A MAÇONARIA E O LIVRO DE AMÓS
(*) Por Ir.'. Honório Sampaio Menezes,
Em um dos graus da maçonaria Amós é homenageado, citando-se em especial a terceira visão do profeta (7:7)…eis que o Senhor estava sobre um muro levantado a prumo e tinha um prumo na sua mão. E o Senhor me disse: Que vês tu Amós? E eu disse: Um prumo. Então disse o Senhor: Eis que porei o prumo no meio do meu povo Israel; nunca mais passarei por ele.
O Profeta Amós era natural de Tecoa, pequena cidade distante cerca de 20km de Jerusalém e 9km de Belém, na Judéia. Não era da corte como Isaías, nem sacerdote como Jeremias. Era simples homem de trabalho. Era pastor, boiadeiro, e cultivador de sicômoros. “Cultivador” significa “podador” ou “picador” do fruto do sicômoro, uma espécie de figo selvagem comido somente pelos mais pobres, fruta que só amadurecia quando picada.
Amós é o contemporâneo mais velho de Miquéias, Oséias e Jonas e foi o primeiro dos profetas escritores. Seu nome significa “aquele que leva cargas pesadas”. Embora natural da Judéia, profetizou contra Israel
Está em 4:1, “ouvi esta palavra vacas de Basã que estais no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que quebrantais os necessitados…”. O apelo por justiça é o tema mais conhecido deste livro, porque evidencia a condenação de Deus aos que ficaram ricos através da corrupção.
Os cristãos do primeiro século aceitavam os escritos de Amós como Escritura inspirada. Por exemplo, o mártir Estevão (At 7:42, 43; Am 5:25-27), e Tiago, irmão de Jesus (At 15:13-19; Am 9:11, 12), mencionaram o cumprimento de algumas das profecias.
O livro de Amós pertence ao Antigo testamento da Bíblia, vem depois do Livro de Joel e antes do Livro de Obadias. A profecia deste livro da Bíblia hebraica foi dirigida primariamente ao reino setentrional de Israel. Pelo que parece, foi primeiro proferida oralmente, durante os reinados de Jeroboão II e de Uzias, respectivamente reis de Israel e Judá, cujos reinados coincidiram entre 829 e cerca de 804 a.C. (Am 1:1) Por volta de 804 a.C. foi assentada por escrito, após a volta do profeta para Judá.
Vários eventos históricos confirmam as profecias de Amós, todas as nações condenadas por ele foram, no devido tempo, castigadas. A própria grandemente fortificada cidade de Samaria (capital do antigo reino de Israel, hoje entre a Cisjordânia e Israel) foi sitiada e capturada em 740 a.C., e o exército assírio levou os habitantes “para o exílio além de Damasco”, conforme predito por Amós. (Am 5:27; 2Rs 17:5, 6) Judá, ao sul, recebeu igualmente a devida punição quando foi destruída em 607 a.C. (Am 2:5) E, fiel à palavra de Jeová mediante Amós, descendentes cativos tanto de Israel como de Judá voltaram em 537 a.C. para reconstruir sua terra natal. (Am 9:14; Esd 3:1).
Amós, com os termos tsaddîq (justo), ‘ebyôn (indigente), dal (fraco) e ‘anaw (pobre), designa as principais vítimas da opressão na sua época. Sob estes termos Amós aponta o pequeno camponês, pobre, com o mínimo para sobreviver e que corre sério risco de perder casa, terra e liberdade com a política expansionista deJeroboão II. É em defesa destes necessitados que Amós vai profetizar.
Embora fosse um homem do campo, o profeta Amós possuía habilidade literária. Podemos perceber isso pelo uso que o profeta faz de ironias em sua retórica e nos oráculos contra as nações (Am. 1:3,6,9,11). Amós recusou-se a ser chamado de profeta evidenciando a sua ruptura com as instituições formais de seu tempo: o palácio real e o templo (7:14-15).
Essa independência institucional permitiu a Amós proclamar a Palavra de Deus livremente sem nenhuma preocupação com a opinião pública ou interesses escusos. Nada mais se sabe sobre Amós. Alguns eruditos presumem que, após o pronunciamento de seus oráculos, tenha voltado para Tecoa, editado e redigido suas palavras tal como as temos hoje. Outros ainda afirmam que discípulos que o tenham seguido registraram seus oráculos.
Talvez o terremoto mencionado em 1:1 tenha despertado Amós a publicar seu texto uma vez que o verso 9:1 parece indicar um cumprimento parcial da profecia a Israel, isto é, a revelação do Senhor havia sido dada dois anos antes do terremoto citado (descrição do fato logo abaixo) e a publicação dos seus oráculos aconteceu em um momento posterior. Este terremoto provavelmente foi um acontecimento de grandes proporções, pois fora lembrado dois séculos depois como o “terremoto dos dias de Uzias” (Zc. 14:5).
O ministério de Amós aconteceu entre os anos de 760 a 750 a.C. durante o reinado de Jeroboão II no Reino do Norte (Israel) e de Uzias no Reino do Sul (Judá). Este foi um período muito próspero para Israel e Judá pois não havia a ameaça da Síria, que havia sido vencida pela Assíria décadas antes. Por sua vez a Assíria também passava por problemas internos em virtude dos conflitos com a Síria, e não apresentava mais perigo.
