sábado, 1 de julho de 2017



RITO MODERNO FRANCÊS RESTAURADO: SISTEMA MAÇÔNICO EM TRÊS GRAUS E QUATRO ORDENS


Tradução J. Filardo


AS ORIGENS HISTÓRICAS DO RITO MODERNO


Nunca houve Lojas de maçons na Idade Média. Os pedreiros, assentadores e canteiros eram agrupados em guildas e corporações a que se chamava o Ofício (Craft).

Eles estavam em barracas provisórias chamadas de lojas na França e “Bauhütte” na Alemanha.

As diferentes profissões agrupadas sob o título genérico de Maçons entravam na Guilda prestando um juramento sobre as Sagradas Escrituras. Este juramento santificava seu compromisso com seus deveres para com seus empregadores, colegas e suas mulheres, nada mais. Os sapateiros, açougueiros, serralheiros prestavam um juramento idêntico e não há segredo esotérico em tudo isso.

Nenhuma Loja de maçons – no sentido de assembleia de homens existia antes do Renascimento, período em que o poder da igreja começa a diminuir, tanto no plano espiritual quanto material.

É então, no século 17, e exclusivamente no Reino Unido, composto pela Escócia, Inglaterra e Irlanda, que aparecem as Lojas de maçons no sentido que as entendemos.

Conglomerado heterogêneo de antigos trabalhadores da construção, burgueses e notáveis, vagamente federados em Grandes Lojas locais ou provinciais. Esta instituição com princípios religiosos e morais articulados em torno da alegoria do Templo de Salomão permaneceu profundamente católica, anglicana, apesar das inovações anglicanas de Henrique VIII.

Documentos provenientes desses séculos antigos existem. Estes são as muito católicas “Antigas Obrigações”: Antigos Deveres.

Até o nascimento da Grande Loja de Londres, nunca houve iniciação ou simbolismo, mas sim emblemas e uma cerimônia de recepção, cujo ponto essencial era a comunicação secreta da palavra do Maçom (Mason’s word).

Em 1717, sob o impulso de alguns irmãos TODOS eles protestantes e membros da Academia de Ciências (Royal Society of Sciences), portanto influenciados pelos trabalhos científicos de Isaac NEWTON, forma-se a Grande Loja de Londres através da federação de quatro lojas dessa cidade. Esses fundadores são muito diferentes dos maçons católicos e pequenos burgueses que povoam as antigas Lojas do Reino Unido. Eles são protestantes, inquietos, educados e confiantes. E eles imediatamente são novidade no quadro podre da antiga instituição maçônica. Eles são, de fato, liderados por Desaguliers, homem inteligente e determinado. Muito rapidamente, um certo número de Lojas alinha-se com a nova organização. Mas as coisas não vão muito bem com os velhos maçons católicos e da Irlanda, que, em primeiro lugar, criticam os recém-chegados e, em seguida, tornar-se maus. A fonte, a partir daqui, é a obra de base extraordinária em Inglês, de Bernard Jones, que foi membro por 44 anos da Loja “Ars Quatuor Coronati”, obra prefaciada pelo famoso historiador J. Héron LEPPER, bibliotecário e curador do “Freemanson’s Hall” de 1943 a 1952. Nossas afirmações são, portanto, encontradas no capítulo 12 do livro “Guia e Compêndio do Maçom.”

A Grande Loja de Londres foi formada em 1717. Uma Grande Loja rival foi fundada em 1751, ou sejam depois de 34 anos de duras críticas.

Os adeptos dessa Loja rival, acreditando que praticavam uma mais pura e mais antiga maçonaria, chamavam a si mesmos, os Antients (Antigos). E, para zombar deles, chamavam os membros da Grande Loja de Londres, recentemente formada, os “Modernos”. Este epíteto permaneceu. O nome exato da obediência de 1751 é “A Mais Antiga e Honorável Sociedade de Maçons Livres e Aceitos”.

Seu destino é rapidamente assumido por Laurence DERMOTT, um pintor irlandês de 32 anos, um homem de grande qualidade e energia indomável. Dermott logo começa a redigir uma Constituição e a publica em 1756. Este documento é curiosamente chamado de “Ahiman Rezon”, o que significa mais ou menos em hebraico: o “Guia secreto do irmão”. Dermott explica claramente em seu livro que “… as Lojas são os únicos seminários onde o homem pode entender, compreender e aprender seus deveres para com Deus e também com seu próximo.”

