terça-feira, 23 de junho de 2020


A HERANÇA GRETA NA MAÇONARIA - PARTE III




A Contribuição grega na Maçonaria: as Ordens Arquitetônicas e as colunas Dórica, Jônica e Coríntia; a Mitologia; os Gregos e a Astrologia; a Estrela Pentagonal

Para a faísca inicial, é bom já considerarmos as informações que vem na sequência, com as quais o Irmão Kennyo Ismail inaugura o artigo de sua autoria “As Ordens Arquitetônicas”:

“Muitos ritos fazem explícita referência às ordens arquitetônicas que compõem a arquitetura clássica, e que foram desenvolvidas pelos gregos e os romanos. São cinco ordens, sendo três de origem grega e duas de origem romana. As ordens de origem grega são as mais antigas e originais, sendo que as duas ordens romanas são apenas derivações delas. Como todo bom ‘construtor’, o maçom deve saber distingui-las, relacioná-las com o Templo e conhecer seus significados.”

AS ORDENS ARQUITETÔNICAS

O que é uma Ordem Arquitetônica?

De acordo com A. Jardé, em sua obra muito conceituada intitulada “A Grécia Antiga e a Vida Grega”, Ordem é uma combinação específica de três elementos arquitetônicos: base, coluna e entablamento.

Vejamos um pouco mais daquilo que ele escreveu sobre o assunto:

“AS ORDENS – Os monumentos se diferenciam pela disposição e proporções dos diversos elementos arquitetônicos, que compõe a colunata: é a isso que se dá o nome de Ordem. Distinguem-se duas ordens: a Ordem Dórica e a Ordem Jônica. A chamada Ordem Coríntia é uma variante da Ordem Jônica, de que diverge pelo emprego de um capitel decorado com folhas de acanto.

A ordem dórica, por assim dizer, é a reprodução em pedra da antiga construção de madeira. A coluna repousa diretamente sobre os degraus do envasamento. O capitel compõe-se de duas partes, do Equino ou Coxim, uma espécie de almofada ovalada (echinos) e do Ábaco ou Talho (ábax), uma simples laje quadrada ou retangular. Sobre os capitéis assenta-se a viga mestra ou Arquitrave. Mais acima, o friso apresenta uma sucessão de Tríglifos (tríglyphoi), que correspondem aos pontos extremos das vigas, e de Métopas, geralmente esculpidas.

Na ordem jônica, a base da coluna é torneada. O capitel caracteriza-se pelas espirais ou Volutas. A Arquitrave, em lugar de ser monolítica, divide-se em três bandas (fasces). O friso é contínuo e quase sempre decorado com esculturas.

A ordem dórica é mais pesada e mais severa, a ordem jônica é mais esbelta e mais elegante. Os gregos comparavam a primeira com a beleza masculina e a segunda com a beleza feminina.”

A MAÇONARIA E AS ORDENS ARQUITETÔNICAS

Para enlaçarmos os temas, Maçonaria e Arquitetura, agora no começo, ainda que, um tanto mais extensa que as habituais transcrições que faço, o verbete constante no Vade-Mécum Maçônico do irmão João Ivo Girardi, com o título de “ARQUITETÔNICAS, ORDENS”, possui um texto condensado que reúne informações valiosas, do tipo onde nada é descartável.

Antes, porém, retirei do trabalho intitulado “As Cinco Colunas de Arquitetura”, publicado há muitos anos na revista “O Prumo”, de autoria do Irmão Vanio de Oliveira Matos, esse parágrafo: “Uma Ordem de Arquitetura é o Sistema de todos os Ornamentos e proporções de Colunas e Pilares, ou um arranjo particular das partes projetadas de uma construção, especialmente aquela de uma coluna que forma a beleza perfeita e completa de um todo (William Preston, 1781).”

Agora o excerto que foi retirado do Vade-Mécum Maçônico:

“ARQUITETÔNICAS, ORDENS:

1. Arquitetos e artistas primitivos reproduziram em seus trabalhos os conhecimentos adquiridos, transmitindo-os através de um sistema simbólico. Exatamente por não existir na antiguidade, uma linguagem escrita ou uma forma de expressão que permitisse transportar idéias abstratas. Esse simbolismo, unido aos primitivos sistemas religiosos, veio a ser uma linguagem sagrada de grande significado secreto.

Em Maçonaria, escreve o Irmão Adolfo T. Benitez: ‘todas as instruções e seus mistérios são comunicadas em forma de Símbolos fundados em uma ciência especulativa e uma arte prática; tornando-se as ferramentas da profissão, espiritualizando-se os termos de arquitetura, foram eles relacionados com a Virtude e com a história e adotados como símbolos.

Em Arquitetura, Ordem, é a forma e a disposição das partes salientes dos Pilares e do Entablado. Por sua vez, cada uma dessas duas partes de uma construção divide-se em três. É fácil, pois compreender o porquê da inclusão de tal Símbolo nas instruções do 1º Grau Maçônico. Assim, ao passo que a Coluna (pilar) compreende a base, o fuste e o capitel, o entablamento, é o conjunto da arquitrave, do friso e da cornija. Os dois processos de construção são distinguidos por estas duas partes.

No início, a ideia da Coluna Dórica, veio do Egito, ao passo que a Coluna Jônica é originária da Assíria. Os gregos, entretanto, as remodelaram de tal maneira, que são eles hoje considerados como inventores. As Colunas Toscana e Compósita são de origem romana. A primeira, tão singela quanto Dórica, é caracterizada pela ausência de qualquer ornato; o fuste é cilíndrico e liso e o capitel parecido com o Dórico. A Compósita é uma mistura dos ornamentos da Jônica e da Coríntia, ou seja, tem no seu capitel as volutas da Ordem Jônica e as folhas de acanto da Ordem Coríntia.

2. As Cinco Ordens de Arquitetura aparecem no Painel de Companheiro com relativo destaque. Seu aparecimento na Ordem Maçônica é datado de 1738, no frontispício da capa da 2ª edição da Constituição de Anderson. Depois desse aparecimento triunfal, elas ressurgem na década de 1770, quando o Irmão William Preston (o primeiro professor de Maçonaria) passa a ensinar seu Simbolismo na Maçonaria. Era comum, por essa época, o ensino da Arquitetura nas reuniões das Lojas. Aqueles que viajavam sempre traziam dados novos que, durante as Sessões, repassavam aos Irmãos. O primeiro registro está num Catecismo de um Manuscrito – A Masons Examination -, que apareceu em 1723. Ali aparece pela primeira vez a referência sobre as Cinco Ordens.

3. O Irmão William Preston em seu livro ‘Lecture’ sobre as cinco Ordens de Arquitetura conclui desta maneira ’As antigas Ordens de Arquitetura reverenciadas pelos maçons, não são mais que Três, a Dórica, a Jônica e a Coríntia.’ A Coluna Dórica é curta e maciça; ela evoca a ideia de força e grandeza; sua altura é igual a oito vezes o diâmetro de sua base; seu contorno é cavado de vinte caneluras formando arestas vivas; seu capitel, pouco elevado, mostra uma seção retangular. Seu nome, de acordo com Vitrúvio, viria de Dorus, filho de Heleno, rei da Acaia e do Peloponeso. Representada na Loja pelo 1º Vigilante. A Coluna Jônica é a mais esbelta e graciosa: sua altura é igual a nove vezes o diâmetro de usa base; ela tem vinte e quatro caneluras separadas por um filete e não por uma aresta vivia; seu capitel é caracterizado por um duplo enrolamento em espiral chamado voluta. De acordo com Vitrúvio, ela viria dos jônios da Ásia e do templo de Éfeso. Representada na Loja pelo Venerável Mestre. A Coluna Coríntia é a mais bonita; sua altura é igual a dez vezes o diâmetro de sua base; seu fuste (tronco) é liso e canelado; seu capitel é uma corbelha de folhas de acanto (planta espinhosa, originária da Grécia e da Itália). De acordo com Vitrúvio, seria devida ao escultor Calímaco, de Corinto. Representada na Loja pelo 2º Vigilante. Costuma-se considerar a Coluna Dórica como símbolo do Homem, enquanto a Coluna Jônica simboliza a Mulher. Às três Ordens de Arquitetura acima definidas, acrescentam-se às vezes a ordem Compósita, ou Romana, e a ordem Toscana. Essas ordens são ‘’modernas e participam das outras três; não devem ser levadas em conta no simbolismo maçônico.

4. (…) ‘a essas Colunas foram dadas três ordens de Arquitetura: a Jônica, para representar a Sabedoria; a Dórica, significando a Força; e a Coríntia, simbolizando a Beleza.’”

AS COLUNETAS

Vejamos o que o Irmão Kennyo Ismail escreveu sobre as colunetas, na sua obra Desmistificando a Maçonaria, da qual já nos utilizamos com um pequeno trecho logo acima:

“Sem entrar no mérito do uso das colunetas no REEA em algumas obediências brasileiras, o que, ao que tudo indica, também surgiram no Brasil apenas após 1927, provavelmente copiadas dos rituais ingleses, compreendamos o uso destas nos trabalhos em Loja: a coluneta Jônica (‘sabedoria’) fica sempre de pé, mostrando que a sabedoria deve reinar sempre, 24 horas por dia, seja no trabalho, seja no descanso. Já, as colunetas Dórica e Coríntia se revezam: a Dórica (‘força’) é erguida durante os trabalhos (do meio-dia à meia-noite), quando a força é necessária para a execução dos trabalhos; enquanto a Coríntia (‘beleza’) está levantada durante o descanso, considerado antes da Loja devidamente aberta e aos ser devidamente fechada (da meia-noite ao meio-dia).”

COMENTÁRIOS

Com certeza, existem outras informações e explicações sobre o uso das colunetas: no Vade-Mécum, por exemplo, é comentado sobre o fato de que antigamente não existia a função de 2º Vigilante. Logo que surgiu o mesmo, a regra que passou a prevalecer foi a de que o Irmão 1º Vigilante seria o responsável pela Loja durante os trabalhos, e o Irmão 2º Vigilante o responsável durante o período das recreações. É mencionado também, que é essa a divisão pela qual é lembrada na posição alternada das colunas, no Rito de York.

O Irmão Theobaldo Varoli Filho apresenta uma analogia e interpretação, que confesso, ainda não havia visto. Temos que nos acostumar com a ideia de que em Maçonaria, há inúmeras interpretações quando o assunto envolve Simbolismo, e acho que analogias muito mais..

Vejamos a parte em que ele trata das Ordens Arquitetônicas, e as suas explicações:

“… três luzes governam uma loja. Esse governo pousa sobre três colunas gregas: a coluna jônica, da sabedoria e do Venerável Mestre; a coluna dórica, da força (potência), do 1º Vigilante; a coluna coríntia, da beleza, do 2º Vigilante. Conforme o rito, as duas últimas podem ficar em posições diferentes, mas nunca no Oriente. Isso não importa, eis que o que se encarece é o significado histórico e filosófico das três colunas. Elas representam tudo quanto estudamos até aqui. A sabedoria jônica venceu a força espartana (dórica) e, quando ato e potência se equilibraram, surgiu a beleza, que se completou, mais tarde, e já na época helenística, ensejando a perfeição da coluna coríntia e completando o ternário, o qual, por sua vez, viria a repercutir em toda a história da humanidade. É costume colocar essas colunas sobre o ‘altar’ (mesa) das três luzes (Venerável e Vigilantes), cada qual com a sua coluna correspondente. Cumpre observar que as colunas dórica e coríntia, nada tem que ver com as colunas ‘J’ e ‘B’.”

