domingo, 2 de julho de 2017


A MAÇONARIA DO REAL ARCO ANTES DA UNIÃO DE 1813 – O 4º GRAU DOS ANTIGOS


Por Luciano R. Rodrigues


INTRODUÇÃO

Ao longo da história da maçonaria não há outro quebra-cabeças tão misterioso quanto a origem do Grau do Real Arco.

Há duas condições que contribuíram para esta circunstância nebulosa. A primeira é que aqueles que sabiam algo definido sobre quando surgiu, não deixou nada registrado sobre este conhecimento, a outra é que aqueles que escreveram sobre este grau nos primeiros anos do século XIX, pouco sabiam sobre o que eles falavam, e de muitas teorias criadas, pouco realmente se aproveita, se levarmos em conta referências e provas dos ocorridos.

Uma alegoria do que muitas vezes ocorre, foi quando Cavaleiros da Ordem Teutônica viram pela primeira vez um camelo e o descreveram. Eles nunca tinham visto um camelo e eles não tinham idéia do que ele parecia, assim detalharam com informações oriundas das profundezas da imaginação, com resultados surpreendentes.

Da mesma forma, a evolução da Maçonaria do Real Arco é atribuída a diferentes fontes com a qual realmente não tem nada a ver, nem mesmo uma mínima relação.

O “modus operandi” de alguns escritores, é impor um estilo autoritário, citando numerosos escritores, de modo que uma pessoa pouco instruída, não poderia duvidar de suas afirmações ou tentar refutar as suas conclusões.

Mas, no entanto, quando a pesquisa da origem do grau, foca em examinar as atas originais das Grandes Lojas e das lojas e capítulos, torna-se óbvio que o método de escrever a história através de uma viagem para os reinos de fantasia, não é o melhor caminho para se chegar à verdade sobre o assunto.

Também fica claro que as declarações destes chamados historiadores, foram baseadas, não em fatos seguros ou comprovados, mas apenas em suposições. Supõe-se que o grau tenha evoluído de uma determinada forma e, portanto, deve ter surgido da mesma maneira.

Tal atitude para desenvolver uma idéia é fatal para um pesquisador, mas muito fácil de seguir:

Primeiro cria-se uma teoria, mais ou menos provável, e só depois os fatos, ou apenas inclui aquilo que possa parecer apropriado, para assim coincidir com a teoria. Tal método produzir um efeito caótico na mente do genuíno buscador do conhecimento.

Talvez o melhor seja confrontar, com as noções de antigos escritores desacreditados e, em seguida, fazer um resumo do que realmente é tangível, deixando de lado o reino da conjectura, que tem seu próprio lugar, talvez para aqueles que preferem o modo fácil para resolver uma questão controversa.

Vamos analisar algumas das teorias que buscam explicar a origem do Real Arco:

A “Teoria do Cavaleiro Ramsay”, desacreditada.

O nosso querido e mais elusivo amigo, o Cavaleiro Ramsay, que poderia ou não ser maçom pois não há certeza de uma coisa nem outra, mas que em uma época foi dado todo o crédito.

Deve ter sido um homem de destaque, se ele tiver feito um décimo das coisas atribuídas a ele. Em um período foi tutor dos filhos de Stuart e teve uma carreira muito variada, dedicando sua vida à restauração da família Stuart ao trono de Inglaterra, um empreendimento que ele falhou, como aconteceu com todos os que tentaram ajudar esta dinastia infeliz e decadente.

Parece ter dirigido sua atenção para qualquer um que pudesse lhe prestar assistência, e mesmo que vago e improvável, poderia casualmente ser útil em seus projetos.

E o que dizer sobre a organização global da ordem maçônica, uma moda entre a aristocracia francesa?

Com esta finalidade e uma meta em vista, carregando o crédito de inventar todos os tipos de graus maçônicos, mas sem comprovação alguma de que tenha realmente feito algo semelhante, em 21 de Março de 1737, Ramsay escreveu um discurso maçônico que tem um charme inegável, mas comprovadamente irreal, apresentado em uma loja maçônica ou na Grande Loja, em Paris, onde diferentes graus foram mencionados.

Em qualquer um dos casos, seus esquemas não deram em nada e a casa Hanover permaneceu firme no trono e tanto quanto sabemos, a Maçonaria continuou como de costume.

De acordo com alguns pesquisadores, o discurso não foi lido em qualquer loja. Também não é verdade que Ramsay escreveu um discurso, tudo o que sabemos, é que ele disse ter feito. Dessa fraca fonte, provém todas as teorias de Ramsay, como uma espécie de arco conspirador, que trouxe todos os tipos de inovações para a Maçonaria.

Os textos do Rev. Dr. Oliver não são confiáveis

Hugham, no livro “Origin of the English Rite” (1909), em Origem do Real Arco Inglês, nos diz:

“O Dr. Oliver afirma que o Cavaleiro Ramsay visitou Londres nos primeiros dias do período em questão, a fim de introduzir um novo grau na Maçonaria Inglesa, e que seus esquemas foram rejeitados pela Grande Loja Constituinte (primeira Grande Loja), não é provável que ele iria deixá-lo para os cismáticos (Antigos)…. Ramsay teria se dedicado a criar um grau Inglês”.

Discordo completamente com tais declarações, por muitas e suficientes razões. Não há evidência alguma de que as invenções de Ramsay foram rejeitadas tanto pela Grande Loja da Inglaterra, quanto pelos seus rivais (os Antigos) ou qualquer outro organismo maçônico da Grã-Bretanha e Irlanda. A Grande Loja dos Antigos só apareceu alguns anos após a morte de Ramsay. Aparentemente, Ramsay visitou alguma parte da Inglaterra ou da Irlanda por volta do ano 1740, mas não foi por motivos maçônicos e sim políticos, mas por falta de informação, só podemos especular.

Rev. Dr. Oliver era uma pessoa muito querida e um grande escritor. Como um dos pilares da Igreja da Inglaterra realmente deveria ter sido mais cuidadoso em suas declarações sem provas. Eu acho que, como Sidney Smith disse: Um pregador no púlpito “estava três pés acima da contradição”. E assim o doutor com frequência se contradizia, ficando assim, claro que não podemos dar muito crédito, à medida que nem ele acreditava em suas próprias afirmações.

Outras opiniões

Robert Freke Gould:

Gould em “History of Freemasonry” tenta provar que o grau do Real Arco teve sua estreia nos graus “escoceses” que surgiam em todas as partes da França na década de 1740.

Naquela época, a França estava cheia de Ingleses e Escoceses, partidários da causa Stuart, que cruzaram o canal para conspirar em favor dos Stuarts. A maioria eram ou se converteram ao catolicismo romano e é duvidoso que tenham se unidos à ordem maçônica. Gould tenta, mas não prova nada.

Joseph Gabriel Findel:

Findel em “History of Freemasonry” afirma que:

“O grau do Real Arco consiste essencialmente de elementos decididamente de origem francesa, mas recebeu uma forma diferente em sua chegada a Inglaterra, agregando altos graus que eram florescentes no continente”.

Mais uma vez encontramos uma declaração sem a menor tentativa de prová-la. O que gostaríamos é de ter sinais para atestar essas afirmações, mas se são meramente hipóteses, seria melhor deixar tudo como está.

Georg Franz Burkhard Kloss:

Kloss, no entanto, tem algo melhor para nós, uma data definida, conforme escreveu em “History of Freemasonry in England, Ireland and Scotland” (1848).

Ele diz que a Maçonaria do Real Arco foi introduzida na Inglaterra em 1774 e, em seguida, afirma que os britânicos encontraram o grau durante a Guerra da Sucessão Austríaca entre 1741 e 1742.

Então, felizmente, temos algo mais definido. Sabemos dos movimentos de tropas britânicas durante a campanha inconclusiva em que Frederico o Grande conseguiu o que queria, e o resto, incluindo a Inglaterra, só aumentou a dívida nacional.

