segunda-feira, 21 de novembro de 2016


HIRAM, LENDAS E MITOS



Trabalho de Pesquisa de Pedreiro de Cantaria

INTRODUÇÃO

Para se chegar a entender um pouco mais da criação e adoção da Lenda de Hiram necessário se faz estudar um pouco do DNA da maçonaria especulativa.

Certamente que a forma, a natureza e os objetivos da maçonaria operativa e de seus antepassados diferem da maçonaria especulativa de 1717, que não era exatamente a atual, ao contrário do que muitos pensam, vez que isso só ocorreu em 1813 quando da união das Grandes Lojas dos Antigos com a Grande Loja de Londres, dos Aceitos, surgindo daí a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Essa união carreou para dentro da estrutura maçônica não só os novos conhecimentos trazidos pelos ventos do renascimento, mas também uma profunda reforma na educação, dominada àquela época pela Igreja.

Surgiu a corrente humanista na educação visando a educação racional e livre, ao contrário do que impunha a Igreja.

Os operativos, embora muitos deles altamente influenciados pela Igreja, traziam consigo antigos costumes de velhas tradições que não eram necessariamente cristãs, mas bíblicas e faziam referências a NIMROD como construtor da Torre de Babel, Tubalcaim, o artífice em ferro.

Por outro lado, as civilizações antigas tinham suas lendas, suas histórias, onde cultuavam a imortalidade da Alma.

Os egípcios tinham suas trindades divinas e lendárias: Osíris, Isis e Hórus; Ammon, Mouth e Khons; Horus (nascer), Ra (Zênite) e Osiris (Ocaso). Os hindus: Brahma, Vishu e Shiva; os cristãos: Pai, Filho e Espírito Santo; Do Hermetismo: Archeu, Azoth e Hylo e assim por diante.

Dentre essas, a mais conhecida entre nós, é a lenda de Osíris, na qual acreditamos ter inspirado a maçonaria para construir a Lenda de Hiram Abif, até mesmo por que Isis é nossa mãe e somos os “Filhos da Viúva”.

Eis a história da lenda de Osíris:


“Osíris era filho de Geb, a Luz, e Nut, a Noite, e nasceu em Tebas, no Alto Egito. No momento do seu nascimento ouviu-se uma voz misteriosa que proclamou a chegada do "Senhor Universal", o que deu aso a manifestações de alegria logo esmorecidas pelas revelações das desgraças que se aproximavam. O seu avô Rê (ou Rá) reconheceu Osíris como herdeiro ao trono, apesar dos maus agouros. Alto, belo e carismático, Osíris sucedeu a Geb no trono e casou com a sua irmã, a bela Isis. Osíris começou por abolir o canibalismo e introduzir junto dos seus súditos, ainda um pouco primitivos, normas de conduta e técnicas avançadas de agricultura, para além dos prazeres da música. Instituiu ainda o culto dos deuses, desconhecido até então, construindo templos e imagens divinas. As muitas cidades construídas e as leis justas que emitiu valeram-lhe o nome de Onofris, "o Generoso" pelo qual, como quarto faraó divino, era conhecido.

Ainda não contente com a sua obra, decidiu espalhar os seus conhecimentos pelo resto do mundo e partiu para a Ásia, acompanhado de Tot, Anúbis e Upuaut, deixando a regência a Isis. Inimigo da violência, espalhou a civilização e o conhecimento por toda a terra e voltou ao Egito. Quando chegou, verificou que Isis tinha governado bem o seu reino, que encontrou em ordem. Mas em breve seria vítima de uma intriga orquestrada pelo seu invejoso e feio irmão Set, que o matou durante um banquete, despedaçou-o e lançou os bocados do seu corpo às águas do Nilo. Mas Isis, com os seus poderes de feiticeira e ajudada por Tot, Anúbis e Hórus, devolveu Osíris à vida. Ressuscitado, Osíris preferiu, no entanto, o poder sobre o reino dos mortos ao reino dos vivos, retirando-se para os Campos Elísios, onde recebia com carinho as almas dos justos. Hórus, filho de Osíris e Isis, derrotou mais tarde Set numa grande batalha e veio a ser o rei de todo o mundo.