NOCIONES DE ARQUITECTURA Y MASONERIA SOBRE A SIMBOLOGIA, SOBRE LOS ESTILOS Y SOBRE LOS PRINCÍPIOS

Já havia começado o trabalho que o leitor tem em mãos quando tomei conhecimento de que estava em curso uma “Feria Del Libro” na cidade de Rivera, Uruguai (para quem não tem conhecimento, a cidade onde moro, Sant’Ana do Livramento, Rio Grande do Sul, Brasil, faz fronteira com a cidade de Rivera, capital do Departamento de Rivera, República Oriental do Uruguay. Resumindo: são meus vizinhos). E fui até lá, por dois motivos principais: aprecio os livros editados na Argentina e na Espanha, e amo a língua espanhola.

Pois, acabei encontrando e comprando o livro “Arte Y Masonería”, entre outros, claro, da autoria do estudioso argentino Pablo Mateo Tesija, conferencista e diretor da revista maçônica “Símbolo”, editada em Buenos Aires, que traz entre outros assuntos o simbolismo relativo às ordens arquitetônicas, justo sobre o que estamos tratando, e que me fez entender melhor as considerações do Irmão Theobaldo Varoli Filho, e que se coadunam com elas. Dessa obra, extraio então, um trecho que julguei “brillante” em suas explicações:

“Con respecto a los tres primeros (dórico, jónico y corintio), se estudiará su relación con las divinidades griegas. Heracles o Hércules, en el primer caso; Palas Atenea o Minerva, para el segundo y Afrodita o Venus, para el tercero.

El dórico representará simbólicamente la fuerza, la solidez de una construcción desprovista quizás de adornos y detalles esteticistas pero que, pese a ello, cumple a la perfección con su cometido. El jónico rememorará la sabiduría, con el perfecto equilibrio entre utilidad e estética, representando un avance hacia otro tipo de preocupaciones. Es decir, ya dominados los princípios básicos del arte real, la mirada se vuelve al equilíbrio entre funcionalid y estética; la primera sola parece insuficiente, recibiendo el aspecto decorativo su lugar en la obra. Por último, el coríntio será el paradigma de la belleza profana, cobrando una importancia casi exluyente la decoración de la columna. De la combinación de estos tres princípios el masón logrará una obra ‘bella’, entendiendo por ella una obra ‘verdadera’

Cada uno de estos tres estilos arquitectónicos que hemos tomado como ejemplo tendrá su contrapartida ética en el plano simbólico.El dórico representará la fuerza de carácter necesaria para lograr el objetivo propuesto; el jónico, la sabiduría que debe servirnos de guia constante y el coríntio el amor que debemos poner en la empresa abordada. Estos tres elementos serán, también desde el punto de vista del arte sacro como del masónico, sinônimo de ‘belleza o verdad’ en la construcción tanto personal como social. La simbología de ellos puede ser completada de acuerdo a los distintos puntos de vista, obediencias, ritos y grados en que se trate, aunque el sustrato último será el mismo.”


COMENTÁRIOS

Sem dúvida, a última frase resume praticamente tudo: “a simbologia deles pode ser completada, conforme os diferentes pontos de vista, obediências, ritos e graus em que se trate, mas, a essência última será a mesma.”

E para finalizar o assunto “Ordens Arquitetônicas“, gravemos fundamentalmente que os estilos arquitetônicos clássicos, o dórico, o jônico e o coríntio, são utilizados em vários dos Graus maçônicos, e valem por seus aspectos quais sejam: o estilístico, o histórico, o mitológico e o simbólico.

A MITOLOGIA

O que é Mitologia?


Com base em um dicionário comum, a Mitologia em sua definição mais simples é posta assim:

“MITOLOGIA. (gr.muthologia, as) 1. Conjunto de mitos de uma determinada cultura. 2. Coletânea dos mitos dos antigos romanos e gregos. 3. Estudo sistemático dos mitos.”

Um conjunto de mitos, ou uma coletânea dos mitos e o estudo dos mitos. Então vejamos a definição do que é mito.

O que é Mito?

“(lat.mythus, i) 1. Narrativa de ordem remota e significação simbólica, sobre as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana, cujos personagens são deuses, seres sobrenaturais etc. 2. Construção da mente que não se baseia na realidade; fantasia. 3. Afirmação falsa, divulgada com intuitos difamatórios, propagandísticos, etc.; fábula. 4. Fig. Representação mental de fatos ou personagens reais de forma idealizada e tomada como modelo estereótipo.”

Mitologia Grega: uma introdução

Dizer que a Mitologia é um assunto extremamente fascinante já virou lugar-comum. De qualquer forma, para conhecer a fundo as civilizações antigas, o estudo da mitologia é fundamental. No caso da Grécia, ou da civilização grega, não conseguimos imaginar qualquer estudo sobre a mesma, deixando de fora sua mitologia, ou no mínimo, algum aspecto que guarde relação com ela. A história da Grécia parece estar todo tempo entrelaçada com a sua mitologia.

Pierre Grimal, estudioso consagrado no terreno da mitologia, em seu livro “Mitologia Grega”, já considerado um clássico, entre tantas coisas interessantes, escreveu:

“Dá-se o nome de mitologia grega ao conjunto de relatos fantásticos e lendas cujos textos e monumentos representativos nos mostram que estavam em voga nos países de língua grega entre os séculos IX ou VIII antes de nossa era, época a que se reportam os poemas homéricos, e o fim do paganismo, três ou quatro séculos depois de Jesus Cristo. É uma matéria enorme, de definição bastante complicada, de origens e características muito diversas e que desempenhou e desempenha ainda um papel considerável na história espiritual do mundo.

Todos os povos, em um determinado momento de sua evolução, criaram lendas, ou seja, relatos fabulosos os quais durante certo tempo deram crédito – ao menos em algum grau. No mais das vezes, as lendas, por fazerem intervir forças ou seres tidos como superiores aos humanos, pertencem ao domínio da religião. Elas se apresentam, pois, como um sistema mais ou menos coerente de explicação do mundo, e cada um dos gestos do herói cujas proezas são relatadas é criador e gerador de conseqüências que ressoam pelo universo inteiro. (…) Esta é talvez a característica mais interessante do mito grego: a constatação de que ele se integrou a todas as atividades do espírito. Não existe nenhum domínio do helenismo, tanto na plástica quanto na literatura, que não tenha constantemente recorrido a ele. Para um grego, o mito não conhece fronteiras. Ele se insinua em toda parte. É tão essencial para o seu pensamento quanto o ar ou o sol o são a sua própria vida.”

Comentários

Heróis, deuses e semideuses estão entre aqueles personagens que povoam a mitologia da Grécia. Muitos foram os narradores dessas histórias. Outros as recontaram, as reinventaram milhares de vezes. Filósofos, poetas, pensadores, escritores, todos ele beberam uma ou outra vez dessas fontes. A Maçonaria também bebeu do misticismo e da mitologia da antiga Grécia.

A Mitologia grega tem sua importância reconhecida no universo da Maçonaria, fundamentalmente no uso das expressões simbólicas. O misticismo que está entranhado na doutrina da Maçonaria, e que sobressai no Simbolismo e na Ritualística, tem suas raízes lá no misticismo religioso da antiga Grécia, como pudemos deixar já evidenciado por ocasião da temática apresentada nos trabalhos precedentes e que versaram sobre os Mistérios Gregos. Com certeza, há uma infinidade de deuses: deuses do céu, da terra, da fertilidade, dos animais, subterrâneos, ancestrais ou heróis e olímpicos. Veremos apenas alguns deles, em sua relação ou representação que adquirem na Arte Real.

Antes, porém, gostaria de transcrever um pequeno trecho que consta no “Dicionário Maçônico” de autoria do Irmão Rizzardo da Camino, que trará um pouco de discernimento para todos nós:

“A Mitologia é rica quanto à imaginação dos que a estabeleceram; foram os sábios da Antiguidade que assim provaram para manter disciplinados os povos. O culto aos deuses foi um exercício primitivo em distinção ao culto à Divindade monoteísta. Com a fixação do Cristianismo, a Mitologia foi posta de lado e hoje serve apenas como expressão simbólica.”

MITOLOGIA GREGA E MAÇONARIA

O Irmão Nicola Aslan escreveu que a Mitologia significa propriamente a história fabulosa dos deuses, dos semideuses e heróis. Também, que a denominação Mitologia assume uma dimensão maior, quando é estendida à história das religiões antigas, ao detalhamento dos cerimoniais que faziam parte das mesmas, dos seus mistérios e dos seus mitos. Aslan traduz um trecho referente ao verbete Mitologia da “Encyclopaedia” de Mackey que diz:

“É literalmente a ciência dos mitos, definição muito apropriada, pois a mitologia é a ciência que trata da religião dos antigos pagãos, que foi quase completamente fundada em mitos ou tradições populares e contos lendários; e assim Keightly (Mythol. Of. Anc. Greece and Italy)diz que ’a mitologia deve ser vista como o repositório da primitiva religião do povo’.

O seu interesse para um estudioso Maçom, procede do constante antagonismo existente entre as suas doutrinas e as dos Mistérios primitivos da antiguidade, e a luz que os mistérios mitológicos trouxeram para a antiga organização da Maçonaria Especulativa.”

A fim de entender a relação Mitologia-Maçonaria, novamente socorramo-nos do Vade-Mécum Maçônico, onde no verbete MITOLOGIA, além de uma breve explanação sobre o uso das estátuas, são disponibilizadas também informações sobre o simbolismo contido nos cargos em Loja em sua relação com os deuses da mitologia grega:

“MITOLOGIA:

Conjunto de mitos sobre a origem histórica de um povo; a história lendária de deuses e semideuses da antiguidade.

Conjunto de lendas e crenças que, por princípios simbólicos, fornecem explicações para a realidade universal.

A mitologia greco-romana exerce grande influência na arte, principalmente na literatura e no teatro durante a Antiguidade e o Renascimento.

O fato de a maçonaria admitir as estátuas dos deuses Minerva, Hércules e Vênus não significa idolatria; esses deuses e suas estátuas são apenas símbolos – de Sabedoria, Força e Beleza, que é a trilogia maçônica por excelência. Essas estátuas não são veneradas, apenas justificam que a Maçonaria é também mitológica, especialmente quanto aos graus filosóficos.

Os Cargos em Loja representam e possuem o apanágio de vários deuses do Olimpo e de semideuses do panteão grego. Assim tem-se:

Venerável – seria a representação de Zeus (Júpiter para os romanos), por sua condição de dirigente máximo da loja, já que Zeus era o principal dos deuses, soberano do mundo, que reinava no monte Olimpo, a mais alta montanha da Grécia; controlando as ações humanas e as dos demais deuses, era o protetor de toda a Grécia, embora cada cidade tivesse ainda, o seu protetor especial. Mas, o Venerável pode, também, ser simbolizado pela deusa Atená, ou Palas Atená (Minerva), nascida da própria cabeça de Zeus e que era a deusa da inteligência, da sabedoria e da paz, já que o Venerável Mestre deve ter essas qualidades para poder bem dirigir ao seus Irmãos.

1º Vigilante: – representa Ares (Marte), deus da agricultura e da guerra, além do símbolo da força, já que esta é a característica deste cargo, que também é relacionado com Héracles (Hércules), filho de Zeus e da princesa Alcmena, considerado o maior de todos os heróis gregos e que era poderosamente forte, o mais vigoroso de todos os homens.