Cerca de 16.000 soldados britânicos estavam estacionados na Holanda, mas não realmente comprometidos com as forças de Maria Teresa da Áustria. Não podemos dizer que nenhum Inglês esteve na Áustria durante esse período, mas a história nos diz que é improvável. Em todo caso, se essas pessoas tiveram acesso ao grau em 1741 ou 1742, por que esperar até 1774 para introduzir o grau na Inglaterra? Se sabemos que o Real Arco era praticado na Inglaterra antes desta data. As datas certamente não batem.

Assim podemos observar, que diversos e importantes escritores maçônicos, atribuem a invenção do grau a fontes estrangeiras, de preferência francesas.


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Avental antigo do Real Arco

OS FATOS COMPROVADOS DA MAÇONARIA DO REAL ARCO

Agora vamos deixar o fascinante reino das suposições, as hipóteses estranhas e extravagantes, sem um pingo de evidência e ver o que podemos realmente atestar.

William James Hughan, um escritor cujas declarações sempre foram apoiadas por provas documentais, nos diz:

“É provável que a Maçonaria do Real Arco foi a primeira cerimônia associada aos graus do Craft, mas antes de haver atas de reuniões, o Real Arco já tinha registros de graus extras, mas as referências anteriores a 1743-4, a coloca um uma posição de ser uma das mais antigas cerimônias adicionais” (Origin of the English Rite of Freemasonry)

A data de aparição do Real Arco pode então nos levar aos anos de 1740, embora tenha sido trabalhado antes dessa data, mas a prova documental de que era bem conhecido após essa data, está cada vez mais estabelecida, à medida que registros antigos vem à tona.

A primeira menção do grau na literatura contemporânea é a obra intitulada “A Serious and Inpartial Enquiry to the Cause of the presente Decay of Free-Masonry in the Kingdom of Ireland”, escrito por Fifield Dassigny, Dublin, 1744. (A investigação séria e imparcial sobre as causas do declínio da Maçonaria no reino da Irlanda).

Este livro havia desaparecido, até que H. Hugham descobriu uma cópia em 1867, que agora está preservada na Biblioteca da Grande Loja de Iowa, EUA. Posteriormente, foi descoberta uma outra cópia na Biblioteca de West Yorkshire. Em seu trabalho, Dassigny refere-se especificamente ao grau do Real Arco, uma vez que estava sendo trabalhado em várias cidades.

Avental antigo do Real Arco

REGISTROS DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Do ponto de vista da continuidade do trabalho, nossos irmãos americanos podem, com justiça, serem parabenizados, pois no Capítulo Jerusalém Nº3, da cidade da Filadélfia, tem trabalhado o grau sem interrupção desde 1758 até hoje, verdadeiramente uma posição privilegiada!

A primeira ata que registra uma cerimônia do Real Arco, está localizado nos EUA, onde uma loja de Fredericksburg, Virgínia, em 22 de dezembro de 1753, consta que “vários irmãos foram elevados ao grau de Maçom RA” (elevado a grau de Maçom do Real Arco).

Os “Antigos”, defensores da maçonaria do Real Arco

O protagonista do Real Arco foi Lawrence Dermott, que não perdia a oportunidade de proclamar que o grau era parte essencial e necessária da maçonaria.

Dermott tinha sido lançado na Irlanda em 1740 e tornou-se Mestre na Loja nº26, de Dublin, em 1746, e no mesmo ano foi feito Maçom do Real Arco. Em 1748 ele se mudou para Londres e em 1752 foi o Grande Secretário da Grande Loja “Atholl” dos maçons conhecidos como “Antigos”. Sua capacidade de trabalho era simplesmente incrível, no início de sua carreira, como pintor, ele trabalhava até 12 horas por dia. No final de sua jornada trabalhava como Grande Secretário. Ele escreveu inúmeras cartas e sempre discutindo com alguém, seja de sua própria Grande Loja ou da rival. Se a combatividade é uma característica dos Irlandeses, então Dermott tinha uma atribuição dupla de tal propriedade. As correspondências eram mais ásperas do que amigáveis e podemos dizer que geralmente usava mais “o punho de ferro do que a luva de seda”. O seu poderoso esforço era em função do rápido avanço, do que chamou de “a raiz, o coração e a medula da Maçonaria”. Morreu em 1791, não viveu para ver os frutos de sua esperança mais secreta, mas antes de sua morte era óbvio que suas idéias tinham ganhado um crescente espaço e era apenas questão de poucos anos para prevalecer.

Mas desde quando o Real Arco fazia parte dos trabalhos dos Antigos?

Surpreendentemente, a primeira menção do Real Arco como um quarto grau, não aparece nos Registros de John Morgan, primeiro Grande Secretário eleito pela Grande Loja dos Antigos (1751) ou qualquer outro documento referente aos antigos, até a publicação das leis e regulamentos de 1794.

O primeiro registro de Morgan, data de 17 de julho de 1751 e inclui 16 regras e regulamentos que seriam praticados pelos Antigos. Duas regras adicionais foram adicionadas por Lawrence Dermott em 6 de Abril e 1 de Julho de 1752, respectivamente.

Não há nenhuma palavra que se refira ao Real Arco nos documentos mais importantes dos antigos. Os demais graus, de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom e a cerimônia de Instalação, são descritos em detalhes.

As atas das Antigos iniciam em fevereiro de 1752, e o Real Arco aparece pela primeira vez na segunda ata de 4 de março de 1752, e se refere a um processo contra um certo Thomas Phealon e John Macky, que aparentemente iniciaram muitas pessoas por mera consideração de uma perna de cordeiro para o jantar.

Eles ficaram conhecidos como “Os maçons da perna de cordeiro”.

As atas, escritas pelo próprio Dermott, afirmam que Dermott tinha falado com Macky e descobriu que, ele conferia o grau do Real Arco sem nenhum conhecimento do grau.

A primeira edição do Ahiman Rezon, o Livro das Constituições dos Antigos, apareceu em 1756. Essa é a fonte usada pela maioria dos pesquisadores, para interpretar a atitude de Dermott sobre a primeira Grande Loja.

Existe uma frase que está estreitamente relacionada com Dermott e os Antigos com a Maçonaria do Real Arco, e é escrito por ele:

“Tendo inserido esta oração e dito que parte da Maçonaria é comumente chamado Real Arco (do qual eu acredito firmemente, ser a raiz, o coração e a essência da Maçonaria) …”

O conteúdo entre aspas, é quase uma referência à importância atribuída a esse grau adicional. As páginas que seguem são de pouca importância, em relação ao Real Arco.

A implicação de tudo isso é, como mencionado anteriormente, que Dermott estava ansioso para preservar o Real Arco como uma “arma” contra os modernos. Ele estava convencido de que o Real Arco deveria ser preservado como um elemento importante da tradição maçônica dos antigos, mas estranhamente, não mencionou isso quando a ocasião surgiu, ou seja, quando escreveu as suas constituições (Ahiman Rezon).

O único outro aspecto notável em várias edições do Ahiman Rezon são esforços contínuos de Dermott, para associar os Antigos com a maçonaria de York, dando a sua Grande Loja uma aparência de antiguidade.

Em abril 1760, é publicada uma divulgação intitulada “As três batidas distintas ou a porta da mais antiga Franco-Maçonaria”. A introdução é extensa e detalhada, implicitamente declara que o ritual descrito é praticado pelas lojas pertencentes a Grande Loja dos Antigos. Não há nenhuma menção ao Real Arco. Por que não?

Essa é a omissão mais notável no desenvolvimento histórico da Grande Loja dos Antigos naqueles primeiros dias. A única explicação para a omissão do Real Arco na divulgação detalhada dos três graus e da cerimônia de instalação, tal como praticada pelos antigos, é que o autor não tinha conhecimento da existência desse grau.

Essa é a única explicação viável para o que seria uma extraordinária omissão e isso mostra que nove anos após a formação, o grau ainda não era funcional nas lojas “antigas”.

Como já foi dito, Dermott associava os “Antigos” com a maçonaria de York. Por exemplo, as linhas iniciais de todas as suas cartas patente, desde 1752, afirmavam que sua autoridade emanava da Sua Alteza Real, o Príncipe Edwin, no ano de 924 e em York. Esta associação errônea com York pode ser confundida com eventos reais que aconteceram em York e não tinham nenhuma conexão com os Antigos, nem as atividades desta Grande Loja.