Osíris foi o nome grego dado a Ousir, o protagonista desta lenda que foi contada por Plutarco. Os antigos Egípcios acreditavam que Osíris morria todos os anos no início da primavera, quando era tempo de seca e de colheitas, para renascer no outono, quando o nível das águas do Nilo baixava e se procediam às sementeiras. Por isso a cheia anual, que tinha o nome de Hapi, era venerada como sendo a "alma de Osíris". Muitas vezes representado por um pilar, o "djed", Osíris governava assim nos dois mundos, o da morte e o da vida. Identificado com o Sol, simboliza a continuação dos nascimentos e dos renascimentos. ”[1]

Eis aí o culto da Imortalidade da Alma, tão presente em nossa Ordem, na Lenda de Hiram.

HISTÓRIA E ANTECEDENTES DA LENDA

Esta lenda não existia entre os Operativos que tinham mais familiaridade com a história de NIMROD e a construção da Torre de Babel e bem assim com personagens bíblicas da área da construção: Tubalcaim, Jabal, Noé, dentre outros

Iremos encontrar na maçonaria uma série de mitos ou lendas que estão inseridos no sistema simbólico da Maçonaria e que podem ser divididos em três classes”.

1. O Mito Histórico;
2. O Mito Filosófico e
3. A história mítica.


“1. O mito pode ser empregado na transmissão de uma narrativa das façanhas e dos eventos antigos, tendo sua fundação na verdade, a qual, no entanto, foi bastante distorcida e corrompida pela omissão ou introdução de circunstâncias e personagens, então ele constituirá o mito histórico.

2. Ou ele pode ter sido inventado e adotado como um meio de enunciar um pensamento particular, ou de ensinar uma determinada doutrina, quando ele se torna um mito filosófico.

3. Ou, por fim, os elementos verdadeiros da história efetiva podem predominar sobre os materiais fictícios e inventados do mito, e a narrativa poderá ser, na maior parte, composta de fatos com um leve colorido de imaginação, quando ela se torna uma história mítica.

“A cada uma dessas três divisões da lenda, ou mito, pois eu não estou disposto, na presente ocasião, como alguns dos escritores mitológicos alemães, a fazer uma distinção entre as duas palavras devemos destinar todas as lendas que pertençam ao simbolismo mítico da Maçonaria”.[2]

Temos que lembrar que o Renascimento se entrelaçou com o Iluminismo e que naquela época estavam surgindo grandes pensadores, grandes ideias.

Uma das causas que provocou grande impacto foi o fato de que, em 1665, Jacob Jéhu Leon, um judeu espanhol, exibiu em Londres um modelo muito bonito do Templo de Salomão, que atraiu enorme atenção (a exposição continuou com o mesmo sucesso até 1765, ou seja, um século depois)? Ou seria a publicação, em 1688, de um livro “Le Temple de Salomon spiritualisé“, do escritor anabatista John Bunyan, autor conhecido e respeitável?[3]

Pode ser possível oferecer o elaborado sistema de simbolismo construído sobre o Templo do Rei Salomão como o caso em questão aqui. O mais antigo manuscrito maçônico não mapeia a Maçonaria até o rei Salomão, mas muito além dele até Nimrod e até Euclides. No Manuscrito Dowland, datado em cerca de 1550, Hiram Abif é mencionado, mas apenas como um nome entre muitos outros. Em 1611, a versão da Bíblia do Rei James apareceu na Inglaterra e despertou um interesse quase universal, em especial pelas narrativas do Antigo Testamento de Salomão e seu Templo.

Maquete do Tempo de Salomão

No final do mesmo século e no início do século seguinte, esse interesse foi tão geral que muitos modelos do Templo foram construídos e expostos em centros populosos, e manuais descrevendo-os receberam circulação geral, algo que deve ter sido particularmente interessante para os maçons antigos, que tinham tradições há muito acalentadas relacionadas com aquele edifício histórico. Quando Anderson preparou a primeira edição de suas Constituições, ele incorporou em uma nota de rodapé uma explicação erudita do nome “Hiram Abif”, uma coisa que ele não teria feito se seus leitores já não estivessem interessados[4]

A inferência a partir desses fatos, assim sucintamente expostos, é que há muito tempo existia na Ordem um germe de interesse pelo Templo de Salomão; que esse germe se encontrava em um ambiente favorável para o desenvolvimento quando o interesse na matéria se tornou popular, e que este desenvolvimento encontrou um lugar no Ritual no início do século XVIII sob a forma agora três vezes familiar. Se esta leitura da matéria é procedente, segue-se que o simbolismo do Templo é um caso de desenvolvimento dentro da Ordem, devido a condições externas. 

