terça-feira, 16 de abril de 2019


QUANDO A ESTRELA POLAR ENCONTRA O FIO DE PRUMO


Tradução J. Filardo



Depois de visitar cerca de duzentos Orientes para a realização do livro que Ludovic Marcos e eu acabamos de publicar sobre os templos maçônicos (edições Dervy), encontramos muitos “objetos estranhos”, ou mesmo improváveis, que testemunham uma má interpretação pelos “especulativos” das ferramentas utilizadas pelos “operativos”. O fio de prumo é, com frequência um deles!

Nós já tínhamos evocado alguns exemplos no tema “pó de polimento”, entre eles o da pedra cúbica pontuda *. Este elemento simbólico improvável não pertence a nenhum corpus de construção e simplesmente testemunha o fato de que o maçom especulativo nem sempre dispõe de conhecimento técnico que permita compreender em profundidade as ferramentas e símbolos de origem operativa que perderam o seu significado original e sua coerência no decorrer do “transplante”.

O fio dos construtores

Esta abordagem pelo tamanho da pedra nos leva diretamente ao fio de prumo.

Sobre o tapete de loja tradicional, nos séculos XVIII e XIX, o fio de prumo não figura como tal. Existem ali duas ferramentas de controle que usam o mesmo princípio, o princípio de gravitação que estende o fio preso a uma massa em direção ao centro da Terra: a perpendicular (que serve de joia de função ao segundo vigilante) e o nível (joia do primeiro vigilante).

O fio de prumo, a mais simples e mais instintiva de todas as ferramentas do mestre de obras e do maçom, mostra o a vertical exata do lugar. Se se prolongar o fio esticado para cima, ele aponta o zênite, e se estendê-lo para baixo, vai-se em direção ao nadir. Do lugar: na verdade, mesmo se a diferença é ínfima e invisível, dois fios de prumo nunca são realmente paralelos porque a Terra é uma esfera. Duas paredes distantes erigidas usando fio de prumo não são jamais paralelas. Na prática, e isso é o que importa para um construtor pragmático, a precisão da ferramenta é mais do que suficiente e mesmo quase absoluta.

O fio de prumo e a “perpendicular” são na verdade uma única e mesma ferramenta …

O fio de prumo compreende dois elementos principais: o peso cilíndrico, cônico ou esférico, geralmente de cobre (ou qualquer liga densa e dura) e o gabarito de alinhamento (o taco). Furada com um orifício central através do qual passa o fio enrolado em uma bobina, esta peça de madeira tem comprimento idêntico ao diâmetro do peso usado para verificar a verticalidade da parede. Basta para isso colocar um lado do taco contra a última fileira de blocos ou pedras e certificar-se de que o peso simplesmente toca as pedras ao longo de toda a altura da parede, até o chão, fazendo deslizar o fio no orifício do taco.

A “perpendicular” é uma forma primitiva de prumo que permite verificar a verticalidade de cada nova linha de pedras: o fio de prumo, curto, é colocado sobre uma placa e fixado de tal forma que o ponto de ancoragem fica exatamente no meio do suporte. Quando a ponta de chumbo pende exatamente no centro da prancheta (marcado por um entalhe), suas bordas são paralelas ao fio. Como este último é, por definição, vertical, as bordas da prancheta também o são. Basta então verificar que o peso está bem centrado quando a prancheta suporte é pressionada contra a pedra para garantir que esta última está, ela mesma, vertical.

O nível, por seu lado, combina um fio de prumo (para a referência vertical) e um esquadro de dois braços semelhantes ligados por um braço horizontal. O esquadro está no nível quando o fio passa exatamente no meio deste braço, permitindo verificar a horizontalidade do plano da pedra sobre a qual é colocado o nível.

O fio de prumo em loja

A introdução do fio de prumo nas lojas é recente (entre as duas guerras mundiais): tudo se passa como se se quisesse introduzir uma ferramenta moderna em uma loja equipando-a com as penas da tradição, mas sem perceber que se trata simplesmente uma versão moderna e do uso ao mesmo tempo mais simples, mais preciso, mais versátil e mais universal do que a antiga “perpendicular”.

Instrumento moderno? E por que não, afinal: durante a nossa viagem pelos templos da França descobrimos um Oriente (Montpellier), onde a lua, o delta e o sol foram eram realizados com a ajuda de um datashow (projetor de vídeo), com a vantagem de poder facilmente mudar a cor e a decoração. Pode-se imaginar o mesmo dispositivo para representar os tapetes de loja “todos os ritos e todos os graus” no centro do templo. Ou mesmo substituir o esquadro e o nível de madeira por ferramentas laser de ladrilhador … o aparelho de som e CDs substituíram o órgão, o piano ou a “coluna da harmonia viva” dos antigos!

Este fio de prumo que agora decora a maioria das lojas, muitas vezes chamou minha atenção durante nossas viagens para a realização de nosso livro, assim como a descobrir uma pedra cúbica maior que a pedra bruta na noite da minha iniciação: a ver em muitos templos o desenho da Ursa Maior e Menor no centro da abobada estrelada e o … fio de prumo pendurado na estrela Polar no final da cauda da Ursa Menor, algo surrealista para o amador de astronomia.

Compreender o papel e o uso adequado das ferramentas é um pré-requisito para a sua transposição adequada no campo simbólico. Esta é uma regra de ouro: o simbolismo das ferramentas e dos materiais deve basear-se em realidades habituais sob pena de ceder rapidamente ao pior em toda a simbolatria, com base em uma imaginação fértil e uma propensão marcada ao achismo esotérico.

À noite, basta olhar para o norte para verificar, em nossas latitudes (45-47° N), a estrela Polar se situa a meia altura entre o Zênite e o horizonte. Muito longe, portanto, do “pico” da abobada celeste. Se fazemos o experimento de pensamento consistente em prender um fio de prumo imaginário, nós o veríamos mergulhar longe de nós, a meio caminho do horizonte. Em nenhum caso “no meio do céu” sobre nossas cabeças!

O único lugar na Terra onde o fio de prumo preso à estrela Polar parece estar pendurado no meio da abobada estrelado é … no Polo Norte: as lojas de ursos polares não são muitas! Além disso, se escolhemos prender o fio no centro do Templo (o que é lógico porque nosso espaço de reflexão se estende simbolicamente do zênite ao nadir), evitemos, pelo menos, desenhar as duas Ursas bem no meio da abobada estrelada e prender o fio na estrela Polar.

Prestemos homenagem ao senso prático e aos conhecimentos empíricos de nossos antepassados ​​simbólicos respeitando a consistência do mundo visível de modo que nossos templos reflitam parcelas de beleza e harmonia através da sua decoração. E penduremos o fio, apelo à retidão moral, mas também uma espiritualidade livre de dogmas à nossa estrela simbólica: aquela que descobrimos, radiante e desejável, ao nos tornarmos companheiros, e que desde então nos acompanha onde quer que nos levem nossos sonhos e nossas aspirações.

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