sábado, 27 de maio de 2017



AS LENDAS DA MAÇONARIA


Albert G. Mackey


O caráter composto de uma ciência especulativa e de uma arte op0erativa, que a instituição maçônica assumiu na construção do templo do Rei Salomão, em consequência da união, naquela época da Maçonaria Pura dos noaquidas[1] com a Maçonaria Espúria dos operários de Tiro, havia fornecido dois tipos distintos de símbolos – o mítico, ou lendário, e o material; mas eles estão perfeitamente unidos em objetivo e propósito, o que fica impossível de apreciar em uma, sem a investigação da outra.

Assim, para ilustrar, pode-se observar que o próprio templo foi adotado como um símbolo material do mundo, enquanto a lendária história do destino de seu construtor é um símbolo mítico do destino do homem no mundo. Seja visível ou tangível aos sentidos, em nossos símbolos ou emblemas – como os implementos da maçonaria operativa, a mobília e os ornamentos de uma Loja ou a escada de sete degraus – é um símbolo material; enqu8anto o que quer que derive sua existência da tradição e se apresente na forma de uma alegoria ou lenda, é um símbolo mítico. Hirão, o construtor, portanto, e tudo que se refere à lenda de sua ligação com o templo, e o seu destino – como o ramo da acácia, a montanha próxima do Monte Moriá e a palavra perdida – devem ser considerados pertencentes à classe dos símbolos míticos ou lendários.

Esta divisão não é arbitrária, mas depende da natureza dos símbolos e o aspecto no qual eles se apresentam à nossa visão.

Então o ramo de acácia, embora seja material, visível e tangível, não é tratado como um símbolo material, pois como ele deriva toda sua significância de sua relação íntima com a lenda de Hirão Abif, que é um símbolo mítico, ele não pode, em uma ruptura violenta e inadequada ser separado da mesma classe. Pela mesma razão, a pequena montanha próxima ao Monte Moriá, a busca pelos doze Companheiros e o conjunto completo de circunstâncias relacionadas à palavra perdida devem ser vistos simplesmente como míticas ou lendárias, e não como símbolos materiais.

Essas lendas da Maçonaria constituem uma parte verdadeira e importante do ritual. Sem elas, as partes mais valiosas do sistema maçônico como um sistema científico deixaram de existir. Na verdade, é nas tradições e lendas da Maçonaria, muito mais que em seus símbolos materiais, que devemos encontrar a profunda instrução religiosa que a instituição pretende inculcar. Deve-se lembrar que a Maçonaria tem sido definida como “um sistema de moralidade, velada em alegoria e ilustrada por símbolos”. Símbolos, então, sozinhos não constituem o sistema como um todo: a alegoria vem a contribuir com a sua parte e esta alegoria, que vela a verdade divina da Maçonaria, é apresentada ao neófito em várias lendas que foram tradicionalmente preservadas na ordem.

A íntima relação, pelo menos quanto ao propósito e ao método de execução, entre a instituição da Maçonaria e os Mistérios antigos, que foram amplamente imbuídos com o caráter místico das religiões antigas, levam, indubitavelmente, à introdução do mesmo caráter místico ao sistema maçônico.

Tão geral, na verdade, foi a difusão do mito ou lenda entre os sistemas filosófico, histórico e religioso da antiguidade, que Heyne observa, sobre o assunto que toda história e filosofia dos antigos procederam desses mitos[2].

A palavra mito, do grego, uma história, em sua acepção original, significava uma afirmação ou narrativa de um evento, sem qualquer implicação necessária de verdade ou falsidade, mas, como a palavra é usada agora, ela transmite a ideia de uma narrativa pessoal remota que, embora não seja necessariamente inverídica, é certificada apenas pela evidência interna da própria tradição[3].

Creuzer, em seu “Symbolik”, diz que os mitos e os símbolos foram derivados, por um lado, da condição indefesa, e dos pobres e limitados princípios do conhecimento religioso entre os povos antigos, e por outro lado9, dos desígnios benevolentes dos sacerdotes educados no Oriente, ou de origem oriental, que os transformaram em um conhecimento mais puro e superior.

