domingo, 20 de maio de 2018



O RAMO DA ACÁCIA

Há algum tempo venho me preocupando com os rumos que está tomando a Arte Rela junto à modernidade.

Fala-se muito em adaptar a maçonaria aos tempos atuais e isto está levando ao desaparecimento das antigas tradições e dando origem a associações do tipo "clube do bolinha".

Os conceitos históricos, as lendas e alegorias, estão sendo deixadas de lado. 

Embora o ensinamento esteja calcado no método indutivo, me parece que se tornando decorativo, ou seja, sem a absorção daquilo que se propõe ensinar  para toda a vida.

Encontrei o texto abaixo de José Ruah, colocado no do site "A Pedra Oculta" , por Rui Bandeira, no qual ele referencia a alegoria do Ramo de Acácia, que é interessante para que possamos adquirir sua real dimensão.

Sou daqueles que acredita que sem o misticismo, o esoterismo e os mistérios antigos e históricos, não existe a Sublime Arte.

(José Roberto Cardoso - Pedreiro de Cantaria)


"O Ramo de Acácia"

A Maçonaria elegeu como um dos seus símbolos a Acácia, outros, e apenas a título de exemplo, são o Esquadro e o Compasso.

Porquê a Acácia e não o Cedro? Sabemos pela tradição e pela História que estas madeiras foram usadas no Templo de Salomão, base simbólica da Maçonaria Especulativa tal como a conhecemos actualmente.

Aliás o Cedro é muito mais mencionado como material de construção do Templo que a Acácia, mas não é utilizado na simbologia Maçónica.

E a Acácia, ou mais propriamente o Ramo de Acácia (Inglês: Sprig; Francês: Rameau) passou a ser claramente um símbolo.

As primeiras referências à Acácia aparecem no Antigo Testamento no Livro do Êxodo. Aqui Deus determina que será esta a madeira e não outra a que será utilizada para a construção da Arca a Aliança onde estão depositadas as Tábuas da Lei, bem como para a construção da mesa Para os Pães da Preposição e outros objectos de culto utilizados naquele que foi na verdade o primeiro Templo.

Não um templo de pedra como o que o rei Salomão constrói ( ou manda construir), mas um templo móvel que era erguido nos acampamentos do Povo Judeu.

A estrutura deste Templo Móvel é depois emulada por Salomão para a construção do Templo em Jerusalém, respeitando as proporções e os compartimentos. Nesse Templo foi depositada a Arca da Aliança e os demais objectos de culto.

Ora o Templo era revestido a cedro, mas os Objectos de Culto em Acácia.

O termo hebraico é Shittah e pensa-se que referencia a espécie de Acácia hoje conhecida por Nilotica ou Seyal. Sendo que na região também existem a Albida, Tortilis e Iraqensis.

Mas esta referência é à madeira de Acácia. Todavia como já disse antes o Símbolo é o Ramo de Acácia.

E as referencias ao Ramo de Acácia aparecem também relacionadas com os Hebreus, mas não com o Templo.
De entre as tribos do Povo Judeu uma originou a linhagem dos Sacerdotes. Primeiro no Templo móvel e depois no Templo de Jerusalém. Ora por uma questão religiosa estes Sacerdotes não podiam aproximar-se de cadáveres humanos e por consequência das respectivas campas.

Na altura os cemitérios não estavam tão organizados como actualmente e os defuntos eram inumados nos terrenos fora das cidades mas muitas vezes sem critérios de localização. Ora isto representava um problema para os Sacerdotes pois para cumprirem os preceitos religiosos tinham que saber onde estavam essas campas.

Como sabemos a Acácia é considerada em muitos sítios uma praga, pois precisa de poucos recursos para viver e em caso de incêndio é a primeira planta a aparecer, não deixando que as espécies autóctones voltem e assim causando desequilíbrios ambientais.

Esta característica seguramente levou a que as campas passassem a ser marcadas com um Ramo de Acácia para assim serem facilmente reconhecidas pelos Sacerdotes.

Daqui à Lenda de Hiram é um passo, pois a lenda situa no espaço e no tempo a estória da morte de Hiram , espaço e tempo que são os que acabo de referir , Jerusalém na época da construção do templo.

Na Lenda Hiram é assassinado e o seu cadáver enterrado fora da cidade para encobrir o crime. Todavia a regra mandava marcar a sepultura com um Ramo de Acácia.

Temos aqui a ligação.

Hoje o ramo de acácia continua a ser usado como símbolo, sendo que e tanto quanto consegui perceber é o Ramo da Acácia Nilotica ou Seyal, ou eventualmente o da Acácia Robinia.

Ficam aqui as imagens da acácia nilótica.



Jose Ruah

terça-feira, 15 de maio de 2018


Grande Loja “Antiga” de Wigan – A última rebelião maçônica inglesa (1823-1913)


Luciano Rodrigues

Introdução

Em 1813, finalmente foram unificadas, as Grandes Lojas dos Antigos e dos “Modernos”. Mas nem tudo foi tranquilo, algumas lojas “antigas” se rebelaram contra as novas autoridades e decidiram refundar sua antiga Grande Loja, que ficou em operação até 1913.

Em 22 de dezembro de 1823, na Taverna Shakespeare, em Williamson Square, Liverpool, houve uma reunião de “conspiradores maçônicos”.

A porta da loja foi fechada e a loja guardada pelo Grande Cobridor, os maçons presentes observavam como o irmão Michael Alexander Gage ocupava a cadeira de presidente da loja.

A loja abriu no grau de mestre e a ata da reunião anterior foi lida. A última reunião, de 21 de julho, tinha sido adiada, mas agora poderiam concluir suas deliberações e esperar que esta reunião pudesse mudar para sempre a Maçonaria Inglesa.

A razão para a realização desta reunião era permitir que os rebeldes instalassem o primeiro Grão-Mestre e os Oficiais de uma nova Grande Loja.

O novo Grão-Mestre e os oficiais foram eleitos e feita a leitura em voz alta para um público ansioso, de uma nova “Carta Magna de Liberdade Maçônica”.

As causas que levaram ao restabelecimento da Grande Loja dos Antigos, foram publicadas nos jornais de Londres, com uma declaração pública, garantindo assim que chegaria aos ouvidos da Grande Loja Unida.

A rebelião foi bem-sucedida, mas as queixas para se restabelecer a Grande Loja dos Antigos, eram baseadas nas antigas constituições de York, que tinham suas raízes a um século atrás.

O início das discordâncias

Com a revisão do ritual por Desaguliers e James Anderson na década de 1720, muitos dos maçons tradicionais ficaram alarmados com as mudanças drásticas. E um dos principais é que os dois graus maçônicos que existiam no século 17, a partir da década de 1720 foram convertidos em três pela Grande Loja Unida, usando o mesmo material.

Uma das primeiras cidades a se declarar como separada da Grande Loja, foi York, e em 27 de dezembro de 1725 formou a chamada “Grande Loja de Toda a Inglaterra, com sede em York”, se baseando em uma tradição de que o príncipe Edwin supostamente havia presidido uma reunião de maçons em York.

Esta Grande Loja de York continuou a funcionar até 1792 e sobreviveu ainda aos primeiros anos do século 19.

A formação da “Grande Loja da Inglaterra segundo as Antigas Constituições”, também conhecida como Grande Loja dos Antigos, aconteceu em Londres em 1751, e seu Grande Secretário foi Lawrence Dermott.

As diferenças se tornaram uma amarga disputa e só se reconciliaram em 1813, quando o duque de Sussex, auxiliado por seu irmão, o duque de Kent, fundiram os Modernos com os Antigos, criando a 

Grande Loja Unida da Inglaterra.
Ata de fundação da Grande Loja de Wigan

Uma constante oposição à união.

Apesar da união, um descontentamento por alterações nos rituais provocou discussões acaloradas em muitas lojas. Lancashire, uma província que tinha sido ignorada por seu Grão-Mestre Provincial, Francis Dukinfield Astley, sofreu durante esse período.

Era uma província grande, e a maior parte do trabalho do controle maçônico era encargo do Vice Grão-Mestre Provincial, Daniel Lynch, que tinha que interagir com as lojas que tinham testemunhado a União.

Um maçom de Liverpool foi quem instigou a rebelião. Michael Alexander Gage era um alfaiate de Liverpool e Past Master da Loja nº 31, uma antiga loja com sede em Liverpool. Em uma reunião da Grande Loja Provincial realizada em 1818 em Hanging Ditch, ele apresentou uma moção sobre a regulamentação de uma loja.

Quando tal moção foi ignorada pelo Grão-Mestre da Grande Loja Unida, Gage começou conspirações para a independência, com um discurso na Grande Loja Provincial, observando a arrogância do Duque de Sussex e a falta de interesse da Grande Loja Unida.

Em 1822, a Grande Loja Unida decidiu que William Meyrick, o Chanceler da Grande Loja Unida, deveria ocupar o cargo de Grão-Mestre Provincial, naquela Província.

Curiosamente, Astley manteve o seu título como Grão-Mestre Provincial e Meyrick ignorou a loja de Gage, a Nº 31, que foi excluída da lista de lojas, sua carta patente anulada por má conduta e Gage e seguidores foram suspensos.

A dissidência de Lancashire começou a se estender e começou uma disputa entre a Grande Loja Unida e os dissidentes.

Em 5 de Março de 1823, a Grande Loja Unida finalmente expulsou vinte e seis irmãos, declarando que os rebeldes “foram considerados culpados de vários atos de insubordinação contra a autoridade da Grande Loja” e “Eles não tinham apresentado um pedido de desculpas satisfatória, sobre a sua má conduta”.

Suas atividades de rebelião foram descritas como um “insulto” e os irmãos “violaram as leis do Craft”, que foram enviados ao ostracismo.

