domingo, 22 de maio de 2016


Tradução José Filardo

Transcrito do site Bibliot3ca







A Maçonaria pretende ser o “Centro de União”. Mas onde se encontra esse famoso centro? Em Londres ou Paris? As duas principais tendências da maçonaria mundial, que se divide entre “regulares” e “liberais” somam verdadeiras rivalidades históricas, diferenças reais de abordagem espiritual, social, simbólica, que, seja o que for que se pense, não estão perto de desaparecer. Especialmente se os liberais parecem agora segurar a corda, é muitas vezes uma reação contra uma maçonaria “inglesa” considerada dogmática, separada do mundo, envelhecida.


Os Maçons acreditam em Deus? A Maçonaria é mista? Os Maçons fazem política? Eles são progressistas ou conservadores? Os membros de muitas potências francesas geralmente têm pouca dificuldade em responder a estas perguntas básicas que parecem lógicas na paisagem maçônica francesa. Mas, suponhamos que você seja membro de uma loja Inglesa ou afiliada à Grande Loja Unida da Inglaterra. Estas perguntas parecerão absurdas a você, ou deslocadas na medida em que elas são estranhas à visão de Maçonaria que ainda prevalece em grande parte do mundo. Porque no seio da Maçonaria Mundial, não é um estreito Pas-de-Calais que separa ingleses e franceses, mas um oceano de incompreensão que, se raramente se tinge de hostilidade aberta, banhada da arrogância mútua de dois continentes soberbamente isolados entre si.

Golpe de cinzel no contrato fraternal

Nessa rivalidade histórica e geopolítica, Londres sempre se prevalecerá do privilégio da anterioridade. Se o inspirador das constituições Anderson fundadoras da Maçonaria Universal foi Jean-Théophile Desaguliers, um pastor de origem francesa, mas já muito inglês, é em Londres e no Reino Unido que as antigas obrigações se espalharam entre 1700 e 1717. No entanto, foi apenas duzentos anos mais tarde, em 1929, que a Grande Loja Unida da Inglaterra, proclamou uma regra de vinte e cinco pontos dos quais o oitavo foi o golpe de cinzel , senão de punhal no contrato fraterno que, bem ou mal admitia a regularidade das lojas francesas e afiliadas desde 1728: “Grandes Lodges irregulares ou não reconhecidas: Existem algumas chamadas potências maçônicas que não respeitam essas normas, por exemplo, que não exigem de seus membros a crença em um Ser Supremo, ou que encorajam seus membros a participar como tais em assuntos políticos. Estas potências não são reconhecidas pela Grande Loja Unida da Inglaterra como sendo maçonicamente regulares, e todo o contato maçônica com elas é proibido. ” As lojas filiadas à GLUI, e mais especialmente as lojas americanas e canadenses, que também já havia mantido relações amigáveis com a maçonaria “continental” foram mais lentas em adotar a mesma atitude sectária. A ruptura entre as duas maçonarias não foi definitiva até o início dos anos 1960. O fato é ainda mais incompreensível que sobre o mérito, a exclusividade proclamada por Londres aplica-se tanto às potências e lojas deístas como as da Grande Loja de França ou do Direito Humano que trabalham sob os auspícios do Grande Arquiteto do Universo, quanto a aquela que fazem da liberdade absoluta de consciência a pedra angular de sua filosofia.

É verdade que no que diz respeito à Federação Internacional du Droit Humain, que possui há bastante tempo lojas em países dominados pela GLUI, a loja mista é um dos principais motivos para o não reconhecimento, ainda mais inaceitável que a liberdade de consciência. Se somarmos a essas diferenças a visão política ou social que certas lojas liberais defendem, não faltarão motivos para explicar a fratura que atravessa a maçonaria mundial. Mas tanto quanto razões ideológicas ou filosóficas, esta divisão é o resultado de circunstâncias geopolíticas ligadas à respectiva influência da França e da Inglaterra no mundo desde o final do século XVIII.

