OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS
Por Robert Lomas
No ano de 1118, Hughes de Payens e oito outros Cavaleiros formaram um aliga para proteger os peregrinos que vinham à Terra Santa. Eles prestaram votos perante o bispo de Jerusalém de viver e lugar por Jesus Cristo em castidade, obediência e pobreza. Sua Ordem cresceu rapidamente, e, dez anos depois, Hughes retornou para a Terra Santa à frente de 800 recrutas nobres da Inglaterra e da França. São Bernardo de Clairvaux se tornou seu patrono, e, pela Sua morte, a Ordem se espalhou por toda a Europa. No fim do século XII, era uma das organizações mais poderosas do mundo cristão.
A Ordem tinha três classes: Cavaleiros, que lutavam; padres que rezavam (ambos tinham de ser de descendência nobre); e Irmãos serventes, que não tinham de ser de origem nobre. Os Novatos podiam prestar votos por um número fixo de anos, ou por toda a vida. Uma das regras da Ordem convocava seus membros para viver em pobreza, e seu emblema mais antigo mostrava dois Cavaleiros cavalgando um cavalo, para denotar humildade e pobreza. Mas essas virtudes não duraram muito. Os Templários logo se estabeleceram em grandes castelos acima e abaixo da Terra Santa, e seu orgulho tornou-se proverbial. O rei de Jerusalém, Balduwin II, deu-lhes o uso de um edifício no Monte Moriá, perto do local do Templo do rei Salomão, e, a partir disso, eles têm seu nome de Cavaleiros do Templo. Quando Jerusalém foi tomada pelos muçulmanos, eles mudaram sua sede para o Castelo Pilgrim, em Acre. Eles foram expulsos de Acre em 1295 e, em seguida retiraram-se para Chipre.
Eles vieram pela primeira vez p0ara a Inglaterra e criaram um Priorado no Templo Antigo, perto do que é agora Southampton House, em Londres, durante o reinado do rei Stephen. Em 1185 eles se mudaram para o sítio da Igreja do Templo, em Fleet Street, em Londres. O rei Luiz VII, da França, deu-lhes um local em Paris, que se tornou famoso como o Templo de Paris. Esses quartéis-generais na Inglaterra e França foram suas principais estações de recrutamento, e eles rapidamente começaram a adquirir doações de propriedades na Inglaterra, Escócia e França. No momento de sua dissolução, diz-se que possuíam mais de 9 mil grandes mansões. Suas propriedades foram espalhadas por toda a Inglaterra, sendo 25 só em Yorkshire.
Durante a luta na Palestina, muitos Cavaleiros morreram, e eles lutaram muitas batalhas difíceis para provar sua devoção à Cruz. Na batalha de Ascalon, eles sitiaram Saladino, mas o Grão-Mestre e a maioria dos Irmãos foram deixados mortos no campo de batalha. Existe também o que parece ter sido uma estreita ligação entre eles e os Assassinos, ou seguidores do Velho Homem das Montanhas, e é uma tradição que dois dos nove fundadores originais dos Templários foram afiliados aos Assassinos (Ward diz que “Assassinos” não significa sempre “Homicida”, mas era o nome dado para alguém que tomasse a droga haxixe (hashish). Esse estimulante foi um método que os guerreiros usavam para motivar-se antes de irem para a batalha.)
Os Assassinos eram membros de uma seita mística, panteísta, e Ward diz que eram amargamente hostis aos muçulmanos (embora eles fossem muçulmanos – uma subseita ismailita em oposição à maioria sunita) e igualmente detestado por eles. A primeira associação entre os templários e os Assassinos foi, provavelmente, uma aliança mútua contra um inimigo comum. No entanto ela terminou com os Assassinos tendo de prestar homenagem ao Grão-Mestre do Templo, e em 1249 seu chefe ofereceu-se para se tornar cristão, se os Templários liberassem sua seita dessa obrigação.
Vinte anos antes de os Templários serem expulsos de Acre, os Assassinos foram praticamente aniquilados pelos sarracenos (seus descendentes são o Aga Khan e seus seguidores). Após a queda de Acre, o Grão-Mestre templários e a maioria dos Cavaleiros foram mortos, e a Ordem foi reagrupada em Chipre. No entanto, eles não tentaram recuperar Jerusalém, em vez disso, começaram a travar brigas europeias mesquinhas, parecendo que eles teriam abandonado sua tarefa de defender a cristandade, e deixando a si mesmos abertos aos ataques de seus inimigos. Esse hiato em sua atividade só pode ter sido temporário, mas pela intervenção do rei Filipe IV, da França, que os atacou em 1307.