2º Vigilante – Simboliza Afrodite (Vênus), filha de Zeus e que era a deusa do amor e da beleza; o 2º Vigilante dirige a Coluna da Beleza, enquanto que o 1º Vigilante dirige a Coluna da Força e, o Venerável a simbólica Coluna da Sabedoria. É por isso que muitos Ritos possuem, em seu Ritual, o acendimento de velas que representa esse três atributos.

Orador – é a representação de Apolo, ou Febo (mesmo nome para os romanos), filho de Zeus e deus do Sol, criador da poesia e da música, do canto e da lira, da profecia e das artes; o Orador responsável pela guarda da lei e das peças de oratória representa a Luz, simbolizada por Apolo.

Secretário – Corresponde a Ártemis (Diana), filha de Zeus e de Hera e que era a divindade protetora das florestas, da caça e das flores, além de ser também, a deusa da Lua, que o Secretário simboliza ao refletir o que vem do Sol (Orador).

Mestre de Cerimônias – corresponde a Hermes (Mercúrio), filho de Zeus e que era o mensageiro dos deuses, além de deus protetor dos pastores, dos comerciantes, dos viajantes e dos oradores; é o símbolo do Mestre de Cerimônias, já que esse Oficial, em sua circulação, é o mensageiro das Dignidades da Oficina.”

Ainda, com o intuito de fornecer maiores detalhes (consta no Vade-Mécum que somente o Rito Brasileiro prevê a sua obrigatoriedade, e ainda que a representação dessas figuras mitológicas pode ser feita também na forma de pinturas) sobre o uso das estátuas, o Irmão Kennyo Ismail, também se deteve sobre o assunto, e à pág. 36 da sua obra já citada, dispõem sobre elas fazendo o seu comentário, o qual reproduzo na sequência:

“Vale ressaltar que alguns templos no Brasil costumam ser ornamentados com pequenas estátuas de três deuses gregos, ilustrando de forma ainda mais evidente tais simbologias:

Atena: deusa da Sabedoria, colocada próxima ao trono do Venerável Mestre, geralmente usando um chapéu (que denota sabedoria, por isso também usado pelo Venerável Mestre);

Héracles: mais conhecido pelo nome romano Hércules, semi-deus da Força. Colocado próximo à posição do Primeiro Vigilante, costuma ser apresentado com um porrete na mão;

Afrodite: deusa da beleza, colocada próxima à posição do Segundo Vigilante, comumente representada por uma pequena réplica da famosa estátua Vênus de Milo.”

DAS COLUNAS ZODIACAIS E DA ASTROLOGIA

Sabemos que as Colunas Zodiacais guardam significados profundos e que abarcam uma relação com todos os graus iniciáticos da Maçonaria. As Colunas Zodiacais, na realidade, são doze meias colunas, seis na parede norte e seis na parede sul, nenhuma ocupando as paredes do Oriente, e elas são da ordem Jônica. Há uma relação mística, onde a consonância com as renovações pelas quais a Natureza passa, e a representação implícita das mortes e das ressurreições. Essas manifestações estão contidas nos ciclos aos quais os vegetais estão sujeitos. Há uma relação ainda com o Sol e os mitos solares, tão comuns em civilizações da antiguidade. Na Maçonaria Simbólica, a presença dos signos zodiacais tem a ver com o caminho místico que o Iniciado irá percorrer, desde o Aprendiz até ao Mestre. Essas influências em nossa doutrina nos remetem para as civilizações antigas, entre elas, os gregos, pois, foi através deles que a Astrologia, como diz no “Vade-Mécum Maçônico”: “atingiu a sua maioridade, com a racionalização e a determinação da função dos planetas, casas e signos.”

Para reforçar tal importância e considerando o “leit-motiv” do trabalho em curso, ou seja, as influências que a Maçonaria recebeu da Grécia antiga, vejamos o que escreveu o Irmão José Castellani em seu livro “Origens Históricas e Místicas do Templo Maçônico”:

“A ASTROLOGIA, embora, como já se viu, não possa ser creditada a apenas uma civilização, sendo muito mais medieval, adquiriu entre os gregos, os seus aspectos fundamentais e mais duradouros; a partir do século III a. C., os gregos empenharam-se em transformar a astrologia babilônica de acordo com suas próprias tradições, tornando-a cada vez mais complexa. Eles foram os responsáveis pela popularização de um sistema, que, anteriormente, só era acessível aos reis: o método de calcular destinos individuais, baseado no momento do nascimento. O primeiro livro astrológico moderno e menos empírico do que os anteriores a ele, o Tetrabiblos, tem sua autoria atribuída ao matemático, astrônomo e geógrafo Ptolomeu, nascido em Alexandria e que desenvolveu seu trabalho no século II da era atual, estabelecendo os princípios da influência cósmica, que constituem o cerne da moderna astrologia. Sob a influência da cultura grega, os planetas, as casas e os signos do Zodíaco foram racionalizados, tendo determinada a sua função, de tal maneira que, até hoje, houve muito pouca mudança.”


A ESTRELA PENTAGONAL

Não vamos entrar no campo das discussões sobre a Estrela Pentagonal, dos outros nomes que ela possa adquirir, das ligações que alguns estabelecem com as Ciências Ocultas, enfim… O objetivo aqui é mesmo apontar, relacionar, descrever e tecer alguns comentários, quando se fizerem necessários, sobre os símbolos, as doutrinas, as escolas, os elementos diversos que fazem parte da cultura grega e que tem sim, comprovadamente alguma conexão com a Maçonaria. Portanto, até cabe num futuro, elaborar um trabalho sobre as diversas estrelas, com suas descrições, com suas origens históricas, com suas funções e suas devidas representações nos rituais maçônicos.

Por ora, vamos nos ater a sua origem pitagórica, o que significa dizer que está inserida no presente trabalho por seu pertencimento às origens gregas. Vejamos o que nosso Irmão Jose Castellani escreveu sobre a mesma:

“A Estrela de Cinco pontas, ou Pentagrama (cinco letras), ou Pentalfa (cinco princípios), que, a partir dos meados do século XVIII, passou, com o nome de ESTRELA FLAMEJANTE, a fazer parte dos símbolos maçônicos (foi introduzida pelo Barão de Tshoudy, criador do Rito Adoniramita), é de origem pitagórica, representando, na Maçonaria, a mesma coisa que no pitagorismo: como ESTRELA HOMINAL, simboliza o homem, em sua alta espiritualidade. Ela representa, também, em muitos ritos, o planeta Vênus, sendo, por isso, colocada na Coluna do 2º Vigilante (já que ele simboliza a deusa Vênus, como já foi visto) entre o Sol (que está no Oriente) e a Lua (que está no Ocidente), pois se trata de um corpo com luz intermediária. Alguns autores tem associado a Estrela pentagonal maçônica com a estrela de cinco pontas usada no ocultismo, na alquimia e na magia medieval, com significado muito diferente daquele dado pelas escolas pitagóricas; a realidade, porém é que ela é mesmo pitagórica, até pela sua interpretação simbólica.”


Autor: José Ronaldo Viega Alves

A HERANÇA GREGA DA MAÇONARIA - PARTE IV



Grécia: Nascimento da Filosofia? As influências do Pensamento Grego e os Filósofos Gregos mais estudados no âmbito da Maçonaria. Os estudiosos maçons e suas considerações sobre a Filosofia

Desde o início dessa proposta, buscamos mostrar aqui o que a Maçonaria absorveu da cultura grega, incluídos vários dos aspectos pertinentes. Este que pretende ser o último trabalho da série irá tratar da filosofia grega e dos seus luminares. A Maçonaria vem se utilizando desde muito tempo desse cimento cultural, dessa sabedoria toda que, antes de tudo, é necessário dizer, é patrimônio da humanidade inteira. Veremos ao longo deste trabalho, então, quais as maiores influências recebidas pela Maçonaria, quais os filósofos gregos que no seio da nossa doutrina maçônica são mais estudados e aproveitados. Mas, para começar, que tal nos municiarmos com algumas informações a respeito das prováveis origens da filosofia? 

DA MITOLOGIA PARA A FILOSOFIA?


Antes de darmos início, uma pergunta já vem embutida, se é que queremos falar das origens da Filosofia: Como se deu o rompimento do pensamento mítico, que precedeu ao pensamento filosófico na Grécia antiga?

Em um determinado momento, compreendido no período que vai do século X ao VI a.C., uma série de condições históricas acabaram sendo favoráveis para que houvesse o surgimento de uma nova maneira de pensar. Uma nova forma de abordar a realidade, responsável por romper aos poucos com aquilo que se convencionou chamar de pensamento mítico.

Esse pensamento mítico, para entendermos melhor, tinha muito da sua fundamentação registrada em quatro obras cujos títulos e autores são: a “Ilíada” e a “Odisseia” de Homero, e a “Teogonia” e “Os Trabalhos e os Dias” de Hesíodo.

Essas epopeias podem ser consideradas então, a essência do pensamento mítico. Elas são definidas por Joel Gracioso em seu artigo “Investigação da Existência” da seguinte forma: “As epopeias são o resultado da mistura de lendas jônicas e eólias, incorporando relatos sobre viagens marítimas e outros elementos advindos do contato do mundo grego com a cultura de outros povos.”

Mas, depois de todos aqueles deuses mostrando seus inúmeros poderes, que se envolvem com os mais variados tipos de transformações, que interferem nas vidas dos seres humanos e na natureza, eis que, no discurso mítico, o fabuloso e o fantástico são coisas normais, algo começa a mudar. Essa maneira que até aquele período vigorara, de entender o mundo e também de pensá-lo com a presença maciça dos deuses, começa a definhar e uma nova e instigante matriz de pensamento irrompe. O seu nome: filosofia.

Vejamos o surgimento da filosofia sob mais de uma ótica, e isso assim, vai ajudar a alargarmos os horizontes dos nossos pensamentos.

O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

No “Vade-Mécum Maçônico”, de autoria do Irmão João Ivo Girardi, no verbete “FILOSOFIA, HISTÓRIA DA”, em seu item 1, intitulado Filosofia Pré-Socrática, em suas primeiras linhas, é possível termos uma visão sucinta dos primeiros tempos da Filosofia grega:

“Por filosofia entendemos uma forma completamente nova de pensar, surgida na Grécia por volta de 600 a. C. Antes disso, todas as perguntas dos homens haviam sido respondidas pelas diferentes religiões. Essas explicações religiosas tinham sido passadas de geração para geração através de mitos. Um mito é a história de deuses e tem por objetivo explicar por que a vida é assim como é. Ao longo de milênios, espalhou-se por todo o mundo uma diversificada gama de explicações mitológicas para as questões filosóficas. Os filósofos gregos tentaram provar que tais explicações não eram confiáveis. Criticaram os deuses porque tinham muita semelhança com os homens. Eles eram tão egoístas e traiçoeiros como qualquer um de nós. Pela primeira vez na história da humanidade foi dito claramente que os mitos talvez não passassem de frutos da imaginação dos homens. Um exemplo dessa crítica aos mitos pode ser encontrado no filósofo Xenófanes, nascido por volta de 570 a.C. Para ele, as pessoas teriam criado os deuses a sua própria imagem e semelhança. Naquela época os escravos faziam todo o trabalho braçal e os cidadãos livres podiam dedicar-se exclusivamente à política e à cultura; sob tais condições de vida, o pensamento humano deu um salto; sem depender de nada e de ninguém, cada indivíduo podia agora opinar sobre como a sociedade devia ser organizada. Desse modo, o indivíduo podia formular suas questões filosóficas sem ter que para isso recorrer à tradição e mitos. E assim a filosofia se libertou da religião.”