Gage e seus seguidores estavam agora livres para reviver a Grande Loja dos Antigos.Aventais utilizados na Grande Loja de Wigan, dois utilizados no Arco Real e um avental de mestre maçom (azul).

Uma nova Grande Loja

Assim foi que a “Grande Loja de Maçons Livres e Aceitos da Inglaterra de acordo com as antigas constituições” se reuniu pela primeira vez em julho de 1823, e a “Carta Magna da liberdade maçônica” foi lida nessa reunião na taverna Shakespeare em dezembro.

A Grande Loja se reuniu em Wigan em 1 de março de 1824, e até 1825, só ficou ali.

No início de 1840 contava com lojas em Ashton-in-Makerfield, Wigan, Liverpool, Barnsley e tinha estabelecido contato próximo com uma loja antiga em Lynn Regis, Norfolk, provavelmente porque Gage era daquele lugar e tinha relações com a cidade.


Selo da Grande Loja de Wigan

Emissão de Cartas Patentes

Como a Grande Loja de Wigan, começava lentamente a estender sua influência, novas cartas patentes foram emitidas para lojas sob o seu domínio, agora numeradas.

Só haviam cinco lojas que foram, posteriormente, numeradas de 1 a 5, embora a loja de Barnsley tenha optado por sair da Grande Loja de Wigan.

A emissão das cartas, irritou Gage, que, embora ele não estivesse envolvido com a Grande Loja a mais de quinze anos, ou com qualquer outra loja regular, mas sempre tinha se utilizado do título de Grão-Mestre Adjunto embora ignorasse as atividades do cargo.

Gage também ficou incomodado pela violação da “Carta Magna”, pois na criação da Grande Loja de Wigan, tinha sido estabelecido que o número das lojas seriam os mesmos números utilizados antes da União.

Em 1842, Gage escreveu uma longa carta de renúncia, que descrevia seu sentimento por não ter sido consultado em relação a emissão de novas Cartas Patentes.

Ele era um homem orgulhoso, que tinha sido responsável por instigar a formação da Grande Loja da Wigan, e estava ferido por essa decisão.

Apesar da frieza de Gage, ele era o líder espiritual dos “Antigos” e em resposta à sua renúncia, Gage foi descrito pelo Grão-Mestre como um homem que “os tiranos do mundo maçônico observavam com medo”.

A Grande Loja tinha evoluído e finalmente se edificou firmemente em Wigan. Gage se estabeleceu em Liverpool, e embora aparentemente mostrasse falta de interesse pela Maçonaria, mantinha um sentido de importância quando ocupava seu lugar na Grande Loja de Wigan.

Sua falta de interesse pode ter sido consequência da localização da Grande Loja, em Wigan, ou por causa de sua família, devido a uma mudança em sua carreira. Ele permaneceu um rebelde até o fim e, finalmente, se rebelou contra os rebeldes. Ele sempre foi um teimoso, apaixonado e arrogante em sua fase como opositor. Ele mantinha o respeito de seus irmãos rebeldes que sem Gage não teriam criado a Grande Loja da Wigan.

Os rebeldes canalizaram seu protesto através da formação da Grande Loja de Wigan e seu sucesso se manifestou nos efeitos que tiveram na Grande Loja Unida.

Após a renúncia de Gage, a Grande Loja da Wigan continuou a se reunir até 1866, quando havia apenas uma loja associada.

Gage morreu no ano seguinte e é tentador sugerir que assim como a Grande Loja de York antes dela, a Grande Loja da Wigan só sobreviveu tanto quanto o seu fundador.

A única loja sobrevivente, a Loja “Sincerity”, obstinadamente continuou isolada e solitária. Ela se rendeu em 1913, retornando à Grande Loja Unida, finalmente, se afastando da vontade de Michael Alexander Gage.

Bibliografia

The Liverpool Masonic Rebellion and The Wigan Grand Lodge – The Last Masonic Rebellion – David Harrison

terça-feira, 8 de maio de 2018

JACOBISMO IRLANDÊS E MAÇONARIA


Tradução J. Filardo

Por Sean Murphy


Jacobitismo e Maçonaria são dois assuntos que no passado foram negligenciados ou desconsiderados por historiadores profissionais. O jacobitismo, naturalmente, foi vítima da vitoriosa interpretação Whig da história, embora nos últimos anos tenha sido objeto de um crescente corpo de trabalho na Grã-Bretanha, e agora está sendo estudado mais de perto também na Irlanda. A Maçonaria tem sido negligenciada em um grau ainda maior, sendo considerada em alguns setores como um assunto melhor deixado à atenção de entusiastas maçônicos, aqueles com os ‘pés firmemente plantados nas nuvens’. No entanto, a Maçonaria, e em particular as questões de suas origens e seu papel na era do Iluminismo e da revolução, são agora cada vez mais objeto de estudos acadêmicos, e o interesse também se agita na Irlanda.

Embora a relação entre radicalismo e maçonaria no século XVIII tenha sido a área mais estudada, a conexão entre o jacobitismo e maçonaria está agora recebendo mais atenção. Nesse artigo, consideraremos o jacobitismo irlandês e a maçonaria juntos no período entre o final do século XVII e meados do século XVIII, e veremos que havia ligações íntimas e significativas entre os dois movimentos. As fontes usadas nesta pesquisa preliminar são em grande parte secundárias e às vezes pouco mencionadas, e dificilmente é necessário acrescentar que pesquisas adicionais e mais detalhadas sobre documentos não publicados em arquivos na Irlanda, Grã-Bretanha e Europa são necessárias.

O movimento jacobita tinha como objetivo principal a restauração dos Stuarts aos tronos da Inglaterra, Escócia e Irlanda, na pessoa, primeiro de James II e posteriormente de seu filho James III, o “Velho Pretendente”, e seu neto, Príncipe Charles Edward, o Jovem Pretendente. Os jacobitas procuraram principalmente a França para ajudar a recuperar o que eles viam como sua herança legítima, e como é bem conhecido, o forte componente irlandês e principalmente católico do movimento esperava, através de uma restauração Stuart, reverter a expropriação que havia seguido as vitórias Williamitas de 1688-91, e que foram mantidas pela sucessão hanoveriana em 1714.

A Maçonaria foi e continua a ser uma fraternidade secreta ou pelo menos semi-secreta com um sistema arcano de ritual e propósitos sociais e filantrópicos declarados, mas que também tem periodicamente atraído suspeitas de possuir agendas políticas ou de interesse próprio ocultas. Uma distinção importante é feita entre a maçonaria operativa original, quando apenas os trabalhadores maçons eram membros e a maçonaria “especulativa” posterior, que atraiu e que, eventualmente, passou a ser dominada por aqueles que não trabalhavam no ofício. O retrato de Deus como um benigno Grande Arquiteto do Universo, o uso de simbolismo quase mágico, o desenho de analogias morais a partir de boas práticas de construção, progressão por graus, lendas sobre o Templo de Salomão, Egito antigo e os Cavaleiros Templários. Esses e outros elementos esotéricos da Maçonaria continuam a fascinar tanto os devotos modernos quanto os adeptos durante a Era da Razão.

Acreditava-se anteriormente que a Maçonaria tinha suas origens na Inglaterra, de onde se dizia ter se espalhado para a Escócia, Irlanda, Europa, América e outros lugares. Entretanto, em uma contribuição importante para a historiografia maçônica séria, David Stevenson mostrou que a Maçonaria realmente se originou na Escócia por volta de 1600, quando a mitologia medieval e as ideias místicas da Renascença foram misturadas nas lojas de pedreiros para criar o movimento moderno! Argumentou-se também de forma persuasiva que a ascensão de James VI da Escócia aos tronos da Inglaterra e da Irlanda como James I proporcionou a oportunidade pela qual a Maçonaria pode se espalhar para esses países e, além disso, havia desde o início uma conexão íntima entre o movimento e a dinastia Stuart.

Embora exista pouca documentação sobre a Maçonaria Irlandesa durante a maior parte do século XVII, fica-se impressionado com a concentração na parte norte da Irlanda de lápides e móveis desse período exibindo imagens maçônicas como o esquadro e o compasso. Uma das primeiras lápides maçônicas sobreviventes está em Bangor Abbey, Co. Down, e é a de William Stennors, um mestre pedreiro que morreu em 1627. Foi plausivelmente sugerido que Stennors pode ter sido trazido da Escócia por um dos mais proeminentes donos de plantações, James Hamilton, de Ayrshire, mais tarde Conde de Clandeboye. A carreira variada de Hamilton incluiu um período como professor de escola e reputado agente secreto de James VI em Dublin, a partir de 1587, e ele também foi nomeado membro do recém-criado Trinity College de Dublin.’ À luz do que hoje se sabe sobre as origens escocesas da Maçonaria e o fato de que os pedreiros têm sido numericamente mais fortes em Ulster, é provável que colonos escoceses como Hamilton possam ter atuado como o principal canal para a introdução do movimento na Irlanda durante os períodos tardios de Tudor e início de Stuart.

A mais antiga referência documental à Maçonaria na Irlanda está contida em um discurso satírico proferido no Trinity College Dublin em 1688 por um estudante chamado John Jones, um amigo de Swift. Jones se referiu ao estabelecimento de uma fraternidade de maçons no e ao redor do Trinity College, composta de cavalheiros, mecânicos e porteiros, e mencionou também a descoberta de uma marca de maçom no corpo de um certo Ridley.” Os comentários jocosos de Jones indicam que sua audiência devia estar bem familiarizada com o conceito de Maçonaria, e que a organização não era uma mera novidade em Dublin. Além de Ulster e Dublin, outro lócus da maçonaria antiga parece ter sido Munster, entre famílias de colonos ingleses ligados a Richard Boyle, o Grande Conde de Cork, tais como os Parsons, St. Legers e Kings.