As observações feitas pelo altamente filosófico historiador Grote, dão uma visão correta da provável origem da universalidade do elemento mítico em todas as religiões antigas, e são, também, muito apropriadas ao assunto das lendas maçônicas que discutirei, por isso as cito livremente.

“A interpretação alegórica dos mitos”, ele diz, “tem sido ligada por vários investigadores, especialmente Creuzer, à hipótese de um antigo grupo de sacerdotes altamente instruído, que se originou no Egito ou no Oriente e comunicou aos bárbaros e rudes gregos o conhecimento religioso, físico e histórico, sob o véu dos símbolos. Acredita-se que na fase inicial da linguagem, símbolos visíveis eram os meios mais vividos de agir sobre as mentes de ouvintes ignorantes. O próximo passo foi passar à linguagem e às expressões simbólicas, pois uma exposição plena e literal, mesmo se inteligível a todos, poderia ao menos ser escutada com indiferença, caso não correspondesse a qualquer demanda mental. Dessa maneira alegórica, então, os antigos sacerdotes estabeleceram suas doutrinas respeitando Deus, a natureza e a humanidade – o monoteísmo refinado e a filosofia teológica – e a este propósito os antigos mitos se voltaram. Mas outra classe de mitos, mais popular e mais cativante, cresceu sob as mãos dos poetas – mitos puramente épicos e descritivos de eventos reais ou supostamente passados. Os mitos alegóricos, difundidos pelos poetas, insensivelmente se tornavam confundidos com a mesma categoria dos mitos puramente narrativos, a questão simbolizada, não era mais o pensamento, enquanto as palavras simbólicas eram construídas em seu próprio sentido literal, e a base das primeiras alegorias, então perdida para o público geral, só foi preservada como um segredo entre várias fraternidades religiosas, compostas por membros unidos na iniciação em determinadas cerimônias místicas, e administradas por famílias que descendiam de sacerdotes dirigentes.

“Nas seitas órficas e de Baco, nos Mistérios de Elêusis e da Samotrácia, foram encerrados a doutrina secreta e os antigos mitos teológicos e filosóficos, que certa vez já haviam constituído o inventário lendário e primitivo da Grécia nas mãos do clero original e nas épocas anteriores a Homero. Pessoas que participaram das cerimônias preliminares de iniciação puderam conhecer, embora sob estreita obrigação de sigilo, esta antiga religião e doutrina cosmogênica, revelando o destino do homem e a existência de determinadas recompensas e punições póstumas, todas livres das corrupções dos poetas, assim como dos símbolos e alegorias que ainda permaneciam ocultos aos olhos vulgares. O Mistério da Grécia foram então traçados até as mais antigas eras, e representados como os únicos depositários fiéis da mais pura teologia e física que foram originalmente comunicadas, embora sob a inevitável inconveniência de uma expressão simbólica cunhada por um ilustre clero que vinha de fora para esclarecer os rudes bárbaros do país”[4]

Neste longo e interessante trecho encontra-se não apenas um relato filosófico da origem e do propósito dos mitos antigos, mas uma sinopse mais justa de todos aqueles que podem ser ensinados em relação à construção simbólica da Maçonaria, assim como dos depositários da teologia mítica.

Os mitos de Maçonaria, de início, talvez não passassem de tradições simples da Maçonaria pura do sistema antediluviano, tendo sido corrompidas e mal interpretadas na dissociação das raças, foram novamente purificadas e adaptadas ao ensinamento da verdade, primeiro, pelos discípulos da Maçonaria Espúria, e então, mais completa e perfeitamente, no desenvolvimento do sistema que agora praticamos. Se houver qualquer tendência ao erro que tenha ainda permanecido na interpretação de nossos mitos maçônicos, devemos procurar livrá-los das corrupções que a ignorância e má interpretação tenham lhes conferido. Devemos dar aos mitos os seus verdadeiros significados e traçar sua origem das antigas doutrinas de fé até onde as ideias que eles pretendiam incorporar derivam.

