MUSICA E MAÇONARIA - A HARMONIA EM LOJA ÀS RESSONÂNCIAS SECRETAS DA MAÇONARIA
Tradução J. Filardo
Por Jean-Moïse Braitberg
Extraído do Blog bibliot3ca
Embora sejam tão antigas quanto a Arte Real, as relações entre música e maçonaria permanecem misteriosas, quase indescritíveis. Existe uma música maçônica? Os compositores e músicos maçons cujos retratos tratamos aqui expressaram sua arte de uma maneira maçônica? Como nossos rituais, a música fala ao coração e nos convida, a cada um, com nossa própria sensibilidade, a ouvir profundamente dentro de nós mesmos o murmúrio secreto da alma humana.
A Harmonia é uma palavra chave na Maçonaria. Como em uma orquestra sinfônica, o tempo da loja é, na verdade, o momento em que cada um, carregando sua diferença de tom, deve se esforçar para servir um ideal maior do que ele. Agucem bem seus ouvidos! Na antessala, ainda impregnada dos rumores do mundo profano, irmãos e irmãs produzem os sons dissonantes de uma formação embaralhada que se procura pelas gamas e acordos nem sempre muito harmoniosos. E então, uma vez que cada um em seu lugar e em seu ofício, é necessário concentrar e ficar atento para não apenas ouvir, mas também compartilhar esta partitura comum, este solfejo obrigatório que é o ritual, sem o qual as dissonâncias do mundo profano fariam ranger entre si as pedras do Templo.
Uma vez que a harmonia reina em ambas as colunas, por que então precisar de música?
Por que essa “coluna” da harmonia? Para dar mais brilho às nossas cerimônias? Para tornar mais explícito, por frases sonoras, o que o verbo não consegue expressar completamente, ou mesmo se esforçar para esconder?
Bernard de Besson, um músico que foi durante muito tempo o diretor de uma grande editora de música, era Grão-Mestre da Grande Loja Tradicional e Simbólica Opera (GLTSO) cujo principal rito, o Rito Escocês Retificado, não prevê música alguma. Uma tradição que ele justifica nestes termos: “Estou bem consciente de que, enquanto músico, minhas palavras podem parecer paradoxais, mas acredito que nossa verdadeira música é o ritual. E o ritual nossa partitura. Se você der às palavras toda a vibração que elas merecem, já é música. Eu compreendo perfeitamente que, em certos ritos, a música pode dar uma respiração ao desenvolvimento dos trabalhos, marcar certas transições, servir como uma espécie de pausa. Ela pode até acentuar a dimensão sagrada dos trabalhos. Mas na minha opinião ela não é essencial e, pode em alguns casos, ser usado como um tampão ou folha de figo…
Aqui, sem dúvida, é necessário introduzir uma nuance. Lembrar-se que até a invenção do gramofone, a coluna de harmonia era realizada por músicos e cantores “ao vivo”. O que tinha um olhar totalmente diferente das ilustrações sonoras da época escolhidas ao gosto de suas fantasias por alguns mestres da harmonia, às vezes assumindo o papel de disc jockeys ou “ambientadores” …
Da harmonia à orquestra
Originalmente, a coluna de harmonia designava precisamente uma harmonia no sentido musical do termo: um conjunto de instrumentos de sopro cujo papel se queria simbólico, conforme evidenciado por um ritual de 1737:
“O que você ouviu?
– Uma trombeta que fazia ressoar os ares …
– Como falava esta trombeta?
– Por três bocas …”
Muito rapidamente, conforme mostram algumas gravuras da primeira metade do século XVIII, instrumentos de corda foram introduzidos no templo para acompanhar canções e cânticos maçônicos com o reforço de trombetas, tímpanos e cornetas de caça.