A morte e o desaparecimento que ela implica deverão aparecer como o maior perigo a que o homem poderia ser submetido, daí sua ansiedade, a recusa de aceitar, e a esperança de sobrevivência em um além diferente. Portanto, a morte era apenas uma passagem que leva a um renascimento neste mundo não manifestado, mas pressentido, e que era domínio do sagrado. Uma passagem, como a do nascimento à vida, da infância para a adolescência, desta última para a masculinidade pelo exercício da sexualidade, tudo sacralizado durante cerimônias rituais (Imortalidade da Alma). Sendo o rito a única forma de acessar a estes diferentes níveis de ser, todas as civilizações, da mais primitiva à mais sofisticada, sabiam, e ainda sabem, que estas práticas são mantidas em segredo porque espera-se que tragam um poder considerável para aqueles que são seu objeto.

A lenda de Hiram é a espinha dorsal da Maçonaria e sua estrutura simbólica presente nas narrativas em torno do mitológico personagem cuja vida e principalmente os acontecimentos relativos à sua morte servem de mote para toda uma gama de símbolos e de narrativas, que vão se condensar nos ritos da maçonaria simbólica do Rito Escocês Antigo e Aceito – REAA assim como em outros ritos. 

O nome correto encontrado na Torá é Chiram, que se pronuncia: Riram.

Embora tenhamos abordado algumas das trindades e dito que a lenda de Osiris é a que mais se assemelha, encontraremos também na tríade: nascimento, vida e morte um bom referencial para o estudo da lenda.

Já nas lições do simbolismo encontramos a escada de Jacó que faz referência à reencarnação (para os que tem a visão espírita) ou da ressureição para os cristãos. Jacó sonha ter visto anjos subindo e descendo por uma escada. Nos passos do Mestre, quando ele ergue as mãos e diz: “oh Senhor, meu Deus! ” Com espanto, ele enxerga o fenômeno da imortalidade da alma.

Mas para abordar melhor o tema necessário se faz conhecer a história da construção do Templo de Jerusalém (975 a.C.), sob o governo e patrocínio de Salomão. Levando em consideração a hermenêutica ligada a história bíblica e ao simbolismo, evidenciaremos diversas formas que tornam o mito a parte principal e essencial da maçonaria simbólica e com isso iremos verificar como se processa a mudança de significado a respeito de Hiram, vez que ele era um fundidor, um metalúrgico por excelência já que na maçonaria, em seus ritos, ele é conhecido como o tipo ideal do construtor, passando a ter um novo significado de alto padrão moral.

Para abordarmos o assunto iremos nos alicerçar em três pilares, ou princípios: a do rito, do mistério e da iniciação.

Os ritos são, na verdade, “tradições ancestrais”, regras, e que podem carregar de sacralidade e vitalidade renovada de energia, o tempo e o espaço e a casualidade empírica. Estas três condições, segundo BARZAN[5], possuem uma disposição sensível que lhe é inerente para a mudança, a dispersão e a dissolução. O rito como um ritmo básico permite que o tempo saia de sua linearidade e assume uma forma espiralada de manifestação, ou seja, demonstra um aspecto da evolução. O tempo se torna cíclico e assim é a vida, o tempo, a existência. Nesses ciclos veremos o nascer, a entardecer e o pôr do sol; as quatro estações do ano se sucedendo umas às outras, os doze meses do ano se repetindo pela eternidade afora, e assim também é conosco em relação a nossa existência: nascemos, crescemos, atingimos a juventude e a maioridade e morremos para nascer de novo, e isso é a imortalidade da alma.

Muitos não enxergam assim essa imortalidade, mas dizem que o que não morre são as obras que deixamos.

A lenda é carrega de mistérios que como o véu de Isis vão sendo expostos e caídos e assim é que possuem a mesma finalidade em toda a sua extensão que vai desde o simbolismo até grande parte dos chamados altos graus. Esses mistérios imitam a natureza do divino. A iniciação ao terceiro grau da maçonaria simbólica está fundada no mito de Hiram e seu rito visa principalmente confrontar o iniciando com a angústia que o tolhe, quando colocado diante da finitude da vida, ou seja, diante da morte. É uma morte simbólica, para um renascimento moral e social, é a transformação perene, a evolução constante na busca da Verdade.

