LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE
ORIGEM DO LEMA
Ir∴ José Castellani
As três palavras - Liberdade, Igualdade e Fraternidade - que se tornaram, praticamente, um lema da Maçonaria contemporânea, não têm origem maçônica. Alguns autores, mais ufanos do que realistas e mais fantasistas do que científicos, afirmam que o lema é maçônico e foi utilizado como divisa da Revolução Francesa de 1789.
A verdade histórica, todavia, é bem outra:
Em primeiro lugar, o lema da Revolução Francesa era “Liberté, Égalité, ou la Mort” (Liberdade, Igualdade, ou a Morte). Só com a 2ª República, em 1848, é que ele iria se transformar em “Liberté, Égalité, Fraternité” (Liberdade, Igualdade, Fraternidade). (Ver nota)
Em segundo lugar, foi a Maçonaria francesa que, na segunda metade do século XIX, adotou o lema da 2ª República, o qual acabaria se vulgarizando entre os maçons que trabalhavam sob influência da cultura francesa, em todo o mundo, a ponto de chegar a ser considerado como uma divisa exclusivamente maçônica, o que não é.
Em terceiro lugar, a idéia de Liberdade, Igualdade e Fraternidade é bem mais antiga.
Podem ser encontrados vestígios dela, quando da criação da primeira seita comunista, dita “Comunismo Cristão”, fundada em 1694, por Johann Kelperès. Para os membros dessa seita, o Messias aguardado não se apresenta como o pescador de almas, mas, sim, através de uma trilogia, onde ele é o “distribuidor de justiça” (igualdade), o “grande irmão” (fraternidade) e o “libertador” (liberdade).
Análise e significado
A análise da divisa, ou da trilogia, pode ser feita através do prisma político-social , ou sob o ponto de vista exclusivamente iniciático. No primeiro caso, teríamos:
A igualdade constitui um ideal da organização social, pela qual lutou a humanidade, à medida que ia avançando no caminho de sua evolução. Essa luta dura até hoje, porque a divisão das nações, em sistemas políticos, das comunidades, em classes sociais, e dos indivíduos, em posições econômicas, morais e intelectuais, prejudicam os esforços em benefício da igualdade irrestrita.
A fraternidade é considerada como a conduta que norteia a vida de um indivíduo. Ela é desejada, reclamada e fixada como objetivo de todas as religiões, instituições sociais, partidos políticos, etc., estabelecendo o altruísmo contra o egoísmo, a benevolência contra a malevolência, a tolerância contra a intolerância, o amor contra o ódio.
A liberdade nasce com o indivíduo, atinge o consciente coletivo dos povos e produz fatos extraordinários. O sentimento de liberdade é o bem mais caro ao coração de um homem; e não há nada que o deprima tanto quanto a opressão da escravidão, o encarceramento da consciência e a privação da liberdade.
Do ponto de vista iniciático, todavia, o conceito é um pouco diferente:
A igualdade repousa sobre a consciência da identidade básica de todos os seres e de todas as manifestações do espírito humano, acima de todas as distinções externas de posição social e de grau de conhecimento e de desenvolvimento intelectual. Essa igualdade, representada pelo Nível, é que proporciona, a todos, uma justa e reta maneira de conduta com todos os semelhantes.
A fraternidade é considerada o complemento da liberdade individual e da igualdade espiritual, das quais representa a adoção prática. Em síntese, é a tolerância, em relação à liberdade, e a compreensão, em relação à igualdade.
A liberdade é definida como uma aquisição individual, íntima, fundamentalmente independente da liberdade externa, que pode ser outorgada pelas leis e pelas circunstâncias da vida. Em resumo, é a liberdade que se adquire buscando a Verdade e realizando esforços para trilhar o caminho da virtude, dominando os vícios, os hábitos negativos e as paixões destrutivas.
A interpretação astrológica
A Igualdade é o símbolo de Libra, ou Balança. Este signo é o símbolo universal do equilíbrio, da legalidade e da justiça, concretizados pelo senso da diplomacia e da cortesia, que o caracterizam, assim como a aversão à agressividade e à violência de Áries, que está diante dele.
Libra significa, em última análise, um caráter afável, um sentido de justiça, harmonia e sociabilidade, que são, todos, atributos da igualdade.
A Fraternidade é perfeitamente ilustrada pelo signo de Gêmeos, em sua dualidade, representado por dois gêmeos, que são os míticos Castor e Pólux, cada um desempenhando seu papel, sem nenhuma proeminência sobre o outro. O signo de Gêmeos é dual, porque simboliza o momento em que a força criativa de Áries e Touro divide-se em duas correntes: uma tem sentido ascensional , espiritual, e a outra é descendente, no sentido da multiplicidade das formas e do mundo fenomênico. Considere-se, também, que, face a Gêmeos, está Sagitário, governado por Júpiter, Zeus, Deus, do qual todos os homens emanam, o que os faz irmãos uns dos outros, com cada um procurando-o, à sua maneira.
A Liberdade é apanágio de Aquário, simbolizado por Ganimedes, pelo anjo derramando, sobre a humanidade, o cântaro do saber; saber, que, se for bem utilizado, pode ser um meio de acesso à liberdade, com a condição de que aceite a superioridade do iniciado. Só o iniciado, o sábio, poderá reconhecer os limites além dos quais não poderá ir, pois esta é a maneira dele chegar ao conhecimento dos mistérios divinos. Essa ligação com o divino, da qual Moisés é um símbolo, o respeito às leis divinas, fundamental para uma existência pacífica e harmoniosa, serão, também, assinalados pelo signo frontal a Aquário: Leão, cujo símbolo é o Sol; o Sol, símbolo do UM, símbolo de Deus.
Esses três signos, Libra, Gêmeos e Aquário, são os signos do ar do zodíaco. E os signos do ar são símbolos do espírito, são símbolos do cosmos, que o iniciado deve procurar conhecer e compreender.
NOTA - Alec Mellor, respeitadíssimo pesquisador francês, afirma que é inteiramente falso que essa divisa republicana seja de origem maçônica. Louis Blanc e outros autores pretendem que seu inventor tenha sido Louis-Claude de Saint-Martin, mas o historiador mais abalizado da vida e do pensamento deste, Robert Amadou, demonstrou que isso não é verdadeiro.
A pesquisadora B.F. Hyslop examinou uma grande quantidade de diplomas maçônicos publicados entre 1771 e 1799, na Biblioteca Nacional de Paris, e não encontrou mais que dois, somente, onde as três palavras estão reunidas. Quase todos registram “Saúde - Força - União”, ou falam do templo onde reina “o Silêncio, a União e a Paz”. O resultado desse estudo está publicado in “Annales Historiques de la Révolution Française” - janeiro, 1951, pag. 7.
A 1ª República conheceu bem a divisa “Liberdade, Igualdade, ou a Morte”, mas tal programa ideológico não foi jamais o da Maçonaria. Foi somente sob a 2ª República que a “tríplice divisa” surgiu. Mas não foi a República que tomou emprestada a divisa à Maçonaria, mas, sim, a Maçonaria é que a tomou emprestada à República (in Dictionnaire de la Franc-Maçonnerie et des Francs-Maçons” - Belfond - Paris - 1971) .
(Extraído do livro “Maçonaria e Astrologia” - Editora Madras – S. Paulo – 1998)
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