CRONOS E KAIROS: OS MATIZES DO TEMPO
ARTIGO 6
Extraído do Blog O ponto dentro do Círculo
O TEMPO ENTRE OS ESPAÇOS SAGRADOS
Falar em Sagrado é falar no sublime no mágico, no que está muitas vezes acima do que pensamos algo muitas vezes apenas no nosso imaginário, porém nesse tempo sagrado existem os espaços sagrados, no qual Bourdieu, assim relata:
Um campo pode ser definido como uma rede ou uma configuração de relações objetivas entre posições definidas objetivamente em sua existência e nas determinações que elas impõem a seus ocupantes, agentes ou instituições. Em outras palavras , o campo pode ser considerado um mercado em que os agentes se comportam como jogadores. No caso do campo religioso brasileiro, o surgimento constante de novos atores sociais na disputa com o clero, institucionalizado na manipulação simbólico mais amplo do que as fronteiras da religião institucionalizada. (BOURDIEU, 1990 apud BITUN, 2011)
Para (ELIADE, 2001, pp 63-64) nos esclarece que assim tal como o espaço, o tempo também não é para o homem religioso, nem homogêneo nem continuo. E nestes casos relata:
Há , por um lado, os intervalos de Tempo Sagrado, o tempo das festas; por outro lado, há o tempo profano, a duração temporal ordinária na qual se inscrevem os atos privados de significado religioso. Entre essas duas espécies de tempo, existe é claro, uma solução de continuidade, mas por meio dos ritos o homem religioso pode passar, sem perigo de duração temporal ordinária par o tempo sagrado. (ELIADE, 2001.pp 63- 64)
Ainda para Eliade, o mito conta uma história sagrada, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo, ab initio. Para ele o mito é pois a história do que se passou in Illo tempore, é a narração que os deuses ou os seres divinos fizeram no começo dos tempos. (2001. P.84). Contudo Cronos e Kairos são termos gregos para designar o tempo. Cronos é o tempo medido pelo relógio. É o tempo determinado dentro de um limite. Kairos significa o momento certo, oportuno. Refere-se a um aspecto qualitativo do tempo. Nosso dia-a-dia é marcado por esses dois tempos, enquanto cronos quantifica, kairos qualifica. Devemos restabelecer o tempo Sagrado, tornando nos contemporâneos dos deuses – o tempo possibilita que as pessoas experienciem os diversos tipos de tempo, construam um tempo interior principalmente perante acontecimentos de pausas, silêncio pequenas perdas, luto e morte. (SANTOS, 2010)
A autora nos afirma “homem compreende subjetivamente seu lugar no mundo de acordo com o tempo e o espaço ”Não devemos esquecer que toda festa religiosa, representa a reatualização de um evento sagrado que teve lugar num passado mítico. O tempo é essencial e até para Deus esse tempo é:
“Há, para todas as coisas, um tempo determinado por Deus, e há tempo para todo propósito debaixo do Céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz” (Eclesiastes 3:1-8).
SANTOS assim nos descreve:
A palavra cronologia possui origem grega em chronos que é definido como o tempo; e logos como estudo, ou seja, a sequência, a organização do tempo. Dentro desta terminologia, existe uma diferenciação entre Chronos (Χρόνος) e Cronos (Κρόνος). Chronos é um termo geral que significa alguma coisa relativa ao tempo; assuntos relativos à temática do tempo; já Cronos é uma das personificações do deus grego, que personifica o tempo. Cronos é filho do Titã Urano (que é o Céu) casado com Rhéa, e pai de Zeus. (SANTOS 2010)
Já sobre Kairós podemos assim dizer que “ pode ser visto como um momento “ponte” em que é necessário atravessar para enxergar novas situações, que partem de uma situação e tomam uma direção e um sentido diferente. A autora ainda nos diz que devemos compreender em que momento ele surge e essa descoberta é uma descoberta individual; cada pessoa sente, percebe de alguma forma quando ele está acontecendo. É aquele momento que escutamos no consultório quando os pacientes dizem: “que tudo está conspirando ao meu favor”, no sentido de que as ações feitas, estão sendo realizadas e desenvolvidas no tempo certo. (SANTOS 2010) De acordo com o Dicionário Grego do Novo Testamento, conceituamos Cronos e Kairós em:
Kairós – “Tempo”, especialmente um “ponto no tempo”, “momento”, “tempo oportuno”, “oportunidade favorável”, “ponto justo”, “medida certa”, “lugar apropriado”, “aquilo que é conveniente apropriado ou decisivo”. Na teologia passou a ser usado para descrever a forma qualitativa do tempo ou “o tempo de Deus”, o tempo que não pode ser medido, é o tempo da oportunidade, livre do peso das cargas que se passam e da ansiedade das coisas que acontecem antes do tempo, ele se manifesta sempre no presente, instante após instante; Kairós marca os momentos que se tornam inesquecíveis, ainda que tenham sido breves, os gregos acreditavam que com o Kairós poderiam enfrentar o cruel e tirano Chronos. Quando se fala em Kairós se quer indicar que alguma coisa aconteceu tornando possíveis ou impossíveis certas coisas.
Chronos – “Tempo”, “período de tempo”, “espaço de tempo, longo ou breve”.Chronos serve inicialmente para a designação formal de um espaço de tempo, ou ponto de tempo, refere-se ao tempo cronológico ou sequencial que pode ser medido. Ele controlava o tempo desde o nascimento até a morte, um pensamento Grego era que Chronos representava o tempo que faltava para a morte, uma vez que era impossível fugir do mesmo, todos seriam mais cedo ou mais tarde vencidos (devorados).
Contudo a autora conclui que:
Carecemos aprender a lidar com o tempo, mas com o nosso próprio tempo, ao qual reconheço como tempo interno. É valorizar o tempo das simplicidades e reconhecer o prazer e a felicidade dentro da alma de cada um de nós, considerando nossa história passada, vivenciando plenamente o presente e agradecendo de alguma forma o que o destino, do qual somos responsáveis, nos reserva. É resgatar o tempo de espera, refletir sobre a necessidade de sempre preencher o tempo, e ainda lidar com o inevitável potencial do vazio/solidão que carregamos em nós. É experienciar o tempo como um processo, o desfrutar de um caminho e não uma meta. Só assim o tempo estará a serviço das transformações internas. (SANTOS, 2010)
Autor: Alexandre Salomé de Souza
*Alexandre é aluno do programa de pós-graduação em ciências da Religião (Mestrado), Universidade Mackenzie
Fonte: Revista Pandora Brasil
Referências bibliográficas
BIBLIA SAGRADA, Ave Maria, 71ª edição, Edição Claretiana, 1989. BITUN, Ricardo. Mochileiros da fé. São Paulo. Editora reflexão. 2011 ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo. Martins Fontes. 2001 RUSCONI, Carlo; Dicionário do Grego do Novo Testamento; 4ª edição; São Paulo; Editora Paulus; 2003. SANTOS, Karina Servi. EXPERIÊNCIAS DO TEMPO: REFLEXÕES SOBRE TEMPO E ALMA. Curitiba .2010. Disponivel em: http://www.symbolon.com.br/monografias/Experiencias%20do%20tempoKarinaCervi.pdf. Acesso em 23 de Novembro de 2015)
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