Há seguramente, os prós e os contras. Vejamos um pouco do que essas outras cabeças pensam:

John Burnett (1863-1928), professor de origem escocesa, diz que a filosofia nasceu quando as velhas explicações míticas já não convenciam mais, por conseguinte, os pensamentos de ordem filosófica somente poderiam florescer num local onde não existisse qualquer influência da mitologia.

E podemos perguntar: Será que foi tão simples assim? F.M.Cornford (1874-1943), professor e poeta inglês, procurou mostrar que a estrutura dos Mitos ainda estava presente nos filósofos que se sucederam. Isso quer dizer que, além de se utilizarem dos termos próprios do universo da mitologia, eles faziam uso de um empréstimo conceitual. Resumindo: a Filosofia herdou e continuava a se utilizar do conteúdo do Mito.

COMENTÁRIOS

Com relação ao nascimento da Filosofia há várias teses. Para uns, nem caberiam eventuais discussões, pois, ela tem data e local de nascimento: final do século VII e início do século VI nas colônias gregas da Jônia na Ásia menor. Mas, há controvérsias. Há os que defendem uma origem oriental da Filosofia, e nesse caso ela seria uma mera continuação do próprio passado dos orientais. Lá na Antiguidade, Diógenes Laércio já defendia a criação da Filosofia como produto grego, sem que eles tivessem se apropriado de nada dos orientais, ou seja, para aqueles ditos ocidentalistas, ela era uma invenção totalmente nova.

A título de ilustração, e mesmo para evitar o que possa ser entendido como omissão, demonstraremos rapidamente que em relação ao nascimento da filosofia na Grécia, são várias as linhas de pensamento. Vejamos um pequeno trecho recolhido dessa obra importante que é “Civilizaciones de Occidente” da autoria de Edward McNall Burns, onde está sacramentada a existência de mais de uma forma de pensar sobre o assunto, ainda que contrarie algumas posições arraigadas:

“Antecedentes de la Filosofia Griega – Por lo descripto en los capítulos anteriores resulta evidente que es errónea la idea popular de que los griegos crearon la filosofía. Siglos antes, los egípcios habían meditado mucho sobre la naturaleza del universo y los conflictos sociales y morales del hombre. Lo que hicieron los griegos fue más bien dar a la filosofía un contenido más amplio que el que tenia entonces. Trataron de hallar respuestas para todas las preguntas posibles sobre la naturaleza del universo, el problema de la verdad y el significado y la finalidad de la vida. Evidencia la magnitud de su hazaña intelectual el hecho de que la filosofia haya sido desde entonces en gran parte una discusión sobre la validez de las conclusiones a que ellos llegaron.” 

Também, não sei se por casualidade ou por sorte, tenho em mãos a revista “Cult” em sua edição de agosto de 2015, portanto, recém chegada às bancas com um dossiê em seu interior com o título de “Filosofia da Ancestralidade” onde à pág. 40 o título é altamente sugestivo: “Os gregos não inventaram a Filosofia”. Neste artigo, é mencionada a obra “A Filosofia Antes dos gregos” de José Nunes Carreira, onde o Egito aparece como uma região rica em produção filosófica. Mas, a questão em si continua, pelo visto, gerando polêmicas, objeções, argumentos diversos, críticas. Inclusive, fica claro, que uma agenda da de leitura dos textos africanos mais antigos (há muitos autores que advogam dessa hipótese: a filosofia não nasceu grega), não sinaliza um interesse em substituir a Grécia pelo Egito. Mas, e sempre tem o “mas”, como é dito ao final do artigo: “O projeto de dominação do Ocidente tem um aspecto epistemológico que pretende calar qualquer filosofia que tenha sotaques diferentes. Afinal, a filosofia foi ‘eleita’ como suprassumo da cultura ocidental.”

E a esta altura do campeonato, já poderá alguém, que esteja lendo o presente trabalho, inquirir: Mas, por que será que ele está falando disso tudo, quando o assunto é mesmo a Filosofia grega e a Maçonaria?

Bem, eu não desperdiçaria a oportunidade de atiçar a curiosidade daqueles Irmãos que tem as condições necessárias para valorizar isso que é uma busca pela verdade (o que eu acho que deveria ser o motor de todo o Maçom: a curiosidade por esmiuçar as questões e a certeza de que não existem verdades absolutas),

Há um autor e estudioso Maçom, que sempre cito em meus trabalhos, o Irmão Theobaldo Varoli Filho. Pois, utilizando-me agora das obras também desse outro sábio Irmão que se chama Raimundo Rodrigues, vejo que no seu livro ”A Filosofia da Maçonaria Simbólica’’, ele numa das páginas iniciais, que precedem aos textos, faz a citação de uma frase lapidar do Irmão Varoli Filho, com a qual concordo em gênero, número e grau, e é digna de ser repetida aqui:

“A Maçonaria tem por princípio a constante investigação da verdade. Não é maçom quem não for investigador da Verdade.” (Theobaldo Varoli Filho, in Curso de Maçonaria Simbólica, vol.III, pág. 16).

Pelo fato de que ainda temos mais a dizer sobre a questão das origens da filosofia, e com o intuito de bem assimilar o que disse um estudioso do porte de Pierre Vernant, antes, vamos a uma definição do termo “Pólis”, pois, detendo o seu conceito antes em nossa memória, será de muita importância para entender na íntegra a opinião desse historiador francês.

A PÓLIS UMA DEFINIÇÃO


Façamos um condensado a seguir, do que era a “Pólis” com base em dados colhidos da Internet:

A “Pólis” era o modelo das cidades antigas da Grécia, que vigorou desde o período arcaico até o clássico. Pelas suas características, o termo pode ser utilizado como sinônimo de cidade. “A pólis possuía uma configuração espacial própria: normalmente ficava justaposta ou circundava a acrópole (a parte alta da cidade, destinada aos templos); possuía um espaço central público, a ágora, onde também se localizava o mercado, além de um gymnasion. A cidadania de uma ‘pólis’ normalmente estava reservada aos homens adultos que ali nasceram.” As ‘poleis’ perderam sua importância durante o domínio romano. Resumindo: é a cidade, entendida no sentido de comunidade organizada, e que é formada pelos cidadãos (politikos). Modo de vida urbano que pode ser considerado a base da civilização ocidental.

Agora que sabemos o que é pólis, podemos falar de Pierre Vernant, renomado historiador e antropólogo francês, que vê o aparecimento da Filosofia de outro ângulo, ou seja, vê como um grande e principal fator incidindo para o seu nascimento e de sua diferença em relação ao Mito, justamente o aparecimento da Pólis, o que pode ser considerado um acontecimento político. Eis que, com o advento da Pólis, o universo espiritual, assim como a mentalidade das pessoas começou a mudar. O que girava então em torno do palácio real, e que pode ser traduzido por vida econômica, social e religiosa, a partir do momento que começou a entrar em crise foi dando lugar a um novo modelo de organização social: a Pólis.

MAÇONARIA E FILOSOFIA

A Filosofia e o seu estudo no ambiente maçônico tem o aval de vários Irmãos estudiosos. Que tal esse comentário do Irmão Theobaldo Varoli, para começar?

“Como dissemos, a Grécia foi o reino da dialética. Por sinal, ‘dialética’ é uma das obras de Platão. Falar em Dialética é falar em Maçonaria. Daí nunca é demais recomendar às Lojas o dever de escolherem obreiros versados em filosofia, encarregados de proferir palestras culturais, principalmente sobre os ensinamentos da antiga Grécia.“


SOBRE A DIALÉTICA E UM COMENTÁRIO

Para não deixarmos nenhuma lacuna com relação a algumas palavras que vão surgindo, e pelo fato de que vale saber sempre, um dicionário comum definiria a Dialética como:

‘DIALÉTICA: Arte e argumentar ou discutir./ Maneira de filosofar que procura a verdade por meio de oposição e conciliação das contradições. (lógicas ou históricas)’

Já li também que a dialética, pode ser definida como, “a arte do diálogo”.

Com relação à opinião que o Irmão Theobaldo Varoli emitiu no trecho acima, retirado do seu livro, eu somente queria comentar que essa foi mesmo uma virtude do Irmão Varoli, no sentido de que, em seus livros esteve sempre focado em orientar, demonstrar, dar um parecer em muitas questões que iam surgindo ao longo dos seus escritos, preocupado em fazer que a versão mais próxima da verdade fosse a que prevalecesse. Além do mais, suas recomendações eram o resultado da sua sabedoria e experiência.

O Irmão Raimundo Rodrigues, o nosso Mestre maior em Filosofia, em seu livro “A Maçonaria e o Hábito da Virtude”, brinda-nos com sábias palavras quando faz esclarecimentos importantes sobre Maçonaria e Filosofia:

“Conforme o leitor já sabe, a filosofia maçônica não é produto de um filósofo, mas de dezenas e dezenas de filósofos, de várias épocas diferentes. É exatamente por isso que se torna coisa difícil querer seguir o curso da filosofia maçônica ou ter a pretensão de querer ordenar suas posições. Podemos afirmar que já o fizemos várias vezes, que a filosofia maçônica engloba muito do esoterismo quer oriental quer ocidental, todavia o seu conteúdo não apresenta os desvios de opinião, os acidentes de percurso da filosofia grega. Temos, de nós para nós mesmos, que tal coisa se deve ao fato de que o ideário maçônico só é alcançado através da interpretação dos símbolos. Note-se que os símbolos podem proporcionar várias interpretações. O que faz com que a doutrina maçônica não apresente aquele rigor próprio da filosofia. E é exatamente aí que se verifica que a Ordem proporciona a seus exegetas, plena e completa liberdade de pensamento.”

Em outro livro de sua autoria, “Templo de Salomão”, no artigo que leva o título de “A Filosofia e a Arte Real” o Irmão Raimundo Rodrigues assim se pronuncia:

“Filosoficamente, a Maçonaria não se prende a uma escola ou a um sistema porque, então, estaria negando os princípios fundamentais de sua doutrina. Temos de nós para nós, que se a Ordem se deixasse prender a uma escola ou a um sistema filosófico, estaria impondo a seus membros um determinado rumo, obrigando-os a palmilhar sempre a mesma estrada; se assim fosse, certamente ela não mais existiria, pois estaria negando um de seus mais sagrados princípios: a liberdade de pensamento. Através de seu posicionamento filosófico a Maçonaria está mostrando aos Maçons que, antes de tudo, ele tem um compromisso consigo mesmo, com o seu pensar, com o que fazer de sua própria existência.”

Dito isso que é de uma importância extrema, podemos dar continuidade. Aliás, daqui em diante é imprescindível a nossa recorrência direta às obras do Irmão Raimundo Rodrigues, visto ele ser o nosso autor que mais tem abordado assuntos de ordem filosófica, creio eu, no meio maçônico. Ainda bem, que em minha biblioteca devem estar presentes, pelo que me consta, todas as suas obras.

Voltando ao seu livro “A Maçonaria e o Hábito da Virtude”, extraímos dali uma citação que o Irmão Raimundo Rodrigues fez da lavra do filósofo Mussa Battal com relação aos filósofos que devem ser mais estudados no contexto maçônico:

“Os grandes filósofos da Grécia, os da época helenística, os filósofos do Renascimento e os da Ilustração são que estão mais próximos de nossa doutrina maçônica.”

