sexta-feira, 14 de agosto de 2015

MAÇONS, MANIQUEÍSTAS E CÁTAROS

Autor: João Anatalino.

Os Gnósticos

Grande parte da literatura religiosa cristã foi produzida pelos filósofos gnósticos dos primeiros séculos do cristianismo. Embora a Igreja Católica tivesse expurgado o Novo Testamento das ideias que guardavam alguma relação com cultos pagãos da antiguidade, práticas mágicas e outras tradições esotéricas, não muito de acordo com os cânones adotados pelo catecismo católico, os evangelhos canônicos não estão livres da influência gnóstica. O Evangelho de São João, principalmente, é francamente inspirado naquela escola, bem como o livro do Apocalipse e certas concepções do Apóstolo Paulo. 
O Concílio de Nicéia, realizado nessa cidade em 325 da era cristã, fez uma revisão dos todos os textos religiosos existentes naquela época e decidiu quais eram aqueles que serviam á verdadeira fé e quais eram perniciosos. A grande maioria dos escritos gnósticos e principalmente os chamados Evangelhos produzidos por escritores que professavam essa corrente filosófica, foram colocados na categoria de apócrifos, e dessa forma proibidos de serem divulgados na comunidade cristã. Com a vitória do cristianismo como religião oficial do Império Romano, esses textos foram colocados definitivamente na clandestinidade e oficialmente banidos, por força de lei, de qualquer tipo de mídia da época. Assim, por volta do século V, os praticantes das doutrinas gnósticas se refugiavam em círculos muito restritos, principalmente em razão da perseguição que lhes movia o clero e as autoridades seculares. Foi nessa época que nasceram as chamadas heresias, pois as ideias contrárias ás doutrinas professadas pela Igreja, que antes eram discutidas á luz do debate meramente filosófico, passaram a ser consideradas como perigosas para a ordem pública. 
Mas a Gnose, enquanto disciplina filosófica não desapareceu, como queriam os doutrinadores do cristianismo ortodoxo e influenciou alguns dos maiores pensadores da cristandade. Um de seus ramos, o chamadomaniqueísmo, doutrina fundada por um sacerdote de nome Mani, nascido na Babilônia em 216 da era cristã, teve como discípulo nada menos que o célebre Santo Agostinho, um dos luminares do pensamento católico medieval.

O Maniqueísmo

Os maniqueístas, diferente dos demais gnósticos, que admitiam três princípios atuantes na criação do cosmo, acreditavam que esses princípios eram apenas dois: a Luz e as Trevas. Desse eterno embate entre o principio luminoso (o Pai da Luz), e o principio das trevas (O Rei da Escuridão), surgiu tudo que existe no mundo. O “Rei das Trevas” já foi um dia habitante do “país da luz”, mas dele partiu, com um inumerável séquito, após “desentender-se com o Pai da Luz”. Nessa doutrina está inserta a antiga ideia, esposada pela teologia judaica, de que houve um dia uma revolução no céu e uma horda de entidades celestes, chefiada por um arcanjo de nome Lúcifer (Anjo de Luz, o luminoso) se indispôs com o Criador e se tornou o seu opositor.

Na doutrina desenvolvida por Mani, um verdadeiro enredo histórico foi elaborado. Uma grande guerra travou-se no céu onde duas fações lutaram. De um lado os partidários da Luz e do outro os partidários das Trevas. Na luta que então se travou pela posse do universo, o exército do “Pai da Luz” foi comandado pelo Homem Primordial, uma entidade criada por ele na sua primeira manifestação. Foi esse “Homem Primordial” que liderou as forças do Pai da Luz. Todavia, capturado em uma batalha pelos partidários das trevas, o Homem Primordial foi por eles devorado. Para salvá-lo, o “Pai da Luz” evocou uma nova força, o “Espírito Vivo”. Este, tendo gerado cinco filhos, derrotou os “Filhos das Trevas” e construiu a matéria universal com a substância dos seus cadáveres. 

Quando o Homem Primordial foi afinal liberado das trevas, deixou que lá ficasse uma réstea da sua luz. Com ela o ‘Rei das Trevas” engendrou Adão e Eva, onde encerrou a réstea de luz do Homem Primordial. Será essa réstea de luz, no entanto, que permitirá, quando liberada, a volta do homem ao seio do “Pai da Luz”. Daí porque a vida do homem, e toda a sua longa história de sucessivas mortes e reencarnações, ser nada mais que uma “jornada em busca dessa luz”, que nele habita e constitui o único elo entre ele e o Criador. 

Esse imaginativo enredo elaborado por Mani é, na verdade, uma curiosa metáfora inspirada por antigas tradições cultivadas por egípcios, babilônios e judeus, nas suas tentativas de explicar o universo. Na verdade, no fundo, o que se expressa nessas estranhas escatologias é nada mais, nada menos, do que o mito solar. De uma forma ou de outra, todas as antigas religiões tinham no sol o seu símbolo maior de divindade, denotando já a velha intuição taumatúrgica de que a vida na terra só era possível graças á ação desse astro que ilumina a nossa galáxia. O sol era a representação da luz. Quando ele se ausentava, reinava a escuridão no mundo. A luz, que era o dia, era boa. A treva, que era a noite, a escuridão, era má. Essa noção informou a maioria das religiões da antiguidade.
No Egito, a luz do sol era simbolizada pela divindade maior do panteão egípcio, o deus Rá. Já a escuridão era a essência de Seth, o deus das trevas. Na Pérsia e Mesopotâmea, a luz era a qualidade do deus Aura-Mazda, e as trevas do deus Arimã. Para os israelitas, Jeová era o deus que fez o mundo tirando a luz das trevas e Satanáz o deus do mal, que perverte a criação. 
E todas essas tradições religiosas, com algumas variantes, usavam o mesmo enredo escatológico na concepção das suas cosmogonias. Os egípcios tinham o seu Homem Primordial na pessoa do deus Osíris, que veio á terra para civilizar os homens e foi “morto” pelo seu invejoso irmão Seth. Os persas e babilônios tinham em Mitra o seu “homem primordial”, e os israelitas centralizaram no seu Messias essa figura. Com as variações que cada cultura deu a esse mito, todas estavam se referindo ao mesmo arquétipo. 

O maniqueísmo, embora seja considerada uma doutrina cristã, a influência que mais se faz presente nela é persa, como se pode notar. É uma doutrina profundamente influenciada pelo mitraísmo. Como geralmente se pensa, ela não é uma doutrina baseada na luta entre o bem e o mal. Pelo fato de considerar o mundo material, e o próprio ser humano como produto do deus das trevas, todo o universo maniqueísta é fundamentalmente mau. Porque a humanidade não foi criada pelo Deus da Luz (o deus bom), mas sim pelo Deus das Trevas (o deus mau). A “centelha de luz” que existe no homem é a sua alma. Somente essa ínfima parte da essência humana pertence ao mundo da Luz. E ela está presa na matéria, que é nosso corpo. Somente através de uma vida ascética, na qual todos os desejos do mundo sejam sublimados, os homens poderão expulsar de si as trevas da qual são feitos e isolar a “réstea” de luz, (único elemento divino que há dentro dele). E somente como pura luz poderá voltar ao seio do seu criador, o “Pai da Luz”.

Essa era também uma crença compartilhada pelos essênios, uma seita de judeus fundamentalistas que se retiraram para o deserto em princípios do século II a. C. para viver uma vida ascética, capaz de purificar seus espíritos. A ideia de um reino messiânico, comandado por um príncipe-sacerdote teve nos essênios a sua mais perfeita modelagem. Eles criaram uma verdadeira Irmandade para viver esses princípios porque realmente acreditavam que um dia a Luz venceria as Trevas e esse reino seria estendido para toda a humanidade. E foram os essênios os principais inspiradores do cristianismo primitivo, aquele pregado por Jesus e seus discípulos originais.

Mas não só na semelhança de ideias e uso comum de símbolos, os maniqueístas se assemelhavam aos essênios. Na austeridade de conduta, na vida monástica, no ascetismo da vida diária, na ideia da necessidade de iniciação nos “mistérios” da seita, no desapego pelos bens materiais etc. fazem dos seguidores de Mani os herdeiros das tradições inauguradas por aqueles “eleitos de Israel”.
Por seu turno, a influência dos maniqueístas se fez sentir em várias seitas que causaram muita preocupação na Igreja durante toda a Idade Média. Uma delas foi a seita dos Bogomilos, uma comunidade que se desenvolveu nos Balcãs e se espalhou por toda a Europa central nos séculos X e XI. Os Bogomilos foram violentamente perseguidos pela Igreja Católica e praticamente exterminados nas regiões de influência da Igreja Romana. Não obstante deram origem a outro grupo de ideías e práticas semelhantes, conhecido como Cátaros. 

Os Cátaros

Os grupos Cátaros mais célebres habitaram regiões da França, Alemanha e norte da Itália. Mas o local de maior concentração e influência desses grupos foi a região conhecida como Provença, no sul da França, onde se falava o provençal, a chamada lang’doc, como era conhecida o provençal. Daí essa região ser conhecida como Languedoc. 

No começo do século XIII a região conhecida como Languedoc não fazia parte do território francês. Era constituída por um conjunto de principados independentes governados por várias famílias nobres, entre as quais os condes de Toulouse e Trancavel. Incluía importantes cidades como Toulose, Montpellier, Avignon, Narbonne e Marselha. A cultura nessa região era a mais avançada que se podia encontrar na Europa medieval. Mantinha estreitas ligações com os árabes, e seus príncipes eram largamente tolerantes com judeus e mouros, em cuja população eram bastante representativos. A região do Languedoc constituía uma exceção numa Europa dominada pelo barbarismo e pelo obscurantismo religioso. Foi em Lunel e Narbonne, por exemplo, que se desenvolveram as escolas cristãs dedicadas ao estudo da Cabala. Lá, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo conviviam em paz, sendo mais objeto de estudo do que de disputas. Logo, a Igreja de Roma, com sua intolerância dogmática, não podia ser mesmo admirada na região. Por outro lado, a florescente economia do Languedoc, não raro, era objeto da cobiça dos potentados do norte da França, da Alemanha e da Espanha, dominados por reis católicos.

