segunda-feira, 3 de julho de 2017



INTERPRETAÇÃO SIMBÓLICA E HISTÓRICA DO CÍRCULO ENTRE PARALELAS TANGENCIAIS




Por Theobaldo Varoli Filho

Mesmo profanamente, o círculo e o ponto central representam o Sol (v. símbolos no dicionário de Webster, por exemplo). Por não possuírem ou desconhecerem a literatura original e universal a Maçonaria, certos autores maçons, teceram interpretações erradas quanto ao círculo entre paralelas. Este símbolo não se confunde com o círculo ou circunferência que maçonicamente representa o COSMO ou o Universo, nem se relaciona com a deturpação de um superado ensinamento pitagórico (v. nota, adiante).

O Círculo entre Paralelas Tangenciais é havido como uma das alegorias integrantes do Altar de Juramentos. Pelo menos ele foi assim desenhado pelo maçom inglês John Harris, no Painel Alegórico do Aprendiz, uns três anos depois de reconstituído, por acordo geral, o ritual dos Antigos, Livres e Aceitos Maçons, também chamado ritual de YORK, por ter sido discutido antes e, em 1815, terminado e aprovado, na cidade de Iorque, Inglaterra. Esse ritual é o mais seguido no mundo e resultou de uma conciliação das práticas dos “antigos” e “modernos” (ingleses), acrescida de outras doutrinas e símbolos.

É de se ponderar, a bem da verdade, que o verdadeiro Altar de Juramentos é a mesa, triangular ou não, do trono do Venerável e tal prática ainda é conservada por tradicionais lojas inglesas. A comodidade criou um pequeno altar à frente do trono, cujo formato pode ser triangular ou não. Ainda, pode ser feito de pedra ou de madeira, com altura adequada às práticas maçônicas. Os preciosismos e rigorismos nele introduzidos são enxertos de espírito inventivo. É de se notar, ainda, que o Altar de Juramentos não tem nada que ver com o altar de Perfumes, do Templo de Salomão, ou qualquer outro. É um altar puramente maçônico, que substitui a mesa do Venerável.

No Painel Alegórico tradicionais, do grau de aprendiz, pode notar-se um altar pequeno e quadrado, com um círculo entre paralelas, na face frontal. O círculo é o Sol. As paralelas representam Moisés e Salomão e, tradicionalmente, João Batista e João Evangelista. Simbolicamente representam os Trópicos de Câncer e de Capricórnio. Vejamos porque:

Quanto às paralelas tangenciais houve duas correntes doutrinárias. Uma, a antiga, preconizava que elas representassem João Batista e João Evangelista, cujas datas correspondiam a 24 de junho e 27 de dezembro, dias maçônicos tradicionais desde os antigos Pedreiros-livres, os quais festejavam os dois santos, realizando também as grandes reuniões gerais (v. Osvaldo Wirth, “Livro do Aprendiz-Maçom”). As Grandes Lojas mantêm essa tradição que, aliás, já vinha dos trabalhadores, agricultores e construtores romanos, os quais celebravam o verão que, no hemisfério norte, ocorre a partir de 21 de junho, assim como comemoravam o “renascimento” do astro-rei em fins de dezembro, no inverno. Como vimos, essa prática reinava também entre os persas. O cristianismo e, por ele, os pedreiros cristãos, teriam apenas modificado o significado astral das duas datas.

A outra corrente, por sua vez, fundada no Velho Testamento, preferia que as paralelas correspondem a Moisés e Salomão. Esta versão, passou a dominar no simbolismo maçônico universal, embora ainda certas lojas do mundo continuem a manter João Batista e João Evangelista representados nas duas paralelas (principalmente lojas que respeitam o antigo Rito Escocês, pelo qual os juramentos eram praticados com a Bíblia aberta no Evangelho e não no Velho Testamento).

Realmente, MOISÉS e SALOMÃO vêm a ser figuras fundamentais no simbolismo do grau de Aprendiz, principalmente pelo fato de representarem, respectivamente, o líder e o construtor. Ora, a Maçonaria é uma escola de líderes e de construtores sociais. Moisés foi o chefe e libertador que impôs ao seu grande povo o governo da lei e não dos homens. Quanto ao rei-sábio, pouco importa aquilo que a história afirma em seu desabono, no que tange a ele tem sido um monarca ambicioso, que escorchou o seu povo com pesados tributos, tanto para as suas edificações como para seus luxos e seus haréns. O que mais importa é que Salomão, filho de Davi, demonstrou notável sabedoria. É por essa razão que, em loja maçônica, ele é representado pelo Venerável Mestre. Além disso, couve a ele construir o Templo. Essa graça não fora concedida a seu pai, que manchara as mãos de sangue (v. instruções do Rito de Iorque).

O Templo de Salomão, de estilo babilônico também usado pelos construtores fenícios, representa a perfeição arquitetônica almejada pelos maçons, para a futura sociedade humana. Entenda-se, mais, que o caminho do maçom é o da evolução da TENDA (Moisés) para o TEMPLO (Salomão).

Ainda, o Círculo representa o Sol, adorado através dos tempos e afinal havido como glória do Grande Arquiteto do Universo. De fato, o Sol foi RA ou RE, AMON, ATON, OSIRIS, AMON-RE, no Egito; SHAMAS, na Babilônia; AHURA MAZDA (Ormuz), na Pérsia; e bem assim, com outros nomes, entre outros povos que usaram o símbolo para, a seu modo, prestar culto ao Supremo Criador dos Mundos. Por fim, a filosofia e o alegorismo da escola neoplatônica-alexandrina, cuja figura máxima foi PLOTINO (205-270), inspiraram ainda a ideia de CRISTO-SOL-REI. Por sua vez, as paralelas-tangentes representavam os limites das idas e vindas do Sol, como os antigos as concebiam e tal como no exemplo relativo a MITRA.

O Círculo dentro de um quarado (de paralelas cruzadas em Ângulo reto) pode também representá-lo entre duas paralelas, apenas.
(Texto extraído do Livro "Curso de Maçonaria Simbólica" (Aprendiz Tomo I)
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NOTA: O Círculo Entre Paralelas pertence ao Altar de Juramentos e não se confunde com o símbolo pitagórico representativo do Cosmos. Repelimos a interpretação de Oliver e outros, com este argumento: Pitagóricos imaginavam um Universo em torno de um fogo central que não era o Sol, pois, esta estrela, havia por ele como um “planeta”, giraria, com outros planetas então conhecidos, em torno da suposta substância ígnea; “para completar o número dez”, ele admitia mais um planeta chamado “anti-terra”. O movimento seria governado ou acompanhado pelas “esferas concêntricas”, as quais, com as suas rotações, produziriam uma espécie de música divina, denominada “harmonia das esferas”. Essa música seria inaudível pelos homens, eis que, estes, nascendo com ela e a ela se habituando, não poderiam percebê-la.
Mais lógica vem a ser, por conseguinte, a interpretação histórica, aliada à interpretação bíblica. Não só muito mais logica, pois é a interpretação maçônica e verdadeira.

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