sábado, 16 de dezembro de 2017


FÁBULAS, PARÁBOLAS, MITOS E LENDAS, NA VISÃO DE UM NOVO MESTRE E, ETERNO APRENDIZ



Em 23.03.2010 li no Jornal Diário Catarinense, gostei e guardei um texto intitulado “Aprender pela fábula”, do nosso querido Ir∴ João Anderson Flores, grande Professor e Psicólogo, que escreveu: “Quando professor no Instituto Estadual de Educação procurava ilustrar as aulas com fábulas de Esopo, Rabelais, La Fontaine, Pamchatantra e Trilow. Por meio de alegorias, o disfarce animal desempenha um duplo papel, um meio de colocar a distancia comportamentos humanos e sociais; desse modo, propiciando ao leitor/ouvinte uma melhor conscientização de seus mecanismos. Muitos estudiosos consideram Esopo o fabulista mais antigo que se tem conhecimento, ele era um escravo que viveu na Grécia no século “V” a.C., que com pequenas historias de animais, trazia em cada uma delas ensinamentos que visavam chamar a atenção, envolvendo Moral e ética. Esopo deixou ao longo da historia seguidores desta sua proposta de ensino e orientação, como foi o caso de Fedro que viveu no século “I” a.C.. Evidentemente que cada vez mais foram sendo enriquecidas essas e novas fabulas que continuaram a ser criadas com os mesmos objetivos como fez no século XVII o grande fabulista Frances, La Fontaine. Com certeza o Mestre João Anderson, conseguia transmitir lições de moral e aguçava com facilidade à mente daqueles jovens educandos que provavelmente aprendiam de forma mais facilitada à multiplicação daqueles conhecimentos tão necessários a formação dos seres humanos. Feita esta introdução, meu desejo mesmo é trazer para nossa reflexão uma boa discussão, entre fábulas, parábolas, mitos e lendas, que mesmo sabendo possuírem características diferentes, trazem em seu arcabouço final, grandes ensinamentos com possibilidades para nosso desenvolvimento. FABULA Sobre Fábula trago aqui um conceito deixado por nosso Ir∴ João Ivo Girardi da Loja Obreiros de Salomão número 39 de Blumenau (SC) quando da edição de sua peça de arquitetura “As fábulas de Esopo” no JBNews nº 1795 de 30.08.2015. Fábula: Historieta de ficção, de cunho popular ou artístico. Narrativa alegórica cujos personagens são geralmente animais, e que conclui com uma lição de moral. O espírito geral é realista e irônico. A temática varia: a vitória da bondade sobre a astúcia, da fraqueza sobre a força, a demonstração de piedade para com os que não a possuem, a derrota dos sabidos, dos presunçosos, dos orgulhosos etc. A fábula com esta característica literária simples e de fácil entendimento, utiliza-se como personagens, animais que pensam, agem e sentem como os seres humanos, com histórias que fazem analogias com a realidade humana, deixando sempre ao final alguma verdade, alguma lição de moral. “Como deixou registrado Fedro no século I d.C.: “A fábula tem dupla finalidade entreter e aconselhar”, reforçado por La Fontaine século XVII d.C., quando escreveu: ” A fábula é uma pequena narrativa que, sob o véu da ficção, guarda uma moralidade”. Um bom exemplo é a conhecida fabula “A raposa e as uvas” de Esopo que conta a história da Raposa que ao passar por um pomar com cachos exuberantes de uvas, fica desejosa de comê-las, todavia depois de várias tentativas desiste por não poder alcançá-las, de imediato como se estivesse desculpando ou consolando a si própria diz: “Na verdade não estão tão saborosas assim, acho que estão até estragadas”. Moral desta fabula: Ao não reconhecer sua limitação em alcançar aquelas maravilhosas uvas a Raposa com sua vaidade acaba determinando a si mesma um momento de infelicidade, assim como o individuo que ao não aceitar suas próprias limitações perde a oportunidade de corrigir suas falhas. Nosso Ir∴ Joào Ivo Girardi