Em uma reunião em Sign of the Punch Bowl em Stonegate (uma taberna) de York em 7 de fevereiro de 1762, os quatro fundadores da loja, “pediram” para ser elevados ao quarto grau da Maçonaria, denominada Mui Sublime Real Arco.

A equívoca associação entre os Antigos e a Grande Loja de York, pode bem provocar que se atribuam os eventos ocorridos em York em 1762, aos antigos, muito mais cedo do que a data real. Mas foi 32 anos mais tarde, em 1794, que os antigos começaram a se referir ao Real Arco como um quarto grau.

Ele sempre afirmou que o Real Arco era praticado nas lojas sob a jurisdição da Grande Loja dos Antigos, sob a sua autoridade, mas não foi encontrada nenhuma explicação satisfatória para a origem de tal autoridade.

Seria de se esperar que a autoridade para praticar graus além daqueles do Ofício, apareceu nas Cartas Patente emitidas para as lojas. O texto destas patentes, desde o início, começa com uma declaração da suposta autoridade garantida aos Antigos, pelo Príncipe Edwin de York, no ano 924. Ele continua com a afirmação implícita de que a autoridade foi dada para “Admitir e fazer Maçons de acordo com o costume antigo e honrado da Arte real”.

Não há nenhuma indicação de autoridade, a mais do que para os três graus e a cerimônia de instalação. O Real Arco não aparece como praticado, nas duas primeiras décadas de existência da Grande Loja dos Antigos.

A explicação para essa autoridade sobre as lojas subordinadas emana da influência que a Irlanda tinha sobre os Antigos. As patentes usadas em todas as lojas irlandesas, declaram que a autoridade de todas as lojas sob a Constituição Irlandesa, garante a cada loja, fazer leis e regulamentos que considere adequadas para o seu funcionamento.

O resultado é que as lojas irlandesas podem conferir qualquer grau com a autoridade de sua patente, podendo criar os regulamentos necessários a loja.

A estreita associação dos antigos com a Grande Loja da Irlanda pode deixar o pressuposto de que os direitos implícitos semelhantes, poderiam ter sido dados às lojas sob a jurisdição da Grande Loja dos Antigos.

É dito que os Antigos adotaram o Real Arco desde o início da Grande Loja em 1751. Mas não há evidências para comprovar isso. Os dados disponíveis indicam que o grau não foi levado a sério pelos Antigos, até pelo menos 1766 e provavelmente até dezembro de 1771.

Durante o período transitório, enquanto o Real Arco foi conservado com fervor e tratado quase exclusivamente por Laurence Dermott, ele encontrou no Real Arco uma excelente ferramenta para usar contra os Modernos.

OS "MODERNOS E A MAÇONARIA DO REAL ARCO"

Foi com grande dificuldade que a Grande Loja dos “Modernos” deu importância a existência do grau do Real Arco, pois o grau, na época, estava sendo extensivamente trabalhado por maçons “regulares”, desafiando a proibição de suas autoridades.

Na Inglaterra, sucessivos Grandes Secretários tentavam colocar panos frios no grau e de tempos em tempos, emitiam uma norma como “Nossa sociedade não é arco, nem Real Arco e nem Antiga”. O curso inexorável dos acontecimentos, no entanto, causou uma mudança nessa atitude que levou à aceitação do grau nos artigos de união entre as duas Grandes Lojas da Maçonaria da Inglaterra, proposto em 25 de novembro de 1813 e ratificado em 1 de dezembro daquele ano:

Cláusula dois desses artigos

“Se declara e pronuncia que a pura e antiga Maçonaria, consiste em três graus e não mais, ou seja, Aprendiz, Companheiro e Mestre, incluindo a Suprema Ordem do Santo Arco Real. Este artigo não tenta evitar que qualquer loja ou capítulo, possa realizar reuniões em qualquer um dos graus das Ordens de Cavalaria, de acordo com as Constituições dessas ordens. ”

Assim foi conseguido para a Suprema Ordem do Santo Arco Real, essa aliança com o Ofício, que Dermott passara a maior parte de sua vida tentando proteger.

Conclusão

Com o ato de união de 1813, ocorre a fusão da Grande Loja dos Antigos e dos Modernos, dando nome a atual Grande Loja Unida da Inglaterra, que para atender as aspirações dos irmãos de ambos os “lados”, criou uma loja de reconciliação, afim de desenvolver um ritual refletindo estas duas correntes. As lojas que antes trabalhavam nos três graus (aprendiz, companheiro e mestre), passaram a também conceder o grau do Sagrado Arco Real, dito Inglês.


A Ordem do Real Arco, composta por quatro graus, seguindo o praticado na Irlanda, tomou força nos EUA e atualmente temos a oportunidade de trabalhar eles no Brasil, com administração pelo Supremo Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do Brasil, seguindo a estrutura americana, como parte dos altos graus do Rito de York Americano. Seus rituais datam de 1797, sendo então, anteriores aos primeiros rituais utilizados pelos Ingleses nas lojas simbólicas, em 1834, para concessão do grau lateral do Arco Real. Assim, a Ordem do Real Arco reivindica uma prática mais antiga do que a utilizada pelos ingleses.

Bibliografia:

Ahiman Rezon – A constituição dos Maçons Antigos de Laurence Dermott – Traduzida e comentada por Kennyo Ismail
The Builder Magazine – Maio de 1925
The Complex Origins of the Royal Arch – Yasha Beresiner.
Royal Arch Masonry Prior to the Union of 1813 – John Stokes
History of Freemasonry – Robert Freke Gould
History of Freemasonry – Joseph Gabriel Findel
History of Freemasonry in England, Ireland and Scotland – Georg Franz Burkhard Kloss
Origin of the English Rite of Freemasonry – William James Hughan


Manuscrito “The Cologne Charter” (1535)



por Luciano R. Rodrigues
Introdução

É a primeira metade do século XVI. A Europa estava se recuperando da notícia histórica da descoberta de um novo continente, por Cristóvão Colombo (1451-1506), na redondeza da terra demonstrada por Ferdinand Magellan (1480-1521), grande parte da Alemanha foi convertida ao protestantismo pelo monge reformista Martinho Lutero (1483-1546) e Francisco I da França (1494-1547) se revelou um determinado construtor de castelos e um opositor ferrenho ao imperador Charles V (1500-1558).

E, em 1535, os mestres eleitos da Fraternidade dedicada a São João, membros da Maçonaria, se reuniram na cidade de Colônia (Koln em alemão), a maior cidade do estado da Renânia do Norte-Vestfália, para elaborar um novo documento (Estatuto), que se preocupava mais com a Maçonaria dos Aceitos do que com a prática manual do Ofício.

Com 19 assinaturas na carta, foram feitas dezenove cópias do documento (1), entre elas estão as de Philippus Melanchthon, grande amigo de Lutero, Herman de Viec, Arcebispo eleito de Colônia, Jacobus de Antuérpia, Reitor dos Agostinianos da cidade, e o de Gaspard de Coligny, o líder do partido Calvinista na França. Isso não é surpreendente, afinal, como é hoje universalmente admitido, a “Carta de Colônia” não é genuína e os nomes desses líderes e poderosos europeus estavam lá para dar ao documento um falso status.

A FARSA

Embora o próprio documento seja datado de 24 de junho de 1535, não está claro quando o documento realmente foi criado. O consenso é que provavelmente foi escrito na França durante a segunda metade do século XVIII, talvez na década de 1780. É provável que tenha sido escrito para contrariar as últimas Bulas Papais e outras declarações religiosas ou políticas da época, que criticavam a Maçonaria.

Onde e por quem? Ninguém sabe.

A carta recebeu, por muito tempo, apoio massivo dos maçons e não-maçons, que defendiam sua autenticidade. Entretanto, ela contém uma longa lista de declarações e informações curiosas, se não fantasiosas: a personalidade dos signatários, a existência de uma desconhecida Irmandade de altos graus maçônicos, a evocação de ligações entre maçons e templários, as atividades maçônicas em Edimburgo, Hamburgo, Rotterdam e Veneza. Além disso, a carta, embora destinada a ser amplamente distribuída, é escrita em latim medieval e apresentada em uma substituição cifrada de caracteres “maçônicos”, que foi inventada durante o século 18.