As doutrinas Cátaras

Os Cátaros, tais como os Bogomilos e os Paulicianos baseavam sua doutrina no embate entre a luz e as trevas. Como vimos, essa doutrina havia sido proposta originalmente por Mani, sacerdote de origem persa, que no século II da era cristã sintetizou as várias doutrinas gnósticas existentes na época, criando um sistema de pensamento que ficou conhecido como maniqueísmo. Esse sistema fundia elementos de cristianismo, judaísmo, zoroastrismo, taoísmo e hinduísmo, a partir de uma idéia básica que está na raiz de todas essas religiões, ou seja, a de que o mundo se equilibra entre duas forças fundamentais, que ele definiu como sendo a luz e as trevas. No desenvolvimento dessa concepção, Mani elencava os vários fundadores de religiões, como Buda, Zoroastro, Moisés, Jesus, como “mensageiros da luz”, pessoas escolhidas pelo Pai da Luz, o Deus bom, para ensinar as pessoas a libertar seus espíritos da prisão da matéria e encontrar a iluminação. Assim, os Cataros desenvolveram a concepção de que o universo material era um mundo essencialmente mau porque tinha sido feito pelo Deus das trevas. Dessa forma, a idéia de que Deus tenha mandado ao mundo seu próprio filho para salvar uma criação má era contraditória. A humanidade nunca se perdera, como ensinava a doutrina católica. Ela já nascera perdida porque era cria do Deus das trevas. Só podia ser salva pela constante e metódica depuração de seus elementos materiais, transformando-se, toda ela, numa entidade espiritual, liberta de todos os sentidos carnais e impurezas mentais que a experiência humana acumula sobre o espírito. O espírito humano deveria buscar a perfeição. Daí os sacerdotes Cátaros serem chamados de parfeits. Justifica-se também a vida rigorosamente ascética que os seguidores dessa doutrina recomendavam aos seus adeptos. Entre outras coisas, essas crenças afastaram completamente os Cátaros da Igreja de Roma, pois esta, para eles, era a própria encarnação desse mundo materialista, mau e dissoluto. Jesus, para os Cátaros, fora um grande profeta, que como Buda e Zoroastro, ensinou aos homens um caminho baseado no amor e no desapego pelos bens materiais (como pregavam também os franciscanos) para se chegar á iluminação. O clero católico era a antítese desse caminho, pois incentivava a violência, a guerra, a cobiça e o apego aos bens materiais. O próprio nome Roma era o contrário do nome de Deus, que para eles era Amor.

Em 1208, o assassinato de um bispo católico, supostamente cometido pelos Cátaros, desencadeou a chamada Cruzada Albigense. O papa Celestino III mobilizou um enorme exército no norte da França, composto principalmente por senhores feudais, interessados nas riquezas das cidades do Languedoc. Uma força armada, comandada pelo líder cruzado Simão de Montfort, invadiu e sitiou a maioria das cidades da região, chacinando grande parte da população, simpática á doutrina Cátara. Para subsidiar a cruzada e erradicar o que a Igreja de Roma chamava de heresia Albigense, o papa encarregou o monge dominicano espanhol, chamado Domingos de Guzman, de fundar uma instituição para descobrir e punir todo e qualquer tipo de pensamento ou comportamento que contrariasse a doutrina católica. Assim nasceu a infame organização conhecida como a Irmandade da Santa Inquisição, da qual a Igreja e muitos reis iriam se aproveitar para eliminar seus opositores. 
Durante a cruzada albigense o exército cruzado praticamente dizimou metade da população do Languedoc. Mas não conseguiu eliminar a doutrina Cátara da mente das pessoas. Elas sobreviveram principalmente entre os Templários e mais tarde, foram adotadas por muitos pensadores que viriam a influir sobremaneira as ideias que desembocaram na Reforma religiosa do século XVI, encabeçada por Martinho Lutero. 

Influência na Maçonaria

Os Cátaros legaram á Arte Real algumas inspirações litúrgicas. Seus sacerdotes eram considerados mestres perfeitos (parfaits), que conduziam suas assembleias á maneira das reuniões maçônicas das antigas Lojas operativas. Sua postura antidogmática tem sido constantemente invocada como análoga áquela que existe na Maçonaria moderna. 
Muito provavelmente, certas posições da Igreja Católica em relação aos maçons estão, de certa forma, ligadas á associação que alguns padres de orientação fundamentalista fazem entre a Maçonaria e seitas heréticas como a dos Cátaros. Evidentemente esses sacerdotes desconhecem tudo o que se relaciona com a Arte Real. A Maçonaria não adota as doutrinas Cátaras, nem se guia pelos seus catecismos, embora, na sua organização secular algumas influências possam ser notadas, tais como a simbologia arcana, o segredo corporativo, a prática da filantropia e a sua formulação iniciática. Registre-se, principalmente, que o Catarismo era uma seita religiosa e a Maçonaria é, antes de tudo, um movimento que reclama influência na vida social e política das nações, mas não nas crenças religiosas das pessoas. A Maçonaria respeita todas as crenças e não orienta seus adeptos em relação a nenhuma delas. No repertório da consciência humana cabem todas as orientações desde que elas tenham por objetivo conduzi-la a um aperfeiçoamento das virtudes que fazem um homem justo, ético e virtuoso em suas ações. 
Malgrado suas posições doutrinárias, que são discutíveis, como aliás, todas são, o maniqueísmo e o catarismo têm seus momentos de beleza estética, que encanta a mente do homem que busca o conhecimento. E como disse Ramsay, o maçom é o homem de espírito esclarecido, maneiras gentis e humor agradável, que se guia pelo amor às belas artes, e pelos grandes princípios de virtude, ciência e religião. Por isso encontraremos, nos rituais maçônicos, muitas referências a essas disciplinas.

João Anatalino

segunda-feira, 3 de agosto de 2015


MAÇONARIA- A CADEIA DA UNIÃO

Autor: João Anatalino

" As pessoas formam famílias, tribos, sociedades, nações. Todas essas entidades, - das moléculas dos seres humanos e destes aos sistemas sociais ─ podem ser considerados "todos" no sentido de serem estruturas integradas e também "partes" de "todos" maiores, em níveis superiores de complexidade. De fato, veremos que "partes" e "todos", num sentido absoluto, não existem."
Fritjof Capra


Para desenhar a composição estrutural do cosmo, o Grande Arquiteto do Universo se vale de duas estratégias fundamentais: a pluralidade e singularidade. Isso significa que tudo, no mundo, tem uma estrutura singular e coletiva ao mesmo tempo, sendo que uma depende da outra para existir. Dessa forma, indivíduo e sociedade se completam, e o que acontece com um repercute na outra, o que nos torna todos responsáveis pelo que acontece no mundo. 
  
Segundo alguns estudiosos[1] o universo em que vivemos se manifesta aos nossos olhos sob três faces: pluralidade, unidade e energia. Sob um rosto multiforme e variado, ele é um organismo que esconde uma indissolúvel unidade, mantido pela energia contida no núcleo de cada um dos seus elementos. Essa energia é a informação inicial que neles se hospeda, e os faz procurar, no ambiente em que se manifestam, os elementos que necessitam para realizar a necessária complementaridade.

A atomização é o processo pelo qual os constituintes básicos da matéria universal se dividem, se qualificam e depois se reúnem novamente, formatando as realidades do mundo real. E em cada átomo da matéria decomposta, reflete glorioso, esse indefinível sentido de unidade, que se manifesta, pela manutenção, em todas as partes pelas quais ela se multiplica, das propriedades observadas no todo. 
Por isso se diz que o universo inteiro está contido em cada grão de poeira existente no cosmo, e também em cada célula dos organismos que a natureza criou. E o universo reflete a estrutura de cada organismo que o compõe.[2]

Na intimidade do ínfimo se encontram as propriedades do imenso com todas as suas intenções e qualidades. É como se todo o real existente fosse derivado de uma substância única, que subsiste exatamente por causa dessa sua propriedade essencial, que é a identidade entre todas as suas partes.
Pelo fato de ser homogênea, a essencialidade da matéria consegue projetar-se, como uma vontade que une, sobre todos os múltiplos de sua substância, conferindo à todas as coisas a unidade que se observa entre os elementos materiais. Essa unidade é uma força que faz com que todos os elementos do universo, e particularmente os seres vivos, pratiquem uma necessária interação, como função das relações que necessitam para realizarem suas finalidades de existência. Essa relação de complementaridade não precisa integrar, necessariamente, um ideal humanístico para ser natural. Nesse sentido, o predador que abate e consome a sua presa, na ação natural de preservar a própria vida, não comete nenhum ato antinatural. É uma interação útil e necessária, da qual a natureza se vale para realizar a sua função. Portanto, não há conflito na luta entre o leão e o antílope, ou entre a pomba e o gavião, mas sim, uma estratégia da natureza na sua tarefa de seleção e preservação da vida. . 
É diferente da luta que se trava meramente pela superação ambiciosa e arrogante do adversário, que ultrapassa os limites da necessidade de sobrevivência e aperfeiçoamento da espécie, que se observa no seio da sociedade humana. Aqui a função natural da luta ultrapassa os limites da estratégia útil e necessária para se tornar uma atividade predatória sem sentido nem finalidade, praticada única e exclusivamente para atender a um desejo egocêntrico de dominação. Se a natureza inventou a luta pela sobrevivência, a arrogância e a estupidez humana criaram o conflito e a guerra pela supremacia. E se um dia a natureza, ou Quem, o Que a controla, optar pela sua supressão, será exatamente essa especificidade do ser humano que justificará a sua extinção.