O papel da maçonaria francesa no desenvolvimento das idéias liberais na Europa havia desafiado os britânicos e estes puderam constatar o efeito dessa propaganda. Em primeiro lugar, na América por ocasião da expedição do maçom Lafayette, depois na Irlanda uma geração mais tarde. A grande revolta dos patriotas irlandeses de 1798 que foi afogada em sangue tinha tido como líder Wolfe Tone, um republicano liberal de religião presbiteriana que não sabemos se foi iniciado, mas de quem uma loja do rito irlandês tem seu nome. Vestido em uniforme francês, ele estava no navio comandado pelo maçom e corsário Jean-Baptiste Bompard cuja tentativa de desembarque em Donegal terminou em um fiasco. Esta foi a época em que como uma reação contra a maçonaria do Iluminismo, os mais conservadores dos protestantes irlandeses criaram a ordem para maçônica de Orange. O antagonismo entre duas visões de maçonaria era parte da história. A animosidade inglesa em relação a tudo que vinha da França, já grande, é reforçada nos anos seguintes diante de Napoleão I e seu Areópago de marechais maçons que pretendiam colocar a Europa sob um golpe regulada por um imperador coroado pelo papa … a quem o maçom “inglês” Blücher fez vomitar na planície de Waterloo.

Duas religiões, duas legitimidades

Não se pode nunca destacar suficientement a importância da questão religiosa na diferença que opõe a visão do mundo anglo-saxã à visão de mundo latina e, especialmente francesa. Mas aqui, ela é menos diferença doutrinária entre católicos e protestantes que visões de mundo, resultantes de diferentes sistemas de fidelidade. No Reino Unido, cuja história é tão sangrenta quanto a da França pelas guerras religiosas, é a rainha ou o rei que incorpora a legitimidade política confundida com a legitimidade religiosa. A Maçonaria, cujo surgimento no final do século XVII foi também uma empresa para reunir aqueles que estavam dispersos em excesso de conflitos religiosos, naturalmente se alinhou sob a coroa simbolizando a unidade do país. Tradicionalmente, e até hoje, são príncipes de sangue real que dirigem, pelo menos simbolicamente, a Maçonaria Inglesa. Foi o mesmo na França até a Revolução, primeiro, e depois sob Napoleão, e sob as duas restaurações que se seguiram. Até a Segunda República, as condenações papais tiveram pouco efeito sobre o ingresso de católicos, incluindo muitos religiosos na Maçonaria. Neste contexto, a figura eminente de Joseph de Maistre, um fervoroso Católica que desprezava a República e também propagador na Europa do Rito Escocês Retificado, ilustra essa distorção. Entretanto, com a evolução autoritária do Segundo Império concomitante com mudanças sociais trazidas pela Revolução Industrial, a Maçonaria francesa mudou gradualmente de face. Anteriormente monarquista, católica e aristocrática, ela gradualmente se torna popular, pequeno-burguesa, republicana, senão protestante e judaica, pelo menos amplamente aberta às correntes liberais dessas duas religiões. Isso foi verdade tanto para a Grande Loja de França quanto para o Grande Oriente de França. No entanto, esta evolução liberal, se não libertária, foi parada por dois eventos, aparentemente independentes, mas que de fato imporia à Maçonaria francesa uma nova aliança legalista. Em primeiro lugar, o esmagamento da Comuna de Paris na qual estavam envolvidas lojas parisienses obreiras, foi amplamente aprovado pelas lojas republicanas burguesas do Grande Oriente de França. Então, em 1877, o abandono pelo GODF da referência ao Grande Arquiteto do Universo, consagrou a preeminência da potência enquanto “Igreja da República”, dando aos seus membros um papel de Cavaleiros Templários seculares que eles assumem com zelo até nossos dias.