E num trabalho publicado na revista “O Prumo”, inserido numa coletânea mais recente, da lavra do Irmão Raimundo Rodrigues intitulado “A Incidência Filosófica nos Graus Simbólicos”, em determinada altura ele escreveu:

“Os Graus Simbólicos estão impregnados da filosofia dos grandes avatares da Grécia antiga: Tales, Xenófanes, Heráclito, Parmênides, Pitágoras, Empédocles, Anaxágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles.”

Consoante então a nossa proposta escancarada desde o começo desse trabalho, de elencar os filósofos gregos mais estudados nos meios maçônicos, ou mais recorrentes, veremos os mesmos sendo citados em conjunto com as informações e orientações que forem julgadas pertinentes, em sucintas biografias, como forma de ajudar aqueles Irmãos que desejem se aprofundar mais nas suas obras.

Como já foi dito, os livros do Irmão Raimundo Rodrigues por si só já seriam uma excelente introdução ao mundo da filosofia, de um modo geral, desde os seus primórdios já que ele mais do que ninguém sabe expor de maneira bastante acessível os filósofo gregos, assim como os que vieram depois.

No final deste trabalho, constam os títulos de suas obras que foram utilizadas com os dados pertinentes e necessários para quem quiser buscá-las junto a sua editora.

PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA (SEC. VII E VI a.C)

Os primeiros gregos a fazerem indagações sobre o sentido da existência humana, no tempo e no espaço, foram denominados de pré-socráticos. Estes homens materializaram o mundo em palavras, e para isso foi preponderante o uso da razão. O fato de haver essa delimitação no universo do pensamento grego, ou seja, os que antecederam Sócrates, os que vieram depois, etc., têm o objetivo de facilitar o estudo da Filosofia, ou seja, é uma forma dialética encontrada para absorver melhor os seus conceitos, pois, sabemos que tal universo é grande e complexo demais.

Esses filósofos também conhecidos por naturalistas possuíam como escopo das suas especulações o problema cosmológico, e com isso, buscavam o princípio das coisas.

Um dos grandes filósofos desse período e de fundamental importância para a Maçonaria foi Pitágoras, o qual já mereceu um estudo na segunda parte deste trabalho, em razão da Escola Pitagórica ou Pitagorismo. Portanto, para mais informações, recomendamos ao leitor que consulte o trabalho citado.

De qualquer maneira aproveitando um trabalho recente do Irmão João Ivo Girardi no JB NEWS nº 1.767, intitulada “Filósofos a.C.” extraímos do mesmo a pequena biografia relativa a este filósofo. Com certeza, muito mais poderá ser encontrado sobre Pitágoras, também, no “Vade-Mécum Maçônico’ da autoria do Irmão João Ivo Girardi. Vejamos então os dados sobre Pitágoras no JB NEWS: “Pitágoras (570 a.C.) Filósofo e matemático grego. Temas: metempsicose e matemática. Refrão: ‘Todas as coisas são baseadas nas formas geométricas.’ Mais conhecido pelo Teorema de Pitágoras, Cesura pitagórica. Atribuem-se mais coisas a Pitágoras do que se conhece sobre ele. Aparentemente, pregou a doutrina da metempsicose (a transmigração das almas, ou reencarnação), e absteve-se de comer feijão. A ele é atribuído o famosos teorema da geometria euclidiana, que levou seu nome. Também a ele é creditada a descoberta de que a escala musical de tons e semitons não permite à afinação perfeita dos instrumentos. Essa anomalia acabou levando à afinação de temperamento igual na época de J.S. Bach. (p.ex. O Cravo Bem Temperado).”

Somente para termos uma ideia geral dos muitos filósofos e suas escolas, que antecederam a Sócrates, citaremos os principais, com base na Wikipédia:
Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso.
Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento.
Escola Eleática: Xenófanes, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia e Melisso de Samos.
Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
Escola Eclética: Diógenes de Apolônia, Arquelau de Atenas.

E a título de complementação, podemos ainda dizer que, Tales de Mileto, Anaximandro e Heráclito eram físicos. Pitágoras desenvolveu a sua doutrina defendendo a idéia de que tudo preexiste à alma, já que a mesma é imortal. Demócrito e Leucipo defenderam a formação das coisas todas, com base na existência dos átomos.

PERÍODO CLÁSSICO OU FILOSOFIA CLÁSSICA (470 a 320 a.C)

“(…) ênfase nas questões antropológicas e maior sistematização do pensamento. Desse período fazem parte os sofistas, o próprio Sócrates, seus discípulos Platão e Aristóteles, discípulo de Platão.”

SÓCRATES

Sócrates é considerado uma espécie de divisor de águas. O período em que ele viveu dentro do contexto filosófico grego é chamado de Período Clássico, onde juntamente com ele destacaram-se os sofistas.

Quem eram os sofistas? “Os sofistas, entre eles, Górgias, Leontinos e Abdera, defendiam uma educação, cujo objetivo máximo seria a formação de um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente para o crescimento da cidade. Dentro desta proposta pedagógica, os jovens deveriam ser preparados para falar bem (retórica), pensar e manifestar suas qualidades artísticas.”

O Irmão Theobaldo Varoli Filho comentou sobre Sócrates, esse que foi um dos luminares da filosofia grega:

“O surto da alta filosofia grega começa com Sócrates, ateniense, filho do escritor Sofrênico e da parteira Fenarete. Foi escritor mas nada deixou escrito. (…) Diz a história que Sócrates, acusado de corromper a juventude e criar novos deuses, não quis defender-se e seus juízes demagogos o condenaram a beber cicuta e morrer. 

Sócrates restabeleceu a preponderância do inteligível, pois os sofistas, sensualistas acima de tudo, preferiam o império do sensível na busca do conhecimento. Assim, na lógica socrática, o objeto da ciência seria o conceito e a busca de definição (o que é e para que fim). Para se atingir esse alvo, mister se tornaria empregar principalmente a observação e a comparação, examinando seres ou indivíduos da mesma espécie, excluindo-lhes as diferenças e conservando as características comuns e estáveis, até perceber-lhes a natureza, a essência. A esse método Sócrates chamou de ‘indução’, palavra que atualmente seria ‘partir do particular para o geral’, tal como, Galileu, que, verificando as oscilações de um pêndulo nas mesmas condições e em vários lugares, chegou à generalização, ou lei do isocronismo e das amplitudes oscilatórias. Da dialética de Sócrates, o que muito interessa aos maçons é o processo da polêmica empregada no sentido didático, tal como o mestre a ideou, dividindo o diálogo em duas partes: a ‘ironia’ e a maiêutica (parto das ideias). Pela ironia o mestre ouvia o antagonista com atenção e humildade, com o interesse de quem deseja aprender e, assim colhia os elementos convergentes dou divergentes , com a atenção de quem deseje aproveitar-se da ‘antanagoge’ (método de usar dos argumentos do adversário, para derrotá-lo). Iniciadas as perguntas, o interlocutor, procurando defender as suas teses, chegaria a contradizer-se a confessar a própria ignorância. Pela ‘maiêutica, o discípulo era interrogado e levado a obter os conceitos e definições, partindo de casos particulares e concretos. Assim, o próprio discípulo ‘paria’ as ideias.


NOTA DO AUTOR AO APRENDIZ – Maçonaria considera a Lógica uma de suas sete ‘luminárias’, ao lado da Aritmética, Geometria, Gramática, Retórica, Música e Astronomia, completando as sete artes liberais da antiguidade, instituídas oficialmente entre os beneditinos e denominadas, por Boécio, na divisão ‘Trivium et Quadrivium’.(…)

O método, caminho ordenado e lógico para se chegar à Verdade, é o objeto principal da Lógica. Os dois métodos fundamentais são o dedutivo e indutivo. O dedutivo vai do geral para o particular, como ocorre na matemática, principalmente na Geometria, na qual, de uma verdade geral, como, por exemplo, da demonstração da tese de um teorema, decorrem corolários ou particularidades que, de certo modo, passam a constituir generalidades. O indutivo ou de generalização, começa no particular e chega à verdade geral. As ciências naturais se fundaram principalmente na observação dos fenômenos particulares. Há ainda os métodos mistos ou correlatos com os dois principais. Assim, há os métodos psicológico, matemático, experimental, de análise e síntese de observação dos fatos (…) e o método dialético, (…) um dos grandes métodos empregados pela maçonaria. 

A regra ‘conhece-te a ti mesmo’, de Sócrates, é um dos lemas fundamentais da maçonaria (autognose) e a sua filosofia é desenvolvida principalmente no grau de Companheiro, por meio de uma entre várias interpretações do pentagrama pitagórico. A doutrina socrática admitia a existência de Deus, a espiritualidade e imortalidade da alma.” 

PLATÃO

Platão foi discípulo de Sócrates e defendia que “as ideias formavam o foco do conhecimento intelectual”.

Conforme o resumo dos “Filósofos a.C.” do Irmão João Ivo Girardi, no citado JB NEWS, temos o seguinte:

“Platão (429-327 a.C.) Filósofo e acadêmico grego. Tema: essencialismo. Refrão: As essências da bondade, da beleza e da justiça só podem ser compreendidas através de uma jornada filosófica. Obra mais conhecida: Os Diálogos de Platão (incluindo A República). Platão fundou a Academia (protótipo da universidade) em Atenas. Seus diálogos envolvendo seu professor Sócrates abrangeram a maior parte do que sabemos sobre a filosofia de Sócrates, por isso fica difícil separar as idéias dos dois. Platão é considerado o fundador do estudo e do discurso filosófico como ainda praticado hoje.”

Da obra do Irmão Theobaldo Varoli Filho, extraio as seguintes considerações sobre Platão:

“Contudo, Platão deixou algo para a Maçonaria, que é a síntese de que há de melhor das lições de todos os sábios. Quanto à ética individual, o mestre ensinou a consideração pelas ideias e, principalmente, pelas idéias do Bem. A seu ver, deveria o sábio desligar-se do corpóreo e sensível e aprimorar as tendências superiores. Essa ética platônica se consubstanciava no quaternário Sabedoria, Fortaleza, Temperança e Justiça.”

No “Dicionário de Maçonaria” do Irmão Joaquim Gervásio de Figueiredo, no verbete PLATÃO consta:

‘(…) Tão vivo foi e continua a ser o seu pensamento, que os antigos o cognominaram ‘o divino Platão’, e modernos pensadores ocidentais ainda o consideram ‘o pai da filosofia’. Nos ensinos ministrados no grau de Companheiro (2º), da Maçonaria Simbólica, se reflete muito da filosofia platônica.”

ARISTÓTELES

Sobre Aristóteles, utilizamo-nos mais uma vez do Irmão João Ivo Girardi, em sua série de biografias sucintas:

“Aristóteles (384-322 a.C.). Filósofo grego, cientista e naturalista. Temas: lógica, metafísica, ética. Refrão: O meio-termo (evitar extremos em ideais e comportamento). Obras mais conhecidas: Metafísica, Ética a Nicômaco. Quando estudava na Academia de Platão, a principal preocupação de Aristóteles era o conhecimento, obtido por meio da observação de fenômenos naturais. Ele gostava de classificar as coisas (chegou a escrever um livro chamado Categorias). Praticamente inventou a lógica e foi pioneiro em várias ciências. Foi tutor de Alexandre Magno. Por quase dois milênios, Aristóteles foi conhecido como O Filósofo.”