O TEXTO (2)

Para maior glorificação do Deus Todo-Poderoso

Nós, os Mestres escolhidos da honorável e distinta Fraternidade de São João, ou membros da Ordem dos Maçons, chefes das Lojas que foram estabelecidas em Londres, Edimburgo, Viena, Amsterdam, Paris, Lyon, Frankfurt, Hamburgo, Antuérpia, Rotterdam, Madrid, Veneza, Ghent, Konigsberg, Bruxelas, Danzig, Middleburg, Bremen e Colônia,

Temos na cidade de Colônia, no ano, mês e dia mencionados abaixo, montado um capítulo sob a presidência do Mestre da Loja deste lugar: um irmão adorado, instruído, sábio e discreto, que em consequência de nosso pedido unânime, aceitou conduzir este relatório, e fazer para as Lojas nos lugares acima mencionados, e para os Irmãos que atualmente pertencem ou posam aderir à Ordem, a seguinte declaração.

Levando em consideração que, em tempos difíceis, cheios de discórdia civil e outros conflitos, nós e as Fraternidades acima mencionadas, e todos os irmãos pertencentes à Maçonaria ou Ordem de São João, foram acusados publicamente ou em segredo, de realizar certos projetos e opiniões, que são igualmente contrários aos nossos sentimentos, isolada ou coletivamente e completamente oposto ao espírito, objetivo e preceitos desta Irmandade.

Sabendo-se que nós, os membros desta Ordem (principalmente porque estamos unidos por um vínculo indissolúvel de sigilo), ficamos mais expostos às revelações de não-iniciados, profanos e a calúnia pública em geral, temos, portanto, o seguinte delito, dito ser de nossa responsabilidade, que “Nós temos o desejo de reviver a Ordem dos Cavaleiros Templários” e que, por esta razão, fomos acusados ​​publicamente diante do mundo:

“Que nós tivéssemos sido obrigados a jurar como membros daquela Ordem, para recuperar suas propriedades e posses, e para vingar a morte violenta do último Grão-Mestre sobre os descendentes daqueles Reis e Príncipes que foram culpados de seu assassinato, e foram os autores da ruína da Ordem. ”

Por este motivo, tivemos divisões excitadas na Igreja, motim e rebelião nos impérios e reinos do mundo. Fomos inflamados com ódio e inveja contra o Papa, como chefe do clero e contra o Imperador e todos os governantes. Que não reconhecemos a autoridade de outros chefes, senão consagrados, e mestres eleitos de nossa Fraternidade, espalhados por todo o globo terrestre, e que executamos seus mandamentos secretos, comunicados por misteriosos mensageiros em letras cifradas, e que não admitimos ninguém em nossos mistérios, exceto aqueles que tenham sido atormentados, experimentados e aprovados, e obrigados a jurar um abominável compromisso de sigilo.

Por isso, e em consideração a tudo o que aqui foi citado, consideramos muito necessário e oportuno, mostrar claramente, a verdadeira condição e origem de nossa Ordem e o objetivo desta instituição benevolente na forma como foi reconhecida e confirmada por seus mais distintos membros, tanto individual, quanto coletivamente, os Mestres mais experientes da Ordem, iluminados pelas verdades genuínas que sua arte imprime no espírito, e depois distribuir este documento composto, elaborado, subscrito e ratificado por nós, entre os diferentes Capítulos e Lojas da nossa confederação. Que um testemunho perpétuo possa estar à mão da renovação de nossa aliança e da pureza imaculada de nossas intenções.

E por causa da crescente suscetibilidade diária, dos cidadãos e das nações, para o ódio, a inveja, a intolerância e as lutas, é muito mais difícil para os Irmãos manterem sua Constituição e forma original de governo, pura e incorrupta, para se propagar em diferentes partes do mundo, e para manter a sua integridade inviolável, quando melhores tempos surgirem, se não todas as cópias, mas pelo menos exista uma cópia ou outra, desta epístola circular, que a Sociedade possa adotar como um guia e regra de conduta e pela qual, quando abalada a seus próprios alicerces, possa remodelar-se e, se estiver em perigo de degenerar ou se afastar de seu objetivo e propósitos originais, ela possa ser levada de volta ao verdadeiro espírito que deve guiá-la e dirigi-la.

Por esta epístola, dirigida a todos os verdadeiros cristãos, tirada das mais antigas escrituras e das memórias existentes, de opiniões, costumes e hábitos da nossa Ordem secreta, pelas razões acima referidas, nós escolhemos os Mestres das nossas Ordens, e todos com um objetivo a saber, a obtenção da luz verdadeira, nós carregamos todos aqueles nossos companheiros no trabalho, em cujas mãos esta carta possa cair, pelo seu voto mais sagrado, que eles nunca renunciariam a este testemunho da verdade confiada a eles.

De igual modo, certificamos e damos a conhecer ao mundo iluminado e não iluminado, cujo bem-estar está próximo do nosso coração, estimulando-os a continuar o nosso trabalho, ativamente e zelosamente, o que segue:

A – Que a Fraternidade, ou a Ordem dos Maçons, unida pelos votos sagrados de São João, não tem sua origem na Ordem dos Cavaleiros Templários, nem de qualquer outra Ordem Espiritual ou Secular de Cavalaria, nem de uma única ou de várias unidas. Ela não tem a mais remota associação com nenhum deles, direta ou indiretamente, mas é mais antiga do que qualquer Ordem desse tipo, pois existia na Palestina e na Grécia, bem como em uma porção ou outra do Império Romano, antes mesmo das Cruzadas, e antes do tempo em que os cavaleiros que acabamos de mencionar foram para a Palestina. Isso tem sido provado para nós em diferentes documentos e notoriamente bem autenticados nos registros antigos.

Nossa Fraternidade existia naquela época, quando um grande corpo de pessoas consagradas se separava da ética contraditória da doutrina cristã, porque lhes tinha confiado o verdadeiro ensinamento moral e a mais legítima interpretação dos mistérios religiosos. Pois, naquele período de sua separação, acreditava-se por aqueles indivíduos eruditos e iluminados, que eram cristãos inteiramente livres da heresia pagã,

“Que uma religião poluída com heresia, só poderia causar e disseminar divisões religiosas e guerras abomináveis, em vez de promover a paz, a tolerância e o amor. ”

Eles, portanto, são obrigados por um juramento sagrado, a preservar com maior pureza, as doutrinas fundamentais desta religião, promovendo grandemente esse amor, à virtude inerente à raça humana, dedicando-se inteiramente à boa obra, que a luz possa surgir no meio das trevas, dispersar as névoas da superstição e estabelecer entre os homens, todas as virtudes da humanidade, da paz e da prosperidade geral.

Os mestres desta Confederação foram chamados de Irmãos de São João, pois escolheram João Batista, o precursor da Luz do Mundo, o primeiro dos mártires que sofreram espalhando esta luz, como sua origem e exemplo. Com o passar dos tempos, aqueles homens que se distinguiram por seu conhecimento superior em seus escritos, foram chamados de Mestres. Estes eram escolhidos entre os mais experientes eruditos, companheiros em seus trabalhos, de onde surgiu o nome de Companheiro. O restante daqueles, mas não especialmente escolhidos, estando de acordo com a moda entre os filósofos hebreus, gregos e romanos, eram distinguidos pelo nome de erudito ou Aprendiz.

B – Nossa confederação como era antes, e agora ainda é, se constituí por esses três graus, Aprendiz, Companheiro e Mestre, este último, igualmente chamado de Eleito ou Mestre Eleito. Todas as outras associações e fraternidades que admitem outras denominações e divisões de seus graus, ou atribuem-se a outra origem, interferindo em intrigas políticas e eclesiásticas, e juram solenemente odiar qualquer um, quer assumam os nomes de maçons ou irmãos, que afirmam estar cumprindo os princípios sagrados de São João ou de qualquer outra pessoa, todos eles não pertencem à nossa Ordem, mas são negados e repudiados por nós como cismáticos.