Um texto de 1745 evoca uma cerimônia solenizada “por um concerto de cornetas de caça e outros instrumentos, cujos acordes harmoniosos ecoava ao longe os símbolos respeitáveis”. ”
Foi somente no final do Século das Luzes que se formaliza o conjunto que presidia a coluna da harmonia, com uma composição semelhante à de pequenas formações militares compostas de duas clarinetas, duas cornetas, dois fagotes aos quais às vezes se adicionava um tímpano. Este tipo de conjunto se generalizará na Europa, passando por várias modificações de acordo com as composições, os gostos da época e a disponibilidade dos irmãos músicos. De fato, nem todas as lojas tinham músicos, ou mesmo o número suficiente. No caso de falta, era frequente “emprestar” músicos das melhores lojas militares que eram as mais equipadas de instrumentistas. Essa qualidade profana era, portanto, um motivo de recrutamento, embora de natureza muito particular. Por muito tempo os músicos eram submetidos ao mesmo regime de exclusão que os irmãos servos. Confinados aos dois primeiros graus, ou mesmo ao único grau de aprendiz, eles certamente não pagavam capitação, mas deviam a pedido da loja, para emprestar sua ajuda gratuitamente, exceto para ir tocar em outra loja.
Algumas lojas tornaram-se verdadeiros conjuntos orquestrais, trazendo sua ajuda contra pagamento às cerimônias de lojas amigas. Este era particularmente o caso da Loja Olímpica da Perfeita Estima em Paris na década de 1780, que acabou se tornando uma verdadeira companhia de concertos interpretando todos os tipos de música.
Música maçônica ou música iniciática?
Desde a origem da maçonaria, a música aí existiu quando se vê que ocupa um lugar importante no desenrolar dos trabalhos. Isso significa que a música escrita pelos maçons ou composta para os propósitos do ritual maçônico seria pela única virtude de seus autores e suas intenções, mais maçônica que certas músicas “profanas”? O poder evocativo dos Noturnos de Claude Debussy, que, embora descrito por Victor Segalen como músico “órfico”, não era maçom, é menos iniciática do que os sábios ritornellos da Flauta Mágica do Irmão Mozart? As Gnossiennes de Erik Satie, adepto da rosa cruz de ouro que encontrava sua inspiração no pensamento gnóstico, não são propensos a apelar à interioridade que sugere o ritual em loja? O que têm em comum, musicalmente, Sibelius, Mozart, Haydn, Duke Ellington, Liszt e Josephine Baker? Senão ter pertencido à Maçonaria?
“Nossa verdadeira música é o ritual.
E o ritual nossa partitura.”
Bernard de Bosson
Se existe um vínculo entre a música e a Maçonaria, é sem dúvida a maneira como alguns músicos se comportaram em relação à música, tentando traduzir em som os seus próprios sentimentos pessoais. A ligação com a essência da abordagem maçônica é acima de tudo individual, pessoal. E músicos não são exceção. O resto é uma questão de ouvir, de sentir. De compartilhamento. Se propormos aqui retratos de músicos e compositores cuja afiliação maçônica é provada – existe neste domínio como em outros, supostos maçons que não o eram, entre outros Gershwin, Armstrong e Beethoven – é, em primeiro lugar, para os descobrir, ou para os redescobrir com um novo ouvido, ligando-nos ao que vibra nossa corda particular sensível, em ressonância com nossa sensibilidade pessoal?
Wolfgang Amadeus Mozart
(1756-1791)
O triunfo da luz
Foi em Mannheim, na Alemanha, que Mozart, um jovem prodígio itinerante, conheceu a Maçonaria pela primeira vez em 1772, na pessoa do barão von Gemingen. Foi apenas em 1784, no entanto, que aquele que estava no auge de sua glória, foi recebido maçom pela Loja A Beneficência, no oriente de Viena, que tomou logo após o título distintivo da Esperança recém coroada.
Como mostra sua correspondência, Mozart era um espírito livre. Mas para ele a liberdade não era dada. Ela deveria ser conquistada por uma luta incessante das forças do bem contra as do mal, da luz contra as trevas. Essa dicotomia se reflete plenamente em suas principais óperas. Em Don Juan, acima de tudo, no final de um verdadeiro desafio contra Deus, o herói mostra que a liberdade só pode ser adquirida à custa de riscos inauditos: os da condenação e do inferno. Mas é em Flauta Mágica que a luta entre a escuridão e a luz é mais explícita. Seu libretista Schikaneder era maçom. Foi ele quem propôs a Mozart que escrevesse uma espécie de comédia musical destinada a tornar populares os temas maçônicos em uma época em que o imperador Leopoldo II acabara de fechar as lojas austríacas. A temática é, por assim dizer, destacada ao final. Os raios do sol empurram a Rainha da noite para fora do templo e os dois impetrantes, Sarastro e Tamina, podem acessar a luz.
