sexta-feira, 22 de setembro de 2017


O PRIORADO DE SIÃO


Revista Hiram Abif – Edição nº 64 – junho de 2004.

De todas as organizações que reivindicam um passado "Templário", um dos mais intrigantes é o Priorado de Sião. Na verdade, deve ser considerado uma ordem ligada ao Templo e autônoma ao mesmo tempo

1. ENTRE A REALIDADE E A LENDA

A partir de 1960, a opinião pública francesa ecoou a existência de uma comunidade semi-secreta, auto-nomeado Priorado de Sion. A partir desta data, foi publicado os seus estatutos e material procedente das mais diversas fontes, nem sempre verificáveis ou confiáveis, o que implica que devemos abordar com prudência tudo que está em volta da dita organização.

Entre presumidos filiados encontramos nomes como Leonardo da Vinci, Victor Hugo ou Isaac Newton, entre outros mais ou menos conhecidos. Ou seja, se as pretensões do priorado fossem verdadeiras, haveria albergado em suas fileiras, como grã-mestres, alguns dos maiores luminares da história ocidental, bem como membros das principais famílias reais e aristocrática da Europa.

Embora pareça indubitável a existência atual da organização, assim como a de uma antiga Ordem de Sion na época das Cruzadas, o caso da continuidade entre ambas através dos séculos não está tão claro.

As crônicas contam que, no ano de 1099, após a conquista de Jerusalém, o governante da cidade Godfrey de Bouillon fundou uma misteriosa Ordem sobre a abadia de Notre Dame du Mont Sion, da qual pouco se sabe. Seria mais tarde esta sociedade que impulsionaria a criação da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo, conhecida como Templarios.

Se levarmos em conta os textos do Priorado, a Ordem de Sião teria um poder considerável no momento da sua fundação, isso sim, sempre entre bastidores, chegando inclusive a afirmar que os reis da cidade sagrada deviam seu trono a esta sociedade enigmática .

Assim, eles seriam os verdadeiros arquitetos da extraordinária progressão experimentada pelos Templários nos anos seguintes, obedecendo tudo isso a um plano previamente estabelecido.

De acordo com essas fontes, pelo menos cinco dos nove fundadores do Templo pertenciam à Ordem de Sion, e pode-se dizer que, em princípio, o Templo era o braço armado da anterior ou mesmo que ambas as ordens eram uma só, já que parecia compartilhar o mesmo Mestre. Seria o caso de André de Montbard, um dos cavaleiros originalmente da ordem dos templários e que se tornaria o seu mais elevado líder. Mas o tio de São Bernardo também consta como membro de Sion, para que possamos ter uma ideia da geminação entre ambos

Esta situação de confrateernidade duraria cerca de sessenta anos, até que, em 1188, um ano depois da queda de Jerusalém a mãos muçulmanas, houve um cisma entre as duas ordens que produziram sua separação. De acordo com o Priorado de Sion, a perda da Terra Santa seria em grande parte culpa da Ordem do Templo, e mais especificamente do seu Mestre Gérard de Ridefort, a quem os documentos "do priorado" acusam de traição.

Este arrastou os Templários a combaer na batalha dos Chifres de Hattin, o que significou um verdadeiro desastre para os cruzados e levou à queda de Jerusalém

A situação significaria que a Ordem de Sion se trasladaria para a França, deixando os Templários, seus pupilos e protegidos à sua própria sorte, a partir daquela data. A ruptura das relações foi simbolizada pelo corte de um olmo de cem anos de idade na cidade de Gisors. A partir desse momento, a Ordem de Sión mudou seu nome para priorado e se dedicou a seus próprios objetivos. Mas ... de que se tratava esses objuetivos?

Supostamente, a missão do Priorado seria proteger um grande segredo relacionado aos descendentes da dinastia dos reis Merovíngios e colocar na monarquia francesa um de seus membros.

Sua descendência legítima, que se acreditava estar extinta, teria sido demonstrada por pergaminhos descobertos na vila francesa de Rennes-le Château.

Essa descoberta, que em si mesma constitui um enigma complexo, será tratada extensivamente em uma lenda posterior. Para continuar a conhecer o Templo, devemos aprofundar agora na intrigante missão que foi imposta ao Priorado de Sião.

2 – O SANGUE REAL: A GUARDA DE UM GRANDE SEGREDO

O comportamento do Priorado de Sion, pelo que deixa entrever em suas publicações, parece obedecer um cronograma cuidadosamente preciso e planejado por um longo tempo

Dão a entender de que são os guardiões de um segredo de importância capital, do qual eles teriam provas irrefutáveis. Seria algo que os faria extremamente especiais e que reveste sua missão de um halo de atraente misticismo.

Há tradições que dão grande importância a Maria Madalena, de quem é dito que após a crucificação de Jesus chegar à Gallia escoltada por José de Arimatéia e com o Santo Graal. De acordo com o que podemos extrair da concepção do Priorado, Maria Madalena seria a esposa de Jesus, e quando viajou estava grávida ou acompanhada por sua progênie.

Claro que aqui o termo "Santo Graal" deve ser entendido no sentido do Sangue Sagrado, isto é, como descendência física de Jesus, que se mudou para a Gallia e continuou ali. A Igreja omite toda menção em sua própria tradição do Santo Graal, uma vez que, logicamente, não lhe convém.

