terça-feira, 20 de dezembro de 2016



Viajando com os Painéis




Autor: Dr. Jorge Norberto Cornejo


Complemento, tradução e pesquisa: Pedreiro de Cantaria (JRCardoso)

Todos nós sabemos que desde a antiguidade dos operativos que os ensinamentos eram transmitidos de forma oral e os trabalhos de construção desenhados em pedras e isto aparece de forma clara no Filme “Os Pilares da Terra”.

Cristopher Wrem, em uma de suas manifestações, nos diz sobre a arte da palavra e da importância que ela tinha, pois antes da imprensa propriamente dita, ou se escrevia pergaminhos, ou em pedras, ou se transmitia o conhecimento através da palavra.

Mais próximo da época dos maçons especulativos começaram a aparecer desenhos no chão das oficinas, marcados com giz, onde se formava uma espécie de painel, que eram apagados depois das reuniões.

A partir do século XVIII começam a surgir os painéis tais como os conhecemos hoje.

Os painéis a seguir, com alguns poucos comentários são frutos da pesquisa do Ir.´. Dr. Jorge Norberto Cornejo e são de grande beleza, pelo menos no meu ponto de vista.

Neste painel de F. Harris, do século XX, podemos notar que a escada se apoia sobre o círculo com as linhas paralelas. Podemos ver o livro da Lei, o Esquadro e o Compasso, e em seus degraus encontramos a cruz (Fé), a chave, a âncora (Esperança) e o símbolo pouco discernível da caridade. Este nos parece uma aplicação religiosa, fora de lugar na maçonaria.

De todas as formas, símbolos como a escada do Ser (a escada evolutiva, ou Escada de Jacó), a chave e a cruz (fora de seu contexto religioso) são esotericamente muito valiosos. Notar que na base da escada as linhas paralelas representam a dualidade, e em seu cimo está o diamante, símbolo da Unidade.

Os painéis têm sido sempre característicos das Lojas Inglesas ou Norte Americanas, mas também podemos encontrar Painéis de Lojas Francesas ou de outros países.

Em inglês, cada Painel se denomina “Tracing-Board” ou, também, “Trestle-Board”, correspondente à Tábua de Traçar.

Algumas tradições afirmam que todos os Aprendizes, nas Lojas Operativas, devem traçar no solo, com giz, os símbolos do seu grau.

Notemos, ademais, que o Painel apresenta uma grande analogía com o Templo, pois ambos consistem em uma integração harmônica dos símbolos do grau.

Uma imagem, possivelmente do século XVIII, na qual os membros recebem a “iluminação” como resultado de seu trabalho sobre o Painel

Aquí o Painel aparece montado sobre um marco de tábuas.

Em uma divulgação publicada em Londres, em 1762, chamada de “Jachim e Boaz”, se diz que o candidato a iniciação aprende como avançar até o mestre (dando a marcha ou o “o passo”) através do desenho no chão.

Se afirma que tal Desenho é semelhante a “Grande Construção” (o Templo de Salomão), “chamada palácio de mosaicos e que deve descrever-se com a maior exatidão possível”.

Aqui o termo “palácio” talvez seja um erro de tradução (por pavimento), ou talvez se disse tal nome se referindo ao Templo de Salomão.

O instante da iniciação em que se ensina ao Candidato a forma de marchar sobre o Quadro da Loja ou Painel.

A obra acima menciona que, entre as figuras que aparecem no Painel, se encontram a Corda de Laços e o Trono cravejado de Estrelas.

O costume era desenhar tais símbolos com giz e apagá-los ao final da reunião.

Voltando a mesma obra, se diz que, em algumas Lojas, “o membro recentemente admitido”, é obrigado a apanhar um esfregão e um balde de água e limpar o desenho feito no chão, o que o lhe causa grande confusão, mas provoca uma grande alegría nos demais irmãos.



Posteriormente, na Inglaterra, os desenhos foram copiados em carpetes ou tapetes e, progressivamente, o costume de desenhar e apagar os Quadros ou Painéis,em cada Oficina foi desaparecendo.

Estas práticas foram copiadas no continente Europeu, na França, Alemanha e Áustria, na forma de carpetes, lonas ou tapetes de Loja. Todavia, mais tarde, as telas foram apoiadas em uma tábua com cavaletes e dai vem o costume de executar o desenho sobre uma tábua rígida.

