domingo, 10 de dezembro de 2017



CAVALARIA ESPIRITUAL



Por Oliveira Pereira (Oriente de Portugal)


"A LUZ... É A SOMBRA DE DEUS”
Este provérbio representa a equivalência dos opostos, tão necessária para a compreensão do Todo. Dele podemos extrair a ideia dos confrontos que enfrentamos na nossa existência, e a forma equilibrada com que devemos agir e expressar as nossas conclusões e as nossas atitudes, sem tendências preconceituosas, mas, sim, após uma profunda reflexão da ambivalência.


Quanto à atribuição deste provérbio a Albert Einstein, este não pode representar nem a sua filosofia, a ciência, ou a sua crença, uma vez que ele apenas citou o poeta vitoriano John Addington Symonds (1840 – 1893), autor do poema “Lux Est Umbra Dei”, ou seja, “A luz é a sombra de Deus”.


A VIDA DE UM CAVALEIRO
A cavalaria é sobretudo uma maneira de viver. Requer uma preparação especial, uma consagração solene e atividades que não se podem confundir com as do homem comum. As literaturas épicas e corteses dão-nos imagens detalhadas dessa vida, mas provavelmente um tanto distorcidas em função do seu carácter ideológico. É preciso compará-las com outras fontes, narrativas, e achados arqueológicos.


A vida do cavaleiro começa por uma longa e difícil aprendizagem, inicialmente no castelo paterno, e depois, a partir dos dez ou doze anos, junto a um rico padrinho ou protetor. A primeira formação, familiar e individual, tem por objetivo ensinar os rudimentos da equitação e do manejo de armas. A Segunda, mais longa e mais técnica, é uma verdadeira iniciação profissional e esotérica, sendo praticada coletivamente. Em todos os escalões da pirâmide feudal, com efeito, cada senhor é cercado de uma espécie de “escola de cavalaria”, onde os filhos dos seus vassalos, dos seus protegidos e eventualmente parentes menos afortunados vêm aprender o ofício militar e as virtudes do cavaleiro.


Até uma idade que varia entre dezesseis e vinte e três anos, esses adolescentes exercem junto a seu protetor a função de criado doméstico e auxiliar de armas. Servindo à mesa, acompanhando-o à caça, participando de seus divertimentos aprendem as virtudes do homem do mundo. Ocupando-se de seus cavalos, limpando as armas e, mais tarde, seguindo-os nos torneios e nos campos de batalha, adquirem os conhecimentos do homem de guerra. A partir do dia em que passam a exercer esta última função até o momento da ordenação como cavaleiro, possuem o título de escudeiro. Aqueles que, por falta de sorte, mérito ou ocasião não conseguem alcançar a ordenação, guardarão este título por toda a vida. Pois é somente após a ordenação e a entrega do equipamento que se pode ostentar o título de cavaleiro.


O desdobramento ritual da cerimónia de ordenação foi fixado tardiamente. No período a que nos referimos, as formas mostram-se ainda bastante diversas, tanto na realidade quanto nas obras literárias. Observa-se particularmente uma grande diferença entre as ordenações que ocorreram em tempos de guerra e as realizadas em época de paz. As primeiras sucedem num campo de batalha, antes do combate ou após a vitória; são as mais gloriosas, embora os gestos e as fórmulas estejam reduzidos à sua expressão mais simples, em geral a entrega da espada e a palmada no ombro. As segundas coincidem com a celebração de uma grande festa religiosa (Páscoa, Pentecostes, Ascensão) ou civil (nascimento ou casamento de um príncipe, reconciliação de dois soberanos). São espetáculos quase litúrgicos, tendo por cenário o pátio de um castelo, o pórtico de uma igreja, uma praça pública ou a relva de um prado. Exigem dos futuros cavaleiros uma preparação sacramental (confissão, comunhão) e uma noite de meditação numa igreja ou capela: a vigília de armas. Seguem-se diversos dias de banquetes, torneios e diversões.