Os mitos ou lendas que tomaram a nossa atenção no decorrer do estudo completo do sistema simbólico da Maçonaria podem ser divididos em três classes:

1. O mito histórico;

2. O mito filosófico;

3. A história mítica.

E três classes podem ser definidas da seguinte forma:

1. O mito pode ser empregado na transmissão de uma narrativa das façanhas e dos eventos antigos, tendo sua fundação na verdade, a qual, no entanto, foi bastante distorcida e corrompida pela omissão ou introdução de circunstâncias e personagens, então ele constituirá o mito histórico.

2. Ou ele pode ter sido inventado e adotado como um meio de enunciar um pensamento particular, ou de ensinar uma determinada doutrina, quando ele se torna um mito filosófico.

3. Ou, por fim, os elementos verdadeiros da história efetiva podem predominar sobre os materiais fictícios e inventados do mito, e a narrativa poderá ser, na maior parte, composta de fatos com um leve colorido de imaginação, quando ela se torna uma história mítica[5].

A cada uma dessas três divisões da lenda, ou mito (pois eu não estou disposto, na presente ocasião, como alguns dos escritores mitológicos alemães, a fazer uma distinção entre as duas palavras[6]), devemos destinar todas as lendas que pertençam ao simbolismo mítico da Maçonaria.

Esses mitos maçônicos compartilham, de forma geral, da natureza dos mitos que constituem a fundação de religiões antigas, como acaram de ser descritas nas palavras de Grote. Dos últimos mitos, Mulller[7] diz que “ a fonte deles será encontrada, na maior parte, em tradições orais”, e que o real e o ideal – ou seja, os fatos históricos e as invenções da imaginação – concorrem, por sua união e fusão recíproca, na produção do mito.

Aquelas são os verdadeiros princípios que governam a construção dos mitos ou lendas maçônicas. Eles também devem a sua existência inteiramente à tradição oral e foram compostos, como eu acabei de salientar, de uma mistura do real e do ideal – do verdadeiro e do falto – dos fatos históricos e das invenções alegóricas.

Dr. Oliver observa que “as primeiras séries de fatos históricos, depois da queda do homem, devem necessariamente ter sido tradicionais e transmitidos de pai para filho pela comunicação oral”[8]. O mesmo sistema, adotado em todos os Mistérios, continua a ser usado na instituição maçônica; e todas as instruções exotéricas contidas nas lendas da Maçonaria estão proibidas de serem escritas, e podem ser difundidas apenas através da comunicação oral entre maçons.[9]

De Wette, em seu Criticismo sobre a História Mosaica, estabelece o teste pelo qual um mito deve ser distinguido de uma narrativa estritamente histórica: o mito não deve se originar na intenção do inventor em satisfazer a sede natural de verdade histórica por meio de uma simples narrativa de fatos, mas em contentar ou tocar os sentimentos, ou ilustrar algumas verdades filosóficas e religiosas.

Esta definição precisamente se encaixa no caráter dos mitos da Maçonaria. Tome, por exemplo, a lenda do grau de mestre, ou do mito de Hirão Abif. Como “uma simples narrativa dos fatos”, ela não tem grande valor – certamente não o valor comensurável do trabalho que foi empreendido em sua transmissão. Esta invenção – que não pretende ser a invenção ou a imaginação de todos os fatos dos quais ela foi composta, pois há materiais suficientes da verdade e da realidade com seus detalhes, mas a invenção ou composição na forma de um mito pelo acréscimo de algumas características, a supressão de outras, e o arranjo geral do todo – não quis acrescentar um único item à grande massa da história, mas em geral, assim como De Wette diz: “ilustrar uma verdade filosófica ou religiosa”, cuja verdade, eu nem preciso dizer que é a doutrina da imortalidade da alma.