O que nos interessa nesta aventura, é saber por que os Antients atacavam tanto os Modernos, cujos ideais de tolerância e abertura intelectual e religiosa nos são conhecidos através das Constituições de Anderson de 1723 e especialmente de 1738.

De fato, a edição de 1738 das Constituições, no texto revisado do artigo 1 das Obrigações do Maçom, ratifica e dá força de lei a um uso que se espalhou como um rastilho de pólvora tanto na Inglaterra quanto no continente. Se a versão de 1723 do artigo 1 das Obrigações já é ecumênico em espírito e em sua redação por vezes ambígua, o contexto do documento, particularmente sua introdução longa introdução pseudo-histórica demonstra inequivocamente que se trata de um ecumenismo cristão, reservado apenas aos seguidores de diferentes “denominações” cristãs e excluindo expressamente os ateus, libertinos e muçulmanos.

Na realidade, desde o início da Ordem Moderna encontraram-se traços indiscutíveis da presença de judeus e de “maometanos” em algumas lojas Inglesas espalhadas por toda a Commonwealth e no continente.

O novo texto de 1738 confirma, assim, um estado de fato e uma evolução dos espíritos além do quadro restrito e cristão do projeto inicial dos fundadores. Todas as religiões monoteístas estão, portanto, agora em causa. Esta ampla abertura do compasso andersoniano se manifesta pela precisão emprestada à redação do artigo 1 das Obrigações

“… em verdadeiro Noaquita”.

A Ordem Moderna relaciona-se agora todos os descendentes de Noé, os seguidores das três grandes religiões monoteístas: cristianismo, islamismo e judaísmo.

Nos cinquenta anos que se seguiram, alguns ramos da Ordem Moderna assistirão ao fluxo de racionalistas ou céticos que se acotovelarão nas oficinas de místicos e cabalistas.

É preciso admitir que os Modernos cometeram erros entre 1717 e 1751.

E os Antients publicam um documento de fortes críticas aos Modernos, porque ele retoma toda a lista de queixas dos Antients contra os Modernos.

Isto nos permitirá compreender plenamente todas as diferenças entre estas duas formas de Maçonaria e estes dois ritos.

Quais são as acusações contra os Modernos?
Entre 1730 e 1740, os Modernos inverteram as palavras tradicional de reconhecimento do 1º e 2º graus, ou seja, a PRÓPRIA ESSÊNCIA da recepção na Ordem conforme evidenciado por todos os manuscritos relacionados ao Craft desde o Renascimento.

Este ponto preciso, que é absolutamente capital será desenvolvido imediatamente após a enumeração das queixas pelos Antients contra os Modernos.
Os Modernos aboliram as orações em Loja. A antiga Maçonaria, com efeito, invocava e continuaria a invocar por muito tempo, o Cristo, a Virgem e muitos Santos na abertura dos seus trabalhos que permaneceram muito católicos.
Os modernos descristianizaram os rituais. Os catecismos demonstram que os rituais originais tinham um caráter cristão afirmado, assim como as Constituições de Anderson de 1723 (exceto o capítulo das Obrigações).
Os Modernos ignoraram e negligenciaram as festas dos Santos, isto é, eles realizavam seus banquetes em dias diferentes dos dois São Joãos.

Este costume constitui um verdadeiro “landmark” para alguns maçons Antients, que eles perpetuam até nossos dias.
Os Modernos negligenciaram, em alguns casos, a preparação dos candidatos conforme o costume.
Os Modernos abreviaram os rituais e, em particular, negligenciaram os catecismos ligados a cada grau.
Os Modernos deixaram de recitar as Antigas Obrigações durante as iniciações.

Estas Antigas Obrigações haviam se tornado irrelevantes na Nova Ordem Moderna, e sua omissão era provavelmente justificada. Mas os Antients viam nisso um novo ultrage dos recém-chegados.
Os Modernos introduziram a austeridade nas cerimônias, tendo particularmente suprimido a espada durante iniciações, exceto no que se refere ao cobridor externo que porta uma espada.

Não se sabe para que uso os Antients portavam a espada em Loja. Os Franceses modernos, ao contrário, fizeram disso um uso ritual especial e essencial de seu RITO. (Conf. as gravuras de Lebas (1745), particularmente o 3º grau).
Os Modernos deixaram cair em desuso a cerimônia esotérica de Instalação do Mestre, embora algumas de suas Lojas continuem a praticá-la.

