sábado, 27 de junho de 2020


O RITO

Por Sérgio dBiagi Gregório



As ciências sociais, para bem compreender os fenômenos que estudam, devem sair ou ultrapassar o nível de experiência ingênua: o irracional ou o que se apresenta como irracional deve ser transformado em racional.

Para os etnógrafos – que observam e registram as características morfológicas de um grupo étnico ou de uma sociedade viva –, uma sociedade desprovida de qualquer ritual seria uma anomalia. Acham que há sempre uma explicação para aquele gesto ou aquele modo de ser, embora o homem moderno nada veja.

Então, se o homem moderno, seja qual for a sua posição filosófica, julga extravagantes os ritos de seus semelhantes menos evoluídos, os etnógrafos e os antropólogos tentam perceber o que há de lógico no que parece ilógico. Nesse sentido, o rito é um terreno muito mais privilegiado do que o próprio mito, porque os gestos, o vestuário e outros tipos de manifestações podem ser observados in loco, enquanto o mito fica apenas no campo da teoria.

Mas o que é o rito? O rito é um conjunto de atividades organizadas e institucionalizadas, no qual as pessoas se expressam por meio de gestos, símbolos, linguagem e comportamento, transmitindo um sentido coerente ao ritual. É um ato que pode ser individual ou coletivo, mas que sempre, mesmo quando é bastante flexível para comportar uma margem de improvisação, permanece fiel a certas regras que constituem precisamente o que há nele de ritual.

A palavra latina ritus designava, aliás, não só as cerimônias ligadas às crenças relativas ao sobrenatural, como os simples hábitos sociais, os usos e os costumes (ritus moresque), isto é, à maneira de agir reproduzida como certa invariabilidade. O fim dos verdadeiros ritos é tanto o de afastar as impurezas como o de manejar a força mágica ou ainda de pôr o homem em contato com um princípio que o transcende.

Há grande diferença entre rito e ritual. O rito é associado ao mito, enquanto ritual diz respeito a quase tudo que fazemos. Nesse caso, o médico procede a um ritual para fazer a sua operação. O uso deste ou daquele vestuário, deste ou daquele gesto não pode ser considerado ritual. Pode ser apenas um costume, uma maneira de ser e de agir. Para enquadrar-se como rito, deve pertencer a um contexto específico, principalmente o religioso.

O mito, o rito e os rituais parecem-nos irracionais. Não importa. Procuremos estudá-los, meditando em sua pureza original. Quem sabe não podemos descobrir, por nós mesmos, a simbologia que eles representam?

Nenhum comentário:

Postar um comentário