segunda-feira, 3 de agosto de 2015



LOJA DE MESA NO RITUAL BRITÂNICO

JBNews

A Loja de Mesa ou Jantar Ritualístico do ritual britânico tem atributos diferentes do Jantar Ritualístico do REAA. O do REAA teve origem em França, nas Lojas Militares, em torno de 1780. Seu ritual foi desenvolvido, em Lojas militares, durante o 1º Império de Napoleão (1804-1814). Daí porque, seu ritual é rico em símbolos militares. Bem ao gosto francês há, nos Jantares Ritualístico do REAA, ornatos inseridos nos sinais, como por exemplo fazer sinais com facas (espadas ou alfanjes) e uso de guardanapos (bandeiras).

A Loja de Mesa no ritual britânico teve origem no século XVI, nos ágapes (boards) realizados após uma sessão maçônica. Herdou influências da realeza britânica após a Revolução Gloriosa (1689)1, com William III2, da casa de Orange-Nassau. Teve sua ritualística desenvolvida após 1717, com marcantes influências hebraicas e celtas. As primeiras regras escritas do Jantar Ritualístico apareceram em 1721, em Londres.

Chama-se Banquete Ritualístico, Jantar Ritualístico ou Loja de Mesa. Banquete é derivado do italiano banchetto que significa “banquinho”, onde os primeiros cristãos sentavam durante ceias comunitárias (ágapes) nas catacumbas. Jantar Ritualístico – jantar do latim vulgar jantare significa comer numa refeição noturna; ritualístico do latim ritualis, -e significa cerimônia.

Até hoje, em todas as sessões na Grã-Bretanha, obrigatoriamente, realizam-se ágapes (boards). Mas, Jantares Ritualísticos (Festive Boards), somente em sessões comemorativas. O Royal Festive Board se realiza dias 24 de junho (fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717, e próximo ao solstício de verão no hemisfério Norte) ou 27 de dezembro (fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra, em 1813, e próximo ao solstício de inverno).

No ritual britânico, o banquete ritualístico é feito em loja fechada, isto é, não se abre a loja. Isto ocorre desde 1854, quando a rainha Victoria foi convidada e participou de um Festive Board. Desde então, usa-se o termo Royal Festive Board. Eventualmente, profanos podem participar do Jantar Ritualístico. É tradição, na Grã-Bretanha, a participação da Rainha no Jantar Ritualístico de Londres. Hoje, dia 24 de junho de 2014, dia de São João Batista e evocação do solstício de verão no hemisfério norte, comemorando 297 anos de fundação da Grande Loja de Londres e Westminster, a rainha Elizabeth II, o Príncipe Consorte Philip, duque de Edimburgo, o Duque de Kent, Príncipe Edward George Nicholas (Grão Mestre Geral da Grande Loja Unida da Inglaterra) e vários membros da casa real britânica participaram de uma Loja de Mesa, em Londres, sessão presidida pelo Duque de Kent. Na verdade, o solstício ocorreu, em 2014, dia 21 de junho às 10:51 h.

A mesa do banquete deve ser disposta em forma de U, com a colocação do Venerável Mestre no Leste (chamada mesa do candelabro de sete braços, não é chamado de Oriente); o 1º Vigilante no Oeste (lado Norte) – chamada mesa do candelabro de cinco braços; o 2º Vigilante no Oeste (lado Sul) – chamada mesa do candelabro de três braços – e, os demais irmãos distribuídos nos braços da mesa, sendo os aprendizes dispostos no lado central dos braços. O Oeste não é chamado de Ocidente.

Existe uma homenagem ao último aprendiz iniciado, o único que no Ritual de Emulação tem levantada a abeta de seu avental. Este aprendiz senta-se à mesa do candelabro de sete braços, ao lado das autoridades presentes.

Nos banquetes ritualísticos maçônicos, come-se carneiros, chamados em hebraico de Korban (significa “sacrifício “ – ן ר ק) termo que se encontra na Torá e significa um sacrifício de um animal ofertado a YHWH. O significado de se comer cordeiro é um sacrifício simbólico ofertado ao GADU. Come-se pão ázimo ou matzá ( ) um pão assado sem fermento, feito somente de farinha de trigo e água. De acordo com a tradição hebraica, o pão ázimo foi feito pelos hebreus antes da fuga do Antigo Egito, porque não houve tempo para esperar até a massa fermentar (Êxodo 12: 39). O significado simbólico é: assim como a massa sem levedura não sofre um efeito corruptor, ao preparar a levedura de nosso corpo (1 Coríntios 5: 8), também demonstra-se o desejo de pureza, quando se deseja comemorar a liberdade em relação à escravidão. Na maçonaria, portanto, comer pão ázimo significa a liberdade dos vícios, ou “cavar masmorras ao vício e erguer templos à virtude”. Bebe-se vinho – yayin (יין ) que significa uma simbólica santificação – Kiddush ou Kadosh – קדוש – significa “sagrado” ou “santificado”. Aos que não podem beber, oferece-se, hoje, suco de uva. Há várias justificativas bíblicas para se beber vinho. A primeira, em Juízes 9: 13: “… meu vinho, que alegra a Deus e aos homens…”. Também no Salmo 104: 15: “…o vinho, que alegra o coração do homem…”.