Hiram é assassinado por três companheiros que queriam, a todo custo, obter a palavra de passe do grau de mestre, chave do conhecimento e do trabalho daquela categoria. Queriam obter o benefício sem antes passar pela etapa do aprendizado e do conhecimento necessário para tanto. 

Não conseguindo atingir seu intento, esses maus companheiros o mataram e ocultaram o cadáver, que mais trade foi descoberto e obtido o sepultamento que merecia.

A maçonaria é linda e muitas vezes, por termos nossas mentes fechadas, não conseguimos visualizar seus objetivos. Quando Hiram é morto, é enterrado, descendo ao mundo inferior e levando consigo palavra de passe, ou seja, o conhecimento. Um outro aspecto é que ele morre como “construtor”, mas o seu renascimento é como “arquétipo” moral.

Há irmãos que dizem que a morte de Hiram representa as constantes mortes e renascimentos da Arte Real.

Estamos no século XVIII. Um saber estranho circulava por toda a Europa sedenta de luz. O oculto reinava supremo nas mentes. Transmitido pelo rosacrucianismo, que prometia a imortalidade, pela alquimia, que prometia a riqueza, pelo hermetismo, que daria o poder, e pela Cabala, que traria o conhecimento, tudo adequado a um mistério próprio para despertar todas as curiosidades, este mesmo mistério que parece haver nas Lojas Maçônicas, tão antigas, ou pelo menos pensávamos que sim. A tentação de confrontar esse conhecimento com o que tínhamos, e adquirir outros, era grande. Na realidade, as Lojas tinham poucos, muito poucos, e sua pobreza intelectual e esotérica era decepcionante. Era necessário alimentá-las, dar-lhes uma razão para ser qualquer outra coisa, que não sociedades “vazias”. A lenda de Hiram chega justamente num momento que se formava o conteúdo doutrinal da maçonaria especulativa nascente. Vimos antes que não se sabe sua origem e que ela apareceu em algum lugar na Inglaterra ou na Irlanda. Ela é implantada gradualmente, tendo lugar, em 1738, na segunda edição das Constituições de Anderson, embora tenha tido de esperar até 1760 para ser admitida de forma permanente, pelo menos na Grã-Bretanha, porque na França o processo de integração foi mais rápido. Ela gerará toda a série de Altos Graus que envolverão totalmente o mundo maçônico. Era óbvio que o assassinato de Hiram não podia ficar impune. Assim nasceram os graus de vingança e as cenas grandiloquentes que deram lugar às recepções que se seguiram, tornando-se necessário, para lhes dar um tempero, a introdução dos graus cavalheirescos. Ele – o assassinato de Hiram – é incorporado ao grau de mestre surgido antes dele por desdobramento do de companheiro, e sem que ninguém saiba por que ou como, foi completamente absorvido.

A maçonaria especulativa abandonou o trabalho da construção propriamente dito, para se dedicar a construção do edifício social. 

Nós compreendemos que a maçonaria é uma instituição filosófica, filantrópica, educativa e progressista, tendo por princípios a liberdade dos indivíduos e dos grupos humanos; a igualdade de direitos e obrigações dos seres e grupos sem distinção de raça, credo ou nacionalidade; e a fraternidade universal, pois somos todos filhos de Deus. Esses princípios vão se tornar palpáveis e reais com a chegada da Revolução Francesa e a queda da Bastilha em 1789.

Além disso, a maçonaria, mesmo antes da chegada da Lenda de Hiram, já se preocupava com o conhecimento para todos e tanto é assim que criou a Real Sociedade Inglesa que se transformou na mãe da ciência moderna.

A maçonaria tem também como um de seus lemas a Ciência, a Justiça e o Trabalho. A Ciência para esclarecer e elevar os espíritos; a Justiça, para equilibrar as relações humanas; o trabalho, por meio do qual os homens e mulheres se dignificam e alcançam sua independência financeira.

Em nossas Lojas maçônicas, hoje pequenas e descompromissadas, encontramos irmãos que se preocupam apenas com o ágape (a parte mais importante para satisfazer os vícios da gula e da hipocrisia) e se aborrecem com as longas atas e as demoradas discussões.