É assim tanto uma briga doutrinária quanto um conflito de legitimidade que levou a partir de 1877 a uma ruptura de fato entre o Grande Oriente da França e a Grande Loja Unida da Inglaterra. Conflito ainda mais marcado pelo fato de que a época era de expansão colonial. E nós sabemos quanto a Maçonaria operava tanto para o poder colonial francês quanto para o papel do Império Britânico, como um traço de união com as elites locais. Como zelosos missionários, funcionários e militares maçons de ambas as margens do riu delimitaram suas respectivas zonas de influência como fizeram na África após o incidente de Fashoda. Para as obediências francesas as possessões na África, Indochina e do Pacífico. Para a GLUI a Índia, Oriente Médio e suas colônias africanas. A América do Norte, embora já adquirida pela GLUI permaneceu ainda aberta por muito tempo às relações com a maçonaria liberal, enquanto a América Latina, constituída por Estados soberanos teve o prazer de conciliar as duas influências, mas com uma preferência, por vezes, pela visão liberal.

Assim, o mapa da maçonaria mundial fora da Europa foi delimitado a partir do final do século XIX. E iso até a descolonização. Essa teve, primeiro, o efeito de eliminar a Maçonaria de territórios onde ela não estava estabelecida somente entre os colonos e expatriados ou entre uma franja fina das elites ocidentalizadas. Este foi o caso para as lojas francesas em todo o Magrebe, bem como na Indochina onde tudo o que era maçônico foi de barco para o exílio e a derrota. Para os ingleses, foi a ascensão do nacionalismo árabe que em seu auge depois de 1956, varreu as poderosas potências maçônicas egípcia e iraquiana. Somente resistiriam para os liberais as maçonarias da África negra e de Madagáscar e para a “regulares” a maçonaria indiana, ainda que muito reduzida desde os dias de Kipling, permanece até hoje a única maçonaria de alguma importância na Ásia.

“Guerra Fria” entre maçons

Se este quadro, traçado apressadamente permanece ainda atual em termos gerais, ele sofreu desde os anos sessenta a uma série de alterações que modificam um pouco as suas perspectivas. De particular interesse é a crescente influência da Grande Loja Nacional Francesa, que defende os interesses da GLUI sob a bandeira francesa. Mais uma vez, é preciso fazer um pouco de geopolítica. O rito inglês no estilo Emulação introduzido na França em 1901, na Loja Anglo-saxã, criada dentro da Grande Loja de França tinha uma influência muito limitada até depois da Segunda Guerra Mundial, quando sob a influência de muitos maçons americanos presentes nos quadros da OTAN, foi criada a GLNF reconhecida imediatamente como regular pela GLUI. Até então, ao contrário dos ingleses, os maçons americanos mantinham relações cordiais com seus irmãos franceses. Mas a decisão do general de Gaulle de se retirar da OTAN, quando as bases militares deixaram o território francês em meados da década de 1960 levou a uma verdadeira guerra fria entre maçons franceses, todas as potências combinadas, exceto a GLNF e maçons do mundo anglo saxão.

A famosa “arrogância” francesa foi na época qualificada de criptocomunisa, epíteto com que foi presenteado o Grão-Mestre do GODF, Jacques Mitterrand, por todos aqueles que, na mçonaria francesa e internacional reprovavam a politização da potência. Entenda-se isso como progressista. Esta reputação colou-se de uma vez por todas à obediência da Rue Cadet e foi, portanto, possível, ao abrigo de regularidade e ortodoxia do rito, talhar-lhe algumas pedras brutas em seu jardim africano. Assim, enquanto que, por tradição e também pelo jogo político, a maioria das lojas da África Negra permaneceram na órbita do GODF após a independência, vimos aqui e ali, principalmente no Gabão, aparecer potências nacionais ligadas à GLUI, mas apoiadas, se não sustentadas pela GLNF.

Aqui se coloca a questão de difícil compreensão para o profano, da relação entre rito e potência. Se a diferença entre “regular” e “liberais” se limitasse apenas ao rito, ela não teria razão de ser. O que é comumente chamado de ritos ingleses, isto é, os chamados Emulação e Rito de York, que são os da GLNF, são praticados por algumas lojas do Grande Oriente de França e do Droit Humain. Além disso, o antigo Grão-Mestre do GODF Alain Bauer é um alto dignitário do Rito de York no seio da obediência. Da mesma forma, o rito escocês antigo e aceito (REAA) quase desconhecido no Reino Unido, e muito menos na Escócia, é praticado por algumas lojas americanas e de uma forma quase exclusiva pela Grande Loja de França e do Droit Humain. A mesma situação vale para os altos graus cujos capítulos em todo o mundo, obedecem à mesma distribuição geopolítica que as lojas simbólicas.

