terça-feira, 15 de maio de 2018


Grande Loja “Antiga” de Wigan – A última rebelião maçônica inglesa (1823-1913)


Luciano Rodrigues

Introdução

Em 1813, finalmente foram unificadas, as Grandes Lojas dos Antigos e dos “Modernos”. Mas nem tudo foi tranquilo, algumas lojas “antigas” se rebelaram contra as novas autoridades e decidiram refundar sua antiga Grande Loja, que ficou em operação até 1913.

Em 22 de dezembro de 1823, na Taverna Shakespeare, em Williamson Square, Liverpool, houve uma reunião de “conspiradores maçônicos”.

A porta da loja foi fechada e a loja guardada pelo Grande Cobridor, os maçons presentes observavam como o irmão Michael Alexander Gage ocupava a cadeira de presidente da loja.

A loja abriu no grau de mestre e a ata da reunião anterior foi lida. A última reunião, de 21 de julho, tinha sido adiada, mas agora poderiam concluir suas deliberações e esperar que esta reunião pudesse mudar para sempre a Maçonaria Inglesa.

A razão para a realização desta reunião era permitir que os rebeldes instalassem o primeiro Grão-Mestre e os Oficiais de uma nova Grande Loja.

O novo Grão-Mestre e os oficiais foram eleitos e feita a leitura em voz alta para um público ansioso, de uma nova “Carta Magna de Liberdade Maçônica”.

As causas que levaram ao restabelecimento da Grande Loja dos Antigos, foram publicadas nos jornais de Londres, com uma declaração pública, garantindo assim que chegaria aos ouvidos da Grande Loja Unida.

A rebelião foi bem-sucedida, mas as queixas para se restabelecer a Grande Loja dos Antigos, eram baseadas nas antigas constituições de York, que tinham suas raízes a um século atrás.

O início das discordâncias

Com a revisão do ritual por Desaguliers e James Anderson na década de 1720, muitos dos maçons tradicionais ficaram alarmados com as mudanças drásticas. E um dos principais é que os dois graus maçônicos que existiam no século 17, a partir da década de 1720 foram convertidos em três pela Grande Loja Unida, usando o mesmo material.

Uma das primeiras cidades a se declarar como separada da Grande Loja, foi York, e em 27 de dezembro de 1725 formou a chamada “Grande Loja de Toda a Inglaterra, com sede em York”, se baseando em uma tradição de que o príncipe Edwin supostamente havia presidido uma reunião de maçons em York.

Esta Grande Loja de York continuou a funcionar até 1792 e sobreviveu ainda aos primeiros anos do século 19.

A formação da “Grande Loja da Inglaterra segundo as Antigas Constituições”, também conhecida como Grande Loja dos Antigos, aconteceu em Londres em 1751, e seu Grande Secretário foi Lawrence Dermott.

As diferenças se tornaram uma amarga disputa e só se reconciliaram em 1813, quando o duque de Sussex, auxiliado por seu irmão, o duque de Kent, fundiram os Modernos com os Antigos, criando a 

Grande Loja Unida da Inglaterra.
Ata de fundação da Grande Loja de Wigan

Uma constante oposição à união.

Apesar da união, um descontentamento por alterações nos rituais provocou discussões acaloradas em muitas lojas. Lancashire, uma província que tinha sido ignorada por seu Grão-Mestre Provincial, Francis Dukinfield Astley, sofreu durante esse período.

Era uma província grande, e a maior parte do trabalho do controle maçônico era encargo do Vice Grão-Mestre Provincial, Daniel Lynch, que tinha que interagir com as lojas que tinham testemunhado a União.

Um maçom de Liverpool foi quem instigou a rebelião. Michael Alexander Gage era um alfaiate de Liverpool e Past Master da Loja nº 31, uma antiga loja com sede em Liverpool. Em uma reunião da Grande Loja Provincial realizada em 1818 em Hanging Ditch, ele apresentou uma moção sobre a regulamentação de uma loja.

Quando tal moção foi ignorada pelo Grão-Mestre da Grande Loja Unida, Gage começou conspirações para a independência, com um discurso na Grande Loja Provincial, observando a arrogância do Duque de Sussex e a falta de interesse da Grande Loja Unida.

Em 1822, a Grande Loja Unida decidiu que William Meyrick, o Chanceler da Grande Loja Unida, deveria ocupar o cargo de Grão-Mestre Provincial, naquela Província.

Curiosamente, Astley manteve o seu título como Grão-Mestre Provincial e Meyrick ignorou a loja de Gage, a Nº 31, que foi excluída da lista de lojas, sua carta patente anulada por má conduta e Gage e seguidores foram suspensos.