Esta cerimônia era obrigatória entre os Antients para acessar o grau subsequente do Arco Real; grau que os Modernos não aceitarão em reconhecer a não ser muito mais tarde.
Os Modernos se afastaram da antiga maneira de organizar a Loja, particularmente a posição das três grandes luzes, os rituais de abertura e fechamento e a posição dos vigilantes em loja.
Os Modernos ignoram a função de diácono. Esta função é tipicamente “Antiga” e as lojas modernas que depois de 1809 também adotaram diáconos, o fizeram sob a influência dominante dos Antigos.

Se olharmos bem, as críticas não se dirigem a pontos suficientes acessórios do cerimonial, nota-se que as três acusações se relacionam à cessação do comportamento religioso junto aos Modernos:

– cessação de orações em Loja;

– a descristianização dos rituais;

– a não-celebração das festas de São João.

Isto coloca em evidência um comportamento muito diferente entre os dois ritos, resultante de valores fundamentais divergentes.

Mas a acusação mais grave e mais essencial, que foi considerada um verdadeiro horror pela maioria dos Maçons, mesmo pertencendo à Grande Loja dos Modernos, foi a inversão das palavras sagradas do 1º e 2º graus, que, desde tempos imemoriais, eram BOAZ para os aprendizes e JAKIN para os Companheiros.

Por que essa inversão é realmente sacrilégio?

Pretende-se e se escreve que as divulgações publicadas a partir de 1730 e o desejo de evitar a entrada de profanos assim informados na Loja, estão na origem dessa inversão. Isso não é verdade.

Aqui está o que JONES disse, com base nos arquivos autênticos: na realidade, a Maçonaria espalhou-se rapidamente na França, na Irlanda e na Escócia. Irmãos destes países trouxeram para a Inglaterra ideias que não se originaram em solo Inglês. A Grande Loja de Londres viu-se penetrada, por volta de 1730, por muitos maçons não afiliados à sua obediência e exigindo a admissão em suas Lojas. Aos seus olhos, cada um desses Maçons não afiliados era irregular e, para tornar o acesso difícil ou impossível, a Grande Loja tomou uma decisão muito séria.

Ela realizou nada menos que a inversão das palavras de reconhecimento do 1º e 2º graus e emitiu um verdadeiro ukasse proibindo suas Lojas de admitir aos seus trabalhos, Maçom que não sendo afiliado, se revelasse desinformados sobre essa mudança.

A Grande Loja dos Modernos fez essa grave alteração da tradição com as melhores intenções, mas, segundo JONES, ao fazê-lo, ela se tornou culpada de um profundo erro de julgamento e, posteriormente, pagou um preço muito alto por esta falha. A inversão foi considerada pelos seus próprios membros e pelo conjunto de todos os outros Maçons como uma violação extremamente grave de um landmark existente desde tempos imemoriais.

E, ainda, uma estupidez no plano lógico dos fundamentos de todo rito maçônico que é a do Templo de Salomão.

Discutiu-se muito a posição das colunas “J” e “B”, a fim de saber se elas estão localizadas à direita e à esquerda ao se entrar no templo, ou ao se olhar a partir do interior do templo para fora. No primeiro Livro dos Reis na Bíblia, capítulo 7, versículos 15-21, aprendemos que JAKIN fica à direita e BOAZ à esquerda. Em seguida, no mesmo Livro dos Reis, mesmo capítulo, mas versículos 38-39, aprendemos que:

“Ele colocou as bases, cinco perto do lado direito do Templo e 5 perto do lado esquerdo do templo; quanto ao mar (de bronze), ele tinha colocado à distância DO LADO DIREITO DO TEMPLO, A SUDOESTE”.

A direita é, portanto, o Sul para os Hebreus, quer dizer, ali se sentam os Companheiros sob a a coluna “J”.

Esta é a tradição hebraica expressa através da Bíblia.

Se necessário, Flavius ​​Josefo confirma isso, dizendo

“Solomão colocou cinco das bacias no lado esquerdo do Templo

QUE ERA O LADO VOLTADO PARA O VENTO DO NORTE e outro tanto ao Sul, mas voltadas para o Leste. Antiguidade dos Judeus, Livro VIII, Capítulo III, 6.