Os “Regulares” majoritários, mas em declínio constante

Isto pode parecer absurdo e, em princípio, contrário ao espírito da Maçonaria, cujo principal objetivo é reunir o que está espalhado. No entanto, é ela que, ainda hoje, desenha a paisagem maçônica mundial e ainda mais nas próximas décadas vai decidir o futuro da maçonaria em geral. Não nos enganemos: em nível global, a maçonaria não para de declinar desde os anos 1960. Para isso pode-se encontrar muitas explicações, mas não se saberia analisar o fenômeno, sem levar em conta a especificidade da Maçonaria “regular”, ali onde ela era mais poderosa, ou seja, no mundo Anglo Saxão. Se tomarmos o exemplo dos Estados Unidos, os maçons que encarnaram até a Segunda Guerra Mundial, as ideias fundamentais da democracia americana, gradualmente abandonaram qualquer pensamento social, em favor de uma visão conservadora, congelado, antiquada da sociedade americana. Tudo o que esta última fez evoluir na segunda parte do século XX foi, se não combatido, pelo menos, ignorado pelas lojas. A emancipação dos negros, embora ainda existam batalhar a vencer, já é uma realidade na sociedade americana, embora brancos e negros tenham uma maçonaria separada com base no princípio da segregação. O lugar da mulher na sociedade americana, provavelmente o mais avançado do mundo ocidental, ainda é um tabu na Maçonaria estadunidense onde lojas mistas estão ausentes e lojas femininas quase inexistem. Finalmente, a questão do reconhecimento do fato homossexual não só está a milhares de quilômetros das preocupações das lojas americanas, mas certas entre elas, como recentemente no Tennessee, pronunciaram-se abertamente em favor de medidas discriminatórias contra a comunidade gay.

A isso se soma uma prática maçônica muito estranha que se transforma a iniciação em uma espécie de trote e a frequência às lojas uma formalidade social. Na verdade, durante as aulas de um dia, cerimônias de um dia inteiro, que os candidatos ingressam e passam pelos três primeiros graus, antes de prosseguir em uma carreira maçônica nos altos graus de maneira quase tão rápida, pontuadas por três ou quatro sessões realizadas por ano.

Distante das realidades da sociedade, envelhecida, reduzida a uma atividade de clube de serviço, a maçonaria americana, que teve quase quatro milhões de membros nos anos 1950 não contam hoje nem com a metade disso. E, ainda, este número inclui todos aqueles que em um momento ou outro foram iniciados. O número real de membros da Maçonaria norte-americana seria mais perto de duzentos mil membros, em sua maioria com idade superior a setenta anos.

Esta situação não é muito diferente no Reino Unido, onde a maçonaria, antes emblemática de um certo modo de vida britânico, está em declínio constante. Certamente, os rituais são praticados ali de maneira mais séria do que nos EUA, mas as sessões obrigatórias têm lugar apenas uma vez a cada dois meses, e a Maçonaria britânica, em seu todo muito conservadora e comprometida com a crença em um deus revelado, está separada de uma sociedade cada vez mais multicultural e cada vez menos religiosa. A ausência de debates sociais em loja, o envelhecimento dos membros, a recusa absoluta das lojas mistas e a quase ausência da maçonaria feminina completam um quadro pouco dinâmico que se pode, com apenas alguns detalhes a mais ou a menos, transpor para a Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Canadá e Israel, países onde a maçonaria ligada à GLUI foi por muito tempo poderosa.