Mas se com a Flauta Mágica ainda estamos em uma alegoria tingida de simbolismo, Mozart também compôs explicitamente obras maçônicas destinadas a acompanhar o desenrolar dos rituais em loja da maneira que a música sacra acompanha as cerimônias da igreja. A mais famosa destas obras são conhecidas sob o nome de Maurerische Trauermusik – Música Funerária Maçônica K. 477. Interpretado erroneamente como destinado a acompanhar as sessões fúnebres, trata-se mais uma música que dá pleno significado ao ritual de exaltação do mestre.
“Glória a vós, iniciados
Sarastro: Os raios do sol repelem a noite, aniquilando o poder dos demônios.
O coro: Glória a vós, iniciados Vós conquistastes a noite. Nós vos rendemos graças, Osiris e Isis! A Força triunfou e coroou a Beleza e a Sabedoria por toda a eternidade.”
Na flauta mágica, Mozart também produziu nove obras maçônicas para o canto coral, a maioria das quais são adaptações de textos de poetas maçons. Um dos mais famosos é Die ihr Unermesslichen Weltalls Schöpfer ehrt – Cantata Maçônica K 619 – Você que do Universo incomensurável – honra o Criador. Esta cantata para tenor ou soprano, com acompanhamento de piano ou orquestra, foi composta no final da vida de Mozart em julho de 1791. O texto é do poeta maçom Franz Heinrich Ziegenhagen (1753-1806).
Além de temas explicitamente maçônicos, Mozart às vezes aplicava a algumas de suas melodias uma dimensão inspirada em sua própria experiência maçônica. Este é particularmente o caso do quarteto Dissonances K. 465, sexto dos quartetos dedicados ao seu irmão Haydn. Composta em 14 de janeiro de 1785, um mês após sua iniciação, esta peça é considerada como a tradução musical das impressões da iniciação de Mozart. Em seu prólogo, considerado na época, como dissonante, podemos ouvir a imagem de tentativa e erro precedendo a contemplação da Luz traduzida então por um alegre allegro.
Joseph Haydn
(1732-1809)
O músico de toda uma época
É possível que a iniciação de Joseph Haydn na loja A Verdadeira Concórdia, no oriente de Viena, em 14 de março de 1785 tenha sido motivada pela frequência de Mozart, que ingressara na maçonaria dois meses antes.
Vinte e quatro anos mais velho que o autor da Flauta Mágica, Joseph Haydn manteve uma bela proximidade com este último. Amizade sincera que viu Mozart dedicar seis de seus quartetos ao mais velho. Uma amizade ainda mais notável é que ela estava livre daquela rivalidade que frequentemente prejudica as relações entre artistas. À liberdade de humor, de tom e de vida de Mozart se opõe a existência forçada e necessitada de Haydn, que passou a maior parte de sua vida produzindo obras encomendadas pelo príncipe Esterhazy, do qual ele era e compositor e músico titular. Não foi senão ao se aproximarem os 60 anos que Haydn foi capaz de dar livre curso ao seu próprio gênio e compor uma música original que, a começar pelas adoráveis figuras do barroco, abriu caminho entre as tempestuosas sobreposições do romantismo. Sua de uma riqueza excepcional inclui mais de cem sinfonias, óperas e os dois famosos oratórios: “A criação” e “As Estações”.
Ao contrário de Mozart, Haydn nada escreveu de específico para a Maçonaria. Além disso, existem dúvidas de que ele frequentasse muito pouco a sua loja após a sua iniciação. No entanto, os laços de Haydn com a Maçonaria são atestados pelos concertos que ele conduziu em Londres, no Freemasons’ Hall, e pela importante encomenda que lhe foi feita por membros da Sociedade Olímpica de Paris para a composição de seis sinfonias, chamadas “Sinfonias parisienses”.