O Irmão Antônio Nami, autor do livro “Maçonaria de A a Z”, incluiu nessa sua obra, o verbete ARISTOTELISMO, que em seu bojo guarda muitos assuntos de interesse e objeto de estudos dos Maçons. O termo possui o seguinte significado:

“Grupo de doutrinas de Aristóteles, filósofo grego, e de seus seguidores. São temas centrais do Aristotelismo a teoria da abstração e do silogismo, os conceitos ato e potência, forma e matéria e substância e acidente; doutrinas todas que serviram à criação da lógica formal e da ética e que exerceram, e ainda exercem enorme influência no pensamento ocidental.”

PÓS-SOCRÁTICOS OU FILOSOFIA PÓS-SOCRÁTICA (320 a.C ATÉ O INÍCIO DA ERA CRISTÃ)

Esta época vai do final do período clássico (320 a.C.) até o começo da Era Cristã. Preponderou o interesse pela física e pela ética. Nesse período temos as doutrinas: Ceticismo, a qual no pensamento dos seus filósofos, a dúvida deveria estar sempre presente, pois o ser humano não tem como conhecer nada de forma exata e segura. O filósofo de destaque é Pirro de Élida. O Epicurismo ou Hedonismo: os filósofos defendiam a ideia de que o bem era originário da virtude. O filósofo de destaque é Epicuro. Estoicismo: a razão era defendida ao extremo. A emoção, o prazer e o sofrimento deveriam ser deixados de lado. Sobre o estoicismo veremos um pouco mais, dado ao interesse e estudo do mesmo pelos maçons.O filósofo de destaque é Zenão de Cítio.

O ESTOICISMO

Evidentemente o estoicismo merece um tratamento especial, ou bem mais do que algumas simples linhas. Conforme o nosso Irmão Raimundo Rodrigues em sua obra “Sutilezas da Arte Real”, os estoicos eram uma corrente filosófica da Grécia que são muito estudados pelos Maçons. Vejamos o seguinte trecho, que pertence ao capítulo intitulado “A Filosofia dos Estoicos e a Arte Real”:

“O estoicismo surgiu no período helenístico que é o grande movimento filosófico depois do período pré- socrático que alguns críticos denominam de pós-aristotélico. Além do estoicismo, surgiram nessa época o epicurismo, o ceticismo e o ecletismo. É de ver-se que o ramo filosófico criado por Zenão de Citim, foi uma Escola de grande influência e que conseguiu atravessar alguns séculos, talvez porque apresente uma gama de originalidades que surpreende a quem se resolva estudá-lo em profundidade. Nota-se desde logo, que a ética maçônica tem muito a ver com o estoicismo que, na essência, esposa o racionalismo ético. Assim como o estoicismo, a Maçonaria grita a seus membros que não se deixem dominar por paixão alguma. Aliás, a grande similitude existente entre a filosofia estoica e a doutrina maçônica reside na oferta de normas claras de comportamento. E tem mais: além de ser uma doutrina essencialmente moral, o estoicismo contém importantes ensinamentos sobre a estrutura dos cosmos e sobre o conhecimento humano, o que também é de grande interesse da Arte real. (…) Pode-se hoje, estudar o estoicismo sob vários ângulos porque, apesar de terem chegado até nós poucos fragmentos dos escritos de Zenão, temos as obras completas dos maiores seguidores dos estoicos, como Epicteto, Sêneca e Marco Aurélio. Às vezes os estoicos se afastam tanto de Platão quanto de Aristóteles. Eles têm uma visão bem deles (poderíamos até dizer – maçônica) sobre o sentimento, a emoção e a paixão. A nós nos parece que a maçonaria buscou no estoicismo os ensinamentos que nos fornece sobre eles. Vejamos: o estoicismo nos ensina que o sentimento é a emoção racionalizada. Já a emoção é o tônus vital do psicossomático, enquanto que a paixão é o domínio bruto do sentimento e que, muitas vezes, nos leva ao fanatismo. É esta, exatamente esta, a doutrina maçônica.”

E do “Vade-Mécum Maçônico” do Irmão João Ivo Girardi, com o objetivo de ilustrar melhor a utilização que a Maçonaria faz da filosofia estoica, reproduzo o seguinte trecho pertencente ao verbete ESTOICISMO:

“7. A Maçonaria vale-se da ética dos estóicos quando vê na virtude o único bem da vida. Viver de acordo com a virtude significa viver conforme a natureza, que se identifica com a razão, no sentido cósmico universal. O lado patológico da realidade humana é constituído quando são desprezados os afetos e as inclinações, constituindo a virtude, na liberdade, na igualdade e na fraternidade. Sendo a virtude um dos únicos bens, o vício e a ignorância são o mal, e a noção do dever, de viver segundo a razão, significa o senso de responsabilidade, cujo conjunto forma a sua ética.”

Ainda, do clássico “História da Filosofia”, de Gonzague Truc, retiro as seguintes passagens:

“É no domínio da moral que a doutrina se expande e assume toda a sua amplidão. (…) Em face do dever não pode haver transigência, como não pode haver abstenção. (…) A grande máxima será: ‘Viver em conformidade com a natureza’ (entenda-se: ‘Viver em conformidade com a razão.’)”


COMENTÁRIOS

De maneira evidente, os estoicos e a sua moral, que para uns chega a ser definida como uma das mais elevadas, e ao mesmo tempo, uma das mais absurdas, faz com que detectemos uma certa infantilidade no seu “viver segundo a razão”, pois, entendemos também que a razão não pode legislar tudo, e além do mais, não se pode lidar com nosso sentimento na base do ON/OFF. Os anelos que a escola estoica idealizou, no entanto, acabaram sendo cumpridos pela moral cristã, consubstanciados em pureza e desprendimento.

CONCLUSÃO

Para o leitor que até aqui pacientemente acompanhou essa série de trabalhos, todos relacionados com aquelas áreas em que a cultura grega muito se destacou, aliás, não haveria nem como tentar estipular a dimensão disso tudo em termos de benefícios para o progresso da humanidade, e para o desenvolvimento intelectual do homem, fica mais uma vez uma amostra, dessa vez, a grega, dentre tantas outras, desde as tradições orientais, a hermética, a cabalística, a bíblica, a dos construtores de catedrais, enfim, que convergem para esse rico universo que é o da Maçonaria. Vou recair naquela “ladainha” se assim alguém achar por bem entender, mas, não custa nada dizer que há muito mais esperando para quem tem a curiosidade de saber, a vontade de buscar incessantemente a verdade, ou para aquele que trabalha constantemente a sua pedra bruta e que a exemplo de Sócrates, Platão, Aristóteles e tantos outros gregos maravilhosos, e aqui uma ênfase para os estoicos, que pensaram e trabalharam sobre as Virtudes, busca com supremo afinco a sua pedra filosofal, porque, antes de tudo, acredita que ela pode ser encontrada. Este é o Maçom, um eterno buscador. Então, usando do que já pode ser considerado um chavão, assumo o risco, mas, vou dizer também que a totalidade desses trabalhos não tem a pretensão de ser definitivos, já que há muitos outros desdobramentos que possam ser trabalhados. Com uma gama tão grande de filósofos, e estamos falando da Grécia antiga, escolhemos alguns, que como dissemos tem seus conceitos, suas doutrinas, suas idéias mais aproveitadas, e em conformidade com a nossa doutrina, o que não quer dizer que outros também não sejam importantes e que não mereçam ser lidos. Eu sou daqueles que comungam da ideia de que para o Maçom a leitura da Filosofia, e aqui numa referência à Filosofia e aos filósofos de todas as épocas, para o Maçom, é leitura fundamental.

O Irmão João Ivo Girardi inaugurou seu texto “Filósofos a.C.” com esse parágrafo que se adapta perfeitamente, e que agora escolho com o propósito de utilizá-lo neste fechamento:

“A Maçonaria sempre encontrou franca correspondência com os filósofos, pois ambos condenam todo e qualquer dogmatismo e cada membro tem o direito de formar seus próprios conceitos sobre a Divindade, como princípio de tolerância. Também a doutrina moral dos maçons, que se baseia no maior aperfeiçoamento do ser humano durante a existência terrena encontra em muitos filósofos, uma base segura de seus conceitos e práticas.”

Essa base, conforme pudemos constatar ao longo do trabalho que ora finda, tem muitos filósofos da Grécia antiga.


Autor: José Ronaldo Viega Alves

segunda-feira, 22 de junho de 2020



SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS DE AQUINO


por Sérgio Biagi Gregório

Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274) foram, respectivamente, os maiores pensadores da Patrística (1) e da Escolástica (2). Santo Agostinho valeu-se da filosofia de Platão, enquanto Santo Tomás de Aquino da de Aristóteles. Com isso, cada qual, em sua época, pode influenciar não só a religião católica como muitos pensadores cristãos que lhes sucederam.

Tanto Santo Agostinho como Santo Tomás de Aquino afirmam que Deus, sendo eterno, transcendente, todo bondade e todo sabedoria, criou a matéria do nada e, depois, tudo o que existe no universo. Para Santo Agostinho, as idéias ou formas estavam no Espírito de Deus. Santo Tomás de Aquino acrescenta a noção dos universais em seus raciocínios. Dizia que Deus é a causa da matéria e dos universais. Além disso, Deus está continuamente criando o mundo ao unir universais e matéria para produzir novos objetos.

Nenhum deles colocava em dúvida a imortalidade da alma. Santo Agostinho dizia que alma e corpo são distintos, mas não soube explicar como a alma se liga ao corpo. De acordo com Santo Tomás, a alma humana — princípio imaterial, espiritual e vital do corpo — foi criada por Deus. Acreditava que a alma espiritual é agregada ao corpo por ocasião do nascimento, e continua a existir depois da morte do corpo, formando, pois, por si mesma, um novo corpo, um corpo espiritual, por meio do qual atua por toda a eternidade.

Em suas teorias, reportam ao "desprezo do mundo". Contudo, Santo Agostinho mostra-se incapaz de decidir entre o mundo e desprezo por ele. A despeito dessa dúvida, apega-se firmemente à idéia de que a Igreja, como a encarnação mundana da cidade de Deus, deve ter supremacia sobre o Estado. Santo Tomás de Aquino, da mesma forma que Aristóteles, doutrinava que o homem é naturalmente um ser político e procura estar em sociedade. Este homem deve tributar lealdade à Igreja e a Deus, mas tem, também, que obedecer ao Estado porquanto este, por sua vez, recebeu o seu poder da Igreja.

Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

Fiquemos com o lado bom de seus raciocínios, ou seja, a crença num Deus único, causa primária todas as coisas. Refutemos, porém, a supremacia que deram à Igreja, considerando-a como a monopolizadora da revelação de Deus. 


Fonte de Consulta

FROST JR., S. E. Ensinamentos Básicos dos Grandes Filósofos. São Paulo, Cultrix.

São Paulo, 09/03/2001

(1)Patrística é o nome dado à filosofia cristã dos três primeiros séculos, elaborada pelos Pais ou Padres da Igreja, os primeiros teóricos —- daí "Patrística" — e consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos pagãos e contra todos que eram contra, os hereges.