A energia resultante de uma interação entre dois elementos se mede pelo grau de transformação que cada um dos elementos dessa relação sofre. Esse resultado é também a medida da evolução individual de cada um e dos seus resultantes em termos coletivos. A energia que transmitimos uns aos outros, a energia que transmitimos às coisas com as quais interagimos, a energia que deles recebemos, eis o motor de todas as transformações; e a potencialidade do quanto "somos" em cada momento da nossa vida é o resultado desse processo. Quando me relaciono com uma pessoa, ela se modifica em consequência da informação que recebe de mim. Da mesma forma, sou modificado pela informação que dela recebo. Informação é energia e nós somos produtos de relações. E a nossa sociedade vive de relações entre relações. Por isso nada pode ser descartado. E nenhum argumento justifica a exclusão, seja do que for que a natureza um dia produziu. Esse é o melhor argumento contra qualquer tipo de racismo, ou de doutrina que defenda qualquer forma de exclusão, fundamentada na diferença. No desenho do universo que Deus projetou, a falta do mais insignificante elemento implica em torná-lo incompleto. E torná-lo incompleto é mutilá-lo. E tudo que é mutilado é feio.

Maçonaria é, acima de qualquer outra finalidade, o sentimento de união. União dos Irmãos em uma cadeia onde a energia de cada um é canalizada para a “egrégora” que se forma e a todos beneficia, Por isso o simbolismo do salmo 133: “ó quão bom e quão suave é que os Irmãos vivam em união. É como bálsamo precioso que desce sobre a barda de Aarão e molha a orla dos seus vestidos; é como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sion, porque ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre.”

Assim se fundamenta este que é o mais importante de todos os conceitos trabalhados pela Maçonaria, enquanto Ordem ecumênica, de âmbito mundial. A Cadeia da União é o símbolo dessa unidade atômica onde as energias individuais se congregam para formar um tecido único, de substância indestrutível, ao qual a humanidade inteira pode recorrer nos seus momentos de maior angústia existencial. Essa é uma visão que não pode ser ser perdida pelos Irmãos.



[1] Ver Teilhard de Chardin- O Fenômeno Humano, Cultrix, São Paulo, 1968
[2] Fórmula admiravelmente deduzida pelo preceito hermético, constante da Tábua de Esmeralda, atribuída a Hermes Trismegisto, que diz que “o dentro é igual ao fora e que está em baixo é igual ao que está em cima.”
João Anatalino





O CÍRCULO DA LUZ

Autor: João Anatalino

A alquimia como exemplo


Os adeptos da arte de Hermes (a alquimia) acreditavam que na matéria bruta, sobre a qual deveriam trabalhar existia um caos, uma treva espessa, um depósito de energias desorganizadas que deveriam ser recompostas em sua estrutura através de um processo de manipulação química que tinha um sentido ascético que se podia chamar de quase religioso. 
Isso porque no núcleo de todo grão de matéria residia a glória de Deus. Assim, no interior da “matéria prima da obra” habitava a chama divina, a luz interdita, o raio, que liberto das suas amarras físicas, daria ao seu libertador o controle sobre todas as forças da natureza. Para os alquimistas, era também essa energia, que uma vez liberada, conferia a todos os corpos, minerais, vegetais ou animais, suas conformações físicas, fazendo deles um elemento químico, uma planta ou um animal, sendo também responsável pelos graus em que se organizavam seus elementos internos, dividindo-os em espécies.[1]
Essa energia era a matéria prima do espírito. O espírito, que é luz, habitava em meio á trevas. Ao ser libertado precisava ser convenientemente dirigido. Pois assim como os núcleos atômicos de materiais pesados que são rompidos sem medidas de controle podem causar explosões imensas, com danos irreversíveis para o operador e para o ambiente em que ele opera, também o espírito liberado sem direcionamento, sem “magistério” próprio, pode causar terríveis perturbações.


A alquimia entrou na maçonaria pelas mãos dos chamados “maçons aceitos” do grupo rosacruciano, ali pelo início do século XVII. Ganhou adeptos em todas as Lojas maçônicas da época, provavelmente pela analogia que as tradições alquímicas guardavam com a idéia maçônica, de aprimoramento do espírito através do trabalho manual.
Para os alquimistas, o trabalho de manipulação da matéria no laboratório provocava no espírito do operador o mesmo resultado que o trabalho de edificação trazia para o construtor de edifícios sacros. Ambas eram práticas sacralizadas, que levavam ao êxtase aqueles que nelas eram iniciados. Além disso, a esperança alquímica de revelação divina, através da manipulação da matéria, estava no mesmo nível da esperança maçônica, de obtenção da Gnose através do simbolismo da construção de um edifício sagrado, como eram as igrejas medievais. Daí tanto se pode dizer que a alquimia era uma espécie de maçonaria praticada operativamente nos laboratórios por filósofos químicos, da mesma forma que a maçonaria era uma alquimia espiritual praticada num canteiro de obras de um laboratório. Ambas eram derivações de artes operativas: a alquimia provinha da prática da antiga metalurgia, a maçonaria da prática da arquitetura.
Que tais tradições fossem associadas a uma disciplina espiritual, visando o mesmo resultado, não causa nenhuma perplexidade. Afinal, o que pregavam as crenças religiosas e as tradições iniciáticas de todos os tempos, senão a idéia de que o espírito humano é um elemento que deve ser expurgado de suas impurezas, para tornar-se uma entidade “luminosa”, limpa, pura, capaz de alçar-se ao território das divindades e com elas conviver num nível de igualdade? E não era essa também a finalidade da religião, a meta da filosofia, a esperança gnóstica e a realização derradeira de toda experiência mística?
Foi nesse passo que a Alquimia deixou de ser apenas a Arte de Hermes, destinada a apreender os segredos da natureza e aplicá-los na transmutação dos metais, para transformar-se em verdadeira ciência do espírito, capaz de realizar a iluminação do próprio operador, levando-o a um estado de consciência superior, que só um verdadeiro iniciado conseguia atingir. Essa era, pelo menos, a esperança da grande maioria dos praticantes da chamada Art d’Amour, como ficou conhecida entre os românticos adeptos da literatura espagírica, a alquimia. Pawels e Bergier descrevem bem esse processo: “ Finalmente pensamos o seguinte: o alquimista no fim do seu trabalho sobre a matéria vê, segundo a lenda, operar-se em si mesmo uma espécie de transmutação. Aquilo que se passa no seu crisol passa-se igualmente na sua consciência ou na sua alma. Há uma mudança de estado. Todos os textos tradicionais insistem nesse ponto, evocam o momento em que a “ Grande Obra” se realiza e em que o alquimista se transforma “ num homem desperto”’. Parece-nos que esses velhos textos descrevem deste modo o termo de todo o conhecimento real das leis da matéria e da energia, incluindo o conhecimento técnico”.[2] 
Eis, portanto, realizada a ascese espiritual, a iluminação buscada pelos místicos de todos os tempos, a Gnose dos antigos filósofos e o “insight “ do cientista. O operador alquímico é agora um Homem Novo, renascido das próprias cinzas, como a fênix da lenda, como a matéria prima mineral que durante anos a fio triturou, dissolveu, aqueceu no crisol e cozeu no seu forno, “matando-a e ressuscitando-a” inúmeras vezes, até que, por um fenômeno de interação entre suas moléculas modificadas e recombinadas infinitas vezes, produz-se o fenômeno. 
E ao mesmo tempo, enquanto a matéria prima se purifica no decorrer do processo, o operador alquímico torna-se também “purificado”, como o metal grudado no fundo do crisol. Ele é, agora, detentor de todo saber, todo conhecimento, todos os segredos da natureza e senhor do seu próprio psiquismo. É o Homem da Terra, feito á semelhança do Homem do Céu, o Homem Desperto das crenças teosóficas, o Homem Universal da esperança maçônica.[3]
Eis enfim, realizado o grande sonho da humanidade. Enquanto o alquimista possui agora um artefato (a Pedra Filosofal) capaz de introduzi-lo no mais íntimo dos segredos da natureza, ou seja, o processo pelo qual ela fabrica os elementos naturais, ele é também, como homem desperto, um verdadeiro eleito na sociedade em que vive, pois possui a Gnose, a verdadeira sabedoria que tudo transforma. 

Alquimistas e maçons

Essa também é a simbologia que se aplica ao maçom, homem regenerado pela iniciação no oficio, possuidor de uma consciência superior, que lhe permite “ver” e agir num domínio ampliado pelo mundo interior que a prática da Arte Real finalmente lhe assegura.
Não é sem motivo que muitos autores sustentam que o objetivo da maçonaria é a realização de uma obra espiritual comparável á grande obra dos alquimistas, representada pela Pedra Filosofal. Não é também irracional a comparação que se faz entre a construção simbólica do Templo de Salomão e a obtenção dessa “pedra”, capaz de transformar minerais impuros no mais puro ouro. E não é também por acaso que a iniciação maçônica, e o seu próprio catecismo, são pródigos de evocações a símbolos alquímicos. Pode dizer que a maçonaria é uma forma de alquimia praticada simbolicamente em uma Loja, ao invés de um laboratório, como faz um alquimista, tendo como matéria prima o psiquismo do praticante, e como finalidade a transmutação do seu próprio caráter. 
Bernard Rogers resume bem essa questão: “O objetivo que os franco-maçons perseguiam é a construção do Homem, isto é, da Humanidade Autêntica, concebida como projeto, a partir da construção do individuo”,escreve aquele autor. “Não causará surpresa”, prossegue ele, “o fato de que o eixo em torno do qual eles estabeleceram seu simbolismo seja a construção do Templo de Salomão, sendo o ser humano considerado como a morada da divindade. A quem venha opor esse propósito a afirmação de que há franco-maçons ateus, respondamos que nenhum desses, a menos que não mereça sua qualificação, poderia pelo menos negar sua fé na perfectibilidade do homem, cuja natureza divina- isto é - luminosa- não pode deixar de ser reconhecida por quem não tem medo das palavras e se recusa a tornar-se escravo do que esta ou aquela religião possa exigir dele”. [4]


Por acaso também não é que a disposição dos símbolos, numa Loja Maçônica, assemelhe-se, de forma notável, à quarta prancha do Mutus Líber dos alquimistas.[5] Ambas são visões simbólicas do universo. Nelas se representa a “energia dos princípios”, responsável pelas transformações internas e externas que se realizam na natureza e no homem. É na Loja que a mística da Palavra Perdida, o Verbo Divino, o Número Único, que na cabala representa o Principio Criador de todas as coisas, e na alquimia a ” flos coeli (flor celeste) “, “o dom de Deus” é captada pela alma humana no momento da iniciação. É essa energia que age, á medida que a cerimônia avança, para a realização da transmutação do neófito, conferindo-lhe um status que o eleva de sua condição anterior de profano á condição superior de iniciado.