Naquela época, os Templários contavam com 15 mil Irmãos ativos e perto de 40 mil filiados, mas tinham poucos amigos na França. Seu orgulho e riqueza alienada do povo, e sua vontade de admitir homens de origem modesta, despertaram a indignação da nobreza. Os Templários combinavam arrogância com origem humildes, atraindo antipatia imediata, e os reis da Europa institivamente faziam objeções a uma Ordem cosmopolita, que tinha assumido algumas das melhores propriedades em seus reinos e não lhes pagou nenhum serviço ou impostos.
Mesmo o clero odiava os privilégios concedidos aos Templários por vários papas. Eles respondiam apenas ao papa e não estavam sujeitos à autoridade dos bispos, em cujas dioceses ficavam seus negócios; portanto, não poderiam excomunga-los ou controla-los de alguma forma. Quando o papa Alexandre III criou o cargo de Sacerdote de Cavaleiro Templários dentro da Ordem, de modo que os Templários pudessem confessar aos seus próprios sacerdotes, eles foram capazes de ignorar totalmente o clero paroquial. Tronou-se uma tradição templária não se confessar ao clero externo sem uma permissão especial, o que servia para manter invioláveis os segredos da Ordem, mas também permitia que as heresias continuassem incontroladas. A gota d´água deve ter sido quando o papa Inocêncio III liberou o clero templário de qualquer dever de obediência ao bispo diocesano.
A absoluta autonomia dos Templários deu origem à suspeita e às acusações de heresia, e pior, que eram feitas contra eles. Em algumas matérias, os Templários foram pouco ortodoxos de acordo com as ideias de sua idade. Assim, é evidente, a partir de transcrições de suas provas, que as formas de confissão e de absolvição que eles usavam não eram as mesmas utilizadas pelo clero ortodoxo.
No século XIV, existiam três importantes Ordens militares: os Cavaleiros Teutônicos, os Hospitalários e os Templários. Os Cavaleiros Teutônicos estavam fazendo um trabalho útil contra as selvagens tribos eslavas na fronteira alemã e, uma vez que eles estavam lá concentrados, eram difíceis de serem atacados Os Hospitalários não eram, nem de longe, tão ricos como os Templários, mas estavam ativamente engajados na luta contra os turcos no Oriente Médio – e eles tiveram um sábio Grão-Mestre (ele recebeu a mesma convocação que Jacques de Molay do Papa Clemente V, mas, suspeitando de traição, arranjou uma desculpa para não ir, porque estava muito ocupado sitiando Rodes). Felipe o Belo, da França – ou Felipe, o Falso, como seus inimigos o chamavam – odiava os Templários por muitas razões, a não menos importante porque se recusavam a admiti-lo em sua Ordem. Ele também odiava o papa Bonifácio VIII e, quando o papa Clemente V assumiu o comando, exigiu uma investigação sobre a vida e as ações de Bonifácio. Clemente estava em uma posição fraca, pois seu trono papal tinha sido presente do rei da França; e, quando Felipe acusou Bonifácio de ateísmo, blasfêmia e imoralidade, Clemente estava disposto a acalmá-lo para evitar o escândalo de uma investigação pública. Naquela ocasião, o papa estava vivendo em território francês, em Avignon, onde ele tinha sido forçado a ficar pelo rei francês, por isso foi para a França que Clemente convocou o Grão-Mestre dos Templários para discutir uma nova cruzada.
Jacques De Molay foi para a França e, em 13 de outubro de 1307, foi preso por ordem de Felipe. Ele foi retirado do Templo de Paris, com 60 Cavaleiros. Felipe acusou-os de heresia, idolatria e vícios degradantes. O rei tinha enviado anteriormente ordens seladas para todos os governadores provinciais, que, na madrugada de sexta-feira, o 13º dia, prendeu todos os membros da Ordem na França.
Felipe baseou suas acusações no depoimento de suas testemunhas – Noffo Dei e Squin de Florian, ambos expulsos dos Templários por graves crimes, sendo homens em cuja palavra não se podia confiar. Mas Felipe contou com algo mais eficaz do que a palavra de dois bandidos. Ele empregou a tortura mais diabólica. Seu Grande Inquisidor, William Imbert, foi apoiado pelos dominicanos, que já detestavam os Templários. Torturador hábil que era Imbert, quase sempre conseguiu extrair confissões de suas infelizes vítimas. Alguns Cavaleiros foram convidados? “Vocês gostariam de defender a Ordem? ” – Eles responderam: “até a morte”, e a maioria que respondeu dessa forma foi queimada na fogueira.