Deve ser evidente, a partir de tudo que foi dito a respeito da analogia da origem e do propósito entre os antigos mitos maçônicos e religiosos, que ninguém familiarizado com a verdadeira ciência desse assunto pode afirmar, por um momento, que todas as lendas e tradições da ordem são, literalmente, fatos históricos. Tudo que se pode afirmar com relação a eles é que em alguns há simplesmente um substrato de história, e o edifício construído sobre esta fundação é pura invenção, servindo como um meio de transmitir algumas verdades religiosas; em outros, há apenas uma ideia à qual a lenda ou mito deve a sua existência e da qual é, como um símbolo, o expoente; e em outras, novamente, uma grande parte da narrativa é verdadeira, mais ou menos misturada com ficção, mas a história sempre predomina.

Há uma lenda, contida em alguns de nossos antigos registros, que afirma Euclides ser um distinto maçom, e que ele introduziu a Maçonaria entre os egípcios.[10] Não é necessário a ortodoxia de um credo maçônico acreditar literalmente que Euclides, o grande geômetra, foi realmente um maçom, e que se antigos egípcios estariam em débito com ele por conta do estabelecimento da instituição entre eles. Na verdade, o anacronismo palpável na lenda que faz de Euclides o contemporâneo de Abraão, necessariamente proíbe qualquer crença na afirmação, e mostra que essa história toda é uma absoluta invenção. O maçom inteligente, entretanto, não rejeitará completamente a lenda como ridícula ou absurda; mas, com o devido senso da natureza e do propósito de nosso sistema simbólico, que raramente aceitará isso como se lhe apresenta; a partir da classificação estabelecida na página anterior, poderia chama-la de “mito filosófico” – um engenhoso método de transmitir, simbolicamente, uma verdade maçônica.

Euclides é aqui muito adequadamente usado como um símbolo da geometria, de cuja ciência ele foi um eminente professor; e o mito ou lenda então simbolizará o fato de que houve no Egito uma ligação íntima entre aquela ciência e a grande moral e o sistema religioso adotado pelos egípcios, assim como em outras nações antigas. Algo semelhante ao que a Maçonaria é atualmente – uma instituição secreta, estabelecida para o ensinamento dos mesmos princípios, e transmitindo-os simbolicamente de maneira semelhante. Assim, interpretada, esta lenda corresponde a todos os desenvolvimentos da história egípcia, que nos ensina como ocorreu naquele país a estreita ligação entre os sistemas religioso e científico. Kenrick nos conta que “quando lemos sobre estrangeiros (no Egito) serem obrigados a se submeter a dolorosas e tediosas cerimônias de iniciação, não é porque eles não podiam aprender o significado secreto dos ritos de Osíris ou Isis, mas porque eles podiam partilhar do conhecimento de astronomia, física, geometria e teologia”.[11]

Outra ilustração será encontrada no mito ou lenda das Escadas em Espiral, através das quais se acredita que os Companheiros ascendiam à câmara do meio para receber suas recompensas. Tomando este mito em sentido literal vemos que todas as suas partes se opõem à história e à probabilidade. Como um mito, ele encontra a sua origem no fato de que havia um lugar no templo chamado “Câmara do Meio”, e que, havia “escadas em espiral” através das quais ele era alcançado; pois nós temos, no Primeiro Livro de Reis, que “eles subiam pelas escadas em espiral até a câmara do meio”.[12] Mas nós não termos nenhuma evidência histórica de que as escadas eram da construção, ou que a câmara era usada para o propósito indicado na narrativa mítica como se faz no ritual do segundo grau. A lenda toda é, na verdade, um mito histórico cujo número místico de degraus, o processo de passar para a câmara e as recompensas que eram recebidas são invenções acrescentadas ou inseridas na história fundamental contida no sexto capitulo de Reis para transmitir importante instrução simbólica relativa aos princípios da ordem. Essas lições podem, na verdade, ter sido ensinadas de uma forma direta, didática; mas o método alegórico e mítico adotado tende a causar uma impressão mais forte e mais profunda à mente, e ao mesmo tempo serve para conectar a instituição da Maçonaria com o antigo templo.