Nós reteremos a partir disso que a verdadeira prática moderna antes da inversão, é o respeito pela posição correta:

BOAZ é a palavra do Aprendiz

JAKIN é a palavra do Companheiro

Está na Bíblia. Está nas “Antigas Obrigações”. É a Tradição. Um último elemento vem sustentar os méritos de nossa posição visando restabelecer a localização correta das colunas, bem como as palavras tradicionais dos Aprendizes (B) e dos Companheiros (J), e este elemento é de ordem “canônica” ou, se preferir, legal no plano do direito maçônico.

Em 12 de abril de 1809 a Grande Loja dos Modernos, cujo Rito era seguido na França (incluindo a inversão de palavras e das colunas!) toma a seguinte decisão aplicável a todas as Lojas relevantes de sua jurisdição e praticando seus rituais: “que esta Grande Loja aceita o parecer do Comité de Caridade de que não há necessidade de manter em vigor as medidas que foram tomadas no ano de 1739 ou por volta dele, em relação a Maçons irregulares e ordena, portanto, que todas as lojas voltem aos antigos landmarks da sociedade.

” Assim então, se essas disposições não tinham eco na França ou na Bélgica, é sem dúvida à anglofobia da França napoleônica que se deve a permanência, até nossos dias, de um uso em total contravenção com o bom senso, a tradição e a lei maçônica dos Modernos.


VALORES EXPRESSOS PELO RITO MODERNO


O Rito Moderno é, assim, uma construção e um sistema simbólico que atende a uma lógica interna coerente. Não mais do que quaisquer outros meios convencionais de comunicação, ele não autoriza a liberdade absoluta de interpretação.

Na verdade, ele é baseado em uma série de VALORES que são aqueles dos Maçons andersonianos ou modernos, no início do século XVIII britânico e francês.

Note-se que o ecumenismo religioso foi inventado e construído pelos Maçons dois séculos e meio antes do Concílio Vaticano II.

Estes valores são universais e são, na nossa opinião, os da Ordem Moderna conforme concebida por DESAGULIERS; eles, porém, não estão confinados a um período restrito que seria a das origens distantes. É porque eles são universais que eles nos dizem respeito e se relacionam com o Rito que praticamos, HOJE.

No entanto, a transmissão do Rito ao longo dos séculos não se fez sem alterações significativas, devido a inspirações ruins, negligências, modismos, ignorância, oportunismo político, alinhamentos ou simplesmente à influência determinante e dominante do prestigioso Rito Escocês Antigo e Aceito.

Convém, portanto, para nossa Loja, analisar os componentes do Rito Moderno original à luz do espírito universal que o inspirou, para conhecer – na falta de poder praticá-lo – nosso Rito em toda a sua pureza e seu elevado significado reencontrado.

Vimos que a moderna Maçonaria especulativa nasceu em um ambiente newtoniano, sem qualquer dúvida, cristão, mas saturado de intolerância religiosa e ávido por paz, universalismo e as luzes da nascente ciência. DESAGULIERS quer dar à Europa uma NOVA CIVILIZAÇÃO, baseada em novos valores.

Os estatutos tolerantes de 1738 ainda em grande parte imbuídos de cristianismo, permitirão que se pratiquem rapidamente em Loja os princípios dos três grandes monoteísmos. No continente, agnósticos e racionalistas juntar-se-ão aos seus esforços, a partir do final do século. Porque os únicos critérios “modernos” são: a observância da Lei Moral e a prática da Religião Universal.

O movimento maçônico moderno de 1717 ou a “Nova Maçonaria” repousa fundamentalmente sobre:

– a abertura aos outros, com o objetivo de ser um Centro de União;

– a tolerância religiosa;

– o respeito por uma lei moral não confessional;

– a descristianização dos rituais “Antigos” em favor de uma concepção ao mesmo tempo do Velho e do Novo Testamento (e não mais exclusivamente católica) cuja articulação é o Mestre da Loja, identificado com a Estrela Flamejante.

EXPRESSÃO DESSES VALORES NOS RITUAIS MODERNOS DO INÍCIO DO SÉCULO XVIII.


A Loja “moderna” ilustra a mensagem de ambos os Testamentos, e, portanto, do Livro sobre o qual os Maçons modernos assumem suas obrigações. A loja desempenha um papel pedagógico através do arranjo dos elementos que a compõem. Este ensinamento transmitido como aquele das catedrais. É preciso decifrá-lo, ENTRAR nos dados dessa geografia sagrada, articulada em torno da Estrela Flamejante.
A Loja é a imagem do Cosmos, orientada nas três direções do espaço. Ela é encimada por uma abóbada estrelada, sustentado por três pilares. Esses pilares se chamam: Sabedoria, Força e Beleza.