A cerimónia propriamente desenrola-se segundo uma ordem sacralizada. Ela inicia-se pela bênção das armas, que o padrinho entrega a seguir ao afilhado: primeiro a espada e as esporas, depois a cota de malha e o elmo, por fim a lança e o escudo. O escudeiro veste a indumentária, recita algumas preces e pronuncia um juramento, pelo qual se compromete a respeitar os costumes e as obrigações da cavalaria. A cerimónia termina com a palmada no ombro, gesto simbólico cuja origem e significado permanecem em controvérsia e de variadas formas: frequentemente, o oficiante, de pé, desfere sobre o ombro ou a nuca do futuro cavaleiro, que se encontra ajoelhado diante dele, um forte golpe com a palma da mão. Em certos condados da Inglaterra e algumas regiões da França ocidental, esse gesto se reduz a um simples abraço ou um vigoroso aperto de mão. No século XIV, esse ritual não se fará mais com a mão, mas com a lâmina da espada, e será acompanhada da fórmula: “Em nome de Deus, de São Miguel e de São Jorge, eu te declaro cavaleiro” (no armamento de um Cavaleiro Templário a fórmula é a seguinte: ” por Deus; pela Virgem Maria; pelo Templo eu de declaro Cavaleiro Templário”). Apesar da diversidade de explicações existentes a respeito deste ato, os estudiosos tendem a ver nestas práticas o resquício de um costume germânico, segundo o qual um velho transmitia a um jovem as virtudes e as qualidades de guerreiro.


A consagração, etapa capital na carreira de um cavaleiro, não altera muito sua vida quotidiana, que continua a se resumir em cavalgadas, batalhas, caçadas e torneios. Os senhores de mais posses ocupam nessas lides os primeiros lugares, enquanto aos vassalos pobremente enfeudados resta se contentar com as migalhas da glória, do prazer e da riqueza.


Os cavaleiros são iguais de direito, mas não o são de facto. Pois existe uma espécie de “cavaleiro proletário”, cujos rendimentos, montarias e mesmo as armas dependem dos poderosos (reis, condes, barões), aos quais devem viver em dependência. Esses cavaleiros necessitados, ricos de gloriosas esperanças, mas pobres de feudos, são geralmente jovens que aguardam a sucessão paterna, ou que a falta de fortuna o condena a servir um protetor. Sob o comando de um filho de um príncipe, ou de um conde, formam bandos turbulentos, que procuram a aventura e prestam serviços, de torneio em torneio, de aldeia em aldeia. São os primeiros a se lançar nas cruzadas ou numa expedição distante, atraídos pela incerteza, e pelo desconhecido. Muitos, procuram seduzir uma rica herdeira, que lhes trará a fortuna que nem os negócios nem o nascimento puderam lhes proporcionar. Em consequência deste facto é a idade tardia com que se casam, ainda que na procura do matrimónio e de terras poucos tenham tido o êxito.


É provavelmente ao público formado por esses jovens cavaleiros, ávidos de proezas amorosas e guerreiras, que se dirigem os romances da cavalaria e a literatura cortês. Ali eles encontram a imagem de uma sociedade que não existe e que não desejariam impor. Uma sociedade em que as qualidades, as práticas e as aspirações da classe dos cavaleiros seriam os únicos ideais possíveis.


A ETERNIDADE
É a permanente procura da distinção metafísica entre o espírito e a matéria, tem vindo desde o princípio dos tempos a ser o constante desafio para o Homem lúcido e consciente. As escavações feitas em sucessivas camadas de sedimentos temporais têm vindo a revelar esta certeza. Pelo que podemos afirmar com segurança, que o Homem desde a nebulosa civilização megalítica, tem vindo teimosamente a procurar compreender qual é a diferença entre estes dois elementos, tão díspares entre si.