citado acima, complementa seu entendimento sobre esta fábula dizendo: Desprezar o que não se consegue conquistar é fácil. PARÁBOLA Já a Parábola que deriva do grego parabole significa “pôr ao lado de”, com o sentido de “comparar” ou “representar” alguma verdade ou um ensinamento, nela são utilizados variados elementos inclusive pessoas, para alcançar também uma lição ética através de uma linguagem simbólica, um gênero que foi muito utilizado por Jesus em suas pregações, ele que foi considerado o Mestre dos Mestres Nosso Ir∴ João Ivo Giradi na mesma peça arquitetônica já citada, nos oferece um fragmento conceituando Parábola, que com certeza enriquece este entendimento. Parábola: Narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior. Distingue-se das outras duas formas literárias pelo fato de ser protagonizada por seres humanos. Vizinha da alegoria, a parábola comunica uma lição ética por vias indiretas ou simbólicas: numa prosa altamente metafórica Há dois mil e quinze anos atrás, Jesus por seus conhecimentos diferenciados dos homens da época, entendia que cada indivíduo possuía um estágio evolutivo diferente, utilizando parábolas para que cada um fizesse a sua própria interpretação dentro de sua capacidade de entendimento. Questionado certa vez por seus apóstolos por que falava com o povo através de parábolas, Jesus teria dito: “Porque a vós outros é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas aqueles não lhes é isso concedido”. (Mateus 13,10-11). Minha percepção é de que Jesus teria deixado aos seus apóstolos o relato de que cada ser humano passa por diferentes estágios evolutivos, dependendo de seus esforços individuais para um entendimento mais efetivo e, até por isso existiam e existem interpretações diferentes para uma mesma orientação. Evidentemente que Jesus ao utilizar parábolas exigia do povo questionar a si mesmo para que tomassem suas próprias decisões, fazia-os raciocinar e se esforçarem para encontrarem o sentido, a essência do conteúdo da parábola, se assim não agissem não encontrariam a riqueza das histórias, ou seja, ouviam, mas não entediam o que alias, até hoje acontece e muito. Muitas parábolas poderiam ser lembradas para exemplificar esta nossa analise, todavia me ocorre uma muito interessante e que ficou conhecida como a parábola do “Grão de mostarda”, narrada mais ou menos desta forma: “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto que as aves do céu se abrigam nos seus ramos”. Na época de Jesus e na região em que vivia, a mostarda conhecida era a do tipo preta e sua semente era a menor semente existente, era realmente maravilhoso que uma semente tão diminuta de um vegetal viesse a crescer tornando-se uma árvore de cerca de três a quatro metros de altura capaz sim, de ter aves abrigadas em seus ramos. Entendo que Jesus buscou passar para o povo através desta parábola essa comparação entre o Reino dos Céus e o grão da mostarda, mostrava que como o diminuto grão crescia de forma sustentável e rápida tornando-se uma árvore frondosa, assim também era o crescimento espiritual daquele que tivesse a fé raciocinada e verdadeira. Ao plantar dentro de si a semente da fé raciocinada, o ser humano se eleva no campo das virtudes e, cresce suficientemente para atrair qualidades interiores que lhe permitirão mais amor, mais justiça e mais progresso. Assim somos nós maçons, sempre eternos aprendizes, voltados de forma constante à lapidação de nossa pedra bruta, construção e enriquecimento de nosso templo interior. Nossa Arte Real continuadamente busca conhecer o homem este grande desconhecido e, como diz Claudio Blanc em seu livro “O Grande Livro da Maçonaria” ao comentar no capitulo 7 sobre “As origens dos antigos mistérios” dizendo:

O objetivo da Maçonaria é, portanto, conhecer o homem, o eterno desconhecido, para que ele possa ser feliz. Nada mais maçônico, portanto, que os dizeres gravados há mais de 2.500 anos no pórtico de entrada do oráculo de Apolo, em Delfos, Grécia: “CONHECE A TI MESMO”. ”O PLENO CONHECIMENTO É A REALIZAÇÃO DO HOMEM”. Conhecer a si mesmo significa reconhecer a centelha divina que há no homem, aquilo que o filosofo alemão Scheling chamou de “O eterno em nós”. Quando o homem se conhece, ele busca a harmonização com o “Grande Arquiteto do Universo”.

MITO Desde os primórdios, o ser humano, ao olhar-se rodeado das benesses recebidas, os frutos, a caça, a pesca, a luz do sol, da lua, os ventos, as chuvas e, sem saber explicar as suas origens, mas consciente que eram oriundas de uma força superior, acaba criando mitos e ritos como agradecimento e respeito por estes bens recebidos. Assim podemos acreditar que o mito seja mesmo a mais antiga forma de conhecimento, de consciência existencial, e ao mesmo tempo até hoje é fator de buscas constantes de mecanismos que possam responder a todos nós, as razões de nossa existência. Nós maçons nos aproximamos desta idéia desde o momento em que lemos lá no ritual de 1º Grau no REAA, página 115 este fragmento: “Desde que o selvagem percebe que não existe por si mesmo, interroga a Natureza e faz render tosco, mas sincero culto a um Ente Supremo, que é o Criador do mundo”. No texto “Fábula, Lenda e Mito – teia de histórias” – acessado via site teiadehistorias.blogspot.com/…/fabula-lenda-e-mito-qual-diferenca.htm, descreve a função do mito: Sua função, por tanto é a descrever, lembrar e interpretar todas as origens e, como seja ela a do cosmo (cosmogonia), dos deuses (teogonia), das forças e fenômenos naturais (vento, chuva, relâmpago, acidente geográfico), seja ele o de causas primordiais que impuseram ao homem as suas condições de vida e seus comportamentos. O próprio significado de Mito corrobora com a afirmação acima, pois sua origem esta no Grego Mythos que significa narração, acoplado a dois verbos o mytheyo que é traduzido como contar, narrar e mytheo cujo significado é conversar e ainda no texto do site lemos que: “ Mito é em síntese a primeira manifestação de um sentido para o mundo”. LENDA Uma palavra de origem latina, cujo significado reflete-se na frase “o que deve ser lido”, são narrativas cheias de fantasias e que foi também transmitida de forma oral ao passar dos milênios, podemos até afirmar que o Mito como relatado anteriormente é um tipo de Lenda. Todavia, temos algo importante e que é um diferencial que deve ser realçado, para facilitar nosso entendimento: As lendas combinam fatos reais e históricos com fantasias ou fatos irreais cuja origem vem da imaginação do ser humano desde que foi dado a ele a capacidade de pensar e sonhar. Elas também serviram e servem para sustentar a nossa necessidade de acreditar em algo que possam nos auxiliar nas respostas aos nossos grandes questionamentos (nascer, viver e morrer) e, mesmo acalmar nossos momentos de dúvidas existenciais, muitos acreditam que as Lendas também tiveram e tem o poder de colocar ordem no caos, referente ao que a ciência ainda não aceita por não poder comprovar, principalmente no que tange ao mundo transcendental. Somos IIr∴ em uma entidade iniciática que nos ensina constantemente a prevalência do espírito sobre a matéria o que nos possibilita ter a visão de que nossa iniciação é sim um renascimento e sem dúvida alguma uma regeneração a este mundo de provas e expiações em que vivemos. Hoje tenho consciência de que a morte para o mundo profano quando de minha iniciação na Arte Real, representou meu renascimento para um novo mundo de luz e, de maior aproximação com o Grande Arquiteto.

Vejo que nós maçons aprendemos e muito, através de ensinamentos que contemplam sempre a maneira peculiar do ouvir, sentir e absorver através de Alegorias. Símbolos, Mitos e Lendas a oportunidade de colocarmos para fora a nossa essência interior.

Muitas são as Lendas Maçônicas cada uma trazendo riquezas e oportunidades de aprendizado, a Lenda da “escada em espiral”, por exemplo, possibilita maravilhas em termos de tomada de conhecimento e crescimento, verdade é que são centenas de elementos simbólicos e filosóficos que devemos estar sempre atentos atualizando nossos estudos e participando efetivamente da grande egregora de nossas sessões de onde ao meu entender emanam os mais puros ensinamentos.

Claudio Blanc em seu livro “O grande livro da Maçonaria”, deixou registrado que: “As lendas maçônicas, como os símbolos da fraternidade, são importantes alegorias da tradição da ordem, contendo em suas entrelinhas o conhecimento fundamental acumulado durante eras”, por este motivo reafirmo a necessidade de nós maçons estudarmos sempre e cada vez mais para termos a capacidade de retirar o véu das letras e absorver sabiamente os seus conteúdos.

