A Cavalaria perfeita e as virtudes do bom cavaleiro no livro intitulado “ORDEM DE CAVALARIA”
de Ramon Llull.
Para melhor desenvolvermos o tema do nosso trabalho precisamos transcrever partes do livro acima citado que se adapta ao nosso objetivo, vez que são nesses registros históricos que encontramos com maiores detalhes para observar a influência das virtudes teologais na cavalaria.
“Ramon desenvolve o tema virtudes/vícios praticamente em todas as suas obras, pois, como vimos, este era um dos cinco usos possíveis de sua Arte. No Livro da Ordem de Cavalaria, Llull trata do tema com o objetivo de legitimar a ordem cavaleiresca, ou, em suas palavras, “torná-la bem acostumada” . Ramon inicia então com as virtudes teologais e cardeais:
Todo cavaleiro deve conhecer as sete virtudes que são raiz e princípio de todos os bons costumes e são vias e carreiras da celestial glória perdurável. Das quais sete virtudes são as três teologais e as quatro cardeais. As teologais são fé, esperança, caridade. As cardeiais são justiça, prudência, fortaleza, temperança.
Virtude (virtus) deriva de vir (virilidade, vigor, homem, masculinidade). O século XIII é considerado o tempo da virtus por excelência, isto é, o tempo da vontade como potência da vida. Para os filósofos medievais, o racionalismo deveria ceder terreno ao voluntarismo, pois se pensava o divino como um ser volitivo.
Por outro lado, conceitualmente, virtude significa força, poder, eficácia de uma coisa, algo merecedor de admiração, que tornaria seu portador uma pessoa melhor, moral ou intelectualmente.
Desde Platão e Aristóteles, o conceito foi entendido, para o primeiro (virtudes cardeais), como uma capacidade de realizar uma tarefa determinada; para o segundo (virtudes morais ou excelência moral), como um hábito racional, que tornaria o homem bom.
Estas quatro virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) — pontos referenciais para a potência do homem —, eram utilizadas por todos os pensadores medievais. Tomás de Aquino, ainda defendeu o conceito de virtude aristotélica como uma conseqüência dos hábitos humanos, mas, sobretudo como perfeição da potência (capacidade de ser alguma coisa) voltada para seu ato (TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica, volume III, q. 55).
São Tomás ainda aproveitou este sistema referencial para demonstrar que só as virtudes morais poderiam ser chamadas de cardeais, pois exigiriam a disciplina dos desejos (rectitudo appetitus), virtude perfeita (Suma, II, 1, q. 52). De fato, esta é a base de todas as citações medievais posteriores sobre as virtudes cardeais, inclusive Ramon Llull, que se vale principalmente da idéia de virtude como hábito.
Por outro lado, as virtudes teologais. Elas se encontram em São Paulo (c.10-66 d.C.), em sua Primeira Epístola aos Coríntios, escrita por volta dos anos 50-57 d.C. Ao comentar o uso e a hierarquia dos carismas — um dos problemas cruciais do cristianismo primitivo — São Paulo, trata da importância da caridade (“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine”) (Bíblia de Jerusalém, 1991, 1Cor, 13, 1, 2.164).
No final desta passagem, São Paulo fala das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, sendo que a caridade — no sentido grego de ágape, um amor de dileção, que quer o bem do próximo, sem fronteiras, que busca a paz no sentido mais puro, o amor que é a própria natureza de Deus — é a maior delas (Bíblia de Jerusalém, 1Cor, 13, 13, 2.166).
Sempre junto dessas virtudes, o pensamento em Deus. Estes atributos (imperativos) deveriam ser encadeados. Também para Ramon Llull as virtudes deveriam ser ativas: através de sua ação, de sua prática social, a ordem dos cavaleiros seria reconhecida pelo restante do corpo social.
E o que Llull entendia exatamente por virtude? O estudo das virtudes lulianas se insere no âmbito da ética, de uma ética das virtudes. A Ética, junto com a Metafísica e a Epistemologia, é considerada um dos três pilares da Filosofia, e estuda a natureza e os fundamentos do pensamento e da ação moral, em geral, ciência da conduta.
A ética luliana possuía base aristotélica, privilegiando as virtudes. Ramon comparava as correspondências e contrariedades entre virtudes e vícios, típica de seu tempo, partindo de uma gênese filosófica de cunho psicológico: o que impulsionava o homem a filosofar era a admiração, o ato de maravilhar-se, pelo assombro do espetáculo da natureza e pela falta de caridade e devoção a Deus por parte dos homens de seu século.
Esta estupefação dava lugar a uma consciência moral que justificava uma atitude apologética: o homem cristão deveria difundir a fé. Assim, a ética luliana estava dividida em quatro segmentos:
1) a chamada “primeira intenção” (a preocupação com a solução do problema da finalidade do universo)
2) os dois movimentos da alma (para o bem e para o mal) em relação à liberdade
3) a consciência como diretriz da conduta prática
4) o sentido correcionista da ética (TOMÁS Y JOAQUÍN CARRERAS Y ARTAU, EL, vol. I, 1, 1957).
Mas o que interessa ressaltar na ética luliana é sua montagem através de contrários. Seria mesmo uma ética da polaridade: os princípios de concordância e contrariedade, de perfeição e imperfeição, cuja explicação pode encontrar-se no substrato ideológico da época. Os pensadores medievais pensavam suas idéias em termos dualistas; o século XIII realizou um esforço intelectual de síntese de contrários (ROBERT LOPEZ, 1965, 359).
Esta polaridade está assim expressa no capítulo VI do “Lirvo da Ordem de Cavalaria: virtudes teologais:fé, esperança e caridade; virtudes cardeais: justiça, prudência, fortaleza e temperança e os vícios, ou sete pecados capitais: glutonia, luxúria, avareza, preguiça, sobera, inveja e ira”.
A fé é o alicerce do cavaleiro: dela decorrem, a esperança e a caridade e também as virtudes cardeais”.
Embora tenhamos inserido todo o texto o que prentendíamos era ressaltar a influência das virtudes teologais e cardeais no corpo de cavaleiros. Na realidade isso fica bem definido apenas em uma linha e um parágrafo, acima citados e repetidos a seguir:
“Ramon desenvolve o tema virtudes/vícios praticamente em todas as suas obras, pois, como vimos, este era um dos cinco usos possíveis de sua Arte. No Livro da Ordem de Cavalaria, Llull trata do tema com o objetivo de legitimar a ordem cavaleiresca, ou, em suas palavras, “torná-la bem acostumada” . Ramon inicia então com as virtudes teologais e cardeais:
Todo cavaleiro deve conhecer as sete virtudes que são raiz e princípio de todos os bons costumes e são vias e carreiras da celestial glória perdurável. Das quais sete virtudes são as três teologais e as quatro cardeais. As teologais são fé, esperança, caridade. As cardeiais: são justiça, prudência, fortaleza, temperança.
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