(Referências: Documentos de 1730, 1743, 1744, 1760, 1772 e 1801)
A loja dos maçons fica no adro do Templo de Salomão, e não dentro do Templo, cujo acesso é reservado apenas para os sacerdotes. Ela é, portanto, ao ar livre, razão pela qual a abóbada estrelada é sua sexta dimensão. Jamais se utiliza, então, a palavra TEMPLO para designar o lugar onde se reúnem os Maçons dos três primeiros graus.
O pórtico do Templo de Salomão é sustentado por duas colunas situadas no Ocidente (e uma terceira no Oriente). Na autêntica tradição moderna, Jakim é a coluna da direita; ela é atribuída ao Primeiro Vigilante e simboliza a Força. Boaz é a coluna da esquerda; ela é atribuída ao Segundo Vigilante e simboliza a Beleza.

Esta era a prática comum antes de 1730 (manuscrito Chetwode Crawley de 1700, manuscrito Trinity College, Dublin de 1711). Quanto ao manuscrito Chetwode Crawley de 1700, ele contém um catecismo de onde é extraída a seguinte resposta:

Pergunta: “Onde se encontram as palavras?

Resposta “Em Reis 1, 7 a 21 e Crônica II, último verso.

As duas colunas descritas na Bíblia são do mesmo tamanho, da mesma cor e não tem “sexo” (conf. as teorias “esotéricas” de Oswald Wirth).

A localização das duas colunas, e, portanto, das palavras de Aprendizes e Companheiros, foram invertidas por volta de 1730-1740 pela Grande Loja de Londres (conf. acima)

Essa inversão, anti-tradicional e puro contrassenso simbólico, foi mantida em certos ritos até nossos dias, EMBORA NÃO SEJA MAIS APLICÁVEL, a causa que tinha, de fato, mais ou menos “desculpado” esta medida administrativa aberrante já tenha desaparecido há muito tempo. Esta inversão deve, assim, ser esquecida e a verdade histórica e bíblica restaurada na plenitude de seus direitos, que são aqueles da Tradição Moderna antes de 1730.
A terceira coluna, situada no Oriente é representada, quer pela Estrela Flamígera ou pelo Venerável Mestre (conf. painel de Loja de 1751).
Sustentada por três colunas ou pilares, a Loja é iluminada por três grandes luzes que são no Rito Moderno: o Sol, a Lua e o Mestre da Loja. (Menções explícitas em : Masonry Dissected (Prichard, 1730), Le Sceau Rompu (1745), Le Recueil précieux de la Maçonnerie adonhiramite (1786), Le Régulateur du Maçon (1801). Explicação: “Como o sol preside o dia e a lua a noite, assim o Mestre preside a Loja para a esclarecer.” Extrato dos rituais do século XVIII.

A consciência do Maçom é, portanto, esclarecida, no Rito Moderno pelo sol, a lua e o Mestre da Loja (quer dizer, a Estrela Flamígera de onde ele tira o emblema em seu colar e que ele enverga em Loja).

Cada uma dessas três grandes luzes é representada na Loja por uma vela colocada em um alto candelabro que ilumina o painel da Loja, condensado simbólico dessa última.
Localização das Três Grandes Luzes: esta localização é descrita nos rituais aceitos, os mais antigos de 1696, 1700 e 1704 e é ilustrado de forma inequívoca pelas gravuras das divulgações de 1744, 1745, 1751 e 1801, bem como pelas famosas gravuras de Philippe LEBAS (1745), que ilustram com tanta precisão como a prática do Rito Moderno na França.

Esta disposição é: NE, SE, SO. Ou seja, um esquadro que tem como base o Oriente e não o Ocidente.