A ligação específica mais antiga da maçonaria com o jacobitismo também data do final do século XVII e assume a forma de uma tradição de que uma loja maçônica estava ativa em 1688 em uma unidade militar irlandesa. Em 1772, a loja francesa Parfait Egalité, no Regimento de Walsh, conseguiu assegurar o reconhecimento de sua reivindicação de datar sua constituição a partir de 25 de março de 1688. Este regimento era anteriormente chamado de Real Irlandês e exilou-se na França após a derrota jacobita em 1691. Ele foi renomeado Regimento de Walsh depois de 1770 em referência ao seu comandante Antoine Joseph Philippe Walsh. Walsh era um membro de uma família proeminente em seu apoio ao jacobitismo, e seu ancestral, James Walsh de Ballynacooly, Co Kilkenny tinha comandado o navio no qual James II escapou para a França após a Batalha do Boyne. ”

A Maçonaria Irlandesa manifestou-se publicamente pela primeira vez na década de 1720, através da formação de uma Grande Loja, ou órgão governamental nacional. Uma Grande Loja Inglesa havia sido formada em 1717, dois anos após a Rebelião Jacobita de 1715, e o propósito primordial deste desenvolvimento parece ter sido assumir o controle da Maçonaria das mãos de elementos Tory-Jacobitas, criando efetivamente um movimento Whig-Hanoveriano, a partir do qual, pelo menos formalmente proibia-se a discussão política em lojas”. Tão bem sucedida foi essa manobra, que as raízes escocesas e pró-Stuart da Maçonaria foram, em última instância, em grande parte esquecidas, e a Maçonaria Jacobita passou a ser vista como uma versão aguada da corrente pura e original inglesa.

O estabelecimento de uma Grande Loja Irlandesa por volta de 1723 ou 1724 pode ter sido influenciado pelo exemplo inglês e teve uma motivação semelhante. O primeiro relato jornalistico detalhado sobre a maçonaria irlandesa descreve uma reunião em Dublin, em 23 de junho de 1725, que elegeu Richard Parsons, segundo visconde e primeiro conde de Rosse, como grão-mestre para o ano seguinte. A reportagem retrata uma organização obviamente completa, levando à inferência de que a Grande Loja Irlandesa havia sido formada em algum momento nos anos anteriores.

O primeiro conde de Rosse era uma personagem interessante, mais lembrado por seu comportamento libertino e alegadas associações com o Clube do Inferno (Hellfire Club) do que por sua conexão com a Maçonaria “. Rosse era o tataraneto de Sir William Parsons, que ocupara, entre outros cargos, o cargo de inspetor-geral da Irlanda, cargo em que estava envolvido na Plantação de Ulster. Embora evidência documental para provar o ponto esteja faltando, é bem possível que o segundo conde de Rose tenha sido nomeado grão-mestre irlandês em 1725 como resultado das associações anteriores de sua família com a Maçonaria, da mesma maneira que Sir William Sinclair de Roslin foi nomeado grão-mestre da Escócia, em 1736, devido às conexões íntimas de sua família com a maçonaria naquele país. ”

Os grandes vigilantes durante o grão mestrado do Conde de Rosse eram Sir Thomas Prendergast e Marcus Anthony Morgan, ambos firmes defensores do establishment hanoveriano. O grande-secretário era Thomas Griffith, ator importante que servia como vigia de maré no porto de Dublin, e os deveres desse último funcionário alfandegário incluíam a prisão daqueles que recrutavam ou procuravam entrar a serviço do Pretendente. À primeira vista, a associação de Rosse com tais homens na nova iniciativa da Grande Loja indicaria que ele era pró-Hanoveriano. No entanto, sua política era, na verdade, difícil de definir e, como veremos, em determinado momento ele seria acusado diretamente de inclinações jacobitas.

Os anos 1726-29 foram denominados “período obscuro” pelos historiadores oficiais da Maçonaria Irlandesa, e eles relacionam isso à provável luta entre jacobitas e hanoverianos pelo controle do movimento. Em 1726, a imprensa de Dublin apresentou relatos de atividades jacobitas, bem como a adoção da causa jacobita pelo principal maçom inglês, o duque de Wharton. Dois dias depois de um tumulto sério em Dublin em 9 de junho de 1726, o aniversário do Pretendente, houve um relato obviamente falso, mas ainda assim sugestivo de que o conde de Rosse aparecera trazendo rosas brancas, um símbolo jacobita, provocara uma briga com um oficial do exército e fora morto.

Referências detalhadas à Maçonaria Irlandesa não reapareceram na imprensa de Dublin até 1731 e é provável que algum tipo de renascimento ou renovação estivesse em andamento, mas não necessariamente um em que o elemento Hanoveriano fosse dominante. Em uma reunião na Bull’s Head Tavern, em Fishamble Street, em 6 de abril de 1731, James King, quarto barão Kingston, que antes atuara na maçonaria inglesa, foi eleito grão-mestre da maçonaria irlandesa para o ano seguinte. A família King havia se estabelecido na Irlanda durante o reinado da rainha Elizabeth e possuía propriedades em Boyle, Co Roscommon e Mitchelstown, Co Cork. O pai de Kingston, John, o terceiro barão, renunciou ao protestantismo pelo catolicismo, apoiou James II e o seguiu no exílio. Embora o terceiro Barão fosse perdoado em 1694 e retornou à Irlanda, é claro que ele permaneceu católico e que ele e seu filho continuaram suspeitos de nutrir lealdades jacobitas.

Assim, foi relatado que em junho de 1722, o mesmo ano do Atterbury Plot, o terceiro Barão Kingston estava sob custódia do alto xerife de Cork, sob suspeita de que seu filho estava ocupado recrutando homens para o serviço do Pretendente”. Tendo recebido pedidos de assistência de Kingston, o arcebispo William King escreveu-lhe no mesmo mês afirmando que o assunto só poderia ser resolvido através dos tribunais. King também observou explicitamente a Kingston que o país fora perturbado por um tipo de pessoas chamadas “Gansos Selvagens” e que alguns milhares haviam sido listados para o serviço do Pretendente. Apesar de não ser totalmente antipático à situação de Kingston, King também aproveitou a oportunidade para repreendê-lo por suas conexões católicas contínuas:

Eu não devo esconder de sua senhoria que é muito observado que sua família é completamente papista (sic) e que você vive tanto segundo a velha maneira irlandesa como os mestiços irlandeses do reino, o que lhe traz muitos inconvenientes. ”

James, o quarto Barão Kingston, nascido na França em 1693, obteve o título com a morte de seu pai em fevereiro de 1728, e está claro que ele logo decidiu minimizar os “inconvenientes” mencionados pelo arcebispo King. O novo lorde Kingston ocupou seu assento na Câmara dos Lordes em maio de 1728 sem registrar qualquer objeção aos juramentos anticatólicos, e em abril de 1729 foi nomeado conselheiro privado irlandês. Embora agora Kingston fosse obviamente considerado digno de confiança tanto em níveis religiosos quanto políticos pelo establishment, havia uma indicação de algumas dificuldades contínuas até 1743, quando ele foi condenado à custódia de Black Rod por não comparecer aos serviços da Câmara dos Lordes.

Kingston, conforme mencionado anteriormente, foi nomeado grão-mestre dos maçons irlandeses em 1731 e foi sucedido no posto em 1732 por Nicholas Netterville, quinto visconde Netterville de Dowth, Co Meath, membro de uma proeminente família católica e também sobrinho do primeiro conde de Rosse. O avô de Netterville, o terceiro Visconde, lutara no exército de James II, mas o próprio Netterville tomou seu assento na Câmara dos Lordes irlandesa em 1730 sem recusar os juramentos, geralmente um sinal de pelo menos conformidade religiosa exterior bem como política. O sucessor de Netterville como grão-mestre em 1733 e 1734 foi Henry Benedict Barnewalll, quarto visconde Barnewall de Kingsland, mais uma vez membro de uma proeminente família católica com conexões jacobitas e primo do primeiro conde de Rosse. O pai de Barnewall, o terceiro Visconde, novamente apoiara James e enquanto pai e filho se apresentaram à Câmara dos Lordes irlandesa em 1692 e 1740 respectivamente, eles não foram admitidos devido à sua recusa em fazer os juramentos anti-católicos, indicando que não estavam preparados para oferecer conformidade religiosa e política.

O quarto Barão Kingston serviu novamente como grão-mestre em 1735, e seus sucessores durante os anos 1736-44 foram Marcus Beresford, primeiro visconde de Tyrone, William Stewart, terceiro visconde Mountjoy, Arthur Mohun St. Leger, terceiro visconde Doneraile, Charles Moore, segundo barão Moore de Tullamore, Thomas Southwell, segundo lorde Southwell e John Allen, terceiro visconde Allen. Ninguem desse grupo possuía vínculos jacobitas óbvios, e alguns possuíam, de fato, origens impecavelmente pró-Williamitas e pró-Hanoverianas, indicando que o elemento católico-jacobita nos altos escalões da Maçonaria Irlandesa podia agora estar em declínio. O visconde Allen morreu em maio de 1745, como resultado de uma briga com alguns soldados bêbados em Dublin um mês antes, mas nenhuma evidência foi encontrada para mostrar que este incidente tinha alguma conotação política. ” No entanto, houve considerável dificuldade em encontrar um substituto para Allen como grão mestre, pois vários ex-detentores do cargo e outros nobres maçons recusaram-se a servir. Não está claro se essa relutância tinha algo a ver com a ameaça renovada de um levante jacobita, mas pode ser significativo que o fiel Lorde Kingston tenha sido quem concordou em preencher a lacuna e servir novamente como grão-mestre ”.