Novamente, o mito que traça a origem da Instituição da Maçonaria até o início do mundo e que torna seu começo contemporâneo à criação – um mito mesmo hoje em dia erroneamente interpretado por alguns como fato histórico, como uma referência ainda preservada na data do anno lucis, e que está afixada em todos os documentos maçônicos, - não passa de um mito filosófico que simboliza a ideia e conecta analogicamente a criação da luz física no universo com o nascimento da luz maçônica ou espiritual e intelectual no candidato.

A primeira é o símbolo da outra. Quando, portanto, Preston nos diz que “do início do mundo nós podemos traçar a fundação da Maçonaria”, e quando ele continua a afirmar que “desde que a simetria começou e a harmonia exibiu seus encantos, nossa ordem teve início “, nós não devemos entender sua afirmação como se uma loja maçônica tivesse se instituído no Jardim do Éden. Tal suposição absolutamente nos submeteria ao ridículo de qualquer julgamento. A única ideia que se pretendia transmitir é a de que os princípios da Maçonaria, que, na verdade, eram inteiramente independentes de qualquer organização social, são contemporâneos ao nascimento do mundo; e quando Deus disse: “Que haja luz”, a luz material então produziu um antítipo da luz espiritual que deve ter incidido sob a mente do candidato quando seu mundo intelectual, portanto, “sem forma e vazio”, foi adornado e povoado com os pensamentos vigorosos e os princípios divinos que constituem o grande sistema da Maçonaria Especulativa, e quando o espírito da instituição considerando a vasta profundidade de seu caos mental, o trouxe da escuridão intelectual à luz intelectual[13].

Nas lendas do grau de Mestre e do Arco Real há uma mistura do mito histórico e da história mítica, o que requereu um profundo julgamento e a discriminação desses diferentes elementos. Por exemplo, a lenda do terceiro grau é, em alguns de seus detalhes, indubitavelmente mítica – em outros, apenas e tão-somente histórica. A dificuldade, no entanto, de separar uma da outra, e de distinguir o fato da ficção, necessariamente produziu uma diferença de opinião sobre o assunto entre os escritores maçônicos. Hutchinson e, depois dele, Oliver, consideraram a lenda toda uma alegoria ou um mito filosófico. Eu estou inclinado, como Anderson e os escritores antigos, a supor que esta seja uma história mítica. No grau do Arco Real, a lenda da reconstrução do templo é claramente histórica; mas há tantas circunstâncias ao redor, que não são oficiais, exceto pela tradição oral, que dão à narrativa toda a aparência de uma história mítica. A lenda particular dos três peregrinos exaustos com certeza é um mito e, talvez, meramente filosóficos ou enunciação de uma ideia – uma recompensa da verdade divina.

“Criar e interpretar símbolos”, diz o sábio Creuzer, “era a principal ocupação do antigo clero”. Sobre o maçom estudioso a mesma tarefa de interpretação recai. Aquele que deseja apreciar adequadamente a profunda sabedoria da instituição da qual é discípulo com credibilidade não inquisitiva, não se deve dar por satisfeito em aceitar todas as tradições que lhe são transmitidas como histórias verdadeiras; nem com incredulidade não filosófica, em rejeitá-las em massa, como invenções fabulosas. Nesses extremos há o mesmo erro. “O mito”, diz Hermann, “é a representação de uma ideia”. Ele faz parte da ideia que o estudante deve buscar nos mitos da Maçonaria. Sob cada um deles há algo mais rico e mais espiritual que a mera narrativa.[14] É a essência espiritual que ele deve aprender a extrair de um estado bruto no qual, como um metal precioso, permanece incrustado. É isso que constitui o verdadeiro valor da Maçonaria. Sem seus símbolos e seus mitos ou lendas, e as ideias e conceitos que residem em sua origem, o tempo, o trabalho, e o gatos incorrido na perpetuação da instituição seriam desperdiçadas. Sem eles, seria um “show vão e vazio”. Seus hábitos sociais e seus atos de caridade não passariam de pontos incidentais de sua constituição – de fato bons para si mesmos, mas capazes de ser alcançados de forma mais simples. Seu valor verdadeiro como uma ciência, consiste em seu simbolismo – pelas grandes lições de verdade divina que ensina e pela maneira admirável com a qual transmite seus ensinamentos. Cada um, portanto, que deseja ser um habilidoso maçom, não deve supor que a tarefa realizada em busca do conhecimento perfeito seja mera frasealogia do ritual, para um pronto abrir e fecha loja, nem para uma indiferente capacidade de conferir graus. Todas as tarefas são necessárias em seus propósitos, mas sem o significado interno, elas não passarão de mera brincadeira de criança. Deve-se estudar os mitos, as tradições e os símbolos da ordem, e aprender sua verdadeira interpretação, pois só isso constitui a ciência e a filosofia – o fim, o objetivo e o propósito da Maçonaria Especulativa.