Esta tradição foi mantida pela Grande Loja de Londres 1717 a 1813, quando se fundiu com a Grande Loja dos Antigos, fusão pela qual suas próprias práticas foram absorvidas pela obediência dominante. Demonstraremos a seguir que o uso britânico contemporâneo, o do REAA que consiste em designar como “Grandes luzes” o Volume da Lei Sagrada, o esquadro e o compasso, vem da Grande Loja dos Antigos, que se desenvolveu após 1751 em reação ao espírito do Rito Moderno.
A Estrela Flamígera e a letra “G” A Estrela Flamígera está presente desde o 1º grau

(a) no Painel da Loja, entre o sol e a lua;

(b) sobre o colar do Venerável Mestre, à qual ele é identificado.
A posição moderna das Três Grandes Luzes define, não mais o ciclo solar de um dia comum, mas AS POSIÇÕES DO SOL EM CADA UM DOS SOLSTÍCIOS.

O dia em que o sol nasce mais a NE é o solstício de verão, correspondente a São João Batista; o dia em que ele põe mais a SO é o solstício de inverno, correspondente a São João Evangelista.

O solstício de verão é meio-dia do ano; o solstício de inverno é meia-noite. Isto esclarece a noção sagrada do trabalho maçônico que é feito a partir do meio-dia até meia-noite, ou seja, de um São João (Lei Antiga) ao outro (Lei Nova).

Simbolismo trinitário: se os dois castiçais extremos representam os dois São Joões, o castiçal central a SE também representa o Cristo. Esta tradição é, ela também, autêntica, e a semelhança das Três Grandes Luzes com as três pessoas da Trindade é uma constante dos Rituais antigos (fontes: 1724, 1725, 1726, 1744 e 1801).

A luz a SE representa a segunda pessoa da Trindade, as luzes a NE e SO correspondem ao Pai e ao Espírito.

Compreende-se por que, no Rito Moderno francês, o Tetragrama da Antiga Lei nunca pudesse ser representado no Oriente, mas sempre no ocidente, ou seja, no lado do declínio, do “decrescimento” bíblico.
O mobiliário da loja. Esta palavra “mobiliário” (do latim: mobilis, Inglês: mobile) designa um objeto móvel, ou seja, que pode ser facilmente deslocado durante uma cerimônia. No Rito Moderno os três móveis são: a Bíblia, o esquadro e o compasso. Na verdade, esses três objetos rituais mudam de lugar durante a cerimônia de recepção, a Bíblia é levada entre a mãos do neófito, o esquadro se encontra colocado sob seu joelho direito e o compasso apontado para seu coração. (Masonry Dissected (1730) Déclaration Mystérieuse (1743).

A Iniciação é um processo por definição adogmático que se realiza sem qualquer influência ou contexto religioso obrigatório, a função moderna da Bíblia não só pode iluminar a consciência do Maçom, mas também dar uma dimensão simbolicamente sagrada aos seus juramentos.

No Rito Moderno, a Bíblia é aberta no Evangelho esotérico de São João, o único Evangelho que tem este caráter iniciático particular.

Nada cobre o Livro, a não ser, por vezes, a espada do Venerável Mestre, sinal de inabalável lealdade que deve observar em relação ao conteúdo da mensagem de João. A Bíblia repousa sempre na “plataforma” do Mestre da Loja e nunca sobre um “altar”, peça de mobiliário tipicamente “Antiga” que não tem lugar em uma Loja de Maçons libres, realizada no adro do Templo.

Quanto ao esquadro e o compasso, é difícil compreender a sua transformação em “luzes”, em outros ritos e até mesmo no Rito Moderno após 1813.

No Rito Moderno, essas duas ferramentas desempenham um papel fundamental na iniciação nos três primeiros graus franceses. Elas são móveis; o esquadro serve para que o joelho direito do recipiendário, desnudo, seja colocado abaixo durante o juramento. O compasso deve ser aplicado sobre o peito esquerdo, descoberto.

O candidato presta o juramento “na posição de esquadro”, perna esquerda e perna direita em ângulo, e ele mesmo estando localizado “entre o esquadro e o compasso”, posição tradicional do Maçom, que encontra toda a sua realização quando de sua exaltação ao grau de Mestre.

Não existe jamais ajoelhar-se no Rito Moderno.

(Esta postura tem origem em usos vigentes em outros ritos, especialmente durante rituais que evocam um viés cavaleiresco onde ela encontra o seu pleno significado no rebaixamento necessário que precede a elevação).

Em 1813, a Loja de Reconciliação, criada após a fusão dos Antigos e Modernos adotou a prática do vencedor do confronto de dois Ritos no Reino Unido, ou seja, o Rito dos Antigos. Seus usos suplantaram definitivamente a lógica solar e não-confessional que era a dos Modernos. As três luzes se tornam a Bíblia sobre a qual se apoiam o esquadro e o compasso entrelaçados. Esta Loja discutido o significado que assume este conjunto simbólico.