Franz Liszt
(1811-1886)
O Idealismo atormentado
Ferenc Liszt, cujo primeiro nome foi germanizado como Franz, era súdito austro-húngaro de nascimento, alemão pela cultura familiar e europeu, se não francês, de coração. Uma criança talentosa para a música e o piano, ele foi, como Mozart, destinado a ser “exibido” na boa sociedade por seu pai Adam Liszt para lucrar com isso. Foi em Paris, na década de 1820, que o jovem Liszt conseguiu aperfeiçoar sua educação musical. Foi também em Paris que ele descobriu o mundo borbulhante de ideias de progresso que então agitavam a Europa. Seduzido pelo catolicismo social de Lamennais, mas também pela generosa utopia Saint-Simoniana, o jovem adquiriu a reputação de músico “humanitário” ao expor suas ideias em um curto ensaio sobre a situação dos artistas e sua condição na sociedade, publicado em Paris em 1835, uma espécie de profissão de fé contra o “aviltamento” da música pelo dinheiro … que foi soberbamente ignorado.
Foi na Alemanha, durante uma turnê em 1841-1842, que Liszt encontrou o sucesso não somente por sua música, mas também por suas qualidades intelectuais. Tanto que em 1842 a Universidade de Kijnigsberg lhe concedeu o título de doutor honoris causa em filosofia. Nessa época, Liszt já era maçom há um ano, admitido pela loja Der Einigkeit – A Unidade – em Frankfurt-am-Main. Iniciado em setembro de 1841, ele foi recebido companheiro em fevereiro de 1842 na loja Royal York de Berlim, na presença do príncipe Wilhelm, o futuro imperador Wilhelm I. Então, é em Frankfurt, na loja que o havia iniciado, que ele acedeu ao mestrado no mesmo ano. No entanto, a carreira maçônica de Liszt foi curta, mesmo que lhe desse a oportunidade de se apresentar em várias lojas, incluindo um concerto dado em 3 de dezembro de 1845 diante da loja A Sinceridade, no Oriente de Reims.
A partir de 1848, Liszt deixou de frequentar as lojas. Nessa época, ele já era assombrado por um violento misticismo católico, mas sem dúvida também, quando a condenação da Maçonaria pela Igreja se tornou mais virulenta. ele via em sua pertença à Maçonaria um obstáculo ao seu projeto de renovação da música religiosa. E foi em Roma, onde ele se estabeleceu em 1861, que Liszt recebeu o hábito e a tonsura, tornando-se abade na ordem franciscana. No entanto, o homem que se tornaria o sogro de Richard Wagner pelo casamento de sua filha Cosima com o enfant terrible de Bayreuth não rompeu completamente com a maçonaria. Em 1870 ele se encontra em Budapeste, visitando uma loja, e depois, em 1881, quatro anos antes de sua morte, ele deu um concerto para a loja Zur Verschiefenheit – A Discrição – em Preflburg – Bratislava. Assim, este grande compositor romântico cuja vida sentimental foi tão atormentada quanto sua carreira filosófica, comportou-se com respeito à Maçonaria assim como as mulheres, demonstrando para uma e outra uma fidelidade não exclusiva.
Duke Ellington
(1899 – 1974)
O espírito do jazz em seu reino
O planeta jazz é um reino cujo rei foi o “Rei” Louis Armstrong, o “conde” Count Basie, o “barão” Earl Hines e o “Duque” Ellington. Como muitos músicos de jazz negros, mas também alguns brancos, Duke Ellington era maçom, iniciado na obediência afro-americana de Prince Hall na Loja Social N ° 1 de Washington.
Nascido em uma família modesta, o futuro gigante do jazz frequentou pouco a escola, preferindo os campos de beisebol, e deixou os estudos de arte gráfica para se dedicar à música, escrevendo suas primeiras composições enquanto não tinha ainda quinze anos. Muito rapidamente, mostrou grande desenvoltura ao piano e formou um primeiro grupo com alguns amigos que conheceu rapidamente o sucesso. Originários de Washington, era natural que a banda assumisse o nome de Washingtonians para a gravação de suas primeiras músicas em meados da década de 1920.