Tem sido apontado que é errado descartar a poesia irlandesa jacobita do século XVIII como “sentimentalismo -Charley-sobre-o-waterismo” ou como uma mera forma literária desprovida de importância, pois ela não poderia existir sem uma audiência simpática, “Por mais que uma confiança equivocada possa nos parecer em retrospecto, a massa de católicos irlandeses continuou a procurar uma restauração Stuart como um meio de acabar com sua exclusão religiosa e política. Parece notável, portanto, que o País não tenha se insurgido como a Escócia durante a última grande rebelião dos Stuart em 1745. Pareceria que as principais explicações para essa quietude estavam no fracasso dos jacobitas em desembarcar uma força de invasão na Irlanda, e na sensata decisão do lorde tenente, o conde de Chesterfield, de evitar uma reação exagerada e tratar os católicos irlandeses tão conciliatoriamente quanto possível.

No entanto, foi uma história diferente com os irlandeses no exterior, pois os Gansos Selvagens desempenharam um papel proeminente na rebelião de 1745 e dos famosos “Sete Homens de Moidart que acompanharam o príncipe Charles Edward à Escócia em 1745, quatro eram irlandeses”.

James II da Escócia

Poucos irlandeses podem ter sido mais comprometidos com o caso dos Stuart do que Antoine Vincent (Anthony) Walsh e Pierre André O’Heguerty, dois ricos armadores franco-irlandeses que eram empreiteiros navais e corsários que operavam em Nantes e St. Malo. Continuando a tradição familiar de apoio aos Stuart, Walsh forneceu um navio para transporte e foi um dos que desembarcaram na Escócia com o Bonny Prince Charlie em agosto de 1745, depois organizando seu resgate em setembro de 1746, quando a causa foi perdida. O’Heguerty tinha considerável influência na corte francesa e, enquanto organizava apoio material para a campanha do príncipe, também tentava persuadir os franceses a desembarcar tropas na Irlanda e na Escócia. McLynn sugere que o apoio de O ‘Heguerty aos Stuarts, incansável como foi, também pode ter sido fortemente motivado pelo desejo de alcançar a independência da Irlanda e, por volta da Gurra dos Sete Anos na década de 1750, ele ainda pressionava por uma invasão francesa da Irlanda. ‘

A conexão da família Walsh com a Maçonaria já foi mencionada, e O’Heguerty é creditado como membro de um grupo de jacobitas que fundou a primeira loja maçônica francesa em 1725. Não há dúvida de que a Maçonaria era vista pelos jacobitas como um meio importante para promover seus fins e que eles influenciaram grandemente seu desenvolvimento, tanto que algumas testemunhas chegaram a ponto de descrever a Maçonaria como uma gigantesca conspiração jacobita. Os autos no caso de uma Loja Portuguesa de Maçons irlandeses, em sua maioria, que cairam sob o jugo da Inquisição em 1738, mostram quão importante era a rede maçônica para os emigrados, e de fato alguns sacerdotes dominicanos se juntaram à loja portuguesa ‘para ter uma melhor introdução e entrar em contato com aqueles que podiam ajudá-los em seu trabalho. As lojas maçônicas ofereciam um dos poucos ambientes onde católicos e protestantes poderiam se encontrar em pé de igualdade durante a era penal, e apesar da hostilidade do Vaticano ao movimento, a maioria dos maçons irlandeses era católica no final do século XVIII, se não antes disso.

Na esteira do fracasso da rebelião de 1745, o jacobitismo como força política entrou em declínio terminal na Grã-Bretanha e na Irlanda, e embora muitos jacobitas aristocráticos tenham feito as pazes com a ordem estabelecida, parece ter havido uma tendência, entre os médios e apoiadores de classe baixa de transferir sua lealdade à política radical “. Assim, dentro de alguns anos depois de 1745, alegações não totalmente implausíveis foram feitas de que o radical Charles Lucas estava sendo apoiado por papistas e jacobitas. No longo prazo, o cultivo do jacobitismo irlandês de uma “linguagem e simbolismo de revolta” pavimentou o caminho para o crescimento de um republicanismo popular que ainda buscava a França por salvação, de modo que quando a ajuda francesa finalmente chegou em 1798, foi pronta e facilmente explicável como a realização do sonho jacobita.

A variedade jacobita da Maçonaria, que era politicamente orientada, desvaneceu-se rapidamente na Irlanda no rescaldo da derrota de 1745, como também aconteceu na Grã-Bretanha e no Continente. Entretanto, embora a Maçonaria Hanoveriana parecesse triunfante, o jacobitismo deixou uma marca permanente na forma da Maçonaria do “Antient Rite” na Grã-Bretanha, Irlanda e América, e na Maçonaria “escocesa” no continente. Um grupo de maçons majoritariamente irlandeses na Inglaterra, alegando que a Grande Loja daquele país havia se desviado de alguns dos verdadeiros princípios do ritual maçônico, formou em 1751 uma Grande Loja Antiga independente que continuou existindo até 1813. O principal organizador e ideólogo dos Antigos era Laurence Dermott, que era quase certamente da família MacDermott de Strokestown, co-ligada aos jacobitas, no condado Roscommon. “Também é digno de nota que as Grandes Lojas irlandesas e escocesas continuaram a se considerar mais próximas os Antigos do que da Grande Loja Oficial inglesa. Finalmente, a consciência do legado jacobita de politização e mistura de credos é vital para entender a extraordinária proliferação da Maçonaria radical e republicana que marcou primeiro os movimentos Voluntário e depois os Irlandeses Unidos no final do século XVIII.

sábado, 5 de maio de 2018

A MAÇONARIA E A CONEXÃO EGÍPCIA


Todos os maçons sabem que a sua prática está umbilicalmente ligada à tradições egípcias e judaicas, muito mais até que á tradições cristãs. Essa é, aliás, uma das razões que faz com que as chamadas igrejas cristãs olhem com certa desconfiança para a Maçonaria, vinculando-a a práticas heréticas que já causaram muito constrangimento, principalmente à Igreja Católica. É uma besteira, já que a Maçonaria não é uma religião, mas sim uma sociedade de pensamento, eclética e ecumênica, que admite em seu bojo todos os credos, sem se inclinar por nenhum deles. Mas quando se trata de religião, é difícil encontrar um meio termo. Quem adota uma como caminho, sempre tende a excluir as demais. 

As mais antigas tradições egípcias atribuem a um personagem lendário, chamado Menés (ou Merner), a façanha de ter unificado politicamente o Egito. Tendo unido num único reino as cidades do Alto e do Baixo Egito, ele teria dado início à dinastia dos reis daquele país, os chamados faraós. Seu nome não foi registrado no documento que informa os nomes dos faraós, as famosas Pedra do Cairo e Pedra de Palermo, lista compilada em uma estela esculpida na V dinastia, encontrada nas ruínas de Mênfis, mas todos os historiadores antigos a ele se referem como sendo o primeiro rei a governar as terras do Egito em um governo unificado. Segundo a tradição, ele teria herdado o trono diretamente do deus Hórus, o filho de Osíris e Ísis.

Na época da unificação (cerca de 3000 a C), o vale do Nilo já hospedava uma cultura bastante desenvolvida. Avançadas técnicas de agricultura, medicina, metalurgia e outros conhecimentos que caracterizam a existência de uma civilização já eram praticadas pelos povos daquela região.

Era crença antiga entre os egípcios que tudo isso lhes havia sido ensinado pelo deus Toth, que os gregos chamavam de Hermes (O Trismegistos). Ele instruíra os antigos sacerdotes e estes se tornaram os “iniciados” que deram ao Egito a grande civilização que os povos do Nilo possuíam desde tempos imemoriais, conforme se lê nos famosos tratados conhecidos como “Corpus Herméticus”.

Esses iniciados eram aqueles que naqueles tempos se chamavam de “mestres” nas chamadas profissões sagradas, como tais eram consideradas as ocupações dos médicos, engenheiros, sacerdotes, astrônomos e homens de ciência, capazes de realizar grandes obras de engenharia, complicadas intervenções cirúrgicas, trabalhar os metais, interpretar a vontade dos deuses e interferir no curso da natureza, provocando chuvas, mudando a direção dos ventos, transformando metais comuns em ouro, etc.
É dessa tradição, inclusive, que se origina a alquimia. Essa arte era praticada pelos sacerdotes egípcios desde os tempos pré-históricos. Foi derivada da metalurgia, a partir da técnica de aplicação de banhos de ouro em peças de cobre, artesanato no qual eles eram peritos. Com o tempo cristalizou-se a tradição de que os templos egípcios detinham também o segredo de fabricar ouro. Esses poderes eram atribuídos especialmente aos sacerdotes do santuário de Heliópolis, tanto que o alquimista Fulcaneli consagra uma de suas obras (O Mistério das Catedrais), aos Irmãos de Heliópolis. Jâmblico, Pelásgio e os filósofos que escreveram a obra conhecida como “Corpus Herméticus”, também se referem aos poderes que seriam próprios dos sacerdotes desse santuário. Destarte, se Moisés foi realmente uma alta personalidade da casa real egípcia, antes de tornar-se o líder dos hebreus, é possível inferir que ele também tivesse tido acesso a esses conhecimentos, o que justifica o caráter de mago com que ele aparece na Bíblia. Explica também a perícia de seu irmão Aarão na arte da metalurgia, pois somente um sacerdote com esses conhecimentos poderia ter fabricado o famoso bezerro de ouro (que nada mais era do que uma estátua do deus Ápis dos egípcios). Mas há quem sustente, como o Dr. Sigmund Freud, por exemplo, que Moisés, na verdade, foi o faraó Akhenaton, que promoveu uma revolução monoteísta no Egito. Essa é hoje uma tese bastante respeitada pelos estudiosos, que vêem na religião judaica primitiva, vários pontos de convergência entre a doutrina de Akhenaton e aquela que Moisés ensinou aos israelitas, ou seja, a doutrina de um deus unico, representada pelo disco solar. Veja-se inclusive a convergência de nomes entre o deus egípcio adorado por Akhenaton (ATon) e o deus hebreu revelado por Moisés aos israelitas (IHVH, Jeová, que em hebraico se escreve Adonai, o Senhor).