Ele expressa a crença religiosa tipicamente dos Antigos segundo a qual todo trabalho maçônico baseia-se e deriva sua justificativa da Palavra Revelada por Deus nas Santas Escrituras.

As tentativas de explicação do tipo livre arbítrio têm origem em uma casuística indefensável aos olhos de usos imemoriais da Ordem. Nós constatamos ainda e todos os autores, bem como todos os documentos consultados atestam que esse uso nunca pertenceu e não corresponde aos valores do verdadeiro Rito Moderno. Ele tem origem no sistema de crenças religiosas e valores do Rito Antigo que impôs à fração moderna que ele absorveu em 1813. Constitui em nossos dias um landmark maçônico anglo-saxão.

Concluindo, a Bíblia não é uma das luzes, ao contrário dos ensinamentos do Rito Antigo, tomado por todas as Maçonaria “regulares”, isto é, subservientes a Londres e à mentalidade anglo-saxã.

Esta prática, imposta em 1813 pela Grande Loja Unida da Inglaterra, pode parecer contraditória, ilógica e dogmática. Contraditória e ilógica, porque um livro é um objeto material que não se destina a difundir a luz, como o sol, a lua e a estrela flamejante, astros que por definição, cumprem esta função. Dogmática, porque a luz que na lógica antiga devia emanar “espiritualmente” de um livro é aos olhos dos seus proponentes Antigos, a Verdade Revelada à qual todo Maçom regular DEVE ACREDITAR.

Vemos como o Rito Moderno e o Rito Antigo diferem radicalmente em espírito sobre este assunto, como também muitos outros.

Podemos concluir a partir do conjunto de pontos tratados que a geografia sagrada da loja moderna no primeiro quarto do século XVIII constitui um todo coerente.

Sua mensagem é clara para quem tenta entender. O Rito Moderno é uma tentativa de articular tradições ligadas ao Novo e Velho Testamento em torno de um eixo.

Essa função de ponte entre os dois Testamentos é assegurada pelo Estrela Flamígera, Cristo, o Mestre da Loja, o Sol do meio-dia, a Tocha do SE.

Ela é essencial, porque revela ao Aprendiz uma mensagem que em outros ritos, é reservada ao Príncipe Rosacruz (REAA) ou ao Mestre Escocês de Sto. André (RER)

As colunas são o emblema dos fundamentos salomonianos e hebraicos da Ordem, assim como o Delta e o tetragrama místico que, colocados no Ocidente, testemunham o seu declínio.

As Três Grandes Luzes têm uma função solar e joanina (e solsticial).

A passagem da Lei Antiga para a Lei Nova é assegurada pela Estrela Flamígera, Grande Luz da Maçonaria, que pertence a ambas as leis.

O Rito Moderno, por sua consistência e riqueza e também por sua autoridade sobre todos os outros Ritos é um dos que devem melhor transmitir os usos mais antigos e mais autênticos.

Ele merecia, como tal, ser protegido contra inovações e alterações de qualquer espécie.


CARACTERÍSTICAS RITO ESCOCÊS


É difícil ou impossível tratar a especificidade do Rito Moderno, sem estabelecer comparação com outros Ritos praticada hoje, particularmente o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Com efeito, muitos usos exclusivos desse Rito são passados, no decorrer do século XIX, para o Rito Moderno Belga, ao ponto de conferir a este último UM CARÁTER DE SINCRETISMO COM FORTE COLORAÇÃO ESCOCESA.

Esse Rito, praticada pelas Lojas do Grande Oriente da Bélgica, da Grande Loja da Bélgica e da Grande Loja Regular da Bélgica, conservou, de fato, apenas alguns usos raros do Rito Moderno original.

Ele abandonou muitos outros, entre os mais essenciais e os mais específicos, e os substituiu por usos mais recentes, sob o pretexto de universalismo e descristianização. (O Rito Escocês Antigo e Aceito é, de fato, o mais praticado no mundo).

Exemplos: – disposição não-Joanina dos pilares-candelabros, ou seja, SE / SO / NO;

– as três grandes luzes se tornam a Bíblia, o esquadro e o compasso, a Bíblia estando aberta no Capítulo XII de Juízes, não no Evangelho de João

– o painel da Loja torna-se um espaço “sagrado” e não é mais usado ritualmente

– o Delta e o Tetragrama são colocados no Oriente da Loja (e não mais no Ocidente)

– as Três Grandes Luzes são dispostas sobre um “altar”

– A Loja de Maçons é confundida com o templo dos sacerdotes.

