terça-feira, 16 de maio de 2017



INSTRUMENTOS DE TRABALHO DO APRENDIZ

A RÉGUA



O tempo é uma das mais preciosas Joias para aquele que dele sabe fazer um bom uso. Porém, ao negligente e indolente não passa de mera nulidade – para pessoas assim, os preciosos momentos são como dias e os seus dias são como anos. O seu trabalho é problemático, a sua vida é um pesado fardo. Em suma, uma estátua que se mexe é uma pobre comparação àquela simplória alma que não consegue encontrar tempo para fazer o bem aos outros e nem ser benéfico para si próprio.

Aquele que desperdiça o seu tempo parece estar em um, ou próximo a um, estado de inexistência, pois, apesar de ele comer, beber, etc., provar que tem uma substância animal, onde estão as suas ações humanas? Onde estão aquelas emoções, grandiosas e nobres da alma? Onde está aquela grande Luz que deveria ser colocada sobre um pedestal e pela qual o mundo possa ver com plenitude tratar-se de um bom maçom e de um verdadeiro cristão? Certamente tudo isso foge ao indolente inativo e o incapacita de governar a si próprio ou de dar luz a outrem. Que tão insignificantes trastes sejam então banidos da face da terra, ou que o caráter dos “inúteis” esteja estampado em suas testas e, para sempre, privados do benefício de qualquer elo social.

Mas o bom maçom cuidará para que o seu tempo seja bem empregado, a pedra seja bem esquadrada e a construção prossiga com coragem e bravura.

Que as diversas partes de nosso trabalho sejam medidas e dosadas apenas pela Régua de um Dia, fazendo com que cada parte de nosso trabalho seja justa e com dimensões apropriadas de comprimento e largura, pois aquele que cuida de suas medidas tem mais condições de trazer perfeição ao seu trabalho. Mais do que aquele que o negligencia, não obstante possa ele assim tentar.

O nosso Grande Mestre Salomão nos diz que “sob o Céu, para cada coisa existe o seu tempo e um tempo para cada coisa”. “Existe um tempo para servir ao nosso Criador; um tempo para trabalhar atendendo as imposições de nossas necessidades; um tempo para fazer o bem ao nosso próximo e um tempo para o descanso”. A equilibrada e sensata dosagem do qual é útil e necessária. Pois aquele que aplica uma boa medida é o que mais certamente trabalhará em verdade e em regularidade, enquanto aquilo que é feito com indolência e sem medida será imperfeito e desgostoso. Quão prazeroso e proveitoso, então, deve ser repartir bem aquele curto Tempo que temos, empregando cada uma de suas partes e propósitos grandiosos e humanos.

O bom desempenho de nossas obrigações e deveres e cumprindo aquela grande e importante confiança a nós atribuída, certamente é a mais prazerosa satisfação que pode tomar conta do peito de um ser racional. Os enganosos atrativos da opulência, da soberba e do poder, mesmo aqueles ostentados por reinos e impérios, comparados a esta satisfação interior, são como o fugaz cintilar do vapor exposto ao Sol ou um átomo em relação ao Universo. O bom maçom, a salvo disso, não deve temer as censuras e reprovações dos outros, nem daquilo que é ainda pior, a implacável crueldade de uma consciência sem relento. Ao contrário, ele gozará dos frutos do seu trabalho com uma tranquilidade e uma serenidade mental, aqui e na eternidade – uma felicidade que jamais findará.

Mesmo quando os compiladores de 1816 determinaram quais seriam os Instrumentos do Trabalho de um aprendiz maçom, parece ter havido duas opiniões quanto ao seu exato significado moral. Na versão mais usada em geral, nos dias de hoje, a Régua de 24 polegadas é dividida em três partes: para a oração, para o trabalho e o descanso e para o serviço. Nas Lojas dos Antigos que é de onde este Instrumento vem, “uma parte é reservada aos trabalhos, parte ao serviço a Deus e assistência a um Irmão, e parte para o sono e descanso”. Em alguns documentos antigos, existe certa dúvida se o dia deveria ser dividido em três ou em quatro períodos. Embora alguns autores tenham esboçado essa divisão em três, conforme a prática de Santo Agostinho, é provável que a adoção de quatro períodos tenha surgido antes da época em que o número “três” tivesse adquirido a importância e significado que tem para o Primeiro Grau.