Na imagem acima, um antigo Painel francês.


Segundo Ferry Haunch (Transações da Loja Quatour Coronati n 2076), existe certa evidencia de que o termo: “Tábua de Cavalete”, expressado em inglês com vocábulos tais como “trestle”, “trassle” e “training board”, ficou finalmente na forma corrupta de “trainsing” para finalmente consolidar-se como “traicing”.

Nos Estados Unidos a expressão “trestle board” se emprega com o mesmo significado.

Na imagem acima, Painel de 1.800.

Muito poucos Painéis anteriores a 1.800 sobreviveram.

A partir desta data surge um conjunto de desenhistas ingleses de alto nível, entre eles John Cole, cujas gravuras apareceram em 1.801 e John Browne, que por volta de 1.800 desenhou um conjunto de Painéis coloridos.

Com as obras de Josiah Bowring e John Harris os Painéis ganharam ainda mais em qualidade artística, incluindo um conjunto simbólico mais detalhado e empregando a perspectiva com finalidade estética.

Na imagem acima, Painel de John Harris (1.801). toda a simbología, do Aprendiz. O Esquadro e o compasso aparecem na posição de Companheiro Maçom.

Painel anónimo (1.802) Painel de J. Bowring (1.819). 


 Painel de 1845. Observar as “tesouras”  que sustentam os pés.l Painel contemporâneo. 

Painel contemporâneo. Note-se o erro de se colocar janelas de se colocar as janelas no norte. (Quadro de 1.873)

Painel do Rito Francês (2008) Sem referência





Segundo Dom Falconer os Painéis Maçônicos devem ser construídos seguiindo a proporção áurea, isto é, , . Esta deveria ser a relação entre “latitude e longitude de um painel, para ser harmonioso.

“Só pela contemplação regular dos símbolos maçônicos é possível compreender seu verdadeiro e esotérico significado. A chave do conhecimento maçônico está presente nos emblemas mostrados nos painéis de cada grau, porém só através de seu estudo frequente se pode retirar o véu da alegoría e revelar sua verdade oculta (Mackey).”


OS SIMBOLOS



De acordo com a tradição o painel da Loja de Aprendiz deveria conter, no mínimo nove símbolos:

1 - Um pórtico elevado sobre três degraus, adornado com duas colunas de bronzes sobre cujos capitéis descansam três granadas entreabertas, que deixam aparecer suas sementes.
2 - uma pedra bruta.
3 - uma pedra talhada de forma cúbida.
4 - Um esquadro, um compasso, um nível e um prumo.
5 - Um maço e um cinzel.
6 - Uma tábua polida, denominada prancha de trançar.
7 - Três janelas abertas na Loja (as luzes fixas ou luzes da Ordem).
8 - Ao oriente (leste) da Loja, o sol e a lua.
9 - A Loja está ornada com uma orla dentada que decora o friso interior da abóbada.



 



O que significa pórtico.

R – Significa o ponto do Oriente donde o Sol se eleva sobre o Hemisfério. É também a figura da iniciação, a porta que separa o mundo profano do mundo maçônico. “se introduz o candidato no Templo para que conheça o Universo”.

O que significam as duas colunas de bronze?
R – Significam os dois pontos solsticiais, mas no grau de Companheiro se procura ter um conhecimento mais profundo.

O que significam as granadas entreabertas sobre os capiteis das colunas?
R – A vida Universal.

O que quer dizer a pedra bruta?
R – Toda obra em seu começo e, em particular, o homem antes de ser iniciado, o homem bruto e ignorante.
                     


O que indica a pedra polida e cúbica?
R – Representa o iniciado, o homem que tem trabalho sobre si mesmo.

O que representam o esquadro, o compasso, o nível e o prumo?
R – Como esses instrumentos são indispensáveis para fazer construções sólidas e duráveis, nos recordam as faculdades que o ser humano pode utilizar em sua vida. O Esquadro, a razão; o Compasso, a análise, a medida; o nível, a humanidade; o prumo, o esforço por se aperfeiçoar perante o mundo e perante Deus.

Que quer dizer o maço e o cinzel?
R – São os símbolos da força dirigida ou controlada, possivelmente porque assim foram utilizados pelos trabalhadores da pedra.


                          


O que representa a prancha de desenhar?
R – A ardósia onde o Mestre ou Arquiteto traça os plano da Obra; aquilo donde se grava o pensamento.