A esses irmãos queremos dizer que os reais objetivos da Arte Real são a permanente investigação da verdade, o exame da moral e da consciência e a prática das virtudes, principalmente as teologais, embora não seja uma religião. Mas a maçonaria é religiosa, eis que reconhece no GADU, ou seja, o Grande Arquiteto do Universo, cuja denominação aparece, pela primeira vez em 1.572, quando foi empregada por Philibert Delorme, em seu tratado de arquitetura[6]

Hiram, por seu pertencimento profissional e também pelas circunstancias da sua morte, num primeiro momento pode ser identificado com uma estrutura catamórfica[7] da imagem, por evocar a descida ao subterrâneo para a manipulação dos minerais e também pela morte, que é uma queda. 

Hiram é o mestre artífice, ícone do terceiro grau e possui uma tamanha importância que está presente em todos os ritos, intocável em sua essência, a despeito das alterações que o sistema em geral possa ter sofrido ao longo dos tempos. Qual a importância e o significado dessa lenda e por que ela se tornou indissociável da maçonaria? 

A resposta a essas perguntas não está tão-somente na maçonaria dita especulativa, mas também nas antigas tradições que adotavam as práticas iniciáticas.

No caso da maçonaria, a iniciação é feita obedecendo uma ritualística que contém ensinamentos orais que persegue a modificação radical do estatuto religioso e social do sujeito a iniciar. Filosoficamente falando, a iniciação equivale a uma mutação ontológica do regime existencial. A pessoa que se inicia se transforma em um outro e passa a gozar de uma outra existência que a anterior.

A iniciação introduz o neófito na comunidade humana e no mundo dos valores espirituais. Essas iniciações, nos tempos antigos, eram ensinadas nas “escolas de mistérios”, nas quais o estudo das “forças superiores” era dividido entre mistérios menores e mistérios maiores. Nos mistérios menores, o candidato, após prestar juramento, era iniciado e recebia uma instrução preparatória e era tido como “iniciado” propriamente dito. Nos grandes mistérios, o conhecimento completo das verdades tratadas na iniciação era finalmente comunicado e dentre as várias cerimonias existentes, pode-se elencar como práticas semelhantes às da maçonaria especulativa: o afanismo (do grego: destruição, morte), desaparecimento ou morte simbólica do iniciado; o pasto, cama, caixão ou túmulo; a eurese (descoberta, invenção), encontro do cadáver; e a autopsia, comunicação de todos os segredos e conhecimento integral, que tornavam o outrora profano em um “epopta” (testemunha ocular), pois agora nada mais lhe era desconhecido[8] .

Esse processo de autodescobrimento recorre a arquétipos profundos que unirá pessoa de diferentes credos, cultura e classes sociais, que se reconhecerão através de toques, palavras de passe e sinais.

Os Altos Graus, tiveram participação na parte dramática de todas as admissões nos graus simbólicos, emprestando a sua dramaturgia e bem assim a estruturação da liturgia apropriada à recepção de aprendiz, para a qual levaram elementos de todos os tipos, o que se estende de 1740 a 1850.

Olhando, por outra visão, iremos encontrar na lenda aspectos sociais tais como o trabalho na edificação do Templo de Salomão, ou seja, a geração de empregos para milhares de pessoas que se organizavam em diversas áreas. Além disso havia o intercâmbio de conhecimento trazidos por trabalhadores de diversas partes do mundo, naquela época.

CONCLUSÃO

Nas pesquisas feitas para a realização deste trabalho pude compreender a riqueza dessa lenda e que na época em que foi instituída alguém já detinha o conhecimento da lenda de Osiris que é a que mais se aproxima da lenda de Hiram, demonstrando a luta e o triunfo de Hiram Abif, sobre a morte e a sua ressurreição para a vida, assim como o Sol que nasce, caminha e se põe todos os dias.

A lenda traz um aspecto psicológico profundo com a morte do “Eu” e a conscientização da necessidade do “Nós”, objetivando, talvez, inundar o consciente coletivo de um projeto evolutivo lastreado na moral e nos bons costumes.

Carreia a lenda aspectos esotéricos representando os três companheiros como sendo parte da estação do outono, no zodíaco (dependendo do hemisfério), em que tudo morre e volta, logo após a renascer.

