sexta-feira, 3 de maio de 2019


DESCOBRINDO O COMPAGNONNAGE NA FRANÇA



Tradução J. Filardo


Obras primas (trabalho de final de curso) de Companheiros carpinteiros de Tours

Listado pela UNESCO desde 2010 como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, a Compagnonnage (companheirismo) é hoje reconhecido mundialmente pela “especificidade de seu ensino profissional e moral, suas tradições e a capacidade de transmiti-los”. Os 10.000 Companheiros iniciados do Tour de France estão divididos em cerca de trinta ofícios diferentes. Três grandes organizações se distinguem: a Federação de companheiros das Construções e Outras Atividades, a União de Companheiros do Dever Unidos e a Associação profissional dos Companheiros do Dever. O museu da Compagnonnage de Tours, criado em 1968, é o único que não depende de nenhum outro. Para lançar luz sobre o passado e a história contemporânea, é natural que o nosso questionamento se voltasse para seu diretor, Laurent Bastard.

Desde o início, esse erudito, herdeiro de quatro gerações de companheiros do Dever da indústria do couro, nos diz: o único ponto comum com a Maçonaria é o seu status como estrutura iniciática. É certo que haverá um esqueleto semelhante: os rituais, diferentes de acordo com as corporações, mas resultando apenas em um grau, o de Companheiro. De fato, o aprendiz é apenas um aspirante, o mestre, um patrão. Alguns empréstimos são comuns como o do lendário judaico-cristão com a lenda de Hiram. A cadeia de união se torna a cadeia de aliança. O esquadro e o compasso, emblemas do oficio chamados de “brasões”, serão adotados por todos os Compagnonnages somente em 1880. No entanto, desde os antigos “Deveres” até os dias atuais, passando pelas Compagnonnages dos séculos XVIII e XIX, sua prática identitária é específica. Ao abandonar sua vida profana, o novo Companheiro recebe um nome provincial ligado a uma qualidade, por exemplo Dauphiné la Fidélité, tradição inspirada no mundo militar do Ancien Régime para quem conheceram o batismo de fogo, como Fanfan la Tulipe! Durante dois a cinco anos, os Companheiros fazem uma excursão pela França e às vezes até pelo exterior pela Associação dos Trabalhadores, que acolhe meninas desde 2004. Eles estão alojados em “quartos” ou “cayennes”. A “obra-prima” que eles devem realizar para serem iniciados atesta a excelência de sua formação. Para descobrir esse patrimônio, é a nossa vez de “viajar pela França” além dos museus públicos e privados ou seus centros de aprendizagem…
Escada de adega em formato de garrafa – trabalho de conclusão de
 curso de um companheiro cortador de pedra.

Com efeito, além do museu municipal de Tours particularmente completo, classificado como “museu da França”, o museu departamental de Romanèche Thorins apresenta as coleções da escola de Traçados de madeiramento de telhado, fundada por Pierre-François Guillon, companheiro carpinteiro, em 1871. Bordeaux também tem uma importante coleção de obras de companheiros, assim como a maioria dos museus de artes e tradições populares. Em Limoges, no local da antiga abadia medieval de La Règle, a Cidade dos Ofícios e Artes abriga o centro de exposições de obras-primas dos Companheiros e Melhores Trabalhadores da França assim como Bourges no antigo palácio do arcebispado. Em Troyes, os Compagnons du Devoir fundaram a Casa da Ferramenta e do Pensamento Obreiro no Hôtel de Mauroy, construída por volta de 1560 e restaurada por eles. No número 10 da Rue Mabillon em Paris, a livraria-museu da Compagnonnage é a antiga sede dos Companheiros Carpinteiros do Dever de Liberdade. Um companheiro apresentará à história do seu ofício, as ferramentas e obras de arte em exibição. Este também é o caso quando, mediante reserva, as “cayennes” abrem suas portas. Alguns exemplos: os Compagnons du Devoir de Nantes na mansão de Hautière; A Union Compagnonnique em Montauban, Châteauroux ou Arras … A lista não é exaustiva!

Após 25 anos de experiência, Laurent Bastard deixará a vida pública. Ele não mais participará dos Fragmentos de História dos Companheiros editados pelo museu em forma de palestras ali ministradas. Não duvidamos que ele usará esse “tempo recuperado” para enriquecer a bibliografia de suas muitas pesquisas que contribuirão para um melhor conhecimento de uma ordem em que a inteligência da mão tem seu lugar.

Ilustrações: Crédito: Museu da Compagnonnage de Tours

Publicado na revista FM – Franc Maçonnerie no. 63

Nenhum comentário:

Postar um comentário