O simbolismo do piso e dos painéis

Em tudo e por tudo o magistério alquímico guarda a mais estreita relação com a tradição maçônica. Tanto é que as cinco telas do Mutus Líber ocupam, na iconografia alquímica, a mesma posição que os painéis (quadros) na Loja Maçônica, onde se realizam as transmutações dos Irmãos, na passagem sucessiva das fases de iniciação nas Lojas Simbólicas.[6] Da mesma forma, observa-se que o mosaico do piso, que é obrigatório em todas as Lojas maçônicas, também seja largamente utilizado na simbologia alquímica. É que, em ambas as tradições, esse piso, formado por ladrilhos pretos e brancos, dispostos como uma mesa de xadrez, tem a função específica de “receber e filtrar a luz” que vem do Oriente, a “ Luz de Rá” das iniciações egípcias, Principio Criador de tudo que há no mundo. E as cores desse piso, em preto e branco, repetem as mesmas cores do mercúrio dos filósofos alquimistas.
Diz-se que o mosaico, na Loja Maçônica, é uma representação do piso que ornava o Templo de Salomão. Mas essa referência histórica é uma informação que não reflete o seu verdadeiro significado místico. Na verdade, desde o tempo de Moisés, ou até antes disso, esse traçado geométrico já representava ideias de alto conteúdo esotérico. Era utilizado nos templos egípcios, nos antigos templos fenícios e sírios, e nos templos greco-romanos como forma de captar e filtrar a luz solar, orientando-a para um fim determinado. Dessa forma, não é estranho que os alquimistas tenham utilizado semelhante disposição geométrica para preparar o seu “filtro”, fundamentados na mesma sensibilidade que orientou os profetas e hierofantes das religiões solares.
Como já referido, as mais antigas tradições maçônicas dizem que o Templo de Salomão era ornamentado por um piso mosaico formado por quadrados pretos e brancos, orientados em uma certa disposição geométrica, cujo significado esotérico está hoje perdido. Essa informação consta de diversos manuscritos antigos, pertencentes ao conjunto conhecido como Old Charges (As Velhas Instruções).[7] É bom lembrar, entretanto, que essa informação não consta da Bíblia nem em qualquer outro documento histórico, o que nos leva a pensar que o simbolismo do piso da Loja maçônica tenha, efetivamente, mais relação com o simbolismo alquímico do que, propriamente com as antigas tradições maçônicas herdadas da arquitetura salomônica.


A analogia entre o magistério alquímico e a prática maçônica, no entanto, é notável. Há uma similitude de objetivos em ambas as tradições e no processo de obtenção de resultados, que muito se assemelham entre si. Da mesma forma que na prática alquímica o “metal” se regenera a partir de uma conjunção entre a luz e as trevas, na maçonaria essa regeneração é operada a partir do sol e da lua. Eles estão representados no Oriente da Loja, atrás do trono do Venerável Mestre. No meio deles, no centro do triângulo, o “olho onisciente”, reina absoluto. 

O Círculo da Luz

Essa simbologia, inspirada em tradições egípcias, é representativa da crença de que tudo no universo emana da conjunção de dois princípios, resultando num terceiro, que se propaga por todo o real existente. O sol ali representado é Osíris, ou Rá, o Princípio Criador de tudo que existe no universo. Em Alquimia esse princípio é o fogo, cujo calor dilui os corpos submetidos á sua ação. A lua representa Isis, a deusa-mãe em cujo ventre se opera o milagre da regeneração (em alquimia é o athanor, o “ovo cósmico” onde a matéria prima se recompõe e recombina seus átomos), e o “olho onisciente” é o olho de Hórus, o filho que nasce da união de Ísis e Osíris, após a ressurreição daquele deus (o próprio alquimista, organizador e realizador desse processo).
A trindade egípcia, nos trabalhos de Loja, é representativa do “mistério maçônico” que se nela se opera. Através desse processo o maçom alcança a regeneração psíquica que fará dele o “o homem universal”, típico arquétipo de todas as doutrinas esotéricas. É da luz que vem do Oriente, a partir da consagração dada pelo Venerável, que o iniciado atinge a qualidade de homem renascido, após ter sofrido a morte psíquica, simbolizada por sua passagem pelos subterrâneos e sua descida ao ventre da terra. 
Por isso é que após ter passado um período perdido nas trevas, realizando diversas provas e viagens, o neófito maçom “vê” a luz, no momento em que lhe é retirada a vendas dos olhos. Momento limite de sua iniciação, ele percebe que essa luz lhe é conferida pelos astros ali representados, simbolizando que ele, finalmente, superou a primeira fase de sua jornada iniciática e sabe agora da existência de uma verdade maior que precisará ser descoberta aos poucos, subindo uma escada elevatória que o levará ao cume desses mistérios. Exatamente como fazia a prática alquímica com seus adeptos.
Aqui a correspondência entre a maçonaria e a tradição alquímica se torna ainda mais evidente: o Aprendiz, que durante longo tempo permaneceu num estado de semente, lançada num profundo negro, evolui para o branco da regeneração, quando se torna Companheiro e conhece o vermelho da ressurreição ao tornar-se Mestre. O Mestre que renasce a partir de Hiram morto, eis o apogeu do processo que simboliza o nascimento de um maçom na sua plenitude iniciática, pois ao iniciar-se Aprendiz, e ao elevar-se a Companheiro, ele ainda está em processo de gestação. Será preciso um longo processo de manipulação e aprimoramento do seu caráter até que ele se torne, enfim, o Homem Universal, alicerce da nova sociedade, justa e perfeita, que a Maçonaria se propôs a construir.
Essa é a alquimia que se processa no interior de uma Loja Maçônica, que, nesse mister repete o trabalho feito no laboratório do adepto da Art d’ Amour. Assim, o neófito que busca a realização maçônica carrega na sua alma o mesmo anseio do adepto que se iniciava na Arte de Hermes. O que ele busca, de fato, é entrar naquele “Circulo da Luz” que confere aos iniciados uma nova visão do mundo. E tanto nos laboratórios dos artistas da Grande Obra, como nos templos maçônicos de hoje, quando um Irmão é iniciado ouve-se dizer que A LUZ FOI FEITA , A LUZ SEJA DADA AO NEÓFITO.


[1] Aristóteles chamava essa energia de Enteléquia, principio que orienta a conformação final de todas as realidades universais.
[2] O Despertar dos Mágicos- Cultrix, São Paulo, 1968. Uma das mais imaginativas aplicações desse princípio foi utilizado pelo escritor escocês Robert Louis Stevenson para compor o seu clássico conto “The Strange Case of Dr. Jekil and Ms. Hyde”, que em português recebeu o título de “O Médico e O Monstro”.
[3] Todos esses arquétipos cultivados pelas tradições esotéricas tem a mesma base de fundamentação: a de que o homem, na sua origem, era perfeito e que por algum motivo perdeu essa condição. Mas através de um processo de purificação do seu espírito (ou mente) pode voltar a sê-lo.
[4] Bernard Rogers- Descobrindo a Alquimia-Círculo do Livro, 1986
[5] O Mutus Liber (em latim, "livro mudo") é um tratado de alquimia publicado na França, na segunda metade do século XVII. É composto apenas por uma coleção ordenada de ilustrações místicas, que para os conhecedores dessa arte tem a finalidade de transmitir o segredo da fabricação da Pedra Filosofal, objetivo final de todo alquimista.
[6] Nas Lojas Maçônicas, cada grau é simbolizado por um painel, que representa aquela fase de passagem por aquele grau de iniciação. É uma iconografia semelhante ao trabalho alquímico representado na admirável coleção de painéis do Mutus Liber. Ali se pode perceber diversos símbolos iconográficos muito caros aos maçons, como escadas (Escada de Jacó), elevações espirituais, trabalhadores manuais (trabalho com pedra bruta), etc. Tudo leva a crer que a própria simbologia maçônica, expressa nos painéis dos diversos graus, tenha sido inspirada pelo processo de obtenção da Pedra Filosofal, conforme descrito no Mutus Liber.
[7] Alex Horne - O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica. São Paulo. Ed. Pensamento, 1998.
João Anatalino

SIMBOLISMO MAÇÔNICO- O ORVALHO DO MONTE HERMON

Autor: João Anatalino

A tradição dos “lugares altos”


Os chamados “lugares altos” sempre exerceram uma atração quase magnética sobre o espírito dos povos antigos. Eles eram considerados como altares naturais onde as divindades se apresentavam para exercer seu domínio sobre os homens. Não é pois, sem razão, que a grande maioria dos templos da antiguidade eram erguidos sobre elevações montanhosas, e que as grandes manifestações de fé e espirito religioso fossem feitas nos lugares altos.[1]
A história religiosa dos hebreus, e depois dos judeus, herdeiros desse antigo povo também está umbilicalmente ligado á esse simbolismo. Com efeito, uma das mais sagradas tradições de Israel é a de construir altares nos lugares altos e situar as manifestações da divindade nesses lugares. Mesmo antes de Moisés ter o seu encontro com Jeová no Monte Horeb, e depois levar o povo hebreu para um encontro com a sua divindade nos pés do Monte Sinai, onde receberia as Tábuas da Lei, várias outras elevações terrestres eram consideradas sagradas pelos israelitas e adoradas como locais sagrados. Eram sempre nos lugares altos que deviam ser realizados os sacrifícios; também nesses lugares a espiritualidade devia ser buscada.[2]
Historicamente o povo de Israel dividiu sua devoção entre dois lugares altos. O Monte Moriá, onde foi construído o Templo de Jerusalém, e o Monte Gerizim, que após a cisão do reino israelita, ocorrida após a morte de Salomão, tornou-se a montanha sagrada dos israelitas do norte, em oposição aos judeus, que fizeram de Jerusalém e do templo de Salomão, o seu lugar sagrado.[3] Essa divisão devocional perdurou por muitos séculos e ainda era um forte elemento de discórdia entre os israelitas nos dias de Jesus, pois enquanto os judeus só aceitavam o Templo de Jerusalém como único lugar de adoração de Jeová, os samaritanos, como então eram conhecidos os descendentes dos rebeldes israelitas do norte, o faziam no Monte Gerizim.[4]