Todavia, apesar da vasta literatura esotérica existente sobre o assunto atribuir à classe sacerdotal egípcia uma imensa gama de segredos arcanos, os registros históricos são bastante concisos ao se referir a esse assunto. Na verdade, quem denunciou o caráter místico, esotérico, que a religião solar dos egípcios assumiu, foi os filósofos gregos da chamada escola hermética, já que os próprios egípcios sempre fizeram questão de manter em estrito segredos esses conhecimentos.


Até a revolução de Akhenaton, a hierarquia sacerdotal estava organizada muito mais para fins de administração do Estado do que para propósitos religiosos ou iniciáticos. Não havia uma classe sacerdotal propriamente dita, mas sim ordenações sacerdotais que eram feitas pelos faraós, os quais escolhiam entre os seus súditos os membros do clero. Foi somente a partir dessa intervenção do faraó na vida religiosa dos seus súditos, que a classe sacerdotal começou a se organizar de forma independente e a ganhar poder. Data dessa época também o caráter místico que a essa classe foi atribuído já que a religião monoteísta adotada por Akhenaton comportava uma boa dose de ritualismo iniciático, especialmente dirigida ao deus Aton. 

A classe sacerdotal egípcia era bastante estratificada. Havia a classe superior, que ostentava o título de hem-netjer, palavra que literalmente significa servo do deus, que pode ser traduzido por sacerdote. Porém o Sumo Sacerdote era o próprio faraó. Só ele detinha o poder de intermediar a relação entre os homens e os deuses no Egito. Havia uma classe intermediária conhecida por wab, literalmente, os homens puros, (semelhantes aos kadoshs, sacerdotes judeus considerados sagrados). E mais abaixo na hierarquia, havia os chamados pais divinos, que não eram exatamente sacerdotes, mas nobres que participavam dos ofícios religiosos, exercendo certas funções litúrgicas.

Em princípio as funções sacerdotais não eram privativas nem vitalícias. Os sacerdotes podiam ser destituídos pelo faraó e normalmente se fazia um rodízio entre os escolhidos. Cada grupo exercia a função por um período de tempo, geralmente três meses a cada ano. Homens e mulheres do povo podiam ser escolhidos para a função: camponeses que exploravam a terra sagrada, artesãos, dançarinas, músicos e outros profissionais podiam ser nomeados sacerdotes. Seus serviços eram pagos em mercadorias, as quais, em princípio, eram consideradas como propriedade do deus patrono do santuário.

Os convocados para trabalhar nos templos ficavam também isentos de alguns impostos e geralmente eram liberados dos trabalhos compulsórios que normalmente se exigiam do restante da população, tais como abrir canais de irrigação, construir edifícios públicos, etc. Uma das obrigações que eles assumiam era o juramento de jamais revelar os segredos ou mistérios dos quais participavam nos templos.Evidentemente nem sempre o faraó tinha condições de exercer as funções sacerdotais. Assim, com o tempo essa função foi sendo delegada a um Sumo Sacerdote da sua escolha. Para alcançar essa honrosa posição era preciso que o candidato tivesse uma esmerada educação nas artes e nas ciências. Dessa forma, logo se desenvolveu uma carreira eclesiástica organizada, com disciplinas curriculares, como leitura, escrita, engenharia, aritmética, geometria, astronomia, etc. Foi assim que os sacerdotes de Heliópolis e de outros templos se tornaram guardiães dos conhecimentos sagrados e ganharam reputação de sábios, que perdura até hoje.

Um documento jurídico contendo o testemunho de um sacerdote de Heliópolis, atualmente depositado no Museu de Turim, dá uma descrição das funções de um sacerdote egípcio. Esse sacerdote exerceu o ofício no santuário de Amon-Rá em Karnac, em algum tempo entre 1310 e 1320 a C., no reinado de Ransés II. Seu nome era Bakenkhonsu. Nesse documento consta uma inscrição a ele atribuída, que diz, textualmente:

“Passei 4 dos meus primeiros anos 11 anos como aprendiz, sendo responsável pela estrebaria de adestramento de Seti I. Durante quatro anos fui sacerdote puro de Amon. Durante 12 anos fui pai divino de Amon. Durante 15 anos fui terceiro profeta de Amon. Durante 12 anos fui segundo profeta de Amon. Ele me glorificou em reconhecimento ao meu caráter. Ele me investiu da função de grão-sacerdote de Amon durante 27 anos. Eu fui um bom pai para os meus subordinados, amparando seus descendentes, dando a mão aos que estavam angustiados, reanimando os que estavam na miséria, fazendo obras uteis em seu templo enquanto fui mestre-arquiteto de Tebas.” 

A RELAÇÃO COM A MAÇONARIA

Rezam também as antigas tradições que nos santuários egípcios a ciência da arquitetura era arte considerada sagrada. Conhecimentos secretos, aplicados á essa técnica, eram transmitidos de forma iniciática a uns pouco escolhidos e conservados como segredo de Estado. É sabido que os egípcios eram notáveis construtores. Seus monumentais edifícios, construídos para servirem de tumbas e templos para suas divindades resistiram ao tempo e à destruição que as guerras naturalmente provocam nas obras humanas.
O termo pedreiro provavelmente foi cunhado nesses antigos tempos, quando as construções eram erguidas principalmente com pedras. Aplicava-se esse título tanto para aqueles trabalhadores que labutavam nas pedreiras, extraindo, cortando e trabalhando artesanalmente as pedras que seriam usadas na construção, quanto para aqueles que as assentavam, e também aos artesãos, que as transformavam em obras de arte. Maneton, sacerdote egípcio que viveu no século II a. C., informa que nessa época esses profissionais da construção já haviam adotado a prática de organizar-se em Confrarias para preservar os segredos da profissão e defender os seus mercados, daí alguns autores maçônicos falarem na existência de uma forte Maçonaria operativa entre os antigos construtores egípcios.

Eis aí, portanto, na tradição dos Irmãos de Heliópolis, o vínculo que os liga á prática da moderna Arte Real. Um conjunto de temas, práticas e tradições que ainda hoje são observáveis na estrutura da Maçonaria (especialmente nos chamados ritos de inspiração egípcia).
A Maçonaria, portanto, nada mais faz do que preservar a tradição religiosa egípcia, sabendo que ela está na origem da cultura religiosa de Israel, e esta é o fundamento da cultura cristã. E nesses fundamentos podem ser encontradas todas as manifestações espirituais dos antigos povos, incluindo os povos do Oriente (hindus, persas, chineses) e do Ocidente, como gregos e romanos, o que explica o apego dos maçons à geometria, à filosofia e especialmente ao pitagorismo. Pois que, no fundo, a fonte da espiritualidade é uma só. Ela vem da Luz de Deus, seja qual for a forma em que ela se manifesta para nós. O grande erro da humanidade é querer particularizar esse fenômeno, achando que a sua forma de crer é a certa e as demais são erradas.


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 05/05/2018 
Alterado em 05/05/2018


UMA CARTA INÉDITA DO CONDE DE GRASSE-TILLY AO MARECHAL OUDINOT SOBRE O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO.


Tradução J. Filardo

por Pierre Mollier

 

Apelidado de “o Bayard francês”, Nicolas-Charles Oudinot (1767-1847) é o marechal do Império que recebeu o maior número de ferimentos em combate (trinta e quatro!), muitas vezes em ações heroicas, onde ele se revelou ser um líder incomparável de homens. Canrobert, que o conheceu em 1830, relata: “parecia um coador”. Napoleão fez dele o duque de Reggio em 1810. Ele será o Grão-Chanceler da Legião de Honra de 1839 a 1842. Oudinot foi provavelmente iniciado em uma das Lojas de Nancy na década de 1790. Em 1805 ele se filiou à Loja de Arras, L’Amitié. À mercê de sua itinerância militar, ele foi eleito Venerável de Honra da Loja Saint-Napoléon de Amsterdã em 1810-1811. Depois de 1814, ele foi nomeado Grande Oficial do Grande Oriente da França e ali ficou até sua morte em 1847. Acabamos de encontrar uma carta de Grasse-Tilly sobre o Rito Escocês Antigo e Aceito – a única conhecida? – ao marechal.

Nós relatamos a compra pelo Museu da Maçonaria, do avental do Marechal Oudinot durante a venda Artcurial que dispersou as coleções do castelo de Malicorne. Além dessa peça excepcional, havia também muitas cartas e documentos maçônicos recebidos pelo duque de Reggio. Algumas dessas peças estão relacionadas com a vida do Rito Escocês Antigo e Aceito entre 1815 e 1820, um período chave e complexo de recomposição após o desaparecimento do “Primeiro Conselho Supremo Unificado” com a queda do Império. Tivemos a agradável surpresa de descobrir uma carta do conde de Grasse-Tilly, fundador do Conselho Supremo em Paris, em 1804, dirigida ao marechal Oudinot. O principal objeto da carta, co-assinada pelo general de Fernig, é advertir o marechal contra as manobras de certos Irmãos para reconstituir o Supremo Conselho em condições que não lhe pareciam satisfatórias.

Conhecemos as vivas controvérsias que rasgavam então o “grau 33″ entre as facções chamadas “Pompeia” e “do Prado”. Mas antes de chegar a este aviso, Auguste de Grasse-Tilly faz várias considerações sobre o Rito Escocês Antigo e Aceito. Breves considerações, devido à própria natureza do documento, mas que parecem mais interessantes para o historiador. Grasse-Tilly primeiro recorda as origens do Rito Escocês Antigo e Aceito: “O grande Frederik, rei da Prússia, ao criar o grau 33, e organizar um Conselho Supremo para a administração do Rito Escocês, deu-lhe um novo brilho.” Ele parece assim dar credibilidade ao que hoje é para nós apenas uma lenda da fundação.