Em novembro de 1307, o papa emitiu uma bula declarando que os chefes da Ordem haviam confessado a verdade dos crimes de que foram acusados, e ele enviou instruções para Edward II da Inglaterra para prender todos os Templários em seu reino. O rei inglês recusou, dizendo que os Templários eram fiéis à pureza da fé católica. No entanto, Edward estava no meio de resolução de um casamento com a filha de Felipe, Isabella de França, e seu futuro sogro colocou tanta pressão sobre ele que Edward, em última análise, cedeu e apreendeu os bens dos Templários, embora não se tenha prendido ou torturado. Esse atraso permitiu que muitos dos Cavaleiros, alertados pelo destino que os ameaçava com o que estava acontecendo na França, escapassem na obscuridade. Se existir uma ligação real, é a partir desses Cavaleiros que a sucessão maçônica dos Templários deve ser derivada.
Uma Comissão Papal chegou à Inglaterra em setembro de 1309 e insistiu que Templários fossem presos e levados para Londres. Lincoln e York para julgamento. Muitos fugiram, principalmente no Norte, onde o xerife de York foi repreendido por permitir-lhes vagar por todas as terras.
Naquela época, a Escócia estava nominalmente sob o domínio inglês. Escócia e Irlanda foram incluídas nas mesmas instruções, e os Templários de ambos os países foram levados para Dublin para julgamento. É improvável que muitos Templários escoceses tenham sido capturados, e, nessas circunstâncias, a tradição da Ordem Real da Escócia, assim como os Maçônicos Preceptórios Templários escoceses podem muito bem ter uma base sólida. É provável que esses Cavaleiros escoceses se juntaram aos rebeldes escoceses em 1314 na Batalha de Bannockburn, para lutar contra o governo inglês que os estava perseguindo. Na verdade, o que mais eles poderiam fazer? Eles estavam lutando contra homens. Se eles não podiam lutar contra o infiel e, nem por Edward II, por que não lutar por seu oponente, o rei Robert da Escócia?
Finalmente, o rei Edward rendeu os Cavaleiros acusados à lei eclesiástica, mas até março de 1310 nada foi feito. Naquela época, a tortura não era permitida na Inglaterra, e, sem surpresa, nenhuma confissão foi obtida. O papa alertou Edward II que ele estava pondo em perigo a si mesmo por dificultar a Inquisição, e até mesmo ofereceu ao rei a remissão de todos os seus pecados se ele o ajudasse. Isso era muito tentador para que Edward resistisse, e em 1311 ele permitiu que a tortura fosse utilizada. Três dos acusados confessaram, mas os resultados foram insatisfatórios do ponto de vista do papa. Os presos admitiram ser culpados de heresia e concordaram em fazer penitência. Eles passaram o resto de suas vidas em vários mosteiros, mas receberam boas pensões; William de la More, Mestre da Ordem na Inglaterra, recebeu dois schillings por dia, e os membros ordinários quatro pence (uma soma muito adequada, então). O rei deu a maioria das propriedades dos Templários aos seus favoritos, mas algumas passaram aos Cavaleiros Hospitalários.
Na Itália, um inquérito em Ravenna decidiu que todos os Templários eram inocentes, mesmo aqueles que confessaram sob tortura, mas em Florença a tortura conseguiu fazer com que muitos confessassem crimes repugnantes. Em Castela, os Templários pegaram em armas e tomaram as montanhas. A lenda diz que se tornaram anacoretas e foram tão santos que, quando eles morreram, seus corpos permaneceram não corrompidos. (A existência de tal tradição indica que em Castela eles eram considerados homens maus.) Em Aragão eles foram absolvidos e aposentados, mas em 1317 uma nova Ordem foi fundada, o que Ward denomina como A Ordem dos Cavaleiros de Notre Dame de Montesa (L´Ordre des Chevalier de Notre Dame de Montesa). Eles adotaram a regra e as roupas dos Templários, com a aprovação do papa João XXII. Esses Cavaleiros foram grande trunfo para Aragão, que estava envolvida em guerra constante com os mouros e não teria conseguido sem eles.
Em Maiorca, os Templários foram aposentados, e, em Portugal, o rei D. Dinis também superou sua dificuldade de em fundar uma nova Ordem em 1317, que foi realmente uma continuação da Ordem dos Templários, sendo chamada de Companhia de Jesus Cristo. Ela foi formalmente aprovada pelo papa João XXII em 1318, e muitos Templários juntaram-se a ela, muitas vezes mantendo sua posição de origem. Seu castelo em Belém, perto de Lisboa, manteve seus escudos exteriores mostrando a Cruz dos Templários.
Na Alemanha, os Cavaleiros Templários convenceram a nobreza de que eram inocentes, e a maioria escapou com vida. Muitos se juntaram à Ordem Teutônica, e fizeram um bom serviço na Prússia contra os eslavos. Na Boêmia, os templários mantiveram suas propriedades e foram autorizados a legá-las aos seus herdeiros.
