domingo, 18 de junho de 2017

A GNOSE[1] ESOTÉRICA RENASCENTISTA



Por João Anatalino Rodrigues
Extraído do Livro Conhecendo a Arte Real – Editora ISRN - 2a. Edição


A GNOSE NA MAÇONARIA

Fora do domínio religioso o gnosticismo sobreviveu no campo das ideias. Muitos pensadores e intelectuais, a despeito da repressão movida pela Igreja, eram gnósticos. Cita-se, entre eles, Cornelius Agrippa[2], Jacob Boehme[3], Eliphas Levi[4], entre outros. Também a maior parte dos pensadores do círculo rosacruciano, responsáveis pela transição da Maçonaria operativa para o especulativo podem ser considerados gnósticos.

Foi durante a Renascença, entretanto, que o pensamento gnóstico experimentou uma extraordinária revalorização, através dos trabalhos de notáveis intelectuais, como Thomas de Kempis[5], Thomas Morus[6], Erasmo de Roterdã[7] entre outros, e principalmente de filósofos místicos, como Enrique Suso[8], João Tauler[9], Tommaso Campanella[10], Marsílio Ficcino[11] e principalmente Giordano Bruno[12].

Aliás, se há uma religião na Maçonaria, esta é a religião de Thomas Mórus, Giordano Bruno, Roger Bacon[13], Isaac Newton, Voltaire e outros, que é também religião da gnose esclarecida. Essa religião integra o que de melhor existe na sabedoria das civilizações antigas e a pureza do cristianismo primitivo. Os cidadãos utopianos da comunidade pensada por Mórus, por exemplo, convertidos ao cristianismo, eram os hermetistas cristãos que desaprovavam o uso da força na resolução das questões religiosas e pregavam o livre pensamento nos melhores moldes do catecismo cristão dos primeiros séculos. Um utopiano, na sociedade idealizada por Morus, não podia ser preconceituoso sob pena de ser repreendido severamente e até banido. Nisso repetiam à divisa iluminista expressa no pensamento de Voltaire: “posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo”.

Haja vista que a única religião aceitável por todos os maçons, de acordo com as Constituições, é aquela que torna os homens leais, honrados e probos, quaisquer que sejam seus nomes ou confissões que professem. Temos para nós que se o reformismo cristão de Moore não tivesse sido interrompido pela volúpia e pela tirania do rei Henrique VIII, na ânsia de produzir um herdeiro para a sua dinastia, é bem possível que a Reforma Religiosa tivesse começado na Inglaterra e fosse conduzida pela própria Igreja Católica. Naquele país, pelomenos, os católicos estavam cônscios de seus defeitos e maduros para uma reorientação capaz de eliminar os vícios que o fundamentalismo e a intolerância que o acompanham, sempre carregam. Também poderiam ter sido evitados episódios sangrentos como a Revolução Puritana e as diversas guerras religiosas que ensanguentaram a Europa.

Nesse caso, a Reforma não teria sido realizada por homens igualmente intolerantes como Lutero, Calvino, Zwinglio e outros, que a pretexto de combater a corrupção da Igreja Católica e oferecer uma alternativa à fé, desencadearam também um oceano de intolerância e repressão que repetiu, em muitos casos os mesmos vícios que procuraram combater.

Talvez a Reforma tivesse sido conduzida pelos maçons. Mas a história não é feita de “ses”, e o que aconteceu, aconteceu.