É a luta que subsiste até hoje entre os herdeiros de Pedro e os de Maria Madalena, os herdeiros da fé e os herdeiros do Sangue.

Uma vez na França atual, esta linhagem judaica se uniu matrimonialmente com a dos reis francos, dando origem aos merovíngios.

Cerca de 500 dC, com o batismo e a conversão do rei Clovis, a Igreja romana estabeleceu-se como a suprema autoridade espiritual do Ocidente.

Pode-se dizer que foi um pacto entre Roma e os merovíngios, originando uma aliança que deveria ser gerar um novo sacro império romano. Mas parece que a lealdade dos francos à Igreja não foi muito intensa, já que os merovíngios continuaram a manter simpatias com a religião ariana que praticaram antes da conversão ao cristianismo. Duzentos anos depois, o rei merovíngio Dagobert II foi assassinado junto com sua família por ordem de seu próprio mordomo do palácio, Pipino de Heristal.

A Igreja, ao ver sua hegemonia em jogo, teria apoiado a conspiração. Com a morte de Dagobert e seus descendentes, a dinastia merovíngia chegou ao fim, e a do mordomo do palácio começou: os carolíngios, que tinham o apoio eclesiástico. Esses, que finalmente eram usurpadores, tentaram se legitimar casando com princesas merovínias e continuando seu reinado. Com Carlos magno, eles chegaram a abraçar um império que se estendeu pela Europa Ocidental e o governou a serviço de Roma.

Mas poderia ser que a dinastia merovíngia não se extinguiu com Dagoberto II. De acordo com o Priorado de Sião, os merovíngios, a linhagem de Jesus, sobreviveram por um filho de Dagoberto, que teria sido salvo do assassinato de sua família.

Seu nome era Sigisberto IV, e entre os seus descendentes estaria mais tarde Godfrey de Bouillon. Sabemos pelos Evangelhos que Jesus era de sangue real e da linhagem de Davi.

Ou seja, Jesus era o legítimo herdeiro do trono de Jerusalém. Seus seguidores mais incondicionais eram os nacionalistas zelotes, fundamentalistas fanáticos que aspiravam a expulsar o governo dos fantoches pró-romanos e restabelecer a verdadeira linhagem real.

Nas Cruzadas, com a conquista de Jerusalém e a coroação de Godfrey de Bouillon, um herdeiro de Jesus recuperou sua herança legítima e voltou a ser o rei da Cidade Santa.

É possível que, dada a hegemonia da Igreja na época, Godofredo nunca pode reivindicar seu direito como queria sua linhagem.

Afinal, Roma estaria por trás da traição de sua família e, apesar de não saber se a Igreja estava ciente da linhagem do novo rei ou não, uma revelação pública poderia ter sido muito perigosa. Godofredo para proteger o segredo dessa linhagem sagrada criou a Ordem de Sion e seu braço armado, a Ordem do Templo.

Curiosamente, as lendas do Graal que surgiram na Idade Média, apresentam os Templários como guardiões do Santo Graal.

Assim, o Santo Graal seria o portador do sangue de Cristo, mas não no sentido simbólico de um vaso, mas de sua prole: os portadores de seu sangue.

E este seria o grande segredo do Priorado de Sião.

Segredo também compartilhado pelos Cavaleiros do Templo. Agora entende-se porque os Templários associaram o culto da Deusa Mãe à Magdalena (ver a lenda "O culto das virgens negras"), uma vez que isso representava a base de sua existência ao se identificar-se com a mãe da linhagem perdida, a portadora do Graal .

O Priorado em si, os Templários, ou talvez ambos, desenvolvendo uma estratégia de longo prazo, teriam protegido os herdeiros do Rei de Israel com o objetivo de alcançar a dominação mundial sob a égide da dinastia davídica.

Não faz falta dizer que circunstâncias históricas não permitiram que o objetivo fosse cumprido.

Após a queda de Jerusalém e a perda da Terra Santa, o projeto foi a pique. Os herdeiros de Davi se viram mais uma vez sem coroa e a existência da Ordem do Templo tornou-se desnecessária.



Alguns tratam de ver nesta explicação de por que os Templários não resistiram quando foram capturados pelas tropas de Felipe IV.



Sem possessões no exterior, separados da Ordem de Sion e com os descendentes dos merovíngios novamente na sombra, não tinham mais razão de ser.



O Priorado de Sion, que após o desaparecimento do Templo foi dedicado a gerenciar os tópicos que governam a Europa a partir da cladestinidade em busca de seus objetivos, diz que em breve haverá uma reviravolta na situação política francesa que preparará o caminho para a restauração de uma monarquia. Será que os objetivos de Sião e Templo serão cumpridos oito séculos depois? Seremos testemunhas de como um descendente merovíngio recupera o trono da França? O tempo o dirá.




Nos tempos em que os véus com os quais a "intriga" ocultou inúmeros eventos transformados em "mistério" estão se desenrolando, não há nada para impedir essas novas com certo tino estas novas versões sobre a realidade crística. Não há dúvida de que o "mistério dos Templários" sempre intrigou pesquisadores da história, que não se conformaram às lendas sobre a Ordem do Templo e sua "destruição" vilipendiada, de modo que a versão do Priorado, merece atenção bem fundamentada.

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