O Monte Hermon

Mas a tradição bíblica consagra a devoção dos israelitas pelos lugares altos muito antes das disputas políticas que destruiram o reino unificado de Israel. Um desses lugares santificado era o Monte Hermon (em hebraico, Har Hermon, que se traduz por "montanha sagrada", também conhecida pelo nome de Djabal el-Sheikh, " a montanha do sheik” ou "montanha nevada". 
O Monte Hermon está localizado na parte sul da fronteira do Líbano com a Síria.Tem 2814 metros de altitude, e o seu pico está sempre coberto de neve, oferecendo um vistoso contraste com as terras ao seu redor, desérticas e sempre expostas ao sol inclemente.
Na encosta sul do Monte Hermon situam-se as Colinas de Golã, área capturada por Israel em 1967, na famosa Guerra dos Seis Dias. Posteriormente, em 1973, na chamada Guerra do Yom Kippur, o Monte Hermon foi palco novamente de encarniçadas batalhas entre Israel e seus vizinhos. Com a vitória israelense esses disputados territórios sagrados, tanto para judeus como para seus vizinhos, foram definitivamente ocupados por Israel e fazem hoje parte do seu território, embora isso jamais tenha sido reconhecido pelos adversários, nem pela ONU, pois este organismo internacional não reconhece a legitimidade de territórios adquiridos pela força. Não obstante, Israel continua ocupando até hoje esses lugares.
A Bíblia, no livro dos Juízes, chama o Monte Hermon de Baal-Hermon, e diz que ali habitava a tribo dos heveus, povo cananeu que aceitou de bom grado a ascensão de Israel, e ao que parece, adotou o culto israelense, pois não foram exterminados comos os demais povos cananeus e até forneceram esposas para os homens de Israel.[5] Assim, a história do povo de Deus está bastante ligada a esse monte sagrado, que fica nas montanhas do Líbano, de onde, segundo a tradição, de “o Senhor derramava a benção” para as terras do sul, onde os israelitas assentariam definitivamente suas tendas e depois fundariam a sua nação. 

O simbolismo do Salmo 133

Na verdade, essa tradição está conectada a um fator geopolítico de fundamental importância para essa região e que, até hoje, fundamenta a encarniçada disputa que se trava entre os povos que nela habitam. É que nessas montanhas nascem os cursos de água que alimentam o principal rio da região, o Jordão, única fonte de abastecimento de água ali existente. É pois, um território de excepcional importância estratégica para todos os países que ali tem seus interesses: Israel, Jordânia, Síria, Líbano e autoridade palestina. 
O Monte Hermon seria o local da benção, de onde o Senhor derramaria o seu “orvalho precioso”, representado pela neve que se derrete e alimenta os cursos de água que fertilizam todo o Vale do Jordão, que na tradição de Israel, é o centro nevrálgico da chamada “Terra Prometida.” 
Justifica-se, portanto, o simbolismo presente no salmo 133, que consagra a tradição da união fraterna. Nesse simbolismo está presente a ideia de que Israel representa a realização prática dessa união, fundada em um pacto sagrado, firmado para uma convivência fraterna entre os Irmãos e na estrita obediência á uma única divindade. Uma verdadeira confraria social e política, que se regia pelos fundamentos que viriam a ser, mais tarde, consagrada por todos os povos livres do mundo: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. 

O orvalho de Hermon


Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes.
É como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre.”

O “orvalho do Hermon” é, portanto, a benção do Senhor, que é derramada sobre todos os povos que seguem a sua lei. Pois a obediência á lei de Deus é a verdadeira argamassa que une os povos em todo o mundo. Sua comparação ao óleo que desce sobre a barba de Aarão é uma preciosa analogia que identifica elementos de grande significado na crença dos israelitas. Primeiro, por que Aarão foi o primeiro sacerdote consagrado por Moisés, e ele representa, para o povo de Israel, o iniciador oficial do culto á Jeová. Por outro lado sabe-se que a barba, entre os antigos povos era um elemento simbólico de magna importância para identificar os eleitos da divindade. Assim, a Barba de Aarão simboliza, na verdade, todo o povo de Israel, que por seu intermédio era abençoado quando o óleo sagrado descia sobre a barba do sacerdote e molhava a orla das suas vestes sacerdotais.
Como se sabe, esse simbolismo tem uma correspondência muito significativa nos ensinamentos da Cabala. De acordo com essa antiga tradição judaica, a barba é o influxo que nasce na primeira Séfora e percorre toda a Árvore da Vida unificando a totalidade das realidades existentes no universo. 
 

A ÁRVORE SEFIRÓTICA

A Árvore Sefirótica, na tradição cabalística, é uma representação simbólica do Cosmo como realidade macro, que na sua manifestação energética, transmite o seu reflexo no homem como realidade micro. Por outro lado, a palavra barba, em hebraico, (Hachad) significa unidade, e por aplicação da técnica da gematria essa soma resulta no número 13. A=1, CH=8, D=4. Esses valores, segundo a numerologia da Cabala, correspondem às partes da barba do Macroprosopo, o Andrógino Superior ou Vasto Semblante, como a Cabala chama essa representação simbólica da energia que Deus manifesta no mundo. Essa manifestação gera o Microprosopo, que é a representação do universo material e do Andrógino Inferior, cuja proporção numérica e geométrica (o homem vitruviano) deu origem ao modelo do homem da terra. Daí o salmo 133 ser considerado um salmo cabalístico.[6]
Nesse sentido, o Monte Hermon seria a “cabeça” geográfica da Irmandade de Israel, de onde o orvalho santificado (óleo) escorre para o todo o corpo (o próprio território e povo de Israel), molhando a orla dos seus vestidos (os povos vizinhos que adotarem o culto israelense, os quais podem ser admitidos na Irmandade). Esse é o sentido da união fraternal contido no salmo 133 e do simbolismo do orvalho do Monte Hermon.[7] 
 

 O HOMEM VITRUVIANO

[1] Mesmo entre os gregos esse arquétipo era cultivado. Os mais famosos templos gregos foram erguidos sobre altas colinas. O mais famoso deles, o templo da deusa Atena, em Atenas, mais conhecido como Partenon, é um exemplo desse simbolismo. Foi construído no ponto mais alto da Acrópole, montanha situada nos arredores da capital grega no século V a. C. Outro exemplo desse simbolismo entre os gregos era a tradição de situar a morada dos deuses no famoso monte Olimpo, a mais alta montanha da Grécia. Essa montanha está situada a cerca de 100 km da cidade de Salônica, na região da Tessália.
[2] Abraão, por exemplo, subiu a uma montanha para sacrificar seu filho Isaque. Elias costumava subir ao Monte Carmelo para fazer suas orações.
[3] Referência á rebelião das dez tribos do norte, chefiada por Jereboão, por ocasião da sucessão de Salomão, que escolheu seu filho Roboão para sucedê-lo. A Bíblia relata esse episódio em Reis 12: 16.
[4] Por isso Jesus diz aos samaritanos: “crê-me que 
a hora vem, em que nem neste monte (Gerizim) nem em Jerusalém adorareis o Pai”. Pois os samaritanos se dirigiam ao Monte Gerizim para adorar a Jeová, enquanto os judeus diziam que isso só podia ser feito em Jerusalém. Na base do Monte Gerizim foi construída a cidade de Samaria, de quem os samaritanos tiraram o nome.
[5] Juízes, 3:3. O nome Baal-Hermon sugere que ali os antigos cananeus mantinham um santuário dedicado ao seu deus Baal, e que essa religião teria sido substituída pelo culto a Jeová.
[6] Macroprosopo, Vasto Semblante, Ancião dos Dias, são expressões simbólicas usadas pela Cabala para designar a Suprema Divindade. Microprosopo é a expressão simbólica para designar o “homem primordial”, que serviu de modelo para a criação do ser humano. Ver, a esse respeito, Knorr Von Rosenroth, Cabala Revelada, Madras, 2011. Na imagem 1, a Árvore Sefirótica, na imagem 2, o Homem Vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci, representando o “homem universal” o microprosopo cabalístico.
[7] Outra prova do significado sagrado do Monte Hermon é o fato de Jesus ter escolhido esse monte para ser transfigurado. O significado simbólico dessa passagem é a de que, sendo o Monte Hermon “a cabeça” de onde a benção do Senhor escorre para Israel, nada estranho que ali fosse o lugar onde ele deveria ser “reconhecido” como o Messias das profecias. Por analogia, o altar do Venerável Mestre na Maçonaria, especialmente no rito Adoniramita, onde esse simbolismo é invocado com mais força, é chamado de Monte Hermon.
João Anatalino


LOJA DE MESA NO RITUAL BRITÂNICO

JBNews

A Loja de Mesa ou Jantar Ritualístico do ritual britânico tem atributos diferentes do Jantar Ritualístico do REAA. O do REAA teve origem em França, nas Lojas Militares, em torno de 1780. Seu ritual foi desenvolvido, em Lojas militares, durante o 1º Império de Napoleão (1804-1814). Daí porque, seu ritual é rico em símbolos militares. Bem ao gosto francês há, nos Jantares Ritualístico do REAA, ornatos inseridos nos sinais, como por exemplo fazer sinais com facas (espadas ou alfanjes) e uso de guardanapos (bandeiras).

A Loja de Mesa no ritual britânico teve origem no século XVI, nos ágapes (boards) realizados após uma sessão maçônica. Herdou influências da realeza britânica após a Revolução Gloriosa (1689)1, com William III2, da casa de Orange-Nassau. Teve sua ritualística desenvolvida após 1717, com marcantes influências hebraicas e celtas. As primeiras regras escritas do Jantar Ritualístico apareceram em 1721, em Londres.

Chama-se Banquete Ritualístico, Jantar Ritualístico ou Loja de Mesa. Banquete é derivado do italiano banchetto que significa “banquinho”, onde os primeiros cristãos sentavam durante ceias comunitárias (ágapes) nas catacumbas. Jantar Ritualístico – jantar do latim vulgar jantare significa comer numa refeição noturna; ritualístico do latim ritualis, -e significa cerimônia.