Todavia, foi necessário passar por este belo planeta azul, milénios saturados de evolução humana, para que o Homem chegasse à conclusão, que os dois elementos tão diferentes entre si, se poderiam destrinçar e terem conceitos bem definidos. Pelo que através do método da dissecação dos conceitos, este veio a concluir que a matéria na sua forma física, seria tudo aquilo que ocupa lugar no espaço, e que no seu aspecto esotérico, seria a substância da mente cósmica que adquire formas, sendo o pensamento o efeito que produz a obra, aquele que é responsável pelos seus atos. Enquanto que o espírito, é uma inteligência viva, capaz de entender as formas da matéria, sentir o movimento desta, e, até avaliar as relações dos seres no concreto e no abstrato da sua existência. Mas, o Homem compreendeu ainda, que o espírito e a matéria estão unidos e interligados entre si pela energia que os une, a qual, se traduz pelo fluxo do amor, ou do seu contrário, o do ódio. Compreendeu ainda, que estes antagónicos fluxos estão presentes no Homem na sua forma egocêntrica mais primitiva, pelo que estes sentimentos têm sido os responsáveis pelas suas relações e reações às impressões do mundo exterior. Todavia, apesar desta energia ser muito poderosa, contudo, não tem vindo a permitir ao Homem atingir o seu estado absoluto de evolução, porque a sua mente está programada para refletir o que este conheceu, analisou, estudou, experimentou, entendeu e compreendeu na sua curta existência, nas suas várias vidas em outros planos metafísicos. Isto é, a sua mente está preparada somente para aceitar tudo o que tem sido a esfera do seu conhecimento e o palco da sua vivência. Razão porque existem infinitos aspectos do conhecimento que fogem à sua compreensão, dado que aqueles são incapazes de impressionar os seus sentidos, sendo por isso ainda indecifráveis e para ele misteriosos.


No entanto, sabemos que o espírito existe e que está sempre presente em nós, uma vez que é ele que nos fortalece com a soma das experiências de todas as personalidades de que cada Homem usou em todas as suas reencarnações, até ao dia, em que pelo aperfeiçoamento da forma, pela sublimação das emoções, e pelo discernimento intelectual, este venha a atingir um estado harmonioso, onde a sua vitória sobre o seu egocentrismo fora total e completa. E nesse dia, transformar-se-á na Luz que iluminará outros espíritos em preparação.


Em suma, o espírito fundido na mente humana alimenta-se e evolui à medida que auxilia os outros a encontrarem os seus caminhos, sem necessariamente intervir nas suas decisões, somente através da sua vibração em ressonância com os demais. E é através deste misterioso fenómeno, após incontáveis reencarnações, o homem pode vir a optar por se fundir a Deus, o Ser Cósmico, o Ser Supremo, elevando-lhe ainda mais a sua vibração e, portanto, contribuir desta forma para a sua própria libertação, ou se este assim o desejar, permanecer personalizado, para novamente se reencarnar por forma a ajudar as almas a chegarem ao seu estado harmonioso, que depois, de terem procurado a essência, estarão com Deus em um só, numa verdadeira Eternidade. Pois, é somente através da existência da luz eterna, que podemos sentir existir um vínculo envolvente entre DEUS e o Homem, de um modo terno, cúmplice e necessário. Não me perguntem como sei da existência desta sobrenatural força cósmica, que nos atrai, como a luz do candeeiro atrai a traça, e que nos acompanha em todos os nossos atos e pensamentos, pois de igual forma nós sentimos o vento e por isso nós podemos afirmar que ele existe, embora não tenhamos a possibilidade de distinguir a sua forma e por isso não temos a possibilidade de o ver, então também de igual modo, nós poderemos afirmar a existência desta luz eterna, a qual também não estamos preparados para a ver, mas sabemos que é a responsável do vínculo do Homem para com Deus.


Mas, depois da leitura deste artigo ainda prevalecer nos nossos corações a dúvida da existência dessa Luz cósmica, é porque ainda não se está preparado para O conhecerem. E na verdade, a razão humana na sua generalidade tem sido incapaz de compreender a existência de DEUS, embora, a intuição da sua alma, pelo sentimento da beleza e pela influência da sabedoria, tem por sua vez tido a capacidade de admirar a sua maravilhosa obra, como também, nos momentos de maior aflição tem tido a capacidade de implorar a sua misericordiosa proteção por reconhecer o seu infinito poder e misericórdia divina.