[1] Gnose = conhecimento esotérico da verdade espiritual combinado com a mística, o sincretismo religioso e a especulação filosófica que algumas seitas dos primeiros séculos da era cristã, consideradas heréticas pela igreja, consideram ser essenciais para a salvação da alma.
[2] Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim foi um dos mais significativos ocultistas da história da humanidade, especialmente no período renascentista. Porém, foi também médico, astrólogo, teólogo, escritor, alquimista, soldado e outras tantas ocupações. Seu nome é referenciado em diversos compêndios e citado por inúmeros autores em tratados esotéricos e estudos herméticos. No entanto, a história recente parece não ter atribuído o devido valor a sua contribuição e seu nome fica projetado em segundo plano, ocultado por personagens tão brilhantes como Paracelso,Eliphas Levi, Saint Germain, entre outros. Nasceu na cidade de Colônia, Alemanha, em 14 de setembro de 1486.
[3] Jacob Boehme (1575-1624), o filósofo Teutônico, “Príncipe de todos os Videntes medievais, nasceu de uma família camponesa de Alt Seidenberg, a cerca de dois quilômetros de Goerlitz, na Silésia alemã. Embora não recebesse nenhuma educação formal além de aprender a ler e escrever, ele estava destinado a descobrir o significado interno da Bíblia e o coração místico da vida espiritual.
[4] Eliphas Levi Zahed é tradução hebraica de Alphonse Louis Constant, abade francês, nascido no dia 8 de fevereiro de 1810 em Paris. O maior ocultista do século XIX, como muitos o consideram, era filho de um modesto sapateiro, Jean Joseph Constant e de Jeanne-Agnès Beaupurt, de afazeres domésticos. Possuía uma irmã, Paulina-Louise, quatro anos mais velha do que ele. Apesar de mostrar desde menino aptidão para o desenho, seus pais encaminharam-no para o ensinamento religioso.
[5] Thomas Haemerken de Kempis - Agostiniano germânico nascido na localidade alemã de Kempten, na Diocese de Cologna, próximo a Düsseldorf, na Renânia, autor do livro devocional De imitatione Christi (Imitação de Cristo), tido como a mais importante obra da literatura cristã, depois da Bíblia. Filho de um artesão e de uma professora, John e Gertrudes Haemerken, seguiu seu irmão mais velho John Haemerken, e foi estudar em Deventer (1392), na Holanda, centro religioso e sede da Irmandade da Vida Comum, comunidade dedicada ao cuidado e educação dos pobres. Estudou sob a orientação de Florentius Radewyns, agostiniano e fundador da Congregação de Windesheim. Depois de completar as Humanidades em Deventer (1399), por recomendação de seu superior, Florêncio Radewyn, procurou admissão entre os Cônegos Regulares de Windesheim no Monte S. Agnes, perto de Zwolle, mosteiro do qual seu irmão John era o prior. Ingressou no mosteiro de Agnietenberg, no qual permaneceria por mais de setenta anos e recebeu o hábito de noviço (1406). Ordenou-se (1413), passando a dedicar sua vida à cópia de manuscritos e ao ensino de noviços. Seu primeiro mandato como subprior foi interrompido pelo exílio da comunidade de Agnetenberg (1429-1432), porém foi eleito como subprior novamente (1448). Escreveu numerosos textos teológicos e espirituais, tendo como expoente a De imitatione Christi, obra cuja autoria é ainda controvertida. Esse livro escrito em estilo simples, enfatizava a vida espiritual, afirmava a comunhão como prática para fortalecer a fé e encorajava uma vida pautada no exemplo de Cristo. Para muitos críticos de literatura seus textos são provavelmente a melhor representação da devotio moderna, um movimento religioso criado por Gerhard Groote ou Gerardus Magnus, fundador da Irmandade da Vida Comum. Séculos após sua morte, ocorrida em Agnietenberg, Países Baixos, uma esplêndida edição do Opera Omnia foi publicada por Herder sob a apta editoração do Dr. Pohl, em 17 volumes (1902-1922). Suas obras têm sido repetidamente republicadas ao longo dos tempos, como Imitação de Cristo (1441), Opera Omnia (1607), Chronicon Montis Sanctae Agnetis (Antuérpia, 1621), Orações e Meditações da Vida de Cristo e Encarnação e Vida de Nosso Senhor (Londres, 1904, 1907), Crônica dos Cônegos Regulares do Monte S. Agnes (Londres, 1906), Sermões aos Noviços Regulares (Londres, 1907).
[6] Thomas Morus (ou Thomas More) foi escritor, diplomata, advogado e um dos grandes humanistas do Renascimento. Nascido em Londres no dia sete de fevereiro de 1478, Thomas Morus era filho do juiz John More com Agnes Graugner. Homem de muito bom humor, fez carreira como advogado e se tornou um profissional respeitado. Sua erudição e sua habilidade o levaram à cátedra universitária por algum tempo. Rapidamente passou a ocupar a Câmara dos Comuns e ficou reconhecido como parlamentar combativo. Seu crescimento foi rápido por todos os locais que passou, o que o levou à corte de Henrique, no ano 1520. Vivendo perto da família real, Thomas foi embaixador e tornou-se cavaleiro já no ano seguinte. Sua ascensão passou por vários cargos importantes até chegar ao posto de Chanceler da Inglaterra. Seu livro mais famoso é a UTOPIA.
[7] Erasmo de Roterdã - Escritor holandês (1466-1536). Suas ideias humanistas deixaram marcas importantes no pensamento liberal e progressista do Renascimento.
[8] Henrique Suso nasceu na ilha de Constança, na Alemanha, no dia 21 de março de 1295, foi um dos principais representantes do movimento religioso, que floresceu na região do rio Reno, no início do século XIV. Religioso dominicano, escritor e místico, se tornou um dos teólogos alemães mais conhecidos, pela característica da singular doçura de sua espiritualidade e pela clareza do conceito transmitido de que a vida interior é acessível a todas as almas seguidoras da Paixão de Jesus Cristo.