Ele então passa a relatar a história recente do Rito na França: “O conhecimento dos altos graus depois de ter atravessado diferentes regiões do globo foi trazido por nós, Conde de Grasse, Soberano Grande Comandante, e comunicado aos dignitários do G.’.O.’.. A Concordata de 1808 [sic para 1804] devia adicionar ao esplendor do Ecossismo; mas ela foi violada e rompida quase tão logo quanto jurada. A partir desse momento, a ordem que se encontrava em uma atitude importante, marchou em direção à sua decadência. Na época de 1815, o Conselho da França não existia mais; o da América [isto é, o de Santo Domingo no exílio em Paris] foi degradado por todos os tipos de abusos e escândalos, ou por fazer um tráfico vergonhoso de Maçonaria “.

Como Thory, Grasse-Tilly considera que o primeiro Conselho Supremo, o que ele fundou em Paris em 1804 deixou de existir em 1815. Ele então explica a estratégia que está implementando para restaurar a força e o vigor no Rito: “Nós resolvemos, apoiados por membros bem-intencionados do Conselho da América, fazer todos os esforços para minar os abusos e regenerar a Ordem. Era necessário primeiro elevar a dignidade por uma composição respeitável, remover esses homens para os quais a desordem é uma necessidade, rever os estatutos antigos e adotar uma carta baseada na razão, na justiça e onde o liberalismo esteja em harmonia com as instituições do século”.

A segunda parte da carta denuncia o comportamento de alguns maçons e convida o marechal a não responder aos seus pedidos. Este segue de certa maneira estes conselhos … finalmente juntando-se ao Grande Colégio dos Ritos do Grande Oriente da França.

Alguns apreciarão – ou não! – essas recomendações do fundador do Rito Escocês na França: “adotar uma carta baseada na razão, justiça e onde o liberalismo esteja em harmonia com as instituições do século”.





quarta-feira, 25 de abril de 2018


LANDMARKS



Antonio Onías Neto M .`. I .`.

Qual a origem e o significado da palavra LANDMARK?

Ela origina-se do inglês. LAND: terra, país, terreno ou território, MARK: marco, sinal, mancha. Em inglês define-se LANDMARKcomo lugar conhecido, ou marco de território. Em português diríamos marca de terreno, estaca, baliza, lindeiro, marco lindeiro, linda, limite territorial.

Vamos encontrar nesse sentido, pela primeira vez, na Bíblia em:

Jó, 24, 2 – “Há os que removem os limites,…”

Deuteronômio, 19,14 – “Não removerás os marcos do teu próximo, os quais teus antecessores fixaram na tua herança…”

Deuteronômio, 27,17 – “Maldito aquele que remove os marcos do seu próximo.”

Provérbios, 22, 28 – “Não removas o antigo marco, que teus pais puseram.”

Provérbios, 23, 10 – “Não removas o antigo marco, nem entres nos campos dos órfãos; …”

Na Maçonaria, vemos, com o sentido de antigas obrigações, usos, costumes, tradições, ser empregado pela primeira vez em 1721, na compilação dos Regulamentos Gerais da Grande Loja de Londres, em seu artigo 39, quando era Grão Mestre nosso irmão George Payne: “Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks…”

No entanto, já em 1723, a Assembléia Geral da Grande Loja da Inglaterra substitui a palavra “Landmark”, por “RULE”, ou seja, “REGRA”.

Vejamos como a maioria dos autores maçônicos se expressa sobre os Landmarks:

Albert G. Mackey – “Há diversidade de opiniões entre os tratadistas a respeito da natureza dos antigos landmarks da Maçonaria: porém o melhor método será limitá-los aos antigos e universais costumes da Ordem que acabaram por concretizar-se em regras de ação, ou que se articularam em leis por alguma autoridade competente, e o seria em tempo tão remoto que não deixou sinal na história.” (Jurisprudence of Freemasonry, e apresenta sua relação com 25 landmarks)

Albert Pike – “Os princípios fundamentais da antiga Maçonaria Operativa eram poucos e simples e não se chamavam Landmarks.” (Atas da Veterana Associação Maçônica, transcritas por T. S. Parvin, onde critica Mackey e no final relaciona 5)

Bernard E. Jones – “Seria impossível, portanto, alguém dogmatizar em matéria em que a Grande Loja (a da Inglaterra) não fez qualquer pronunciamento, e em que os Maçons com experiência não podem concordar. Infelizmente existe a tendência de se usar a palavra “landmark” como um substantivo conveniente para descrever algo que não tem significado definido.” (Freemasons Guide and Compendium).

George Oliver, Rev. – “A respeito dos landmarks da Maçonaria, alguns se limitam aos sinais, toques e palavras. Outros incluem as cerimônias de iniciação e exaltação; os ornamentos, paramentos e jóias da Loja ou seus símbolos característicos. Outros opinam que a Ordem não tem outros landmarks além de seus segredos peculiares.” (Dictionary of Symbolic Masonry e apresenta sua relação com 31).

H. G. Grant – “Não pode considerar-se landmark da Maçonaria o que não está estabelecido pelos escritos de nossos pais ou reconhecidas autoridades como regra ou crença dos Franco-maçons em 1723, ou antes, ou que não esteja aceita como marca.” (Ancient Landmarks with suporting evidence, e apresenta sua relação com 54)

John W. Simons – “Consideramos como marcas os princípios de ação que identificam com a forma e essência da Maçonaria, e, que a grande maioria aceita, são invariáveis e todos os maçons estão obrigados a manter intactos, sob pena de irrevogáveis sanções.” (Principles of Masonic Jurisprudence, mas apresenta sua relação de 15)

Josiah Drummond – “Tudo quanto podemos saber é que são leis e costumes existentes desde tempo imemorial. Se há algum uso universal de origem desconhecida, é um landmark.” (Maine Masonic Text Book)

Jules Boucher – “Na Maçonaria francesa, a “Liberdade de Pensamento” é um “landmark” fundamental e, paradoxalmente, este “landmark” não tem limites!” (“La Symbolique Maçonnique”, pg. 217)

Luke A. Lockwood – “Os landmarks da Maçonaria são aqueles antigos princípios e práticas que assinalam e distinguem a Maçonaria como tal, e são fonte de jurisprudência Maçônica.” (Masonic Law and Practice, apresentando 19 Landmarks)

Oswald Wirth – “Os landmarks são de invenção moderna e seus partidários jamais conseguiram se por de acordo para fixá-los. Isso não impede que os anglo-saxões proclamem sagrados esses limites essencialmente flutuantes, que ajustam de acordo com seus particularismos. Cada Grande Loja fixa-os de acordo com seu modo de compreender a Maçonaria; a maçonaria é compreendida de modos muitos diferentes, razão das definições contraditórias, destrutivas da unidade dentro de uma instituição que visa à concórdia universal.” (Qui est Régulier)

Robert Morris – “Os dogmas invariáveis que a assinalam dão a conhecer e mantêm os limites da Francomaçonaria.” (Dictionary of Freemasonry e relaciona 17)

W. B. Hextal – “Os antigos landmarks da Francomaçonaria, como todo outro landmark material ou simbólico, só se podem manter estáveis quando se apóiam em seguros fundamentos. Ao se aprofundar o filósofo sobre a pedra em que descansem descobre que o nosso seguro fundamento é o trino dogma da fraternidade de Deus, a fraternidade dos homens e a vida futura. Todas as leis, usos, costumes e métodos que não se apóiem neste dogma básico, serão convenções ou acomodações, porém de modo algum participarão da natureza dos antigos landmarks.” (Ars Quattuor Coronati, volume XXV)

Entre os brasileiros nós podemos citar:

Henrique Valadares (Cayru) – “Os landmarks delimitam o que é Maçonaria e o que não é Maçonaria: o que estiver nos landmarks, ou dentro deles, é Maçonaria regular; o que estiver fora dos landmarks não é Maçonaria ou é Maçonaria espúria”. São os “limites”. O Livro das Constituições de Anderson refere-se aos “antigos Landmarks”, que devem ser “respeitados cuidadosamente”.

“Para que uma regra ou norma seja considerada landmark tem que reunir em si vários requisitos:

a) antigüidade, isto é, deve existir desde um tempo imemorial. Por isso, se hoje as Autoridades maçônicas pudessem reunir-se e decretar uma lei universal, esta não seria absolutamente um landmark.

b) espontaneidade e generalidade, isto é, o landmark não tem autor conhecido, não se origina de nenhuma autoridade pessoal, só é landmark todo uso universal, de origem desconhecida.

c) invariabilidade e irrevogabilidade, isto é, todo landmark é inalterável.”

(O Aprendiz-Maçom)

Nicola Aslan – “Evidentemente, o problema dos Landmarks continuará sem solução possível, e de nada irá adiantar a melhor definição ou a melhor compilação apresentada, porque sempre será um trabalho estabelecido sobre a areia. Como já tivemos oportunidade de dizer para nós, os Landmarks, e particularmente os de Mackey, que obtiveram o maior sucesso, representam, ou para melhor dizer, pretenderam representar dentro da Maçonaria o mesmo papel que as Falsas Decretais desempenharam, outrora, dentro da Igreja Católica.” (Landmarks e outros problemas Maçônicos)

Vanildo de Senna – “Os Landmarks, na verdade, constituem atualmente, problema de difícil solução. Tratadistas, jurisconsultos e todos quantos deles se ocuparam jamais puderam chegar a um acordo no sentido de defini-los, enumerá-los, classificá-los e interpretá-los.” (Landmarks – Tese, Antítese e Síntese)

Se formos verificar a relação dos Landmarks existentes observaremos a diversidade dos mesmos, quase todos levantados por Virgílio A. Lasca e alguns por nós constatados:

São somente 3 para Alexandre S. Bacon e Chetwood Crawley;

5 para Albert Pike , aceitos por Morivalde Calvet Fagundes e José Castellani;

6 para Jean Pierre Berthelon e para a Grande Loja de Nova York, tomando por base os capítulos em que se dividem as Constituições de Anderson.