Até hoje, em todas as sessões na Grã-Bretanha, obrigatoriamente, realizam-se ágapes (boards). Mas, Jantares Ritualísticos (Festive Boards), somente em sessões comemorativas. O Royal Festive Board se realiza dias 24 de junho (fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717, e próximo ao solstício de verão no hemisfério Norte) ou 27 de dezembro (fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1813, e próximo ao solstício de inverno).

No ritual britânico, o banquete ritualístico é feito em loja fechada, isto é, não se abre a loja. Isto ocorre desde 1854, quando a rainha Victoria foi convidada e participou de um Festive Board. Desde então, usa-se o termo Royal Festive Board. Eventualmente, profanos podem participar do Jantar Ritualístico. É tradição, na Grã-Bretanha, a participação da Rainha no Jantar Ritualístico de Londres. Hoje, dia 24 de junho de 2014, dia de São João Batista e evocação do solstício de verão no hemisfério norte, comemorando 297 anos de fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, a rainha Elizabeth II, o Príncipe Consorte Philip, duque de Edimburgo, o Duque de Kent, Príncipe Edward George Nicholas (Grão Mestre Geral da Grande Loja Unida da Inglaterra) e vários membros da casa real britânica participaram de uma Loja de Mesa, em Londres, sessão presidida pelo Duque de Kent. Na verdade, o solstício ocorreu, em 2014, dia 21 de junho às 10:51 h.

A mesa do banquete deve ser disposta em forma de U, com a colocação do Venerável Mestre no Leste (chamada mesa do candelabro de sete braços, não é chamado de Oriente); o 1º Vigilante no Oeste (lado Norte) – chamada mesa do candelabro de cinco braços; o 2º Vigilante no Oeste (lado Sul) – chamada mesa do candelabro de três braços – e, os demais irmãos distribuídos nos braços da mesa, sendo os aprendizes dispostos no lado central dos braços. O Oeste não é chamado de Ocidente.

Existe uma homenagem ao último aprendiz iniciado, o único que no Ritual de Emulação tem levantada a abeta de seu avental. Este aprendiz senta-se à mesa do candelabro de sete braços, ao lado das autoridades presentes.

Nos banquetes ritualísticos maçônicos, come-se carneiros, chamados em hebraico de Korban (significa “sacrifício “ – ן ר ק) termo que se encontra na Torá e significa um sacrifício de um animal ofertado a YHWH. O significado de se comer cordeiro é um sacrifício simbólico ofertado ao GADU. Come-se pão ázimo ou matzá ( ) um pão assado sem fermento, feito somente de farinha de trigo e água. De acordo com a tradição hebraica, o pão ázimo foi feito pelos hebreus antes da fuga do Antigo Egito, porque não houve tempo para esperar até a massa fermentar (Êxodo 12: 39). O significado simbólico é: assim como a massa sem levedura não sofre um efeito corruptor, ao preparar a levedura de nosso corpo (1 Coríntios 5: 8), também demonstra-se o desejo de pureza, quando se deseja comemorar a liberdade em relação à escravidão. Na maçonaria, portanto, comer pão ázimo significa a liberdade dos vícios, ou “cavar masmorras ao vício e erguer templos à virtude”. Bebe-se vinho – yayin (יין ) que significa uma simbólica santificação – Kiddush ou Kadosh – קדוש – significa “sagrado” ou “santificado”. Aos que não podem beber, oferece-se, hoje, suco de uva. Há várias justificativas bíblicas para se beber vinho. A primeira, em Juízes 9: 13: “… meu vinho, que alegra a Deus e aos homens…”. Também no Salmo 104: 15: “…o vinho, que alegra o coração do homem…”.

Nas cerimônias judaicas, usa-se o Shofar ( ), um chifre tradicionalmente de carneiro que era utilizado como instrumento musical nos tempos da construção do Templo de Salomão. O shofar é considerado sagrado, quase como uma voz celestial. Estes sons característicos do shofar, que nas cerimônias hebraicas ecoa por 3 vezes (shefarim ou sh’varim) como 3 soluços, significa o chamamento à ordem sobre as necessidades da alma. Geraram, na maçonaria, as batidas dos malhetes nos pedestais (ou nos altares) e em outros ritos, nas diversas baterias dos graus. Na maçonaria, usam-se malhetes que é o chamamento à ordem e à atenção.

O candelabro de sete braços, na mesa do Venerável Mestre, é, na tradição hebraica, a menorá (מְנוֹרָה – מנורת שבעה קנים ) um dos símbolos do antigo Templo de Jerusalém. A Menorá representa a divindade e, para os maçons, a Sabedoria. Por isso na mesa do V.M..

O 1º Vigilante senta à mesa do candelabro de cinco braços. A menorá de cinco braços, chamada Menorot (תטןנםמ – נברשת חמש זרוע ), representa a criação do mundo em 5 etapas. Diz a lenda hebraica que Deus ficou tão encantado com a criação, que achou falta de alguém para louvá-Lo. Criou o Homem na 6º etapa e descansou na 7º etapa. A Menorot simboliza o espírito e, para os maçons, a Força (espiritual).

O 2º Vigilante senta à mesa do candelabro de três braços. O candelabro de três braços chama-se Tzerin (עטץצ – נברשת עם שלוש זרועות ) e representa a criação do mundo por Deus que o constituiu em três reinos: vegetal, mineral e animal. Simboliza a matéria e, para os maçons, a Beleza, a natureza.

Quem administra o cerimonial, no Jantar Ritualístico, é o Diretor de Cerimônias, comandando por um bastão, a vara de ofício. O bastão representa os cajados dos hebreus, usados na fuga do Egito. O Diretor de Cerimônias lembra a administração do comando dos retirantes do Egito. No ritual britânico, o V.M. faz, apenas, um brinde, dividido em quatro etapas. Isto, também, tem origem hebraica. Os quatro brindes representam as quatro expressões de libertação prometidas por Deus, em Exodus, 6: 6-7. Os quatro brindes do Sêder de Páscoa (סֵדֶר ), o Jantar da Páscoa Judaica, representando as quatro vezes que os hebreus foram escravos: 1º – “tirei da escravidão”, uma redenção, quando os hebreus fugiram do Egito; 2º – “salvei dos impostos e autoritarismos do governo”, quando os hebreus se libertaram do domínio da Babilônia; 3º – “redenção com punho forte”, quando os hebreus se libertaram das autoridades gregas; e 4º – “resgatarei”: Deus pegou o povo hebreu como seu povo e lhe deu a Torá. O Mestre da Loja levantará um só brinde, dividido em quatro etapas. Os quatro brindes serão em homenagem: 1. aos chefes executivos federais (chefe de Estado Brasileiro — não se brinda o chefe de governo —, e chefe do Estado Maçônico, o Grão Mestre Geral do GOB) — no Brasil os chefes de Estado e chefes de governo são as mesmas pessoas; 2. aos chefes executivos estaduais (chefe do estado — Governador do Estado, Grão Mestre do GOB-SC e Grão Mestre de Obediências regulares, se presentes); 3. às autoridades maçônicas (Grão Mestre Adjunto, Secretários, Veneráveis Mestres e autoridades presentes de outras Obediências regulares); 4. aos maçons.

Dos celtas, a Maçonaria adotou a recomendação de se realizar o jantar ritualístico no solstício de verão (em junho, no hemisfério norte), o dia mais longo do ano, por ser o dia de maior Luz, maior Sabedoria. Isto é um costume celta muito antigo que se comemora, até hoje, em Stonehenge4.

Por fim: o objetivo do Jantar Ritualístico é a confraternização, isto é, reunirmos em confraternidade, comungarmos nossos estados de espírito, darmos demonstrações conviviais de ser fraternos. Então (cf. regras de 1721): “comamos e bebamos e façamos votos de que nos tornaremos melhores amigos.”


http://www.banquetemaconico.com.br/2014/loja-de-mesa-no-ritual-britanico/

sexta-feira, 10 de julho de 2015


O ESQUADRO
(Revista Fenix News)



O Esquadro é a materialização da terceira letra do alfabeto grego. Como, pelo menos, três pontos são necessários para criar a figura geométrica simples, 3 tornou-se o símbolo do início de qualquer construção, e, por conseguinte, da iniciação. Para o iniciado se trata, em primeiro lugar, da construção de seu templo interior.

O aprendiz não tem a capacidade de iniciar sua vida com o número 1, já que ele, menos do que qualquer outro obreiro, poderia se aproximar da percepção do todo. Isto não se permite sequer a qualquer outro ser humano.

O número 2, aquele que representa a dualidade e o equilíbrio dos opostos, também está fora do alcance dos aprendizes numa aproximação com o sagrado. Seu conhecimento único, em princípio, é o número 2 do mundo profano, reflexo como muito e segundo os casos: da diversidade, enfrentamento e maniqueísmo.

Se lhe confia o número 3 e com este as primeiras noções de esoterismo e exoterismo que não funcionam sobre os mesmos modelos. Um novo mundo se abre à sua sagacidade, universo que poderá levar-lhe muito longe.

O Esquadro é a ferramenta simbólica de primeiro grau, imagem da combinação da vertical e horizontal, contém tudo o que é conhecido (4 esquadros combinados) e ninguém pode escapar dessa avaliação: a suástica, inscrita ou não em um círculo, é a medida do mundo em sua totalidade desde tempos imemoriais.

O esquadro tem, sem dúvida, uma origem tão antiga quanto a corda de 12 nós de origem egípcia. É necessário para a verificação dos volumes pequenos, à medida que os trabalhos vão requerendo ajustes e precisão (o esquadro de braços desiguais em uma relação 3, 4 e 5, são a perfeita redução da corda de 12 nós que permite verificar o ângulo reto).

Portanto, se trata disso: ajuste e precisão. Muitos preferem estes substantivos em vez de se referir à "retidão" que tem um sentido rígido e rigorosamente imutável, pouco operativo quando falamos do ser humano, pois sabemos que as leis são imperfeitas, os costumes variáveis e evolução das normas se leva a cabo com muita “regularidade”.