(2)Escolástica, escolasticismo (do latim scholasticus, derivado do grego σχολαστικός, "pertence à escola", "instruído", "sábio") ou Filosofia Escolástica, é um método ocidental de pensamento crítico e de aprendizagem, com origem nas escolas monásticas cristãs, que concilia a fé cristã com um sistema de pensamento racional

Copyright © 2010 por Sérgio Biagi Gregório

BELEZA



Sérgio Biagi Gregório


SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. A Beleza Segundo Alguns Filósofos: 4.1. Platão; 4.2. Plotino; 4.3. Kant; 4.4. Schelling; 4.5. Nietzsche. 5. Beleza e Religião: 5.1. Bíblia; 5.2. “Demônio da beleza”; 5.3. Conversão Interior. 6. Beleza e Espiritismo: 6.1. A Modificação da Forma; 6.2. Semblante é o Espelho da Alma; 6.3. A Superioridade Moral do Espírito. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 


1. INTRODUÇÃO

O que é beleza? Qual o seu conceito? Qual o caráter do belo? Há relação entre religião e beleza? Que subsídios o Espiritismo nos oferece a respeito do tema?

2. CONCEITO

Beleza. O que agrada universalmente. Tudo o que produz no homem um sentimento particular chamado emoção estética. O conceito do belo, do verdadeiro e do bom não podem ser reduzidos um ao outro, nem a um terceiro. O belo é concernente ao sentimento; o verdadeiro, ao intelecto; o bom, à vontade.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A beleza pertence à subjetividade do espírito, embora algumas pessoas queiram colocá-la no âmbito da objetividade.

Plotino deu o primeiro passo para que o belo tivesse valor próprio e independente, diferenciando-o do bem. O bem é possuído, ao passo que o belo não pertence a ninguém, senão a si mesmo, o qual provoca a satisfação subjetiva pela sua mera satisfação.

A beleza é uma das propriedades fundamentais de todo ser, através da qual se manifestam os sentimentos estéticos no ser humano.

A beleza pode dar-se na natureza, que nos exalta os sentimentos; no ser humano, carregada ainda de sentimentos eróticos; nas obras artísticas, em que o ser humano pode projetar mundos maravilhosos. 

4. A BELEZA SEGUNDO ALGUNS FILÓSOFOS

4.1. PLATÃO

Platão compara a beleza ao amor, o qual se caracteriza pela insuficiência, ou seja, amamos algo que desejamos e não o temos. Da mesma forma que o amor, o filósofo não tem a beleza, mas a deseja, anela a sabedoria sem possuí-la. O amor é fundamentalmente uma necessidade que ainda não foi satisfeita, algo essencial para a própria completude da vida.


4.2. PLOTINO

Plotino afirma que a beleza é elevação da alma. Acha que a arte é o esplendor da inteligência, que transparece no sensível. A música, por exemplo, reproduz com sons o princípio da harmonia. Por meio da arte, a alma põe em movimento um processo de purificação, começa o caminho do retorno à divindade.

4.3. KANT

Kant distingue o sensório do prazer estético propriamente dito. O prazer estético baseia-se em juízos reflexionantes, ou seja, uma apreciação que não se refere diretamente ao objeto, mas à nossa subjetividade com relação ao mesmo. Apreciamos também tudo o que é desmedido, emocionante e assustador, como é caso de achar beleza na erupção de um vulcão, na potência de um furacão, na profundeza de um abismo etc.

4.4. SCHELLING

Schelling pensa que a arte é simultaneamente objeto concreto e produto do espírito. Há o ofício, a técnica (concreto), e a inspiração (imaterial e espiritual). O primeiro adquire-se pela experiência, o segundo, vem do inconsciente. A arte nasce dessa confluência entre o consciente e o inconsciente, o técnico e o inspirado, o discursivo e o intuitivo.

4.5. NIETZSCHE

Nietzsche vê a criação artística como a polaridade do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco. O primeiro, baseado nas formas, exprime-se nas artes plásticas; o segundo, ilimitado, e que conduz o indivíduo à saída de si mesmo, só a música e o vinho podem dar. O artista apolíneo interpreta a vida inteira como se fosse um sonho; o dionisíaco vive, sem se deter para interpretar coisa alguma, como se estivesse em estado de embriaguez. (Nicola, 2005)

5. BELEZA E RELIGIÃO


5.1. BÍBLIA

A Bíblia, de um modo geral, trata sumariamente da beleza, em vista de esta estar no campo do imediato, enquanto a religião busca a transcendência. Quando a transcendência predomina, todo o sensível passa para segundo plano.

Embora a Bíblia não tenha se aprofundado na beleza, encontramos diversas passagens que tratam do assunto. Exemplo: Sara e Rebeca são apresentadas como mulheres de beleza excepcional que cativam os homens onde quer que fossem.

5.2. “DEMÔNIO DA BELEZA”

Tudo o que é humano se deforma. O “demônio da beleza” enfeitiça o ser humano. A beleza é uma espécie de adoração, reflexo da harmonia universal. A beleza feminina é tentação para desviar o homem de sua missão. Exemplos: Sansão é seduzido e traído pela esposa; Betsabeia arrasta David para o adultério e o crime; apesar de sua sabedoria, Salomão incorreu na idolatria, cativado pela beleza de mulheres estrangeiras.


5.3. CONVERSÃO INTERIOR

O Novo Testamento, dando muita atenção à conversão interior, deixa pouco espaço para a beleza exterior das coisas. A beleza da alma é preferível à beleza de penteados, vestidos custosos e adornos.

A preocupação básica do cristianismo, não resta dúvida, foi a de impedir que um culto sensível à beleza corporal viesse desvirtuar a beleza interior do espírito. Nesse sentido, os grandes pensadores cristãos procuravam, em seus escritos, enaltecer sempre a beleza integral, verdadeiro reflexo da beleza divina. (Idígoras, 1983)


6. BELEZA E ESPIRITISMO


6.1. A MODIFICAÇÃO DA FORMA

No que tange à forma do corpo, a beleza evoluiu sensivelmente. “A forma dos corpos se modificou em sentido determinado e segundo uma lei, à medida que o ser moral se desenvolveu, o ser físico também”. Assim sendo, à medida que os instintos materiais se depuram e dão lugar aos sentimentos morais, o envoltório material, que já não se destina à satisfação de necessidades grosseiras, toma forma cada vez menos pesada, mais delicada, de harmonia com a elevação e a delicadeza das idéias.

6.2. SEMBLANTE É O ESPELHO DA ALMA

“O semblante é o espelho da alma. Esta verdade, que se tornou axioma, explica o fato vulgar de desaparecerem certas fealdades sob o reflexo das qualidades morais do Espírito e de, muito amiúde, preferir-se uma pessoa feia dotada de eminentes qualidades a outra que apenas possui a beleza plástica. É que semelhante fealdade consiste unicamente em irregularidades da forma, mas sem excluir a finura dos traços, necessária à expressão dos sentimentos delicados”.

6.3. A SUPERIORIDADE MORAL DO ESPÍRITO

Conforme o ser vai se depurando moral e intelectualmente, suas formas vão se tornando mais belas e mais harmoniosas. Nesse sentido, Allan Kardec sintetiza este tema nos seguintes dizeres: 1) que o tipo da beleza consiste na forma mais própria à expressão das mais altas qualidades morais e intelectuais: 2) que, à medida que o homem se elevar moralmente, seu envoltório se irá avizinhando do ideal da beleza, que é a beleza angélica. (Kardec, 1975, Teoria da Beleza)

7. CONCLUSÃO

O Espiritismo mostra-nos o porvir sob uma luz nova e mais ao nosso alcance. Por ele, a felicidade está mais perto de nós, está ao nosso lado, nos Espíritos que nos cercam e que jamais deixaram de estar em relação conosco.


8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.

NICOLA, Ubaldo. Antologia Ilustrada de Filosofia: das Origens à Idade Moderna. Tradução de Margherita De Luca. São Paulo: Globo, 2005.


São Paulo, janeiro de 2012

FÉ E RAZÃO


Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. A Fé: 4.1. Fé Religiosa; 4.2. A Fé Humana; 4.3. Fé Divina. 5. Razão: 5.1. Inversão de Valores; 5.2. Iluminismo; 5.3. Razão e Ciência. 6. Fé e Razão: 6.1. Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino; 6.2. Fides et Ratio; 6.3. Razão, Fé e Espiritismo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

Da antiguidade, passando pela Idade Média e alcançando a Idade Contemporânea, a fé e a razão é um tema bastante controverso. Por quê? Mas o que é a fé? E a razão? Podemos conciliar fé e razão? Como?

2. CONCEITO

Fé. Do latim fides. O termo é empregado em muitas acepções que poderiam ser divididas em profanas e religiosas. No sentido profano, significa dar crédito na existência do fato, fazer bom juízo sobre alguém, expressar sinceridade no modo de agir etc. Quando o testemunho no qual se baseia a confiança absoluta é a revelação divina, fala-se de Fé no seu sentido religioso. A Fé, neste sentido, não é um ato irracional. Com efeito, o espírito humano só pode aderir incondicionalmente a um objeto quando possui a certeza de que é verdadeiro. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)

Razão significa a faculdade de "bem julgar". Tem relação com o raciocínio discursivo. É conhecimento natural enquanto oposto ao conhecimento revelado, objeto da fé.


3. HISTÓRICO

Há duas correntes de pensamento que se cruzam: cristianismo e filosofia grega. Na antiguidade clássica grega prevalecia a filosofia e o pensamento, calcado na razão.

Na Idade Média prevaleceu a teologia, que é a fé na revelação. A filosofia era considerada a ancilla theologiae (“serva da teologia”). Embora os medievais fossem mais teólogos do que filósofos, eles se esforçaram muito para encontrar uma síntese entre a fé e a razão.

No final da Idade Média, este equilíbrio se rompe e a filosofia torna-se independente da fé e da revelação. É o aparecimento do iluminismo, em que tudo deveria ser explicado à luz da razão. É nessa época que surgem as ciências e o método teórico-experimental.

Pascal, mesmo sendo homem de ciência, se rebelara contra a suprema autonomia da ciência. Para ele, embora a ciência tenha um poder extraordinário, ela não é capaz de explicar a origem do Espírito e do Universo. 

4. A FÉ

4.1. FÉ RELIGIOSA

Fé religiosa é a crença nos dogmas das diversas religiões. A fé católica é a crença nos dogmas estabelecidos pela Igreja católica. Nesse caso, a fé pode ser cega ou raciocinada. Há um dogma, por exemplo, o da “Santíssima Trindade”. Podemos crer cegamente, ou raciocinar em cima dele. A fé cega, não examinando nada, aceita tanto o falso quanto o verdadeiro. Como a maioria das religiões pretende estar de posse da verdade, convém verificar se os seus dogmas tendem para a verdade ou para o erro. Paulo resumiu as características fundamentais da fé religiosa nos seguintes termos: “Fé é a garantia das coisas esperadas e a prova das que não se veem” (Hebr., II, 1) 

4.2. A FÉ HUMANA

De acordo com a teologia, a fé é um assentimento da inteligência, motivado na autoridade alheia: se essa autoridade é humana, a fé chama-se humana. De acordo com o Espiritismo, a fé humana é caracterizada pela aplicação de nossas faculdades às necessidades terrestres. Um exemplo: o homem de gênio que persegue a realização de alguma grande empresa triunfa se tem fé, porque sente em si que pode e deve alcançar, e essa certeza lhe dá uma força imensa.