Assim, pelo conhecimento que temos da existência deste vínculo entre o Homem e o Divino, temos a capacidade de poder elevar o nosso espírito à sabedoria cósmica e de mergulhar nas suas profundezas esotéricas na busca da perfeição e da harmonia do Homem para com Deus. É certo que nesta incessante procura, muitas vezes temos a sensação de que é como caminhar pela circunferência do fenómeno sem nos dirigirmos diretamente para o centro do círculo onde tudo teve o seu início e terá o seu fim, pois é onde se encontra o substrato da verdade e o suporte da nossa felicidade, cuja construção, só depende da nossa capacidade de absorver a frustração e de aprendermos com todo este fenómeno. Pelo que devemos sempre que possível, vibrar com todas as frequências do Amor e do Bem, mesmo na adversidade, pois só o Amor nos pode fazer permanecer íntegros e dignos, após tantas idas e vindas de sucessivas reencarnações, para que um dia possamos renascer na luz de DEUS.
Na verdade, grandes mistérios ainda envolvem a nossa existência, contudo, com a esperança, com a dignidade, e alguma confiança em nós mesmos, podemos dar grandes passos em direção à conquista do sublime objetivo que é o de caminharmos sempre em direção à essência Divina. Neste propósito, tem sido a evolução continua do Homem, geração após geração. Pois tudo está previsto na mesma lei que emana do Ser Cósmico uma vez, que tudo para Ele retorna… pois tudo é Ele, e nada acontece senão por Ele…


DEUS NÃO ESCOLHE OS CAPACITADOS, MAS CAPACITA DOS ESCOLHIDOS
O Cavaleiro começa por uma longa e difícil aprendizagem, inicialmente no castelo paterno, e depois, a partir dos dez ou doze anos, junto a um rico padrinho ou protetor. A primeira formação, familiar e individual, tem por objetivo ensinar os rudimentos da equitação e do manejo de armas. A Segunda, mais longa e mais técnica, é uma verdadeira iniciação profissional e esotérica, sendo praticada coletivamente. Em todos os escalões da pirâmide feudal, com efeito, cada senhor é cercado de uma espécie de “escola de cavalaria”, onde os filhos dos seus vassalos, dos seus protegidos e eventualmente parentes menos afortunados vêm aprender o ofício militar e as virtudes do cavaleiro.


Até uma idade que varia entre dezesseis e vinte e três anos, esses adolescentes exercem junto a seu protetor a função de criado doméstico e auxiliar de armas. Servindo à mesa, acompanhando-o à caça, participando de seus divertimentos aprendem as virtudes do homem do mundo. Ocupando-se de seus cavalos, limpando as armas e, mais tarde, seguindo-os nos torneios e nos campos de batalha, adquirem os conhecimentos do homem de guerra. A partir do dia em que passam a exercer esta última função até o momento da ordenação como cavaleiro, possuem o título de escudeiro. Aqueles que, por falta de sorte, mérito ou ocasião não conseguem alcançar a ordenação, guardarão este título por toda a vida. Pois é somente após a ordenação e a entrega do equipamento que se pode ostentar o título de cavaleiro.


O desdobramento ritual da cerimónia de ordenação foi fixado tardiamente. No período a que nos referimos, as formas mostram-se ainda bastante diversas, tanto na realidade quanto nas obras literárias. Observa-se particularmente uma grande diferença entre as ordenações que ocorreram em tempos de guerra e as realizadas em época de paz. As primeiras sucedem num campo de batalha, antes do combate ou após a vitória; são as mais gloriosas, embora os gestos e as fórmulas estejam reduzidos à sua expressão mais simples, em geral a entrega da espada e a palmada no ombro. As segundas coincidem com a celebração de uma grande festa religiosa (Páscoa, Pentecostes, Ascensão) ou civil (nascimento ou casamento de um príncipe, reconciliação de dois soberanos). São espetáculos quase litúrgicos, tendo por cenário o pátio de um castelo, o pórtico de uma igreja, uma praça pública ou a relva de um prado. Exigem dos futuros cavaleiros uma preparação sacramental (confissão, comunhão) e uma noite de meditação numa igreja ou capela: a vigília de armas. Seguem-se diversos dias de banquetes, torneios e diversões.