Das Lendas maçônicas que poderia utilizar nesta minha peça arquitetônica optei por trabalhar ( sem precisar enunciá-la) já que todos nós a conhecemos, a Lenda de Hiram que encerra mostrando-nos que existe sim uma parte imortal em todos nós e, que assim como alimentamos constantemente o nosso corpo físico precisamos alimentar também de forma constante o nosso corpo espiritual, que nos faz pensar, agir e reagir, tomar consciência, avaliar e nos levar a sermos justos e perfeitos na busca de um mundo sempre melhor.

Esta importante Lenda, que representa o sentido maior do Terceiro Grau, tem como grande ensinamento o renascimento após a morte para uma nova vida ou como muitos chamam de ressurreição, de forma simbólica nos mostra que habita em nós uma parte que é imortal.

Podemos afirmar que o roteiro de nossa vida terrena é feita pelo processo ritualístico, cada momento é um rito de passagem, a cada novo dia ou a cada novo ano, nossa infância, mocidade, maturidade e terceira idade, estamos sempre vivendo um novo rito de passagem e é de nossa obrigação vive-los com dignidade, com responsabilidade e reconhecendo a necessidade de cada um deles como caminhada em busca da evolução e crescimento.

Assim deve ser entendida a morte em nossa iniciação quando recebemos a luz e, na Lenda de Hiram quando a superação da morte torna-se o grande ensinamento e, como sempre dizemos esta morte se torna simbólica para um renascimento moral e social.

Neste aspecto Claudio Blanc em seu livro “O grande livro da maçonaria” trás um fragmento de Albert G. Mackey que considero muito importante quando ele escrevendo sobre a Lenda do Mestre Hiram diz que o objetivo maior da lenda é :

(…) transmitir o simbolismo sublime da ressurreição da tumba e de um novo nascimento para uma vida futura. E que o homem quando atravessa os portões da vida e retira-se para a morte, ele será elevado “do tempo para a eternidade”

Ao concluir este pequeno estudo, entendo que o objetivo inicial proposto foi alcançado c, que através de fábulas, parábolas, mitos e lendas, seja qual for o instrumento literário, nós maçons estudiosos e responsáveis, sempre iremos retirar o véu das letras e nos aproveitarmos das possibilidades ali existentes para o nosso desenvolvimento.

Maçons que deixam a Maçonaria entrar neles com certeza saberá entender as fábulas e parábolas com suas riquezas de ensinamentos, mas é através de mitos e lendas que entenderão muito mais, pois é através destas figuras literárias que nossa Arte Real nos transmite doutrinas filosóficas, lembrando que para nós não existe o interesse de estabelecer fatos históricos ou verdades e, sim nos locupletarmos dos ensinamentos positivos para nosso desenvolvimento dentro da Maçonaria.

Como escrevi recentemente, para nós as verdades não são nossas grandes buscas, queremos sim aproveitar sempre os mecanismos que nos permitam viver e seguir em frente na buscas destas verdades, na Lenda de Hiram, por exemplo, queremos entender, absorver e ampliar cada vez mais o significado da imortalidade da alma.

Sejamos como Sócrates que sempre sustentou que o trabalho de um filósofo não é propor afirmações verdadeiras, mas favorecer o nascimento da verdade da alma do interlocutor. (Fragmento extraído da citação feita pelo Ir∴ Walter Celso de Lima em seu livro “Ensaios sobre Filosofia e Cultura Maçônica.

BIBLIOGRAFIA
BLANC, Cláudio – “O Grande Livro da Maçonaria” Revista editdada por “On line Editora” – São Paulo, 2013. GIRADI, João Ivo, M∴M∴ da Loja Obreiros de Salomão nº 39 do oriente de Blumenau (SC), Peça de Arquitetura “As fábulas de Esopo” extraída do JBNews nº 1795 de 30.08.2015
GOB – Ritual de 1º Grau – Aprendiz Maçom – REAA – 2009
Jornal Diário Catarinense de 23.03.2010 – Texto “Aprender pela fábula do Ir∴ João Anderson Flores, professor e psicólogo.
LIMA, Walter Celso de – Mestre em Ciências, doutor em Ciências e pós-doutorado e Professor – “Ensaios sobre Filosofia e Cultura Maçônica”- Editora Madras – São Paulo, 2012. Site, teiadehistorias.blogspot.com/…/fabula-lenda-e-mito-qual-diferenca.htm: “Fábula, Lenda e Mito – teia de histórias” – acessado em 21.10.2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário