OS SOLSTICIOS NA MAÇONARIA
E AS LOJAS DE SÃO JOÃO
Revista Fenix News29 Jun 2015
As culturas antigas tinham particular respeito e dedicação a astronomia e de maneira especial ao Sol, a cujo estudo e oferenda dedicaram grande quantidade de seus templos. Por isso, eles receberam atenção especial para os solstícios, uma vez que é precisamente a época do ano quando o sol atinge o seu ponto mais distante balanço entre o Sul e o Norte, em junho (Câncer) e dezembro (Capricórnio); ou seja, no momento em que o Astro Rei tem sua declinação sul máxima (sul) ou norte (norte), fingindo parar (daí a palavra latina Sol - Stitium) para iniciar o pêndulo caminho de volta para a outra extremidade.
Desde as épocas mais remotas e praticamente em todas as civilizações se tem festejado as datas em que os solstícios ocorrem: em Roma, se dedicava ao deus Janus, representando o Sol, que presidia o início, iniciações (Latin Initium, INITIARE) e em particular a entrada do Sol nos dois hemisférios celestes.
O mito de Janus aparece nas tradições gnósticas e iniciáticas da mais remota antiguidade, definindo-se como um dos principais símbolos da Ciência Sagrada. Para entender o significado da adoção desse mito na Maçonaria, devemos nos lembrar que é em torno do sol (do mito solar), modelo de escala da grande dinâmica do Logos no universo, que gira a estrutura simbólica integral da maçonaria.
Quanto à recorrência da tradição juanítica primitiva com o esoterismo cristão, cabe assinalar que há uma estreita relação, manifestada em muitos trechos das escrituras, na qual se inclui Jesus, nascido no solstício de inverno e João Batista nascido no solstício de verão, relacionamento dissolvido por razões teológicas muitos séculos após o início da era cristã, transpondo esta relação entre Jesus e João Batista a João Evangelista.
O Cristianismo, conhecido receptáculo das doutrinas anteriores a ele, adaptou a tradição juanítica primitiva e a assimilou a mitologia Crística, ocupando um lugar importante e preponderante para anular as festas “do burro”, no verão, e das “saturnálias” no inverno, trocando-as pelas festas de “São João Batista” e São João Evangelista”, respectivamente. Na Idade Média, então, o São João dos cristãos foi adotado como “santo patrono” dos Collegia Fabrorum de artesãos e logo depois, dos construtores, maçons operativos, de onde passou a maçonaria especulativa desde seu surgimento no início do século XVIII.
Desde então e até hoje, a Maçonaria assimilou Janus na sua estrutura simbólica e celebra em sua honra as festas solsticiais que marcam alguns de seus cerimoniais. Aqui, em tempo, surge uma indagação: por que dizem os maçons pertencer a uma Loja de São João?
Do ponto de vista histórico, segundo uma acreditada versão a que faz referência vários autores maçons, a utilização material do termo “Loja de São João” dentro da maçonaria, remonta ao tempo das Cruzadas, quando alguns cavaleiros maçons se uniram a seus similares da Ordem de São João de Jerusalém, melhor conhecidos como Templários, e em um gesto de solidariedade, aceitaram os princípios destes últimos. Conta-se que daí em diante todas as Lojas Maçônicas passaram a se chamar “Lojas de São João”
Apesar desta explicação, que poderia ser satisfatória e suficiente aos olhos dos profanos, deixa aos praticantes da Arte Real uma lacuna, que precisa ser preenchida para regar algumas gotas do vasto manancial da ciência sagrada tradicional. Aqui, alguns estão alguns resultados:
- O nome JANUS ou JANO tem uma semelhança muito grande com a de João e não é por acaso que foi colocado pela tradição judaico-cristã em sua substituição.
- Filologicamente o nome JUAN, Johan hebraico, em grego Joanes, em persa Jehan em Salio Janes, francês Jean, John Inglês, alemão Johann, é a voz radical semítica JAN. Também tem uma estreita relação com o deus hindu GANESHA, o “senhor das duas vias” (ou da dualidade).