[1] Noaquidas, ou noaquitas, os descendentes de Noé. Como este patriarca preservou o nome verdadeiro e a adoração a Deus entre uma raça de idólatras ímpios, os maçons reivindicam ser seus descendentes, porque eles preservaram a religião pura que distinguia este segundo pai da raça humana do resto do mundo. (Ver o Lexicon da Maçonaria do autor.) Os operários de Tiro no Templo de Salomão eram descendentes de outra divisão da raça que ocorreu em Sinar, da verdadeira adoração, e repudiaram os princípios de Noé. O povo de Tiro, no entanto, como muitos outros místicos antigos, recuperou uma parte da luz perdida, e a recuperação completa foi finalmente alcançada pela sua união com os maçons judeus que eram os noaquitdas. 

[2] “A mythis omnis priscorum hominum tum historia tum filosofia procedit” – Ad. Apollod. Biblioteca de Aten. Not. F. p. 3 – Faber diz: “Alegoria e personificação eram bastante adequadas ao gênio da antiguidade; e a simplicidade da verdade foi continuamente sacrificada no santuário de decoração poética”. – No Cabiri. 

[3] Ver Grote, História da Grécia, vol I. Cap. XVI. P. 479, de onde essa designação foi substancialmente derivada. As definições de Creuzer, Hermann, Buttmann, Heyne, Welker, Voss e Muller não são melhores, e algumas nem são tão boas. 

[4] Hist. Da Grécia, vol. I. Cap. XVI. P. 579. A ideia da existência de um povo iluminado, que viveu em uma era remota, e veio do Oriente, foi uma nação muito prevalente entre as antigas tradições. Corrobora disso que a palavra hebraica Kedem, significa, com respeito ao local, o Oriente, e, com relação a tempo, tempo passado, dias antigos. A frase em Isaías XIX. 11: “Eu sou o filho do sábio, o filho dos reis antigos”, poderia ter sido assim traduzida: “o filho dos reis do Oriente”. Em uma nota à passagem de Ezequiel XI.III. 2, “a glória de Deus de Israel veio do caminho do Oriente”. Adam Clarke diz: “ Todo conhecimento, toda religião, e todas as artes e ciências viajaram, de acordo com o curso do sol. DO ORIENTE AO OCIDENTE 

!” Bazor nos diz (em seu Manual da Franc-maçonaria, p. 154) que “a veneração que os maçons têm pelo Oriente confirma uma opinião previamente anunciada de que o sistema religioso da Maçonaria veio do Oriente, e faz referência à religião primitiva, cuja primeira corrupção foi a adoração do sol”. Por fim, o leitor maçônico recordará a resposta dada no Manuscrito Leland à questão com relação a origem da Maçonaria: “isso começou (eu modernizei a ortografia) com os primeiros homens do Oriente, que surgiram antes dos primeiros homens do Ocidente; e vindo ocidentalmente, trouxe consigo consolo aos selvagens e sem conforto”. O comentário de Locke sobre sua resposta pode concluir esta observação: ”Parece que os maçons acreditam que havia homens no Oriente antes de Adão, que eram chamados de “primeiro homem do Ocidente”, e que as artes e ciências começam no Oriente. Alguns autores notáveis pela experiência, tinha a mesma opinião; certamente a Europa e a África (que, com respeito à Ásia, podem ser chamados de continentes ocidentais) ainda eram desertas e selvagens muito tempo depois de as artes e a delicadeza nas maneiras alcançarem um estado de perfeição na china e nas Índias”. Os talmudistas fazem as mesmas alusões à superioridade do Oriente. Então, Rabbi Bechai diz: “Adão foi criado com sua face em direção ao Oriente para que pudesse contemplar a luz e o sol nascente, de onde o Oriente foi a ele a parte anterior do mundo”. 