7 para Roscoe Pound e o cubano Carlos f. Betancourt, adotados pela Grande Loja de Virgínia;

8 para a Grande Loja de Massachusetts, repetindo a relação de Mackey, apenas diminuindo-lhe a numeração;

9 para J. G. Findel, aceitos pelo Rito Moderno;

10 para a Grande Loja de Nova Jersey;

12 para A. S. MacBride;

14 para Joaquim Gervásio de Figueiredo;

15 para John W. Simons adotados pela Grande Loja de Tennessee;

17 para Robert Morris;

19 para Luke A. Lockwood adotados pela Grande Loja de Connecticut;

20 para a Grande Loja Ocidental da Colômbia;

23 para a Grande Loja de Louisiana;

25 para Albert G. Mackey e Chalmers I. Paton, aceitos pelas Grandes Lojas Brasileiras;

26 para a Grande Loja de Minnesota;

29 para Henri A. Lecerff;

31 para o Rev. George Oliver;

54 para H. G. Grant adotados pela Grande Loja de Kentucky.

Por seu lado, a Grande Loja Unida da Inglaterra, embora não chame de Landmark, fixa 8 condições sem as quais não reconhece outro Corpo Maçônico.

Como vemos cada Grande Loja adota uma compilação, e cada estudioso do assunto acrescenta mais uma.

Não cansaremos os leitores com a transcrição de todas elas, nos restringiremos a citar textualmente a de Findel, que é aceita pela maioria das Lojas do Rito Moderno, embora também se possam fazer ressalvas sobre alguns deles, e comentaremos item por item a de Mackey, endeusada pela maioria dos Maçons brasileiros, inclusive faltando com a verdade ou a transcrevendo ora com a supressão, ora alterando-lhe o conteúdo, com a intenção de não ferir susceptibilidade de alguns ou de conseguir mais adeptos.

Compilação de Findel

1.- A obrigação de cada Maçom professar a religião universal em que todos os homens de bem concordam. (Praticamente transcrevendo as Constituições de Anderson)

“Um Maçom está obrigado, por sua condição, a obedecer à Lei Moral, e se compreende bem a Arte, não será jamais em um estúpido Ateu nem um Libertino irreligioso. Mas se bem que nos Tempos antigos fossem obrigados em cada País a ser da Religião, qualquer que fosse, desse País ou dessa Nação, contudo é considerado mais conveniente de somente os sujeitar àquela Religião sobre a qual todos os Homens estão de acordo, deixando a cada um suas próprias Opiniões, isto é, serem Homens de bem e leais, ou Homens de Honra e de Probidade, quaisquer que sejam as Denominações ou Confissões que os possam distinguir; pelo que a Maçonaria se torna o Centro de União, e o Meio de firmar uma Amizade entre Pessoas que teriam ficado perpetuamente Distanciadas.”

2.- Não existem na Ordem diferenças de nascimento, raça, cor, nacionalidade, credo religioso ou político.

3.- Cada Iniciado torna-se membro da Fraternidade Universal, com pleno direito de visitar outras Lojas.

4.- Para ser Iniciado é necessário ser homem livre e de bons costumes, ter liberdade espiritual, cultura geral e ser maior de idade.

5.- A igualdade dos Maçons em Loja.

6.- A obrigatoriedade de solucionar todas as divergências entre os Maçons dentro da Fraternidade. (Como eu gostaria que isso se tornasse realidade…)

7.- Os mandamentos da concórdia, amor fraternal e tolerância; proibição de levar para a Ordem discussões sobre assuntos de religião e política.

8.- O sigilo sobre os assuntos ritualísticos e os conhecimentos havidos na Iniciação.

9.- O direito de cada Maçom colaborar na legislação maçônica, o direito de voto e o de ser representado no Alto Corpo.



Classificação de Mackey




1.-Os meios de reconhecimento.

Ora, os modos de reconhecimento na maçonaria nem sempre foram os mesmos. A princípio todos os sinais eram dados assim que os Aprendizes eram iniciados. As palavras de passe e sagrada são diferentes nos diferentes Ritos. A palavra que substituiu a palavra perdida é diferente nos diversos ritos, e os sinais e toques também o são. Portanto a existência dos meios de reconhecimento são um landmark, mas não cada um deles em si. Alguns mudaram desde a fundação do Rito até os dias atuais.

2.- A divisão da Maçonaria em 3 graus.

Sabemos que antes de 1717, quando da fundação da primeira Grande Loja, só havia dois graus na Maçonaria. O grau de Mestre só foi criado em 1725 e institucionalizado em 1738, e considerado regra pela Grande Loja em 1813. Se um landmark deve ser imemorial, este não poderia ser um.

3.- A Lenda do 3º Grau.

Somente após a criação do grau de Mestre é que foi criada esta Lenda. Portanto não é imemorial. E, outra, o Herói da Lenda é diferente nos Ritos Hiramitas e Adonhiramitas. A estrutura da Lenda também. Uma lenda egípcia adaptada à Bíblia judaico-cristã.

4.-O governo da Fraternidade deve ser exercido por um Oficial denominado Grão Mestre, eleito por todo o povo Maçônico.

A criação do cargo de Grão Mestre de uma Potência, conforme entendemos hoje, só foi acontecer após a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Anteriormente, o nome Grão Mestre era também utilizado para Veneráveis de Lojas, e não de toda a Fraternidade.

5.- A prerrogativa do Grão Mestre de presidir toda reunião maçônica, onde e quando se realize.

A objeção é mesma que a anterior, só depois da criação de um Alto Corpo, reunindo maçons de todas as Lojas é que houve o que seria o cargo atual de Grão Mestre.

6.- A prerrogativa do Grão Mestre de conceder licença de conferir graus em tempo anormais, com dispensa dos prazos.

Repetimos a mesma alegação dos anteriores itens.

7.- A prerrogativa que tem o Grão Mestre de autorizar fundação e manutenção de Lojas Maçônicas.

Anteriormente, as Lojas eram fundadas por decisão dos Maçons, sem influência estranha. Era o lema “Maçom livre em Loja livre”. A prática das Cartas Constitutivas é recente.

8.- A prerrogativa do Grão Mestre de “fazer maçons à vista”, ou seja, reunindo determinado número de Irmãos poderem iniciar sem que sejam necessárias sindicâncias, provas ou o que mais seja da iniciação.

Isso já foi feito no Brasil, infelizmente, com drásticas conseqüências.

Como se vê, os chamados landmarks, do 4º ao 8º, são regras que cabem mais num estatuto, numa constituição, podendo ser alterados por decisão do povo Maçônico, como já o foram.

9.- A necessidade dos Maçons de se congregarem em Loja.

Finalmente, encontramos uma afirmativa que efetivamente é um “landmark”, na concepção de seus definidores. Desde que concebeu a Maçonaria os seus membros se reúnem em organismos denominados Lojas.

10.- O governo da Fraternidade, quando reunida em Loja, deve ser exercido por um Venerável e dois Vigilantes.

Este é efetivamente um landmark, pois desde tempos imemoriais, mesmo quando não havia os graus, as Lojas eram presididas por um Presidente (Mestre da Loja) e dois Vice-Presidentes (Senior Warden e Junior Warden) , escolhidos entre seus membros.

11.- A necessidade de uma Loja, quando reunida, estar resguardada ou coberta.

O sigilo maçônico assim o exige, eis outra regra definitiva.

12.- O direito de todo Maçom se fazer representar nas reuniões gerais da Fraternidade, e de instruir seus representantes.

Anteriormente os Maçons (aprendizes ou companheiros) compareciam pessoalmente às reuniões do povo Maçônico, mas não podiam ser representados. O direito de representação foi criado posteriormente, e é diferente conforme a legislação da Obediência, quer seja Grande Loja ou Grande Oriente. Em uma os representantes são o Venerável e os Vigilantes, e no outro é o deputado.

13.- O direito de recurso de cada Maçom perante a Grande Loja ou Assembléia Geral.

Nos primórdios da Maçonaria Especulativa não existia esse direito de recorrer da decisão de uma Loja a que pertencesse o Maçom, pois a Loja era livre e não filiada a nenhum Alto Corpo. E, atualmente, por exemplo, tanto nos Grandes Orientes como nas Grandes Lojas existem órgãos judiciários específicos para decidir recurso de Maçom.

14.- O direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja.

Tentem visitar uma Loja inglesa. Antes do atual Tratado da Grande Loja com o Grande Oriente houve Irmãos barrados em Loja da Grande Loja. E, por outro lado, qualquer membro de uma Loja pode vetar a entrada de um visitante. A regra citada deveria ser válida, mas infelizmente não o é.

15.- Nenhum visitante, desconhecido dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à visita, sem que, antes de tudo, seja examinado, conforme os antigos costumes.

Seria no caso o inverso do landmark anterior, no entanto, como a maioria não conhece os toques, os sinais e as palavras de outros Ritos, é de fato não cumprido. Já ouvi Vigilante dizer que “batem irregularmente à porta do templo”, quando ouve as baterias de outro Rito que não o seu.

16.- Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam a outra, nem conferir graus a Irmãos de outros quadros.

Em tese, é verdadeiro, no entanto, um visitante pode votar contra o ingresso de um profano em uma Loja, o que é certa forma de se imiscuir em assuntos de outra, e isto jamais foi proibido nem poderia sê-lo. Quanto a conferir graus, pode, desde que por delegação da Loja de origem do Irmão.

17.- Todo Maçom está sujeito às leis e aos regulamentos da Jurisdição Maçônica em que reside, mesmo não sendo membro de qualquer Loja.