As composições de Ellington se caracterizam por um senso agudo de ritmo combinado com uma grande suavidade de execução e uma aptidão da parte do pianista, de não se impor, deixando toda a latitude para se expressar a de grandes virtuosos como o saxofonista Johnny Hodges e o clarinetista Barney Bigard. No final de várias turnês triunfais em todos os Estados Unidos, a banda foi contratada em 1927 pelo Cotton Club, o mais famoso clube de jazz de Nova York, onde Ellington se apresentará ao lado dos maiores, como Louis Armstrong e até o cantor francês Maurice Chevalier. Apesar de uma ligeira queda durante a Grande Depressão, o sucesso de Ellington e sua formação não se desmentirá ao longo das décadas seguintes. Demonstrando grande ecletismo, Ellington atravessou épocas e estilos, tocando ao lado de grandes nomes do jazz tão diferentes quanto Count Basie, Ben Webster ou John Coltrane.
No plano maçônico, é difícil saber se seu percurso iniciático influenciou a música de Ellington, a não ser dando-lhe uma grande cobertura de espírito e uma incrível capacidade de adaptação. O que não é nada. Alguns queriam ver na peça intitulada Estou começando a ver a luz uma alusão explícita à sua iniciação. O que desmente em seu livro, o saxofonista e historiador de jazz Raphaël Imbert, para quem “esta peça é escandalosamente apresentada como suas impressões de iniciação por muitos maçons pouco escrupulosos em termos de credibilidade histórica e musical”. Sem dúvida Ellington não foi privado de preocupações espirituais e metafísicas, mas ao invés de traduzi-las em uma expressão puramente maçônica, ele se esforçou para explicar isso com sua própria sensibilidade, que era essencialmente religiosa, na série de concertos sagrados que ele deu de 1965 até seu desaparecimento em 1974.
Jean Sibelius
(1865 – 1957)
Um patriota apaixonado e austero
Sem dúvida, pode-se falar pela Finlândia do “Século de Sibelius”, já que a vida desse compositor, que morreu aos 92 anos, se confunde com a atormentada história de seu país. Quando nasceu em 1865, Sibelius e sua família eram então súditos do império russo falando a língua sueca, a língua da pequena burguesia finlandesa. Órfão muito cedo de seu pai, o jovem Jean será criado por sua mãe, mas descobre a música graças a um tio violinista. Dedicado aos estudos de direito, ele mostra mais interesse pela música, compõe e é conhecido por círculos musicais na Finlândia, mas também na Alemanha e na Áustria que ele percorre para aperfeiçoar sua arte. Foi em 1898, quando o czar Nicolau II restringiu ainda mais os direitos da Finlândia, que Sibelius decidiu colocar sua música a serviço do ideal patriótico finlandês. Ele comporá várias obras exaltando a alma de seu país, a mais famosa das quais é Finlandia, um poema sinfônico interpretado pela primeira vez em 1900 como parte de uma obra mais longa originalmente escrita para celebrar a liberdade de imprensa, reprimida pelo regime russo. Sibelius, cuja fama está crescendo na Europa, encarnará a luta do seu país pela liberdade, uma luta que só terá êxito após a revolução russa e da guerra civil que se seguiu. É – portanto, em uma Finlândia agora independente que o compositor é iniciado em 1922 pela loja Suomi N ° 1 de Helsinque no mesmo dia em que ela tinha sido instalada por maçons americanos.
Ele realiza a escrita de oito hinos maçônicos sobre os textos de autores finlandeses, mas também de Goethe, Schiller e Confúcio.
Personalidade severa e um pouco atormentada, Sibelius encontrou na maçonaria, matéria para fazer jorrar com sinceridade uma música profundamente espiritual e grave na qual transparecia a austera cultura luterana do compositor, empreende a escrita de oito hinos maçônicos sobre textos de autores finlandeses, mas também de Goethe, Schiller e Confúcio. Entre 1946 e 1948, ele completará estas composições por um Hino de Louvor, uma Ode à fraternidade e um Hino de abertura. Mason particularmente apegado à discrição, Sibelius que havia doado suas partituras à sua loja proibindo a interpretação diante um público profano. Além de uma obra ter “vazado”, que foi interpretada em Nova York em 1938, o essencial de suas peças maçônicas, só esteve disponível para o público em geral nos anos 2000.