O resultado deste ambiente de estabilidade política proporcionou condições para que os reis Jeroboão II (Israel) e Uzias (Judá) expandissem novamente as fronteiras da Palestina chegando nos mesmos limites dos reis Davi e Salomão (2 Rs. 14:25). Isso possibilitou a retomada do comércio internacional e da agricultura proporcionando, desta forma, a estabilidade econômica (Am. 4:1-3).
Entretanto, a segurança política e econômica favoreceu apenas os comerciantes e a corte, pois o povo sustentava toda essa estrutura por meio da injustiça social e escravidão. O resultado disso foi a miséria do povo (2 Rs. 14:26; Am. 2:6; 8:6).
Mesmo assim, a religiosidade era praticada por todos (Am. 4:4-5; 5:21-23), porém tornou-se mecânica e distante da presença real de Javé. Amós, tal qual Isaías, enxergou além da superficialidade econômica e social que beneficiava apenas alguns poucos em detrimento da pobreza de muitos (Is. 3:13-15). Da mesma forma, o profeta Oséias, 10 anos depois, condenaria de maneira enérgica estes mesmos pecados.
Para Amós, a prosperidade agrícola serviu apenas para comparar Israel com um cesto de frutas maduras (uma de suas visões), prontas para a execução do julgamento divino (Am. 8:2-3).
Todas as acusações contra as nações, incluindo Israel (Am. 2:6), eram baseadas em crimes contra a humanidade. Apenas Judá foi acusada de rejeitar a Lei e desobedecer os decretos da Aliança. Uma das características da escrita de Amós são seus oráculos visionários. O profeta realmente havia visto o que deixou registrado, sua mensagem era viva e vibrante, pois Amós falava daquilo com o qual estava acostumado. Amós também se utilizou da literatura lírica (Am. 5:1-2) e de doxologias (glorificação de Deus) (Am. 4:13; 5:8-9; 9:5-6) mostrando sua aptidão poética e musical. Fórmulas de juramento (O Senhor, o soberano, jurou – 4:2), de proclamação (Ouçam – 4:1) e revelação (o Senhor, o soberano, me mostrou – 7:1) são frequentemente usadas.
Os oráculos condenatórios de Amós foram dirigidos para a corte real (governo), a nobreza (empresários) e para o sacerdócio (religiosos). Cada oráculo é composto das características comuns da denúncia profética, Javé falava, apontava o pecado, julgava e anunciava a punição. Amós destacava os crimes propriamente ditos, e anunciava as condenações. A partir do capítulo sete (aquele que citamos no início do texto, que a maçonaria ressalta), com as visões, não mais acusação e sim é dada a ênfase no julgamento. A partir deste ponto o livro passa a descrever julgamentos com a descrição detalhada dos pecados para justificar a punição inevitável. A salvação não substituiria a punição, mas viria após a punição.
Amós resgatou as determinações da Aliança que incluía o aspecto ético em relação do próximo como parte do amor a Deus. Por isso ele apela em favor de todos os pobres, injustiçados e oprimidos pelos ricos, comerciantes desonestos, líderes corruptos, juízes sem escrúpulos e falsos sacerdotes (4:1; 6:1,4; 7:8-9).
Amós fornece diretivas essenciais para a ação social da Igreja na comunidade onde está inserida. De acordo com Amós, o povo escolhido de Deus deve primar pela justiça social como um aspecto essencial da Aliança com Ele.
Para Amós, a injustiça social era reflexo da falta de importância que os israelitas deram às estipulações da Aliança com Deus, e, além de não amarem ao próximo, não amavam a Deus em primeiro lugar.
Na Terceira Visão, a do prumo (Am. 07 v. 07 a 09, observe o significado numérico também) aparece Deus que testará Israel com um prumo; não há mais desculpa para Israel. Desta vez Amós não intercede mais (como em outras ocosião intercedeu e amenizou a pena). Nesta terceira Visão o profeta vê Javé verificando o alinhamento de um muro com um fio de prumo. O muro simboliza Israel que está torto e deverá ser demolido para ser realinhado, porque muro torto não tem conserto. Só derrubando. Desta vez Amós não intercede e a certeza do castigo torna-se mais forte. O que de fato acontece anos mais tarde com a escravidão do povo judeu. Ao todo Amós teve cinco visões, na última Javé (ele próprio) provoca um terremoto batendo nos capitéis e destruindo o santuário (de Betel) matando quem ali estava que, na opinião de Amós, havia se tornado um lugar de culto sem sentido, ocultando e amparando as opressões e injustiças que se cometiam em Israel.
O livro de Amós termina com uma mensagem de esperança (9:11-15). Tal esperança foi vislumbrada pelos judeus que, dois séculos depois, se encontravam cativos na Babilônia e conscientes de se terem purificado do seu pecado, no amargor do exílio, acreditaram que apesar de Deus castigar a Israel, Deus iria restaurar a nação, quando ela se voltasse a Deus novamente. Essa profecia se cumpriu com a libertação e o retorno do povo judeu a sua terra natal, cuja história é estudada em riqueza de detalhes em um dos graus superiores da maçonaria.
(*) Honório Sampaio Menezes, 33º, REAA, Loja Baden-Powell 185, GLMERGS, Porto Alegre, RS, Brasil.
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