O que representam as três janelas?
R – O Oriente, o Sul e o Ocidente; o amanhecer, o meio-dia e o ocaso. Trata-se, por suposição, de janelas simbólicas, por que o Templo realmente não tem janelas. É através desses pontos que se localizam, respectivamente, o Mestre e os Vigilantes, por onde entra a Luz no Templo.

Por quê o Sol e a Lua estão representados na Loja?
R – Porque são arquetipos profundamente gravados na psiquê humana.

O que quer dizer a orla denteada?
R. A cadeia, a unidade, a fraternidade.

Alguns tem buscado correspondencias entre os símbolos do painel (tabuleiro ou prancha de desenho) e os astros que podem divisar-se no céu a olho nú, tal como apreciamos na imagen da direita.

Os quadros maçons tem adquirido todas as formas, cores e variedades possíveis, incluindo a Arte Moderna.

Especialmente, destacam-se os do artista Ferenc Sebok, entre o estilo Arte Deco e o Surrealismo.

Em todos eles a letra hebráica yod geralmente substituem a letra G, o que implica recuperar um símbolo tradicional.

OBRAS DE FERENC SEBOK

             
 


 

O Quadro à direita é da Loja "Eperon dos de Namur". Parece ser do Grau de Companheiro.



Um painel muito original, de data desconhecida, baseadona arquitetura clásica. No século XVIII, O painel (ou quadro) era diretamente denominado “Loja”. 



Um Painel bem simples “minimalista”, mas que não carece dos símbolos fundamentais.


Um Painel incompleto? Falta a inicial da Coluna B (talvez isto tenha sido de propósito, mas desconhecemos os motivos)

O Painel ou Quadro de Desenhar é conhecido em inglês como “drawing the Lodge”, literalmente “desenhando (ou descrevendo) a Loja”.

                   





Um painel de corte “metafísico”, no que se apresenta ao Logos o Filho (o Mestre), como o equilíbrio entre o céu (Pai) e a Lua (Mãe), representados pelos Vigilantes



Um Painel, possivelmente do século XVIII, no qual aparecem símbolos do Aprendiz e do Companheiro. Os quatro pontos cardeais, símbolos da regularidade e perfeição são conhecidos como “Pontos Geométricos”.

Antigamente, as três janelas que se vêm no Quadro, ou Painel, se chamavam as “luzes imóveis” e se dizia que sua função era “iluminar aos homens no ir e vir de seus trabalhos.



Este Painel, muito parecido com o anterior, foi utilizado pela Ordem dos Arquitetos Africanos.



Painel do “Aprendiz de Maçom”, no qual se superpõe símbolos do Painel propriamente dito com outros da “Câmara de Reflexões”.



Outro Painel no qual se combinam símbolos do Aprendiz e do Companheiro.


Um Painel iluminado a mão, feito possivelmente para uso de um membro individual, isolado.


Painel do Grau de Aprendiz (Rito Escocês), por Jean Beauchar. Note-se a presença da rosa e que as mãos unidas estão na posição do toque de Aprendiz.


Painel do Grau de Aprendiz do Rito Memphis. Note-se que nos quatro vértices do Painel há borlas, que é muito habitual em todos os Ritos. Estas quatro Borlas (no vértice) se fazem corresponder aos quatro sinais: gutural, peitoral (que se dá no Grau de companheiro), manual (o toque) e pedal ou pedestre. E por meio dos sinais Se associam as quatro virtudes cardeais: temperança, fortaleza, prudência e justiça.


Um painel com características dos três graus simbólicos, mas com alguns símbolos não tão habituais na Loja Azul, como a Chave e a Cruz de Malta.

Painel de Aprendiz do Ritual do Supremo Conselho da Itália, tomado, por sua vez, de “Simbologia Maçônica”, de J. Boucher.



Painel do Grau de Aprendiz do Rito de Schoreder (1960)
Quantos ángulos tem a Loja de São João?
R – Quatro, com Painéis adjacentes.






“Traçavam com giz o piso da Loja, com o que sacralizavam o lugar” (Grande Oriente da França).

Este é um trabalho de pesquisa no qual se procurou sintetizar a história dos painéis. Espero que tenham gostado. TFA

José Roberto Cardoso (Pedreiro de Cantaria)




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