Este alinhamento de uma parte com um Rito dominante e, de outro lado, com as exigências impostas pela Grande Loja Unida da Inglaterra a partir de 1813, subverteram a lógica e a coerência do Rito Moderno original.

Isso leva a práticas divergentes, compostas e desprovidas de coesão intelectual.

Por isso, é útil rever brevemente as características do REAA.

Foi em 1804 que o Rito Antigo foi trazido de volta para a França vindo da América pelo Comte de Grasse-Tilly. Ele reunirá imediatamente as Lojas escocesa já existentes e os termos “antigo” e “escocês” tornam-se sinônimos. É o Guia dos Maçons Escoceses (1815-1820), página 31 e 32 que, pela primeira vez, menciona a Bíblia, esquadro e compasso como as Três Luzes da Maçonaria. Pratica somente a Maçonaria operativa e a Maçonaria de aceitação que a Maçonaria especulativa moderna do século XVIII sempre ignorou.

Agora também, o Venerável Mestre, o Primeiro Vigilante e o Segundo Vigilante ocupam uma posição solar, não solsticial, NÃO Joanica, ou seja, eles ocupam lugares respectivamente no Oriente, Ocidente e Sul.

Tudo concorre, portanto, é bem evidente, para privilegiar o simbolismo do Antigo Testamento na Loja, e expulsar qualquer referência ao Novo Testamento, portanto cristão.

As práticas rituais “antigas” do Escocismo diferem profundamente daqueles do Rito moderno, bem como seus axiomas fundamentais da seguinte forma:

– crença na Grande Arquiteto do Universo;

– a crença na imortalidade da alma;

– obrigação de colocar o Volume da Lei Sagrada sobre o altar sobre o esquadro e o compasso.

Note-se que a profissão de uma fé, principalmente na imortalidade da alma, torna-se uma imposição essencial do Rito, e que as Três Luzes são o Livro, o esquadro e o compasso colocados sobre um altar situado em um templo.

Não estamos, portanto, mais em Loja reunida no adro, entre maçons de uma Loja de São João. Nós estamos em um Templo, entre praticantes de um culto bíblico.


INTRUSÃO DO RITO ESCOCÊS NO RITO MODERNO

O prestígio de um sistema de 33 graus, a atração de um conteúdo “cavalheiresco”, os nomes gloriosos e correlatos e a dimensão universal, enfim, de sua prática conferiu ao Rito Antigo Aceito um ascendente que influenciou os outros praticada Ritos praticados na Bélgica durante os séculos XIX e XX. Seja dos ritos moderno, escocês ou francês.

Notamos, em particular, as seguintes práticas tipicamente escocesas em seus trabalhos rituais para não dizer litúrgicos:

– a Bíblia é colocada sobre um “altar”

– o juramento é prestado sobre as Três Grandes Luzes: a Bíblia, o esquadro e o compasso

– instituiu-se um acendimento de velas ausente do Rito Moderno

– o traçado do painel da loja do grau no solo é substituído por desenrolar um tapete que se tornou permanente e sagrado

– a cadeia de união é feita com as mãos sem luvas, embora as luvas constituam a vestimenta do Maçom, assim como o avental

– realiza-se um ritual de extinção de velas

– suprimiu-se o apagamento do painel.

Durante a iniciação do primeiro grau:

– os candidatos são introduzidos em um “templo”

– a consagração do candidato se efetua de pé, e não colocado “entre o esquadro e o compasso”

– introdução da fase controversa da “pequena luz”

– juramento sobre as Três Luzes (Bíblia, esquadro e compasso)

– obrigação de realizar um interrogatório sob venda

Durante as iniciações de segundo e terceiro graus:

Essas divergências serão objeto de um trabalho ulterior, as diferenças entre o autêntico Rito Moderno e aquele praticado hoje são numerosas demais. Primeiramente, o uso de uma palavra substituta no terceiro grau, resultando em uma busca posterior da Palavra Perdida, enquanto a própria essência do terceiro grau no Rito Moderno é que a palavra dos Mestres não está perdida e não há, então, necessidade de ser procurada mais tarde.

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