Só na França eles eram tratados com crueldade e injustiça. Felipe não fez nenh8u7ma tentativa de dar aos Cavaleiros um julgamento justo. Uma bula emitida por Clemente em 12 de agosto fingiu dar os resultados de um exame que não foi realizado até 17 de agosto. Ele também alegou que as confissões foram espontâneas, o que era uma absoluta mentira. Ward cita um exemplo para demonstrar a brutalidade da perseguição e da traição do rei. Em 1310, Clemente apelou à Ordem para que ela se defendesse e dissesse que por ela não deveria ser suprimida. Quinhentos e trinta e seis Cavaleiro se ofereceram para defender a Orem, e Felipe prometeu que eles estariam livres de perigo. Eles devidamente compareceram perante a Comissão Papal em Paris e seus sofrimentos foram relacionados. (Um cavaleiro mostrou aos comissários os pequenos ossos dos pés, que caíram quando ele foi torturado pelo fogo.) Mas, uma vez que os Cavaleiros estavam em seu poder, Felipe quebrou sua palavra e ordenou que fossem processados. Como alguns já haviam confessado a heresia sob tortura, sua defesa da Ordem foi tratada como uma recidiva, e por isso podiam ser queimados na fogueira.
Felipe não mostrou misericórdia. Os Templários foram queimados em lotes, e as contas de seus sofrimentos são terríveis. Cinquenta e quatro foram queimados por Felipe de Marigni, arcebispo de Sens, e, apesar de seus gritos de angústia, nem um deles se retratou ao ser queimado. No entanto, vendo o que os esperava, muitos dos outros Cavaleiros retiram sua defesa. Aymeric de Villars le Duc foi arrastado perante o tribunal em 15 de maio, três dias depois de ter visto os 54 levados para o fogo, e ele disse aos comissários que, sob tortura, ele poderia jurar qualquer coisa que fosse necessária. Ele mesmo admitiu que tinha assassinado o próprio Senhor.
Foram utilizados diversos métodos de tortura. Lascas de madeira foram introduzidas sob as unhas, ou nas articulações dos dedos; dentes foram arrancados, pesos pesados pendiam das partes penduradas do corpo; o fogo foi estabelecido sob as solas dos pés, que foram primeiramente esfregadas com óleo. Quase todas as torturas posteriormente usadas pela Inquisição espanhola foram experimentadas e testadas sobre esses homens que, antes de 1307, tinham sido os campeões do Cristianismo contra os turcos. Mesmo os mortos não foram autorizados a descansar. Felipe ordenou que os restos mortais de um ex-tesoureiro da Ordem, que morrera havia cem anos, fosse desenterrado e queimado.
Ward se apressa sobre o restante da história de perseguição dos Templários e a apreensão de seus bens, e discute brevemente a morte de seu Grão-Mestre. Ele diz que Jacques de Longvy de Molay era nobre de nascimento e ingressou na Ordem em Baune, em 1265. Ele era um valente soldado e foi eleito Grão-Mestre em 1298.
Durante sua tortura, ele confessou e escreveu uma carta aconselhando outros Cavaleiros para fazer o mesmo, dizendo que eles tinham sido enganados por erro antigo. Ele admitiu a negação de Cristo, mas negou dar permissão para a prática de vícios. Em 22 de novembro de 1309, ele compareceu perante a Comissão Papal, em Paris, e foi perguntado se ele gostaria de defender a Ordem. Ele disse que essa era a única razão por que estava lá. Na quarta-feira, 26 de novembro, ele compareceu novamente perante a Comissão e ouviu quando eles liam sua confissão. Ele disse que estava surpreso com o que ela continha, e desejou a Deus que a lei dos sarracenos e tártaros fosse aplicada contra esses maus, sentados na comissão, para que fossem decapitados esses caluniadores, ou serrados em pedaços. No dia 29 de novembro, a Comissão acusou a Ordem de prestar homenagem feudal para Saladino. Molay negou isso. Ele foi enviado de volta para a prisão até 1314, quando o ato final da tragédia ocorreu.
O papa alegou autoridade para três cardeais, que condenaram De Molay à prisão perpétua. No entanto, ao sair do salão, junto com o Mestre da Normandia, ambos gritaram para que a multidão ouvisse que a Ordem era inocente de todas as acusações. Isso deu a Felipe uma desculpa para condená-los à morte pelo fogo como uma recidiva de hereges. Em 11 de março de 1314, portanto, eles foram levados para uma pequena ilha no Rio Sena, entre o palácio do rei e o Mosteiro Agostinho. Lá, Molay fez um último discurso, declarando que não havia verdade em sua confissão, que ela tinha sido arrancada dele quando a tortura da cremalheira o havia reduzido a um estado tal que ele não sabia o que estava fazendo. Ele disse que a confissão era uma mentira, e nem mesmo para salvar-se ainda mais de tortura e da morte que ele iria adicionar uma segunda mentira. Ele insistiu que a Ordem era inocente das imundas acusações.