C – Entre os professores e mestres desta Ordem, que estudaram matemática, astronomia e outras ciências, um intercâmbio de seu avanço no conhecimento ocorreu quando eles foram espalhados por toda a Terra. Isso levou à seleção de um, do corpo de Mestres Eleitos, que deveria assumir a autoridade sobre o resto e ser honrado como o Mais Nobre e Sublime Mestre ou Patriarca, mas conhecido apenas como tal, pelos Mestres Eleitos, de modo que este escolhido, possa ser considerado o guia visível e invisível da nossa Ordem.

Em conformidade com esta condição, mesmo em nossos dias, um Mestre Superior e Patriarca realmente existe, embora conhecido por poucos.

Depois de ter demonstrado estes fatos, que recolhemos da rica coleção de antigos pergaminhos e documentos da nossa Ordem, decretamos e ordenamos, com a permissão, aprovação e sanção do nosso Patriarca, seguindo os textos dos documentos sagrados, que no futuro permanecerá sob a tutela fiel de nosso Superior e seu sucessor.

D – A conduta de nossa Confederação e a maneira e método pelo qual os raios da estrela flamejante serão trazidos para casa e dispersos entre os iluminados Irmãos e a porção não iniciada da humanidade, são conferidos aos Mestres Eleitos e Escolhidos.

Eles devem guardar e vigiar isso, para que os Irmãos, qualquer que seja sua posição, não possam empreender nada contrário aos princípios fundamentais de nossa confederação.

Esses diretores têm igualmente que defender a associação e preservar e assegurar sua continuidade. Se for necessário, devem mesmo proteger a instituição pelo sacrifício de seus bens mundanos e pelo perigo de suas vidas, contra todos os assaltos e ataques de fora.

E – Não temos nenhum testemunho convincente de que esta Fraternidade, tenha tido outro nome que o dos Irmãos de São João, antes de 1450, mas, conforme os documentos que reunimos, começou a ser chamada de Fraternidade de Maçons em Valenciennes Flandres, no período em que em alguns distritos do Hainaut, Hospitais e Enfermarias começaram a ser erguidos às custas dos Irmãos, para os pobres que sofriam do fogo de Santo Antônio. (3)

F – Embora, ao exercitar nossa benevolência, não estejamos acostumados a considerar nenhuma religião ou qualquer país, mas julgamos aconselhável e mais seguro não admitir nenhum em nossa Ordem, aquele que em sua vida profana e no mundo dos não-iluminados fizeram uma profissão de cristianismo.

Não recorrer a torturas corporais ao examinar os Candidatos para a iniciação ao primeiro grau, mas recorrer-se-á a provas que demonstrem mais claramente quais são os poderes, as inclinações e a característica principal dos iniciados.

G – Entre os deveres estritamente enunciados e que devem ser acompanhados de um juramento solene, estão a fidelidade e a obediência às autoridades seculares legalmente instituídas, que têm domínio sobre nós.

H – As leis introdutórias que orientam nossas ações, e todos os nossos esforços, em qualquer canal que possam ser dirigidos, são expressas nos dois preceitos seguintes:

“Amem e valorizem a todos os homens como fazem a seu irmão, e suas relações de sangue. – Apresenta a Deus as coisas que são de Deus, e a César as que são de César. ”

I – Os segredos e mistérios, que escondem nossos propósitos, são apenas com este único ponto de vista: fazer o bem sem ostentação e cumprir nossas resoluções até os mínimos detalhes.

J – Todos os anos celebramos uma festa em honra de São João, o mensageiro de Cristo, e o protetor de nossa Ordem.

K – Estas e outras cerimônias semelhantes, que dizem respeito à nossa Ordem, são representadas por certos sinais ou palavras ou alguns símbolos ou outros conhecidos pelos Irmãos, mas diferindo inteiramente das cerimônias eclesiásticas.

L – Somente é reconhecido como um Irmão de São João ou Maçom, aquele que, segundo a lei, sob a orientação e supervisão de um Mestre Eleito, assistido por pelo menos sete Irmãos, seja iniciado em nossos segredos e seja capaz de provar sua Iniciação pelo uso desses sinais e palavras de reconhecimento, praticados pelos Irmãos.

Com estes estão incluídos os sinais e palavras habituais de Edimburgo e nas Lojas e “Bauhütten” filiados a ela, também em Hamburgo, Roterdã e Veneza. Cujas funções e negócios, na verdade, são realizados no ritual escocês, mas cuja origem, objetivo e arranjo fundamental não diferem dos que prevalecem em nossa comunidade.

M – Nossa Ordem como um todo é governada por um único Superior universal, mas as assembleias dos Mestres, que compõem essencialmente esta confederação, devem ser reunidas de muitos países e estados diferentes, portanto nada é mais necessário do que um certo grau de conformidade, que deve prevalecer nas Lojas espalhadas sobre a face de toda a terra, como membros únicos de um grande todo, e isso pode ser efetuado por meio de uma troca animada de correspondência e de emissários, que em todos os lugares terão uma só mente, ensinando uma doutrina. Por isso, essa escrita, que registra o caráter e a forma de nossa associação, será transmitida a todos os Mestres, e colégios de nossa Ordem, tantos quanto existem.

Por estas razões, esta epístola circular, da qual 19 cópias foram literalmente feitas, foi emitida, confirmada e ratificada por nossos nomes e assinaturas.

Em Colônia, no Reno, no ano de mil e quinhentos e trinta e cinco, no vigésimo quarto dia do mês de junho, calculado de acordo com o cálculo do tempo, denominado a era cristã.

Assinaram o texto: (4)

Harmanus – Carlton – Jo. Bruce – Fr. V. Upna – Cornelis Banning – de Colligni – Virieux – Jean Schroder – Hoffman – Icobus Prepositus – A. Nobel – Ignatius della Torre – Doria, J. Utti­nhove – Falck – Nicolas van Noot – Philippe Melanthon – Huys­sen – Wormer Abel.

Notas

1 – Dezenove cópias para dezenove signatários. Uma delas está preservada nos arquivos do Grande Oriente da França, em Paris.

2 – O texto latino da Carta de Colônia foi publicado pela primeira vez nos Anais Literários e Históricos da Maçonaria dos Países Baixos, no ano de 1818, em duas versões, uma em latim “literal” (contendo muitos erros, devido a criptografia), e outra em latim “usual” (ou seja, corrigido pelo tradutor), ambas as versões sendo acompanhadas por uma tradução francesa.

3 – Fogo de Santo Antônio, ou ergotismo – Envenenamento, às vezes fatal, devido à ingestão de ergot, um fungo encontrado no centeio e outros grãos.

4 – É curioso notar que os redatores da Carta, cuidaram de esconder os termos de seu texto usando um alfabeto de cifra maçônico, desconhecido no século XVI, mas afixaram abertamente sua assinatura habitual no final do documento.

Fonte:

Tradução livre por Luciano R. Rodrigues, do manuscrito Cologne Charter, encontrado em: http://www.anciensdevoirs.com/page-09.html

Philo Musicae et Architecturae Apolloni Society – Uma sociedade de músicos maçons

Por Luciano R. Rodrigues

INTRODUÇÃO

A Sociedade “Philo Musicae et Architecturae Apolloni” tem sido objeto de inúmeras pesquisas e textos, e especialmente como artigo incluído na enciclopédia de Albert G. Mackey. Ela é mencionada na obra de Goblet d’Alviella “Des origines du grade de maitre dans la franc-maçonnerie” (As origens do grau de mestre da franco-maçonaria).

A Ars Quatuor Coronatorum publicou uma série de trabalhos relativos a esta sociedade, entre os anos de 1970 e 1995.

No que diz respeito as investigações efetuadas acerca dos três primeiros graus da Maçonaria “moderna”, a referência é do livro “Hiram et ses frères : Essai sur les origines du grade de Maître” (Hiram e seus irmãos: Ensaio sobre as origens do grau de Mestre) de Roger Dachez.