4.3. A FÉ DIVINA

A fé é divina quando aplicamos as nossas faculdades às aspirações celestes e futuras. Ela diz respeito à crença, à adoração de um ente superior. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, explica-nos que embora queiramos separar didaticamente a fé humana da fé divina, ela é ao mesmo tempo humana e divina, pois a nossa confiança em algo não está separada da confiança em Deus. Isto simplesmente porque a fé, em primeiro lugar, é inata. Somente depois é que se torna humana, cega, raciocinada, religiosa. (1984, cap. XIX, item 12)

5. RAZÃO

5.1. INVERSÃO DE VALORES

Na antiguidade, a razão estava aliada ao raciocínio, à dialética, no sentido de se buscar a verdade das coisas. Se ela tivesse seguido o seu curso normal, teríamos o ser humano voltado para Deus e não para matéria, como vemos hoje. Endeusamos a razão e não o raciocínio, a inteligência, a consciência, o autoconhecimento. A razão humana deveria ser aplicada para formar o homem integral, o homem cósmico e não o homem-máquina, o homem-técnica, desprovido de valores morais superiores. 

5.2. ILUMINISMO

O iluminismo francês está centrado em Voltaire, Montesquieu e Rousseau, entre outros. Apesar das diferenças de abordagem de cada pensador, há pelo menos dois pontos em comum: confiança na razão e repúdio à religião. Immanuel Kant (1724-1804) é o representante máximo do iluminismo alemão. O iluminismo kantiano é a saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. A minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. O sapere aude! kantiano tornou-se o lema do iluminismo. 

5.3. RAZÃO E CIÊNCIA 

A razão suspeitava de tudo. Para a comprovação dos fatos, precisava de provas, de fórmulas matemáticas. Daí, o aparecimento das diversas ciências, cujo conhecimento, que se tornava específico, ia cada vez mais se desmembrando do tronco comum da filosofia. O método teórico-experimental, em todos os campos do saber, prepara a revolução industrial. É de se notar que a revolução científica, que nasce com o renascimento, foi uma revolução do saber; a que nasce com a revolução industrial, é uma revolução da energia.

6. FÉ E RAZÃO

6.1. SANTO AGOSTINHO E SANTO TOMÁS DE AQUINO

Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação.

6.2. FIDES ET RATIO

Para o papa João Paulo II, em sua décima segunda Encíclica, Fides et Ratio, de 14 de setembro de 1998, fé e razão constituem as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Segundo o seu ponto de vista, foi Deus quem colocou no coração do ser humano o desejo de conhecer a verdade. Para provar a sua tese, faz uma síntese das inter-relações entre filosofia, ciência e religião. Conclui que nem a ciência e nem a razão (filosofia) podem prescindir da fé, sob pena de se desviarem da própria verdade.

6.3. RAZÃO, FÉ E ESPIRITISMO

Para o Espiritismo, Razão e Fé pertencem à essência da natureza humana. São potências que se atualizam no decurso das existências. Parte do geral indiferenciado (reino mineral) para a diferenciação progressiva (reino vegetal, animal e hominal), buscando, sempre, a perfeição. A Razão e a Fé estão centradas no eixo, que é a Vontade. Esta, por sua vez, assenta-se no Livre-Arbítrio, princípio de liberdade, sem o qual a Razão de nada serviria e a Fé não teria sentido. (Pires, 1983, p. 47)

7. CONCLUSÃO

A fé, direcionada pela razão, encaminha-nos para a atualização do nosso ser. Para a realização de nossas tarefas, creiamos em nossas próprias forças. Não nos esqueçamos, contudo, de pedir humildemente o beneplácito do divino amigo.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

PIRES, J. H.. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, 1983 

São Paulo, maio de 2010.


Às vezes temos a vaga esperança de que compreendemos tudo, que entendemos o real significado das coisas, mas não é bem assim, pois a necessidade da prática faz-nos ver que continuamos leigos nos mistérios da vida. (Jose Roberto Cardoso)





Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Origem Histórica das Virtudes Cardeais. 4. Sabedoria ou Prudência (1ª Virtude Cardeal). 5. Fortaleza ou Coragem (2ª Virtude Cardeal). 6. Temperança (3ª Virtude Cardeal). 7. Justiça (4ª Virtude Cardeal). 8. A Contribuição do Espiritismo. 9. A Paciência, um Exemplo. 10. Conclusão. 11. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

Presentemente, há um esquecimento da palavra virtude. Diz-se que ela sobrevive apenas nos dicionários. E o que dizer das virtudes cardeais? Elas também estão esquecidas? Como reavivá-las? Quais são essas virtudes, ditas cardeais? Por que o termo cardeal? O que ele quer dizer?

2. CONCEITO

Virtude é uma disposição estável em ordem a praticar o bem; revela mais do que uma simples potencialidade ou uma aptidão para uma determinada ação boa: trata-se de uma verdadeira inclinação. Os seus significados específicos podem ser reduzidos a três: 1º capacidade ou potência em geral; 2º capacidade ou potência do ser humano; 3º capacidade ou potência moral ser humano. (Abbagnano, 1970)

Cardeal. A palavra cardeal vem de gonzo (dobradiça). São as virtudes fundamentais nas quais todas as outras se apoiam. São as virtudes básicas para toda e qualquer ação do ser humano. As virtudes cardeais são quatro, a saber: prudência (sabedoria), fortaleza (coragem), temperança e justiça.

3. ORIGEM HISTÓRICA DAS VIRTUDES CARDEAIS

Platão, no seu livro República, ao reportar sobre as qualidades da cidade, descreveu as quatro virtudes que uma cidade devia possuir. Para ele, as virtudes fundamentais eram: Sabedoria, Fortaleza, Temperança e Coragem. Posteriormente, convencionou-se chamar essas virtudes de cardeais, ou seja, fundamentais, em que tudo o mais devia girar. Observação: Platão desenvolveu primeiramente as virtudes na cidade; somente depois é que as vinculou à conduta humana, pois achava que a conduta citadina ou pessoal não tinha diferença alguma.

Na cidade boa e reta, cada qual deve participar da felicidade conforme a sua natureza. Daí, o princípio estabelecido por Platão para reger a cidade: cada qual deve cuidar de agir conforme a sua natureza, ou seja, para aquilo pelo qual nasceu, promovendo a unidade da cidade. Em suas lucubrações, caberia ao filósofo, a tarefa de cuidar do governo da cidade. Achava que os filósofos, por serem sábios, teriam mais condições de encaminhar todas as atividades para o bem comum.

4. SABEDORIA OU PRUDÊNCIA (1ª VIRTUDE CARDEAL)

Para Sócrates, a cidade é sábia, pois é dotada de certa ciência, ciência esta que pode escolher o que é melhor, ocasionando a boa deliberação. Participar dessa ciência, a única dentre todas as ciências que deve chamar sabedoria. A sabedoria é saber escolher, o deliberar bem, tendo em vista o todo. A sabedoria faz o guardião (no caso o rei-filósofo) a escolher o que é melhor para a cidade. É também saber se comportar consigo mesmo e junto aos demais seres humanos. (Reis, 2009, cap. I)

A prudência, assim, refere-se à conduta racional do ser humano, ou seja, à capacidade de bem dirigir os eventos, tanto pessoais quanto públicos. Não é um conhecimento elevado, uma sapiência livresca, mas o conhecimento das atividades humanas e da melhor maneira de conduzi-las.

Prudência (sabedoria) é aquela virtude que permite ao entendimento reflexionar sobre os meios conduzentes a um fim racional. Há uma prudência (sapiência) para conduzir a si mesmo e aos outros. A prudência exige: reflexão, capacidade atencional, para examinar os juízos e as ideias, e acuidade, para descobrir os meios mais hábeis.

Sabedoria é uma compreensão superior do mundo e da vida, acumulada através da experiência e da meditação. O trabalho do filósofo é uma ação voltada para a busca do saber. Ironizado e desprezado, vivendo em meio à humildade, à pobreza e à castidade, segue a vocação que o destino lhe traçou.

Para Platão, a phronesis (sabedoria), mesmo quando dirige a ação, o faz elevando-se acima de si mesma, isto é, na medida em que é um conhecimento transcendente adquirido na contemplação da Idéia do Bem.

5. FORTALEZA OU CORAGEM (2ª VIRTUDE CARDEAL)

A cidade será corajosa ou covarde. Ela tem potência capaz de preservar a opinião reta e legitima. Sócrates compara a coragem à preservação da opinião reta. A opinião reta pode sofrer o abalo das vicissitudes: sofrimento, prazeres, apetites etc.

Em linhas gerais, Platão define-a como "a opinião reta e conforme à lei sobre o que se deve e sobre o que não se deve temer" (Rep. IV, 430 b). Como virtude que constitui a firmeza de propósitos, a coragem é considerada a principal das virtudes.

Ele diz que o prazer, o sofrimento, o temor e os apetites funcionam como "detergentes que são terríveis para tirar a cor" (Rep. IV, 430 a-b)

Platão compara essa força ao guerreiro, que tem a força capaz de preservar a opinião reta e legitima, apesar das asperezas das contradições.

Firmeza (coragem) é a capacidade de enfrentar obstáculos. A paciência, subordinada à fortaleza, é a capacidade constante de enfrentar as adversidades.

6. TEMPERANÇA (3ª VIRTUDE CARDEAL)

Temperança, segundo Sócrates, é uma ordenação e ainda um poder sobre certos prazeres. Nesse caso, a temperança refere-se à contenção dos prazeres sensitivos dentro dos limites estabelecidos pela razão. A moderação é a temperança no comer; a sobriedade é a temperança no beber; a castidade é a temperança no prazer sexual.

7. JUSTIÇA (4ª VIRTUDE CARDEAL)

No estabelecimento da cidade, Platão disse que "cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, aquela para a qual a sua natureza é mais apta por nascimento" (Rep., V, 433 c). isto equivaleria também à justiça, pois implica "executar a tarefa própria e não fazer a dos outros". (Rep., IV, 433 a)

Pode-se dizer, também, que a justiça consiste na atribuição, na equidade, no considerar e respeitar o direito e o valor que são devidos a alguém, ou alguma coisa. Em se tratando das virtudes cardeais, a justiça é considerada a principal delas, pois se não houver justiça, a temperança, a coragem e a prudência podem encaminhar para os seus contrários, que são os vícios.

8. A CONTRIBUIÇÃO DO ESPIRITISMO

Compulsando O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos encontraremos subsídios valiosos para uma melhor compreensão das virtudes cardeais e das que lhe são subordinadas, tais como a paciência, a obediência e a resignação. Os Espíritos de luz, com conhecimentos muito mais apurados que os nossos podem, pela mediunidade, transmitir-nos informações mais relevantes sobre a caridade, a amizade e o perdão.

9. A PACIÊNCIA, UM EXEMPLO

"A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela dor, neste mundo, vos marcou para a glória no céu. Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.

A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém, atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que, por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o alto, do que quando se curva para a terra a fronte.

Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Mais sofreu ele do que qualquer de vós e nada tinha de que se penitenciar, ao passo que vós tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o futuro. Sede, pois, pacientes, sede cristãos. Essa palavra resume tudo". - Um Espírito amigo. (Havre,1862.) (Kardec, cap. IX, item 7)

10. CONCLUSÃO

Hoje, as virtudes cardeais estão esquecidas e têm apenas um valor fiduciário. Este esquecimento é a origem de muitas desordens, tanto na vida pública como na vida privada. Reflitamos sobre elas e solidifiquemos o seu sentido original, que era o da reta razão e o do crescimento espiritual do ser humano.

11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

REIS, Maria Dulce. Psicologia, Ética e Política: a Tripartição da Psykhé na República de Platão. São Paulo, Loyola, 2009.