constituição Francesa de 1523
A Constituição Inglesa, de Anderson, de 1723
A Constituição Prussiana, de Frederico II, de 1786

É muito interessante o confronto entre as duas Constituições Maçônicas, a Francesa, de 1523, e a Inglesa, de Anderson, de dois séculos mais tarde.

Na primeira, é o espírito latino, menos místico e mais rebelde, a mostrar-se inquieto pelos destinos da pessoa humana, lutando pela liberdade do pensamento e rebelando-se contra o privilégio das castas religiosas e da nobreza.

Na segunda, é o misticismo religioso, o “mosaísmo” na sua mais alta expressão, a obediência cega aos reis, à confusão, enfim, entre a teologia e a coisas temporais.

Na Francesa, a Maçonaria é um movimento filosófico ativo, universalista e humanitário, no qual cabem todas a orientações e critérios que tenham por objetivo o aperfeiçoamento moral e intelectual da Humanidade, sobre a base do respeito à personalidade humana.

Na Inglesa, a instituição é apenas um sistema de ordem moral, um culto para conservar e difundir a crença na existência de Deus; e é dentro desse princípio que se deve compreender a ajuda de seus membros para regular vidas e condutas, de acordo com os princípios da sua própria religião, seja ela qual for, desde que seja monoteísta.

A primeira, tornando livre a investigação da verdade, defendeipso facto a liberdade do pensamento e opta pela aplicação do método científico experimental na filosofia.

A segunda afirma que a Maçonaria é um culto fundado sobre bases religiosas, não admitindo livres-pensadores nem ateus, por melhores que sejam suas virtudes morais.

A Constituição Francesa é pela proibição absoluta de os clérigos das várias religiões se imiscuírem em assuntos políticos do povos.

Advoga a abolição das castas e dos privilégios da nobreza e do clero, e reconhece a livre determinação dos povos com o direito de se governarem livremente de acordo com suas leis e costumes.

Propõe a supressão dos tribunais especiais da justiça e do Santo Ofício, os quais devem ser substituídos pelos tribunais comuns, de acordo com as leis e costumes.

A Inglesa é omissa nesses pontos. A Francesa não proíbe que os seus membros adorem os deuses sem combate às religiões. Omite-as, deixando as concepções metafísicas ao domínio individual dos adeptos. A Inglesa impõe a crença em Deus, e obriga ao juramento sobre a Bíblia.

“É costume antigo – dizia a Constituição Francesa – não admitir como Franco-Maçons os inimigos naturais da Instituição, como sejam os clérigos das várias religiões, os portadores de títulos e privilégios da nobreza e do clero e os que possuem convicções contrárias aos princípios básicos da Franco-Maçonaria, salvo quando se rebelarem clara e francamente contra essas ideologias antagônicas dos princípios da igualdade humana”.

A Inglesa, pelo contrário, confere à nobreza os títulos mais altos da hierarquia maçônica. Aplacadas as lutas religiosas na França, e ressuscitado o movimento filosófico interrompido pelos desatinos da Contra-Reforma, a Maçonaria volta ao continente e retoma sua antiga forma expressa na Constituição de 1523.

Era a época da Enciclopédia e da propaganda do que devia ser mais tarde a grande Revolução Francesa.

Os emblemas da realeza são banidos dos rituais, e as formas religiosas introduzidas pelos ingleses cedem lugar a concepções racionalistas em que o caráter cívico da instituição se manifesta em toda sua pujança e magnitude.

Não há dúvida, a Maçonaria Francesa assume o seu lugar na vanguarda, penetrando profundamente na burguesia, sem descurar, contudo, o proselitismo entre a própria nobreza, que sentia desabar seu mundo de ilusões.

A reforma ritualística não agradou aos ingleses. Não agradou também aos alemães a quem não convinha uma França subversiva pelo receio do contágio de idéias tão perigosas.

A Instituição Maçônica, porém, progride e ultrapassa as fronteiras nacionais. Ao grito da França responde o eco em outros latinos.

Na Rússia, a grande Catarina constitui-se em animadora do movimento filosófico e, com o auxílio da princesa Dachokov, funda uma academia de literatura russa, convidando para inaugurá-la Grimm, Voltaire e Diderot.

O espectro da República torna-se então o pesadelo de Frederico da Prússia.

Não seria boa tática combater idéias novas com princípios rançosos. Catarina era perigosa e o brio dos franceses, indomável.

E Frederico pensou: “Se os ingleses mantiveram a casca e apenas fizeram restrições à polpa, por que não hei de eu aproveitar o arcabouço e torná-lo elegante aos olhos da própria França?”.

E foi assim que a 1º de maio de 1786, o Grande Frederico operava a sua reforma escocista: “Nós, Frederico, por graça de Deus, Rei da Prússia, Margrave de Brandeboure, etc. Soberano Grande Protetor, Grande Comendador, Grão-Mestre Universal e Conservador da Mui Antiga e Venerável Sociedade dos Antigos Maçons Livres e Associados, ou Ordem Real e Militar da Franco-Maçonaria, etc., etc. a todos os nossos ilustres e muito amados Irmãos espalhados pelo mundo: Tolerância, União e Prosperidade”.

Foi essa a primeira vez que alguém chamou de “ordem militar” a uma instituição que no pórtico das suas constituições inscrevia a Paz como princípio da Fraternidade entre todos os povos da Terra! Em todo o caso, Frederico mostrava-se muito mais hábil que os ditadores do Século XX.

Não destruía a Maçonaria, mobilizava-a, amenizando a sua intervenção com uma linguagem doce e até certo ponto compreensiva:

“A nossa intenção tutelar era mediar os meios e combinar com os Irmãos mais influentes e chefes da Fraternidade em todos os países aquelas medidas que fossem mais próprias das verdadeiras liberdades maçônicas, e particularmente a de opinião, que é a primeira, a mais suscetível, e de todas a mais sagrada”.

Isto posto, verificamos que essa reforma não encontrou eco entre os maçons ingleses.

Eles tinham a sua;

Era tão boa ou tão má que ainda hoje perdura.

Ir. Armando Ettore do Valle
Fonte: Weber Varrasquim/Blog
Postagem do Ir. Sérgio Rimmon

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