A cerimónia propriamente desenrola-se segundo uma ordem sacralizada. Ela inicia-se pela bênção das armas, que o padrinho entrega a seguir ao afilhado: primeiro a espada e as esporas, depois a cota de malha e o elmo, por fim a lança e o escudo. O escudeiro veste a indumentária, recita algumas preces e pronuncia um juramento, pelo qual se compromete a respeitar os costumes e as obrigações da cavalaria. A cerimónia termina com a palmada no ombro, gesto simbólico cuja origem e significado permanecem em controvérsia e de variadas formas: frequentemente, o oficiante, de pé, desfere sobre o ombro ou a nuca do futuro cavaleiro, que se encontra ajoelhado diante dele, um forte golpe com a palma da mão. Em certos condados da Inglaterra e algumas regiões da França ocidental, esse gesto se reduz a um simples abraço ou um vigoroso aperto de mão. No século XIV, esse ritual não se fará mais com a mão, mas com a lâmina da espada, e será acompanhada da fórmula: “Em nome de Deus, de São Miguel e de São Jorge, eu te declaro cavaleiro” (no armamento de um Cavaleiro Templário a fórmula é a seguinte: ” por Deus; pela Virgem Maria; pelo Templo eu de declaro Cavaleiro Templário”). Apesar da diversidade de explicações existentes a respeito deste ato, os estudiosos tendem a ver nestas práticas o resquício de um costume germânico, segundo o qual um velho transmitia a um jovem as virtudes e as qualidades de guerreiro.


A consagração, etapa capital na carreira de um cavaleiro, não altera muito sua vida quotidiana, que continua a se resumir em cavalgadas, batalhas, caçadas e torneios. Os senhores de mais posses ocupam nessas lides os primeiros lugares, enquanto aos vassalos pobremente enfeudados resta se contentar com as migalhas da glória, do prazer e da riqueza.


Os cavaleiros são iguais de direito, mas não o são de facto. Pois existe uma espécie de “cavaleiro proletário”, cujos rendimentos, montarias e mesmo as armas dependem dos poderosos (reis, condes, barões), aos quais devem viver em dependência. Esses cavaleiros necessitados, ricos de gloriosas esperanças, mas pobres de feudos, são geralmente jovens que aguardam a sucessão paterna, ou que a falta de fortuna o condena a servir um protetor. Sob o comando de um filho de um príncipe, ou de um conde, formam bandos turbulentos, que procuram a aventura e prestam serviços, de torneio em torneio, de aldeia em aldeia. São os primeiros a se lançar nas cruzadas ou numa expedição distante, atraídos pela incerteza, e pelo desconhecido. Muitos, procuram seduzir uma rica herdeira, que lhes trará a fortuna que nem os negócios nem o nascimento puderam lhes proporcionar. Em consequência deste facto é a idade tardia com que se casam, ainda que na procura do matrimónio e de terras poucos tenham tido o êxito.


É provavelmente ao público formado por esses jovens cavaleiros, ávidos de proezas amorosas e guerreiras, que se dirigem os romances da cavalaria e a literatura cortês. Ali eles encontram a imagem de uma sociedade que não existe e que não desejariam impor. Uma sociedade em que as qualidades, as práticas e as aspirações da classe dos cavaleiros seriam os únicos ideais possíveis.


O IDEAL E AS VIRTUDES DO CAVALEIRO
A cavalaria não impõe apenas uma maneira de viver, mas também uma ética. Embora haja provas históricas inegáveis do compromisso moral assumido pelo jovem guerreiro no dia de sua ordenação, forçoso é reconhecer que a existência de um verdadeiro código de cavalaria é atestada apenas pela literatura. E sabemos muito bem que distância pode haver, no século XII, entre os modelos literários e a realidade quotidiana. De resto, os preceitos desse código diferem de uma obra para outra, e o seu espírito modifica-se sensivelmente ao longo do século. Os ideais da Canção de Rolando não são mais os mesmos de Chrétrien de Troyes. Vejamos Gornemant de Goort ensinar ao jovem Perseval os deveres do cavaleiro:


“Querido irmão, se precisares lutar contra um cavaleiro, lembra-te do que vou dizer: se és tu quem ergue a cabeça […] e se ele se vê forçado a pedir piedade, não o mate estupidamente, mas concede-lhe a misericórdia. Por outro lado, não sejas nem muito tagarela nem muito curioso […]. Aquele que fala demais comete um pecado; previne-te, pois. E se encontrares uma dama ou uma donzela em apuros, eu te imploro: faz o que estiver ao teu alcance para lhe prestar socorro. Termino com um conselho que não convém sobretudo desdenhar: entra seguidamente num mosteiro, e reza ao Criador de todas as coisas, para que Ele tenha piedade da tua alma e que nesta vida terrena te proteja enquanto cristão”. (Chrétrien de Troyes, Le cont du Graal).