Por outro lado, não sendo a perfeição algo deste mundo, referir-se a retidão tem por consequência imediata a garantida de um fracasso programado. Isto jamais pode ser bom para ser que que investiga, mas que tem dúvida, se equivoca e tem que avaliar toda a necessidade de confiança em si mesmo para voltar a abordar sua obra.

Aqui reside a dificuldade da ortodoxia: deve estar a serviço do ser humano, como um farol que esclarece e informa um desvio ou ser braço armado que resolve à distância sem nenhum discernimento? pelas distâncias braço armado sem discernimento?

O Esquadro decora o colar do venerável mestre, o que parece indicar que sua principal preocupação é o respeito à lei, aos regulamentos gerais, aos rituais e aos landmarks. No entanto, em algumas ocasiões ele enfrenta o dilema de usar da espada e do coração para resolver um problema. Na verdade, aqueles com alguma experiência sabem que em certos casos manter e respeitar a lei nem sempre é um reflexo de um compromisso moral, e menos ainda do espírito da iniciação. 

Enquanto a vida de um aprendiz começa com o número 3, esta não se desenvolve naturalmente com o triângulo de Pitágoras. Neste caso é obrigatório marcar os ângulos. O aprendiz leva algum tempo para entender as leis de construção que fazem o suporte em ângulo reto verificado pelo esquadro em um ajuste universal simples, mas sólido

Quando as pedras sustentam umas nas outras com ajuste e precisão, a construção oferece uma estabilidade que supera os séculos e os movimentos das terras. Ela também permite trabalhar com arriscados devaneios estéticos como as abóbadas romanas, vertiginosos cruzeiros de ogivas ou naves (de igreja) gigantescas. É esta consciência profissional e essa grande demanda que, sem dúvida, salvou a Torre de Pisa, exemplo universal de uma linha de comando rigoroso que pode conter alguns erros sem, no entanto, sofrer danos irreversíveis.

No plano individual e profano, a transposição permite-nos compreender que todo ato deve ou devem ser concebidos e verificados de acordo com os preceitos do esquadro e resumir-se nestes: Qual é a consistência do que eu faço aqui e agora?

Embora nosso Esquadro seja uma construção pessoal, onde cada um faz a seleção das regras a serem respeitadas, às vezes com certas omissões ou aproximações, é desejável que este se pareça mais com o esquadro de ajuste do que com um falso esquadro, que e aquele que podemos manipular dando-lhe a forma que queremos.

Desde o princípio de nossa existência formamos parte de um tecido de relações e interpelações cruzadas que se sobrepõe uma as outras e por momentos nos deixam pouco tempo para respirar ao final do dia. Cada qual tem seus próprios exemplos. Todos trabalhamos no mundo profano, todos estamos em movimento, comprometidos em projetos de vida pessoal, com filhos, pais, imposições e limitações de todo tipo, enfim, a vida.

Por que não recuperar e usar a nosso esquadro de vez em quando para verificar se tudo isso está sendo feito e se realiza e se vive de acordo com as regras da arte adequadas a cada situação? As relações com meus filhos são satisfatórias? Meus encontros com tal ou qual vizinho, companheiro de trabalho, conversas com um superior hierárquico são boas? A carreira profissional que escolhi se enquadra numa perspectiva resultante dos meus desejos ou aspirações? Esta ou aquela compra, investimento, emprego, assistência social, viagem, etc., corresponde à própria lógica ajustada do esquadro, esse juiz independente?

A pergunta é simples: nossa vida em geral é apropriada ou alguns aspectos devem ser melhorados? O esquadro nos foi confiado para que possamos saber sobre isso.

Essa ferramenta nos devolve ao ângulo reto, nos convida a coerência. Em sua origem qual foi o ângulo reto íntimo que às vezes nos faz recordar dos nossos sonhos infantis, dos nossos projetos de vida, de nossas aspirações mais profundas?

O uso regular do esquadro lança luz sobre nossas distorções e nos permite retomar as coisas antes que se agravem. Felizmente, nunca é tarde demais em matéria de evolução pessoal, se encontrarmos a vontade para buscar o acordo e afastarmos as contradições que nos são prejudiciais.

Deste modo, o esquadro, testemunha maniqueísta de nossa vida, pode ser o juiz imparcial, o árbitro, o fato fixo e objetivo. Todas estas razões fundamentam a simbologia da Loja Azul, da oficina de primeiro grau do Aprendiz.

O primeiro estágio adota a forma da determinação de nosso ângulo reto de referência, ou seja, nosso plano de vida. Para isso existe um método universal: O “conhece-te a ti mesmo”, que foi enunciado faz mais de 2.500 anos e que cada maçom por conta de seu ofício tem ouvido pelo menos uma vez na vida. Quais são as nossas qualidades, defeitos, talentos, limites? O que fazemos na Terra? O que buscamos? Medimos nossas forças? Que metas pessoais, familiares, profissionais, coletivas, maçônicas, cultural, etc., nos propusemos atingir?

A segunda fase parece ser a do domínio, pelo menos em parte do tempo. O Iniciado tem visto profusamente a ampulheta ou relógio de areia a marcar o tempo num momento de solidão, num reencontro com o próprio tempo. O Iniciado deve se converter em um relojoeiro cronometrando o seu próprio tempo.



O relógio de areia, ou seja, a ampulheta, não entra na armadura do maçom. Talvez apenas o arquiteto se torna consciente de que, uma vez que tem a obrigação de construir, não tem diante de si um tempo indefinido. Ele sabe que quanto mais dura a construção, mais custará a comunidade; que quanto mais lenta, mais tardará em prestar o serviço que se espera dele. Mesmo sabendo o arquiteto o tempo da construção e da transmissão, sabe que necessita passar a seu sucessor um canteiro ordenado e o mais avançado possível, já que tem visto muitas obras inacabadas que jamais foram recuperadas e terminadas.

O Maçom de hoje em dia sabe que quanto mais tempo e menos entusiasmo tiver para investir em retificar sua pedra maiores serão os riscos de abandonar o trabalho e inclusive da obra se desintegrar.

O tempo foi definido, mas o aluno ignora qual é sua duração. Além disso, a consciência que corresponde ao momento da sua aceitação na maçonaria deveria ser aquela em que transitou no início da caminhada. Então você não deve perder nenhum minuto para transformar o tempo restante em longos períodos de equilíbrio e serenidade

A meditação é necessária a quem quer ver se a estrela ainda é visível e verificar onde lhe conduz a perspectiva. Vai experimentar a gravidade, que leva para as mentes mais ousadas ao nível do terreno materialista? Se unirá às gerações partidárias do ter, mais do que do ser? Geometria não é parte da sua educação primaria? O gênio na maçonaria nada mais é do que sinônimo de trabalho ilustrado, da gnose, o estudo esotérico sério e perseverante do simbolismo. Você os deixará para os outros?

Geometria, não é parte de sua educação primária? O gênio na Maçonaria, que nada mais é do que um sinônimo de trabalho ilustrado e da Gnose, o estudo esotérico sério e perseverante dos símbolos será deixado para os outros?

Mesmo que se oponha a este tempo cronófago[1], no qual deveríamos estar permanentemente disponíveis para o mundo, devemos nos convencer da necessidade de pedir o tempo para que suspenda seu voo, já que para fazermos pesquisa é necessitamos parar, observar e ter um mínimo de coragem é necessário para interromper um momento desse voo inexorável e escolher a confrontação consigo mesmo. Mas para isso é preciso a clarividência.

Não há alternativa. Não busquemos desculpas, não há outra forma, outra maneira. A programação e a preservação de momentos de isolamento, donde estamos sós, frente a nós mesmos, onde possamos, sem pressa ou pressão para avaliar, medir nossas ações é absolutamente fundamental para o maçom, ao ser humano que quer progredir, ao que quer acender a uma regeneração; não falamos daqueles que enxergam como o tempo lhes escapa do controle, pois onde poderiam ir sem uma bússola?

A vida só é interessante se tem sentido, se desenvolveu na direção certa, e usar o esquadro frequentemente é essencial verificar isso. É muito útil reservar-se tempos de folga, não para nos deixarmos conduzir pelo ócio, mas para encontrarmos com nós mesmos e reaprender o gosto pelo essencial.

O esquadro contém uma noção de precisão, exatidão. Tomar consciência da utilidade de carregar conosco o esquadro enquanto esperamos integrar completamente esse costume, poderemos ir materializando pequenas decisões tais como: deixar de chegar atrasado em um encontro quando estão esperando por nós; praticar um ato de solidariedade; pagar algum imposto ou cotização, ser exato com sua consciência e descobrir o respeito ao outro de forma individual ou coletiva. Querer ser correto conduz necessariamente a antecipação, a previsão, a retomar progressivamente avida em nossas mãos e manter uma boa parte das incertezas à distância.

Com base nesta noção de precisão, exatidão, continuamos nossa evolução que leva progressivamente à noção de justiça. Nossas ações podem, sem dúvidas, serem justas e no que tem de subjetivo, aperfeiçoar-se no dia a dia, ou seja, acercarmo-nos do próprio ideal gravado no mármore dos Grandes Princípios.

Enquanto perfeição está além daquilo que pode ser abordado, nossas ações sem dúvida pode se aproximar da Justiça, pois tem menos subjetiva, dia perfeito, que está mais perto de seu próprio ideal ou gravados no mármore dos grandes princípios.

Mais uma vez, a ferramenta nos falará sobre o progresso alcançado, uma vez que as mesmas situações são constantemente repetidas, mas tratemos de ignorá-lo e creamos que não nos inquietam as verdadeiras razões. O Esquadro pode, também, como se fosse uma varinha mágica, fazer desaparecer uma série de fontes de discrição recorrentes que prejudicam nossa harmonia vital, para poder recuperá-la.

O esquadro é, afinal de contas nossa consciência, e não devemos jamais entende-lo como fator que nos acusa. Em lugar de mantê-lo em um canto escuro, deixemos que apareça em plena luz, dando-lhe um papel importante, já que se é bem compreendido se revelará uma ferramenta benevolente, eminentemente útil e esclarecedora sobre nossa construção e progresso no caminho.