Willian Preston faz referência à divisão em três períodos:

Porque os três empregos aplicados àquelas três divisões são igualmente essenciais à felicidade do homem e o distinguem da criação animal, pois o homem precisa suportar a si próprio pelo produto de seu trabalho manual. Mas também ele quer o descanso e o conforto para que possa continuar o seu trabalho e, como um ser racional, também devendo empregar as suas faculdades mentais na contemplação da Natureza e dedicar a devida adoração ao seu, Onipotente Criador.

Os Antigos viam o Maço Comum como o monitor da consciência, enquanto o Malho citado anteriormente serve par apurar, eliminar todas as saliências e suavizar as superfícies. Isso combina o uso padrão de nossos dias, mas a explanação moral alternativa que surgiu no período de 1816 por meio da Stability Lodge of Instruction vale ser comparada graças aos seus distintos significados:

Com a Régua de 24 polegadas podemos aprender uma lição cotidiana de advertência e instrução, pois ao ser dividida em 24 partes ela nos lembra da divisão natural do dia em 24 horas e nos orienta a aplica-las a seus apropriados objetos, quais sejam: a prece, o trabalho, o descanso e o sono. Com o Maço comum aprendemos que o talento e a perícia sem a aplicação de quase nada valem; que o trabalho é a sorte do homem; que o coração pode imaginar e o coração pode planejar em vão se a mão não estiver pronta para executar o desígnio. Com o cinzel nós aprendemos que a perseverança é necessária para que se consiga a perfeição; que a matéria bruta pode receber seu fino polimento, mas isso só se dá por intermédio de repetidos esforços; que nada que não seja fruto de uma incansável aplicação pode levar ao hábito da Virtude, ao esclarecimento da mente e a uma pureza de espírito. Disso tudo extraímos esta moral, aquele conhecimento baseado na precisão, ajudado pelo trabalho, e promovido pela perseverança, haverá de, finalmente, sobrepujar todas as dificuldades, tirar a ignorância do desespero e estabelecer a felicidade nos caminhos da ciência.

O Dr. Oliver, ao recolher os pensamentos de outros autores junto aos seus, assim escreve:

A Régua de 24 polegadas, cujo aparente uso é o de apenas medir linhas e distâncias, entre os maçons se refere, mais especificamente, às 24 horas do dia e destaca a necessidade de uma distribuição uniforme do Tempo: uma parte devendo ser aplicada ao trabalho, outra parte reservada para o descanso e um a terceira parte para a prece e a meditação. Foi assim que o excelente monarca e Grão-Mestre dos maçons, Alfred – O Grande, fez uma equilibrada e justa apropriação de suas horas, depois de ter vencido todos os seus adversários, e em paz sentou-se no trono de seus domínios hereditários. É de fato primordial que se cuide do progresso do tempo. O tempo parece não se mover. Veja o mostrador de seu relógio. Ele está ali, fixo e imóvel. Você não consegue ver o processo pelo qual o tempo é dividido e, ainda assim, hora após hora, ele vai passando. O mostrador ainda continua ali, no mesmo lugar, mas está, na verdade, avançando como se o decorrer do tempo fosse visível ao seu olho. De forma semelhante, o sol no Firmamento mede os dias, as semanas, os meses e os anos e ainda assim, não importando o quão atentamente você observe, você não tem a menor percepção visual de seu curso. Ele surge no Oriente e você o vislumbra no púrpuro amanhecer. Ele chega ao seu meridiano ao sol de forma ainda imperceptível ao olho humano e você sabe que metade do dia já se foi. Majestosamente ele vai ao fim de sua trajetória diária e, ao se pôr no Ocidente, você percebe que está um dia mais próximo daquele que haverá de, por fim, encerrar todas as suas ligações com este mundo, e introduzi-lo a outro mundo em que esta divisão de tempo cessará e uma infindável eternidade se descortinará ante os seus olhos. Que este pensamento seja um estímulo e um incentivo às atividades virtuosas, que a sua admissão à Eternidade seja gloriosa, plena de paz e de indescritível alegria.


(EXTRAIDO DO LIVRO O SIMBOLISMO NA MAÇONARIA, POR COLIN DYER, EDITORA MADRAS)

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