Outra afirmação que, em tese, é de aceitar, posto que não se filiar já seria uma infração maçônica, no entanto, a residência temporária está sendo considerada? Poderia a Obediência regional obrigar o Maçom designado a prestar serviços por tempo determinado em outro país, ou região, a filiar-se à sua Jurisdição sob a ameaça de infringir um landmark?

18.- Todo candidato à iniciação deve ser homem livre de nascimento, não mutilado ou isento de defeitos físicos e maior de idade.

Que maioridade? Civil, eleitoral ou criminal? Os lowtons, em nossa legislação, têm direitos especiais quanto à idade.

O escravo liberto ou o filho de escravo não poderia ser iniciado? No Brasil o foram.

Quando se impunha a iniciação apenas dos homens as mulheres eram submissas, em todo sentido. O são agora? Atualmente, há algumas que são mais livres que alguns homens. E mais capazes.

È bom citar o que constava no Poema Régio ou Manuscrito Régio ou ainda Manuscrito Halliwell, de 1390, um dos primeiros documentos da Maçonaria Operativa senão o primeiro conhecido, em seu preâmbulo onde vemos: “Pois assim cada um poderia ensinar ao outro e amar-se mutuamente como Irmão e Irmã”, e no seu artigo X consta “Nenhum Mestre deve suplantar outro Mas ficar juntos como Irmão e Irmã”. Nada faz crer ou admitir que o termo Irmã não se referisse a presença da mulher, portanto a proibição é recente.

A higidez exigida é efetivamente total, no entanto, conhecemos diversos Irmãos mutilados; já soubemos de casos históricos de cegos iniciados, a própria Constituição exige, atualmente, que a higidez lhe dê condições de praticar todos os atos ritualísticos. Seria essa exigência atual? E o avanço no campo das próteses? Permanece este landmark por séculos, como, infelizmente, se exige.

19.- Que todo Maçom deve crer na existência de Deus como Grande Arquiteto do Universo.

Não seria a exigência um dogma, que fere os princípios Maçônicos? A Maçonaria tem princípios, não dogmas. Anderson falava em religião universal, não definia no que deve crer. A Grande Loja Unida da Inglaterra chega a exigir uma religião monoteísta, como ficariam os panteístas e os politeístas, de diversas facções. Eles são religiosos. Houve época em que algumas Lojas exigiam a crença no dogma da Trindade. Quando se pretendeu fixar esta afirmativa como landmark, sequer se conheciam todos os tipos de crenças existentes no planeta. Só é permitido ser Maçom se for de origem judaico-muçulmano-cristão? Onde a liberdade de crença? Onde a exclusão do preconceito religioso?

Melhor seria falarmos na crença, na aceitação de um Princípio Criador, que abrangeria melhor todas as possíveis formas de credos, conforme consta da Constituição do Grande Oriente do Brasil.

20.- Subsidiária à crença em Deus, a crença em uma vida futura e na imortalidade da alma.

Vemos que alguns landmarks, como o de Pound, que prefere falar em “imutação da personalidade”, no lugar de imortalidade.

A maior parte dos autores brasileiros (por má fé?) esconde que Mackey cita a crença na ressurreição, que fere grande parte dos maçons brasileiros, que crêem na reencarnação e não na ressurreição. Toda afirmativa dogmática colocada como landmark é um perigo para a liberdade de pensamento, fundamento da Ordem.

Vejamos o que diz o texto em inglês do Landmark coligido por Mackey: “is the belief in a resurrection to a future life.” E mais adiante: “To believe in Masonry, and not to believe in a resurrection, would be an absurd anomaly.” Como é que ficam os Maçons não reencarnacionistas?

21.- A existência do “Livro da Lei”, como ornamento indispensável em uma Loja.

Em primeiro lugar, há de se observar que não existia antigamente a exigência de qualquer livro, religioso ou não, como ornamento das Lojas, basta consultar os diversos rituais antigos a inexistência do livro no compromisso dos iniciados. Os autores brasileiros exageram, ainda mais, dizendo que o landmark fala em “livro da lei que deve conter a verdade revelada pelo Grande Arquiteto do Universo”; e algumas Grandes Lojas, ainda, citam especificamente a Bíblia. Ora, onde a liberdade religiosa? Onde a liberdade de pensamento?

Fala Mackey em religião do país, é incrível depois das Constituições de Anderson falar-se que deve ter a religião do país. Ninguém pode ter outra religião senão a religião da maioria??!! Eis o que diz Mackey: “The ‘Book of de Law’ is that volume which, by the religion of the country”.

Falar em Velho Testamento (Old Testament) para os judeus? O livro sagrado do Judaísmo não é todo o Velho Testamento, mas apenas o Pentateuco ou Torá. No Brasil nós temos religiões (não só no Brasil), que não têm livro sagrado, pois toda tradição religiosa é oral (Candomblé, Umbanda, Pajelança, etc.). Quem não entende de outra religião senão a sua, quando entende; quem nunca estudou outras religiões, como pode falar desta ou daquela religião?

Nós mantemos presente um Livro Sagrado em virtude do Tratado que existe com a Grande Loja Unida da Inglaterra. Diz o item 5 dos seus 8 pontos: “All Freemasons under its jurisdiction must take their obligations on or in full view of the Volume of the Sacred Law (i.e. the Bible) or the book held sacred by the man concerned”, portanto o compromisso não é feito obrigatoriamente sobre o Livro da Lei Sagrada, basta que ele esteja presente.

22.- Que todos os homens são iguais perante Deus e que na Loja se encontram no mesmo nível.

Em primeiro lugar, muda-se a redação de Mackey, que diz simplesmente a igualdade de todos os Maçons. Diz ele: “THE EQUALITY OF ALL MASONS is another Landmark of the Order.”

Mas não há dúvida que a igualdade dos Maçons em Loja é um landmark, desde que obedecida à hierarquia e os graus, portanto a igualdade não é tão absoluta. A grande verdade é que o Maçom não goza dos privilégios e prerrogativas que possam gozar no mundo profano.

23.- Que a Maçonaria é uma sociedade secreta de posse de segredos que não podem ser divulgados.

Por que será que nossos Irmãos alteram a redação dos landmarks de Mackey, será que é porque não podem sustentá-los na forma que são, mas pretendem endeusá-los? Na tradução da Grande Loja de Sergipe consta o termo correto.

Ora, a Maçonaria não é uma sociedade secreta, só o sendo nos países onde a liberdade de associação não é permitida. Nem em Cuba comunista.

Ela tem seus estatutos registrados e sede conhecida. Ela é, isto sim, uma sociedade sigilosa, que tem seus segredos, como muitas outras sociedades civis e religiosas. O que existe na Maçonaria é o sigilo que seus membros devem guardar dos conhecimentos havidos pela iniciação

Se segredo existe é aquilo que é tratado dentro de Loja, o, que infelizmente não acontece.

24.- A Maçonaria consiste em uma ciência especulativa fundada numa arte operativa.

Definir a Maçonaria como ciência é absolutamente anticientífico, em nenhum conceito de ciência cabe admitir a Maçonaria como uma delas. A Maçonaria incentiva o estudo da ciência, incentiva a prática das artes, mas não é nenhuma nem outra. A afirmativa não é um landmark, e ainda mais, é uma inverdade.

25.- Os landmarks da Maçonaria são inalteráveis. ”Nolumus legen mutari”

É muita veleidade, no mínimo, afirmar que os landmarks que Mackey relaciona são inalteráveis. Não há dúvida que devem existir princípios fundamentais (e existem), mas relacioná-los, afirmá-los como verdadeiros, porque por si escolhidos, é pretender se tornar um Papa da Ordem.

Alguns Irmãos chegam à infantilidade de faltar com a verdade na defesa desses landmarks, como nosso querido Irmão Rizzardo da Camino, quando afirma: “Coube a Inglaterra reunir esses landmarks e apresentá-los à maçonaria moderna…” e cita os landmarks de Mackey. Ora, a Inglaterra, tanto no tempo, da Grande Loja da Inglaterra e Grande Loja de York, como depois da união, formando em 1813 a Grande Loja Unida da Inglaterra, nunca fixou ou compilou uma relação como verdadeira, como legítima. Ela considera que os Antigos Deveres contidos nas Constituições de Anderson, em sua primeira edição, alterada posteriormente por ela, são a lei fundamental onde constam os princípios vitais da Maçonaria Moderna.

O que Inglaterra fez foi listar “oito pontos”, que exige de outras Obediências para reconhecê-las como Corpo Maçônico regular.

Nos Estados Unidos, onde existem os maiores defensores dos landmarks, é onde existe a maior variedade de relações e compilações, cada Grande Loja lista os seus e os considera como os verdadeiros e inalteráveis.

Os landmarks relacionados por Mackey tiveram como um de seus maiores críticos Albert Pike, que foi Soberano Grande Comendador da Jurisdição Sul do Rito Escocês Antigo e Aceito nos Estados Unidos, do qual Mackey foi Grande Secretário Geral.

No Brasil, chegou a constar da Constituição dos Grandes Orientes. Felizmente, quando estávamos no Grande Oriente de São Paulo, dissidente, atual Grande Oriente Paulista, em 1982, conseguimos excluí-lo. E, no Grande Oriente do Brasil foi escoimado de sua Constituição em sua última reforma, em 1991, onde consta atualmente a exigência dos landmarks, mas sem citar qualquer deles, ficando a cargo da Loja ou do Rito escolher qual deles adotar.

Efetivamente, o problema dos landmarks é insolúvel, porque a maioria pretende tornar a Maçonaria, a seu modo, num grupo dogmático em que só a sua vontade seja válida, pretende infirmar princípios fundamentais na Maçonaria que são a Busca Constante da Verdade, a Liberdade Absoluta de Pensamento, a Liberdade Absoluta de Consciência.

NOTA: O crédito da bibliografia e dos autores que fundamentaram esse trabalho está no corpo da redação, sempre em negrito.