OS MISTÉRIOS DO ARCO REAL
Tradução José Filardo
por Pierre Mollier
Nos últimos anos, os historiadores maçônicos descobriram que, longe de ser uma adição tardia e um tanto artificial, como tinha sido muitas vezes sugerido, os primeiros altos graus – ou “graus complementares” – remontam provavelmente às origens da Maçonaria especulativa. Entre eles, o mais antigo e mais importante é certamente o “Arco Real” (tradução melhor do que “Real Arco”). Na maçonaria anglo-saxã, ainda é hoje o grau adicional por excelência e um dos destaques da vida maçônica.
O que caracteriza em primeiro lugar o grau do Arco Real é a força de seu tema simbólico. Juntamente com o trabalho em torno do Templo de Jerusalém, três trabalhadores revelam acidentalmente um alçapão que dá acesso a uma cripta, um cofre secreto. Eles exploram esta cripta e descobrem gravada em uma pedra assentada no centro, a antiga palavra de Mestre, a de Hiram e Salomão, antes da mudança ocorrida na cerimônia do grau de Mestre. Trata-se de um dos nomes sagrados de Deus. A lenda do Arco Real, portanto, mantém laços estreitos com duas figuras importantes do esoterismo ocidental: a busca do segredo perdido, a dimensão quase teúrgica atribuída ao verdadeiro conhecimento dos nomes divinos. A origem dessa lenda maçônica é provavelmente o episódio semelhante relatado por Philostorgius, um escritor grego da Antiguidade tardia, e retomada por alguns escritores religiosos do século XVII. Então, o abade Fleurylhe dedica três páginas em sua monumental e famosa História Eclesiástica (1691). O tema inicial conhece variações – por vezes, a cena se passa durante a construção do Primeiro Templo, às vezes é quando de sua reconstrução por Zorobabel – e muitas adições, muitas vezes de grande riqueza simbólica. Assim, o “verdadeiro nome de Deus” encontrado pelos três trabalhadores só pode ser pronunciado quando os três estão reunidos e em um procedimento particularmente impressionante. O Capítulo do Arco Real é dirigido por três dignitarios, os três “Diretores” Zorobabel, o profeta Ageu e o Sumo Sacerdote Josué simbolizando as funções real, profética e sacerdotal. Se nós sempre lhe damos um lugar de destaque, o Arco Real nem sempre é praticado da mesma forma na Inglaterra, na Escócia, na Irlanda ou nos Estados Unidos.
O grau do Arco Real é atestado pela primeira vez na Irlanda em 1744 em uma prancha, um pouco controversa, intitulada Investigação séria e imparcial sobre a causa do declínio da Maçonaria no Reino da Irlanda! O Dr. Dassigny nos revela ali a existência de uma controvérsia entre os Irmãos sobre a introdução, “há alguns anos atrás”, de um novo grau do Arco Real que seu propagador afirmava ter recebido na loja de York, na Inglaterra, e outros afirmando que o verdadeiro Arco Real era aquele proveniente de Londres. A partir dos anos 1750, alguns depoimentos atestam a prática do grau nas Maçonarias britânica e americana, que se multiplicam nos anos de 1770-1780. O Arco Real foi particularmente apreciado pelos “Antigos” – de quem conhecemos, aliás, a forte ligação com a Irlanda – enquanto que os “Modernos”, mesmo trabalhando nele queriam manter a proeminência do grau de Mestre. Dessas divergências, a União 1813 fez em seu artigo 2º esta citação mal escrita célebre e emblemática do pragmatismo Inglês: “a pura e antiga Maçonaria consiste de três graus e nada mais, ou seja: Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo a Suprema Ordem do Santo Arco Real”. A Maçonaria francesa não o ignora. O “Cavaleiro do Arco Real” – um nome, ao mesmo tempo enigmático e transparente – bem como o “Grande Escocês da Abóbada Sagrada”, que é encontrado como a segunda ordem do Rito Francês ou graus 13 e 14 do REAA são provavelmente testemunhos emocionantes das versões mais antigas do Arco Real britânico que chegaram à França na década de 1760.
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