… e os liberais minoritários que progridem

Em última análise, com exceção da pequena Islândia, pais que tem a maior proporção de maçons no mundo, é na França que a maçonaria inglesa seria mais dinâmica. E não é sem interesse saber dos os esforços feitos pelas potências francesas, incluindo o Grande Oriente da França principalmente (ver quadro), mas também o Droit Humain, para se implantar e, se possível progredir no Reino Unido (duas lojas do GODF, doze lojas do DH e uma loja do Grande Oriente da Itália) e na Irlanda (três lodges do GODF). Note-se também que ao lado de algumas lojas liberais localizadas em Nova York, é na Califórnia que as esperanças de um renascimento da maçonaria americana são maiores, com uma loja do GODF em San Francisco, mas também contatos esporádicos sob a cobertura de simpósios históricos e em outros eventos entre a Grande Loja da Califórnia e o GODF, bem como da Grande Loja Feminina de França e o Droit Humain. Observou-se também, na década de 2000, a presença de representantes do GODF e da Grande Loja de França, durante uma conferência maçônica por iniciativa da Grande Loja de Minnesota. No entanto, por mais promissores que sejam, esses contatos não foram acompanhados por nenhum acordo entre as potências e o horizonte de reconhecimento ainda parece muito distante.

Fora a África Ocidental, tradicional território de potências francesas, e em alguns países do sul da Europa (ver caixa), é hoje na América Latina que a Maçonaria liberal mais se desenvolve. Tradicionalmente ligada à emancipação dos povos da região através da memória de maçons ilustres que foram José Marti em Cuba, Giuseppe Garibaldi no Uruguai e Simon Bolívar, o libertador do subcontinente, a maçonaria liberal ali se desenvolve há bastante tempo uma fraternidade matizada de cultura latina e secularismo. O México tem sido há tempos a ponta de lança, enquanto que no Uruguai se encontra a loja mais antiga da América do Sul filiada ao GODF. No Brasil, que tem uma infinidade de potências, incluindo a tradição “egípcia”, a maçonaria é um bom exemplo de diversidade, mas também de desunião, mas com um aumento acentuado de lojas do Droit Humain. Por outro lado, na Argentina e, em menor medida, no Chile, onde se encontra um Grande Oriente Latino-americano, a margem de progressão da maçonaria liberal continua a ser considerável.

O mesmo se aplica ao Extremo Oriente, onde, além da Índia, que conta com cerca de 20.000 maçons, maçonaria tanto “regular” quanto liberal nunca fez sucesso. Provavelmente porque têm a sua própria abordagem simbólica, os chineses, japoneses e Thais nunca estiveram realmente interessados em uma maçonaria que, embora queira ser universal, baseia-se na mitologia bíblica, bem como uma forma de pensamento, características e ferramentas simbólicas de mentalidade ocidental. Falar de colunas do templo de Salomão a um chinês para quem o mundo é circular ou de secularismo a um japonês, cuja identidade é inseparável do culto xintoísta não faz sentido algum.

Resta o mundo árabe-muçulmano, onde algumas pessoas nutrem desde longo tempo a esperança de restaurar a maçonaria à sua antiga glória para conter o máximo possível o fanatismo religioso. Totalmente ausente da Argélia, a Maçonaria existe na Tunísia com lojas filiadas ao GODF, cujos membros se reúnem na discrição mais absoluta. Fora a notável exceção do Marrocos, onde quase todas as potências liberais estão representadas, e o Líbano, onde se enreda uma multiplicidade de potências cujo número de membros não excede, normalmente, dez membros, a maior parte do mundo árabe e muçulmano também parece fechado para a Maçonaria como ela é hoje, para o secularismo, para a emancipação das mulheres e para a tolerância em relação à homossexualidade.

A cifra de sete milhões de maçons em todo o mundo, às vezes apresentada, é certamente falsa. Sem dúvida, ela está realmente mais perto de dois milhões de maçons ativos. E desse número, pouco mais do que três a quatro centenas de milhares de irmãos e irmãs estão sinceramente comprometidos com a liberdade de consciência, o respeito pelos outros na sua diversidade e convencidos de que devem trabalhar tanto para a melhora do homem em seus aspectos morais quanto materiais. É muito pouco. Mais uma razão, nestes tempos tenebrosos, pare que cada um se ocupe em recuperar a sua luz sobre o mundo.