Naquela noite, Jacques de Molay morreu em agonia entre as chamas. Por último ele protestou a inocência da Ordem e, como eles estava morrendo, amaldiçoou o papa Clemente e Felipe da França, convocando-os para encontra-lo diante do Trono de Deus dentro de um ano. Felipe regozijou-se com a cena do muro de seu jardim do palácio. Mas a convocação foi confirmada por um Rei Maior: dois meses depois, Clemente morreu de lúpus e oito meses após a morte de Molay, Felipe também morreu de uma queda do seu cavalo. (Eles não eram os únicos convocados por suas vítimas. Outro Templário queimado na fogueira ordenou que seu Inquisidor, Guillaume Nogaret, aparecesse com ele oito dias depois diante do Trono de Deus. No prazo fixado Nogaret passou para seu julgamento final). Esse é o conto da destruição dos Templários. Ward diz que ele poderia dar terríveis detalhes, mas que ele havia dito o suficiente para mostrar que nem a justiça, nem a boa-fé, nem as misericórdias ainda tinham sido mostradas para as infelizes vítimas na França. Ele diz que essa história é uma das mais negras aos registros do Cristianismo.
EM QUE OS TEMPLÁRIOS ACREDITAVAM
Nove principais acusações foram finalmente movidas contra os Templários. Estas foram:
1. Que eles negavam Cristo e profanaram a cruz;
2. Que eles adoravam ídolos;
3. Que eles usaram uma forma pervertida do sacramento;
4. Que eles haviam realizado assassinatos ritualísticos;
5. Que eles usavam uma corda em torno de sua cintura que tinha um significado herético;
6. Que eles realizavam beijos no ritual;
7. Que eles mudaram o ritual da missa e fizeram uso de um tipo heterodoxo de absolvição;
8. Que eles eram imorais;
9. Que eles eram traiçoeiros para outras divisões das forças cristãs.
Ward acredita que, em algum sentido, as acusações 1, 5, 6, 7 e, de forma limitada, a 8 eram verdadeiras, mas que a 2, 4 e 9 eram infundadas. A acusação 2 ele suspeita que possivelmente tenha surgido a partir de sua prática de venerar uma relíquia, o que foi exagerado e distorcido pelos críticos ignorantes e hostis.
Como o ritual de iniciação dos Templários era secreto, as evidências usadas para enquadrar as acusações só poderiam ter sido ouvidas por bisbilhoteiros e é provável que tenham sido mal interpretadas. A acusação de negar Cristo poderia ter sido parte de uma seção dramática da cerimônia de iniciação, cujo significado pode não ter sido totalmente compreendido pelo participante. Petrus Picardi, um Cavaleiro Templário disse que era parte de um teste de fidelidade religiosa, e, se ele fosse corajoso o suficiente para se recusar a negar, ele teria sido digno de ser enviado à Terra Santa imediatamente. O Preceptor de Poitou e Aquitânia, um cavaleiro chamado Gonavilla, disse que a tríplice negação foi feita para representar São Pedro e suas três negações de Cristo. Outro cavaleiro, Johannis de Elemosina, cedeu quando pressionado e fé a negação. Ele relatou que seu iniciador foi arrogante e disse-lhe, “Vá tolo, e confesse”. Muitos Cavaleiros disseram que a negação era “ore nom conde”; vinda da boca, e não do coração. Eles explicavam o desprezo, ou cuspindo, à cruz da mesma forma, dizendo que cuspir era “juxta, nom supra” (ao lado dela, e não sobre ela). Era semelhante a uma peça de teatro de milagre medieval, especialmente uma chamada O Festival dos Idiotas, em que um jogador faz o papel de uma alma idiota que cospe na cruz (no entanto, houve uma heresia gnóstica, mantida pelos cátaros, que dizia, desde que a cruz foi o meio de matar o Salvador, que não era um emblema para ser reverenciado, mas que deveria ser odiado. Os cátaros foram duramente perseguidos por isso).
A Evidência sugere que o ritual da Cruz foi pintado ou esculpido ao chão. Isso pode significar que a cerimônia envolveu uma etapa do ritual. A maneira apropriada de se avançar do Ocidente para o Oriente em certo Grau Maçônico envolve traçar, por meio dos passos adequados, uma cruz latina. Muitos candidatos maçônicos não interpretam o porquê de eles estarem de face ao norte, sul, e finalmente leste.