Nas cerimônias judaicas, usa-se o Shofar ( ), um chifre tradicionalmente de carneiro que era utilizado como instrumento musical nos tempos da construção do Templo de Salomão. O shofar é considerado sagrado, quase como uma voz celestial. Estes sons característicos do shofar, que nas cerimônias hebraicas ecoa por 3 vezes (shefarim ou sh’varim) como 3 soluços, significa o chamamento à ordem sobre as necessidades da alma. Geraram, na maçonaria, as batidas dos malhetes nos pedestais (ou nos altares) e em outros ritos, nas diversas baterias dos graus. Na maçonaria, usam-se malhetes que é o chamamento à ordem e à atenção.

O candelabro de sete braços, na mesa do Venerável Mestre, é, na tradição hebraica, a menorá (מְנוֹרָה – מנורת שבעה קנים ) um dos símbolos do antigo Templo de Jerusalém. A Menorá representa a divindade e, para os maçons, a Sabedoria. Por isso na mesa do V.M..

O 1º Vigilante senta à mesa do candelabro de cinco braços. A menorá de cinco braços, chamada Menorot (תטןנםמ – נברשת חמש זרוע ), representa a criação do mundo em 5 etapas. Diz a lenda hebraica que Deus ficou tão encantado com a criação, que achou falta de alguém para louvá-Lo. Criou o Homem na 6º etapa e descansou na 7º etapa. A Menorot simboliza o espírito e, para os maçons, a Força (espiritual).

O 2º Vigilante senta à mesa do candelabro de três braços. O candelabro de três braços chama-se Tzerin (עטץצ – נברשת עם שלוש זרועות ) e representa a criação do mundo por Deus que o constituiu em três reinos: vegetal, mineral e animal. Simboliza a matéria e, para os maçons, a Beleza, a natureza.

Quem administra o cerimonial, no Jantar Ritualístico, é o Diretor de Cerimônias, comandando por um bastão, a vara de ofício. O bastão representa os cajados dos hebreus, usados na fuga do Egito. O Diretor de Cerimônias lembra a administração do comando dos retirantes do Egito. No ritual britânico, o V.M. faz, apenas, um brinde, dividido em quatro etapas. Isto, também, tem origem hebraica. Os quatro brindes representam as quatro expressões de libertação prometidas por Deus, em Exodus, 6: 6-7. Os quatro brindes do Sêder de Páscoa (סֵדֶר ), o Jantar da Páscoa Judaica, representando as quatro vezes que os hebreus foram escravos: 1º – “tirei da escravidão”, uma redenção, quando os hebreus fugiram do Egito; 2º – “salvei dos impostos e autoritarismos do governo”, quando os hebreus se libertaram do domínio da Babilônia; 3º – “redenção com punho forte”, quando os hebreus se libertaram das autoridades gregas; e 4º – “resgatarei”: Deus pegou o povo hebreu como seu povo e lhe deu a Torá. O Mestre da Loja levantará um só brinde, dividido em quatro etapas. Os quatro brindes serão em homenagem: 1. aos chefes executivos federais (chefe de Estado Brasileiro — não se brinda o chefe de governo —, e chefe do Estado Maçônico, o Grão Mestre Geral do GOB) — no Brasil os chefes de Estado e chefes de governo são as mesmas pessoas; 2. aos chefes executivos estaduais (chefe do estado — Governador do Estado, Grão Mestre do GOB-SC e Grão Mestre de Obediências regulares, se presentes); 3. às autoridades maçônicas (Grão Mestre Adjunto, Secretários, Veneráveis Mestres e autoridades presentes de outras Obediências regulares); 4. aos maçons.

Dos celtas, a Maçonaria adotou a recomendação de se realizar o jantar ritualístico no solstício de verão (em junho, no hemisfério norte), o dia mais longo do ano, por ser o dia de maior Luz, maior Sabedoria. Isto é um costume celta muito antigo que se comemora, até hoje, em Stonehenge4.

Por fim: o objetivo do Jantar Ritualístico é a confraternização, isto é, reunirmos em confraternidade, comungarmos nossos estados de espírito, darmos demonstrações conviviais de ser fraternos. Então (cf. regras de 1721): “comamos e bebamos e façamos votos de que nos tornaremos melhores amigos.”


http://www.banquetemaconico.com.br/2014/loja-de-mesa-no-ritual-britanico/

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