A SOCIEDADE

O primeiro catecismo Maçônico conhecido, foi introduzido pelo Grão-Mestre Sir Christopher Wren em torno de 1685. O termo usado, em seguida, foi “exame” e ao contrário dos que se seguiram, foi muito conciso. Sabe-se que os maçons da época basearam seus modos de reconhecimento em sinais e toques, mas ainda deixando algumas perguntas e respostas, conforme abaixo:

“Pergunta: Qual o vosso nome?
Resposta: Aprendiz Ingressado – Lewis ou Precaução.
Resposta: Companheiro de Ofício – Geometria ou Esquadro.
Resposta – Mestre Maçom – Acácia ou G….”

Esta distinção nas respostas não indica de maneira confiável que a organização do Ofício se baseava em três graus claramente diferenciados por formas rituais distintos. No entanto, se trata de três respostas diferentes onde os elementos ainda estão presentes no dia de hoje.

Quanto à distinção real entre o Mestre Maçom e o Venerável Mestre (Mestre da Loja), não temos, até hoje, elementos precisos para afirmar que a ritualística e a diferenciação, existiam antes da primeira metade do século XVIII.

Acerca do estudo dos rituais que se acredita ter sido praticado pelos maçons no início do século XVIII, necessariamente temos que citar uma característica particular da época cuja prática não sobreviveu, eram as sociedades paramaçônicas e especialmente musicais, onde as atividades e a administração dependiam de uma loja.

A “Philo musicae et Architecturae Apolloni Society” foi uma dessas sociedades.

A cópia de “Minute Book” (Livro de Atas) desta sociedade foi doada ao Museu Britânico por John Henderson em 1859. O documento indica que a sociedade foi fundada em 18 de fevereiro de 1725 em um estabelecimento chamado “Queen´s Head” perto do Temple Barr em Londres, POR por uma loja que tinha o mesmo nome.

Francesco Geminiani

O grupo fundador foi liderado por Francesco Geminiani Xaviero (1687-1762). Ele ainda era um “aprendiz admitido” no momento da criação da “Sociedade” e era muito conhecido no meio musical.

Giminiani foi para Londres em 1714, ele foi um compositor virtuoso e professor de violino. Ele era um antigo discípulo dos músicos Corelli e Alessandro Scarlatti. Também era colecionador e comerciante de pinturas e quadros.

Apesar de Geminiani ser ainda um aprendiz, é provável que um de seus conhecidos, um membro fundador da Grande Loja de Londres, John Clerk, Barão de Penicuik, também músico e ex-aluno de Corelli, muito conhecido em seu tempo por suas composições de inspiração Escocesa, também estivesse envolvido na criação desta sociedade. Acredita-se que pelo fato dos dois terem sido ex-alunos da “Accademicia Arcadia” de Corelli, foi o Barão que indicou o seu amigo para a Maçonaria.

Em 1903, a Loja de Pesquisas Ars Quatuor Coronati, como parte de seus estudos sobre os antigos textos fundadores e as estruturas maçônicas do século XVIII, introduziu o “Minute Book” desta associação em suas crônicas, Ars Quatuor Coronatorum (Vol. XVI): artigo escrito por R.F. Gould com o título de “Philo Musicae et Architecturae Societas Apollini. ”

A cópia dos trabalhos da “philomusicae” nos apresenta uma informação especialmente importante para a história da Maçonaria e do estudo dos antigos rituais, nada menos do que a primeira menção explícita dos três graus conhecidos até hoje, com a elevação de um ao outro.

Lista de lojas onde pode-se observar a Philo Musicae no final.


O arquivo da Grande Loja de Londres indica que a loja “Queens Head”, é a origem da fundação desta sociedade musical, e estava registrada como se reunindo em Hollis Street perto de Oxford Square. Isso é um pouco surpreendente, já que os dois locais são muito distantes uns dos outros e poderia significar que aquela não era a mesma loja ou que houve uma separação formal entre a sociedade e a loja.

No entanto, o “livro de atas” nos informa que a Sociedade estava hospedada na loja e sua reunião anual era na quinta-feira seguinte ao dia de São João Batista.

O registro fornece outras informações importantes, que é a adoção do Padroeiro dos maçons “modernos” desde a fundação da Grande Loja em 1717.

Com relação a esta distância, a questão que surge é a de como eram as reuniões da loja e como tratavam os grupos afiliados na maçonaria especulativa inglesa. A indicação de lugares separados para organizar reuniões confirma, as dúvidas sobre a origem “operacional” da Maçonaria de Londres. Muitos sugerem que as reuniões das lojas no início da Maçonaria especulativa não era como hoje, pois não tinha um local fixo.

Sabe-se que na primeira metade do século XVIII, as lojas estavam começando a se estabilizar, seguindo um costume que começou no século anterior, que era o de se reunir regularmente de acordo com um calendário aprovado. Isso é o que tende a confirmar as crônicas da sociedade “philomusicae” em relação as reuniões de sua loja de referência.

A indicação de loja em uma taverna que servia aos dois grupos sugere uma complementaridade entre a loja fundadora e sua associação, como se a última fosse um espelho da primeira, mais discreta, e por outro lado, a inauguração da associação no Temple Barr tinha sido por razões práticas, independentemente da regularidade das reuniões.

Se pode pensar também, e isso pode ser um motivo para outros tópicos de pesquisa, que a sociedade foi fundada para dar apoio ao cargo responsável pela harmonia, durante as reuniões da loja maçônica.

Este ponto merece ser notado, na medida que nos faz pensar que poderia haver uma forte complementaridade entre as estruturas, mas também ir mais longe, podendo ter criado outras associações paramaçônicas com objetivos diferentes.

Não esqueçamos que a maçonaria livre e aceita se apresentava como um “facilitador” de intercâmbios e pesquisas, se a música pôde servir como um vetor para essas trocas, o que ocorria com as outras artes liberais?

Sobre este ponto, sabe-se que a “Druid Order” (Ordem dos Druidas) fundada nesse mesmo ano de 1717 e que se tornou mais tarde “The Ancien and Archeological Order of Druids”, não aceitava membros que não fossem maçons. Tal regra não desapareceu dos seus estatutos até 1874, sessenta anos após o Ato de União de 1813.

Brasão de armas da Philo Musicae


O fato de que todos os membros fundadores da Sociedade pertenciam a loja “Queen´s Head”, nos permite formular uma série de questões, tanto sobre a identidade das duas estruturas, como sobre o registro da loja “no oriente” de Hollis Street.

Pelo menos até 1726 não temos disponíveis elementos concretos no que diz respeito às obrigações das lojas sobre locais de reuniões, sejam eles, templos ou tabernas. Pelo contrário, sabe-se apenas que a partir desse ano que a Grande Loja de Londres começou a se dispersar nos subúrbios da capital, costuma-se pensar que este desenvolvimento foi a extensão natural dos frequentadores e o aumento no número de membros.

Para o presente caso, é muito difícil saber se a Sociedade e a Loja foram duas entidades separadas, pois, a “Philo musicae Society” é sempre apresentada como uma simples associação de amantes da música e não apenas de músicos, mas todos eram maçons.

É nesse ponto específico que se sugere no início do texto, sobre os “pilares da harmonia”. Sabe-se que nos ritos anglo-saxões, desde o início do século XIX, existia oficialmente um cargo de organista herdado de práticas antigas.

No que diz respeito às lojas e suas relações com as associações que se desenvolveram, faltam documentos com regulamentos e práticas, mas acredita-se que eram distribuídos informativos indicando o local de encontro, o que não nos permite dizer, com certeza, se havia uma regra escrita ou implícita, aplicável às lojas, apesar de haver uma certa distância entre elas.

Por outro lado, sabe-se que as lojas muitas vezes levavam os nomes das tabernas em que se reuniam e que o cargo de “cobridor externo” (Tyler) é uma herança de certa prática das lojas. A porta deveria ser protegida externamente para garantir a descrição dos trabalhos na época dos “construtores”. Aparece assim, a questão da identidade da loja “Queen´s Head” inscrita no quadro da Grande Loja de Londres.