[5] Strauss fez uma divisão de mitos em histórico, filosófico e poético. – Leben Jesu. – Seu mito poético com minha primeira divisão, seu filosófico com meu segundo, e seu histórico com meu terceiro. Mas eu oponho à palavra poética como um termo distintivo porque todos os mitos têm sua fundação na ideia poética. 

[6] Ulmann, por exemplo, faz distinção entre o mito e a lenda – o primeiro contendo bastante ficção combinado com história, e o últimas alguns poucos ecos da história mítica. 

[7] Em seu Protegem-na zu einer wissenshaftlichen Mythologic, Ca. PIV. Essa importante obra foi traduzida em 1844, por Jonh Leitch 

8] Landmarks Históricas, I. 53. 

[9] Ver artigo do autor sobre As Landmarks Não-Escritas da Maçonaria, no primeiro volume da Miscelânea Maçônica, na qual este assunto é tratado detalhadamente. 

[10] Como uma questão de algum interesse ao curioso leitor, eu acrescento a lenda conforme publicada no Gentleman´s Magazine, em junho de 1815, de um rolo de pergaminho escrito no início do século XVII, e que, se for o caso, foi muito provavelmente copiada em uma data ainda mais antiga: “além do mais, quando Abraão e sua esposa Sarra foram ao Egito, aprenderam as Sete Ciências liberais. Em seus dias sobreveio que o senhor e os escravos do reino haviam feito muitos filhos com suas esposas e outras senhoras do reino, pois esta era uma terra quente e propícia à procriação. Eles não tinham como ter uma vida digna com seus filhos; motivo pelo qual se preocupavam muito. Então o Rei da terra um grande conselho e um parlamento para que pudessem criar seus filhos honestamente como cavalheiros. E de maneira nenhuma conseguiam encontrar um bom caminho. Então eles chamaram por todo esse reino que se houve qualquer homem que pudesse prepara-los, que viesse até eles, pois seria recompensado por seu trabalho, o que o manteria satisfeito. Depois desse clamor, o respeito do Sr. Euclides apareceu e disse ao Rei e a todos seus senhores: “Se desejar, leve-me seus filhos para eu os ensinar e ministrar a eles uma das Sete Ciências, por meio da qual eles consigam viver honestamente como cavalheiros devem viver, sob a condição de que me conceda uma comissão para que eu possa ensiná-los da maneira que a ciência deve ser ensinada. Que o Rei e todo seu conselho concedam apenas a ele, e selem sua comissão. Assim retomou para ele os filhos dos senhores e lhes ensinou a ciência da Geometria na prática para trabalharem nas pedras de todas as maneiras possíveis, construindo igrejas, templos, castelo, torres, mansões e todas as outras formas de construção”. 

[11] Antigo Egito sob os Faraós, vol 1 p. 393. 

[12] I Reis VI, 8. 

[13] Uma alusão a este simbolismo consta em um dos mais bem conhecidos lemas da ordem – Luz e tenebris. 

[14] “Uma alegoria é aquilo que, sob personagens e alusões emprestadas, transmite alguma ação real ou instrução moral; ou, para manter mais estritamente a sua derivação (alius e dico), é por meio dela que uma coisa é relatada e outra entendida. Dessa forma fica aparente que uma alegoria deve ter dois sentidos – o literal e místico, e por esta razão sua instrução deve ser transmitida sob personagens e alusões emprestados do mundo todo”. – A Antiguidade, Evidência e Certeza do Cristianismo Debatido ou A Análise do Dr. Middleton dos Discursos sobre a Profecia do Bispo de Londres. ANSELM BRAYLY, LL.B. Canon Minor de São Paulo, Lodres, 1751.

Nenhum comentário:

Postar um comentário