[9] John Tauler (1300-1361), também conhecido como Johannes Tauler, Johann Tauler, Juan Taulero ou João Tauler, foi um germânico escritor de Vida Interior; Teólogo Místico; Neo-Platonista e Frade Dominicano.
[10] Tommaso Campanella nasceu em Stilo, no dia 5 de Setembro de 1568. Ainda muito jovem, já se revelava em seu espírito o pendor para a filosofia. Seu pai, contrariando-lhe a vocação, quis fazer dele um jurista, ao que Campanella se opôs tenazmente. Sua primeira obra foi a Philosophia Sensibus Demonstrata(1), que lhe valeu a acusação de heresia. Tendo deixado o convento em que iniciara os estudos, empreendeu uma viagem pela Itália, através da qual ficou conhecendo os homens mais ilustres do seu tempo.
[11] Médico e teólogo italiano nascido em Figline Valdarno, próximo a Florença, pioneiro na tradução para o latim as obras de Platão, Porfírio e Plotino e outros autores neoplatônicos, assim como obras de Dionísio Areopagita, tornando-se um arauto do neoplatonismo renascentista. Protegido por Cosimo de Médici, que o presenteou com uma Quinta, onde teve sua sede a academia platônica, pode consagrar toda a sua vida aos prediletos estudos filosóficos. Da escola grego-latina tornou-se diretor da Academia Platônica Florentina (1462), fundada (1442) por Cosimo de Medici, na qual conviveu com outros notáveis pensadores, como Giovanni Pico della Mirandola. Ordenado (1473), anos mais tarde, foi nomeado cônego da catedral de Florença e viveu uma existência muito austera no meio de Florença do século XV. Dedicou a maior parte de sua vida traduzindo os trabalhos de Platão, do original grego para o latim, tentando, na sua visão, reconciliar o platonismo com cristianismo, como na sistematização que se encontra nos 18 livros da Theologia platonica (1482) e morreu em Careggi, nas proximidades de Florença. Foi o principal representante do platonismo italiano, animador da célebre academia platônica florentina. Esta academia nasceu graças a um cenáculo de literatos, artistas e pensadores, amigos da casa De Médicis. Fizeram parte deste cenáculo Poliziano, Pulci, João Pico della Mirandola e o próprio Lourenço, o Magnífico. Historicamente, depois do platonismo de importação oriental, na segunda metade do século XV surgiu e firmou-se um platonismo italiano. O centro foi precisamente Florença, onde foi celebrado o famoso Concílio.
[12] Giordano Bruno (Nola, Reino de Nápoles, 1548[2]Roma, Campo de Fiori, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano italiano ] condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício) com a acusação de heresia[1] ao defender erros teológicos. É também referido como Bruno de Nola ou Nolano
[13] Roger Bacon nasceu em 1214, na cidade de Somerset, na Inglaterra. Estudou nas universidades de Oxford e Montpelier, além de ter sido professor na Universidade de Paris. Em 1250 abandonou a cadeira e tornou-se monge da Ordem de São Francisco de Assis.
Tinha ideias avançadas para a época medieval, tendo que enfrentar grandes dificuldades para desenvolver seus estudos. Contou com a ajuda do Papa Clemente IV, seu admirador, que garantiu certa tranquilidade a ele. Trabalhou na correção do Calendário Juliano, aperfeiçoou os instrumentos de óptica e aproximou-se bastante dos princípios que permitiram a confecção de óculos e telescópios, séculos mais tarde.Bacon, baseado em suas pesquisas sobre óptica, descreveu o olho como uma máquina onde formam-se imagens e após compreender as causas da refracção da luz, foi o primeiro a sugerir o uso de lentes como óculos.
Foi o responsável pela introdução da pólvora no mundo ocidental, mas escondeu a fórmula por medo de que esta caísse nas mãos de homens inescrupulosos. Profetizou muitos artefatos mecânicos, como o barco a vapor, o automóvel e o avião. Tinha conhecimento também dos problemas de engenharia de construção, foi o inventor da lente de aumento, do princípio do termômetro. Sugeriu também que a Terra seria redonda e poderia ser circunavegada. 
Acreditava na magia e procurava estabelecer diferenças entre esta e a ciência. Dizia que os astros exerciam certa influência sobre o homem, mas sem limitar seu livre arbítrio. Foi o primeiro inglês a cultivar a Filosofia Alquímica e colaborou com as ciências herméticas.
Dentro da Ordem dos Franciscanos, onde buscava recolhimento que Bacon encontrou seus problemas. Os franciscanos não aceitavam seus questionamentos científicos e suas experiências. Depois de várias advertências, foi mandado para a prisão. Porém o Papa Clemente IV ordenou que fosse solto. Porém, em 1282, após a morte do Papa, Bacon foi novamente para a prisão, onde permaneceu por dez anos, e morreu dois anos depois de ser solto, em 1284. Na prisão escreveu várias obras, como o livro "Opus Majus", que foi publicado somente 450 anos depois. Esse livro tratava da causa da ignorância, da relação entre a Filosofia e a Teologia, da ética e das ciências experimentais e matemáticas. Sua obra alquímica foi reunida no século XVII com o nome de Tesouro Químico de Roger Bacon, e continha os seguintes livros: Alquimia Maior, O Espelho da Alquimia, Sobre o Leão Verde, Breviário do dom de Deus, Os Segredos dos Segredos, além de outras anotações.
Na época de Bacon, a Filosofia era a análise geral do pensamento humano, sendo que não havia a Psicologia, a Psiquiatria, a Parapsicologia. Fica então lógico o raciocínio desse cientista-filósofo, sendo que ele influenciou os iniciadores das Ciências Psíquicas no século XIX. Os reencarnacionistas afirmam que Bacon foi a reencarnação de Proclo, o filósofo que na sua época falou sobre as leis dos renascimentos sucessivos.


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