Josephine Baker
(1906 – 1975)
Fantasista e idealista
Freda Joséphine Mac Donald nasceu em um distrito pobre de St. Louis, Missouri. Sua infância foi difícil, forçada às vezes a limpar casas, às vezes dançar em estabelecimentos mal-frequentados para ajudar sua família. Aos 13 anos, ela deixou a casa da família para contrair um primeiro casamento e fazer sua estreia no palco de uma trupe itinerante. Um ano depois, ela se casa novamente com Willie Baker, que lhe dará seu nome. Mas ela o deixa pouco depois para ir para a Broadway e se engajar em diferentes trupes antes de ser notada pela esposa do adido comercial da embaixada francesa em Paris. Esta última a convence a segui-la para a França, prometendo-lhe ser contratada na “Revista Negra”. O sucesso é imediato. No palco do Théâtre des Champs Élysées, a jovem afro-americana desperta uma paixão com toques de escândalo ao dançar freneticamente o charleston, vestindo uma simples tanga feita de bananas falsas. Ao fazê-lo, Josephine junta-se à atiradora senegalesa da publicidade Banania, no imaginário colonial colorida da benevolente condescendência dos franceses da época.
Durante dos anos vinte, Josephine Baker ainda é a queridinha de toda Paris, atuando no palco do Cassino de Paris e no Folies Bergere. A canção Rai deux amours que lhe escreve Vincent Scotto lhe assegura um enorme sucesso. Ela então proclama seu amor pela França, mas somente em 1936 ela adquirirá a nacionalidade francesa casando-se com o francês Jean Lion, rico herdeiro de uma família de comerciantes de açúcar. Este terceiro casamento, que não durará mais do que os anteriores, a leva a converter-se ao judaísmo.
A partir de 1939, Josephine Baker foi recrutada pela contraespionagem francesa e se colocou ao serviço da França livre a partir de 1941. Sua atividade artística permitia que ela viajasse. Ela empreendeu uma série de turnês no norte da África e no Oriente Médio, que lhe dava a oportunidade de colher informações valiosas para os aliados junto às autoridades que ela frequentava. Uma patriota incansável, ela se juntou à Força Aérea e desembarcou em Marselha em 1944. Por sua ação corajosa, ela recebeu a Legião de Honra, a Medalha da Resistência e a Croix de Guerre de 1939 a 1945 com palma. Apesar de uma saúde frágil, Josephine prossegue depois da guerra seu compromisso humanista ao adoptar, com seu novo companheiro Jo Bouillon, doze crianças de diferentes origens e cores de pele que ela cria em sua propriedade de Milandes, na Dordogne. Depois de se envolver na defesa dos direitos dos afro-americanos desfilando ao lado de Martin Luther King, ela foi a Cuba com Fidel Castro em 1965 para a conferência anti-imperialista da tricontinental. Alguns afirmam que ela teria levado uma mensagem discreta de apoio da parte do General de Gaulle. Conduzida pelo “líder máximo” ao local da Baía dos Porcos, lugar do desastroso desembarque anti-castrista americano de 1961, ela declara “Estou feliz por ter testemunhado o primeiro grande fracasso do imperialismo americano.”
No entanto, sua atividade transbordante não lhe dá um centavo e não lhe permite, após sua separação de Jo Bouillon, manter sua propriedade de Milandes. Apesar do apoio que goza no meio do showbiz, os Milandes serão vendidos em leilão em 1969. Em 1975, sustentada por amigos, ela é incentivada a voltar ao palco para uma retrospectiva em Bobina. Mas ela sucumbe à exaustão e morre em abril do mesmo ano.
Josephine Baker fora iniciada pela loja Nova Jerusalém da Grande Loja Feminina da França em 1960. Embora ela pareça ter tido pouco envolvimento na vida de sua loja, sua passagem pela maçonaria mostra que ela soube encontrar o caminho certo para aperfeiçoar os ideais de justiça e igualdade que iluminaram sua vida.
Publicado na revista FM Franc-Maçonnerie Edição Julho/Agosto no. 69
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