Em certo sentido, os maçons cristãos podem interpretar a rejeição da cruz como semelhante aos três passos regulares da Maçonaria. Esses passos ritualmente simbolizam um ato de pisar na cruz de nossas paixões, para representar a cruz fálica que causou a morte de nosso Senhor. Claro, isso está ainda dando ao ritual um significado exotérico, como um julgamento da submissão do candidato às instruções de seus superiores (em outras palavras um teste da força relativa de sua obediência e sua fidelidade religiosa). Durante a cerimônia de negação e rejeitando a cruz com os pés, os Cavaleiros, com as espadas desembainhadas, ameaçavam os candidatos; isto é, como o velho ritual maçônico templário do Cálice da Caveira, em que o candidato será ameaçado se hesitar em beber.
Os Cavaleiros Templários faziam questão em dizer que eles adoravam e veneravam a cruz três vezes por ano: em setembro, em maio e na Sexta-Feira Santa. Ward não acredita que esse ato com a cruz poderia ter sido anticristão. Ele diz que deve ter sido algum simbolismo e significado interior profundo. Quando perguntaram por que eles fizeram isso, muitos disseram que era o costume da Ordem dos Cavaleiros. Essa é uma resposta que a maioria dos maçons também daria se perguntassem por que nós fazemos tantas coisas estranhas nos nossos rituais.
A segunda acusação, a de adorar um ídolo, tem sido associada ao nome Bathomet ou Mahomet. Esse nome é derivado de uma palavra grega que significa Batismo de Sabedoria. Grande parte da evidência diz que a coleta do Espírito Santo foi usada durante a cerimônia de iniciação templária, e isso sugere que eles veneravam uma cabeça infame em seus rituais secretos, que poderia ter sido uma figura do Espírito Santo. Muitas das seitas gnósticas dão grande ênfase à Santa Sabedoria, ao passo que a Igreja Latina tinha tradicionalmente negligenciado a terceira seção da Trindade. Alguns dos Cavaleiros descreveram a cabeça como sendo de um velho, o homem barbudo. Ward lembrou-se por essa descrição do símbolo gnóstico para a Manifestada Divindade Abraxas, mas ele pensa ser mais provável que fosse um relicário na forma de uma cabeça e provavelmente contivesse um crânio.
Ward tinha pouca dúvida de que os Templários eram afetados pelas ideias do Gnosticismo, provavelmente ideias que eles adquiriram durante o serviço na Palestina. Ele diz que até a forma de suas igrejas é simbólica. A redonda ou a de forma octogonal nos lembra que a veneração do octógono faz pare da tradição operativa maçônica nos presentes dias. A Cruz Templária forma um octógono se seus pontos forem juntados, enquanto o círculo se origina de religiões pré-cristãs, não latinas e a cristandade grega. Pode existir também uma razão simbólica esotérica para chamar as igrejas de Templos; a lenda maçônica de que a forma destas igrejas foi copiada da igreja construída pela imperatriz Helena para guardar a verdadeira cruz pode ter tido algum significado.
Ward rejeita totalmente a ideia de que os templários tenham desenvolvido um sacramento pervertido, e da mesma forma dele rejeita a acusação de um assassinato ritualístico. A quinta acusação pode simplesmente referir-se ao Cinto de Castidade Cisterciense, pois o uso de tal item era previsto no Regulamento elaborado por São Bernardo. Os inquisidores pensaram que essa era um aprova de heresia, porque a associaram com os cátaros e os Assassinos, já que ambos os grupos usavam um cinto vermelho a que atribuíam grande importância. Hoje, os dervixes muçulmanos investem o novato com um cinto. É possível que a ideia de se usar um cordão vermelho foi importada do Oriente e tinha um significado herético, mas o monástico uso do cinto era tão bem conhecido na época que Ward conclui que não era nada mais do que um Cinturão de Castidade Cisterciense. Os inquisidores não aceitaram isso, no entanto, dizendo que essas cintas eram prova de sua heresia.
Parece bem aceito que um beijo ritualístico foi usado. O que é incomum e que foi dito ter sido dado na parte traseira. Ward sugere que seu objetivo era o de incutir humildade. Ele ressalta que no Grau de Cavaleiro Prussiano, o candidato tinha de beijar o punho da espada do principal oficial para mostrar a sua humildade. O beijo posterior poderia muito bem ser uma variação do conceito original. No século XIII, o povo era mais bruto do que agora, e Ward vê essa cerimônia como semelhante ao tratamento de um novato na escola que ele pode receber de um valentão. Ele diz que isso não é uma razão para suspeitar que havia alguma coisa imoral nesse beijo. Também não faz muito para apoiar a acusação de “dar permissão para que um vício antinatural” (parte da acusação nº 8). No que diz respeito à moral sexual, os Templários não foram, provavelmente, nem melhores nem piores do que o atual clero ortodoxo. Seja qual for a verdade, a acusação de vício antinatural nunca foi perseguida.