Mas, também, demonstra o caminhar do Sol de forma elíptica por todas as demais estações, culminando sempre nos Solstícios, ou seja, no esplendor da iluminação.

A lenda de Hiram é permeada do sagrado e do profano e nos convida a sair de nós mesmos e a enfrentar o buril da vida que nos lapida a cada instante, nos conduzindo ao progresso.

Somos nós, o Mestre Hiram e o nosso ser é o templo tão decantado que deve ser trabalhado constantemente na força e na beleza construindo um ser perfeito, repleto de sabedoria, bondade, fraternidade, esperança, caridade, ou seja, a representação do verdadeiro maçom.

O Ir.´. Gentil Guarniel, da ARLS Acácia Penapolenense 497, de Penápolis-SP, nos brinda com o seguinte texto, que resolvemos incorporar ao nosso trabalho:

“Não devemos esquecer que os três companheiros foram bons aprendizes, que colaboraram com eficiência na construção do Templo e que estavam prestes a alcançar o mestrado. ”

“Os jubelos podem ser considerados inimigos impessoais, que não se dirigiam exclusivamente contra Hiram, mas contra a humanidade e que a finalidade da Maçonaria é justamente preservar essa Humanidade da qual fazemos parte. ”

“Mas antes de dirigirmos nossos olhares para fora da Instituição, cumpre sanear as nossas próprias searas, combatendo a praga perigosa, curar a nós próprios, buscando cada um encontrar dentro de si o mau companheiro para eliminá-lo”.

“Os germes proliferam, quando encontram ambiente propício, assim é na maçonaria; quando surgem os períodos críticos os maus maçons proliferam; os dirigentes, os mestres cônscios de sua responsabilidade, devem prevenir, na fase crítica a tomada pelos germes do campo e, rapidamente, introduzir o medicamento apropriado.

“Essas crises periódicas coincidem com a crise social e econômica de um país; assim quando externamente aparecem os sintomas, fácil será planejar para que os germes não ingressem no Templo.

“O trabalho maçônico seria de grande utilidade e poderia influenciar nesses períodos críticos, se os maçons fossem todos instruídos, tolerantes, desinteressados; a influência moral, o exemplo, seriam fatores irresistíveis para contornar a ação dos maus”.

“Embora os assassinos de Hiram tenham surgido de dentro da Instituição, sem dúvida recebem a influência negativa de seu meio ambiente externo”.

“Os assassinos de Hiram foram três, porém esse número é simbólico, proliferam junto àqueles que lhe deram abrigo e proteção. Hoje são em número incontável. Sãos os que desconhecem a Maçonaria a quem criticam e censuram, invocando a necessidade de uma modernização para ajustarem-se aos tempos modernos (por isso os Landmarks são importantes) ”.

“É a “simplificação” o intuito de “tirar uma pretensa monotonia” e de simplificar o ritual com atos de liturgia “desnecessária”. A conservação íntegra do Ritual é a garantia da sobrevivência; perdida a tradição, torna-se presa fácil dos assassinos”.

“São os maçons “donos da verdade” que obstaculizam aqueles que não seguem a sua vontade; são os infalíveis e criadores de dogmas sem poderem apresentar a origem de suas ideias, fruto da ignorância”.

“Os maus nem sempre não são os piores! Podem ser os ex-dirigentes que, vencidos em um pleito, para se manterem perpetuamente, no poder, transformam-se em desagregadores. São os que dão o segundo golpe em Hiram, agora com o esquadro e sobre o coração”.

“Golpeado com a Régua e com o Esquadro, evidentemente Hiram vacila, cambaleia, enfraquece, e se torna presa fácil”.

“Assim, débil, quem aplicará o golpe final será um membro dos mais modestos, que sozinho não teria capacidade de destruição.

É o golpe moral. Vemos, então, uma Loja Abater Colunas, exigindo grande esforço para reerguê-la. Frequentemente, apesar de não ser regra geral, os maus juntam-se e formam outra Loja”.

“Aparentemente, o trabalho é elogiado, mas ninguém se dá conta de que é obra de dissensão, dissidência, e quem sofre é a própria Instituição. Ao invés de uma Loja pujante, surgem várias cambaleantes e inexpressivas; fáceis, porém, de serem tomadas de assalto por aqueles que foram os inspiradores, permanecendo ocultos, mas ativos”.