De uma maneira geral, o código de cavalaria pode ser resumido em três princípios: fidelidade à palavra dada e lealdade perante todos; generosidade, proteção e assistência aos que delas precisam; obediência à Igreja, defesa de seus ministros e de seus bens.


No final do século XII, o perfeito cavaleiro não é ainda Perseval, nem Galahad seguramente, tais como irão aparecer, por volta de 1200, na Procura do Santo Graal. Também não é Lancelot, cujos amores com a rainha Guinevere têm algo de incompatível com as virtudes do cavaleiro. O “sol de toda a cavalaria” é Gawain, o sobrinho do rei Artur, que dentre os companheiros da Távola Redonda que possui em mais alto grau de qualidades que se espera de um cavaleiro: a franqueza, a bondade e a nobreza de coração; a piedade e a temperança; a coragem e a força física; o desdém à fadiga, ao sofrimento e à morte; a consciência do seu valor; o orgulho de pertencer a uma linhagem; de ser leal a um senhor, de respeitar a fidelidade jurada; enfim, e sobretudo, essas virtudes que em francês arcaico são designadas com os termos “largesse” (generosidade) e “courtoisie” (cortesia).


Largesse é ao mesmo tempo a liberalidade, a generosidade e a prodigalidade. Ela supõe a riqueza. Seu oposto é a avareza e a busca do lucro, que qualificam os mercadores e burgueses das comunas, constantemente ridicularizado por Chrétien de Troyes e seus imitadores. Numa sociedade em que a maior parte dos cavaleiros vive mesquinhamente do que lhes dão ou concedem seus protetores, é normal que a literatura exalte as oferendas, as despesas, o desperdício e a manifestação do luxo.


 Courtoisie é ainda mais difícil de definir. Compreende todas as qualidades que acabamos de enumerar, e mais: a beleza física, a elegância e o desejo de agradar; a doçura, o frescor da alma, a delicadeza de coração e de maneiras; o humor, a inteligência, uma polidez requintada e, para dizer claramente, um certo snobismo. Pressupõe também a juventude, a liberdade de todo o apego para com a vida, a disponibilidade para a guerra e os prazeres, a aventura e a ociosidade. Seu oposto é a “vilania”, defeito próprio dos vilões, dos rústicos, das pessoas malnascidas e sobretudo mal-educadas. Para ser cortês, a nobreza de berço não basta; os dons naturais devem ser refinados por uma educação especial e alimentada por práticas quotidianas no palácio de um grande senhor. O modelo é a corte de Artur. É lá que encontramos as damas mais belas, os cavaleiros mais valentes, as maneiras mais delicadas.


O CÓDIGO DA CAVALARIA
Vive para servir o Rei e a Pátria


Vive sob os ditames do Respeito e da Honra


Vive pela Liberdade, Justiça e Bem


Nunca ataques um Inimigo Desarmado


Nunca uses uma arma contra um oponente que Não Esteja à Altura do Ataque


Nunca ataques por detrás


Tenta não Mentir ao Próximo


Não pratiques a Tortura


Obedece à Lei do Rei, da Pátria e da Cavalaria


Pratica a Justiça


Protege os Inocentes


Demonstra Autodomínio


Respeita a Autoridade


Respeita as Mulheres


Demonstra coragem nas Palavras e Feitos


Destrói o Mal em Todas as Suas Formas Monstruosas


Abate os Monstros que se Apropriam das Nossas Terras e Roubam o Nosso Povo


Combate com Honra


Vinga os atraiçoados


Nunca abandones um amigo, um aliado ou uma Causa Nobre


Luta pelos Ideais do Rei, da Pátria e da Cavalaria


Morre corajosamente


Morre com Honra


Mantém sempre a Tua Palavra


Mantém sempre os Teus Princípios


Evita as farsas


Demonstra boas maneiras


Sê bem-educado e atencioso


Respeita quem te dá Hospitalidade



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