Nenhuma evidência substantiva da traição foi produzida. Foi dito que, ocasionalmente, os Templários não poderiam ter usado toda a sua energia para apoiar seus rivais, os Cavaleiros de São João, ou até mesmo alguns dos príncipes cristãos na Terra Santa. Isso deixou o cargo de mudar o ritual da missa e fazer uso de um tipo heterodoxo de absolvição. Ward diz que a prova sobre a forma de qualquer alteração é conflitante, mas é claro que a forma de missão que eles usaram foi definitivamente ortodoxa. Se os Templários estavam celebrando uma variação inaceitável da missa, então o caso de heresia foi realizado. Cada Cavaleiro iria tentar minimizar a importância de quaisquer variações que ele tinha notado, mas cada volta na cremalheira iria encorajá-lo a adicionar algo novo para sua confissão. O serviço da missa era realizado pelos Sacerdotes dos Templários, e qualquer heresia dependeria da visão que esses sacerdotes tomaram de como o ritual devia ser realizado. Eles eram homens educados, que tinham tempo livre suficiente para pensar, refletir e meditar, mas não estavam sujeitos a nenhuma influência moderadora de bispos e à hierarquia da Igreja habitual. Em tais circunstâncias, eles estavam livres para pensar por si mesmos, de especular e de usar suas especulações para desenvolver conhecimentos e percepções captadas a partir das seitas heréticas do Oriente. Sem dúvida alguns sacerdotes templários iriam mais longe do que outros, e não haveriam genuínas diferenças entre os Preceptórios. Os Cavaleiros, por outro lado, eram homens guerreiros, principalmente ignorantes e mal-educados, pois eles teriam de ter na confiança o que seus sacerdotes lhes disseram. Eles confessavam aos Sacerdotes dos Templários, e por isso não tinham a chance de comparar o que seus próprios sacerdotes ensinavam com as ideias do clero fora de sua Ordem. Eles podem até não ter sido capazes de compreender as pequenas diferenças entre as duas frases latinas, de moto que a liturgia ortodoxa e a prosa latina herética soariam pouco diferentes aos seus ouvidos ignorantes (apesar desse poder e responsabilidade, porém, os sacerdotes templários não foram perseguidos, eram os Cavaleiros quem os inquisidores alvejavam). E as diferenças nas palavras da missa eram leves. As evidências mostraram que o Cánon da Missa foi deixado intacto, apesar de alguns sacerdotes omitirem as palavras “isto é meu corpo” da consagração – dificilmente uma questão escaldante.
A absolvição, no entanto, foi pouco ortodoxa. Embora os detalhes da prova variem, Ward diz que um fato se destaca. O Preceptor chamado Raduphus de Gisisco disse que a ele foi dada a seguinte absolvição em francês:
“Beau Segnurs freres, toutes les choses que vous leyssuz a there pour la honte de la char ou pour justice de la mayson, tei pardon cume je vou fayt je vou em fais de beau tour de bonne volente: et Dieu qui pardona la Maria Magalene ses pechiez, les vous Pardoient”. Etc.
Um Cavaleiro Templário da Catalunha, Garcerandus de Teus, relatou que a mesma forma de meta-absolvição estava dentro de sua versão em inglês:
“Rezo a Deus para que ele possa perdoar nossos pecados, como Ele perdoou Santa Maria Madalena e o ladrão na cruz” (mas as versões francesa e inglesa que Ward oferece não são de maneira nenhuma “a mesma forma de absolvição”. A francesa não é apenas longa, ela não faz referência ao ladrão).
Disso Ward sugere que essas palavras podem ser uma citação das palavras de Cristo ao ladrão que foi crucificado ao lado dele. Mas, em seguida, relata que Garcerandus passou a relatar como a referência para o ladrão tinha sido explicada a ele:
“O ladrão queria dizer Jesus, ou Cristo, que foi crucificado pelos judeus, porque ele não era Deus, mas ele chamou a si mesmo Deus e rei dos judeus, que era um ultraje para o verdadeiro Deus, que está nos céus. Quando Jesus teve seu lado trespassado com a lança de Longino, ele se arrependeu de haver se chamado o próprio Deus e rei dos judeus, e pediu perdão ao Deus verdadeiro. Em seguida, o verdadeiro Deus o perdoou. É por essa razão que se aplica a Cristo Crucificado estas palavras: “Como Deus perdoou o ladrão que estava pendurado na cruz”.