O fato da ata indicar que a Sociedade foi fundada por membros da loja, significa que essa existia antes dela. Por certo, que poderia ser um exemplo de uma possível, chamada “Loja de Aceitação” do século XVII que ninguém sabe quem tomou a iniciativa de criar ou por que razão, conhecida apenas por algumas linhas enigmáticas do diário de Ashmole, citado como um testemunho da transição especulativa e que bem poderia ter sido nada mais do que uma espécie de clube formado por fora da Companhia de Maçons de Londres (London Mason’s Company), que foi realmente a única Guilda organizada que se conheceu na Inglaterra, para o ofício dos maçons, e de onde a autoridade não escapou jamais do controle de Londres. A “Loja de Aceitação” ficou na história dos poucos vestígios documentais, em 1610 e depois em 1686 em relação com Elias Ashmole.

Não se conhece nenhuma outra estrutura comparável na Inglaterra daquela época e nem mais tarde, que se revele ou justifique, uma ligação entre a antiga London Mason’s Company e a maçonaria dos “modernos”. No entanto, Ashmole não indica em nenhum momento, que os homens de que estava falando, eram construtores e não sabemos se existia algum documento atestando que as pessoas estranhas ao Ofício, tinham sido admitidos em lojas operativas inglesas.

Se fosse esse o caso, porque os membros da “Queen´s Head” não estiveram presentes na fundação da Grande Loja de Londres?

Esta hipótese não é, obviamente, muito confiável, e é citado aqui simplesmente para dizer que a antiga guilda ou Companhia, não deixou vestígios convincentes que nos permitam pensar que as lojas passaram de uma para a outra.

Por isso, provavelmente, não aparecem como outra coisa que não uma espécie de sindicato dos trabalhadores da construção civil na capital britânica, demonstrando de modo confiável, os seus laços com os fundadores de 1717.

Nenhum membro, conforme o artigo 17 do Estatuto, poderia ser admitido na “Sociedade Philomusicae” se não fosse maçom. Essa condição para a adesão envolve algumas perguntas que revelam uma certa importância na história da Ordem:

– Em primeiro lugar, se a Sociedade PhiloMusicae iniciava ela mesma, membros não-maçons e concedia graus, o termo sociedade não seria um substituto do termo loja?

– Seria um nome temporário para uma loja em formação? Se esse não for o caso, porque acreditar que as sociedades paramaçônicas podiam conceder graus que a loja mãe poderia ter feito?

– Como consequência: a concessão de um terceiro grau por essas estruturas, teriam um valor mais administrativo?

– Tal situação viria do fato de que o ritual utilizado na loja, impediam as “comunicações” ou “pranchas”, como hoje, no caso do ritual emulação?

Sabendo que os “modernos” vieram principalmente da Royal Society e no mesmo ano, foram criadas pelo menos três sociedades notáveis, a Maçonaria, a Ordem dos Druidas e a “Society of Antiquaries”, constatando uma prática ritualizada, exclusivamente da maçonaria, oferecendo um ângulo de visão interessante sobre o que iria se tornar o conflito entre os “antigos” e os “modernos”.

Assim como a ciência desenvolveu diversas especialidades, as sociedades paralelas, poderiam completar o objetivo maçônico. Por mais informal que possa parecer, o hábito de criar este tipo de “sociedades de músicos” parece ter seguido os passos de Maçons de Londres que se instalaram na França. Esta moda se espalhou por todo o continente muito tempo após o “Philo musicae” de Londres já ter sido dissolvida.

Sabe-se há muito tempo que o número de maçons entre os músicos foi particularmente elevado na França. Sabe-se também que o sucesso destas associações não é explicado apenas pela amizade e o patrocínio que poderia gerar.

O músico, maçom e escritor Gérard Gefen, no seu livro “Les Musiciens et la franc-maçonnerie” (Os músicos e a maçonaria) diz:

“Na estrutura excessivamente rígida da sociedade francesa, as lojas maçônicas foram o lugar onde as diferenças de nascimento e condição se cruzavam, pelo menos em teoria.

Tal impressão de igualdade era estimável para os membros das classes burguesas, mas não conseguia atrair os músicos. Ao contrário da Inglaterra, onde a profissão tinha apreciado por muito tempo uma honra incontestável (membros da Capilla Real eram chamados de senhores), músicos franceses eram considerados primos próximos a idiotas: comediantes …”. Capilla Real era um corpo de músicos que servia a Corte Real.

O que se pode constatar é que, também dominada pelos maçons, as associações francesas desempenharam no século XVIII um papel muito importante na vida musical e no desenvolvimento do teatro musical do final do século. Isso estava em evidência na época da Revolução, especialmente pelo fato de que o círculo fechado da maçonaria assegurava de uma só vez, público constante e os meios de criação de novas obras.

No entanto, as fontes disponíveis hoje em dia, indicam que durante os dois anos de existência, a “Philo-musicae Society” estava formada por dezoito maçons quando de dissolveu em 23 de março de 1727. Parece que a sociedade teve uma vida muito curta, considerando o modo como surgiu.

Há fortes indícios de que o fim abrupto foi devido aos protestos do Grão-Mestre James Hamilton, 7º Duque de Abercon, que a desprezada fortemente, desde o ano anterior a sua dissolução, a prática de associações com lojas, o que aumentava a preocupação.

O Grão-Mestre insistia que apenas as lojas regulares tinham autoridade para iniciar e conferir graus aos maçons. Essa situação atraiu a atenção de seu sucessor, William O’Brian, Conde de Ichiquin, sobre o inconveniente de conferir as “sociedades”, o direito de iniciar Maçons e decidiu proibir na Inglaterra, a prática de formar associações paralelas ou clubes paralelos, tendo em conta que uma loja para ser considerada legítima, deveria ter recebido a patente da Grande Loja de Londres.

Outro argumento é que a Maçonaria na medida em que permitiria tal forma de desenvolvimento, não tinha nenhum controle sobre a regularidade das ações, nem sobre a estruturas destas associações.

Este pequeno grupo de músicos, que era visto como insignificante e ignorado pelos historiadores, em sua ata de 12 de maio de 1725, atraiu a atenção para o fato de que a loja-sociedade conferia dois graus acima do grau de “Aprendiz”, ou seja, o de companheiro e o de mestre, que apareciam como uma novidade ….

“Nossos bem-amados irmãos e diretores desta mui venerável sociedade cujos nomes aparecem abaixo:

Irmão Charles Cotton e Irmão Bola Papillon – Foram regularmente passados a Mestres.

Irmão F.X. Geminiani – Foi regularmente passado a Companheiro e a Mestre.

Irmão James Murray – Foi regularmente passado a Companheiro”

Comunicação da sociedade


Este “Philo musicae Society minute book” (Livro de Atas), está preservado no Museu Britânico e pode ser o mais antigo registro escrito, conhecido atualmente, onde consta a existência de um terceiro grau.

Além disso, é um documento precioso sobre a organização da Maçonaria antes de 1730, que envolve transmissão graus, comunicação e iniciação, com as organizações particulares que poderiam ser desenvolvidas fora da loja.

Mesmo que essas sociedades musicais fossem restritas a maçons, nada indica que o trabalho de natureza não maçônica estava presente em suas reuniões. Isso parece ter sido mais uma razão para a proibição feita contra eles.

No entanto, esta prática nos traz à dúvida sobre a verdadeira natureza de tais sociedades …..

– Será que havia sido transferido a eles parte da autoridade da loja que eles faziam parte?
– Será possível que a definição de loja daquele tempo não era tão clara como conhecemos hoje?

… os elementos para estas respostas provavelmente serão encontrados no “nomadismo” que abordamos antes.

Em outras palavras, os maçons da “philomusicae” faziam isso por força do hábito, por ignorância da maçonaria ou simplesmente pelo fato de que as estruturas criadas em 1717 por seus fundadores, não tinha nada mais do que as ferramentas cujas formas eles copiaram?

Se fosse por hábito, de onde veio o grau de Mestre e de onde se conhecia a existência e a transmissão da “palavra”? Se fosse por ignorância, porque esse nome (Mestre) em vez de outro título mais elogioso? Seria o título de mestre dado aos mestres da música?