Deixá-la aparecer em plena luz do dia, dando-lhe um papel importante, porque se for bem compreendido que irá revelar-se como uma ferramenta benevolente, eminentemente útil e esclarecedor para nossa construção e progressão na estrada.

No nível coletivo, e em particular no da Loja, se o esquadro aponta algum mal funcionamento – como não poderia ser de outra maneira em um espaço antes de tudo humano - longe de nós a ideia de denunciá-lo com força e vigor. Isso seria uma atitude profana. A maestria nos ensina a serenidade, a reflexão, a análise nos orienta a compreensão, a relatividade nos ensina a moderação e a superação convida-nos a questionar as suscetibilidades e a olhar mais além.

O esquadro é uma ferramenta sem concessões, portanto devemos utilizá-lo com circunspecção. Cada qual em nossa volta está sujeito a suas imperfeiçoes, portanto, devemos verificar quem necessita de ajuda e mostrar-lhes o esquadro estendendo-lhes as mãos com fraternidade.

O Aprendiz recebe um esquadro para verificar o tamanho de sua pedra. Aprende de imediato a necessidade de evoluir. Utiliza a ferramenta com mais frequência do que imagina: quando caminha, quando percorre o templo, quando faz a saudação, quando contempla o colar do venerável mestre, o altar, a disposição das luzes em torno do pavimento mosaico e os lugares dos vigilantes e do venerável no REEA, só para citar alguns exemplos.

Aqui estão maneiras de gravar em sua mente que o progresso está feito, mas da ordem do que do caos e que só a retidão moral e respeito podem permitir-lhe construía sua vida de forma resoluta, descartando ambientes que lhe colocam em perigo constantemente e de forma aleatória.

Estamos no 1º grau, na primeira etapa.






[1] Cronofagia – contradição do tempo e espaço. Comedor do tempo.

quinta-feira, 9 de julho de 2015



OS SOLSTICIOS NA MAÇONARIA

 E AS LOJAS DE SÃO JOÃO

Revista Fenix News
29 Jun 2015

As culturas antigas tinham particular respeito e dedicação a astronomia e de maneira especial ao Sol, a cujo estudo e oferenda dedicaram grande quantidade de seus templos. Por isso, eles receberam atenção especial para os solstícios, uma vez que é precisamente a época do ano quando o sol atinge o seu ponto mais distante balanço entre o Sul e o Norte, em junho (Câncer) e dezembro (Capricórnio); ou seja, no momento em que o Astro Rei tem sua declinação sul máxima (sul) ou norte (norte), fingindo parar (daí a palavra latina Sol - Stitium) para iniciar o pêndulo caminho de volta para a outra extremidade.

Desde as épocas mais remotas e praticamente em todas as civilizações se tem festejado as datas em que os solstícios ocorrem: em Roma, se dedicava ao deus Janus, representando o Sol, que presidia o início, iniciações (Latin Initium, INITIARE) e em particular a entrada do Sol nos dois hemisférios celestes.

O mito de Janus aparece nas tradições gnósticas e iniciáticas da mais remota antiguidade, definindo-se como um dos principais símbolos da Ciência Sagrada. Para entender o significado da adoção desse mito na Maçonaria, devemos nos lembrar que é em torno do sol (do mito solar), modelo de escala da grande dinâmica do Logos no universo, que gira a estrutura simbólica integral da maçonaria.

Quanto à recorrência da tradição juanítica primitiva com o esoterismo cristão, cabe assinalar que há uma estreita relação, manifestada em muitos trechos das escrituras, na qual se inclui Jesus, nascido no solstício de inverno e João Batista nascido no solstício de verão, relacionamento dissolvido por razões teológicas muitos séculos após o início da era cristã, transpondo esta relação entre Jesus e João Batista a João Evangelista.

O Cristianismo, conhecido receptáculo das doutrinas anteriores a ele, adaptou a tradição juanítica primitiva e a assimilou a mitologia Crística, ocupando um lugar importante e preponderante para anular as festas “do burro”, no verão, e das “saturnálias” no inverno, trocando-as pelas festas de “São João Batista” e São João Evangelista”, respectivamente. Na Idade Média, então, o São João dos cristãos foi adotado como “santo patrono” dos Collegia Fabrorum de artesãos e logo depois, dos construtores, maçons operativos, de onde passou a maçonaria especulativa desde seu surgimento no início do século XVIII.

Desde então e até hoje, a Maçonaria assimilou Janus na sua estrutura simbólica e celebra em sua honra as festas solsticiais que marcam alguns de seus cerimoniais. Aqui, em tempo, surge uma indagação: por que dizem os maçons pertencer a uma Loja de São João?

Do ponto de vista histórico, segundo uma acreditada versão a que faz referência vários autores maçons, a utilização material do termo “Loja de São João” dentro da maçonaria, remonta ao tempo das Cruzadas, quando alguns cavaleiros maçons se uniram a seus similares da Ordem de São João de Jerusalém, melhor conhecidos como Templários, e em um gesto de solidariedade, aceitaram os princípios destes últimos. Conta-se que daí em diante todas as Lojas Maçônicas passaram a se chamar “Lojas de São João”

Apesar desta explicação, que poderia ser satisfatória e suficiente aos olhos dos profanos, deixa aos praticantes da Arte Real uma lacuna, que precisa ser preenchida para regar algumas gotas do vasto manancial da ciência sagrada tradicional. Aqui, alguns estão alguns resultados:

- O nome JANUS ou JANO tem uma semelhança muito grande com a de João e não é por acaso que foi colocado pela tradição judaico-cristã em sua substituição.

- Filologicamente o nome JUAN, Johan hebraico, em grego Joanes, em persa Jehan em Salio Janes, francês Jean, John Inglês, alemão Johann, é a voz radical semítica JAN. Também tem uma estreita relação com o deus hindu GANESHA, o “senhor das duas vias” (ou da dualidade).

- Agora, se tomarmos o nome hebraico JEHOHANNAN, a tradução literal é "gracioso ou favorecido por Deus", ou seja, iluminado, iniciado. Portanto, o fato de se reconhecer como irmão um discípulo de João dentro de nossa organização é o mais correto, dado nosso caráter iniciático e tendente ao aperfeiçoamento.

JANO e o tempo:

Por outro lado, a partir de um aspecto temporal, a imagem de Janus é geralmente interpretada como um símbolo do passado (o perfil de um velho) e do futuro (o perfil de um jovem). A interpretação correta, embora incompleta, já que desde o passado que deixa de existir e o futuro que ainda não chegou, ´há uma terceira via que é o rosto invisível de Janus, olhando para essa condição e demonstrando que a manifestação temporária é apenas um “tempo inatingível”. No entanto, a manifestação transcendente do espaço-tempo é eterna, contendo toda a realidade. Esta terceira face reflete na tradição hindu o terceiro olho de Shiva, também invisível e simbólica do “senso de eternidade”, cujos olhos, por um lado reduz tudo a cinzas, destruindo tudo o que disse, mas por outro lado, quando

Além disso, a partir de um aspecto temporal, a imagem de Janus é geralmente interpretada como um símbolo do passado (o perfil de um velho) e futuro (o perfil de um jovem). A interpretação correta, embora incompleto, já que desde o passado que não é mais e o futuro ainda não existe, é uma terceira e verdadeiro rosto de Janus, invisível, olhando para isso, que a manifestação temporária é apenas um tempo inatingível. No entanto, a manifestação transcendente do espaço-tempo é eterna, contendo toda a realidade. Este terceiro rosto corresponde na tradição hindu ao terceiro olho de Shiva, também invisível e simbólico do "senso de eternidade", cujos olhar reduz tudo a cinzas, destruindo o manifestado, mas por outro lado, quando a sucessão (linha) se torna a simultaneidade (círculo), vê todas as coisas que habitam no "eterno presente".

Assim, Janus, como Shiva, é "Senhor do triplo tempo", enquanto "Senhor da Eternidade".

Entretanto, e neste sentido, a partir do ponto de vista esoterismo cristão, O Cristo domina o passado e do futuro; co-eterno com seu Pai, é como ele, "o antigo dos dias" ("in principium erat Verbum", como disse São João, com o que JANO se associa simbolicamente a Palavra Eterna) e, ao mesmo tempo que vive e reina no futuro "pelos séculos” (ciclos) há a recorrência do eterno retorno. Mas deve ser notado que o "Senhor do Tempo", obviamente, não pode se sujeitar ao tempo, assim como dizia Aristóteles, o princípio do movimento universal é necessariamente imóvel.

Etimologicamente, a palavra Juan se relaciona com o vocábulo latino JANUA, em castelhano "porta”, do que por sua vez deriva da palavra JANUÁRIUS ou janeiro, começo. Neste contexto, é interessante ressaltar o significado da palavra “porta” também existente na letra grega “DELTA”, que tem a forma de um triângulo e era usado pelos antigos simbolizando a porta de acesso aos templos iniciáticos.

JANO é o representante do ideal iniciático. Simboliza o mesmo que o “delta grego”, ou seja, a porta de entrada à verdadeira iniciação e indica perfeitamente que na Maçonaria temos e tomamos como Pedra Fundamental nossos antigos usos e costumes através dos quais desenvolvemos nossas atividades; porém, ao invés de ficarmos presos no passado devemos e temos a obrigação de utilizar essa porta com um olhar no futuro para sermos cada vez melhores e beneficiarmos nossas famílias, nossa comunidade, nossa nação e o mundo.

Portanto, a expressão "Loja de São João” – Loja do Sol, da Luz criadora – torna-se o apelido de todas as associações de iniciados, ou seja, seres humanos que cruzam o caminho para a autotranscedência através da iniciação, termo que aplicado em seu sentido mais amplo serve para designar a todos os que tem sido admitidos nos mistérios iniciáticos e mais perfeitamente, segundo o próprio Mestre, aplicado “aos verdadeiros irmãos de São João: aos mestres da sabedoria que constituem a Grande Loja Branca, a mais justa e perfeita Loja de São João na qual devemos buscar a inspiração e a origem profunda e verdadeira de nossa ordem”.