segunda-feira, 3 de agosto de 2015


MAÇONARIA- A CADEIA DA UNIÃO

Autor: João Anatalino

" As pessoas formam famílias, tribos, sociedades, nações. Todas essas entidades, - das moléculas dos seres humanos e destes aos sistemas sociais ─ podem ser considerados "todos" no sentido de serem estruturas integradas e também "partes" de "todos" maiores, em níveis superiores de complexidade. De fato, veremos que "partes" e "todos", num sentido absoluto, não existem."
Fritjof Capra


Para desenhar a composição estrutural do cosmo, o Grande Arquiteto do Universo se vale de duas estratégias fundamentais: a pluralidade e singularidade. Isso significa que tudo, no mundo, tem uma estrutura singular e coletiva ao mesmo tempo, sendo que uma depende da outra para existir. Dessa forma, indivíduo e sociedade se completam, e o que acontece com um repercute na outra, o que nos torna todos responsáveis pelo que acontece no mundo. 
  
Segundo alguns estudiosos[1] o universo em que vivemos se manifesta aos nossos olhos sob três faces: pluralidade, unidade e energia. Sob um rosto multiforme e variado, ele é um organismo que esconde uma indissolúvel unidade, mantido pela energia contida no núcleo de cada um dos seus elementos. Essa energia é a informação inicial que neles se hospeda, e os faz procurar, no ambiente em que se manifestam, os elementos que necessitam para realizar a necessária complementaridade.

A atomização é o processo pelo qual os constituintes básicos da matéria universal se dividem, se qualificam e depois se reúnem novamente, formatando as realidades do mundo real. E em cada átomo da matéria decomposta, reflete glorioso, esse indefinível sentido de unidade, que se manifesta, pela manutenção, em todas as partes pelas quais ela se multiplica, das propriedades observadas no todo. 
Por isso se diz que o universo inteiro está contido em cada grão de poeira existente no cosmo, e também em cada célula dos organismos que a natureza criou. E o universo reflete a estrutura de cada organismo que o compõe.[2]

Na intimidade do ínfimo se encontram as propriedades do imenso com todas as suas intenções e qualidades. É como se todo o real existente fosse derivado de uma substância única, que subsiste exatamente por causa dessa sua propriedade essencial, que é a identidade entre todas as suas partes.
Pelo fato de ser homogênea, a essencialidade da matéria consegue projetar-se, como uma vontade que une, sobre todos os múltiplos de sua substância, conferindo à todas as coisas a unidade que se observa entre os elementos materiais. Essa unidade é uma força que faz com que todos os elementos do universo, e particularmente os seres vivos, pratiquem uma necessária interação, como função das relações que necessitam para realizarem suas finalidades de existência. Essa relação de complementaridade não precisa integrar, necessariamente, um ideal humanístico para ser natural. Nesse sentido, o predador que abate e consome a sua presa, na ação natural de preservar a própria vida, não comete nenhum ato antinatural. É uma interação útil e necessária, da qual a natureza se vale para realizar a sua função. Portanto, não há conflito na luta entre o leão e o antílope, ou entre a pomba e o gavião, mas sim, uma estratégia da natureza na sua tarefa de seleção e preservação da vida. . 
É diferente da luta que se trava meramente pela superação ambiciosa e arrogante do adversário, que ultrapassa os limites da necessidade de sobrevivência e aperfeiçoamento da espécie, que se observa no seio da sociedade humana. Aqui a função natural da luta ultrapassa os limites da estratégia útil e necessária para se tornar uma atividade predatória sem sentido nem finalidade, praticada única e exclusivamente para atender a um desejo egocêntrico de dominação. Se a natureza inventou a luta pela sobrevivência, a arrogância e a estupidez humana criaram o conflito e a guerra pela supremacia. E se um dia a natureza, ou Quem, o Que a controla, optar pela sua supressão, será exatamente essa especificidade do ser humano que justificará a sua extinção.

A energia resultante de uma interação entre dois elementos se mede pelo grau de transformação que cada um dos elementos dessa relação sofre. Esse resultado é também a medida da evolução individual de cada um e dos seus resultantes em termos coletivos. A energia que transmitimos uns aos outros, a energia que transmitimos às coisas com as quais interagimos, a energia que deles recebemos, eis o motor de todas as transformações; e a potencialidade do quanto "somos" em cada momento da nossa vida é o resultado desse processo. Quando me relaciono com uma pessoa, ela se modifica em consequência da informação que recebe de mim. Da mesma forma, sou modificado pela informação que dela recebo. Informação é energia e nós somos produtos de relações. E a nossa sociedade vive de relações entre relações. Por isso nada pode ser descartado. E nenhum argumento justifica a exclusão, seja do que for que a natureza um dia produziu. Esse é o melhor argumento contra qualquer tipo de racismo, ou de doutrina que defenda qualquer forma de exclusão, fundamentada na diferença. No desenho do universo que Deus projetou, a falta do mais insignificante elemento implica em torná-lo incompleto. E torná-lo incompleto é mutilá-lo. E tudo que é mutilado é feio.

Maçonaria é, acima de qualquer outra finalidade, o sentimento de união. União dos Irmãos em uma cadeia onde a energia de cada um é canalizada para a “egrégora” que se forma e a todos beneficia, Por isso o simbolismo do salmo 133: “ó quão bom e quão suave é que os Irmãos vivam em união. É como bálsamo precioso que desce sobre a barda de Aarão e molha a orla dos seus vestidos; é como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sion, porque ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre.”

Assim se fundamenta este que é o mais importante de todos os conceitos trabalhados pela Maçonaria, enquanto Ordem ecumênica, de âmbito mundial. A Cadeia da União é o símbolo dessa unidade atômica onde as energias individuais se congregam para formar um tecido único, de substância indestrutível, ao qual a humanidade inteira pode recorrer nos seus momentos de maior angústia existencial. Essa é uma visão que não pode ser ser perdida pelos Irmãos.



[1] Ver Teilhard de Chardin- O Fenômeno Humano, Cultrix, São Paulo, 1968
[2] Fórmula admiravelmente deduzida pelo preceito hermético, constante da Tábua de Esmeralda, atribuída a Hermes Trismegisto, que diz que “o dentro é igual ao fora e que está em baixo é igual ao que está em cima.”
João Anatalino

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