“A maçonaria, nas mãos destes, é desviada de seus elevados fins; Hiram morre; a tradição se apaga; a Palavra está perdida; o maçonismo desaparece. O seu cadáver putrifica-se”.

“Os verdadeiros discípulos choram, se reúnem, providenciam as exéquias, descobrem os assassinos, punem-nos e por serem verdadeiros iniciados, os verdadeiros operários, buscam a ressurreição de Hiram e, rejuvenescidos, reiniciam o trabalho”.

“Para a ressurreição se faz necessário reconstruir a tradição, juntar os membros dispersos do cadáver para a recomposição”.

“A iniciação é reexaminada em todos os seus aspectos e é adequada aos tempos atuais, à personalidade dos remanescentes e dos novos; retiram-se dela os vícios e as falhas; a substância da regeneração é alimentada; evolui, fermenta e cresce com toda a pureza e matiz”.

“Eis o porquê das viagens dos Maçons remanescentes, para todas as direções, com a finalidade de encontrar os restos de Hiram”.

“A dificuldade inicial encontra oposição na busca, porque o primeiro túmulo que os assassinos, provisoriamente, criaram foi sob os escombros da construção; sob os materiais imprestáveis, onde ninguém suspeitaria que pudessem abrigar o Mestre”.

“Esse primeiro túmulo não é descoberto e os próprios assassinos exuma o cadáver e na calada da noite o conduzem para a alta montanha; cavam uma cova profunda; despem Hiram e o soterram entregando o pó ao pó, a terra a terra, e as cinzas às cinzas. Marcam o local com um ramo de Acácia”.

“É a primeira manifestação do arrependimento tardio. A homenagem à sua indefesa Vítima”.

“Escolhem uma planta que não apodrece, cuja resina conservará o lenho, num confronto com a matéria que se putrefará”.

“É o dualismo e o resultado e o resultado das próprias lições que o Mestre lhes havia ministrado”.

“E são os assassinos que transformam a Acácia em um símbolo, numa comprovação de que do mal pode surgir o bem; as raízes eram boas, mas a insatisfação, a pressa, as ambições sufocam a bondade.

“A lenda apresenta um aspecto curioso: não há lugar para o perdão dos assassinos”.

“É uma situação muito triste, mas real. Mais tarde o Nazareno, já crucificado diria aos seus algozes: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.

“Mas os assassinos tinham sido iniciados; tinham passado pelo Aprendizado, conhecem a Régua de 24 polegadas e o Esquadro; não podiam repudiar o convívio com os irmãos. O castigo, embora escolhido por eles próprios, foi incisivo; a justiça de Salomão era diferente da justiça do Cristo”.

“O Rito Escocês Antigo e Aceito comporta as duas justiças; a Salomônica e a Cristã. Como devemos agir com os assassinos? Esses que ressurgem como as cabeças da Hidra? ”

‘Ao ser colocado o ramo de Acácia, os assassinos queriam simbolizar que Hiram jamais morreria”.

“O cadáver é encontrado, recomposto e conduzido, novamente ao Templo para ser, carinhosamente colocado em um local sagrado; não mais sob os escombros, mas em local de honra e glória”.

Embora essa glória não tenha sido permanente; eis que Nabucodonosor destrói o Templo, não deixando pedra sobre pedra. Mas... Hiram ressuscita; apenas o seu corpo putrefato foi deposto. Porém Hiram não ressuscita por si só; não responde ao primeiro chamado feito à vitalidade que poderia ter conservado, a Força que “Booz” simboliza.

“Em vão tenta-se acordá-lo com o estímulo de um ardor amoroso, “Jaquim”.

“A sua vida anterior não revive; é preciso dar-lhe um novo alento; o sopro ideal que provém da Iniciação. É o “sopro da cadeia regeneradora”; aqueles que a formam não ficam apenas na contemplação; reúnem forças, amor e com os mais fervorosos ideais espargem energias psíquica, espiritual e física que reanimam o cadáver. Que é erguido e se liga aos cinco pontos do Mestrado. É o resultado do culto ao trabalho, dos esforços, da reciprocidade, enfim, da fraternidade”.