- Agora, se tomarmos o nome hebraico JEHOHANNAN, a tradução literal é "gracioso ou favorecido por Deus", ou seja, iluminado, iniciado. Portanto, o fato de se reconhecer como irmão um discípulo de João dentro de nossa organização é o mais correto, dado nosso caráter iniciático e tendente ao aperfeiçoamento.
JANO e o tempo:
Por outro lado, a partir de um aspecto temporal, a imagem de Janus é geralmente interpretada como um símbolo do passado (o perfil de um velho) e do futuro (o perfil de um jovem). A interpretação correta, embora incompleta, já que desde o passado que deixa de existir e o futuro que ainda não chegou, ´há uma terceira via que é o rosto invisível de Janus, olhando para essa condição e demonstrando que a manifestação temporária é apenas um “tempo inatingível”. No entanto, a manifestação transcendente do espaço-tempo é eterna, contendo toda a realidade. Esta terceira face reflete na tradição hindu o terceiro olho de Shiva, também invisível e simbólica do “senso de eternidade”, cujos olhos, por um lado reduz tudo a cinzas, destruindo tudo o que disse, mas por outro lado, quando
Além disso, a partir de um aspecto temporal, a imagem de Janus é geralmente interpretada como um símbolo do passado (o perfil de um velho) e futuro (o perfil de um jovem). A interpretação correta, embora incompleto, já que desde o passado que não é mais e o futuro ainda não existe, é uma terceira e verdadeiro rosto de Janus, invisível, olhando para isso, que a manifestação temporária é apenas um tempo inatingível. No entanto, a manifestação transcendente do espaço-tempo é eterna, contendo toda a realidade. Este terceiro rosto corresponde na tradição hindu ao terceiro olho de Shiva, também invisível e simbólico do "senso de eternidade", cujos olhar reduz tudo a cinzas, destruindo o manifestado, mas por outro lado, quando a sucessão (linha) se torna a simultaneidade (círculo), vê todas as coisas que habitam no "eterno presente".
Assim, Janus, como Shiva, é "Senhor do triplo tempo", enquanto "Senhor da Eternidade".
Entretanto, e neste sentido, a partir do ponto de vista esoterismo cristão, O Cristo domina o passado e do futuro; co-eterno com seu Pai, é como ele, "o antigo dos dias" ("in principium erat Verbum", como disse São João, com o que JANO se associa simbolicamente a Palavra Eterna) e, ao mesmo tempo que vive e reina no futuro "pelos séculos” (ciclos) há a recorrência do eterno retorno. Mas deve ser notado que o "Senhor do Tempo", obviamente, não pode se sujeitar ao tempo, assim como dizia Aristóteles, o princípio do movimento universal é necessariamente imóvel.
Etimologicamente, a palavra Juan se relaciona com o vocábulo latino JANUA, em castelhano "porta”, do que por sua vez deriva da palavra JANUÁRIUS ou janeiro, começo. Neste contexto, é interessante ressaltar o significado da palavra “porta” também existente na letra grega “DELTA”, que tem a forma de um triângulo e era usado pelos antigos simbolizando a porta de acesso aos templos iniciáticos.
JANO é o representante do ideal iniciático. Simboliza o mesmo que o “delta grego”, ou seja, a porta de entrada à verdadeira iniciação e indica perfeitamente que na Maçonaria temos e tomamos como Pedra Fundamental nossos antigos usos e costumes através dos quais desenvolvemos nossas atividades; porém, ao invés de ficarmos presos no passado devemos e temos a obrigação de utilizar essa porta com um olhar no futuro para sermos cada vez melhores e beneficiarmos nossas famílias, nossa comunidade, nossa nação e o mundo.
Portanto, a expressão "Loja de São João” – Loja do Sol, da Luz criadora – torna-se o apelido de todas as associações de iniciados, ou seja, seres humanos que cruzam o caminho para a autotranscedência através da iniciação, termo que aplicado em seu sentido mais amplo serve para designar a todos os que tem sido admitidos nos mistérios iniciáticos e mais perfeitamente, segundo o próprio Mestre, aplicado “aos verdadeiros irmãos de São João: aos mestres da sabedoria que constituem a Grande Loja Branca, a mais justa e perfeita Loja de São João na qual devemos buscar a inspiração e a origem profunda e verdadeira de nossa ordem”.
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