Quadros
A Aliança Maçônica Europeia. Um lobby maçônico em Bruxelas

Tradicionalmente, na Europa, os “regulares” estavam no Norte e os liberais no sul. Esta realidade geográfica se cruza com outra história, que deixou traços. Fora das maçonarias austríaca e alemã, predominantemente “regulares”, são essencialmente os liberais que foram perseguidos por ditaduras comunistas e fascistas. Assim, certamente, existe maior tradição de discrição no sul da Europa. Depois de 1989, foi a corrida para o Leste para uns e para outros. Quase trinta anos depois, se contarmos belas realizações nos Balcãs, a presença maçônica na Rússia e na Europa Oriental ainda está em formação. Se as maçonarias polonesa e húngara são bem constituídas, eles mostram coragem em países cujos governos leem seu futuro no seu passado mais obscuro.

Fora seus dois pilares que são a França e a Bélgica, a Maçonaria liberal é representada por potências nacionais ligadas principalmente ao Grande Oriente de França e ao Droit Humain em cerca de quinze países europeus. Com exceção da Sérvia, as potências liberais desses países *, a que se juntam a Turquia e o Marrocos constituiram há dois anos a Aliança Maçônica Europeia que agrupa 22 potências. “Trata-se de representar junto às autoridades europeias uma força de diálogo e proposta baseada no secularismo e nos valores de escuta e tolerância da Maçonaria adogmática. Julgamos ser útil se fazer ouvir por meio de lobbies junto a Bruxelas para não deixar este terreno às religiões e à extrema direita. Atualmente, somos signatários da petição Wake Up Europe denunciando os abusos do regime autoritário de Viktor Orban na Hungria. Não nos opomos à que os “regulares” se juntem a nós, mas por enquanto eles estão ausentes neste terreno”, explica Henri Sylvestre, Grande Secretário para os Assuntos Externos do GODF, potência que, junto com o Grande Oriente da Bélgica e as federações do Droit Humain estavam na origem desse projeto.

Contato
Aliança Maçônica Europeia, 75 rue de Laeken, 1000 Bruxelas


* Áustria, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Hungria, Luxemburgo, Marrocos, Holanda, Polônia, Portugal, Romênia, Eslovênia, Suíça, Turquia.

Inglaterra. Quando os franceses desembarcam …

Terra de Missão, ou terra simplesmsnte incógnita para os franceses de tradição adogmática, o Reino Unido tem alguns poucos passageiros (quase) clandestinos, seguidores de uma maçonaria aberta de rito francês, trabalhando em Inglês, e que até defende as lojas mistas. Chocante!

Em 2010, Philippe Bodhuin, de Calais era conselheiro da ordem do GODF e membro da Loja Hiram, única loja francesa trabalhando em francês em Londres por mais de cem anos. “Esta situação não era absolutamente satisfatória. A ideia nos ocorreu de criar uma loja trabalhando em Inglês, de modo a não limitar o recrutamento aos expatriados”. Isso foi feito em 2010, quando foram criadas as R.L “Freedom of Conscience” – Liberdade de Consciência – que se reúne em um templo do Droit Humain, já presente no Reino Unido. A partir de um núcleo de 26 membros originários da Loja Hiram, esta nova loja procedeu então a uma dúzia de iniciações, incluindo dois ingleses. O que é mais um feito que, de acordo com Philippe Bodhuin que é o atual venerável, “Recebemos regularmente membros da GLUI que não assinam o livro de presença, mas estão muito interessados em nossos trabalhos com os ritos francês e Inglês. Eles ainda descobrem uma maçonaria ativa na qual é possível não acreditar em deus ou na imortalidade da alma, crença obrigatória em lojas inglesas, embora muitos de seus membros não acredito nisso. ”

Quanto às lojas mistas, está programado assim que a oportunidade surgir. Além disso, o fato de estar em Londres é de interesse para esta loja, para misturar-se a uma população cosmopolita atraída pela maçonaria, mas que ignorava tudo sobre a maçonaria de rito francês. O que já permitiu estabeleceu contactos com maçons de Malta e criar três lojas na República da Irlanda.



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