“Nem todos, porém, podem unir-se ao cadáver pelos cinco pontos; um só é destinado àquela missão; é um trabalho de um só, mas sob os fluidos de todos; é a soma das forças. O escolhido é o sábio mestre remanescente”.

“Mas, a palavra continua perdida e urge encontrar uma substituta e essa é composta, tornando-se um grande símbolo”.

“A carne se desprende dos ossos”. Não há compressão das células; cessou a força centrípeta”.

“Os ossos por sua composição química são imputrescíveis; o cálcio é um mineral que se eterniza; a carne é volátil; é o espírito que se afasta da matéria, e a única forma de reuni-los é usar da Palavra Sagrada; se a original se perdeu, uma nova surge. Sempre surge um novo meio quando houver necessidade de união”.

“O segredo de tudo (maçônico) é, sempre, buscar e encontrar um meio de unir, pois, para a desunião sobram meios! ”

“A palavra perdida, ao final, será encontrada. O Rito é sábio e dá a Palavra Perdida como prêmio àqueles que perseveram até o fim”.

“A ressurreição é um mito antigo; vamos encontrá-lo nos mistérios Védicos, quando o Ser Supremo imola a si mesmo para produzir tudo o que existe; vamos encontrá-lo em Hermes, em Orfeu, em Osíris, e finalmente, em Cristo”.

“Nós somos Túmulo e Templo. Hiram apodrece em nós e ressurge em nós. Dentro de nosso Templo Espiritual, temos, maçônicamente, a presença permanente de Hiram”.

Esperamos, de forma singela, ter abordado os aspectos social, moral e teosófico da Lenda de Hiram, neófitos que somos.

Deixamos para trás tantas outras coisas que poderiam ser analisadas com maior amplitude relacionadas a história maravilhosa do povo hebreu e egípcio.

Mas, todas as vezes que nos deparamos com essa Lenda Maravilhosa notamos que é ela semelhante aos mistérios de ISIS e que a cada véu que se desprende outros mistérios se apresentam.

É bom lembrar, contudo, que a miséria humana alimentada por esses vícios insistentes em permanecer grudados aos nossos espíritos estava presente no martírio de Sócrates, de Ghandi, de Luther King e é muito atual.

A Lenda de Hiram com suas nuances corresponde ao cotidiano da sociedade.

É preciso que compreendamos que somos o Hiram da Lenda, eternos pedreiros, e que devemos continuar construindo o nosso templo interior dando a ele a mais profunda beleza e a força da persistência da palavra boa e dos bons exemplos. É esse o significado da Lenda e do Templo de Salomão. 

Que o G.´.A.´.D.´.U.´. abençoe e ilumine a todos nós!

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José Roberto Cardoso 
MI – Cadastro 3037

BIBLIOGRAFIA

COSTA, Wagner Costa Veneziani – Maçonaria – Escola de Mistérios – A antiga Tradição e seus Símbolos – Editora Madras
CASTELLANI, José – “O Rito Escocês Antigo e Aceito – História, Doutrina e Prática – 2ª. Edição – Editora Trolha, 1995.
ZOCCOLI. H.L. “Maçonaria Esotérica (Fundamentos) 1º Grau – Volume I – Edição do próprio autor.
GARDNER Laurence – Os Segredos Perdidos da Arca Sagrada – Editora Madras.
CAMINO, Rizzardo da – Dicionário Maçônico – Madras – São Paulo, 2006.
Mackey, Albert G. – O Simbolismo da Maçonaria – Editora Universo do Livro.
Ir.´. Guarniel, Gentil da ARLS Acácia Penapolenense 497, de Penápolis-SP,
A Bíblia Sagrada
[1] http://www.infopedia.pt/$lenda-de-osiris-e-a-origem-do-egipto 
[2] Mackey G. Albert – O simbolismo da maçonaria – Editora Universo dos Livros - SP 
[3] https://bibliot3ca.wordpress.com/ensaio-sobre-as-origens-dos-rituais-e-graus-simbolicos/ 
[4] Idem 
[5] Barzan, 2002, pag. 50. 
[6] Delorme, Philibert, Tratado de Arquitetura - REBISSE, 1988. 
[7] Catamórfica – são imagens referentes à queda, à descia e à introdução aos subterrâneos. 
[8] MACKEY, 2008, vol. I).

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