Agora, Ward nos diz, se essa crença era geralmente realizada pelos Templários, então, na visão da Igreja do século XIV, não há dúvida de que eles eram hereges, que não foram mesmo cristãos. Se eles tinham esses pontos de vista, então sua negação de Cristo e a rejeição da cruz são a prova de que os Templários eram os não cristãos. Mas, Ward pergunta, essa declaração foi apenas uma opinião pessoal tomada por um único Cavaleiro Templário iletrado? Ele não encontrou nenhuma evidência de que esse ponto de vista tenha sido generalizado. Um Cavaleiro Templário chamado Trobati disse que ele tinha sido ordenado não para adorar um Deus que estava morto e afirmou que, em vez disso, eles tinham dito para colocar sua fé em um ídolo. Mas seu testemunho é o único em meio a centenas de declarações que suportam essa crença anticristã.
É opinião de Ward de que a Ordem não tem crenças não cristãs, embora ele não achasse que sua forma de absolvição era ortodoxa. Ele aceitou que os leigos poderiam absolver pecados, em certos casos. O apoio a essa ideia vem da Inglaterra, onde os Cavaleiros não foram interrogados sob tortura, e onde negaram a maioria das acusações, mas admitiram a heresia leve e se ofereceram para fazer penitência para fazer as pazes. Mas havia uma importante questão religiosa subjacente no momento. Fiou claro que as Cruzadas foram um fracasso. Jesus não tinha conseguido apoiar os defensores de sua fé contra os infiéis. Vendo isso, muitas mentes pensantes não podiam deixar de questionar se a fé em Cristo era realmente a revelação direta de Deus, como lhes foi dito.
Durante as Cruzadas, haviam encontrado homens piedosos que não acreditavam em Cristo – os seguidores de outro Deus tinham ganhado. Eles também se encontraram com os cristãos gnósticos, que explicaram a história de Jesus de uma forma muito diferente da Igreja Latina. Parece altamente provável que alguns dos Cavaleiros foram levados para novas linhas de pensamento que divergiam da estrita ortodoxia da época.
Ward nos lembra a crença gnóstica de que Cristo não foi crucificado, e que era Simão o homem que se dizia tê-lo ajudado carregar a cruz, que morreu em seu lugar. A tradição maçônica dos Templários dos dois Simões pode aludir a isso. Ward diz que, nos Estados Unidos, o crânio usado em alguns rituais maçônicos é muitas vezes chamado de Velho Simão. Alguns gnósticos tinham uma visão ainda mais extraordinária: eles alegavam que o mundo foi criado por Lúcifer, e o homem pendurado na cruz era um Mensageiro de Deus de Justiça, cuja missão era infligir um código duro e impossível de direito. Nessa visão de mundo, Lúcifer havia matado Jesus para proteger os homens de Sua opressão. Muitas doutrinas estranhas e selvagens prosperaram no Oriente Médio, e os Cavaleiros Templários não poderiam ter evitado ouvi-las. Mas Ward pensa que não é necessário seguir essa ideia muito mais longe. Ele já havia dito que o cavaleiro médio era um guerreiro simples e era pouco provável que tenha se incomodado com tais sutilezas. Talvez um cavaleiro pudesse ter se interessado pelo significado fálico da cruz, mas era improvável para ele adotar os pontos de vista mais extremos.
Ward diz que ele está ciente de que os dervixes turcos usavam um método de iniciação que se assemelha muito de perto ao sistema maçônico. E ele fala de uma tradição cujo ritual os maçons poderiam ter conseguido por intermédio dos Templários e de Ricardo Coração de Leão. Ele não quer sugerir que essa é a única verdadeira origem do ritual maçônico, mas acha que é muito provável que uma nova enxurrada de ideais entrou no pensamento europeu ocidental quando os Templários foram trazidos para perto e tiveram contato naquele momento com uma aliança europeia de construtores operativos chamados de maçons Comacinos. O arco gótico pontudo, derivado da vesica piscis, apareceu, ao mesmo tempo, com as Cruzadas, e Ward acredita que a velocidade por meio da arquitetura da Europa Ocidental sugere que um corpo bem organizado foi responsável por sua promoção. Outros costumes orientais também se espalharam para o Ocidente: por exemplo, a touca da freira era apenas uma forma europeia do véu da mulher muçulmana.
Ward é de opinião que alguns rituais secretos dos Templários podem ter sido copiados dos ritos dos dervixes ou dos Assassinos, pois é bem sabido que eles estavam intimamente associados com ambos. Ward diz que, para seu conhecimento pessoal, os drusos são os descendentes prováveis dos Assassinos e têm pelo menos um sinal maçônico, e um sistema similar de Graus. Ele prossegue acrescentado que existem várias teorias de que os Templários não pereceram, mas refugiaram-se na Maçonaria e sobrevivem hoje em modernos preceptórios templários maçônicos.
(Texto extraído do livro “Os Segredos da Maçonaria” – Robert Lomas – Editora Madras)
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