Essa última pergunta que incentiva alguns historiadores da maçonaria a considerar que o grau de Mestre não tinha sido inventado naquele momento, mas somente para diferenciar os membros que participavam da Sociedade Musical, dos demais maçons da loja.

Essa teoria é, obviamente, incompatível com a eleição dos Maçons “modernos”, como Anthony Sayers no exercício do cargo de primeiro Grão-Mestre da Grande Loja de Londres. A principal razão dada para esta escolha foi a qualidade de mais antigo Mestre Maçom, embora livreiro de profissão.

Portanto, se um livreiro poderia ser um Mestre sem ser Grão-Mestre, isso significava que o grau sempre existiu na maçonaria especulativa e, consequentemente, que alguma forma de grau de Mestre era praticado, como o argumento de “mestre mais antigo” leva-nos a pensar que era um mestre de longa data, e bem antes de 1717.

Se essas associações musicais foram concebidas com diferentes propósitos, como o de desenvolver certos modos de investigação ou vias filosóficas, então é possível pensar que a criação deste tipo de sociedade foi criada com o objetivo de sistematizar a construção dos “pilares da harmonia” usadas ​​nas lojas…. Limitando a música a uma estrutura externa que não significa, necessariamente, dar-lhes todas suas prerrogativas.

A música fazia parte da vida da Corte e torna-se lógico pensar que os Mestres não gostariam de deixar para os cortesãos os direitos que eram próprios deles. Pode-se entender que este “hábito”, poderia confirmar a existência de uma forma mais “inovadora” de Maçonaria moderna, que parece ter se tornado um problema para o Grão-Mestre.

“De fato, as autoridades da Grande Loja de Londres parecem ter mostrado a princípio uma certa indulgência em relação a Philo Musicae.

Os sete principais oficiais e fundadores da sociedade foram convocados para ir a Grande Loja em 1725, sem dúvida, a fim de regularizar essa situação.

Eles não se preocuparam a responder ao convite. Em dezembro de 1725, o Duque de Richmond, Grão-Mestre, envia uma carta ao Philo Musicae exigindo explicações sobre a recepção de maçons irregulares que estava ocorrendo na sociedade.

As atas deste último, testemunham que a solicitação foi tratada com desdém, mas com raiva: certamente as limitações obedienciais eram mal recebidas naqueles primeiros anos da maçonaria organizada, as reações dos membros da Philo Musicae só podiam ser explicadas pelo prestígio de seu desempenho nas noites musicais ….”

Este “hábito” potencial das sociedades “fraternas” nos apresenta uma pergunta: As associações criadas ou associadas com lojas, “faziam” maçons e os elevavam aos três graus, incluindo o ensino da lenda de Hiram?

Se fosse esse o caso, era uma lenda maçônica ou um mito extraído do folclore e introduzido na Maçonaria por estas práticas para-maçônicas?

Na verdade, ele não diz em nenhum lugar que os maçons recebidos em suas cerimônias tinham sido despojados de tal qualidade após o encerramento da Sociedade, o que dá a entender que havia uma regularidade da cerimônia.

Concluindo, o texto acima nos dá um vasto campo de dúvidas sobre a maçonaria do início do século XVIII, muito mais perguntas do que respostas, o que é muito bom para o investigador da verdade que assim continua suas pesquisas…

 Texto extraído do blog www.oprumodehiram.com.br

Bibliografia

Jean Bossu – Renaissance Traditionnelle, Nº 35, Julho de 1978 – Philo Musicae et Architecturae Apolloni Society
Ars Quatuor Coronatorum – Nº 16, 1903 – Philo Musicæ et Architecturæ Societas Apolloni: A Review – R.F. Gould
GOBLET D’ALVIELLA – 1907 – Des origines du grade de maitre dans la franc-maçonnerie
Roger Dachez – Hiram et ses frères : Essai 
sur les origines du grade de Maître

LOJA O GANSO E A GRELHA (GOOSE AND GRIDIRON)

(sinal original da taberna "Goose and Gridiron")

É conhecido o relato segundo o qual, a 24 de junho de 1717, quatro lojas maçónicas se teriam reunido na taberna "Goose and Gridiron" (O Ganso e a Grelha) e aí constituido a primeira Grande Loja e eleito o seu primeiro Grão-Mestre. Este acontecimento é consensualmente considerado o "dia zero" da Maçonaria Especulativa. Não obstante a sua importância, não chegou aos nossos dias qualquer prova documental deste evento: nem uma ata (que só começaram a lavrar-se em 1723), nem uma lista, nem sequer um simples relato em primeira mão. De facto, o registo mais antigo de que dispomos são as Constituições de Andersen, na sua edição revista de 1738 - ou seja, 21 anos depois. Curiosamente, a versão original - de 1923 - nada refere a este respeito. Muito se especula, três séculos volvidos, quanto à precisão histórica da descrição de Andersen.


Armas da Worshipful
Company of Musicians

O que é certo é que, num local de Londres conhecido por St. Paul's Churchyard (Adro da Igreja de S. Paulo), houve um edifício de cinco pisos onde esteve sediada uma associação musical chamada "The Mitre" (A Mitra). Numa altura em que mesmo os ricos e nobres eram frequentemente analfabetos, era quase garantido que o fosse a maioria da restante população. Isso levou os fabricantes de sinalética a privilegiar o uso de sinais pictóricos; por mais belo e sóbrio que pudesse ser um sinal escrito, seria inútil se a maioria da população não soubesse lê-lo. Estaria, por isso, afixado sobre a porta do "The Mitre" o brasão da Worshipful Company of Musicians, com o própósito de identificar aquela como uma casa de música.

As armas desta antiga e prestigiada associação musical, fundada por volta de 1500 e hoje conhecida por The Musicians' Company, consistem num escudo encimado por uma lira, tendo o escudo, na parte superior, dois leões separados por uma rosácea, e na parte inferior um cisne de asas abertas. O cisne a a lira eram, nesse tempo, comummente adotados como símbolo pelas associações musicais.

Pelo início do séc. XVIII a dita associação terá entrado em declínio, altura em que no edifício passou a funcionar uma estalagem e uma taberna; esta adotou o nome de "Goose and Gridiron". Não sabemos, em absoluto, a razão deste nome, mas é clara a ligação entre o sinal que identificava a taberna e as armas dos músicos. No 1º volume de "Old and New London", de 1878, o autor, Walter Thornbury, sugere poder o nome ter sido concebido como uma paródia de "Swan and Harp", um nome popular na altura para casas de música. Mais prosaicamente, oferece a sugestão alternativa de que é simplesmente uma interpretação simplória do brasão da Companhia de Músicos pendurado por cima da porta do Mitre pelos pouco sofisticados frequentadores das lojas e tabernas.

Não me custa, no entanto, imaginar um muito britânico e corrosivo recém-estabelecido taberneiro, ainda sem nome nem símbolo à porta que não os dos anteriores ocupantes, quando indagado sobre se a sua casa era de música, responder que não, que aquilo era um ganso e uma grelha, e que entrassem e fossem bebendo uma cerveja enquanto esperavam pelo ganso...

O antigo edifício já não pode ser visitado: foi demolido no final do séc. XIX, época em que Londres assistiu a um grande aumento populacional. Já o sinal, de ferro e madeira pintada e datado do início do séc. XIX, pode ser visto no Museu de Londres.

Paulo M.
(Texto extraído do bloghttp://a-partir-pedra.blogspot.com.br/)


Fontes:
http://www.masonicsourcebook.com/grand_lodge_of_england.htm
http://www.thefraternity.info/the-original-tavern-sign-for-the-goose-and-gridiron/
https://en.wikipedia.org/wiki/Premier_Grand_Lodge_of_England
https://en.wikipedia.org/wiki/Worshipful_Company_of_Musicians
http://www.mqmagazine.co.uk/issue-14/p-32.php
https://books.google.pt/books?id=XrYKAwAAQBAJ&lpg=PA50&ots=-_ms4RgOmP&pg=PA50#v=onepage&q&f=false
http://www.madamegilflurt.com/2014/11/the-goose-and-gridiron.html