A dissidência de Lancashire começou a se estender e começou uma disputa entre a Grande Loja Unida e os dissidentes.

Em 5 de Março de 1823, a Grande Loja Unida finalmente expulsou vinte e seis irmãos, declarando que os rebeldes “foram considerados culpados de vários atos de insubordinação contra a autoridade da Grande Loja” e “Eles não tinham apresentado um pedido de desculpas satisfatória, sobre a sua má conduta”.

Suas atividades de rebelião foram descritas como um “insulto” e os irmãos “violaram as leis do Craft”, que foram enviados ao ostracismo.

Gage e seus seguidores estavam agora livres para reviver a Grande Loja dos Antigos.Aventais utilizados na Grande Loja de Wigan, dois utilizados no Arco Real e um avental de mestre maçom (azul).

Uma nova Grande Loja

Assim foi que a “Grande Loja de Maçons Livres e Aceitos da Inglaterra de acordo com as antigas constituições” se reuniu pela primeira vez em julho de 1823, e a “Carta Magna da liberdade maçônica” foi lida nessa reunião na taverna Shakespeare em dezembro.

A Grande Loja se reuniu em Wigan em 1 de março de 1824, e até 1825, só ficou ali.

No início de 1840 contava com lojas em Ashton-in-Makerfield, Wigan, Liverpool, Barnsley e tinha estabelecido contato próximo com uma loja antiga em Lynn Regis, Norfolk, provavelmente porque Gage era daquele lugar e tinha relações com a cidade.


Selo da Grande Loja de Wigan

Emissão de Cartas Patentes

Como a Grande Loja de Wigan, começava lentamente a estender sua influência, novas cartas patentes foram emitidas para lojas sob o seu domínio, agora numeradas.

Só haviam cinco lojas que foram, posteriormente, numeradas de 1 a 5, embora a loja de Barnsley tenha optado por sair da Grande Loja de Wigan.

A emissão das cartas, irritou Gage, que, embora ele não estivesse envolvido com a Grande Loja a mais de quinze anos, ou com qualquer outra loja regular, mas sempre tinha se utilizado do título de Grão-Mestre Adjunto embora ignorasse as atividades do cargo.

Gage também ficou incomodado pela violação da “Carta Magna”, pois na criação da Grande Loja de Wigan, tinha sido estabelecido que o número das lojas seriam os mesmos números utilizados antes da União.

Em 1842, Gage escreveu uma longa carta de renúncia, que descrevia seu sentimento por não ter sido consultado em relação a emissão de novas Cartas Patentes.

Ele era um homem orgulhoso, que tinha sido responsável por instigar a formação da Grande Loja da Wigan, e estava ferido por essa decisão.

Apesar da frieza de Gage, ele era o líder espiritual dos “Antigos” e em resposta à sua renúncia, Gage foi descrito pelo Grão-Mestre como um homem que “os tiranos do mundo maçônico observavam com medo”.

A Grande Loja tinha evoluído e finalmente se edificou firmemente em Wigan. Gage se estabeleceu em Liverpool, e embora aparentemente mostrasse falta de interesse pela Maçonaria, mantinha um sentido de importância quando ocupava seu lugar na Grande Loja de Wigan.

Sua falta de interesse pode ter sido consequência da localização da Grande Loja, em Wigan, ou por causa de sua família, devido a uma mudança em sua carreira. Ele permaneceu um rebelde até o fim e, finalmente, se rebelou contra os rebeldes. Ele sempre foi um teimoso, apaixonado e arrogante em sua fase como opositor. Ele mantinha o respeito de seus irmãos rebeldes que sem Gage não teriam criado a Grande Loja da Wigan.

Os rebeldes canalizaram seu protesto através da formação da Grande Loja de Wigan e seu sucesso se manifestou nos efeitos que tiveram na Grande Loja Unida.

Após a renúncia de Gage, a Grande Loja da Wigan continuou a se reunir até 1866, quando havia apenas uma loja associada.

Gage morreu no ano seguinte e é tentador sugerir que assim como a Grande Loja de York antes dela, a Grande Loja da Wigan só sobreviveu tanto quanto o seu fundador.

A única loja sobrevivente, a Loja “Sincerity”, obstinadamente continuou isolada e solitária. Ela se rendeu em 1913, retornando à Grande Loja Unida, finalmente, se afastando da vontade de Michael Alexander Gage.

Bibliografia

The Liverpool Masonic Rebellion and The Wigan Grand Lodge – The Last Masonic Rebellion – David Harrison

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